A literatura que não vende a alma

“(…) dois ou três sucessos momentâneos – na escala brasileira – e nasce uma certa sensação de que sou romancista, o que é um lugar marcado em geral no mau sentido, se estamos no Brasil, mas somando tudo confere uma certa ilusão de autoridade…” (O espírito da prosa, de Cristóvão Tezza – Ed Record)

Conheci Cristóvão Tezza em 2014, durante o evento Vozes Contemporâneas, realizado na Academia Brasileira de Letras. Era uma tarde amena de terça-feira, dessas em que a gente anseia por beber um pouco das paixões que nos consolam. A aparente primeira impressão foi a de estar diante de um homem reservado e simples, que chega a nos despertar certo sentimento de ilusória intimidade, um contraponto que conflitava com a admiração que guardo pelo gigantismo do autor. No entanto, nossas preferências pessoais nunca devem obscurecer a visão crítica e eu estava ali para testemunhar a palestra de Tezza sobre a sua obra.

É inegável que atravessamos um momento em que a liturgia de escrever tomou ares de uma atividade fashion, um modismo que desfila pelas passarelas do Word. Há uns poucos que escrevem por vocação, outros pela trivial necessidade de se expressarem, alguns pela solidão e muitos pela carência vaidosa de reconhecimento. No século 21 a arte literária aluga suas virtudes para o discurso egocêntrico.

Tezza afirma que a boa literatura não brota dos felizes; diz que livros são frutos de um desconforto íntimo de pessoas que abdicam dos divertimentos mundanos e se trancam solitárias para engendrarem suas produções. Para Tezza, escrever é um verbo produzido por um substantivo: infelicidade. Escrever não é ação, é reação.

No circo regado por holofotes onde a literatura agora se apresenta, Tezza figura como um personagem em extinção. É um operário que ergueu seu nome a partir da obra. Um artesão que esculpe as palavras, é a joia que reluz entre o brilho fosco dos empresários autores que constroem a obra a partir do nome. Literatura é o que nasce da lapidação, um autor não é uma fábrica de livros.

“Um leque de ansiedades felizes”

“Tentei de novo falar com você esta madrugada, mas o quintal estava povoado de lobos ganindo contra minha sombra…” (Trapo, Cristóvão Tezza – Ed Rocco).

Em Trapo tive o primeiro contato com a obra do autor, num enredo que inquieta. Trapo, um poeta marginal e suicida. Morto, deixa um calhamaço de mil páginas que termina nas mãos de um rigoroso professor. Chamam o livro de romance metapoético, mas quando me recordo da leitura o que me ocorre é a imagem singular de uma narrativa apneica.

“Outra frase ao acaso, no meio do que parece ser uma carta: A poesia é uma merda. A dele, naturalmente. Dois pronomes oblíquos na mão desses poetas e eles morrem atropelados pela língua” (Trapo, C. Tezza – Ed Rocco, pág. 50).

Vocação é um coice pressentido em nossas costas, não nos deixa desistir, atormenta. E, acumulando mais de uma dezena de romances, Cristóvão Tezza nunca fraquejou. Lançou-se à frente, construindo uma trajetória sólida, preservando a paciência e a determinação que conquista espaço. Então, chega a hora e nasce O filho eterno, a catapulta que o arremessou à merecida fama.

“Sim, distraído quem sabe! Alguém provisório, talvez; alguém que, aos 28 anos, ainda não começou a viver. A rigor, exceto por um leque de ansiedades felizes, ele não tem nada, e não é ainda exatamente nada” (O filho eterno, C. Tezza – Ed Record).

Uma timidez indisfarçável

Assim discorrem as primeiras linhas de O filho eterno, um folhear de tantas páginas que nos levam por uma incômoda reflexão sobre o fracasso e o amadurecimento através dele. Não nos estranha ser esse livro a marca de maior sucesso do autor.

“Tudo bem: escritor. Aceito o título. Melhor: prosador. Escritor é uma boa definição, a meu favor – cabe tudo. Prosador é mais preciso, e também nele cabe quase tudo, exceto a poesia. Já romancista é uma coisa antiga, para determinada faixa de compreensão” (O espírito da prosa, C. Tezza – Ed Record).

