UNEB EM SENHOR DO BONFIM DISCUTE SOBRE PANDEMIA E COMUNIDADES QUILOMBOLAS

"Enfretamento da pandemia pelas comunidades quilombolas" é tema da primeira live realizada pelo Laboratório de História e Cultura Afro-brasileira Mariinha Rodrigues (LahAfro), do Departamento de Educação (DEDC), Campus VII da UNEB. A live acontece nesta quinta-feira (11), às 17h, com transmissão ao vivo pelo canal LahAfro no YouTube.

A série de live do LahAfro tem o objetivo de desenvolver ações que possibilitem estudos e valorização da cultura negra e africana de modo interdisciplinar nas áreas de Artes, Biologia, Educação, História e Saúde; além de dar visibilidade aos povos negros e quilombolas, para que contem suas lutas, anseios e conquistas.

A primeira live conta com a participação da quilombola e mestra, Ana Paula Cruz; do doutor César Vitorino; e da doutora, Benedita Pinto. Com mediação das professoras do DEDC VII da UNEB e coordenadoras do LahAfro, Carmélia Miranda e Eliana Sacramento.

Em junho, a série de lives do LahAfro acontece nos dias 11 e 25 com temas voltados à história dos negros, população que corresponde a mais da metade dos brasileiros, e mais de 70% dos baianos e bonfinenses. Acesse o canal do LahAfro através do link: https://www.youtube.com/channel/UCmxcX52Ms-H_LCKbcB05TzA (Fonte: Lorena Simas-NAC-DEDC/ UNEB)
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ALÓ NORDESTE, ELIAS LOURENÇO E O RÁDIO COMANDANDO A CULTURA GONZAGUEANA

Elias Lourenço é um dos maiores nomes da radiofonia do Brasil e especial nordeste. No início deste ano completou 81 anos. Nascido em Arcoverde no dia 12 de janeiro de 1939, Elias Lourenço mora no Recife e vem recuperando a saúde.

Lá na Paraíba, "durante todo o tempo em que me entendo por gente vi surgir e consolidar-se dentro de mim o amor e o respeito pelo Rádio. Ainda criança, botei os olhos num rádio Semp à válvula e certa vez meu pai, Francisco Assis Guedes, me levou a Campina Grande, Paraíba para conhecer os estúdios da Rádio Borborema. Ali vi os mistérios que envolvem o Rádio.

Estudante de jornalismo era comum minhas andanças para visitar a Rádio Caturité, Cariri e a Campina Grande Fm.

Nos anos 80 e 90 não havia a facilidade da tecnologia e os acessos digitais e por isto, "tornei-me notívago, navegando nas sintonias dos radios analógicos, buscando emissoras de longe, locutores que me falariam de cidades e acontecimentos que eu planejava vivenciar. Durante o dia me via rodeado pelas rádios locais, pelas ondas que vinham de Campina Grande e suas três rádios AM: Caturité, Cariri e Borborema. Nomes fortes, direto de nossas raízes, todas em Am, Amplitude Modulada".

Foi na programação das rádios que aprendi a viver a brasilidade. Retalhos do Sertão, Bom dia Nordeste (com Zé Bezerra) cuja abertura era um jingle sensacional do compositor João Gonçalves. José Lira, José Nobre na Campina Grande FM. Ivan Ferraz, Wilson Maux. Todos mestres...

Mas, o meu encanto maior e aprendizado maior aconteceu quando um dia sintonizei a Rádio Clube de Pernambuco, Recife. A voz de ELIAS LOURENÇO. No clima da notícia. Alô Nordeste! Elias chamando prá cantar Jorge de Altinho, Flávio José, Petrúcio Amorim, Marinês, Elba Ramalho, Raimundo Fagner, Três do Nordeste, Assisão Trio Nordestino, cantadores de Viola, aboiadores e Luiz Gonzaga.

No Programa da madrugada e Fim de Tarde na Fazenda, Elias Lourenço e sua voz, eu sempre ao lado do Rádio e xícara de café. Ouvia cada frase, informação e referências.

Uma madrugada, muito frio em Areia-Paraíba, através do Rádio ouvi Elias Lourenço anunciando numa quarta-feira, 02 de agosto de 1989: "Morreu Luiz Gonzaga". Chorei em silêncio! Um susto! Não imaginava o traçado do destino. O silêncio foi "quebrado" pela som do Rádio,  a sanfona de Luiz Gonzaga, a voz de Elias Lourenço: "são quatro horas da madrugada e trinta minutos no Nordeste...Alô Nordeste".

