Crônica de Ricardo Anisio: Um João como Furiba é baú de sonhos

Ah, se fora somente um Furiba… Mas é um Furiba valente, que desafia a morte e estica a corda da vida. Um João, que não é um mero João, mas é um João homérico. É um Furiba poeta, é um João Furiba de ouro e de mel.

Simplesmente um João? Qual nada. Um João como o Furiba é baú de sonhos, terreiro de alegrias. Um João que namora a vida, um João que desdenha da morte. Pode até lhe parecer um Davi peitando Golias. E é mesmo. É um lutador de viola na mão.

Navegador dos açudes rachados, um carpinteiro de versos que nasceu para voar. Tão leve que o vento leva, é esse o João que a gente quer. Um João de ouro, um João de Prata. Um João que combina com a morte, para poder namorar mais a vida. João das purezas, João dos luares. O João que se adjetiva, um João que se doura.

Esse é nosso João Furiba, furibando a solidão. Ah, se houvessem mais Furibas. Ah, se fosse fácil sê-lo. Mas num é não, seu moço.

Ser João Furiba não é para qualquer um. Porque a pureza e a alegria não se vendem nem se compram. Fiquem sabendo que anjos como João e anjos como Furiba; quando sobem é Deus quem manda. Porque Deus né bobo não. E Deus quer ter Furiba cantando sua canção, nos alpendres do Paraíso, onde a bondade deu o braço pra coragem, e se assentou no coração.

Fonte: Ricardo Anisio-jornalista
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Vi o açude secando/ Com três rachões na parede/ E as abelhas no velório/ Da flor que morreu de sede

A notícia da morte do poeta João Paraibano, em 2014, o mais pernambucano de todos os paraibanos que escolheram este pedaço de chão nordestino para viver, emudeceu o som da viola, engasgou a voz dos repentistas pajeuzeiros, silenciou o campo, entristeceu a alma dos seus admiradores e levou o Pajeú às lágrimas.

Tem gente que não devia morrer nunca. Com a sua viola inseparável, João Paraibano era um desses. Repentista de mão cheia, improvisador que a partir de um mote criava espontaneamente um poema, ele cantava a natureza, os animais e sua gente. 

Era um gênio em qualquer dos gêneros do improviso: sextilhas, décimas, oitavas, martelos e o galope a beira mar. Simples, bem inspirado, seguro na estruturação do verso, estava inserido no rol dos grandes nomes da cantoria nordestina, um dos maiores astros permanentes no palco dos festivais de cantoria da região.

Sabia temperar com emoção e graça seus versos doces e espontâneos, que entravam em nossos ouvidos como um canto de sereia, enfeitiçando e seduzindo. Com o seu canto, fez da dor sertaneja o riso, da seca o grito dos excluídos. Sua poesia, como dizia, vinha como uma flor da ventania.

João Paraibano tinha uma verve só comparável aos grandes menestréis da poesia, trovões do improviso, como os saudosos Lourival Batista, Pinto do Monteiro, João Furiba, Otacílio Batista, Jó Patriota, Manoel Filó e Cancão. Na euforia das primeiras chuvas, quando o companheiro de viola lhe provocou sobre a seca, João Paraibano beliscou as cordas da viola e cantou assim:

“Cai a chuva no telhado/ a dona pega e coloca/ uma lata na goteira/ onde a água faz barroca/ cada pingo é um baião/ que o fundo da lata toca.” “Vi o fantasma da seca/ Ser transportado numa rede/ Vi o açude secando/ Com três rachões na parede/ E as abelhas no velório/ Da flor que morreu de sede.

Um companheiro de cantoria lembrou-lhe a chegada da velhice, dada a presença dos cabelos brancos que já lhe enfeitavam a fronte e apresentou o seguinte mote: “A velhice vem chegando/ é preciso ter cuidado!”

Paraibano respondeu magistralmente: “Estou ficando cansado/ o corpo sem energia.../ Jesus pintou meu cabelo no final da boemia/ pintou mas nem perguntou/ qual era a cor que eu queria!”

Numa cantoria em que era saudada a chegada da chuva no sertão, improvisou alegre:

“Quando esbalda o nevoeiro/ rasga-se a nuvem, a água rola/ um sapo vomita espuma/ onde o boi passa se atola/ e a fartura esconde o saco/ que a fome pedia esmola.”