Tezza define o realismo como a sua escola. Idolatra o cientificismo do russo Mikhail Bakhtin (1895/1975). Talvez haja nisso o autoengano de um autor que ordenha poesia da prosa. Quem, além de um poeta, largaria o idílio nacional de um emprego público como professor universitário para mergulhar de corpo inteiro no oceano incerto da literatura? Cristóvão Tezza o fez.

O espírito da prosa não é um manual de escrita, muito menos um tutorial para romances, coisas que andam em voga por aí, mas com certeza é um guia imaterial obrigatório e inevitável para aqueles que se sabem artesãos.

Cristóvão Tezza sobe ao palco do auditório da ABL e revela sua indisfarçável timidez ao puxar um maço de papéis e anunciar que prefere ler o que pensa a discursar de improviso. É o velho clichê do escritor avesso à fala. Tudo bem. De que serve a veneração se não para perdoar? Nós compreendemos, ele pode.

*Fonte - Observatório da Imprensa - Alexandre Coslei é jornalista e escritor
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Quinteto Violado, Assisão e Cezzinha cantam no XII Encontro Nordestino de Xaxado

Teve início hoje em Serra Talhada o “XII Encontro Nordestino de Xaxado”. O evento segue até domingo 17, com uma extensa programação, abordando o tema “90 Anos do Fogo da Serra Grande”. Nos quatro dias haverá apresentações culturais e shows musicais.

A festa começa hoje com os grupos Sertão Frevo (Serra Talhada-PE), Dinâmico Cultural (João Pessoa-PB), Abolição (Princesa Isabel-PB), Gilvan Santos (Serra Talhada-PE), Frutos do Pará (Belém-PA) e Cia de Dança Raízes da Paz (Ivoti-RS). Para encerrar a programação do dia, shows com Quinteto Violado e Cezzinha.

Nos próximos dias, grupos culturais de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Pará, Rio Grande do Norte e Alagoas passam pela Estação do Forró. Estão confirmados shows com As Severinas, Karl Marx, Trio Nordestino, Assisão, Josildo Sá, Roberta Aureliano e Fulô do Maracujá. A programação ainda terá apresentação teatral, passeio turístico ecológico sobre o cangaço e oficinas.
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Eu pergunto, cativo de paixão, porque ainda não construíram o Memorial Sivuca

Nesta quarta-feira 14, faz dez anos da morte de Sivuca. Aos 76 anos, depois de uma longa luta contra o câncer.

O jornalista Silvio Osias aponta que Uma década se passou, e a Paraíba não tornou concreto o projeto do Memorial Sivuca. O acervo do grande músico está com a viúva dele, a compositora Glorinha Gadelha.

O escritor e escritor Aderaldo Luciano constuma expressar que é o forró é a música patrimonial do Brasil. E todos sabemos que o Brasil não é só samba, sertanejo, axé e funk. 

O Brasil é verdadeiramente uma grande sala de chão batido, uma sala de reboco, com folhas de eucalipto espalhadas e lá no canto da parede um trio tocando sanfona, triângulo e melê. Quem não souber o que é um melê, procure saber, forrozeiro não é.

A juventude forrozeira tem como base para seu gosto, geralmente, os acordes de Luiz Gonzaga, as sincopadas de Jackson, a genialidade de Dominguinhos e a leveza de Sivuca. 

Em João Pessoa, Paraíba, assisti a última apresentação de Sivuca, Severino Dias de Oliveira. Na época Sivuca estava lutando bravamente contra um câncer. Naquela noite vi um dos mais internacionais músicos brasileiros de todos os tempos, Sivuca, o sanfoneiro albino, o gênio da Paraíba. Gênio universal.

Noite que me marcou! Ali vi Sivuca desbravar recursos e sons inimagináveis para os acordeonistas.

Sorrindo Sivuca descreveu as características da sanfona brasileira, a de saber fazer o ritmo, a pulsação no próprio instrumento, seja tocando o choro ou o forró. O "pai" dessa escola é Luiz Gonzaga, que explorou não só o baião como o choro. A linha do choro teve outros dois instrumentistas clássicos, Chiquinho do Acordeon e Orlando Silveira. Sivuca andou pelos dois trilhos da sanfona.

