CONEXÃO DOS RIBEIRINHOS COM O RIO SÃO FRANCISCO É ABORDADA EM FOTOLIVRO

Com aproximadamente 2.830 km de extensão e passando por cinco estados, o Rio São Francisco é gerador de energia, atrativo turístico e fonte principal de irrigação e abastecimento de água. Ribeirinhos e ribeirinhas, também, utilizam o Velho Chico para buscar inspiração, meditar, se conectar com o passado e ter paz. 

Esses aspectos estão retratados no fotolivro "Rio São Francisco: singularidades", do fotógrafo e jornalista juazeirense Caio Alves.  

Natural de Juazeiro, norte da Bahia, e morando há 5 anos em Petrolina, Sertão de Pernambuco, o fotógrafo conta que o trabalho surgiu de observações e conversas sobre a ligação que as pessoas constroem com o Rio. "Tenho o Velho Chico como meu guia, fonte de referência para meus projetos e de conexão com a natureza. Cada ribeirinho e ribeirinha se conecta com o Rio de alguma forma, e isso é interessante, pois cada um possui à sua maneira de sentir as águas do Opará - nome em que os povos indígenas chamavam o São Francisco", explicou.

O trabalho pode ser conferido no Instagram do fotógrafo (@caioalvesfotografia), em um vídeo de apresentação no YouTube e no site (caioalvess.46graus.com/rio-sao-francisco-singularidades/), onde o fotolivro pode ser baixado. São 11 ensaios fotográficos, onde cada participante teve que escolher uma palavra para definir a sua relação com o Rio São Francisco.

As fotografias foram realizadas em Petrolina- PE (Orla, Ilha do Massangano e Serrote do Urubu), Juazeiro-BA (Orla) e na Ilha do Fogo. O trabalho recebeu incentivo do Edital Criação, Fruição e Difusão da 2ª edição do Prêmio de Cultura Lei Aldir Blanc Pernambuco (LAB PE). Esse é o terceiro fotolivro publicado por Caio. Em 2021, o fotógrafo lançou dois e-books: "A cidade que me acolheu: Petrolina em colagens e fotografias" e "Beira de Rio: um olhar para o Velho Chico". Todos esses trabalhos podem ser conferidos e baixados no site: caioalvess.46graus.com.  

FONTE: Caio Alves-Jornalista | Fotógrafo | Artista Visual

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ÁLBUM FORRÓ DAS SEVERINAS VAI SER LANÇADO NA SEXTA-FEIRA (22)

As Severinas, trio de mulheres do Sertão do Pajeú que há 11 anos encantam os fãs da poesia e da música regional, vão lançar o álbum Forró das Severinas, em todas as plataformas digitais de música, no próximo dia 22 de abril. 

O trabalho brinda toda a trajetória artística do grupo, passeando por canções presentes nos CDs e por clássicos do forró e da Música Popular Brasileira que o público já curtiu nos shows ao vivo. O Forró das Severinas foi gravado no CEU das Artes, em Serra Talhada. Para quem quiser assistir a gravação, além de ouvi-la, As Severinas vão disponibilizar o material no canal do YouTube do grupo em julho.

As músicas autorais são composições individuais de Monique D'Angelo (Voz, declamações e sanfona) e de Isabelly Moreira (triângulo e declamações) e também parcerias das duas integrantes. 

"O repertório poético é versátil e traz várias poesias autorais, além de poemas dos vates pajeuzeiros Rogaciano Leite e Cancão. O nosso trabalho, além de trazer músicas autorais, traz músicas que já gravamos nos nossos três álbuns, a exemplo de composições de Zé Marcolino, Flávio Leandro, Chico César e Carlos Rennó, Benil, Ivan Gadelha e Luiz Romero", detalhou Isabelly Moreira. "Além das grandes Bia Marinho e Maria Dapaz e também composições dos poetas Islan e Xico Bizerra em parceria com Biguá. E para engrossar esse caldo cultural, acrescentamos faixas de Assisão e Accioly Neto", acrescentou ela.

De acordo com Isabelly, o álbum vai levar a verdade musical e poética do grupo para dentro dos lares, ruas, calçadas e terreiros. Nas músicas Xamego de Fulô (Monique D'Angelo) e Forró das Severinas (Isabelly Moreira e Monique D'Angelo) são retratados os forrós sertanejos, as noites juninas, e é também um convite para o povo dançar e cantar, pois são dois baiões contentes.

Nas canções Outros Pedidos e Ao Amor Que Chegará, ambas de Monique D'Angelo, é realizado um passeio pelas emoções dos amores, das saudades, dos afetos e das relações. Já em Mina Água, de Isabelly Moreira, são apresentadas algumas cidades do Pajeú, os costumes e as vivências locais que tanto marcam a própria identidade de As Severinas.

"O Forró das Severinas é uma mostra de tudo o que fizemos até agora e é um mote do que pretendemos fazer. Esperamos que ao ouvirem esse projeto no dia 20 e ao assistirem, em julho, as pessoas curtam com a mesma 'gostosura' que foi poder construí-lo. Com esse álbum, todo mundo terá um show contratado para ver quando e como quiser", comentou Isabelly Moreira.

