Professoras da Orquestra Cidadã transformam a realidade de jovens do Coque

Dentro de um contexto social adverso, em que muitas vezes a necessidade de ter um trabalho e garantir o sustento da família se sobrepõe à importância de se dedicar aos estudos e ter acesso à formação qualificada, as professoras da Orquestra Criança Cidadã (OCC) têm construído uma história de luta diária para manter viva a esperança de jovens da comunidade do Coque, no Recife, que sonham em viver da música. 

A professora de violino e maestrina Susan Hagar ingressou no projeto em 2015 com intuito de transformar a realidade desses alunos, principalmente das meninas que fazem parte da orquestra. "Aqui elas têm modelos de mulheres profissionais que são líderes e que ajudam as pessoas. O que talvez fuja um pouco da realidade que elas vivenciam fora daqui", observa. 

Mesmo na música, os papéis em uma orquestra ainda são predominantemente masculinos. A maioria dos regentes são homens. "Nós temos uma turma de iniciantes em que acontece algo diferente. O instrumento, como o contrabaixo, geralmente é escolhido pelos meninos, mas aqui nós temos três meninas tocando”, exemplifica Susan. 

Para a professora de sopro Eneyda Rodrigues, a figura da mulher como fonte de inspiração mostra que essas jovens podem seguir o caminho contrário daquilo que vivem no cotidiano de uma comunidade carente. "A minha mãe e minha tia eram professoras. Além delas, me inspirei bastante em uma professora de flauta que tive chamada Conceição Benck.", conta. 

"É indiscutível o papel feminino na sala de aula, principalmente para o recorte de classe econômica com que trabalhamos aqui. Não deixa de ser um resgate social mostrar para jovens meninas que elas não precisam seguir o fluxo de engravidar cedo ou depender de um marido, pois aqui há possibilidades de crescimento e que juntas podemos alcançar novos horizontes", afirma. 

Com 14 anos, a jovem Joyce Hellem, queria estudar violino, mas, após assistir um vídeo falando sobre o contrabaixo acústico, não se intimidou por ser um instrumento considerado mais “masculino”. “Nunca coloquei meu gênero na frente dos obstáculos, isso nunca me intimidou. O que importa é meu potencial e dedicação. Vivemos em uma sociedade machista e ver mulheres aqui na Orquestra Cidadã lutando e conquistando seu espaço, fazendo suas vozes serem ouvidas, é inspirador”, aponta. 

E foi esse caminho de liberdade e de poder almejar muito mais do que uma realidade social problemática possa ofertar que levou a ex-aluna da Orquestra Criança Cidadã Rebeka Muniz a se tornar professora da instituição. Ela, que teve seu primeiro contato com a música aos 10 anos de idade, hoje leciona teoria musical, solfejo e flauta doce no projeto. “Devido ao contexto que essas crianças e jovens estão inseridos, muitos ainda terminando abandonado a OCC porque precisam trabalhar. Os pais não entendem que o retorno financeiro vem através dos estudos e dedicação”, comenta.

Segundo Rebeka, o sonho de ser professora sempre a acompanhou e só não desistiu  porque teve como inspiração a professora de teoria musical da OCC Janayna Mendes. “Ela estava um pouco desfocada, mas conversamos muito. Ela prometeu que se esforçaria e gostaria de seguir meus passos. É impossível não se emocionar”, recorda Janayna. 

