PROCISSÃO DAS SANFONAS ACONTECE NESTA QUARTA-FEIRA (02)

Nordestinos de todo o Brasil vão celebrar o legado de sua identidade e tradições. É que 2 de agosto é o Dia da Cultura Nordestina. A data foi escolhida em homenagem ao músico brasileiro Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que faleceu nesse mesmo dia, em 1989. Símbolo da cultura do Nordeste, nascido no município de Exu, no Pernambuco, Gonzaga é um dos grandes porta-vozes, não só por ter tocado melodias da região e cantado letras descrevendo os costumes do sertanejo, mas também por sempre trajar o chapéu e o gibão de couro, peças de referência na vestimenta tradicional.

Dentre as dezenas de festejos em vários estados do país que celebram o Dia da Cultura Nordestina, um deles leva, há muitos anos, a música do Rei do Baião para as ruas de Teresina, capital do Piauí.

Na próxima quarta-feira, dia 2, a já tradicional Procissão das Sanfonas volta às ruas de Teresina, completando 15 anos de desfile musical pela capital do Piauí. Este ano, o evento irá homenagear a rainha e o rei do baião, celebrando o centenário de Carmélia Alves e 34 anos de saudade de Luíz Gonzaga.

A concentração será às 15h em frente à Catedral de Nossa Senhora das Dores, na Praça Saraiva, onde será celebrada uma missa, com a bênção das sanfonas. O percurso segue pelo calçadão da Rua Simplício Mendes, no centro comercial, até chegar ao Museu do Piauí, na Praça da Bandeira, onde há uma apresentação dos músicos que estão participando da procissão.

A procissão das sanfonas é mais que um tributo a Luiz Gonzaga. É também uma forma de preservar nossas raízes musicais, com a exaltação de um instrumento tão significativo para o povo nordestino. Em uma época de cultura e músicas descartáveis, é bom saber que a força da sanfona permanece viva entre nós.

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MISSA VAQUEIRO DE SERRITA: QUASE SEM ABOIOS E A GANÂNCIA DO CAPITALISMO SELVAGEM QUE DESTROI A CULTURA



O cantor, sanfoneiro, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga moldou um imaginário do Nordeste na música, mas também tinha um projeto de Nordeste. E ele próprio fazia questão de executá-lo. Na sua adorada Exu, Chapada do Araripe construiu o primeiro posto de gasolina e um complexo turístico com pousada e museu – o Parque Aza Branca. Acreditando na educação, pagava ônibus para levar os estudantes para a faculdade na vizinha Crato, no Ceará. Quando o primo vaqueiro Raimundo Jacó, nascido e criado na Fazenda Araripe, foi assassinado e o crime ficou impune, em 1954, Gonzaga cantou uma das suas canções mais bonitas:,A morte do vaqueiro. Mas não ficou só nisso.

Em 1971, o então pároco de Serrita, padre João Câncio, o procurou e, juntos, deram forma à Missa do Vaqueiro no Sítio Lajes, onde Jacó trabalhou e foi encontrado morto, a 35 quilômetros do centro da cidade, no caminho para Exu. Câncio era um padre progressista, cheio de ideias, que incorporava a cultura da região nas suas missas. Nas mãos do “padre vaqueiro” e de Gonzagão, a missa era não só uma homenagem a Jacó, mas um grito contra as injustiças e impunidades contra o povo mais pobre, em meio a tantas brigas sangrentas por terras e poder político no Sertão.

O que se desenvolveu ao longo dos anos 1970 e 80 é um mosaico da iconografia sertaneja: a figura do vaqueiro trajado de couro, o cortejo a cavalo, o altar com as peças de couro no ofertório. Ainda havia as músicas especialmente compostas para a ocasião por Janduhy Finizola, os poemas e repentes de Pedro Bandeira, também um dos fundadores da missa, os lindos e quase infinitos aboios. Tudo envolvido na liturgia católica, na comunhão do religioso com o sagrado gonzagueano.

À missa, foram se incorporando shows de artistas do forró pé de serra. Foi, por muito tempo, uma festa e uma celebração para os vaqueiros, suas famílias e os aficionados pela ideia do Nordeste vivo, resiliente, festeiro e justo de Gonzaga e seus seguidores.

