PESQUISA ANALISA PLANTA DA CAATINGA QUE PODE SER BOA PARA A MEMÓRIA

A caatinga é um bioma totalmente nacional que representa cerca de 11% do território brasileiro e está presente no Nordeste e no norte de Minas Gerais. Em uma das plantas nativas desse bioma, um grupo de cientistas identificou substâncias medicinais que podem ser boas para a memória.

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Kirley Canuto, que coordena os estudos, conta que foi selecionada uma variedade de açucena [planta herbácea] encontrada em solo cearense, benéfica para várias doenças crônicas. 

O nome científico dessa espécie de planta com flor é Hippeastrum elegans. Na linguagem popular, além de açucena, também é conhecida como lírio, cebola-do-mato, cebola-berrante e flor-da-imperatriz. As mudas de açucena foram colhidas nas cidades de Pacatuba, que faz parte da Grande Fortaleza, e em Moraújo, a cerca de trezentos quilômetros da capital cearense.

Depois disso, foram cultivadas em canteiros da Embrapa. O pesquisador Kirley Canuto disse que estão sendo realizados testes farmacológicos e testes pré-clínicos.

O grupo pretende seguir com as análises para avaliar o desenvolvimento de novos fármacos que podem custar menos para o consumidor.

A pesquisa teve início em 2016 e contou com uma equipe multidisciplinar de 20 profissionais da Embrapa Agroindústria Tropical e das universidades Estadual e Federal do Ceará, além de estudantes universitários. 

Kirley Canuto disse, ainda, que "mudas de açucena estão sendo analisadas em testes pré-clínicos em roedores para avaliar os efeitos sobre a perda de memória."

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PROFESSOR JUAZEIRENSE MANTÉM VIVA A MEMÓRIA DA VIDA E OBRA DE RAUL SEIXAS

Raul Seixas faria 76 anos nesta segunda-feira, dia 28. E, mesmo que o cantor tenha morrido em 1989, as músicas dele ainda continuam fazendo sucesso.

Em Juazeiro, Bahia, Jonivaldo Fernandes de Souza, 63 anos,  conhecido por professor Vado, graduado em Geografia e Filosofia, é um pesquisador que mantém a vida e obra, memória e história musical de Raul Seixas vivas.

Atualmente ministrando aulas na Escola Estadual Chico Mendes no Assentamento Vale da Conquista (CETEP), localizado em Sobradinho, Bahia o professor Vado, é um colecionador e aponta que "são 10.076 anos do nascimento do Maluco Beleza".

"Sobre a obra de Raul Seixas desde os  15 anos de idade que acompanho a trajetória musical dele. Só que tem um porém há 35 anos que faço pesquisas e estudo a referida obra, mas no dia 21 de agosto de 1989, dia em que Raul Seixas pegou o seu disco voador e foi para o outro planeta, nós os simpatizantes do Raulzito criamos o Movimento RaulSeixista  de Juazeiro da Bahia", diz Vado, acrescentando que a idade de nascimento do ídolo Raul Seixas, coincide com a data de nascimento da filha dele, a caçula Ivis Lourenço.

Recentemente, os fãs compartilharam o hit O Dia Em Que A Terra Parou, destacando que a letra de 1977 tem tudo a ver com o atual momento de isolamento social provocado pela crise sanitária da pandemia da Covid 19. 
Raul Seixas nasceu em Salvador (Bahia), no dia 28 de junho de 1945. Foi o mais perspicaz observador moderno da sociedade brasileira. Mais do que qualquer outro artista, tornou-se a referência  e a essência do rock brasileiro. Em 1959, Raul Seixas fundou o Elvis Rock Club com o amigo Waldir Serrão. E, mesmo famoso, Raul continuou mostrando admiração pelo ídolo americano.

Na adolescência, Raul integrou a banda Os Relâmpagos do Rock que, posteriormente, foi batizada como The Panthers. O disco de estreia do cantor foi Raulzito e os Panteras (1968). O trabalho veio antes da carreira solo, quando ele ainda integrava o grupo Raulzito e os Panteras.

Com uma base filosófica muito forte, base essa que seria utilizada em suas letras visionárias e reflexivas, Raul Seixas, ao revelar suas influências, já começa cita um paraibano, o poeta Augusto dos Anjos: “Minha infância foi formada por, vamos dizer, um pessimismo incrível, de Augusto dos Anjos, de Kafka e Schopenhauer”, disse em entrevista ao Pasquim, na época jornal referência.