Fonte: Mirella Araujo-Folha de Pernambuco

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Eliane Brum: O Adeus de Ana das Carrancas a Zé Vicente (2008)

Ana Leopoldina Santos Lima era o nome dela. Isso muito antes de o barro moldar seu destino lhe dando por amor um homem que não tinha olhos para enxergá-la. Os monstros gerados pelas mãos de Ana eram cegos como o companheiro de sua vida. Com um golpe rápido, certeiro, ela vazava os olhos de suas criaturas com a ponta de um pedaço de pau. Com Ana era assim, a desgraça virava épico. Ao morrer, na quarta-feira passada (1º/10), aos 85 anos, a maior carranqueira do São Francisco voltou ao barro que a fez. E deixou Zé dos Barros, pela primeira vez, na escuridão.
Ela era uma mulher de solenidades. Não falava, entoava. “Minha vida é extensa...”, era a frase com que iniciava a narrativa. Analfabeta, fazia literatura pela boca. E mesmo limitada por uma seqüência de derrames, parte dos dedos com que tocava a lama do mundo paralisados, Ana era grande. Carregava nos gestos uma largura de alma. E o rio era seu espelho em mais de um sentido. A mulher que moldava o barro do chão só pisava o reflexo do céu. 

Ana das Carrancas costumava dizer que sua arte era a síntese de seu amor por um cego que via o mundo mas não era visto por ele. Entre ela e Zé dos Barros nunca se soube quem era criador, quem era criatura. Ela já veio ao mundo retirante, na cidade pernambucana de Ouricuri. Mas diferente de quase todos, nunca lamentou a terra estéril sob seus pés. A estirpe de mulheres da qual era continuidade moldava pratos, panelas, vasos. Ana aprendeu com a mãe, e antes dela a avó, que do barro se arranca tudo, até a vida.
Uns poucos anos depois dela, José Vicente de Barros nasceu em Jenipapo, outro canto sertanejo. Desembarcou na vida sem olhos, por culpa do amor incestuoso entre primo-irmãos. Desde cedo a ele ensinaram que “quando Deus faz uma criança sem vista é porque quer que ela sobreviva como pedinte”. Para se localizar na escuridão, desde menino ele balançava a cabeça. E nesse de lá pra cá, de cá pra lá, encontrava equilíbrio mesmo nas trevas.
Ana e Zé só cruzaram seus pés descalços quase trinta anos mais tarde. Ana tornara-se viúva desde que seu marido despencara de um pau-de-arara. Conheceu Zé pedindo esmolas na feira de Picos. Ele balançava guizos, cantava cantigas. Mas era um cego desaforado por anos ouvindo os meninos mangando dele, pegando nele. Ana, não. Era resignada, como costumam ser as mulheres com fome e filhos para dar de comer. Ana dava comida a Zé sem que ele precisasse implorar.
Como Zé acreditava que homem sem olhos não tinha direito à mulher, Ana precisou criar ela mesma o enredo de seu romance. Era uma Sexta-Feira da Paixão, tempo prenhe de possibilidades, já que até Cristo ressuscitaria em seguida. Ana aproveitou-se da data e aconselhou a Zé: “Peça uma esposa no modelo de Nossa Senhora. Uma que seja mãe e mulher”. Zé não entendeu bem, mas não quis discutir com amiga tão prestativa. Por três vezes clamou, como manda a tradição: “Minha virgem Nossa Senhora, vosso bento filho ressuscitou agora. Eu quero que me dê uma esposa no vosso modelo. Mãe e mulher”. 