ANO 2023-O comentário em Serrita é sobre a maior Missa do Vaqueiro já vista. É número para todo lado: 500 vaqueiros no cortejo, mais de 400 mil pessoas nos quatro dias de eventos. E o show de Gusttavo Lima o maior já visto por ali, um público de 120 mil pessoas, mais de 3h de congestionamento para sair do Parque João Câncio, no Sítio Lajes. “Foi um exagero, uma coisa nunca vista por aqui”, diz o vaqueiro Mário Artur, que participa da Missa do Vaqueiro desde a primeira edição.

O prefeito de Serrita, Aleudo Benedito (MDB), na madrugada de quarta para quinta-feira, ele teve um trunfo: foi chamado ao palco por Gusttavo Lima, e, ao lado da primeira dama, discursou para o público. “A prefeitura agradece seu show. Você está realizando um sonho de muitos serritenses, obrigado por tudo, por ter adotado a cultura do vaqueiro, nossa história”, falou no microfone.

Havia, no entanto, uma liminar que proibia que o prefeito subisse ao palco, usando a Missa do Vaqueiro com possíveis fins políticos. Há uma briga judicial ao redor do evento deste ano: de um lado, a Fundação Padre João Câncio, que por 22 anos fez a produção da festa, do outro, a prefeitura de Serrita, que conta com o apoio do Governo do Estado e da Diocese de Salgueiro.

No cerne da questão, a descaracterização da Missa do Vaqueiro de um evento tradicional sertanejo, com o vaqueiro como protagonista, para um mega festival de música, no estilo da gigantesca ExpoCrato. E um gasto vultoso, que ultrapassa os R$ 3 milhões, em um cidade com apenas 18,2 mil habitantes e 54,5% da população vivendo com menos de um salário mínimo por mês.

Os shows no palco principal se encerraram na noite de sábado. A Marco Zero esteve na Missa do Vaqueiro no domingo pela manhã. Muitos quilômetros antes do Sítio Lajes começa a movimentação intensa de carros, ônibus e caminhões carregando gente e animais. Nos acostamentos, homens, mulheres e crianças seguem montados em seus cavalos.

Recém-chegado à diocese de Salgueiro – da qual a paróquia de Serrita faz parte – o bispo Dom José Vicente já começou a celebração se desculpando. Era a primeira vez dele ali, mas ia precisar fazer uma missa enxuta pois, sem se aperceber das longas distâncias do Sertão, havia marcado um compromisso em Araripina – que fica a 178 quilômetros de Serrita – às 16h.

Logo depois, cometeu uma gafe: chamou Francisco Assis Domingos de filho de Raimundo Jacó. Não é: Assis Vaqueiro, como é conhecido, estava no palco representando os vaqueiros, mas não é parente do primo de Gonzagão. Único filho ainda vivo de Raimundo Jacó, Vicente Jacó não compareceu à missa deste ano.

Na missa, os vaqueiros não pegaram o microfone – apenas um, para uma rápida leitura bíblica. O tradicional coral de aboios mal foi ouvido. A diocese não quis que músicas originais, compostas para a missa por Janduhy Finizola, fossem executadas. “Não será permitida a ‘Toada de Gado’ e o ato a que se destina”, diz mensagem da diocese enviada para Helena Câncio – que se casou com João Câncio nos anos 1980, quando ele abandonou a batina, e comanda a fundação que leva o nome do marido.

Desde o ano 2000, ela estava à frente da organização da Missa do Vaqueiro. Com as exigências do novo bispo, ela desistiu de participar da missa neste ano. Outra mudança drástica estabelecida pela paróquia de Serrita e a diocese foi no ofertório: “Os vaqueiros poderão depositar indumentárias e apetrechos próprios dos vaqueiros, contudo, em silêncio e sem manifestação. Não serão lidos textos”, diz outra mensagem da diocese enviada para Helena.

Ainda que tolhida, houve emoção na missa, principalmente para quem estava ali pela primeira vez. Do altar, se via um mar de vaqueiros e vaqueiras trajados de couro. Velhos, moços, meninas. Chocalhos ressoavam no ar nas respostas ao rito.

O mais bonito mesmo foi a hora do ofertório, certamente por ser a única com alguma participação dos vaqueiros e vaqueiras. Sem sair da sela dos cavalos, eles cruzam o palco e fazem das suas peças de couro uma oferta ao altar. Com os aboios dos vaqueiros e os repentes deve ser muito mais emocionante. Mesmo assim, é um momento intenso, com perneira, gibão, alforje, colete, chapéu, chicote, luvas, botas e outras peças sendo montadas uma a uma no altar.