Antes de se tornar o maior nome do rock nacional de todos os tempos, Raul Seixas trabalhou como produtor em algumas gravadoras e na época, mesmo tendo apostado em grandes nomes populares, como Diana, Odair José, Jerry Adriani e outros, não deixou de pensar no conceito que pretendia usar em sua música. 

Neste “conceito”, um nome era fundamental para Raul Seixas: o do paraibano Jackson do Pandeiro, Mestre do Ritmo,  um de seus ídolos. Ao saber que Jackson do Pandeiro estava nos estúdios do Rio de Janeiro, Raul foi até ele e o convidou, e ao seu conjunto Borborema para participar da gravação de “Let me sing, let me sing”, música defendida pelo cantor baiano no VII Festival Internacional da Canção, em 1972.

Durante a década de 1970, Raul Seixas se uniu ao talento de Paulo Coelho, que hoje é mais conhecido mundialmente como escritor. A dupla compôs clássicos como Gita, Tente Outra Vez e Eu Nasci há Dez Mil Anos Atrás.

Em 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho criaram a Sociedade Alternativa. A ideia foi baseada nos preceitos do ocultista britânico Aleister Crowley, praticamente repetindo o chamado Livro da Lei. "Faça o que tu queres, pois é tudo da lei", diz um trecho da letra do hit Sociedade Alternativa, de Raul e Paulo.

A Panela do Diabo foi o último álbum de estúdio de Raul. Gravado ao lado do cantor Marcelo Nova, o disco foi lançado em 1989 e traz os hits Carpinteiro do Universo e Pastor João e a Igreja Invisível.

Raul foi encontrado morto em 1989, vítima de uma pancreatite aguda causada pelo alcoolismo. Ele tinha 44 anos.

Em 2019, o jornalista Jotabê Medeiros lançou o livro “Raul Seixas. Não Diga Que A Canção Está Perdida”, o crítico musical relata a como Raulzito, o garoto classe média de Salvador e fã de Elvis Presley, se transformou em Raul Seixas, um dos maiores ícones da cultura pop brasileira.

Jotabê Medeiros  descreve como o jovem sonhador, depois de “passar fome por dois anos na cidade maravilhosa, conquistou as gravadoras e o grande público? E como o responsável por versos que se confundem com a contracultura dos anos 1970 foi derrotado pelas drogas e pelo alcoolismo na década seguinte, mas sem deixar de produzir hits inesquecíveis. 

O “maluco beleza” Raul Seixas não é apenas uma das maiores referências da música brasileira e o maior nome do rock nacional, tendo antecipado a fusão do rock´n´roll com os ritmos nordestinos dezenas de anos antes do surgimento do Movimento Mangue Beat. Também é autor de hits clássicos, como “Ouro de tolo”, de parcerias memoráveis e polêmicas, como a com Paulo Coelho, e compositor de diversos sucessos que ainda hoje fazem a cabeça dos apaixonados pela música brega. 

O livro “Raul Seixas: Não diga que a canção está perdida” (Todavia, 2019), de Jotabê Medeiros, narra toda essa trajetória do criador da “Sociedade Alternativa”.
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PIAUÍ É UM DOS MAIORES PRODUTORES DE MEL DE ABELHA NO BRASIL

No primeiro bimestre de 2021, o Piauí comercializou 2.285 toneladas de mel,  arrecadando pouco mais de US$ 9,8 milhões. Um crescimento de 112,4% das exportações do mel brasileiro comparado com o mesmo período do ano passado.

O volume representa 31,7% do total do mel exportado do Brasil. Os dados são da a Agrotast (ferramenta que reúne números de exportação e importação de produtos agropecuários ) e confirmados pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-PI).

Em 2020, o Estado foi observado como o segundo maior produtor de mel do país, ficando atrás apenas de Santa Catarina e os Estados Unidos continua sendo o principal destino para o mel piauiense, com 70% do volume exportado. Em seguida, estão a Alemanha, Canadá, Países Baixos, Reino Unido e Panamá.

Os municípios piauienses que mais produzem mel são Picos, Pio IX, Itainópolis e Campo Grande do Piauí.