Nem assim Zé compreendeu. Oito dias depois pediu a irmã de Ana em casamento. Mesmo sendo “moça-velha”, a escolhida renegou. “Se eu quisesse casar, teria casado com um de vista. Não quero saber de homem que balança a cabeça”, recusou a eleita. Ferida de morte, Ana sentenciou: “Não se orgulhe, minha irmã, que cego não é demônio. Cego é humano como qualquer cristão”. Desta vez, Zé despertou. Pediu a moça certa em matrimônio. E passaram a dividir teto e misérias: Ana na feira, Zé nos guizos.
Um dia a vizinha abordou Ana na rua. “Desenteirei açúcar do meu filho para dar esmola a Zé”, queixou-se. O rosto de Ana queimou de vergonha. Tirou uma nota do bolso e retrucou: “Enteire de novo o açúcar do seu filho. Por Zé ele não vai passar fome”. Naquela noite não dormiu. Sua tristeza não coube na rede que dividia com Zé. Quando acordou, chamou o marido e anunciou: “Meu velho, nunca lhe fiz um pedido. Mas hoje lhe peço. De agora em diante, você não vai mais pedir esmola". Assustado, Zé rebateu: “Deus me fez sem vista para que eu pedisse esmola”. Ana fincou pé: “De hoje em diante sua vista é a minha. Você pisa o barro, eu faço a peça. Nós vamos levar para a feira, nós vamos ser felizes”.
Ana pegou a enxada e caminhou até as margens do São Francisco, em Petrolina. Diante da fartura de líquidos, invocou o espírito do rio: “Meu grande Nosso Senhor São Francisco. Pelo poder que ostenta, pelas águas que estão correndo, do próprio barro melhore a nossa vida”. Ao terminar, juntou um bolo de lama e fez, sem que até hoje saiba como, a primeira carranca. Começou levando na feira, suportando calada riso e maldades. “É tão feia quanto a dona”, cutucavam. No dia seguinte, em vez de uma, Ana levava duas. Até que caiu nas graças dos turistas e dos ricos da cidade e, de lá, suas obras ganharam o mundo. Ela então deixou de ser Ana do Cego e virou Ana das Carrancas. E ele virou Zé dos Barros.
As carrancas de Ana são diferentes de todas as outras que, desde o final do século XIX, apontaram a face horrenda na proa das barcas do São Francisco. A maioria dos carranqueiros célebres esculpe em madeira, Ana, em barro. Mas a maior singularidade são mesmo os olhos vazados do seu monstro. São eles que dão a expressão melancólica, contendo mais sofrimento do que ameaça, à obra de Ana. É do feminino que Ana tira sua carranca dilacerada diante da dor do mundo.
“Os olhos vazados da carranca são uma homenagem a ele. O Zé pisa o barro, prepara o bolo, faz a forma no pensamento. Eu moldo. Furo o nariz, as orelhas. Então, toco um pedaço de pau bem feitinho no olho”, me contou ela, anos atrás. “Não me sinto bem furando os olhos. Furo com pena, com dor. É como estar judiando dele. Porque todas são ele. Então, digo: '‘Olha, meu velho, homenagem a Zé Vicente de Barros'. Fico aliviada, porque lembro que faço por amor a ele." Sacudindo a cabeça para lá e para cá, Zé dos Barros concluía: “Eu era um bicho. Virei gente. Esta mulher me fez”.
Os traços deformados das carrancas de Ana expressam, pelo avesso, a perfeição de seu amor. É este sentimento avassalador que tomava conta de Ana, anos atrás, quando ela começou a pressentir que o fio de sua vida atingia seu cumprimento. “O barro é como gente. Tem o barro ruim e o barro bom. E até o barro regular. Conhecendo o barro se conhece o mundo”, sussurrava ela. “O barro é o começo e o fim de tudo. Sem ele não sou ninguém. Foi ele que me deu o direito. Não me separo dele pra coisa nenhuma, porque eu amo aquilo que ama a mim. O barro é um caco de mim.”
As lágrimas abriam então sulcos em sua face. Por um momento, ela assemelhava-se à sua criação. Movia o rosto em direção a Zé, que não a via com os olhos, mas era o único a abarcá-la por completo. Ana então dizia: “Não estou pedindo a morte. Mas quando eu me for, qualquer pedacinho de orelha, nariz ou olho é lembrança dele. E de mim”. 
Fonte: Eliane Brum-jornalista


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Chuva acima da média que caiu durante o carnaval anima agricultores de Juazeiro e Petrolina

O assunto nas emissoras de Rádio de Juazeiro e Petrolina continua sendo chuva acima da média neste início de ano e também durante o período de carnaval que está animando agricultores na zona rural de Juazeiro e Petrolina.

Agricultores estão otimistas com o cultivo. A expectativa é que o ano continue sendo de chuva e de boa colheita.