Ao final da missa, que durou menos de duas horas, o bispo Dom José Vicente relembrou o tão importante e inadiável compromisso em Araripina para avisar que não tiraria fotos com os fiéis. Estava apressado.

Ficou a dúvida: algo deveria ser mais importante para um bispo da diocese de Salgueiro do que a Missa do Vaqueiro, a mais famosa do sertão?

LEGADO-No mesmo ano em que Gonzagão morreu, faleceu também João Câncio. A Missa do Vaqueiro ficava órfã em 1989 – Pedro Bandeira não se envolvia tanto na produção. Ao longo de 53 anos, o evento teve algumas organizadoras. A Fundação Quinteto Violado foi a responsável de 1976 a 1983. “Depois outra fundação tomou conta. Neste ano, o prefeito convidou o Quinteto e ficamos muito felizes”, contou o vocalista Marcelo Melo. A última vez do grupo no evento havia sido em 2014.

Na época em que o Quinteto Violado organizava a festa, não havia estrada com asfalto, nem energia elétrica no Sítio Lajes. Tinha que levar gerador. Apesar de dizer que não quer se envolver na polêmica entre a Fundação e a prefeitura, Marcelo considera que há uma descaracterização do evento.

“É uma festa que tem a ver com o grito de justiça do vaqueiro e por melhores condições de trabalho. Sempre batalhamos nesse caminho. Mas esses shows não têm nada a ver com a nossa realidade. Agora, tem a mídia que domina sobre a juventude e quer esse tipo de música, mas que não tem identidade cultural com a região. O importante é a emoção, a identificação cultural. A festa é para o vaqueiro”, diz.

Quando o Quinteto Violado parou de produzir a festa, o padre João Câncio assumiu tudo. Mas houve um afastamento quando ele se casou e, por conta das represálias da Igreja Católica, deixou o Nordeste. Quando faleceu, a missa também ficou por 11 anos sem uma produção. Nesses hiatos, foi a paróquia de Serrita quem assumiu, junto com a prefeitura, a Missa do Vaqueiro. Desde 2000 a Fundação João Câncio fazia quase tudo, privilegiando artistas regionais, do forró pé de serra.

O imbróglio entre a Fundação e a prefeitura de Serrita começou ano passado quando Aleudo Benedito tomou para si a organização da festa, com apoio do Governo do Estado e da paróquia, conduzida por um sacerdote de perfil conservador. Teve show de Wesley Safadão nos dias de festa pagã, mas quem organizou a missa em si foi a Fundação, com o então bispo Dom Magnus Henrique Lopes, que abraçava a causa do vaqueiro – ele foi transferido neste ano para a diocese do Crato (CE).

Em 2023, o prefeito foi mais longe. Tentou mudar o nome das festividades de Missa do Vaqueiro para “Festa do Jacó”. Como não tem a maioria da Câmara de Vereadores, não conseguiu. Mas montou uma área vip em frente e ao lado do imenso palco dos shows – coisa digna do carnaval no Marco Zero – com cobrança de ingressos. E não foi só Gusttavo Lima quem veio: teve show de Nattan – estouradíssimo no Brasil, com mais de 30 shows no mês de junho –, Simone, ex-dupla de Simaria e que está com tudo nos eventos do governo Raquel Lyra, Xand Avião, Priscilla Sena, entre outros.

A Fundação, então, entrou na Justiça questionando a cessão da prefeitura para explorar comercialmente o Parque Estadual João Câncio, como é chamado hoje o Sítio Lajes.

Na pequena cidade, há uma propagação imensa de boatos, difamando ambas as partes. Quase sempre, os boatos envolvem desvios de verbas públicas para festa. Uma das causas de boatos contra a Fundação é o não pagamento de muitos dos fornecedores da festa de 2019.

Helena Câncio afirma que não recebeu os R$ 500 mil então prometidos pela Empetur naquele ano. “Esse dinheiro era para fazer absolutamente tudo. Da limpeza do parque até a produção de shows. Desde 2015, o projeto vinha sofrendo com glosas (faturamentos recusados) de valores relativamente altos. Mas sempre comprovamos por A mais B os investimentos da Empetur, que na verdade nem davam para cobrir tudo. Em 2019, o Governo do Estado não pagou um real e estamos devendo”, lamenta.