7ª Festa do Umbu - Para quem já está com saudades de ver As Severinas ao vivo, no próximo dia 16 de abril, o grupo vai se apresentar na 7ª Festa do Umbu, na Fazenda Floresta, localizada na Zona Rural de Parnamirim (PE). A festa do Umbu é uma iniciativa do fotógrafo Lídio Parente, que após mais de 20 anos vivendo no Rio de Janeiro, em 2011 decidiu retornar para sua cidade natal e buscar um modo de vida baseado na agroecologia, na agricultura familiar sustentável e na convivência com o semiárido.

História - Mesclando música e poesia, e lembrando das raízes culturais do Sertão do Pajeú, o trio As Severinas surgiu com o intuito de difundir, com musicalidade, a força e a delicadeza feminina, mantendo a tradição do forró pé-de-serra, dando nova roupagem a cantigas, xotes e arrasta-pés. Formado por três jovens mulheres, o grupo traz Isabelly Moreira, no vocal, triângulo e declamações, Monique D'Ângelo, no vocal, sanfona e declamações, e Marília Correia, na zabumba. As Severinas se apresentam desde maio de 2011.

Em 2012, lançaram o primeiro CD, que leva o nome do grupo, com composições autorais e versões de músicas de Chico César e Vander Lee que conquistaram o público. Em 2016, o grupo lançou o seu segundo trabalho, intitulado "Tribos", com faixas autorais, parcerias e releituras de canções de artistas que influenciaram a formação musical do grupo, como Vital Farias, Zeto e Zé Marcolino.

Em 2021, quando As Severinas completaram 10 anos de estrada, foi lançado um documentário registrando a obra e a história do grupo, junto com um EP, denominado "Xamego de Fulô". O trabalho foi todo composto por músicas inéditas, entre canções autorais e parcerias que registram a maturidade artística do grupo. Houve participações especiais que evidenciaram a relevância artística e cultural adquirida pela banda: Anastácia, Assisão, Quinteto Violado e Thais Nogueira, além da participação da percussionista Negadeza, foram alguns dos nomes presentes no trabalho.

Neste ano, As Severinas se apresentaram no Teatro do Parque, em Recife, e foram premiadas como "Destaque Trajetória em Música", pelo show "Xamego de Fulô" com o Prêmio JGE Copergás de Teatro, Dança, Circo e Música de Pernambuco 2022, realizado pelo 28º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas e Música de Pernambuco, edição 2022. Além disso, lançaram o clipe "Não Tento Mais" em março.

O trabalho do grupo As Severinas pode ser acompanhado através:

Instagram: @asseverinas (https://instagram.com/asseverinas?igshid=aer7cxl06zs3 )

Facebook: https://www.facebook.com/paginaasseverinas

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"O BRASIL TEM TODAS AS CONDIÇÕES PARA SER VANGUARDA NA AGROECOLOGIA", DIZ PESQUISADOR

Inovações recentes colocam o agro convencional em xeque: agricultura vertical e carnes cultivadas podem levar a uma mudança drástica de um dos mais importantes setores da economia global, o mundo das commodities agropecuárias. 

A agricultura vertical tem ambientes mais controlados e é menos dependente de agrotóxicos. Já as carnes cultivadas são elaboradas no laboratório a partir de células de animais que ficam num ambiente que permite o crescimento de algo que vai se assemelhar à carne desses animais, uma vez abatidos. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Ricardo Abramovay, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, analisa essas tendências.

O modelo tradicional está em xeque porque se apoia na ideia de que a simplificação das paisagens agropecuárias é o melhor caminho para a elevação nas quantidades produzidas, segundo o professor.

Ele conta que, desde a década de 60, foram introduzidas inovações tecnológicas que permitiram a difusão do uso dos fertilizantes nitrogenados e, nessa época, foi feito um pacote tecnológico que consiste em sementes muito suscetíveis ao uso desses fertilizantes em paisagens homogêneas, em grandes extensões passíveis de mecanização em larga escala, principalmente na América Latina. E, como essas paisagens são simplificadas, só podem sobreviver com o uso intensivo de agrotóxicos. 

No caso de criações de animais, houve a redução nas raças de criação, que permitiram a multiplicação na quantidade de animais criados ao mesmo tempo, em apenas um lugar, o que resultou no uso de larga escala de antibióticos. “Hoje 70% dos antibióticos que a humanidade produz são destinados a essas criações concentracionárias”, comenta Abramovay. 

MODELO EM CRISE: O professor descreve que esse modelo entrou em crise, pois é apoiado em quantidade pequena de variedades de sementes e de raças. 

“O que acontece é que as doenças vão driblando as formas de combatê-las, quanto mais agrotóxicos são utilizados, as pragas e insetos resistentes a essas pulverizações vão exigir agrotóxicos cada vez mais poderosos, como o caso das culturas transgênicas. Isso provoca uma crise que se soma às mudanças climáticas, que têm provocado situações de seca, por exemplo – só neste ano, houve uma perda de mais de R$ 35 bilhões no Rio Grande do Sul. É um modelo condenado no mundo todo”, contextualiza. 