Agricultores localizados no Distrito de Nova Descoberta, localizado em Petrolina, apostam no bom fluxo de águas e apostaram no plantio. Alguns estão conseguindo plantar até quatro culturas no mesmo espaço: milho, feijão, fava e banana.

"Esse ano foi diferente dos outros, realmente, porque choveu bastante. Os outros só dava uma chuva e pronto, ia embora e acabava. Esse ano tá sempre, de vez em quando tá chovendo, e a gente tem que tentar plantar para tirar algo”, diz José João.

Segundo a Agencia Pernambucana de Aguas e Cilma (APAC) A previsão climática sazonal para o período de janeiro, fevereiro e março/2019 foi baseada nas análises dos campos
globais dos oceanos Pacifico Equatorial e Atlântico Tropical e da atmosfera, bem como nos resultados de modelos numéricos e estatísticos de previsão climática para o referido trimestre. 

Os parâmetros oceânicos e atmosféricos apontam que o acumulado das chuvas para o trimestre JFM deverá variar de normal a acima do normal em todas as mesorregiões do estado (Sertão, Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife).

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Dia Internacional da Mulher: Bárbara de Alencar, a sertaneja 'inimiga do rei' que se tornou a primeira presa política do Brasil

Foram dias pendurada no lombo seco de um cavalo, com os braços acorrentados, até que Bárbara de Alencar percorresse quase 500 km entre o Crato e o Quartel da 1ª Linha em Fortaleza, onde seria encarcerada por oito meses por ter declarado a independência de uma pequena vila na capitania do Ceará de Portugal.

O ano era 1817 e ela tinha 57 anos. Era a primeira vez que uma mulher era presa por motivos políticos no Brasil.

Bárbara foi um dos expoentes da Revolução Pernambucana, movimento de oposição à monarquia que fundou uma república em parte do Nordeste mais de 70 anos antes de o marechal Deodoro da Fonseca dar fim ao Segundo Reinado e transformar o Brasil independente em República.

Para a diretora executiva da Biblioteca Nacional, Maria Eduarda Marques, o movimento é o "berço da democracia brasileira" e, apesar de ter sido mais reprimido - e com maior crueldade - do que a Inconfidência Mineira de Tiradentes, é "pouquíssimo estudado".

Em 2017, a Biblioteca Nacional fez uma ampla exposição sobre a Revolução Pernambucana. Entre os documentos daquela época, diz a historiadora, aparecem os nomes de apenas três mulheres: duas escravas e dona Bárbara do Crato, como era chamada.

"A Revolução Pernambucana foi um movimento que nasceu entre os padres carmelitas, com lideranças urbanas e participação ativa de intelectuais que estudaram em Coimbra, em Londres. O caso da Bárbara é interessante porque ela não era nada disso", diz.

Ela era uma rica proprietária de terras, de escravos e de um sobrenome bastante influente. Três de seus cinco filhos, assim com ela, lutaram para que o Nordeste se tornasse uma república.

O caçula, José Martiniano, é pai do escritor José de Alencar - autor do clássico Iracema e, ironicamente, defensor do regime monárquico durante o período de D. Pedro 2º.

"Não encontrei qualquer menção dele à avó", diz o escritor Gylmar Chaves, que há 15 anos se dedica a pesquisar a vida da sertaneja e que se prepara para lançar uma biografia romanceada sobre sua vida.

Natural de Exu, em Pernambuco, Bárbara foi parar no interior do Ceará quando casou com o comerciante português José Gonçalves dos Santos, vendedor de tecidos, loções e miudezas na feira do Crato.

As viagens entre as duas cidades, separadas por 60 km de sertão, se tornaram comuns quando ela atingiu a adolescência e acompanhava o pai nas incursões pelas feiras que faziam do interior do Nordeste daquele Brasil um espaço muitas vezes sem fronteiras.

Aos 22, ela casou com um homem 30 anos mais velho, às escondidas, sem o consentimento do pai - e ainda convenceu um padre da Igreja Católica a sacramentar o matrimônio.