Na missa, em entrevista à MZ, o prefeito Aleudo Benedito afirmou que a festa deste ano teve um custo total de mais de R$ 3 milhões e que desde o ano passado a Empetur triplicou o investimento na festa, passando para R$ 1,5 milhão. A prefeitura bancou os outros 50%, segundo ele. “Fizemos tudo sem jamais prejudicar o erário público do município, mantendo as contas e nossas obrigações em dia”, garantiu. “As atrações foram pagas uma parte pelo município e outra parte pela Empetur”, disse. No dia seguinte à festa, ele anunciou nas redes sociais o pagamento de 50% do 13º salário dos servidores da prefeitura.

A Marco Zero entrou em contato com a Empetur para saber o motivo das contas de 2019 da Fundação João Câncio não terem sido aceitas e também quanto foi investido na Missa do Vaqueiro deste ano. Assim que chegar a resposta, esta matéria será atualizada.

Sobre as críticas à descaracterização da Missa do Vaqueiro, o prefeito afirma que o público deu a resposta. “São opiniões contrárias a tudo isso que vivenciamos. A nossa gestão está transformando e dando uma roupagem nova aqui para toda estrutura desse evento. E o que aconteceu este ano? Colocamos o maior público. Buscamos recursos junto ao Governo do Estado, ao Governo Federal e agora Serrita já está incluída no calendário de eventos nacionais”, afirmou.

Como se nota, há novamente uma tentativa de tensionar as mudanças na festa para a disputa entre tradição e modernidade, tão comum ultimamente nas festas tradicionais nordestinas – vide o São João de Caruaru. É como se no Nordeste tudo tivesse que ceder às poderosas e irresistíveis forças populares do sertanejo, mantendo apenas um tiquinho de sua essência. Vale lembrar que recentemente um levantamento feito com Google Trends e YouTube mostrou que Pernambuco é o estado com o menor interesse em música sertaneja, com apenas 15% das buscas.

(E aqui a repórter abre um parênteses: uma boa forma de “modernizar” a Missa do Vaqueiro seria fiscalizar os maus tratos contra os animais. Sol a pino, e dois imensos bois Nelores, visivelmente extenuados, eram usados para que as pessoas tirassem fotos em cima deles. Um dos bois tinha uma argola no nariz e nela colocaram uma corda que o prendia a uma estaca. Exausto, o boi se deitou no chão e ficou com o focinho levantado, pois a corda era muito curta para que pudesse abaixar a cabeça. Uma maldade.)

Há dúvidas se é mesmo a afinidade com o gosto do público o que leva uma prefeitura de 18,2 mil habitantes no Sertão a gastar tanto na contratação de sertanejos como Gusttavo Lima e Simone. O Ministério Público solicitou da prefeitura de Serrita o fornecimento de vários documentos, incluindo planilha de todos os gastos com a festividade.

O MPPE afirma que serviços públicos básicos essenciais estão sendo postergados por alegação de incapacidade financeira do município de Serrita. Há diversos procedimentos extrajudiciais instaurados na Promotoria de Justiça de Serrita envolvendo demandas relacionadas à prefeitura. “Há, ainda, ações civis públicas ajuizadas perante o Poder Judiciário contra o município de Serrita para garantir tratamentos de saúde, fornecimento de leite, além de serviços de fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia à população que necessita”, diz nota do MPPE.

O Ministério Público também recomendou que a prefeitura faça a atualização imediata de seu portal de transparência, divulgando informações sobre licitações e contratações públicas, em conformidade com a Lei de Acesso à Informação.

Ao ser questionada pela Marco Zero sobre a descaracterização da Missa do Vaqueiro, a governadora Raquel Lyra, disse que não tem participado das discussões. “Nosso propósito como governo é garantir que o evento possa acontecer. E a gente espera que haja sempre conciliação entre todos os atores envolvidos, que são super importantes na manutenção desta tradição, que são o poder público, o terceiro setor, a família do padre João Câncio, de Raimundo Jacó. Que possam estar todos juntos ano que vem e essas brigas sejam superadas”.

A reportagem é de Maria Carolina Santos-jornalista da UFPE A Marco Zero

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ALEMBERG QUINDINS PARTICIPA DO PROGRAMA NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA NESTE DOMINGO (30)

Domingo, 30 de julho no Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, apresentado às 8hs, NA RÁDIO CIDADE FM 95.7, o ouvinte terá a oportunidade de escutar novamente a entrevista, a prosa do Café Cultural com Alemberg Quindins. 