“Tanto a vertente da agroecologia como as de agricultura vertical e as carnes cultivadas são apoiadas em tecnologia e na ciência, e deixaram de ser conhecidas como alternativas, tanto que fazem parte da política oficial da União Europeia”, avalia o professor. 

A agroecologia consiste em conhecer profundamente a natureza e usá-la em benefício dos objetivos humanos, e esse é um caminho que os europeus estão tomando para enfrentar a crise derivada do modelo anterior. A União Europeia está fazendo uma grande campanha para reduzir o consumo de carne e para combater a obesidade, temas que estão ligados aos padrões de consumo atuais intensivos de carnes e produtos ultraprocessados, de acordo com Abramovay.

Esses avanços tecnológicos são estudados no Brasil: a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estuda tanto a agricultura vertical como as carnes cultivadas. No entanto, o professor considera que a principal mensagem que está sendo mandada para o Brasil é a desconstrução do mito de que o mundo depende dos grãos brasileiros, sem os quais vai passar fome. 

“Daqui a dez anos a demanda de grãos vai diminuir drasticamente, porque o mundo inteiro está preocupado com o que está acontecendo na Amazônia. O Brasil tem todas as condições para ser vanguarda na agroecologia, na junção entre a oferta alimentar e a proteção da biodiversidade. A hora é de conciliar a agricultura e a valorização da biodiversidade.” (FONTE: Jornal da USP)

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GRANDE NÚMERO DE PEIXES MORTOS ASSUSTA COMUNIDADE RIBEIRINHA NA REGIÃO DO ALTO RIO SÃO FRANCISCO

Na manhã do dia 03/04 (domingo), o volume útil final da represa de Três Marias, no Alto-São Francisco, registrava índice de 94,3%. No mesmo dia, a poucos quilômetros do vertedouro da usina, os pescadores e guias turísticos Milton Odair (Biguá) e Norberto Antônio dos Santos, o senhor Norberto, recebiam a informação de que uma grande quantidade de peixes mortos estava descendo o rio. 

Com a notícia, os dois pescadores foram até às margens do rio e constataram o fato. Entraram no barco e navegaram por cerca de quatro quilômetros até as proximidades do vertedouro.

“Foram quatro quilômetros de puro peixe morto, maioria Mandi, mas teve Curimba, Piau, Douradinhos, Mandi-branco e Traíra, alguns peixes de escamas que morreram também. É muito triste e revoltante”, relata Biguá. Segundo o pescador, a quantia estipulada que desceu o rio foi algo em torno de 12 a 15 mil quilos de peixes. “Mas a estimativa é maior porque a maioria foi retirada pelas máquinas da empresa”, acrescenta.

Durante o ocorrido, os pescadores atribuíram a responsabilidade do acidente à Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), responsável pelas operações da Usina Hidrelétrica de Três Marias. Procurada pela reportagem do CBHSF, a assessoria de imprensa da Cemig explicou, em nota, que na noite anterior (02/04), houve a chamada ocorrência de “trip” na unidade geradora 05, levando a descida automática das grades de proteção, para evitar a entrada de peixes. A empresa informou ainda que, devido às condições técnicas e o fato de a operação ter sido realizada em período noturno, o retorno imediato da máquina não foi possível, sendo então mantida a condição de grades até a manhã do dia 03/04 (domingo).

A informação fornecida pela empresa destaca ainda que, no momento da operação, havia uma enorme quantidade de peixes no canal de fuga e, mesmo com a descida rápida das grades, houve a entrada de peixes no tubo de sucção.

 “Dada a baixa qualidade da água verificada neste período, verificou-se, após o retorno da unidade geradora com a retirada das grades, a mortandade de peixes, totalizando 655,9 kg, majoritariamente da espécie mandi”, afirmou, em nota, a assessoria de imprensa da Cemig. A Companhia informou ainda que os peixes recolhidos mortos no canal de fuga e a jusante da usina, em vistorias realizadas do dia 03 até o dia 06/04, foram pesados e enterrados, após confirmação pela Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMA).

A responsável pela operação da Usina de Três Marias ressaltou que o ocorrido foi um evento isolado, decorrente de uma parada não programada. “Qualquer parada das máquinas para manutenção programada foi suspensa neste período, como forma de se evitar acidentes com a ictiofauna. No entanto, eventos de paradas não programadas, como o observado, podem acontecer”, informou.

A falta de oxigenação dos peixes também seria outro motivo, apontado pelos ribeirinhos, como causa do acidente. Nesse sentido, a Cemig informou que o vertedouro da UHE Três Marias foi operado durante o período de cheia do Rio São Francisco, verificado no período de janeiro a março/2022, visando, segundo a empresa, a manutenção do nível do reservatório e preservando o agravamento de eventos de cheias a jusante, notadamente na cidade de Pirapora/MG. “Com a diminuição da vazão afluente, houve o fechamento do vertedouro e manutenção do nível pela defluência das unidades geradoras”, acrescentou.