Elias Lourenço, conquistou um estilo próprio de fazer o rádio. O seu sucesso atraiu sempre muitos ouvintes, que o acompanham ao longo dessa jornada. E, não esquece que além de ter dado espaço a novos talentos da música nordestina, teve entre seus admiradores artistas como o rei do Baião, Luiz Gonzaga, “que fazia questão de participar dos programas, ligando de toda parte ou vindo diretamente aos estúdios. Esta foi uma das minhas amizades mais fortes que fiz no rádio”. Destacou Elias Lourenço, que é um dos nomes nas respeitados da radiodifusão pernambucana.


Através do amigo, radialista e criador do Site Relembrando O Gonzagão, Edilson Gonzaga, lá de Gravatá-Pernambuco, revivi toda esta trajetória desde quando por décadas acompanho Elias Lourenço através do Rádio. Não o conheço pessoalmente, Elias Lourenço, mas trago nele um sentimento de gratidão. Gratidão pela minha formação profissional...Sou grato a Elias Lourenço aprendi amar ainda mais meu Nordeste, a cultura brasileira e os estudos, afinal, só a Educação Liberta.

Antes de adoecer o Elias Lourenço apresentava o programa Alô Nordeste na Rádio Folha em Recife de segunda a sexta ás 2h (madrugada) às 5h e no Sábado, 2h às 6h. Desta vez minha maturidade profissional me fez questionar, primeiro o "tiraram da Rádio Clube de Pernambuco", quando inventaram uma programação globalizada e agora um horário às 2 horas da madrugada?

Todavia pelo que ouvi Elias Lourenço não reclamava. Com a disposição de um jovem para trabalhar toda madrugada, sempre com um sorriso nos lábios, apresentando o Programa Alô Nordeste, diariamente. O clima contagiante e o jeito bem humorado de contar as notícias.


Elias Lourenço, 81 anos de idade e também chega a marca dos 51 anos de trabalho em rádio. Elias Lourenço percorre uma longa trajetória, uma vida profissional para chegar hoje a ser considerado um dos radialistas mais queridos e respeitados perante os ouvintes.

Seu trabalho sempre é voltado para a divulgação da cultura brasileira e em seus programas tem procurado ressaltar o talento do artista regional, particularmente aqueles que se dedicam aos ritmos mais típicos da região, como o forró.

Elias Lourenço Já trabalhou na comunicação das Rádios Atual, de São Paulo; Poty, de Paulo Afonso: e em Pernambuco percorreu quase todos os prefixos radiofônicos – Olinda, Globo, Relógio, Capibaribe, Continental, Jornal, Clube e a última Folha FM.

Um dia, me vi do lado de dentro na Rádio Serrana de Araruna-Paraíba com os amigo Aderaldo Luciano e Pedro Freire, juntos fazíamos a produção e apresentação de um programa de Rádio. E então até hoje, jornalista, empresto minha homenagem e gratidão, valorização pela cultura a Aderaldo e a você,Elias Lourenço até hoje minha referência de apresentador de Rádio.

Para minha alegria e compromisso profissional, hoje estou na Rádio www.radiocidadeam870.com.br, apresento o programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Domingos todos os domingos ás 9hs da manhã.

'O rádio está vivo, a faixa AM ainda está viva, querem matá-la no Brasil, mas ela ainda representa uma enorme atividade pelo interior dos Brasis. Amo o Rádio, Sinto-me parte dele, Sou um guardião, embora tanta coisa ruim aconteça aos seus microfones. Mas uma coisa é o Rádio, a outra, seus donos e vozes", diz o professor Aderaldo Luciano, mestre e doutor em Literatura da Ciência. (Foto Paulo Almeida Follha de Pernambuco)
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AGRICULTORES FAMILIARES ESPERAM QUE PROGRAMA ESTADUAL DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS SAIA DO PAPEL

Lei sancionada pelo governador Paulo Câmara prevê 30% dos recursos do Estado voltados à aquisição de alimentos para agricultura familiar, com limite de compra de até R$ 20 mil por produtor.

