MPPE e sociedade unem esforços no combate à intolerância religiosa contra terreiro de Chã Grande

A ameaça da intolerância religiosa foi o tema central dos debates de audiência pública promovida, pela Promotoria de Justiça de Chã Grande. Representantes do poder público e da sociedade compareceram para apresentar medidas voltadas à repressão de atos criminosos contra locais de culto, em especial terreiros de religiões de matriz africana.

“A audiência pública foi importante para ouvir a sociedade civil, especialistas, estudiosos e pesquisadores sobre o desrespeito às práticas religiosas; e ainda teve um caráter pedagógico e preventivo, deixando evidente o papel protetivo do Ministério Público na defesa da cidadania. Estamos atentos”, ressaltou o promotor de Justiça Gustavo Dias Kershaw.

Como resultado da audiência, o MPPE oficiou os representantes das Polícias Civil e Militar para que mantenham-se atentos, nas suas áreas de atuação, a qualquer ato de intolerância religiosa, a fim de prevenir sua ocorrência e reprimir os responsáveis, caso venham a acontecer.

O promotor de Justiça também oficiou à Vara de Chã Grande reiterando o pedido de medidas cautelares contra um homem que foi denunciado por ter praticado atos de vandalismo contra um terreiro. O MPPE requer que ele compareça periodicamente perante a Justiça; seja proibido de frequentar o entorno do local de culto; seja proibido de ausentar-se da Comarca; e que seja compelido a recolher à sua casa no período noturno e dias de folga.

“As falas dos convidados e convidadas a debaterem o tema do desrespeito às religiões de matriz africana foram claras e precisas em identificar o preconceito e o racismo causadores dessa atitude, que tem consequências legais no âmbito criminal e cível. A participação da população na audiência foi muito boa”, destacou a promotora de Justiça Ivana Botelho, que participou da audiência como integrante do Grupo de Trabalho de Combate ao Racismo do MPPE (GT Racismo).

A audiência contou com a apresentação das palestras Religiões negras no Brasil da escravidão à pós-emancipação, proferida pela professora Valéria Costa; A proteção constitucional à liberdade de culto: uma garantia aos povos de terreiro, proferida pela promotora de Justiça Soraya de Macêdo; Educação em Direitos Humanos: um caminho necessário para combater a intolerância, proferida pelo Omó Sangó João Amaro Monteiro da Silva, do terreiro Ogum Maata, no Recife; e Aspectos criminais da intolerância religiosa, pela professora Katiene de Santana.
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Encontro de Reisados do Sertão do São Francisco acontecerá na sexta (11)

Na próxima sexta-feira (11) será realizado em Santa Maria da Boa Vista, Pernambuco, O Encontro de Reisados do Sertão do São Francisco, Viva Reis. 

O evento terá início às 18hs na Praça Xisto Graciliano com a concentração dos grupos no Pátio da Igreja Matriz. 19h cortejo Cultural. 19h30 Apresentações de Reisados, Pastoris, Marujada, Congada. 21hs Show com Xote pras Meninas.

No topo do Monte Carmelo, ponto privilegiado de observação do Rio São Francisco no município de Santa Maria da Boa Vista, Mestra Maria Emília lamenta a estiagem no sertão pernambucano e o assoreamento do território em que vive há 71 anos.

É as margens do rio símbolo de vida e resistência que ela dá continuidade a uma tradição cultural secular da região e um dos mais recentes Patrimônios Vivos de Pernambuco: o Reisado da comunidade quilombola do Inhanhum, ou simplesmente, Reisado de Inhanhum.

Sem registro preciso de fundação, a história do grupo é repassada oralmente pelos mais velhos do povoado, onde cerca de cem famílias residem atualmente e veem no folguedo popular um motivo de orgulho, de festa e de expressão de sua religiosidade.

“Tinha 12 anos quando comecei a dançar o reisado, era uma emoção muito grande porque naquele tempo não tinha os movimentos (festivos) que tem hoje”, lembra Emília.

O atual Reisado do Inhanhum perpetua saberes e reaviva ainda a experiência de um outro grupo surgido na região em meados do século passado, o Reisado de Congo. Sob a liderança do agricultor João Preto – que aprendera os ritos da tradição na Bahia e passou a ensinar jovens a tocar instrumentos como violão, pandeiro e triângulo ao retornar à comunidade -, o grupo se manteve ativo também pelo empenho de personagens como a mestra Dona Xandô, irmã de João.

“Se não fosse João Preto, eu não tava aqui agora”, lembra Manoel Benedito, atual violeiro do grupo. Foi com ele que aprendeu, ainda adolescente, a tocar o instrumento que tem animado as festas na região.

