O
jornalismo por longos anos respondeu a seu papel de transformar acontecimentos
em notícias, dando ordem ao caos, considerando a quantidade ilimitada de fatos
noticiáveis. Sua missão seria funcionar como um farol a estabelecer pontos de
visão seguros para os navegantes em alto mar e com pouca informação. Assim,
aquilo que não passasse pela mídia, jamais havia acontecido – então, impossível
encontrar o porto.
O mundo
mudou com as novas tecnologias e as luzes ainda mais confundem os viajantes; de
modo que pessoas em lugares distantes se comunicam freneticamente, muitas vezes
disseminando pontos de vista contrários a uma ordem social limitada por poucos
narradores midiáticos. Chegamos finalmente à era das tecnologias, com pessoas em
rede, o que acirra a disputa pelas histórias e pela realidade (ideologia),
sobretudo política.
Notoriamente,
os nervos nas redações estão acirrados, com a incerteza do fluxo da audiência
para diversas mídias instantâneas, as quais recebem cada vez mais atenção dos
empresários em busca de visibilidade de seus produtos – as perdas de receitas
comprometem as pequenas e grandes empresas de comunicação, reguladas pelo
tempo. Porém, o mais complicado neste mundo de visões múltiplas está na
organização da ordem social.
Discussão
efervescente
Afinal,
como conviver com um mundo hostil, com informações diversas, a volta do caos,
que faz ressuscitar ideias esquecidas, muitas delas ameaçadoras de outrora? O
farol da mídia tradicional, deste modo, segue sua missão e importância: evitar
a confusão social, contrastar no horizonte, no conservadorismo da ordem
institucional.
No
momento político, as manifestações pelo direito de definir pontos a serem
observados dos fatos, e apresentar os acontecimentos, colocam em lados opostos
grandes redações e parte importante da blogosfera, que usa as redes sociais
para o fluxo das mensagens. Sobressai um acirrado debate que envolve diferentes
cenários, desde o global, passando pelo regional, nacional até o local. De uma
forma ou de outra se vinculam, conforme as expectativas de mudanças nos
diversos cenários políticos.
Os textos
formulados por jornalistas que estão nas ruas brasileiras ou mesmo em outros
países, cada vez mais envolve a decisão das redações locais e ao mesmo tempo
globalizadas, que se informam rapidamente por diferentes agências nacionais e
internacionais. Pode-se acreditar, neste sentido, que os enunciados para as
narrativas estão formulados quase previamente, assim, como as narrativas do
mundo virtual. A batalha pela história e realidade se mostra evidente. Quem
pode mais?
No rádio,
na TV, jornais e revistas, as fontes fazem parte de uma narrativa hegemônica,
mas por estar em disputa, provisórias, porém dominante na capacidade de
apresentar a versão dos fatos, sobretudo confiáveis pela tradição e
empreendedorismo de séculos. Ainda em formação, o jornalismo online se
apresenta com suas versões, ao mesmo tempo conservadoras, radicais e
questionadoras de uma ordem de política neoliberal e com abertura global.
Porém, cada qual escolhe seus porta-vozes, personagens, sabendo previamente o
cenário dos discursos que fazem parte do jogo.
Finalmente,
as mediações são muitas para muitos emissores de informação. Assim, pode-se
imaginar, na multiplicidade se vê surgir, a possível almejada democracia e
liberdade para comunicar-se a partir da diferença, das disputas e diálogos no
jornalismo e fora dele. A história narrada com diversos juízos, mãos e
efetivamente com influência e interferência das (e nas) redes.
Politicamente
há dominantes e dominados, mas num processo de mudança mais rápido do que
antes, dos tempos de poucos narradores midiáticos, versões da história e visão
de mundo. Enfim, na discutível pós-modernidade, para os vencedores, as
narrativas.
Fonte:
Observatório da Imprensa- Antonio S. Silva é jornalista e doutorando da UnB