Com milhares de pequenos agricultores reclamando da dificuldade de comercializar seus produtos durante a pandemia do novo coronavírus, o governador Paulo Câmara decidiu esta semana (3) sancionar o projeto que dispõe sobre a compra institucional de alimentos e a economia solidária. É o Programa Estadual de Aquisição Alimentar da Agricultura Familiar (PEAAF), que assegura pelo menos 30% dos recursos do Estado destinados à aquisição de alimentos sejam utilizados na compra de produtos agropecuários, lácteos, resultantes da atividade pesqueira, dentre outros.

Aprovada há quase um mês pela Assembleia Legislativa, a nova lei traz sugestões do Sindicato dos Agricultores Familiares de Petrolina (Sintraf) e é uma reivindicação já antiga das entidades ligadas à agricultura familiar. O programa se destina também a agricultores urbanos, pescadores artesanais, criadores de animais, povos indígenas, comunidades quilombolas e beneficiários da reforma agrária. O texto sancionado por Câmara, porém, limita a compra estatal no valor anual de R$ 20 mil, por pessoa, e de R$ 6 milhões, através de cooperativas e associações.

A medida pode ajudar a levar recursos a homens e mulheres do campo que se queixam da falta de acesso a recursos para atravessar a crise. Nos últimos três meses, o Sintraf expôs a tímida assistência do poder público e vem cobrando ações assertivas do Estado e município diante da pandemia. “O PEAAF é importante porque dá aos agricultores mais oportunidades de comercialização de seus produtos, num momento em que perdemos vários hectares de frutas”, comenta a presidente do sindicato, Isália Damacena.

A legislação define ainda requisitos para o beneficiário participar do programa, como: possuir Declaração de Aptidão (DAP) ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), ser real produtor do alimento, atender controle de qualidade dispostos nas normas vigentes e apresentar preços praticados no mercado local ou regional.

Segundo a Lei nº 16.888, o PEAAF prevê três modalidades: a Compra Institucional Direta, quando os alimentos são adquiridos pelo Governo do Estado por chamada pública ou dispensa de licitação; a Compra Institucional Indireta, na qual os fornecedores de alimentação preparada devem incorporar entre seus insumos gêneros alimentícios fornecidos pela agricultura familiar; e a Compra Direta com Doação Simultânea, em que os produtos adquiridos da categoria são destinados aos hospitais, escolas, presídios estaduais, creches, instituições de amparo social, famílias em situação de vulnerabilidade e equipamentos de alimentação e nutrição.

Isália Damacena informou, contudo, que os pequenos agricultores só devem começar a sentir efeitos da medida quando o programa for executado. “Não sei ainda quando eles irão colocar a lei em prática. Mas espero que isso ocorra para os próximos dias”, disse. A líder sindical contou também que “a entidade continuará acompanhando o caso”, para, a partir disso, “informar e orientar os agricultores sobre como participar do programa”, garantiu. 

Também contribuíram para a elaboração da lei, de iniciativa do Executivo e do deputado estadual, Gustavo Gouveia (DEM), as entidades Sertão Agroecológico e Rede de Territorial de Agroecolegia, por meio dos professores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Hélder Ribeiro Freitas e Élson de Oliveira, além do deputado Lucas Ramos (PSB). (Fonte: Jacó Viana | Jornalista)
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PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA É MAIS SUSTENTÁVEL E TEM MENOR IMPACTO AMBIENTAL

O Programa AMBIENTE É O MEIO, transmitido na Rádio USP, desta semana Luiz Carlos Pinheiro Machado Filho, professor do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), fala sobre seus estudos sobre a produção animal sustentável, voltada à agroecologia e ao bem-estar animal.

O professor comenta que o atual modelo de produção de carne no Brasil, que segue o padrão mundial, não é sustentável. “Essa produção, assim como na agricultura, tem alta produtividade, mas demanda muita energia fóssil e muitos recursos naturais. A consequência é um impacto ambiental muito forte”, diz Machado Filho.

Ele aponta que não se pode considerar apenas os aspectos econômicos, mas olhar também a questão ambiental. “Vivemos em um planeta com 7,5 bilhões de habitantes, o que resulta em 0,6 hectare de terra agrícola por pessoa, ou seja, é uma superpopulação. Na natureza, quando há uma superpopulação, existe um colapso para que a população entre em um novo equilíbrio. Porém, o homem consegue manipular a natureza e, por isso, conseguimos produzir alimento numa escala impensável anteriormente”, explica.

Algumas maneiras de se ter uma criação animal agroecológica são a rotação de culturas, a sucessão vegetal, a redução de produtos de síntese química, o respeito à agricultura de família. “Essas questões devem estar embasando um novo paradigma de produção, no qual a produtividade também é fundamental”, afirma o professor.