Você vai saber o motivo do Estado de Espírito do vento/cariri que sopra com saudade do Mar. Patativa do Assaré. Luiz Gonzaga e Padre Cícero, arqueologia e gestão cultural são temas da conversa.

Alemberg diz que a Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura. O Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura. Você vai entender a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo.

O Memorial do Homem Kariri teve sua origem a partir das pesquisas de mitologia e etnomusicologia dos pesquisadores, músicos e produtores culturais: Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde. 

Atualmente, a Casa Grande se consolida como ponto de memória da ancestralidade, da mitologia e da arqueologia do cariri cearense, utilizando-se da arte como ferramenta capaz de proporcionar uma imersão mais consciente destes assuntos.

Francisco Alemberg de Souza Lima, o Alemberg Quindins, é um dos criadores da Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri em 1992 com o intuito de valorizar a história do povo da região, o Vale do Cariri, e ser um centro de memória.

Em conversa com o BLOG NEY VITAL e que no dia 30 de julho, será retransmitido no programa NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS, na Rádio FM 95.7, Alemberg explica que a Chapada do Araripe é uma confluência de quatro Estados: Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba.

"Um resumo do Nordeste. A Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado você tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, por exemplo; de outro, do lado de cá, temos Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura".

Ainda de acordo com Alemberg a Chapada do Araripe é um platô central. "Aqui, era o único lugar onde Lampião se ajoelhava e deixava as armas na porta. Território sagrado. Portanto, o Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural do Ceará por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura. É onde você entende a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo. Nosso manancial é esse: a cultura. A maioria dos mestres da cultura popular estão aqui. E, da forma como acontece em solo caririense, essa reunião de tanta coisa, não vamos encontrar em nenhum outro lugar do Estado".

A Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, é uma instituição sem fins lucrativos, de utilidade pública federal. O local se tornou espaço de vivência em gestão cultural para crianças e jovens do sertão e tem como objetivos constantes no seu estatuto, pesquisar, preservar, coletar, juntar em acervo, comunicar, exibir, para fins científicos, de estudo e recreação, a cultura material e imaterial do Homem Kariri e de seu ambiente".

"Nós resgatamos a cultura local nas áreas de arqueologia, mitologia, artes e comunicação", conta Alemberg. Os alunos mantêm um canal de TV, de rádio, uma editora de gibis e um museu que conta com um rico acervo de 2.600 HQs e 1.600 títulos de clássicos do cinema. A ideia é desenvolver a capacidade de liderança das crianças a partir dos laboratórios de produção.

Arte, cultura, música e TV. Essas são apenas algumas das atividades oferecidas pela Fundação Casa Grande, em Nova Olinda, Cariri do Ceará Francisco Alemberg Quindins, músico e educador social da ONG que forma cidadãos e os transformam em protagonistas da própria história neste período de isolamento social tem participado de lives, transmissões ao vivo que tem contribuindo ainda mais para a divulgação do trabalho desenvolvido com as crianças.

No próximo mês de dezembro a Fundação vai completar 30 anos, o espaço guarda algumas artes indígenas dos primeiros habitantes da região; possui uma rádio; dispõe de uma editora de gibis, com um acervo com mais de 3 mil títulos; tem ainda um teatro; e uma banda de lata, que encanta quem visita a fundação.

Para registrar tanta coisa boa, a fundação conta com um canal virtual, a TV Casa Grande, cujo objetivo é dar voz, mostrar a arte dos moradores da região e documentar a cultura local.

O sucesso da fundação rendeu a ela o título de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e muita visibilidade para cidade de Nova Olinda, que recebe, por ano, mais de 50 mil visitantes.

Alemberg Quindins é investigador do CEAACP, Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Patrimônio da Universidade de Coimbra e, por inerência, Membro do Conselho Científico desta unidade de investigação. que é avaliada e financiada pela Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT) do Ministério da Ciência e Ensino Superior de Portugal.

Há vários anos a Fundação Casa Grande é parceira do CEAACP e Alemberg Quindins era colaborador. Agora, transitou em estatuto, o que acontece por reconhecido mérito e por categoria universitária dado o seu Doutoramento Honoris Causa, passando a integrar o grupo de pesquisa em Arqueologia Cidadã e Inclusiva do Centro.