De acordo com relatos dos remanescentes do quilombo, homens e mulheres sempre participaram do reisado em Inhanhum, mas sem indumentárias especiais. Os homens usavam chapéus e roupas do cotidiano; as mulheres, saias ou vestidos. O cuidado com as vestimentas – como a definição de trajes que revelam a unidade do grupo – é uma inovação na linha histórica do folguedo.

“A gente sempre viveu da agricultura, teve época em que não tinha dinheiro para fazer as roupas, então comprava tintol e tingia as saias de vermelho, pra todas ficarem iguaizinhas”, lembra Maria Genovês, uma das dançarinas mais antigas do grupo. Hoje, as vestimentas, arranjos de cabeça e fantasias, assim como as espadas utilizadas nas apresentações são confeccionadas pelos integrantes ou parentes.

Na conversa com os brincantes, uma preocupação sempre se sobressai: o pouco engajamento dos mais jovens da comunidade. “Antigamente não tinha tanta festa, o reisado era nossa festa, era onde a gente se divertia, conhecia as meninas e só muito tempo depois começava a namorar”, lembra Seu Manoel Benedito. 

As transformações socioculturais no cotidiano do interior brasileiro ensejam um grande desafio para a renovação de grupos atrelados a costumes e ritos religiosos como é o caso do reisado.
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LIRA NORDESTINA, A PRINCIPAL TIPOGRAFIA DE CORDEL RETOMA PRODUÇÃO EM 2019

Em 2019, os cordelistas poderão imprimir cordéis na Lira Nordestina. A Lira é um equipamento cultural, vinculado a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Regional do Cariri (URCA).

Depois de alguns anos sem fazer impressões, a Lira Nordestina voltará as atividades de produção de cordel, a partir do aporte financeiro da URCA para colocar em funcionamento o maquinário da gráfica.

A Lira Nordestina foi a principal tipografia de produção e circulação de cordel do país. A intenção é retomar a produção do cordel proporcionando a impressão dos clássicos e dos novos escritores da literatura de folheto. Atualmente a Lira conta com um vasto acervo de xilogravuras, clichês, matrizes  e maquinário tipográfico.

A Lira Nordestina funciona em um dos espaços do Centro Multifuncional do Cariri  “Vapt Vupt”, em Juazeiro do Norte - CE.
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Coordenador municipal da Aliança Nacional LGBT denuncia que casal de namorados foi agredido na Ilha do Fogo

"Em contato com a redação do Blog, o coordenador Municipal da Aliança Nacional LGBT, Alzyr Anttonio Sá Brasileiro, denunciou que um casal de namorados gays foi agredido no final da tarde de sábado (5) na Ilha do Fogo, "e a motivação foi a orientação sexual".

"Os dois agredidos não querem se expor, estão no momento assustados e por isto não revelam os nomes. Estamos organizando um ato de repúdio na Ilha do Fogo". Segundo Alzir os agressores usaram uma pedaço de madeira para "bater no casal e além da violência física, usavam agressões verbais, a exemplo de que viado tem que morrer”. 

“O ato deve acontecer para que as autoridades e a sociedade tomem total conhecimento da existência da LGBTFOBIA. Vamos lutar por mais segurança e direitos, vamos denunciar que isto é uma questão social grave", concluiu Alzir.

A data e hora do evento que ocorrerá na Ilha do Fogo será confirmado. 

O termo LGBT significa lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transsexuais. O termo foi aprovado no Brasil em 2008 em uma conferência nacional para debater os direitos humanos e políticas públicas de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transsexuais

Foto: Facebook
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Morre o artesão Severino Vitalino, filho do mestre Vitalino de Caruaru

Faleceu na madrugada desta segunda-feira (7) o artesão Severino Vitalino, filho do Mestre Vitalino, aos 78 anos. Ele estava internado, após sofrer um infarto, desde outubro no hospital Mestre Vitalino, que leva o nome do pai, em Caruaru. Ele chegou a passar por uma cirurgia cardíaca, sendo encaminhado para a UTI. 

Em novembro a situação se agravou para um quadro infeccioso, onde permaneceu internado com insuficiência respiratório e renal. Severino é um dos quatro dos filhos do Mestre que decidiu seguir trabalhando com o barro, era comum o encontrar criando peças na Casa Museu do Mestre Vitalino, no Alto do Moura. Premiado, uma de suas últimas conquistas foi em maio de 2018 quando ficou entre os agraciados do Prêmio Culturas Populares, do Ministério da Cultura.