A Cemig também explicou que desde antes do fechamento do vertedouro, em meados de janeiro/2022, vêm observando baixa no oxigênio dissolvido a jusante da casa de força, provavelmente em função da inversão térmica do reservatório. “A Cemig está fazendo o acompanhamento sistemático da qualidade da água para tomar medidas protetivas em relação aos peixes”, frisou.

O pescador profissional Leonardo Lucas Ferreira, estava próximo ao local do acidente. Segundo ele, havia grande quantidade de peixes mortos, com predominância da espécie Mandi-amarelo, “mas apareceu Dourado e Curimba em menor quantidade e de pequeno porte”, completa.

Leonardo compartilha da mesma sensação de indignação e tristeza que o guia de pesca, “Biguá”. “Fico muito triste em saber que aqueles peixes não têm proveito nenhum para as nossas famílias e nosso sustento e de todos que tem sua subsistência no Rio São Francisco. Os peixes já estavam em estado de putrefação”, lamenta. O pescador também aponta a empresa como responsável pela mortandade de peixes todos os anos. “Dessa vez, não sei se foi uma manobra errada na usina, que provocou a entrada em massa dos peixes nas máquinas”, ressalta.

O pescador chama a atenção para outra questão: a reprodução dos peixes. Segundo Leonardo, os órgãos fiscalizadores precisam agir de maneira mais rigorosa, porque é um local estratégico onde se concentra um grande fluxo de peixes, principalmente após as chuvas em período de cheias. “Os alevinos caem ali, crescem e na próxima enchente, o peixe vai desovar e encontra esse bloqueio”, relata.

Sobre esse aspecto, a Cemig informou que com a intensificação do evento de arribação, verificado na Bacia do Rio São Francisco neste ano, com a migração dos juvenis, foi observada forte presença de cardumes a jusante da casa de força, “razão pela qual a empresa intensificou as atividades de monitoramento de peixes, acompanhando diariamente a evolução da qualidade da água, de forma a acompanhar os possíveis efeitos na ictiofauna”, explica.

Ainda, conforme esclarecimento da assessoria de imprensa da Cemig, após o desenvolvimento inicial nas várzeas e lagoas marginais, peixes jovens realizam migração de dispersão em busca de locais para terminar seu desenvolvimento e encontrar alimento e proteção contra predadores. “No rio São Francisco, essa migração é conhecida como “arribação”. No seu alto curso, ela tende a acontecer durante e depois das cheias, quando as várzeas e suas lagoas se conectam com o rio. Os peixes da arribação se aglomeram imediatamente a jusante da Usina Hidrelétrica de Três Marias (UHTM)”, completou.

2007 – ALGUMA SEMELHANÇA? No final de março de 2007, outro acidente envolvendo a empresa provocou a mortandade de sete toneladas de peixes da espécie Mandi. Os desdobramentos foram semelhantes ao ocorrido no último dia 03, quando pescadores identificaram milhares de peixes mortos perto do vertedouro da UHE Três Marias.


Os pescadores atribuíram a causa à falta de oxigenação para os peixes, devido a usina ter fechado as comportas dois dias antes. A represa estava com cerca de 93% de volume útil e, na madrugada do dia seguinte, a água da represa foi novamente liberada. Naquela época, a empresa foi multada em R$4,9 milhões pelo órgão ambiental do estado e mais R$ 6 milhões pelo Ministério Público.

“Em 2007 estava lá também, fecharam o vertedouro de uma forma que os peixes ficaram presos entre a caída do vertedouro e a calha do rio, chamamos de bacia, forma tipo um lago e os peixes ficaram presos ali”, lembra o pescador Leonardo.

Já, de acordo com Milton “Biguá”, em 2007 houve grande mortandade de peixes atingindo, segundo o pescador, cerca de 50 quilômetros de distância ao longo do Rio São Francisco. “Nada foi feito também. Volto a insistir na omissão dos órgãos responsáveis. Haver punição, a empresa deveria fechar as portas pela morte dos peixes. Hoje o que eu falo, estão tirando o sustento de milhares de ribeirinhos, de crianças, porque os pais trabalham, tiram o sustento daquela água. Não fazem nada para melhorar a situação, nada no social em benefício da população”, desabafa “Biguá”.

Do ponto de vista da Cemig, a única semelhança com o acidente ocorrido em 2007 está ligada à condição de arribação e a grande concentração de cardumes a jusante da usina. Na ocasião, segundo informou a empresa, uma máquina foi parada para manutenção com drenagem, causando aprisionamento de grande quantidade de peixes no tubo de sucção. Houve também a saída não programada de outra máquina, o que causou um rebaixamento repentino no canal de fuga, expondo a bacia de dissipação do vertedouro. “Como a abertura do vertedouro foi lenta, frente a presença de pescadores no local, houve também a morte de peixes nesta bacia. O somatório dos eventos na máquina e no vertedouro totalizou as sete toneladas”.