Sabia todos os presentes naquela noite que ali ele estava se despedindo. Chorei...Era a hora do Adeus de Sivuca! Com a voz cansada o mestre pediu também que não deixassem o forró morrer! O público aplaudiu...Sivuca abraçou a sanfona e chorou...

Se Luiz Gonzaga redimensionou e popularizou o instrumento ao colocá-lo na condução de seu invento, o baião, Sivuca o expandiu, contribuindo significadamente para seu enriquecimento, bem como o da música brasileira em geral, com o requinte de seus arranjos a beleza de suas melodias e a versatilidade de instrumentista, transitando com desenvoltura entre o erudito e o popular, o jazz o choro e os ritmos nordestinos.

O acordeonista francês Richard Galliano, um de seus vários discípulos, comentou: "Um dia, Sivuca me disse: é uma coisa louca, parece que toda minha energia vem de Luiz Gonzaga". "É um gênio, abre os horizontes"

Severino Dias de Oliveira, Sivuca morreu aos 76 anos, em 2006. Nossa energia agora é de Luiz Gonzaga, Sivuca e Dominguinhos.

Sivuca nasceu em Itabaiana, a 80 quilômetros de João Pessoa, em 26 de maio de 1930, filho de agricultor. Os irmãos eram sapateiros. Aos nove anos conheceu a sanfona. Aos 15 anos teve as primeiras aulas de teoria musical com o clarinetista da orquestra, Lourival de Oliveira, estreou em um programa de calouros da Rádio Clube de Pernambuco, cujo responsável era o grande maestro Nelson Ferreira.

Permaneceu em Recife, em 1948 teve aulas com Guerra Peixe que o iniciou na arte da orquestração. Dois anos depois decidiu descer para o sul, convidado por Camélia Alves para tocar na Rádio Record com a grande Orquestra Record, dirigida por Gabriel Migliori.

Naquele ano, já plenamente enturmado com o grupo que criara o movimento da música nordestina ancorado no baião, gravou seu primeiro disco com Humberto Teixeira. Nele, o clássico "Adeus, Maria Fulô", dele e Humberto.

Em 1957 participou da famosa caravana de Humberto Teixeira que foi tocar na Europa. Entre outros, integravam a caravana o clarinetista Abel Ferreira, o Trio Irakitã, o maestro Guio de Moraes, o trombonista Antonio José da Silva Norato, o baterista Edson Machado, Waldir Azevedo. Quando o ouviu, na excursão, o maior clarinetista da história, Benny Goodman, quis levá-lo para os Estados Unidos.

Em 1964 foi convidado a tocar nos Estados Unidos, acompanhando a grande Carmen Costa. Descoberto pela cantora sul-africana Mirian Makeba, que fez enorme sucesso na segunda metade dos anos 60, acabou ficando 13 anos por lá. Conquistou Mirian ao acompanhar o ritmo em que ela cantava. Era o mesmo balaio, que tocava no nordeste. Seu arranjo de "Pata Pata", um dos hits dos anos 60, projetou-o internacionalmente.

Em sua temporada americana, limitou-se à guitarra. Uma vez, resolveu tocar acordeon em um show e recebeu a seguinte carta de um músico americano: "Finalmente encontrei alguém que me fizesse fazer as pazes com esse maldito instrumento que se chama acorden". O músico era Miles Davis.

Em 1975, Sivuca gravou um disco com a violonista Rosinha de Valença e casou-se com Glorinha Gadelha, cantora e compositora. Com ela compôs um clássico definitivo do forró, "Feira de Mangaio". O disco com Rosinha entrou em uma dessas relações americanas dos cem melhores álbuns do século 20.

De Chico Buarque colocou uma letra inesquecível na valsa "João e Maria", que Sivuca havia composto em 1947. A partir dali os letristas o redescobriram definitivamente. Compôs "No Tempo dos Pardais" com Paulinho Tapajós, "Homenagem à Velha Guarda", um dos clássicos do choro, gravado originalmente em 1956, que recebeu letras de Paulo Sérgio Pinheiro.

