MEIO AMBIENTE: IGAM INTENSIFICA MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA NA BACIA DO RIO PARAOPEBA

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) intensificou o seu monitoramento da qualidade da água bruta do Rio Paraopeba e determinou à empresa Vale que também reforce suas análises. A orientação à empresa é para ampliação imediata, com a avaliação sendo feita de forma diária em três novos pontos do Paraopeba próximo à confluência com o Rio São Francisco, no reservatório de Três Marias, na Região Central do Estado.

Os três novos pontos a serem monitorados pela mineradora diariamente estão localizados no Rio Paraopeba, no braço do reservatório, a montante da confluência do Ribeirão do Peixe; no Rio Paraopeba, no braço do reservatório, a jusante da confluência do Ribeirão do Peixe; e dentro do reservatório de Três Marias, a jusante do encontro dos rios Paraopeba e São Francisco.

Desde o início de novembro, com a chegada do período chuvoso, o Igam intensificou o acompanhamento sistemático dos resultados do monitoramento da qualidade da água da sua rede própria, incluindo a região do reservatório de Três Marias. O trabalho visa veri?car quaisquer anomalias que possam indicar, na água, a presença de partículas do rejeito, provenientes do rompimento da barragem B1, em Brumadinho.

No período chuvoso 2019-2020 (dezembro e janeiro) foram observados períodos prolongados de anomalias positivas de precipitação, o que contribuiu com os acumulados expressivos de chuva na bacia do rio Paraopeba. Os resultados, medidos pelo Igam, mostraram um momentâneo aumento das concentrações de turbidez e manganês no Rio Paraopeba, a jusante da Usina Hidrelétrica (UHE) Retiro Baixo e no braço de entrada do Rio Paraopeba no reservatório de Três Marias. As alterações não apresentam limites que levem à necessidade de suspensão dos usos.

No trecho a jusante da UHE Retiro Baixo, o resultado da turbidez foi de 322 NTU. O limite legal para o parâmetro de turbidez é 100 NTU para cursos d’água de classe 2, como é classificado o Paraopeba. Para o parâmetro manganês, o resultado máximo encontrado nas últimas medições do Igam, a jusante da UHE, foi de 0,54 mg/L.

Dentro do reservatório de Três Marias, os valores foram bem inferiores ao limite legal (100 NTU), sendo o último valor registrado no mês de Janeiro igual a 9,4 NTU no braço do Rio Paraopeba que entra no reservatório. Para o parâmetro manganês, o resultado máximo encontrado nas últimas medições do Igam, na entrada reservatório, foi de 0,03 mg/L. O limite para classe 2 é de 0,1 mg/l. No entanto, os dados do monitoramento diário realizado pela empresa, medidos no dia 07/02, mostraram um resultado de 0,12 mg/L, valor compatível ao que era observado pelo Igam antes do desastre neste trecho (0,71 mg/L).

No trecho entre a Usina de Retiro Baixo até a Represa de Três Marias há 63 usuários de água regularizados pelo Igam: são 13 de captação subterrânea e 40 de captação superficial, sendo que entre estes últimos, 39 são de uso insignificante, ou seja, de pequenos usos.

O Igam reforça que continua mantida a recomendação de suspensão dos usos da água bruta do Rio Paraopeba no trecho que abrange os municípios de Brumadinho até Pompéu (aproximadamente 250 km de distância do rompimento). Não há indicação de suspensão fora deste trecho. (Fonte: Igam)
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ASSOCIAÇÃO DE MEDICINA ALERTA MOTORISTAS SOBRE RISCOS NO TRÂNSITO DURANTE O CARNAVAL

Quem vai pegar a estrada para aproveitar a folia deve manter a atenção redobrada no trânsito durante o período de carnaval. O alerta é da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet). Um levantamento feito pela instituição mostra que, em dez anos, mais de 58 mil pessoas se envolveram em acidentes de trânsito nas rodovias do país.

Entre 2010 e 2019, ocorreram 26.438 acidentes, com o envolvimento de 58.706 pessoas, uma média de 2,2 vítimas por registro. Segundo a Abramet, o levantamento, feito a partir do cruzamento de registros da Polícia Rodoviária Federal (PRF), visa a alertar os motoristas a respeito dos riscos da falta de atenção e desobediência às normas de trânsito.