Quinze anos após, a empresa ressalta mudanças nos procedimentos de operação da usina. Na época, foi criado o “Programa Peixe Vivo”, no qual, segundo a Cemig, foram implantadas ações preventivas para evitar situações semelhantes, entre elas a “adequação da bacia de dissipação do vertedouro, para diminuir a atratividade dos cardumes (furos para drenagem abaixo do nível de jusante); instalação das grades anticardumes, que diminui a entrada dos cardumes na unidade geradora e o monitoramento rotineiro à jusante da UHE, identificando a existência de cardumes a jusante da usina e determinando gatilhos para a restrição de operações de manutenção programada”.

Sobre o acidente da semana passada (03/04) a Polícia Militar do Meio Ambiente foi acionada, sendo a ocorrência notificada, no mesmo dia, à Diretoria de Inteligência e Ações Especiais (DIAE), ligada a Subsecretaria de Fiscalização Ambiental da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMAD), que irá avaliar o acidente e definir as medidas necessárias, inclusive a determinação da multa.

Em nota enviada à reportagem do CBHSF, a empresa afirma que continuará com todas as atividades de monitoramento ambiental e manutenções das restrições operativas para evitar qualquer novo acidente, tendo inclusive aberto o vertedouro no dia 06/04/2022, em decorrência da piora da qualidade de água verificada a jusante da usina.

Para os pescadores “Biguá” e Leonardo, a empresa precisa sofrer sanções mais rigorosas. “Cobramos o tempo todo lutando pela vida do ‘Velho Chico’, porém há um investimento para que ninguém entre na área da usina. Prejudicam o meio ambiente, ligam aparelhos sonoros que chegam a 8 km, espanta animais e afastam os pescadores daquela área, sendo que o pescador é o maior fiscalizador desse rio. Estamos lá, sempre de olho, fiscalizando, a denúncia sempre parte da gente”, afirma Biguá.

“Sou pescador profissional, pode-se dizer de berço, nascido e criado na beira do São Francisco, meu pai era pescador profissional e sustentou nossa família com a pesca e eu também. Esperamos que as autoridades façam valer o direito igual para todos e possam agir de forma ríspida com essa empresa, que muito prejudica os pescadores, principalmente quando tem um fluxo grande de águas, após as chuvas”, ressalta Leonardo.

FONTE Assessoria de Comunicação do CBHSF: Fotos: Cemig – Divulgação; Paulo Emílio Bellardini

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LIVRO ESTRELAS DE COURO: A ESTÉTICA DO CANGAÇO REVISITA TRAJES E UTENSÍLIOS DO GRUPO DE LAMPIÃO

Os mais de 40 anos de pesquisa do historiador Frederico Pernambucano de Mello resultaram no livro “Estrelas de Couro: a estética do cangaço”. A obra, que possui exemplares raros, já vendidos por cerca de R$ 1 mil, agora ganha a sua 4ª edição, revisada pela Cepe Editora, com lançamento oficial marcado para amanhã, às 18h, no Museu Cais do Sertão, no Bairro do Recife.

As páginas resumem os lugares por onde o autor percorreu, colhendo registros dos remanescentes do chamado “ciclo histórico do cangaço”, ocorrido entre as décadas de 1920 e o ano de 1938, quando Lampião e os cangaceiros foram mortos - em que, na época, o conceito de "banditismo rural" já estava bem difundido. Não à toa, nasceu daí um acervo pessoal do historiador, já apresentado em outras ocasiões fora do Nordeste e mesmo do Brasil.

Ao longo dos capítulos, o livro vai descortinando a estética em questão por meio dos seus mínimos detalhes. “Grande chapéu  de couro quebrado adiante e atrás, meio a Napoleão, enfeitado como uma rosa encarnada, e de lado barbicacho, espécie de cilha na testa  (...)” diz trecho de uma descrição do cangaceiro Mané Chiquinha, de 1920, por Xavier de Oliveira. 

Não só em texto, mas também em imagens que retratam o cenário. Leia-se xilogravuras de J. Borges, capas de revistas, pinturas e inúmeras fotografias, que registram itens como o chapéu de Lampião, máquina de costura, além de acessórios como a corda de couro usada pelos vaqueiros, crucifixo, cartucheira e luvas de vaqueiro.

“Não há muitas publicações sobre estética no Brasil. Quase sempre o que se encontra são absorções locais de temáticas estrangeiras”, afirma Frederico, destacando ainda as diferenças desta 4ª revisão. “A qualidade editorial e o tratamento feito nas imagens, além da capa nova, elaborada pelo artista Luiz Arraes, que ficou muito boa com o tamanho do livro, então adequado para a leitura. Também a ampliação de alguns aspectos e a revisão de outros”, completa.

Aliás, é o escritor Ariano Suassuna que destaca a importância da obra, através do prefácio mantido desde a primeira edição, em 2010. “E se há no cangaço um elemento épico, este é ainda exacerbado pelos trajes e equipagem dos cangaceiros, com os seus anéis e medalhas, seus lenços coloridos, seus bornais cheios de bordaduras, os chapéus de couro enfeitados com estrelas e moedas — tudo isso que se coaduna perfeitamente com o espírito dionisíaco de dança e de festa dos nossos espetáculos populares e compõe uma estética peculiar, rica e original, agora minuciosamente estudada por Frederico Pernambucano”, registrou.