Ele finaliza explicando que a mentalidade das pessoas precisa mudar, antes de mais nada. “Vamos ter de dividir melhor os recursos, com mais racionalidade. Precisamos de um planeta mais sustentável, com princípios de solidariedade e justiça social. Para isso, alguns paradigmas terão de ser repensados”, completa o professor Machado Filho. (Fonte: Jornal USP)
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SEU JOÃO PENTEADO VIVIA ALI NA FEIRA E TRAZIA NOS MOVIMENTOS A CERTEZA PACIENTE DE VONTADES ANCESTRAIS

Seu João parecia estar ali a mais tempo do que a feira. Sua presença e o seu ponto de ervas e raízes eram marcas de um mundo arcaico incrustado ali naquela esquina...Trazia, para o meio da rua, resquícios de um Sertão antigo, que se apertava nas latinhas e pequenas caixas expostas num restrito espaço de chão forrado. 
                      
Vinham as ervas, raízes, bulbos, folhas, sementes, vargens, cascas, frutos secos; curtidos e envelhecidos como as práticas medicinais, as crenças e o semblante caboclo do velho João Penteado. Vinham por um corredor da vida onde o tempo vai passando devagarzinho e deixando uma crosta pegajosa e essencial sobre os entes, as horas, os costumes, as coisas... 

A localização do Ponto de Seu João era dos mais emblemáticos: Na frente ou no oitão da casa – geralmente fechada – de esquina com a Bodega de Babá; na entrada da rua da ladeira do Colégio São Sebastião; já dentro do fuzuê das barracas de comida e próximo à sombra da esquina de Teófilo Lins – Praça da Casa Paroquial e do Cine Santa Terezinha. 
                       
Naquele triângulo de confluência sentimos, na infância, e testemunhamos mais tarde, a feira e toda a alma de um universo e de um tempo como que se concentrando e se despedindo de nós, do mundo “lá de baixo” e de um arraigado modo de vida do qual era o centro.

Seu João tinha o vigor manso dos vegetais; trazia nos movimentos a certeza paciente de vontades ancestrais. Nas horas áridas, respingos de eternidade umedeciam suas lacunas de solidão e afastavam o fantasma da incerteza. A natureza de ventos silvestres marcava o compasso dos seus dias. 

Nos caminhos da Tranqueira, da Serrinha, do Teiú, da Solta, do Pradicó... Era um espírito xerófilo tateando cascas, vargens, frutos, raízes e o quase perdido elo telúrico... Era um coletor e disseminador da essência primitiva da existência. Tinha as mãos e os passos impregnados pelo aroma vigoroso das caatingas e pelos princípios elementares da vida.

João Penteado trazia, em todo o corpo, pigmentos de sedimentada velhice e inalterável solidez, tal qual as encostas da Serra do Araripe. Na fisionomia os traços eram como que esculpidos por deuses de tempos há muito esquecidos, num tronco encascado de velha e engelhada Baraúna.

Era senhor de uma paciência e uma languidez recrudescidas – nunca embrutecidas – na sua faina sob o sol, e quando no amparo das sombras – que lhe favoreciam uma profunda imersão-integração no universo existencial daquele meio aparentemente adverso, mas profundo e vasto como as horas de mormaço e as noites de céu estrelado.

Seu João, por vezes, parecia inerte e estagnado. Mas, uma atenção mais sensível nos deixava sentir o fluxo de uma corrente interior que fluía continuamente e incandescia o seu ser, fazendo ferver a seiva que nutria a sua vida e movia a energia assentada em sua têmpera.

Arrumava e manuseava, calmamente, todo aquele rebotalho de produtos nas latinhas e nas caixas; e espalhava outros soltos nas brechas vazias sobre a lona; como quem planta uma roça: Com a certeza de trazer, nas mãos, férteis gérmens de vida e o sentido da aventura da luta pela sobrevivência.

