A legenda Poço Dantas ficou, em mim, ligada à imagem serena e carismática do professor Luiz Correia, que sempre se aproximava das rodas de conversa na bodega do meu avô, Antônio Floresta, com a sua obsessiva inquietação, de espírito e sotaque bem sertanejos, defendendo, como à sua vida, o seu ideal de educação para o nosso meio onde campeava a carência e a desinformação.
De lá vinham estórias de encantamentos como uma, muitas vezes repetida por Seu Otílio do Desterro, em que “em noites de chuva, nas ribanceiras da Serra da Seriema, cinco carneiros de ouro, encarreados um atrás do outro, atravessavam a escuridão deixando um clarão dourado” – acredito eu que nas vidas e na eternidade daqueles momentos...
Até na origem da sua denominação há um mistério e uma mística poética, quando a única pista é o que reza a tradição oral, que traz a narrativa de que nos primórdios da colonização da região, teria ficado um poço conhecido pela presença de antas – que depois não foram mais vistas – nas suas margens.
Por muito tempo curiosos e visitantes trataram a versão popular como inverossímil, por considerarem não ser a Caatinga habitat dessa espécie animal. Hoje, sabe-se que havia sim, antas no Semiárido nordestino; o que mantém viva, a voz do povo, nesse imbróglio.
Há nos arredores de Poço Dantas uma energia pulsante, como que emanada de um tesouro telúrico esparramado a céu aberto, na pele sanguínea do chão, na flora, nos seres, nos ares e nos ventos que trazem e assentam a música de todos os tempos.
Lá, as botijas não precisam mais terem almas como mensageiras e sonhos noturnos como canal da informação privilegiada. Os auspícios sagrados estão esvoaçando, à luz do dia, e reluzindo na Serra da Seriema, nos morros que circundam a região, nas estradas, no cemitério, no adro da igreja, na praça, no semblante das pessoas, no Memorial Sertanejo, no idealismo de Luzia Barbosa.
Maurício Cordeiro Ferreira.
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