Segundo o autor, o traje do cangaceiro é um dos exemplos demonstrativos do comportamento arcaico brasileiro. Ao invés de procurar camuflagem para a proteção do combatente, é adornado de espelhos, moedas, metais, botões e recortes multicores, tornando-se um alvo de fácil visibilidade até no escuro. Detalhes - de contradição - que se explicam pela crença no sobrenatural, capaz de conduzir uma missão, considerando-se protegido e inviolável.

Por ter um estilo tão único e marcante, o contexto sertanejo pode (e deve) abraçar inúmeras produções artísticas. “Eu tenho desenvolvido a tese de que as correrias do cangaço no Brasil estão fadadas a ocupar o papel que os romances de cavalaria ocuparam na Europa durante três séculos. Aquela dose de épico, na prosa ou na dramaturgia, que pode servir de inspiração”, defende Frederico, que também atua como consultor da Globoplay, para o desenvolvimento de uma série com previsão de estreia para 2023.

Serviço: Lançamento do livro "Estrelas de couro: a estética do cangaço"

Quando: 13 de abril

Onde: Mezanino do Museu Cais do Sertão, no Espaço Todo Gonzaga 

Horário: 18h

Preço: R$ 120 (livro impresso); R$ 48 (e-book)


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FESTIVAL VIVA VITALINO-SÉTIMA EDIÇÃO ACONTECE NO ALTO DO MOURA, CARUARU ENTRE OS DIAS 17 A 24 DE ABRIL

O Festival Viva Vitalino chega a sua 7ª edição entre os dias 17 e 24 de abril, no Alto do Moura, em Caruaru, berço da arte figurativa do Brasil. A abertura está agendada para as 16h do Domingo de Páscoa, na Casa Museu Mestre Vitalino, tendo como atração banda de pífanos. 

Criado pelos produtores culturais Antonio Preggo e Yone Amorim, o evento sempre aconteceu no mês de julho, mês de aniversário de nascimento de Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino. Mas, que devido a pandemia, deixou de ser realizado nos últimos dois anos e agora precisou ser antecipado. Porém, sem perder o brilho nem sua essência, que é de prestar homenagem ao mestre do barro, nascido há 113 anos. 

O objetivo do festival também é de manter viva a tradição do barro no Alto do Moura, bem como valorizar outros nomes que se destacaram nos mais variados segmentos da cultura e já não estão mais entre nós. A festa popular ainda costuma prestar homenagem especial, e nessa edição será ao folguedo popular Boi Tira-Teima, que completará centenário em 2022. 


A programação, aberta ao público e gratuita, consta de oficina intitulada "Modelagem no barro", tendo como oficineira a artesã Nicinha Otília. O local será o Assentamento Che Guevara (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST), para três turmas, nos dias 20, 21 e 22, sempre das 8h às 12h. Outra opção para o público será a Aula Espetáculo com o poeta paraibano Jessier Quirino, que terá espaço na Pousada Casa da Gente, nos dias 20, 21 e 23, das 14h às 17h, também para três turmas. Para as duas atividades, as vagas são limitadas e os interessados precisam fazer inscrição online antecipada, e sem pagamento de taxa, no link http://bit.ly/3NXe4ri

Outras atrações serão as exposições de peças de barro e de fotografia, que estarão em cartaz de 17 a 24 de abril, das 9h às12h e das 14h às17h, e contam a história da comunidade que sobrevive da arte de moldar a matéria-prima para o sustento da família, ao mesmo tempo que criam novas peças numa renovação da arte figurativa. A área externa da Casa Museu Mestre Vitalino recebe a exposição "Homenagem da Família Vitalino a Severino Vitalino". 

Já a Associação dos Artesãos em Barro e Moradores do Alto do Moura (ABMAM), abre a exposição "Povo do Barro", além de receber a exposição "Discípulos de Vitalino", do fotógrafo Antonio Preggo. Proporcionando acessibilidade para pessoas cegas ou com deficiência visual, as três exposições dispõem de leitura em braile nas peças e fotos.

A sétima arte também tem lugar garantido no Festival Viva Vitalina, com o "Cinema no Beco do Ratinho", a partir das 20h do sábado (23). Será ao ar livre, com a exibição do filme "A Peleja do Bumba Meu Boi Contra o Vampiro do Meio Dia" e do documentário "Um Dia com Severino Vitalino". A atividade contará com a participação do professor Álvaro Ferreira, intérprete de Libras, que fará a tradução simultânea.

Domingo (24), será a culminância do evento, com o tradicional Cortejo pelas ruas do bairro. A concentração começa às 14h, na Praça do Artesão, de onde sairá em desfile com banda de pífanos, mazurca, maracatu, reisado, pernas de pau, bloquinhos infantis e estandartes com nomes da cultura que deixaram o seu legado.