João Paraibano cantou com maestria o seu sertão do Pajeú, especialmente a sua amada Afogados da Ingazeira, com quem fez um casamento indissolúvel.

 "Uma vida vivida no sertão/ uma fruta madura já caindo/ um relâmpago na nuvem se abrindo/ um gemido do tiro do trovão/ meia dúzia de amigos no salão/ nem precisa de um piso de cimento/ minha voz, as três cordas do instrumento/ o meu quadro de louco está pintado/ O poeta é um ser iluminado/ que faz verso com arte e sentimento”.

Sobre a saudade:  "Vou no trem da saudade todo dia/ Visitar o lugar que eu fui criado/ No vagão da saudade eu tenho ido/ Ver a casa que antes nasci nela/ Uma lata de flores na janela/A parede de taipa e o chão varrido/ Milho mole esperando ser moído/ Numa máquina com o ferro enferrujado/ Que apesar da preguiça e do enfado/ Mãe botava de pouco e eu moía/ Vou no trem da saudade todo dia/ Visitar o lugar que fui criado”.

João Paraibano amava o que fazia, a poesia, que no seu canto se fez belo e forte. João era a beleza que se ouve no silêncio. A sua poesia penetrava no vazio das nossas almas e nos fazia feliz. João era aquele poeta que os demais poetas olhavam para ele para aprender de novo. Ele desencaixotava emoções, recuperava sentidos.

Só veem as belezas do mundo, através do canto e da poesia, aqueles que têm belezas dentro de si, como João Paraibano.


Fonte: *Texto Magno Martins


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Viola de Luto: Morre aos 100 anos o poeta violeiro João Furiba

Morreu nesta quinta-feira (31), aos 100 anos de idade um  dos maiores repentistas do Nordeste, João Batista Bernardo, conhecido como João Furiba. Furiba nasceu  em Taquaritinga do Norte Pernambuco em 04 de julho e este ano completaria 101 anos. Ele viveu boa parte da vida em Sumé, no Cariri Paraibano, e atualmente morava em Triunfo-PB.

O artista que era um dos maiores nomes da viola faleceu no hospital regional de Cajazeiras, Paraíba.

João começou a se interessar pela cantoria ainda criança decorando versos que achava bonitos. Pedia sempre ao pai para convidar cantadores para irem cantar em sua casa. Aos 12 anos de idade fez dupla com o irmão Vicente e com ele passou a se apresentar em cidades e vilas da região de Taquaritinga do Norte. 

Aos 15 anos foi para Campina Grande onde fez sucesso cantando ao lado de cantadores como Canhotinho, Josué da Cruz, José Alves Sobrinho, Manoel Raimundo de Barros, Manoel Soares, e outros. Em 1978, participou em Campina Grande, Paraíba, do V Congresso Nacional de Violeiros no qual cantou dois desafios com João Bandeira: “Amor de mulher casada é bom mas é perigoso” e “Morre cego sem ter prazer na vida quem não viu uma festa no sertão”. 

Esses desafios foram lançados em disco pelo selo Marcus Pereira em 1980, no LP “Violas e repentes – 2 – V Congresso Nacional de Violeiros”, gravado ao vivo. Em 2006, participou do 5º Concane – Congresso de Cantadores do Nordetse, realizado na cidade de Recife, Pernambuco. Ao longo da carreira participou de inúmeros congressos e recebeu mais de 30 troféus em festivais de violeiros tendo obtido o primeiro lugar em 13 deles.
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1º ‘Cerpics no Parque’ oferecerá vivências gratuitas no Parque Josepha Coelho, em Petrolina

O Centro de Referência em Práticas Integrativas e Complementares (Cerpics) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) vai realizar, no sábado (02), o 1º ‘Cerpics no Parque’, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco. O evento contará com atendimentos gratuitos a toda a comunidade, das 07h20 às 12h, nas arenas 2 e 3 do Parque Municipal Josepha Coelho.

O objetivo do evento é oferecer uma manhã de cuidados para a população de Petrolina e também de Juazeiro, na Bahia, através de vivências em variadas práticas integrativas e complementares em saúde. Os interessados poderão realizar a inscrição no local.