A prefeita de Caruaru, Raquel Lyra, lamentou a morte do artesão: “É com profunda tristeza que recebo a notícia do falecimento de Severino Pereira dos Santos, o Severino Vitalino. 

Filho do grande Mestre Vitalino, ainda criança se mudou com sua família para o Alto do Moura, em Caruaru, onde viveu até o final de sua vida. O povo brasileiro será sempre grato a Severino que, com o seu grande talento, deu continuidade à obra do seu pai e mentor e influenciou a comunidade de artesãos de Caruaru e de todo o país. Meus sinceros sentimentos aos familiares, amigos e admiradores”, diz a nota.
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Humberto Teixeira: O homem que engarrafava nuvens

O Homem Que Engarrafava Nuvens, o documentário sobre Humberto Teixeira, é grande, belo, fascinante, emocionante. Para quem gosta de cultura, de arte, de história, de Brasil, é imprescindível.

Quando publicou Os Sertões em 1902, Euclides da Cunha estruturou o entendimento sobre Canudos em três partes, o Homem, a Terra e a Luta. O Homem que Engarrafava Nuvens, de Lírio Ferreira, faz o mesmo com Humberto Teixeira: o compositor é o homem; a terra é o sertão; a luta, no caso o tema, o baião. Um mergulho com uma mistura continua dessas três abordagens.

No documentário, o Doutor do Baião, apelido dado por Luiz Gonzaga a Humberto Teixeira, é colocado como fruto de um lugar e de seu tempo. Assim como havia feito em Cartola – Música Para os Olhos, o diretor apura a contextualização, em vez de optar por uma idealização romântica de seu personagem.

Entrevistas e performances de Caetano Veloso, Raimundo Fagner, Lirinha, David Byrne e até mesmo de uma japonesa interpretando Paraíba Masculina em um pub eletrizam o documentário e apresentam o principal personagem, Humberto Teixeira.

Ao longo dos 100 minutos de projeção, o filme abre e fecha, expande e detalha. A história se inicia com a jornada de descobrimento de Denise Dummont, filha do compositor, da figura do próprio pai. Gradativamente, o filme é ampliado: o rádio, o declínio do samba, o Brasil do pós-guerra, os fatores culturais que possibilitam o crescimento do baião. Aí, no dito popular, é pau na máquina: uma maratona de canções que conquista até o mais cético.



Mas o cineasta não perde o fio da meada. Depois de expandir, ele centra novamente na figura de Humberto Teixeira, sua incursão na política, o machismo com a filha e as esposas. O mais encantador é que, apesar de musical, o filme não interessa apenas pelas canções. Sendo fã ou não de baião, é impossível não se conectar com a montagem esperta que foge do frenesi, mas dá agilidade à história.

As imagens não são mero pretexto para mostrar as canções de Teixeira: elas têm significado, poesia e poder. Nessa tarefa, o cineasta Lírio Ferreira conta com a ousadia e inquietação dos enquadramentos do diretor de fotografia Walter Carvalho (Budapeste), que não aceita o óbvio ou mediano como satisfatório.

Assim como uma sanfona que abre e fecha para ampliar ou encurtar as notas, O Homem que Engarrafava Nuvens expande e aproxima, ao tempo do baião, para contextualizar a música, Humberto Teixeira, o Brasil e o nordestino. É um filme antropológico, musical, euclidiano, popular, ágil e, acima de tudo, ousado.
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Alexandre Garcia, antigo assessor da ditadura, por Urariano Mota

Entre as notícias leves da semana, esteve a de Alexandre Garcia, ou Alexandre Eggers Garcia, virar porta-voz de Bolsonaro. Depois, Garcia procurou esclarecer a informação, com a eterna modéstia que não lhe falta. Alexandre, o grande jornalista, preferia continuar o seu trabalho para 15 jornais e 280 emissoras de rádio. Apenas. Melhor que Hércules, parecia, por executar mais de doze trabalhos. Mas para quem não sabe, ele escondeu o óbvio, porque é um mestre em omitir. A sua fala, falha ou coluna apenas era, é reproduzida em rede. 

Aliás, por falar em omitir, no seu perfil no Portal dos Jornalistas ele informa, e reproduz depois aonde vai, porque é mestre em rede: “O primeiro emprego no jornalismo foi um estágio na sucursal do Jornal do Brasil (RJ) em Porto Alegre. Começou a escrever na editoria de Economia e se especializou em Bolsa de Valores. Nessa época, conciliava um emprego no Banco do Brasil com o do jornal. Pouco tempo depois, foi contratado pelo JB e largou o trabalho no banco”.