 O destino será um espaço aberto de um estacionamento (próximo a Casa Museu Mestre Vitalino), que receberá estrutura montada com palco e banheiros químicos (inclusive com acessibilidade). A festa de encerramento terá apresentações de Valdir Santos e seus convidados (João do Pife e Walmir Silva), Nika Macedo e o poeta paraibano Jessier Quirino, de talento reconhecido nacionalmente.

Os recursos são da Lei de Incentivo à Cultura, através da Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo do Estado de Pernambuco e o apoio da Família Vitalino, Prefeitura de Caruaru, Fundação de Cultura de Caruaru, da Associação dos Artesãos em Barro e Moradores do Alto do Moura (ABMAM) e da TV Asa Branca.

PROGRAMAÇÃO

Domingo (17) - Abertura

Local: Casa Museu Mestre Vitalino

Horário: 16h

Exposições-"Homenagem da Família Vitalino a Severino Vitalino (Casa Museu), "Barro no Alto do Moura" – peças em barro - (ABMAM) e "Discípulos de Vitalino" – fotografia – (ABMAM)

*De 17 a 24, das 9h às 12h e das 14 às 17h

Oficinas

"Modelagem no barro"

Oficineira - Artesã Nicinha Otília

Local: Assentamento Che Guevara (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - MTST)

*Dias 20, 21 e 22, das 8h às 12h

"Aula espetáculo"

Atração: Jessier Quirino

Local: Pousada Casa da Gente

*Dias 20, 21 e 22, das 14h às 17h

Exibição de vídeos

"A Peleja do Bumba Meu Boi Contra o Vampiro do Meio Dia" e

"Um Dia com Severino Vitalino"

Local: Beco do Ratinho (Alto do Moura - atividade à céu aberto))

Sábado (23)

Horário: 20h

Cortejo

Domingo (24)

Local: Concentração na Praça do Artesão

Horário: 14h

Atrações: Estandartes, Banda de Pífanos, Boi Tira Teima, Reisado, Bacamarteiros, Mazurca, Pernas de Pau e Maracatu

Shows - Apoteose

Domingo (24)

Local: Av. Mestre Vitalino (na entrada do Alto do Moura).

Horário: 17h

Atrações: Jessier Quirino, NIka Macedo Valdir Santos (e convidados João do Pife e Walmir Silva)

FONTE: Contato para entrevista-jaciara Fernandes (assessoria de Imprensa) (81) 99940-0676

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FIOCRUZ, MST E EXPRESSÃO POPULAR LANÇAM DICIONÁRIO DE AGROECOLOGIA E EDUCAÇÃO

Agroecossistemas, Capitalismo Verde, Cosmovisões, Educação Politécnica e Agroecologia. Esses são alguns dos verbetes do Dicionário de Agroecologia e Educação, que  será lançado oficialmente na próxima terça-feira (12), pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), com apoio da Presidência da Fiocruz, e pelas lideranças do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), e em parceria com a editora Expressão Popular. 

Ao todo, são 106 verbetes, elaborados por 169 autores de 68 instituições distintas – universidades públicas, institutos federais de educação, movimentos sociais, institutos de pesquisa – e com representação de autores da Argentina, Guatemala e México, ao lado de pesquisadores e educadores brasileiros. Para a construção da obra, foram tomados como referências o Dicionário de Educação Profissional em Saúde e o Dicionário da Educação do Campo.

“A EPSJV foi chamada a cumprir essa tarefa por ser uma unidade que, há cerca de 17 anos, vem realizando uma série de parcerias no âmbito da pesquisa e da educação em saúde junto ao MST, o que nos possibilitou ir construindo uma criticidade sobre as possibilidades e desafios que se enfrentam no campo brasileiro”, ressalta a professora-pesquisadora da Escola Politécnica, Anakeila Stauffer, que organizou a obra em conjunto com o também professor-pesquisador da EPSJV, Alexandre Pessoa, e com Maria Cristina Vargas e Luiz Henrique Gomes de Moura, militantes do MST.

Na apresentação da obra, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, ressalta que o Dicionário contribui para o conhecimento sobre a multiplicidade de experiências nacionais e locais que dão vida ao conceito de Agroecologia. “Resultado de um esforço coordenado, não se trata de uma simples reunião de temas, mas de um projeto integrado baseado em amplo diálogo que envolveu a produção coletiva da obra. O próprio processo de sua construção foi orientado pela perspectiva de se construir conjuntamente uma Pedagogia da Agroecologia”, afirma.

CONSTRUÇÃO DO LIVRO: O dicionário reuniu uma série de estudiosos e militantes da área, que contribuíram no processo de concepção e elaboração dos verbetes. 

Desde o início, eles propuseram a construção de eixos fundamentais, temas e verbetes que pudessem delinear um breve histórico dos conceitos relacionados à Agroecologia. “A obra está direcionada à educação de cada educador e educadora que não está responsável, somente, pela educação de novas gerações, mas também por sua autoeducação. Se somos produtos de um tempo histórico, também podemos transformar a forma como esse mundo é”, aponta Anakeila.

