ANTONILA DA FRANÇA CARDOSO DEIXOU VALIOSO LEGADO CULTURAL

O Sertão do São Francisco perde uma mulher intelectual e pioneira nos estudos da cultura popular da região, professora Antonila da França Cardoso, que faleceu neste 9 de Julho de 2020. 

Tive o privilégio de conhecê-la por meio de sua produção literária a respeito das tradições e manifestações folclóricas, ainda na graduação do curso de Jornalismo em Multimeios, da Universidade do Estado da Bahia, quando resolvi pesquisar a Festa dos Kongos do município de Sento Sé, que resultou no Trabalho de Conclusão de Curso, defendido ano passado.

Na obra Nosso Vale..nosso folclore beira-rio, Antonila realizou uma vasta pesquisa etnográfica e traz uma rica documentação, com detalhes minuciosos, a respeito das manifestações culturais do Vale do São Francisco existentes desde a década de 1970, algumas resistem até hoje aos processos de transformação, mudanças e opressões da atualidade.

Professora Antonila era culta, alegre, ética, sabia respeitar e enaltecer suas origens e princípios, não importava onde estivesse, sempre fazia questão de citar ou de levantar debates relacionado à cultura do Vale do São Francisco. Foi através dos seus escritos que também  aprendi o significado das diferentes culturas e religiões diversificadas das cidades do vale. Em decorrência deste valioso trabalho de pesquisa documental e estudos realizados no Grupo de Pesquisa Educação, Sociedade e Desenvolvimento, coordenado pela professora Edonilce Barros, desenvolvi empatia em relação à ancestralidade da cultura africana e indígena.

Antonila deixou um rico legado e variados textos – crônicas, entrevistas, livros - que servem para estudantes, pesquisadores, instituições e a quem deseje mergulhar na  sua obra para construir e dar continuidade as manifestações culturais que precisam ser vistas e respeitadas por nós, amantes, admiradores ou simples mortais que necessitam de cultura para continuar a viver em um mundo tão cheio de incertezas e angustias.

Finalizo conclamando o que Antonila Cardoso, na década de 70, já pedia: " Não deixe morrer as manifestações culturais do Vale do São Francisco".

Maiara dos Santos, jornalista e pesquisada da cultura do congado de Sento Sé.

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VINICIUS DE MORAES: 40 ANOS DE SAUDADE DO POETINHA

Se estiver com saudades, pode abrir os ouvidos e inspirar os olhos. Os versos estão enfileirados na memória, nos arquivos, no coração de um país, no alento, na esperança de um gigante que respondia pelo apelido em diminutivo, um Poetinha. Brasileiros que estão hoje longe da família, de amores da vida, de amigos, podem encontrar também a beleza de cada segundo e do viver ao (re)visitar a obra eternizada do gênio Vinícius de Moraes, que morreu há exatos 40 anos, no dia 9 de julho de 1980, aos 66 anos de idade. 

O artista que dizia que a “distância não existe” rogava que não queria “mais esse negócio de você longe de mim”. “E por falar em saudades, onde anda você?”. Celebrado na academia, nas aulas de literatura, nas rodas de amigos, nas emissoras de rádio, nos bares, no café da manhã e na boemia, Vinícius é esperança erudita em bom popular: “dentro dos meus braços/os abraços hão de ser milhões de abraços”.

Profano e sagrado, tudo junto e misturado: “diz-lhe numa prece, que ela regresse porque não posso mais sofrer”. Poetinha está vivíssimo, garantem os estudiosos e todos os apaixonados. Aliás, nesta quinta, um grupo de artistas fará uma apresentação em live para celebrar a memória do autor, dos encontros e das saudades.

A produtora cultural Gilda Matoso, de 68 anos, viúva de Vinícius de Moraes, organiza o evento, que começa às 19h, no canal dela no youtube, contará com nomes como Toquinho, Gilberto Gil, Maria Creuza e Mariana de Moraes, Cynara (Quarteto em Si), e os poetas Marcel Powell, Antonio Cícero, Geraldo Carneiro e o ator Aloísio de Abreu. Cada artista vai escolher algo para cantar e conversar sobre ele. 