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AGRICULTURA FAMILIAR É OITAVA MAIOR PRODUTORA DE ALIMENTOS DO MUNDO

Se todos os agricultores familiares do Brasil formassem um país, seria o oitavo maior produtor de alimentos do mundo. O dado está no Anuário Estatístico da Agricultura Familiar 2023, divulgado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O documento tem o objetivo de mostrar a participação da agricultura familiar no total da produção agrícola brasileira. Os números são baseados em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A divulgação do anuário acontece na semana em que se comemora o Dia Internacional da Agricultura Familiar, dia 25 de julho, uma data criada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU).

O anuário da Contag aponta que a agricultura familiar brasileira é a principal responsável pelo abastecimento do mercado interno, com produtos saudáveis e manejo sustentável dos recursos ambientais.

As propriedades de agricultura familiar somam 3,9 milhões no país, representando 77% de todos os estabelecimentos agrícolas. Já em área ocupada, são 23% do total, o equivalente a 80,8 milhões de hectares. Para se ter uma ideia, isso é quase toda a área do estado do Mato Grosso.

Essas propriedades são responsáveis por 23% do valor bruto da produção agropecuária do país e por 67% das ocupações no campo. São 10,1 milhões de trabalhadores na atividade. Desses, 46,6% estão no Nordeste. Em seguida aparecem o Sudeste (16,5%), Sul (16%), Norte (15,4%) e Centro-Oeste (5,5%).

Na agricultura familiar, tanto a produção de alimentos quanto a gestão da propriedade ficam, predominantemente, a cargo da família.

O presidente da Contag, Aristides Santos, defende que conhecer os números da agricultura familiar é uma forma de desenvolver a atividade. “Além de conhecer e mostrar a importância estratégica do segmento a toda sociedade, reunir esses dados em um anuário também visa contribuir com o debate sobre o papel da agricultura familiar para o desenvolvimento do país. E a busca por valorização e reconhecimentos dos sujeitos que a compõem e suas entidades representativas”, disse.

Além da produção de alimentos em si, outra contribuição das propriedades familiares é funcionar com um “motor” para a economia. De acordo com a Contag, a agricultura familiar responde por 40% da renda da população economicamente ativa de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes, que representam 68% do total do país. Ou seja, faz o dinheiro circular nas pequenas cidades do campo, gerando um efeito multiplicador de emprego e mais renda.

Incentivo-No dia 28 de junho, o governo lançou o Plano Safra da Agricultura Familiar 2023/2024, com R$ 71,6 bilhões destinados ao crédito rural no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O valor é 34% superior ao anunciado na safra passada e o maior da série histórica.

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PROFESSOR JORGE GALEGO LANÇA LIVRO CACHAÇA CAUSOS E ACASOS

O livro “Cachaça – Causos e Acasos” foi lançada no mês passado na Câmara de Vereadores de Uauá - BA, nordeste baiano. Uma obra literária escrita pelo empreendedor, “jornalista” e “professor” Jorge Galego. A publicação em parceria com a Editora Ases da Literatura está disponível em vários sites parceiros (Amazon, Um Livro, Estante Virtual, Extra, Shoptime e outros).

O autor afirma está muito feliz por realizar mais este sonho, pois publicou a grande reportagem “Cachaça – Ardente Sabor de uma Cultura” (2014) e o livro de poesias “Bêbado de Amor” (2016). “Esta obra agora, além de belíssima, com uma capa e diagramação de qualidade impressionante, ela une poesia à prosa. É uma sequência de um trabalho de cerca de uma década de lapidação e reflexões”, enfatiza o autor.

É um livro de causos “cachaçais” com narrativas apresentando vários contextos da vida sociocultural do município fictício de Pirajá, norte da Bahia, Brasil. Acontecimentos envolvendo diversos tipos de cachaceiros e cachaceiras. Destaque para os causos “Ah, se o umbuzeiro falasse!” , “O conselho da santa ao cachaceiro Coló” e as histórias dos capítulos: “Cachaceiras  arretadas”,  “Cachaceiros homo machos” e “Cachaceiras homo fêmeas”. Cada história mais impressionante do que a outra, onde prosa e poesia unem-se para melhor demonstrar a vida na imaginária cidade do semiárido brasileiro.