Não foi a primeira vez que Bárbara transgrediu os costumes da época, nem a última.

Depois de um ano vivendo no Crato, conta Chaves, ela já administrava em seu Sítio do Pau Seco um engenho onde fabricava rapadura e cachaça e produzia tachos e panelas.

Tudo à revelia do companheiro, que julgava que aqueles eram "negócios de homem". Bárbara tornou-se viúva jovem, com pouco mais de 40 anos, mas virou uma matriarca muito antes disso.

"Ela não deu muito espaço para o marido (dominar)", diz Chaves, divertindo-se.

Nos últimos quatro anos, o cearense rodou mais de 15 mil km a partir de Fortaleza para falar sobre Bárbara nas escolas.

O projeto, feito inicialmente de forma voluntária e hoje financiado pelo Edital Mecenas do Ceará, compreende entre 60 e 90 palestras por ano, para alunos de escolas públicas em sua maioria do ensino médio.

"Para dar a justa medida do papel das mulheres da época, ela era vista como masculina, o 'macho' da família, uma vez que tomava decisões e gerenciava os bens, sem conselhos dos homens", diz Ariadne Araújo, autora do livro Bárbara de Alencar.

O caminho para que ela se tornasse revolucionária foi pavimentado dentro do Seminário de Olinda, em Pernambuco, por onde passaram dois de seus filhos.

Fundado em 1800 para formar clérigos para a Igreja Católica, o seminário foi criado pelo bispo Dom Azeredo Coutinho, que, apesar de ser inquisidor-geral de Portugal, era "mais progressista" quando se tratava de educação, conta George Félix Cabral de Souza, do departamento de História da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

"Ele acreditava que os sacerdotes deveriam ajudar as pessoas do sertão. Assim, a formação envolvia amplos conhecimentos e com viés prático - que incluía o estudo da Enciclopédia de Diderot e d'Alembert", diz o historiador, referindo-se à obra referência do Iluminismo.

Ariadne Araújo pontua que, naquela época, o clã dos Alencar gozava de poder e prestígio não apenas na região do Cariri, hoje o sul do Ceará, onde estava instalado. A influência da família se estendia a outras áreas da capitania como Barbalha, Jardim e Araripe - na divisa com o atual Estado de Pernambuco - e Várzea da Vaca, hoje conhecida como Campos Sales, no limite com o Piauí.

"Bárbara certamente não só apoiava as novas ideias de liberdade como as assumiu publicamente, ao apoiar o movimento. Isso que torna o papel dela importante para a época", comenta a escritora.

Isso porque, no Nordeste do século 19, diz Maria Eduarda, da Biblioteca Nacional, a atividade política e as revoluções eram espaços praticamente exclusivos dos homens. As mulheres, em geral, nem emitiam opiniões sobre esses assuntos.

"As mulheres que viviam nos sertões nordestinos na época em que viveu Bárbara de Alencar não tinham direito a nada. Se ela teve o papel que teve nesse movimento político é porque veio de uma família com muita força, dinheiro, terras e prestígio, orgulhosos de sua independência", acrescenta Ariadne.

"Estas condições transformaram Bárbara em uma mulher que sabia o que queria, forte e corajosa, com um espaço - muito raro por aqueles tempos e naquelas bandas do interior - para existir como sujeito."

A escritora pondera que, ainda que a participação política tenha colocado a matriarca como ponto fora da curva, ela ainda era "fruto de uma cultura local extremamente moralista e católica".

Nesse sentido, destaca-se o fato de que ela, até onde se sabe, não era abolicionista - ao contrário de alguns dos seus contemporâneos rebeldes. Bastante religiosa, exigia que os escravos seguissem preceitos do catolicismo e não permitia, por exemplo, que fossem amasiados.

Os cativos, entretanto, não dormiam em senzalas, não sofriam os maus tratos comuns da época e a chamavam de "madrinha", lembra Chaves. Um deles, Barnabé, chegou a decepar a própria língua entre os dentes quando foi interceptado pelas tropas reais, para não denunciar o paradeiro da "sinhá". Outra, Brasilina, acompanhou pela mata a peregrinação de Bárbara, depois de capturada, até a prisão em Fortaleza.