“Eu fico abismada. Tanta gente que não era nem nascida na época é muito fã dele. É uma obra eterna. A obra é verdadeira, rebuscada e ao mesmo tempo tão popular”, disse. Gilda Mattoso admira toda a obra do artista, mas destaca uma canção em especial que também celebra a saudade: “Marcha de Quarta-feira de Cinzas”. A música deve ser interpretada na apresentação desta quinta, pela cantora Maria Creuza.

A neta do poeta, Mariana de Moraes, 50 anos, afirma que o exemplo de ética, e o olhar amoroso de Vinícius (que morreu quando ela tinha 11) são fundamentais para a vida e para a obra que ela também construiu. “Por mais triste que seja o assunto que ele trata, Vinícius consegue enxergar aspectos positivos. Ele exercia a compaixão, a caridade e a poesia”. A artista compara a música e os versos a uma forma de rezar. “Vinícius sensibilizava. É importante consumir a obra dele porque trazem esperança e alento, mesmo quando a temática é triste”.

Mariana de Moraes diz que esse é um momento para estar com Vinícius. “Ele diz que o amor vai prevalecer. Ele produziu uma forma amorosa”. Ela cita a poesia/canção Eu não existo sem você como um exemplo desse olhar lírico: “Eu sei e você sabe que a distância não existe. Que todo amor só é bem grande se for triste. Por isso, meu amor, não tenha medo de sofrer. Pois todos os caminhos me encaminham pra você”.


Vinícius escreveu sobre as coisas do coração e foi equilibrado, analisa a neta. “Ele uniu pensamento, coração e ação. Ele era um homem que ajudou muito gente, muitos artistas. Ele agiu como homem e transformou sentimentos em palavras”, admira-se. Por isso, para ela, a obra de Vinícius é tão inspiradora para diferentes públicos. “É importante pensar coisas belas”. Ela recorda que o avô chamava, com carinho, as pessoas pelo diminutivo. E surgiu o apelido do Poetinha.

Mas ela contextualiza que o autor chegou a ser boicotado por trazer conteúdo também popular. “A poesia dele conseguiu furar o bloqueio e ele é reconhecido como um grande poeta a par de ser também compositor. A obra dele resiste forte e voltou a ser estudada nas universidades”. Mariana de Moraes lamenta que as novas gerações são também bombardeadas de materiais sem qualidade, tanto na música quanto na poesia. E, por isso, ela defende que os jovens devem ser apresentados cada vez mais aos grandes autores.

Mariana recorda que decidiu cantar desde criança sob inspiração de João Gilberto. “Eu conheci a obra de Vinícius pelo o que eu ouvia do João. E passei, com o tempo, a ser convidada para eventos a celebrar a memória dele. E me apropriei do que ele produziu. Eu reverencio muito a obra do meu avô”.

Estudioso da obra de Vinícius de Moraes, o professor Eucanaã Ferraz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entende que o poeta é completo e único em função da trajetória também popular. “Vinícius é um personagem presente no dia a dia de muitas faixas etárias e classes sociais. Foi um poeta que fez obras para crianças (como o álbum Arca de Noé), o que faz com que o interesse por ele passe de geração para geração”. O pesquisador destaca o pensamento sofisticado de Vinícius mesmo em um lugar de grande apelo artístico, de apreço pela simplicidade e ao mesmo tempo de rigor estético.

Eucanaã Ferraz ressalta as temáticas universais do artista, que fazem com que a obra seja considerada atual. “Todo artista fala com o seu tempo e com aqueles que o antecederam. E ele provoca em cada um de nós algum tipo de pergunta. E nos provoca perguntas que nem sabíamos que tínhamos. A obra de arte é um lugar de inquietações, nem sempre de respostas”.