O Superintendente Francisco das Chagas Ribeiro, coordenador do Projeto Viva o Semiárido no Piauí (PVSA), executado por meio de parceria entre o Governo do Estado e o Fundo Interamericano de Desenvolvimento Rural (FIDA), explica que este crescimento, principalmente da comercialização, acontece sempre no primeiro semestre do ano, no período das chuvas, quando a floradas estão mais intensas no semiárido.

“Produção e exportação também se destacam e este ano  a produção está bem consolidada, aumentou consideravelmente e pode ser que continue até o fim do ano”, diz Francisco das Chagas.

Para o gestor, a conquista do Piauí do primeiro lugar em exportação do produto em nível nacional tem grande  contribuição da Secretaria de Agricultura Familiar e dos agricultores familiares que são acompanhados pela SAF.

Segundo Ribeiro, só pelo PVSA foram executados 40 projetos de apicultura e investidos 12,5 milhões de reais na região do semiárido;  foram realizados  8 cursos de apicultura para jovens e formação com apoio da Secretaria do Trabalho (SETRE), bem como  realizados cursos de aperfeiçoamento  para apicultores tradicionais. Também foram construídas ou  reformadas 39 casas de mel que facilitam a entrega para entrepostos de grande porte como a Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (COMAPI), em Simplício Mendes  e Casa Apis em Picos, que representam mais de 50% do mel do Piauí. A maioria é orgânico, certificado e com exportação para Europa e EUA.

O Coordenador do Projeto Viva o Semiárido cita como exemplo um beneficiário da comunidade Morro de Dentro, que recebeu do PVSA, caixas, casa de mel e equipamentos de produção. Na comunidade já havia apicultura, com uma produção média de 3,3 toneladas por ano e em 2020 a produção aumentou para 20 toneladas, a partir das ações do PVSA foram introduzidas novas caixas, aumentando o número de colmeias e técnicas de manejo  aumentando a produtividade.

No norte do Estado, a apicultura tem crescido bastante, com destaque para a Codevarpi, do Vale do rio Piracuruca, Associação de Apicultores, de Domingos Mourão e Apicam, de Campo Maior, os três  têm projetos de apicultura pelo Progere ( Programa de Geração de Emprego e Renda) executado pela SAF.

“Estamos comemorando e parabenizando todos os  apicultores e a expectativa é que possamos manter esta liderança no segundo semestre, contribuindo para o aumento da  produção e consumo deste alimento saudável que é o mel e que cresceu durante a pandemia pelas suas características nutritivas, já que é bom para fortalecer o sistema imunológico e respiratório e é um antibiótico natural”.

O mel também  tem seu valor nutritivo, pois contém açucares como a frutose, levulose , sem a sacarose, considerado um açúcar mais nocivo à saúde. O produto que é rico em vitaminas e sais minerais, teve aumento no seu consumo no mundo no inteiro, inclusive, no Brasil, mesmo que em menor proporção, isso fez com que o preço do mel elevasse no mercado e ajudou a favorecer a venda e com dólar em alta, a maioria vende por R$15 reais o quilograma. “A maioria fazendo um excelente negócio na comercialização do seu mel”, concluiu Ribeiro.


Na análise do gerente de vendas da COMAPI, Antônio Carlos, o clima e as quantidade de chuvas foram fatores diferenciados e que ocasionaram uma safra incomum na  região. De outubro a dezembro, a Comapi chegou a receber quase 100 toneladas de mel, número considerado muito alto para este período, inclusive, antecipando a safra de 2020.

Os município de Simplício Mendes, São João e São Raimundo Nonato têm uma produção muito forte de mel e  empresas do sul e do sudeste do país sempre compram na região. “Mas este resultado é porque este mel começou a ficar mais no Piauí e a ser exportado pelo Estado pela Comapi, Casa Apis, Wenzel em Picos e Samuel de Oeiras. Outro fato importante, segundo o gerente da Comapi, são parcerias que apoiam as associações e cooperativas, como o Sebrae e o Estado por meio da SAF/PVSA.

José Manoel Oliveira, coordenador do PVSA do Território do Vale do Guaribas, além de citar a melhoria das condições climáticas, frisa que o destaque do Piauí é fruto de um trabalho organizado coordenado pela Secretaria de Agricultura familiar, com apoio do Emater, Sebrae e Câmaras Setoriais e da grande contribuição  dos agricultores e agricultoras familiares. “Através das suas associações de pequenos produtores e produtoras e de apicultores e apicultoras têm feito um excelente trabalho como a Cooperativa de Simplício Mendes e a Casa Apis.