E por tudo isto eu pergunto, cativo de paixão, porque a Política Cultural do Brasil ainda nao construiu o Memorial Sivuca?

Fonte: Silvio Osias e Aderaldo Luciano
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13 dezembro, Chapada do Araripe e o imaginário de Luiz Gonzaga

Estive em Exu, para celebrar/comemorar os 104 anos de Luiz Gonzaga.  Não vi os olhos raros que enxergam além do que veem. Na terra onde nasceu Luiz Gonzaga, a mensagem não se fez ouvir.

Joquinha Gonzaga, neto de Januário e sobrinho do Luiz Gonzaga, lamenta a injustiça de em pleno mês de nascimento do Rei do Baião, Governo de Estado, Municipal  e Federal tratar com descaso a cultura mais brasileira. 

Exu, Pernambuco, forró deveria ser  pra lembrar o inventor do Baião, aquele que um dia deixou o seu pé de serra e embrenhou-se pelos emaranhados da busca e do sonho e que foi o começo de uma grande empreitada e de uma desafiadora lição de vida e vivência. 

Mas a vida é realizada nos extremos. O  amor e o ódio. O real e o fantástico, a dor e o prazer, a amizade e a covardia, o breu da incerteza e a luminosidade da esperança, o medo e a ousadia, o erro e a redenção, o pecado e o perdão, a fé e a crendice, a tristeza e a festa. 

Na Serra do Araripe, divisa com o Ceará, o passado ainda está presente, e o presente simboliza o futuro. Luiz Gonzaga vive!

Na Chácara Frei Damião, distante 26 quilometros do Crato-Ceará, próximo a Exu, "Seu" Cosme e dona Maria Cavalcante de Souza entregam-se a essência da alma e ainda fazem da cultura um sentimento mais humano.

A família, amigos e vizinhos, medem palmo a palmo a vastidão do imaginário popular e desvendam a perfeição dos sonhos e anseios, da fé e das várias conquistas.

Na casa da família existe  mesa farta de pamonha feita com manteiga da terra. A buchada e a cachaça, a galinha de capoeira e capote. O milho, a rapadura e a fogueira, a manifestação plena da essência humana e grandiosidade da noite de junho e do mês do nascimento de Luiz Gonzaga.

Foi no alpendre da casa onde escutei a professora Antonia, no balançar da rede, contar fatos que são ao mesmo tempo belos e misteriosamente encantados. Professora Antonia me faz compreender as figuras humanas mais humanas, a criaturas belas, mais belas, a natureza das pegas de bois, as origens de Cocaci, os Inhamuns-Ceará. Sonhei conhecer a Fazenda Corisco, la dos Feitosas dos Inhamuns.

Professora Antonia ao falar, os olhos faíscam de astros a escuridão da noite humana e se faz perceber entre vaga lumes e querubins a essencia que reluz do que havia se perdido e ali encontra as respostas para a própria razão de sonhar e viver.

Seu Cosme acompanhado de seu Zé Lira visitam o sitio Salva Vidas. Nome sugestivo quando vi o povo a rezar a Novena de joelhos. Havia ali a Capela São Francisco e escutei histórias de muitos que vieram ao mundo pelas mãos da parteira do local.

Tudo isto me fez lembrar da profecia do professor, danado e cantador, quase vidente, Aderaldo Luciano quando diz que o Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado nestas paisagens há mais de cem anos.

O Nordeste teria e seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões.

Luiz Gonzaga, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. Luiz Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz.

Ali em Exu, Chácara Frei Damião, Sitio Salva Vidas, Crato, Vi galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

Enfim, compreendi que a história vem se tecendo com a força da própria vida. E por isto, disse o cantador Virgilio Siqueira, daí não ser possível guardar na própria alma a transbordante força de uma causa. Daí não ser possivel retornar, afinal, a gente nem sabe ao certo se de fato partiu algum dia...