A professora Sylvia Cyntrão, também pesquisadora da obra de Vinícius na Universidade de Brasília (UnB), destaca que ele teve teve extrema preocupação social, como na poesia A rosa de Hiroshima, embora ele tenha ficado mais conhecido pela temática do amor-paixão. “A poética modernista de Vinícius, expressa preocupações essenciais que são fruto desse eterno impasse entre a aceitação da realidade na forma que se apresenta e a esperança utópica que podemos modificá-la pelo amor”. Para ela, o legado do autor traz pistas preciosas de como homens e mulheres devem enfrentar a realidade.

O professor de literatura Tiago de Carvalho, do Instituto Federal de Brasília, destaca que a obra de Vinícius é um tema que encanta também o ensino fundamental e médio, já que os alunos trazem referências ao poeta, ainda que não tenham tantas informações como os universitários. Os mais jovens percebem que o Poetinha foi admirado no morro e também pela elite. 

“Um homem que tinha causas ligadas às massas. Ele transitava entre o popular e o erudito e deve ser estudado tanto nas academias quanto cantado pelo povo”. O professor indica que o poeta se popularizou pela forma como cantava o amor, e pela visão redentora do sentimento. “Ele captou isso como ninguém. Apaixonado pela vida pelo amor, e se entrega ao samba e à bossa-nova. Ninguém faria como Vinícius em todas as camadas da sociedade, tanto na música como na poesia”.

Ele recorda que a obra de Vinícius deve ser contextualizada como multifacetada. “Amor e saudade são temas que sobressaem. O poeta se destaca também por versos sociais como em Operário em Construção. Além disso, está também em temas como a religião e até o erotismo. Podíamos nos perguntar onde estaria Vinícius hoje. Era um homem amoroso na poesia e com as pessoas”. O espaço das saudades em Vinícius é um lugar do amor, afirmam os estudiosos. “Nós somos seres em construção. A poesia dele é grande também porque não é dogmática”.

Quarenta anos depois de sua morte, os pesquisadores reconhecem que ainda há muito o que ler e ouvir para compreender mais sobre o célebre autor. Enquanto a academia esmiúça os dotes estéticos e estilísticos do poeta, os fãs, em saudades, apaixonados, têm seus olhares próprios para a esperança e para o amanhã, nas rodas de cantoria que já planejam para quando a pandemia passar. "Assim como o Oceano, só é belo com o luar. Assim como a Canção, só tem razão se se cantar...". Todos teremos razão em cantar a esperança e a saudade que ele, em tantas formas, deixou como legado. (Fonte: Agencia Brasil)
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SEU ADEMAR, 80 ANOS DE VIDA E 56 DE UNIÃO COM DONA LOURDES: UMA VIDA EM SINTONIA COM O RÁDIO

Ademar Mariano de Freitas e Maria de Lourdes Freitas. A família comemorou esta semana os 80 anos de seu Ademar. "Vovó Lourdes e Vovô Ademar completam 56 anos de casamento!! Foi uma comemoração muito especial. Deus nos abençoe com muita saúde", escreveu a neta, a médica pediatra Mayllin Freitas em sua rede social.

O festejo devido o decreto de isolamento social teve que ser limitado a família e foi realizado na Igreja Catedral.

Ademar Mariano de Freitas, nasceu há 80 anos em Casa Nova, Bahia. Mora em Petrolina desde os 10 anos. Desde a infância é apaixonado por Rádio. Éle é merecedor de um capítulo a parte no quesito guardar a história do Rádio e contribuir com o conhecimento das novas gerações.

"Seu Ademar" é de fato um historiador é merecedor de todas atenções e de  uma publicação sobre sua paixão através das ondas hertzianas. Explica-se: Ademar é colecionador de Rádio. São mais de 70 aparelhos e cada um deles recebe depoimentos memorialísticos sobre ano, origem e o nome dos principais programas das emissoras de rádio.