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O PAÍS TEM CAPACIDADE DE PRODUZIR E ALIMENTAR. NINGUÉM PRECISA PASSAR FOME NO BRASIL, AFIRMA ENGENHEIRA AGRÔNOMA CANDIDA BEATRIZ

Dá para perceber a animação da Natalina dos Santos de longe. Ela chega sorrindo, com um turbante vermelho combinando com a blusa. Natalina podia ter esperado em casa pelos alimentos entregues à população da pequena cidade localizada no sertão do Rio São Francisco.

Por ela morar em uma comunidade ribeirinha, distante do centro de Pilão Arcado (BA), os alimentos do PAA são enviados pela prefeitura até sua casa. Mas como Natalina estava ansiosa, acabou encontrando os funcionários da prefeitura na casa da vizinha. “Eu moro ali, minha filha, naquele barraquinho, você bota aí que moro sozinha, só eu e Deus”, diz Natalina.

PAA é a sigla para Programa de Aquisição de Alimentos, um programa criado em 2003, no qual o governo compra alimentos de agricultura familiar local e os entrega às pessoas em situação de insegurança alimentar.

Natalina é uma das 116,8 milhões de pessoas no Brasil que convivem com algum grau de insegurança alimentar. A falta de disponibilidade e o acesso aos alimentos atingiu em 2020, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil, metade da população brasileira (55,2%). Desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave) e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome (insegurança alimentar grave).

A pesquisa, realizada em dezembro de 2020, mostrou que pessoas como Natalina - mulheres, negras, entre 50 a 64 anos, sem escolaridade, moradoras das regiões Norte e Nordeste do país e da área rural - têm mais chance de terem insegurança alimentar grave.

No Norte, 18,1% da população passa por essa situação e no Nordeste, 13,8%. Comparando com o Sul e Sudeste, as regiões Norte e Nordeste tiveram o triplo e o dobro de número de domicílios expostos à insegurança alimentar grave respectivamente.

A precarização das relações de trabalho e o aumento do desemprego também colaboram para o aumento da fome. A fome no país foi quatro vezes superior entre as pessoas com trabalho informal e seis vezes superior entre as pessoas desempregadas.

O momento emergencial fez com que mais de 800 organizações da sociedade civil apresentassem ao Governo Federal uma proposta para o fortalecimento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O governo respondeu à pressão social e liberou R$ 500 milhões para o PAA emergencial.

O agricultor Joelson Nascimento, 28, ficou sabendo que o PAA emergencial estava liberado para Pilão Arcado um dia antes de fechar o prazo de inscrição no programa. "Falaram que não tinham agricultores cadastrados e que não tinham produtos [no município]'', disse Joelson.

Por ser técnico agrícola e integrante da Associação de Técnicos em Agropecuária e Apoiadores da Agricultura da Bahia, ele estranhou a informação que deixaria a cidade baiana de fora do PAA. Afinal, o que não falta na cidade são agricultores. Pilão Arcado tem 35 mil habitantes. Aproximadamente 80% da população vive na área rural e cerca de 70% dos moradores da área rural vivem da agricultura. Apesar disso, o município tem um índice alto de insegurança alimentar. Joelson garantia: usando a produção local para alimentar quem tinha fome, daria para atender a cidade e ainda sobrava. Parecia só uma questão de falta de comunicação, então, ele mesmo resolveu o problema:

''Tive que cadastrar 21 agricultores em 24 horas. Peguei todo o processo, me responsabilizei, fiquei por minha conta'', diz Joelson.

Feito o cadastro dos agricultores, foram disponibilizados R$ 90 mil para o PAA, no município, para serem gastos entre janeiro e junho de 2021. Mas como é a primeira vez do programa em Pilão Arcado, esse processo não foi tão simples, explicou Sineide Soares, 35, assistente social da prefeitura há 11 anos. A primeira compra acabou sendo realizada só em abril e 120 pessoas foram beneficiadas.

Em abril deste ano, na primeira etapa do PAA, em Pilão Arcado, foram distribuídos 1,5 tonelada de alimentos. Para que o dinheiro do programa, destinado ao município baiano, fosse usado completamente até junho, seria preciso comprar aproximadamente 19 toneladas de alimentos dos agricultores na segunda etapa realizada na última semana de maio.