Por que o Nordeste queria se separar de Portugal e virar república?
A vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808, fugindo das invasões patrocinadas por Napoleão Bonaparte na Europa, mudou o eixo político e econômico da colônia - concentrado nos primeiros séculos na empresa açucareira do Nordeste.

Dom João 6º, então príncipe regente do Brasil, instalou-se com a corte no Rio de Janeiro e, dali em diante, parte considerável dos impostos arrecadados em todo o território passou a fluir para a capitania, que ganhou chafarizes, iluminação pública, praças e grandes avenidas.

"Pernambuco, que era uma capitania com superávits comerciais por causa do algodão, se sentiu sobrecarregada com a taxação imposta pela corte", explica o historiador George Félix.

"A nobreza que expulsou os holandeses (que dominaram Pernambuco até 1654) se sentia como uma espécie de súdito privilegiado e se ressentiu com a mudança da coroa para o Rio", acrescenta Maria Eduarda.

Combinado à difusão do ideário iluminista e das revoluções francesa e americana e à tradição de insurreição de Pernambuco, o aumento de impostos foi combustível para a Revolução Pernambucana.

Apesar de um início atropelado - os planos dos rebeldes foram descobertos um mês antes do início previsto para a deflagração da revolta e eles tiveram que entrar em ação antecipadamente - a República de Pernambuco durou 75 dias.

O padre João Ribeiro desenhou a nova bandeira, que é até hoje representa o Estado. No dia 7 de março de 1817, é instalada uma junta provisória e tem início a experiência de autogoverno.

Com a nova Constituição, que defende a república, os direitos humanos e a liberdade religiosa e de opinião, é abolida uma série de impostos.

Antônio Gonçalves da Cruz, o Cabugá, é enviado aos Estados Unidos como embaixador da república pernambucana com o objetivo de comprar armas e angariar apoio para a luta armada.

O vinho, visto como um produto ligado à metrópole, foi substituído por cachaça nas solenidades e as hóstias distribuídas nas missas, feitas de trigo, passaram a ser fabricadas com mandioca.

Em pouco tempo, a revolução se espalhou, com apoio dos senhores de engenho - que pediram como moeda de troca que os revoltosos não advogassem pela abolição da escravatura -, de intelectuais e das massas populares.

"Eles defendiam o pagamento de menos impostos e a redução do preço dos alimentos - duas mensagens muito simpáticas à população em geral", diz o historiador da UFPE.

 Bárbara de Alencar morreu aos 72 anos, na casa de um sobrinho de segundo grau, onde estacionara para descansar no caminho.

Fonte: BBC

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Festival de Forró de Itararé terá Targino Gondim, Elba Ramalho e Fulô de Mandacaru

O Festival de Forró de Itacaré, que ocorrerá no feriadão de Páscoa, de 18 a 20 de abril, promete ser um dos maiores eventos forrozeiros de 2019. 

De acordo com Targino Gondim, coordenador do evento, a festa terá a presença de grandes nomes da música nordestina e brasileira como Elba Ramalho, a banda Fulô de Mandacaru, Tatto Falamansa, Carlos Pitta, Cacau com Leite, Quinteto Sanfônico do Brasil, Nádia Maia e Marquinhos Café.

Também estão confirmados Gel Barbosa, Sebastian Silva, Rural Elétrica, Trio Araripe, Grupo Cabrueira, Rennan Mendes, Aran e os Bahiundos, Trio Forró Mais Eu, Nenem do Acordeon, dentre outros.