Seu João Penteado tinha a fibra e a despretensão dos seres silentes. Era daqueles que traziam no corpo, na voz e na vastidão sossegada da sua existência, a recendência dos eflúvios  (Texto: Mauricio Cordeiro Ferreira (Sebo Reboliço)

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SOMOS MUITOS GRATOS AO COMITÊ PELA ADUTORA. HÁ 12 ANOS O TERRITÓRIO INDÍGENA DEPENDIA DA ÁGUA DOS CARROS PIPA, DIZ LÍDER PANKARÁ

“Um marco na história dos Pankará do Serrote dos Campos”. É assim que define a agente de saúde Pankará, Genice Menezes. Ela se refere a obra que está garantindo água na torneira da tribo Pankará na Aldeia de Serrote dos Campos, em Itacuruba, Pernambuco, que já completou 14 meses de funcionamento. Para quem sonhou e batalhou por longos anos para o que hoje é realidade, o sentimento é de gratidão. A construção da adutora tem garantido a mais de 400 índios um direito básico, o acesso à água potável.

O Sistema de Abastecimento de Água conta com a captação feita no lago de Itaparica através de uma adutora, estação de tratamento, rede de distribuição, e ramal para a irrigação.

Os Pankará são um povo com raízes essencialmente agrícolas, atividade que eles não conseguiram desenvolver nos últimos 12 anos, tempo em que a comunidade indígena ocupa o atual território, após deixar a localização originária de Itacuruba, submersa pelas águas com a construção da usina hidrelétrica de Itaparica.

Mesmo apenas cerca de oito quilômetros do Rio São Francisco, a tribo dependeu, durante mais de uma década, de carros-pipa. A obra, custou aproximadamente R$ 4,5 milhões, financiada integralmente pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco com recursos oriundos da cobrança pelo uso da água do Rio São Francisco.

“Após um ano de conclusão da obra da adutora, a vida mudou significativamente para melhor. Hoje temos uma pessoa da própria tribo contratada para fazer o tratamento da água e a distribuição. Com isso a gente não precisa mais passar pelo constrangimento de pagar o caminhão-pipa e mesmo assim ficar esperando, dia após dia, pelo abastecimento. Todos nós temos acesso a água boa e de qualidade”, explicou a liderança Pankará, Rafael Neilson.

O índio contratado para fazer o tratamento e a distribuição da água, citado por Rafael, recebeu capacitação e é hoje funcionário da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). Ele se encarrega da distribuição da água que é feita em dois turnos de três horas cada. O sistema tem projeção para atender a tribo pelos próximos 20 anos, considerando o crescimento populacional da aldeia que, segundo a estimativa, é de que no ano de 2034 a tribo contabilize 741 índios.

“Somos muito gratos ao Comitê por ter nos contemplado com a adutora. Há mais de 12 anos a gente vivia nesse território dependendo da água que os carros-pipa traziam. Já chegamos a passar meses sem o abastecimento, à mercê da espera já que os caminhões têm a programação de várias localidades para atender. Não tinha água nem para beber e hoje estamos tranquilos com esse bem tão grande que conquistamos. É uma alegria acordar e já saber que temos água para fazer as atividades domésticas, quem tem sua horta pode cultivar. É maravilhoso acordar e saber que tem água na torneira e que não é preciso mais enfrentar uma fila imensa. Somos muitos gratos”, destacou a Cacique Pankará, Cícera Leal.

Com a água disponível, já é possível voltar a plantar. O projeto da comunidade é iniciar uma horta comunitária que vai gerar renda para a tribo através do beneficiamento dos produtos e sua venda, mas enquanto finalizam a ideia, muitas famílias já conseguem fazer suas pequenas plantações para subsistência. A tribo recebeu orientações sobre a implementação de um projeto irrigado como forma de garantir a sustentabilidade na aldeia. As orientações foram passadas por equipe de professores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e do Instituto Federal do Sertão (IF Sertão).

“Após um ano da entrega desse importante equipamento à comunidade Pankará, do Serrote dos Campos, que, após mais de 15 anos de luta, começaram a receber água potável em suas residências, temos a certeza absoluta de que o CBHSF, dessa forma, contribui para viabilizar e garantir a sustentabilidade hídrica, alimentar, ambiental e a melhor qualidade de vida. Essa obra proporcionou um marco com a chegada da água potável às famílias indígenas daquela aldeia e ainda proporcionará a implantação de projetos de produção agrícola, a partir do uso da água bruta, que já se encontra disponível, para que possam, nas suas próprias terras, cultivar produtos agrícolas, a exemplo de legumes, frutas e verduras, tornando ainda mais eficiente o uso dessa água que hoje chega à comunidade, agregando também valor e dando sustentabilidade a esse grande e importante empreendimento realizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco”, finalizou o Coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Julianelli Lima. (Fonte*Juciana Cavalcante e Nicy MenezesCHBSF)
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A MORTE DE MIGUEL É FRUTO DE UMA SOCIEDADE QUE AINDA TEM UM FORTE SENTIMENTO ESCRAVAGISTA