Como era o dia anterior da coleta com os agricultores, o celular da professora universitária e engenheira agrônoma Cândida Lima, 34, não parava de tocar. Ela fazia o levantamento de alimentos produzidos torcendo para chegar ao maior número possível para conseguir utilizar todo o valor obtido.

 '' [Na primeira etapa], eu pensei: 'gente, não acredito, eu tô vivendo um sonho, para tudo, o que é isso?'. A gente de fato se surpreendeu com o quanto os agricultores se dedicaram nesse processo, o quanto eles estão preparados para uma demanda muito maior. A gente limitou porque a gente tinha receio na questão da verba que tinha disponível, mas isso foi uma falta de experiência da gente'.

Rosinaldo Viana, 39, é um dos agricultores que fez a venda de alimentos para o PAA de Pilão Arcado. Quando ele tinha cinco anos, a família mudou para São Paulo para tentar uma vida melhor. "Fomos como retirantes. Meu pai participou de uma invasão e pegamos um lote. Era favela mesmo, em Diadema. Não fomos felizes, sofria muito bullying, 'paraíba, nordestino', essas coisas."

Em São Paulo, Rosinaldo trabalhou na indústria metalúrgica por 12 anos, "mas teve uma hora que eu falei: 'tenho que retornar'. Lá em São Paulo a gente está dentro da gaiola, aqui tinha liberdade."

Quando voltou para Pilão Arcado, em 2011, o agricultor desenvolveu um sistema de captação de água para conseguir produzir alimentos durante o ano todo. 

"Eu via o sofrimento da minha mãe com a bacia na cabeça.". Poucos agricultores em Pilão Arcado conseguem captar a água de um poço para a produção. A maioria produz em estruturas sazonais, em uma época do ano específica — de novembro a abril — conhecido por eles como inverno por ser o período da chuva. Pelo principal bioma de Pilão Arcado ser a caatinga, o município do semiárido nordestino é afetado por secas extremas e períodos de estiagem.

Rosinaldo acredita que o levantamento de alimentos feito pelo PAA foi importante para mostrar para a prefeitura a força dos agricultores de Pilão Arcado.

A maioria dos produtos [alimentos consumidos no município] vem de Juazeiro, Petrolina, mas poderia vir daqui. A secretaria de agricultura poderia mobilizar e fazer um mapeamento, quem são esses produtores? O primeiro ano do programa é esse, agora cabe ao poder público continuar e botar ele pra funcionar, não só o PAA, mas fazer um espaço pro próprio pessoal da cidade tá comprando dos produtores daqui também.

Os produtos dos agricultores inscritos no PAA são levados pela prefeitura para o Ginásio de Esporte no mesmo dia. Lá, a equipe da assistência social organiza as filas para distribuição.

Luciana Lino dos Santos, 40, aguarda a sua vez na fila com duas amigas. Ela trabalha na limpeza do Mercado Municipal de Pilão Arcado e mora próximo ao centro do município com seus dois filhos e uma amiga.

"É caro pra gente comprar esses alimentos. Quando eu recebo [meu salário], eu compro o que precisa para uma alimentação saudável pras crianças. Aí, na semana seguinte, a gente já não tem [dinheiro]. O pagamento só sai dia 10, então daqui [27 de maio] até lá [10 de junho], eu como o mínimo possível".

Evitar situações extremas como a de Luciana é a meta do PAA. Foram 480 famílias que receberam os alimentos da agricultura familiar na segunda entrega do PAA emergencial em Pilão Arcado. Quando a distribuição para as famílias é finalizada, Cândida e Sineide se reúnem para fazer a checagem da quantidade dos alimentos distribuídos.

Nas duas compras, feitas em abril e maio, foram 12 toneladas de alimentos distribuídos e foi gasto a metade do valor disponibilizado para Pilão Arcado, R$ 45.810,66 -- o que preocupava Cândida e Sineide.

Mas Rose Pondé -- a Superintendente de Inclusão e Segurança Alimentar da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos da Bahia --, informou que o prazo do PAA foi prorrogado. Pilão Arcado e outros municípios que não concluíram as compras do PAA emergencial estão autorizados a finalizar a compra até novembro.