Serão oferecidas as seguintes vivências: Meditação, Yoga, Bioenergética , Massoterapia, Reiki, Cromoterapia, Biblioterapia, Ventosaterapia, Barras de Access, Auriculoterapia, ThetaHealing , Medicina vibracional
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"Árida": conheça a história do jogo videogame que narra a saga de uma menina no sertão da Bahia

O ato de jogar videogame está costumeiramente associado a diversão e ao entretenimento, sem grandes responsabilidades sociais.

Mas o que dizer de um jogo que mistura história do Brasil, diversidade racial e discussão de gênero? Essa é a proposta do jogo Árida, feito pela Aoca Game Lab, formada por jovens nascidos na Bahia e que vivem em Salvador.

A proposta da plataforma está situada na experiência de Cícera, uma adolescente de 15 anos que vive com o avô, um ex-vaqueiro, no sertão nordestino.

Dividido em 4 capítulos, o jogo mostra a saga da personagem durante o século XIX, pré Canudos, movimento histórico de resistência social liderado por Antônio Conselheiro, entre 1896 e 1897, no interior da Bahia.

As aventuras de Cícera, explica Filipe Pereira, desenvolvedor do jogo, acontecem em um ambiente de seca e fome, semelhantes ao mundo real. “A gente tem esse parâmetro da fome e da sede no jogo, que está ligado a realidade do sertão. À medida que você vai evoluindo na plataforma, conhecendo os personagens, fortalece-se a imagem de um lugar onde a seca não ousa bater, e esse lugar é Canudos. A narrativa do jogo se desenvolve a partir desse contexto da seca e a criação da utopia da cidade de Canudos”, explica.

Para além do jogo, Filipe Pereira afirma que a diversidade encontrada em Árida também é vista na equipe de trabalho.

O time, aliás, está situado no projeto Comunidades Virtuais, localizado na Universidade Federal da Bahia e com foco no desenvolvimento de jogos envolvendo educação. “Para fazer jogos diversos, eu preciso de uma equipe diversa. Para nós é importante ter um time com mulheres participando e uma maioria de negros”, explica.

Nascido em Salvador, assim como a maioria dos integrantes da equipe, Filipe afirma que foi ao sertão para conversar com a população da região para entender como é viver naquele ambiente.

Auxiliado por pesquisadores e estudiosos da história nacional, ele ressalta que estar no local onde o jogo seria retratado foi fundamental para dar mais veracidade aos cenários descritos em Árida.

“Ir lá foi uma experiência significativa e indispensável para poder desenhar melhor a experiência do jogo. Não só na perspectiva gráfica ou visual. Quando fomos lá, validamos e excluímos muitas coisas que estávamos fazendo. O principal de estar lá foi o contato humano com os moradores da região”, enaltece Filipe.

Previsto para ser lançado até março e exclusivamente para computador,  Árida tem o papel de quebrar paradigmais na indústria que desenvolve jogos de vídeogame, na avaliação de Filipe Pereira.

Além de sair do eixo Rio-São paulo, ele ressalta que a temática nordestina e sertaneja, com uma mulher no papel de protagonista, contrapõe personagens quase sempre brancos e homens. “Ao mesmo tempo que nós temos interesse de trabalhar com essa temática, nós olhamos para o nosso mercado e vemos que há essa carência. São vícios que a nossa indústria tem: personagens sempre brancos, masculinos. Essa carência temática pode se tornar, inclusive, uma oportunidade de mercado”, completa Filipe

A expectativa da Aoca Game Lab é disponibilizar o jogo Árida para consoles famosos, como Playstation e Xbox, em um futuro próximo.

Brasil de Fato
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Escola em assentamento do MST produz embalagens sustentáveis a partir da banana

Em Arataca, no sul da Bahia, nasceu um projeto pioneiro que faz embalagens sustentáveis a partir da banana, fruta comum na região. O projeto é aplicada pelos alunos do Centro Estadual de Educação Profissional da Floresta do Cacau e do Chocolate Milton Santos, localizado no assentamento Terra Vista, ligado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

No local, a banana verde se transforme em uma película que depois pode ser moldada como uma embalagem, canudo ou copo descartável. A ideia veio do professor de biologia Robson de Almeida da Silva que ministra aulas para o curso técnico em meio ambiente. 