"Justiça para Miguel". A frase, autoexplicativa, deu o tom da manifestação pacífica que ocorreu na tarde desta sexta-feira (5), em memória do menino Miguel Otávio Santana da Silva. A criança, de 5 anos, morreu na última terça (2), após cair do edifício Píer Maurício de Nassau, que integra o condomínio de luxo popularmente conhecido como Torres Gêmeas, no bairro de São José. Miguel estava sob os cuidados de Sarí Côrte Real, patroa de sua mãe, Mirtes Renata de Souza. Segundo a Polícia Civil, Sarí foi omissa em não ter cuidado do menino, tendo sido indiciada por homicídio culposo.

Líderes de movimentos sociais, instigados pelo simbolismo do caso, também estiveram presentes. Linda Ferreira, do Coletivo de Entidades Negras (Conem), afirmou que a morte de Miguel é fruto de uma sociedade que ainda tem um "forte sentimento escravagista". "Ele era filho de uma empregada preta e foi colocado no elevador de serviço. O grito desse protesto também é pelos filhos de outras mulheres negras que perderam seus filhos, seja pela ausência do direito ou da omissão do estado", disse a ativista. 

"Mais de 40 entidades estão marcando presença aqui, entre advogados, diversos  sindicatos, segmento sociais, população negra e não negra. É um momento em que a sociedade precisa entender a reação do oprimido em resposta ao racismo estrutural. Nenhum valor traz uma vida de volta", disse Jean Pierre, líder do Movimento Negro Unificado.

Familiares, amigos, vizinhos, ativistas políticos e desconhecidos, solidários a dor da família, marcaram presença. O distanciamento social foi respeitado e os manifestantes, entre máscaras e protetores faciais, seguravam cartazes e gritavam frases como "Não foi acidente", "Queremos justiça", "Ei, mamame, aprende a lavar louça" e "Justiça para Miguel" - esta última que virou um dos termos mais mencionados da internet nas últimas 24 horas. O corpo do menino foi velado no distrito de Bonança, vinculado ao município Moreno, na Região Metropolitana do Recife, onde a mãe cresceu.

Por volta do meio-dia, começaram a chegar as primeiras pessoas na frente do Píer Maurício de Nassau, que depositaram uma coroa de flores, velas e mancharam com detergente vermelho a entrada do prédio, em referência a sangue. No entanto, a concentração do protesto foi na Praça da República, em frente à sede do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), e seguiu em caminhada até o prédio onde o menino morreu.

"Ela (a Sarí) era uma pessoa que a nossa família confiava. Meu primo morreu e isso não pode ficar impune. R$ 20 mil não paga a vida do meu primo, não paga a vida de ninguém. Deus deu a vida a nós e ninguém tem direito de tirar. Por isso precisamos do apoio de todo mundo porque a dor é muito grande", desabafou Amanda Souza, prima do menino Miguel. Ela foi uma das organizadoras do ato, além de ter sido uma das primeiras a denunciar o caso nas redes sociais. "Muitos disseram que Miguel não tinha família, mas ele tem. Estamos aqui fazendo fazendo justiça por ele. Somos unidos". Ela afirmou que todos os parentes estavam fazendo um esforço anormal para se fazerem presentes.

A pista do Cais Santa Rita, em frente ao edifício, foi tomada pelo grupo por volta das 14h50. A mãe de Miguel, Mirtes Renata, não conseguiu ir até a manifestação. Após dar entrevista para o programa Encontro, da TV Globo, na manhã desta sexta, pediu reserva, para poder conversar com seu advogado. Já a avó de Miguel, Marta, e o pai, Paulo dos Santos, vieram para o protesto, além de três tias e uma prima.

"Eu achava que era uma pessoa fraca, mas agradeço a Deus por estar aqui hoje. Creio que Jesus vai nos ajudar. Com a força de todas as pessoas daqui, do Brasil inteiro, vamos fazer justiça pela morte de Miguel, para que não fique impune”, comentou a tia do menino, Patrícia Souza. "Nós não esperávamos essa repercussão toda. Eu agradeço de coração e só peço justiça por meu neto. Eu espero que essa situação mude, porque pagar fiança após um caso desses é como um suborno, na minha opinião", resumiu a avó, Marta. (Fonte: Diário de Pernambuco)

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