"Produção a gente tem, trabalhador rural a gente tem, esse projeto é um empurrão para que a gente consiga chegar nessa meta, para que a agricultura familiar do município não seja um paliativo, para que ela seja a sustentação", diz Cândida Lima. O programa serviu para mostrar à cidade a força de seus produtores rurais. E ele deve continuar:

"A gente está finalizando o PAA emergencial, mas trabalhamos para a implementação do PAA contínuo. Eu acredito que o PAA contínuo vai trazer a possibilidade de trabalho para 1.000 agricultores, essa é minha perspectiva a longo prazo", diz Cândida.

Rose Pondé explicou que por Pilão Arcado ter um nível alto de insegurança alimentar, a perspectiva é dar continuidade ao PAA no município: "A gente vai manter no nosso cadastro como um município que necessita ter a continuidade do PAA, aí vai depender muito da liberação do orçamento para o ministério supervisor, que é o Ministério da Cidadania".

A superintendente acredita que o PAA é fundamental para reduzir a fome no Brasil: "É onde conseguimos chegar com alimento mais rápido, de forma mais justa, mais sustentável e mais adequada à realidade de cada região".

Cândida lembra que Pilão Arcado é só um exemplo do que poderia acontecer no país todo. "Em alguns municípios, o PAA não foi implementado antes porque a administração municipal simplesmente não se interessou. O nosso país tem capacidade de produzir e alimentar gente sem precisar de outros lugares. Ninguém precisa passar fome no Brasil"

GABRIELE ROZA (DATA_LABE). Foto: Clara Castel. Essa reportagem faz parte da série de publicações produzidas como resultado do programa Laboratório de Jornalismo de Soluções, da Fundação Gabo e da Solutions Journalism Network, com o apoio da Tinker Foundation, instituições que promovem o jornalismo de soluções na América Latina.

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O ROSTO DE LUIZ GONZAGA EM SEU BUSTO ENCOBERTO POR UMA MÁSCARA, PARECE VERTER LÁGRIMAS, ESCREVE JORNALISTA MAGNO MARTINS

Rumo ao Sertão, dei uma entradinha, há pouco, em Caruaru. Saí de coração dilacerado. Em pleno São João, festa curtida por milhares de turistas, bati de frente com um cenário de cidade fantasma. Comércio fechado, ruas desertas. O rosto de Luiz Gonzaga em seu busto encoberto por uma máscara, parecia verter lágrimas. A única lembrança do dia junino, antes fervilhante, estava nas estações de rádio tocando forrós saudosos.

Minha alma sentiu a profunda dor do trauma, da minha tristeza. Também pudera, fui presença assídua, todos os anos, no São João de Caruaru, uma das minhas cidades paixões. Sou, com orgulho e vaidade, Cidadão Honorário da terra de Vitalino. 

Bateu uma saudade da alegria contagiante de Caruaru, da sua gente hospitaleira quando se abre a cortina dos 30 dias de festejos juninos. O São João está para Caruaru como o Carnaval para o sobe e desce das ladeiras de Olinda. Saudade de cruzar com aquela multidão saltitante no Pátio do Forró, do barulho de todos os ritmos que saiam dos principais palcos ou até mesmo do forró pé de serra numa simples barraquinha.

A pandemia jogou uma nuvem de tristeza no País de Caruaru, vestiu o colorido das bandeirinhas do preto enlutado. Que Deus compreenda a nossa súplica, mas Caruaru não pode prescindir do seu São João. Tira a alma da cidade, o meio de vida de muita gente. Adormece a alegria, mata a razão de muita gente esperar o ano inteiro pelo 23 de junho.

Nunca imaginei que viesse um dia, em pleno São João, compartilhar tristeza com minha gente de Caruaru quando vivi alegria a vida inteira. Uma cidade que viveu a alegria da sua grande festa, por tantos e tantos anos, nunca reconhecerá a tristeza. 

Sai de Caruaru com o sentimento de que, se meus olhos mostrassem a minha alma, neste momento todos, ao me verem sorrir, chorariam comigo.

*Jornalista Magno Martins

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FESTEJO JUNINO MANTÉM TRADIÇÃO COM LIVES

A época mais "quente" do ano nordestino chegou e a lembrança mais viva é das grandes fogueiras de arder o rosto, as ruas repletas de bandeirolas vermelhas e amarelas e a variedade de comidas derivadas do milho – de fato tem para todos os gostos. No entanto, o atual cenário pandêmico tem impossibilitado a realização da tradicional festa junina.