Na visão de Alexandre Pessoa, a experiência de construção coletiva do dicionário é fruto da convergência de movimentos sociais do campo, da floresta, das águas, das periferias e comunidades urbanas, sujeitos políticos e pedagógicos que lutam pela promoção da saúde e da vida e pela emancipação social. 

“Diante da grave crise ecológica e de destino, a agroecologia, enquanto processo que envolve ciência, trabalho camponês e movimento popular, se apresenta com uma emergência, uma vez que precisamos, com urgência, superar as relações de exploração, opressão e destruição entre capital-trabalho e capital-natureza. Frente ao atraso das monoculturas das terras e das mentes, o dicionário é uma expressão de resistência e compromisso com o esperançar”, afirma.

Para Anakeila, o tema da Agroecologia é de suma importância, pois reúne tanto as práticas e os conhecimentos provenientes da base camponesa e de distintos povos originários, como os conhecimentos científicos diversos, as relações sociais, a busca da superação de relações de opressão e exploração, as lutas políticas e as práticas educativas pautadas em movimentos populares. 

Segundo ela, a Agroecologia coloca no centro do debate as origens, junta ciência e ancestralidade, busca romper com o socio metabolismo imposto pelo capital e contribuir na constituição de novas relações na direção da emancipação humana. 

“No que tange ao enfrentamento ao capital, ela se torna mais uma ferramenta de denúncia da perversidade da forma de produzir imposto pelo capital no campo e nas cidades, com a privatização dos bens comuns, a destruição da natureza, a concentração da terra, os pacotes tecnológicos que implementam um verdadeiro deserto verde e o consumo exacerbado de agrotóxicos”, aponta.

No entanto, a organizadora contrapõe que a Agroecologia não serve somente de denúncia, mas também de anúncio. “Anúncio da possibilidade de criação de relações mais horizontalizadas no processo de produção que se institui a partir da organização coletiva popular, na instituição de uma relação mais saudável e respeitosa com a natureza, colocando o ser humano como parte constitutiva dessa natureza e não como aquele que a domina e explora”, explica. E dessa forma, a Agroecologia se constitui, de acordo com Anakeila, como a alternativa possível para a produção de alimentos e de matérias-primas, assim como para o restabelecimento do metabolismo socioecológico. 

Na visão de Luiz Henrique, a sociedade vive em um período histórico em que as formas de exploração capitalistas do ser humano e da natureza produzem cada vez mais destruição e sofrimento. A natureza, segundo ele, é vista como inimiga e deve ser constantemente combatida. 

“O agronegócio, por exemplo, como expressão capitalista de organização da agricultura, se expõe cada vez mais como motor que movimenta e articula o desmatamento, a queimada, o envenenamento sistemático do meio ambiente e das pessoas por meio dos agrotóxicos, o consumo insano da água e a transformação de milhões de hectares em produtores de commodities, não de alimentos”, reafirma.

Nesse contexto, Luiz aponta que as forças populares têm produzido soluções concretas para as necessidades sociais e ecológicas. 

“A soberania alimentar, a agroecologia e o cuidados dos bens comuns, como a terra, a água e a biodiversidade, são bases de uma sociedade onde as pessoas e a natureza estão no centro, não o lucro. O abastecimento das famílias trabalhadoras com alimentos saudáveis – só possível a partir da realização da reforma agrária popular – é hoje um dos objetivos centrais de um projeto popular para nosso Brasil”, defende. 

E acrescenta: “O objetivo desse dicionário não é catalogar a totalidade da agroecologia. É, sim, popularizar os conceitos, as categorias e as técnicas agroecológicas que permitem justamente pensar esse novo projeto de campo e sua relação com o projeto de país”.

Segundo Maria Cristina, nos últimos anos, o MST tem intensificado a formação de educadores das escolas de educação básica em torno do tema Agroecologia, pois, na visão dela, a educação escolar pode contribuir para o fortalecimento da Agroecologia e da agricultura camponesa como modo de vida.

“Temos o grande desafio de inserir nos processos escolares conhecimentos que possam superar a forma tradicional com que é tratada a história da agricultura e a ecologia. Nesse sentido, a produção de materiais que contribuam para subsidiar os educadores e educadoras é fundamental”, aponta.

Cristina afirma que, nesse contexto, já existem outras duas obras pela Editora Expressão Popular: De onde vem nossa comida? e Agroecologia na Educação Básica. “Agora estamos com essa importante obra construída a muitas mãos. Seguimos esse caminho de dialogar com as inúmeras entidades e pessoas que integram a construção política pedagógica e científica da Agroecologia e sua interface com a educação”, disse.

“Em um momento de profunda degradação ambiental, da mercantilização da vida, da destruição dos laços e da solidariedade humana, enfim, de exacerbamento do modo de vida aniquilador produzido pelo capitalismo, trazer uma obra como essa é um oxigênio que nos fornece a práxis para a construção de outras formas de ser nesse mundo”, conclui Anak

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