A casa de "Seu Ademar", sem exagero, podemos informar: é um "Museu". Um Centro de Cultura e Memória. Os Rádios estão espalhados na casa. Na sala, na cozinha e até no quarto.

"Já o conheci com Rádio no pé do ouvido. Casamos e hoje cada filho ganhou um desses rádios bem antigos para perpetuar o amor, a paixão pelo Rádio", revela Maria de Lurdes Lima Freitas, sorriso largo e amigável.

Ela ressalta que um dos programas mais apreciados são os da Madrugada da Globo, Rio de Janeiro, e os transmitidos na Rádio Nacional. "Os regionais preferimos os que falam dos baiões de luiz Gonzaga", revela dona Lurdes, ressaltando que são 56 anos casados. "Uma sintonia perfeita de felicidade e muita comunicação, alguns ruídos feitos rádios am, mas muito prazerosa na maioria dos segundos da vida vividos".

Muito organizado "Seu Ademar" possui até uma oficina para "cuidar", consertar, fazer reparos nos rádios quando necessário. Ele mesmo enfrenta a empreitada. Detalhe: todos os rádios estão funcionando perfeitamente.

Na coleção é possível encontrar Rádios da década de 40 e 50 e lógico os mais modernos, sintonia em FM. "Já adquiro até a aquele que tem pen-drive", diz Ademar. Ainda encontramos os raros ABC A Voz de Ouro, Transglobe-9 faixas, Semp, Caravelle, Motoradio, Philco 8 faixas. Dezenas deles são a valvulas. 

"Seu Ademar" possui pelo Rádio um sentimento de companheiro e amigo. Estabele com os receptores uma oportunidade, vários presentes permanentes de recriar o ambiente mágico, imagético, cumplicidade e também demonstra carinho, fidelidade e agredecimento pelo maior veículo de comunicação do brasil: o Rádio. 
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PAIAIÁ CONECTADOS: JORNALISTA NEY VITAL PARTICIPA DE LIVE "EM QUARENTENA COM CARLOS SÍLVIONESTA QUINTA (9)

O jornalista e radialista Ney Vital, apresentador do programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, e colaborador da redeGN, vai participar , na quinta-feira (9), às 20h30, de uma 'live Em Quarentena com Carlos Sílvio'. 

A transmissão será ao vivo pela internet pelo instagra e para acompanhar siga @cspaiaia #EmQuerentena #PaiaiáNaConectados administrado pelo professor e radialista Carlos Silvio. 

No encontro virtual, um bate bate papo sobre, comunicação, cultura e  Literatura, memória e o trabalho pesquisa sobre a vida e obra de Luiz Gonzaga. E ainda, a importância da Música como recurso terapêutico durante a pandemia do novo coronavírus.

Carlos Sílvio é o criador e o apresentador do programa Paiaiá na rádio web Conectados. Carlos Silvio já entrevistou nomes como o Maestro Júlio Medaglia no programa Paiaiá na Conectados e o mestre Bule Bule, cantor, compositor e um dos maiores representantes da cultura popular.
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JUAZEIRO TEM TOQUE DE RECOLHER PRORROGADO ATÉ 15 DE JULHO

A circulação noturna de pessoas em Juazeiro, no norte da Bahia, segue restrita até o dia 15 de julho. A medida de enfrentamento ao novo coronavírus, que terminaria nesta quarta-feira (8), foi prorrogada mais uma vez, em atuação conjunta dos poderes públicos estadual e municipal.

Conforme decreto publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) desta quinta (9), a restrição compreende o período das 18h às 5h, quando ficam proibidos a permanência e o trânsito em vias, equipamentos, locais e praças públicas, com exceção de deslocamento para serviços de saúde ou farmácias.

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JUIZ E ESCRITOR ONALDO QUEIROGA RECEBERÁ ALTA NA PRÓXIMA SEXTA FEIRA (10) EM SÃO PAULO

Os médicos do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, marcaram para esta sexta-feira (10) a alta do juiz Onaldo Queiroga, internado na unidade desde o dia 15 de maio. Onaldo testou positivo para a Covid-19 no dia 12 de maio, quando foi internado no Hospital da Unimed, em João Pessoa. 