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Inscrições do Vestibular da Universidade do Estado da Bahia iniciam na terça-feira 13

Universidade do Estado da Bahia (Uneb), vai abrir inscrições, nesta terça-feira (13), para o Vestibular 2017.2, exclusivamente pela internet, no site da instituição. As inscrições devem ser realizadas até o dia 15 de janeiro de 2017. A taxa é de R$ 70. Estão sendo disponibilizadas 3.185 vagas distribuídas em mais de 112 opções de cursos de graduação presenciais, oferecidas nos campi de Salvador e outras 22 cidades baianas (incluindo Juazeiro), com entrada para o segundo semestre de 2017.

A Uneb reserva 40% das vagas para candidatos negros da rede pública de ensino e 5% para indígenas. As provas estão previstas para serem aplicadas nos dias 23 e 24 de abril. A relação de cursos, quadro de vagas, provas, normas e cronograma da seleção constam no edital do certame (ver retificação no site).

De acordo com o Centro de Processos Seletivos (CPS) da Uneb, as vagas reservadas para 2017.1 (entrada no primeiro semestre de 2017), será realizado exclusivamente através do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), do Ministério da Educação (MEC). O quadro de vagas para esse processo é específico e será publicado posteriormente, em divulgação alinhada com a do MEC.

Isenção
Os candidatos que têm interesse em solicitar a isenção do vestibular Uneb 2017 devem se inscrever no site www.vestibular2017.uneb.br entre os dias 13 e 19 de dezembro. O pedido de isenção será efetivado após o pagamento no valor de R$ 5 referente ao custeio operacional e o candidato isento já estará automaticamente inscrito no Processo Seletivo Vestibular. Os interessados devem ter cursado todo o Ensino Fundamental e todo o Ensino Médio ou equivalente, na Rede Pública de Ensino do Estado da Bahia, e esteja cursando a ultima série do Ensino Médio, assim como as séries anteriores, na Rede Pública de Ensino da Bahia em 2016.

O resultado da seleção será divulgado no dia 28 de dezembro, no próprio site. A entrega de documentos comprobatórios – cópia do RG (Carteira de Identidade) e Histórico Escolar para análise e validação das notas – será de 2 a 6 de janeiro de 2017 no DTCS OU DCH (em Juazeiro), das 8h30 às 12h, e das 14h às 17h. A partir do dia 11 de janeiro de 2017 os candidatos que não forem contemplados com a isenção devem imprimir o boleto no valor de R$ 65,00 para integralização do pagamento, referente a R$ 70.
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Huberto Cabral, Luiz Gonzaga, Antonio Vicelmo e a amizade pelo Crato

Luiz Gonzaga tinha grande amizade pelo Crato, Ceará. Quem atesta é o historiador e radialista Huberto Cabral, cratense e um dos estudiosos que mais guardam a memória da região do Cariri. Segundo Cabral, Luiz Gonzaga, ao deixar sua terra natal e fugir para Fortaleza, passou pelo Crato, pegou um trem na estação com destino à Fortaleza, onde serviu no quartel do 23º BC.

Quando menino, seu pai Januário vinha sempre que podia para o Crato onde comercializava seus produtos na feira, principalmente farinha. “O pai de Luiz Gonzaga estava sempre no Crato vendendo a farinha dele, fez amizades aqui e sempre que vinha trazia Luiz Gonzaga e seu irmão”, afirma. Foi nessa época, segundo o jornalista que Luiz Gonzaga certamente aprendeu a gostar do Crato.

Luiz Gonzaga participou de alguns momentos marcantes da História do Crato. Em 1946, por exemplo, ele retorna ao Crato para animar e tocar em leilões da festa de São Francisco. Maçon que era teve vários trabalhos filantrópicos desenvolvidos a favor do bem estar do povo.

Em 1950 Luiz Gonzaga e o Cego Aderaldo do Crato participam da inauguração da TV Tupi, primeira emissora de televisão da América Latina.

Em 1951 Luiz Gonzaga esteve presente à inauguração da Rádio Araripe, primeira emissora de rádio do Interior do Ceará, junto com o pai, Januário, e o irmão, Zé Gonzaga.