Ano passado, a festa foi cancelada na esperança que o momento fosse passageiro, logo tudo voltaria ao "normal". Este ano, com apoio de tecnologias e recursos que fazem parte da realidade há um bom tempo, surgiram os movimentos das lives e outros produtos do audiovisual como forma de incentivar as produções artísticas culturais. O que parecia ser um experimento caiu no gosto popular como um dos principais meios de difusão cultural.

 Eventos como as quadrilhas juninas, conhecidas pela riqueza em detalhes e história, aderiram ao formato digital e prometem dar ao público uma prova da saudade que é comum a todos. O evento é realizado tradicionalmente durante todo o mês de junho, mas a corrida começa muito antes disso. Levando um período de seis meses da organização até estarem prontos, as juninas passam por algumas fases. Cássio Costa, que tem uma extensa trajetória como quadrilheiro, conta que "tudo começa pelo tema e, a partir disso, inicia a construção do figurino, das coreografias de entrada e saída, do cenário".

Para que o trabalho dos quadrilheiros continue, a comissão organizadora de cada quadrilha busca apoio financeiro e patrocínios. Cássio explica que, apesar do poder publico destinar parte do recurso, ainda assim não é o suficiente para suprir todas as necessidades da produção do evento. Geralmente, cada comissão promove meios de arrecadação, como por exemplo, a realização de pedágios. E assim, o produto final carrega todo o encanto e a representação de uma cultura viva e vibrante como pontua Jackson Alves, que atualmente faz parte da coordenação da Junina Encanto. "A Junina é realmente a raiz do povo pernambucano, do povo nordestino, porque sempre traz uma temática referente a algo da sua cidade, ou a gente conta uma história também, como se escrevesse um livro", esclarece.

Movidos pelo amor ao festejo, as quadrilhas juninas do vale do são Francisco criaram o Movimento Junino do Vale São Francisco (MOJUVASF). "Vamos realizar a live no dia 29 de junho, dia de São Pedro, na qual cada quadrilha terá dez minutos pra se apresentar. Terão casais reduzidos, visto que não tá podendo fazer aglomerações", conta Cassio. Além de live, as postagens de vídeos curtos nos sites de redes sociais - como a página do Instagram @mojuvasf - ganharam força no sentido de levar para tela um pedaço do São João.

Quem também aderiu ao movimento das transmissões ao vivo foi o bom e requisitado forró, que faz parte do dia a dia, mas, nessa época, é o combustível para o povo nordestino. 

Nascido em Remanso, o sanfoneiro Márcio Passos é um dos artistas a utilizar as lives para poder estar mais perto do seu público e levar as músicas que os enche de lembranças. Aos 42 anos, Márcio conta com uma longa trajetória no universo musical, começou na sanfona aos 11 anos e, desde então, nunca mais parou. 

De São Paulo à Remanso, o sanfoneiro sempre esteve nos palcos levando a alegria e a cultura de sua terra por onde passava, não é à toa que alega ter saudades do contato direto com as pessoas. Também compartilha um projeto com seu parceiro Lucílio Viana, disponíveis nas redes sociais da dupla (@marciopassos_e_lucilioviana). Apesar de sentir saudades das apresentações presenciais, Marcio reconhece a importância de ter as plataformas como meio de se conectar aos fãs, mas pontua que não vê a hora de retornar aos palcos.

Para a festa junina ficar completa, não pode faltar o "de cumê. A infinidade de comidas típicas dessa época é sempre de encher os olhos e, claro, a barriga! Do bolo de milho à paçoquita a mesa de casa está sempre cheia de gostosura para toda família.

Mas um ponto forte do comércio junino também se encontra na produção de licor artesanal. Contando com uma cartela de variedade nos sabores, os licores têm feito parte da tradição junina utilizando-se na culinária ou simplesmente a bebida do período. Licores de frutas, ervas e essências fazem o gosto do público nessa época, ainda mais pelo fato de combinarem muito bem com o clima da temporada.