“As embalagens produzidas a partir da biomassa de banana verde tem levam, aproximadamente, 15 a 20 dias no processo de decomposição, desde que entre em contato com um ambiente biologicamente ativo, com umidade e exposto a microrganismo. Já as embalagens produzidas a partir do petróleo demoram muito tempo para se decompor, em torno de 100 a 300 anos", explica o professor.

Robson da Silva conta que no local há muitas bananeiras, porque a sombra da planta é necessária para o crescimento do cacau, o principal produto da região. O professor de biologia explica que a banana precisa estar bem verde, quando tem alta concentração de amido, para ser transformada em película. 

“O processo passa pela escolha da banana, cozimento da banana, trituração da banana e produção das películas. A partir das películas que desenvolvemos a embalagem. Geralmente, o processo leva uma manhã inteira", diz.

No assentamento Terra Vista moram 55 famílias que sobrevivem da produção agroecológica, especialmente do cacau. O objetivo é que a película da biomassa de banana verde possa embalar os chocolates que são produzidos no assentamento. 

O projeto de embalagens sustentáveis feitas com banana verde ficou entre os cinco melhores da região nordeste e os 25 melhores do Brasil no prêmio “Respostas para o amanhã”, uma iniciativa voltada para projetos de escolas públicas de todo o país.

Brasil de Fato
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Forró do Poeirão expressa a diversidade cultural do Araripe

No último sábado (26), aconteceu a quinta edição do Forró do Poeirão, no Restaurante Chico Guilherme, Ouricuri/PE, que este ano homenageou o grande cantor e compositor Sivuca.  No palco do Poeirão, passaram mais de 20 forrozeiros,com um público animado e cheio de energia, estima-se que cerca de 700 pessoas participaram.

Com tema feira de Mangaio, o poeirão inovou com uma feira de artesanatos e agroecológica, onde artesãos e artesãs do município comercializaram seus produtos e agricultores e agricultoras levaram produtos agroecológicos para vender e reafirmar a grandeza da agricultura familiar, pois cultura e agricultura familiar são imprescindíveis para que haja vida digna no Semiárido. As danças e comidas típicas também fizeram parte do cenário cultural. 

O idealizador do Forró do Poeirão, o cantor e compositor Tacyo Carvalho, ouricuriense, que ainda muito jovem foi morar com a família Gonzaga no Rio de Janeiro, onde teve a oportunidade no convívio com o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, de aprender muito sobre forró e conhecer grandes artistas, se tornou radialista, cantor e compositor. Ficou conhecido como o garotão de Ouricuri, apelido que Luiz Gonzaga lhe deu. Hoje o forrozeiro segue com o forró gonzagueano defendendo a cultural popular nordestina, é integrante da Associação Brasileira de Forrozeiros do Brasil Luiz Gonzaga e está em eventos de resistência e luta da cultura.  

“O Forró do Poeirão surgiu como uma forma de nós que defendemos a cultura nordestina nos encontrarmos de ficar juntos e sermos mais fortes. Com o passar dos anos foi se tornando maior e hoje é esse evento grandioso que conta com o apoio de tanta gente boa”, diz Tacyo Carvalho.

A cada ano o evento se fortalece e assume o papel mais fortemente de mostrar o quanto o forró de Gonzaga é pulsante na vida dos povos do Semiárido. “Essa é a maior prova que o forró autentico está vivo e que não precisa se apequenar, mendigar. Somos grandiosos”, disse Elmo Oliveira, durante a apresentação.

O Forró do Poeirão reúne forrozeiros com mais experiência, alguns que tocaram com Luiz Gonzaga, Domingos e outros grandes mestres da sanfona, como Vital Barbosa, De jesus e Epitácio Pessoa, e jovens que contribuem e garantem a sucessão cultural  como Leninho  de Bodocó, Elmo Oliveira, Fábio Carneirinho e tantos outros que tem servido de inspiração para as próximas gerações que também tem espaço no Poeirão, como é o caso de Raul Sanfoneiro de apenas 12 anos. 

A sexta edição do Forró do Poeirão acontecerá em 2020 e já tem homenageado escolhido, dessa vez será o grande poeta Patativa do Assaré.

Fonte: Kátia Rejane-Caatinga
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