Jorge Galego te convida para participar do encontro de lançamento. “Será um momento cultural inesquecível, sem contar à aula que darei junto com os convidados presentes. Para mim uma pessoa a mais disposta a compreender os usos culturais da cachaça pelo povo brasileiro já vale a pena o esforço destes anos de batalha “cachaçal” em meio a tantos riscos e consequências. Contudo, não há como negar a presença das representações culturais da cachaça na música, religiosidade, humor e letras ou versos vivenciados de norte a sul do Brasil, em especial no semiárido da Bahia”, conclui Jorge Galego.

Mais informações pelo telefone (74) 99972-0187, e-mail: jorgeboibravo@hotmail.com ou Instagram @jorgegalegoemprosa.

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BODOCÓ E A SONORIDADE DA CULTURA BRASILEIRA GONZAGUEANA

Cada arte emociona o ser humano de maneira diferente! Literatura, pintura e escultura nos prendem por um viés racional, já a música nos fisga pelo lado emocional. Ao ouvir música penetramos no mundo das emoções, viajamos sem fronteiras.

Visitei Bodocó, Pernambuco e abracei amigos/irmaos. O homem que pesquisa é um lutador. Desbravador. Deve vestir a roupa do destemor e despir os pés para adentrar os caminhos, sentindo o chão que pisa...há anos eu precisava sentir a poeira dos caminhos de Bodocó. 

Bodocó. Desde menino a palavra Bodocó zumbe nos meus ouvidos. Na cidade, o sentimento invadia meus pensamentos, alma de menino cantador/jornalista: "Nas quebradas caem as folhas fazendo a decoração. Chora o vento quando passa nas galhas do aveloz. Chora o sapo sem lagoa todos em uma só voz. Chora toda a natureza na esperança, na incerteza de Jesus olhar pra nós...Nos cafundó de Bodocó, de Bodocó, de Bodocó. Nos cafundó de Bodocó, de Bodocó, de Bodocó"... 

Na companhia do amigo Flávio Leandro/Cissa/Emanuel, Jurandy da Feira, Miguel Alves Filho...Dorinha, no Rancho Febo, tive a felicidade de apreciar a sonoridade da palavra Bodocó...no violão o poeta cantador Flávio Leandro ecoa Chuva: "O choro do céu é pureza imenso escoar de beleza nas terras do meu Bodocó/em tom de verde realeza envia um rio de certeza para o sertanejo tão só"...

Neste mês de Julho é aniversário do poeta Miguel Alves Filho.

A cidade é mencionada na canção "Coroné Antônio Bento", que integra o primeiro LP de Tim Maia, de 1970. A música conta a história do casamento da filha de um "coronel", que dispensa o sanfoneiro e chama um músico do Rio de Janeiro para animar a festa. A canção é de autoria de Luis Wanderley e João do Vale.

A cidade também consta na música Pau de Arara (Guio de Moraes)..."Quando eu vim do sertão, seu moço, do meu Bodocó, a malota era um saco e o cadeado era um nó, só trazia a coragem e a cara, viajando num pau de arara, eu penei, mas aqui cheguei".

E uma das mais belas ja citadas aqui: Nos Cafundó de Bodocó, de Jurandy da Feira.  "Nas caatingas do meu chão se esconde a sorte cega/Não se vê e nem se pega por acaso ou precisão/ Mas eu sei que ela existe pois foi velha companheira do famoso Lampião".

Na musica Respeita Januário, Luiz Gonzaga solta a voz também usando a sonoridade da palavra Bodocó...

Também ouvi atentamente o relato de Flávio Leandro quando mostrava uma análise, diálogo/pesquisa, a gênese de nossas raízes. Flávio aproxima nossos ancestrais ao termo, a cultura árabe. Lembrei que Elomar, em sua cantiga O Violeiro, canta “Deus fez os homens e os bichos tudo fôrro...”. De forria para fôrro, de fôrro para forró, celebração da liberdade, da quebra do jugo e dos grilhões. 

E  aqui registro, o magistral Emanuel, o Manu, advogado, filho de Flávio/Cissa, na batida do Pandeiro. Ritmo e talento. Sorriso e simplicidade do tamanho do mundo chamado Bodocó

Miguel Filho me levou a caminhar na história de Bodocó. Pedra Claranã. Capela São Vicente de Paulo e histórias que envolvem Bodocó e a família de Luiz Gonzaga.

Miguel Filho é o típico sertanejo. Humildade franciscana. Compositor da safra das palavras de qualidade.  Miguel é compositor parceiro de Flávio Leandro, nas músicas Utopia Sertaneja, uma das mais belas da literatura brasileira; e de Fuxico. Miguel tem músicas gravadas também com o Quinteto Violado, Pedras de Atiradeira e Experiências.