Em São Paulo, ficou 28 dias entubado e a recuperação se deu de forma gradual. Os exames já apresentaram que ele está negativado para a Covid. O juiz de Direito paraibano, titular da 5.ª Vara Cível da Comarca de João Pessoa, ainda permanecerá na capital paulista para sessões de fisioterapia, a fim de fortalecer a musculatura. Não há uma data para o retorno a João Pessoa.  
    
“Minha recuperação foi um milagre de Deus e agradeço aos meus familiares pelo apoio incondicional, à equipe médica e profissionais de saúde, sob o comando do intensivista Murilo Santucci pela luta e dedicação integral e aos amigos e amigas pelas orações que não cessaram um minuto sequer. Deus me concedeu uma nova data de nascimento”, disse. Fonte: Gecom-TJPB

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PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL QUE PRETENDE LIBERAR CONSTRUÇÃO DE USINA NUCLEARES EM PERNAMBUCO FOI TEMA DE DEBATE ON LINE

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, participou de um debate on-line no último sábado (04), para debater a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que pretende liberar a construção de usinas nucleares em Pernambuco. O debate foi promovido pela Xô Nuclear, nas plataformas Facebook e Youtube.

O debate, cujo tema foi Rodas Antinucleares pela Vida contou com a participação do deputado estadual João Paulo Lima e Silva (PCdoB) e com a mediação de Alzení Tomáz (coordenadora da Nova Cartografia Social de Povos e Comunidades Tradicionais da Bacia do São Francisco e membro da Sociedade Brasileira de Ecologia Humana), Célio Bermann (professor de pós-graduação em energia da USP/SP), José Karajá (geógrafo e assessor do CIMI/NE) e Renato Cunha (coordenador do GAMBA – Grupo Ambientalista da Bahia).

A PEC nº 09/2019, de autoria do deputado estadual Alberto Feitosa (PSC – PE), modifica o artigo 216 da Constituição de Pernambuco, que permite a instalação de usinas nucleares no Estado. Tal projeto tem sido visto como uma ameaça à vida, pois violenta os direitos de populações tradicionais, como quilombolas e indígenas que vivem às margens do rio São Francisco, onde se instalaria a usina.

Segundo o deputado estadual João Paulo Lima e Silva (PCdoB/PE), a constituição estadual de Pernambuco proíbe a instalação de usinas nucleares no Estado. “Essa proibição só pode ser alterada por uma PEC, ou seja, uma emenda que possa alterar a constituição estadual. Sou relator dessa emenda e me posicionarei contra essa PEC. Informo que por enquanto ela não será votada dada outras demandas ligadas à Covid-19, porém é importante deixar a população ciente dessa discussão e levantar o assunto em relação aos impactos econômicos e ambientais para o rio São Francisco e para todo Brasil”.

De acordo com Anivaldo Miranda, o CBHSF já se posicionou sobre o assunto há quase dez anos, quando essa questão veio à tona e havia vários pontos de localizações possíveis para essa planta nuclear, com seis reatores. “Pensaram na região de Cabrobó (PE), Itacuruba (PE), Belo Monte (AL) e em Propriá (SE). Na ocasião, toda essa situação ameaçou desencadear uma corrida e uma briga porque os gestores dos estados queriam instalar em seus territórios as usinas nucleares. Mas, é importante esclarecer a população sobre isso porque muitos dos nossos gestores ainda estão com a mentalidade do início do século 20. Porém, no atual século o essencial é fazer gestão pública de qualidade. Mas, a mentalidade dos fazedores de obra e daqueles que acham que a questão do emprego se resolverá somente com o investimento em obras, continua relevando os impactos ambientais, estruturais, econômicos. Essa questão da usina de vez em quando vem à tona e tem muitas implicações. Na época em que esse assunto surgiu, perguntava-se muito que tipo de tecnologia seria utilizada naquela e a tendência de replicar tecnologias obsoletas. A energia nuclear é inadequada em nosso país”, disse.