No ano de 1959, Luiz Gonzaga participou da inauguração da Rádio Emissora Educadora do Crato, atendendo convite do jornalista Pedro Gonçalves Norões, grande amigo do Rei do Baião.

Luiz Gonzaga participou das festas do centenário do Crato realizando show na Praça da Sé. Em 1974 recebeu o título de cidadão cratense outorgado pela Câmara Municipal em iniciativa do vereador Ivan Veloso.

Em 1987 na Expocrato o presidente da Comissão Gestora, Francisco Henrique Costa, promoveu grande show folclórico na história da exposição numa homenagem a quatro heróis do ciclo do Jumento.

"Pela primeira vez e única vez reuniram-se no palco Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, Padre Antonio Vieira e José Clementino que foram saudados pelo violeiro Pedro bandeira". revela Huberto Cabral.

Todavia o próprio Luiz Gonzaga dizia que o mais importante acontecimento foi a instalação da Universidade do Cariri-Urca. Durante o lançamento da Universidade Luiz Gonzaga anunciou a criação da Fundação Vovo Januário, que beneficiou os estudantes de Exu com transporte gratuito, entre Exu e Crato.

O jornalista Antonio Vicelmo diz que vários amigos e compositores nascido na região do cariri foram parceiros musicais de Luiz Gonzaga. Zé Clementino de Varzea Alegre. Hildelito Parente, Patativa do Assaré, Jose Jathai, que é o compositoe de Eu vou pro Crato. 
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Luiz Gonzaga vive na alma da gente brasileira

Gilberto Amado disse a propósito da morte de sua mãe: "Apagou-se aquela luz no meio de todos nós". Para o Nordeste, e tenho certeza para todo o país, a morte de Luiz Gonzaga foi o apagar de um grande clarão. Mas com seu desaparecimento não cessou de florescer a mensagem que deixou, por meio da poesia, da música e da divulgação da cultura mais brasileira.

Nascido em Exu, no alto sertão de Pernambuco, na chapada do Araripe, na divisa com o Ceará, "arribou" e ganhou o Brasil e o mundo, mas nunca se esqueceu de sua origem. Sua música, a música de Luiz Gonzaga e parceiros compositores é politicamente comprometida com a busca de solução para a questão regional nordestina, com o desafio de um desenvolvimento nacional mais homogêneo, mais orgânico e menos injusto.

Telúrico sem ser provinciano, Luiz Gonzaga sabia manter-se preso às circunstâncias regionais sem perder de vista o universal. Sua sensibilidade para com os problemas sociais, sobretudo nas músicas em parceria com Zé Dantas, era evidente: prenhe de inconformismo, denúncia do abandono a que ainda hoje está sujeito pelo menos um terço da população brasileira, mormente a que vive no chamado semiárido.

Luiz Gonzaga é o responsável pelo que atualmente existe de melhor na música brasileira. A força da voz e a puxada da sanfona presente nas toadas e cantorias tonificou a nossa música, retirando-a do empobrecimento cultural em que se encontrava nos ano 40 e cá prá nós, continua atual nos tempos de hoje de tanta pobreza cultural.

A música de Luiz Gonzaga é o sentido de nossa identidade cultural pois consegue ser genuinamente nacional, posto que de defesa de nossas tradições e evocação de nossos valores.

Luiz Gonzaga interpretou o sofrimento e também as poucas alegrias de nossa gente em ritmos até então desconhecidos, como o baião, o forró, o xaxado, as marchinhas juninas e tantos outros.

Pesquisadores e estudiosos da obra gonzagueana apontam que até hoje por meio da letra da toada "Asa Branca", Luiz Gonzaga continua elevando à condição de epopéia a questão nordestina. Parafraseando Gilberto Freyre, podemos afirmar que "Asa Branca" é o hino do Nordeste: o Nordeste na sua visão mais significativamente dramática, o Nordeste na aguda crise da seca.

Luiz Gonzaga não morreu! Em sua obra Luiz Gonzaga está vivo e vive no sertão, no pampa, na cidade grande, na boca do povo, no gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira, pois, como disse Fernando Pessoa, "quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente".
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