Com o cancelamento das festas mais tradicionais do período, o setor reduziu a produção, ainda mais pelo aumento dos preços das matérias primas. No entanto, novamente a divulgação e comercialização nos sites de redes sociais têm ajudado os pequenos empreendedores com as vendas e divulgação de seus produtos. Segundo a juazeirense Luciana Carvalho, empreendedora autônoma na produção de licor há três anos, a produção tem se mantido "através de encomendas, divulgações e indicações de pessoas próximas". Além da produção avulsa, Luciana tem investido na distribuição para outros vendedores.

Personagens como Cássio, Jackson, Márcio e Luciana são os mesmo que constroem esse momento, que o idealizam e o executam. Mesmo em um momento tenso sobre o qual todos estão vivendo, eles e muitos outros têm feito com que o legado do São João não seja apagado e mais, estão proporcionando ao público um momento de afago nesse período. 

Assim como Jackson afirmou ao definir o trabalho das juninas como "uma engrenagem onde todo mundo tem seu papel", o São João partilha dessa mesma característica. É um trabalho em equipe onde cada personagem desempenha seu papel a fim de manter acesa chama da imensa fogueira. Então, se prepara, porque vai ter arraiá!

Reportagem de Jéssica Cardoso e Wellington Martins para Agência Multiciência.

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ÍNDIOS SÃO ATACADOS DURANTE MANIFESTAÇÃO EM BRASILIA

A repressão violenta da PM ao protesto pacifico de indígenas, no final da manhã de hoje (22), nos arredores da Câmara, em Brasília, deixou três pessoas feridas e outras dez passando mal, em virtude do gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha. 

Um jovem de 26 anos, do povo Sapará, de Roraima, foi atingido por balas de borracha no torso e bombas de efeito moral nas costas. Chegou a ser hospitalizado no Hospital de Base de Brasília. 

Segundo exames, não tem lesões internas mais graves. De acordo com o último informe médico, está com contratura muscular, muitas dores e vista embaçada. Foi liberado e agora está sob cuidados médicos no Acampamento Levante pela Terra (ALT), mobilização indígena instalada ao lado do Teatro Nacional, há três semanas.  

Uma senhora do povo Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, foi atingida por estilhaços de bomba, tendo desmaiado durante o ataque. Ela foi resgatada pelo serviço médico móvel de urgência e foi atendida no local. No momento se encontra bem, sem maiores complicações e sem demanda de observação médica. 

O terceiro ferido, do povo Xokleng, da Região Sul, foi atingido pelo impacto de uma bomba de efeito moral, tendo sido muito exposto ao gás lacrimogêneo. Chegou ao acampamento com muita dor de cabeça e sangramento nasal. Foi atendido e, no momento, também encontra-se bem. 

Outras 10 pessoas que participavam do protesto no momento do ataque apresentaram irritações nas vias aéreas, com dificuldades para respirar, em virtude do gás lacrimogêneo. Todos foram atendidos no acampamento e agora também se encontram em bom estado. 

Segundo o relato dos atingidos, foi difícil se defender durante o ataque da polícia, pois não sabiam de onde vinham as bombas, e por isso, não tiveram condições de se abrigarem de forma segura durante o ataque. 

ATAQUE: Os indígenas protestavam pacificamente, no estacionamento do Anexo 2 da Câmara, contra a votação do Projeto de Lei (PL) 490/2007, quando foram reprimidos de forma violenta pela PM, com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral. Crianças e idosos estavam entre os manifestantes. 

Eles vieram em marcha pacífica pela Esplanada dos Ministérios. Em seguida, foram atacados, a partir de uma  barricada montada pelo Batalhão de Choque, na entrada do Anexo 2. Não houve nenhuma ação ou incidente da parte dos indígenas que justificasse a reação violenta. Segundo informações, estavam no local equipes das polícias Legislativa, Militar e Batalhão de Choque, com forte aparato de repressão, inclusive um ‘caveirão’ (carro blindado da Tropa de Choque) e cavalaria. 

A marcha indígena faz parte do ALT, que está instalado ao lado do Teatro Nacional, há três semanas. Os cerca de 850 indígenas que participam da mobilização, de 48 povos diferentes de todas as regiões do Brasil, foram ao local para acompanhar a votação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. 

O PL 490 é uma bandeira ruralista e bolsonarista e, se aprovado, na prática vai inviabilizar as demarcações, permitir a anulação de Terras Indígenas e escancará-las a empreendimentos predatórios, como garimpo, estradas e grandes hidrelétricas. De acordo com organizações indígenas e indigenistas, a proposta é inconstitucional.

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