Miranda acrescentou que, enquanto Comitê, não tem nenhum preconceito e nem demoniza qualquer forma de energia, nem hidrelétrica, nem eólica, nem atômica ou nuclear, mas é importante frisar que há vantagens e desvantagens no uso dela. No caso da energia nuclear, há aspectos positivos como o fato de ocupar pouco espaço e não emitir gazes, por exemplo, o que causa o efeito estufa. Entretanto, tem duas questões fundamentais na abordagem da energia nuclear: a primeira é a geração do lixo nuclear que até hoje ninguém sabe o que fazer com ele, e o segundo aspecto é o caso de acontecer um acidente. “Nós não temos como bancar ou lidar com um possível acidente nuclear no semiárido do nosso país ou em qualquer região brasileira. Costumo dizer o seguinte: que o rio São Francisco não tem plano B e essa usina nuclear não é a única ameaça potencial que o rio pode enfrentar, já que no quadrilátero da região de Minas Gerais temos pelo menos dez barragens de rejeitos de minério. Por exemplo, qualquer acidente no rio Paracatu (MG) atingirá o rio São Francisco diretamente e milhares de pessoas serão prejudicadas, já que o rio São Francisco representa pelo menos 70% de disponibilidade hídrica da região nordeste e parte do semiárido”.

O presidente do CBHSF falou do potencial da energia solar no Brasil. “É uma energia que pode ser usada sem a necessidade de construção de grandes linhas de transmissão. Há também a energia eólica, da qual duvidavam muito, mas estão percebendo seus benefícios”.

O deputado estadual João Paulo Lima e Silva pontuou alguns encaminhamentos acerca da pauta sobre energia nuclear. “Em princípio sou contra a instalação da usina nuclear. Ressalto aqui que a iniciativa do abaixo-assinado ‘Chaleiras Atômicas Não’ foi muito importante. Ele vai abrir para as pessoas a possibilidade do início de um diálogo. Se o Comitê tomar uma decisão contra a instalação da usina nuclear já será um avanço, politicamente. Mas, precisamos ter cuidado, já que na Assembleia Legislativa de Pernambuco estão ocorrendo algumas conversas com o intuito de convencer as pessoas da instalação da usina nuclear. Por isso, a necessidade de conscientização e politização das pessoas. A articulação com a igreja católica tem sido importante e me comprometo em fazer um trabalho de sondagem para em um próximo encontro que tivermos”.

Anivaldo Miranda ressaltou que o Comitê já se posicionou acerca da possível instalação de uma usina nuclear e considera que essa pauta não é prioridade e nem é recomendável para a bacia do rio São Francisco. “Atualmente como essa questão voltou à tona nós fomos demandados inclusive pelos nossos colegas da comunidade indígena Pankará, já que temos uma relação muito boa com eles e há representantes com assento no Comitê. Até fazendo um paralelo, o Comitê investiu R$ 5 milhões na construção de uma captação de água através de uma obra que hoje é referência em toda região, e com os nossos recursos reduzidos fizemos justiça para o povo Pankará, de Itacuruba (PE). Aquilo é uma prova de como o investimento, levado à comunidade que havia sido desrespeitada, mudou a realidade deles”.

“O Comitê voltou a tratar desse assunto junto aos ministérios que têm implicação direta nessa questão. Agora é aguardar o retorno deles. Estamos estudando o assunto e temos trabalhado com alguns especialistas porque o Comitê precisa obter informações concretas. Neste caso, iremos conhecer melhor do assunto para poder deliberar algumas ações. Vamos discutir e acompanhar tudo para em breve trazer novidades”, finalizou. 

Fonte: Assessoria de Comunicação CBHSF: TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Deisy Nascimento

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