E assim a sonoridade Bodocó ganhou ainda mais beleza e sentido. Compreendi que existem palavras que são portas/janelas servem para revelar mundos e situações. Bodocó és encantamento de um sol e lua do mês de julho. 

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DOMINGUINHOS: HÁ DEZ ANOS NÃO SE OUVE MAIS O SOM DA SANFONA SENTIDA

Com a rapidez de um trem da Great Western, o tempo passou e, no próximo domingo (23), faremos memória à passagem do músico, cantor e compositor José Domingos de Moraes, o Dominguinhos. O artista, que morreu aos 72 anos, lutou por mais de seis anos contra um câncer de pulmão, mas não resistiu às complicações infecciosas e cardíacas.

Nascido em Garanhuns, no Agreste pernambucano, Dominguinhos conheceu Luiz Gonzaga ainda criança e, aos 13 anos, quando já estava no Rio de Janeiro, recebeu do Rei do Baião sua primeira sanfona, a mesmo que o consagrou, três anos mais tarde, como herdeiro de sua obra.

Quando a notícia da morte de Dominguinhos estampou os principais noticiários do país, naquela penúltima terça-feira do mês de julho de 2023, um clima de suspense pairou no ar. O sanfoneiro que, assumidamente, era um verdadeiro adorador de sua terra natal, inclusive isso ficou registrado em gravações de entrevistas concedidas às rádios pernambucanas, tinha o desejo de ser sepultado em Garanhuns.  A decisão da ex-companheira Guadalupe e sua filha Liv Moraes contrariou o desejo explícito, programando o sepultamento do cantor em um cemitério privado da capital pernambucana.

Menos de um mês depois da morte de Dominguinhos, o filho mais velho do sanfoneiro, Mauro Moraes, moveu uma ação na Justiça pedindo que o corpo do músico fosse transferido para Garanhuns. O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) autorizou a transferência do corpo à cidade natal do artista. A decisão foi da juíza Andréa Duarte Gomes, atendendo ao pedido do filho do músico, Mauro José de Moraes, in memorian. A sentença saiu numa quinta-feira, 29 de agosto, mas foi divulgada somente na sexta (30).

Finalmente, em 26 de setembro do mesmo ano, os restos mortais do saudoso “Nenem”, como era apelidado por sua mãe, foram sepultados no Cemitério São Miguel, em Garanhuns. Sob forte comoção e aplausos de familiares e amigos, Dominguinhos pode, enfim, ter sua última morada definitiva.

No ano de 2002, Dominguinhos foi o vencedor do Grammy Latino com o CD Chegando de Mansinho. Em 2008, foi o grande homenageado da 19ª edição do Prêmio da Música Brasileira, antigo Prêmio Sharp, numa noite de pura reverência concedida por outros artistas nacionalmente consagrados como Gilberto Gil, Genival Lacerda, Jorge de Altinho, Flávio José, Elba Ramalho, Vanessa da Mata, Nana Caymmi e outros tantos.  Ao longo da carreira, fez parcerias de sucesso com músicos como Gilberto Gil, Chico Buarque, Anastácia e Djavan.Com sua maior parceira musical, Anastácia, compôs grandes sucessos como Tenho sede, Eu só quero um xodó, Contrato de separação, Sanfona sentida, Toque pife e Triunfo.

E como se nem imaginássemos, o tempo passou e há dez anos que não ouvimos mais o som de sua sanfona, à qual Dominguinhos sempre teve extrema dedicação. Uma característica que poucos conhecem dele, um excelente instrumentista, que, por muitas vezes, declarou ter muito mais apreço em tocar, produzir arranjos e compor as melodias de inúmeras canções do que até mesmo cantar. Além disso, era um grande apreciador de valsas e passava horas com sua sanfona a tocar, apreciando o ritmo.

Para nós, fãs e apreciadores de sua obra, nos resta a memória extremamente viva do que foi e o que é Dominguinhos para a música popular brasileira. Que possamos perpetuar seu legado fazendo com que as gerações futuras ouçam, consumam e reflitam em toda a obra do mestre Dominguinhos. Que os artistas mais contemporâneos possam beber na fonte que é José Domingos e deem continuidade. Viva Dominguinhos, viva a sua obra!

*Charles Andrade-Jornalista e pesquisador musical

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