Omitir também é mentir. Se ele saiu por um tempo, sob licença generosa, mais adiante voltou com ainda mais generosidade, porque ocupou cargos comissionados na direção geral do Banco do Brasil. E continuou e saiu no fim muito bem, como pesquiso aqui em um comentário na web:

“Alexandre Garcia é aposentado pelo Banco do Brasil, com uma belíssima aposentadoria paga pela PREVI. Na época, anos 70, havia uma situação esdrúxula, abominável, típica daqueles tempos apelidada de ‘teta dupla’, que consistia no seguinte. O cara estava lá no BB em Brasília, daí através de um ‘pistolão’, era convocado por um órgão público, e o funcionário era cedido para um ministério, por exemplo (Maílson da Nóbrega é outro exemplo), no chamado ‘interesse do serviço, com ônus para o Banco’. O nome ‘teta dupla’ se aplicava porque o cedido acumulava os dois proventos. O BB cedia o funcionário com ônus, isto é, ele continuava na folha de pagamentos e contando tempo de serviço normalmente. Posteriormente isso acabou, agora se o funcionário for cedido ele opta pelo salário do novo órgão ou fica com o salário do BB, porém os custos são repassados. Aposentou-se no topo da carreira, como se tivesse exercido altos cargos por mais de 30 anos. Se passou uns 2 ou 3 anos no BB foi muito”.

Na verdade, no Banco do Brasil ele fingiu trabalhar, porque na ocasião, recebendo salário de comissionado para 8 horas, não cumpria sua jornada. E falava, com modéstia e impunidade, pois sempre esteve a favor dos ventos: “o que outros fazem em oito horas, eu faço em quatro”. Gênio. Os demais, coitados, que se submetessem à carga geral das oito horas por dia.

Nesta semana, ao divulgar as razões para o seu trabalho com a ditadura, neste novo tempo da extrema-direita, ele fala, de passagem: “Certa vez, em casa, eu tirava o suor no chuveiro, minha mulher irrompeu ao banheiro com um ultimato. ‘Ou eu ou o Figueiredo’. E optei pelo Figueiredo”, publicou. É um autêntico puxa-saco de plantão, que se exibe despudorado, como prova maior de amor não há.

A propósito do ilustre servidor da ditadura, há um livro, “No Planalto com a Imprensa”, de André Singer, Mário Hélio Gomes, Carlos Villanova e Jorge Duarte, sobre o qual publiquei breve resenha em  19/01/2011, no Direto da Redação do saudoso Eliakim Araújo. O texto foi reproduzido depois na redecastorphoto e no Observatório da Imprensa.

Ali, pude ver que nos trechos onde o eufemismo recomendaria chamar de momentos menos honrosos do jornalista, eram indicadas ações vis como se fossem coisas bobas, ossos do ofício de experientes assessores, entre um riso e outro.

Ainda que o livro não tivesse qualquer espírito investigativo, pois as palavras dos assessores de imprensa entrevistados eram sempre as últimas e se aceitavam sem qualquer contraditório, podiam ser notados atos falhos dos profissionais no Planalto. A primeira coisa que se percebia vinha a ser  a banalização da ditadura. Era como se um golpe de Estado, censura, clima de terror, torturas e assassinatos não fossem o preço necessário para o acesso agradável aos ditadores da ocasião.

Mas nos flagrantes de ser vil, servil, nada se comparava a Alexandre Garcia, quando esteve numa posição intermediária entre assessor do assessor e secretário do secretário de imprensa de Figueiredo. Ele assim se dirigiu, em suas primeiras horas de poder, ao general Rubem Ludwig:

‘Agora, gostaria de ouvir os seus conselhos de como proceder lá dentro porque costumo vestir a camisa dos lugares onde trabalho.’

Quanta entrega de espírito e devoção à causa para segurar o cargo, poderia ser comentado.
Para Alexandre Garcia, enfim, nada era mais honroso que isto, exibido com orgulho em seu currículo:

‘Condecorado com a OBE (Ordem do Império Britânico) pela Rainha Elizabeth’.  Então a resenha de 2011 concluía: Deus salve a rainha. Para tal honra, John Reed e semelhantes deviam se torcer de inveja por todos os séculos.

Agora, o adulador maior de ditadores fala que não será porta-voz oficial de Bolsonaro. “Porta-voz de todos”, ele publica no Twitter. Mentira. Fora do Planalto, ele serve melhor ao presidente fascista nos comentários e artigos. Aquelas mesmas falas geniais para 15 jornais e 280 emissoras de rádio. A cada frase, nova façanha. Um Hércules da bajulação em rede.  

*Fonte: www.vermelho.org.br
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