As atrações serão gratuitas e se apresentarão em praça pública. O secretário de Turismo de Itacaré, Júlio Oliveira, acredita que ocupação hoteleira na cidade deve chegar aos 100% com a realização do evento. 
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Caruaru recebe Festival de Violeiras para homenagear o Dia Internacional das Mulheres

A cidade de Caruaru recebe, na próxima sexta-feira (8), a partir das 19h, no Marco Zero, o primeiro Festival de Violeiras. O evento, promovido pela Fundação de Cultura e Turismo do município em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, contará com a participação de quatro duplas de repentistas e terá a poeta pernambucana Mariana Teles como declamadora e apresentadora.

A programação conta com a participação de Fabiane Ribeiro e Toinha Brito; Mocinha de Passira e Maria Soledade; Minervina Ferreira e Santinha Maurício; Lucinha Saraiva e Luzia dos Anjos. 

"É a primeira vez que se reúnem mulheres cantadoras na Semana da Mulher em Caruaru. É um marco importante na cultura brasileira e a cidade demonstra, assim, o seu protagonismo", pontuou o presidente da Fundação de Cultura e Turismo, Rubens Júnior.

Serviço: Festival de Violeiras. Local: Marco Zero de Caruaru. Dia: sexta-feira (8). Horário: a partir das 19h. Acesso: gratuito.
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Militarização do Incra preocupa organizações ligadas ao campo

A presença de militares no topo da estrutura burocrática do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) coloca as organizações populares ligadas à pauta agrária em sinal de alerta. 

O órgão segue o mesmo padrão de outras instituições no governo Bolsonaro – um levantamento feito pelo Estadão aponta que nos três primeiros escalões do Executivo estão presentes cerca de 130 integrantes egressos das Forças Armadas. 

No Incra, a Presidência do órgão é ocupada pelo general da reserva João Carlos Jesus Corrêa. A Ouvidoria Agrária Nacional, responsável pela recepção de denúncias, incluindo conflitos por questões fundiárias, tem como titular o coronel João Miguel Souza Aguiar Maia de Sousa. 

A Comissão Pastoral da Terra (CPT), organização vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ainda avalia as possíveis repercussões da militarização do Incra. Para Isolete Wichinieski, da coordenação nacional da entidade, o fenômeno pode indicar que o atual governo vê a solução da questão fundiária no Brasil através do sufocamento dos conflitos, e não na solução de suas causas. 

“Na verdade, o campo está sendo discutido por esse governo como uma questão a ser resolvida com base no militarismo, não a partir da [mudança na] estrutura agrária do país. Desde os governos militares, a questão agrária é vista como importante para a expansão da fronteira agrícola. Tanto que a Amazônia foi colocada com estratégica na década de 70”, diz. 

Wichinieski explica que historicamente as Forças Armadas observam o campo a partir da lógica da ocupação e da colonização, sem enfrentamento com a questão do latifúndio. Falas recentes de militares contra reservas indígenas, por exemplo, apontam para a retomada dessa lógica. 

Para Frederico Almeida, professor de Ciência Política na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a presença de militares no governo Bolsonaro, na verdade, dá continuidade a um processo iniciado em anos anteriores. 

“Não era só o que viria depois da eleição do Bolsonaro. Havia uma indicação que vinha da presença de [Sérgio] Etchegoyen no GSI [Gabinete de Segurança Institucional] do Temer. Na questão da intervenção federal no Rio. Todas as declarações públicas de [Eduardo] Villas Boas, de [Augusto] Heleno, de [Hamilton] Mourão, antes mesmo de eles se engajarem na candidatura Bolsonaro”, diz. 

Obviamente, na gestão Bolsonaro integrantes do Exército assumiram um protagonismo direto que rompe com os padrões estabelecidos desde a redemocratização. Na visão de Almeida, entretanto, ainda não é possível afirmar que os militares assumiram o comando absoluto da política.

“Dentro do próprio governo, não é possível dizer que o governo está submisso às Forças Armadas. Ele está sob observação”, avalia, lembrando que os militares, em muitos assuntos, têm divergências com outros núcleos do atual governo, incluindo os próprios familiares de Bolsonaro. As informações são do Brasil de Fato.

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