Em 2010, foram feitas 3.338 ocorrências desse tipo. Nove anos depois, o número baixou para 1.181. De acordo com a associação, apesar de o número de acidentes no período ter diminuído quase três vezes, os registros ainda são altos no carnaval.

“Do total de casos, a série histórica – de 2010 a 2019 – revela que 19.117 pessoas sofreram ferimentos leves ou graves e 1.411 morreram em decorrência da imprudência no trânsito. Somente em 2019, os dias de folia – de 1 a 6 de fevereiro – registraram 2.945 pessoas acidentadas. Desse grupo, 1.567 vítimas sofreram danos físicos ou perderam a vida, informou a Abramet.

Para a associação, durante o período de carnaval, a atenção tem que ser redobrada devido aos riscos de acidentes envolvendo pessoas que consumiram álcool. A mistura de álcool e direção é um dos temas prioritários da associação, que auxiliou com estudos na implementação da Lei Seca para os motoristas brasileiros.

“Ao longo dos últimos dez anos, aconteceram 1.506 episódios envolvendo motoristas sob efeito de álcool, que – como consequência – repercutiram em 3.292 vítimas. Desse total, 1.445 sofreram lesões corporais, em diferentes níveis, e 92 morreram. Em 2019, foram 149 vítimas com ferimentos e cinco mortes”, informou a Abramet.

Nos casos em que o motorista é pego por dirigir alcoolizado, a legislação de trânsito determina a aplicação de multa de R$ 2.934,70. Além disso, a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) será recolhida e outro condutor habilitado terá que retirar o carro do local.

Se o teor de álcool ficar entre 0,05 mg/l e 0,33 mg/l, o motorista responderá administrativamente. Se for maior do que 0,34 mg/l, ele deve ser levado imediatamente a uma delegacia e responderá também por crime de trânsito, cuja pena é de seis meses a três anos.

Além do alerta, a associação recomenda que os condutores estejam em boas condições físicas e mentais antes de pegar a estrada e façam uma revisão do veículo. O planejamento da viagem também é um fator importante para tornar o deslocamento mais seguro, evitando riscos.

Para auxiliar os motoristas, a Abramet elaborou uma lista com dez itens essenciais para condutores, passageiros e pedestres.

1. Confira se está tudo em ordem com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e cumpra sempre as restrições e observações descritas no seu documento;

2. Verifique se não há objetos soltos no interior do veículo e se tudo está devidamente acomodado, sem excesso de pessoas ou bagagens;

3. As bagagens deverão sempre ser acomodadas no porta-malas;

4. É fundamental que as crianças com até 10 anos de idade estejam acomodadas no banco traseiro do veículo e utilizando equipamentos de segurança apropriados para cada fase do seu desenvolvimento;

5. O motorista e os passageiros devem sempre estar usando o cinto tipo três pontos, inclusive no banco de trás;

6. Se for dirigir, não pegue a estrada com sono. Procure descansar antes da viagem dormindo pelo menos oito horas;

7. Interrompa a viagem periodicamente para descanso e exercícios, sobretudo em grandes deslocamentos. Longos períodos ao volante reduzem a eficiência do motorista e representam risco de acidentes devido à fadiga. O cansaço predispõe o motorista ao acidente;

8. Alguns medicamentos são capazes de apresentar efeitos colaterais, produzindo sono, torpor e reduzindo reflexos. Durante a condução de um veículo, ao usar um medicamento, tenha pleno conhecimento dos possíveis efeitos colaterais e efeitos adversos.

9. O uso do álcool é absolutamente condenado para quem vai dirigir. É necessário estar em pleno gozo das capacidades físicas e mentais. Mesmo uma dose pode comprometer esse estado de lucidez.

10. O uso de celular na direção de um veículo é proibido. A distração ocasionada pela utilização de aparelhos celulares é uma das principais causas de mortes no Brasil. (Agencia Brasil)



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BAHIA VAI SEDIAR O I CONGRESSO NORDESTINO DE PRODUÇÃO ORGÂNICO ENTRE OS DIAS 27 A 31 DE JULHO

O I Congresso Nordestino de Produção Orgânica acontecerá em Salvador entre 27 e 31 de julho de 2020. O objetivo é contribuir para formular, discutir e refletir acerca de questões técnico-científicos, culturais, sociais, econômicas e ambientais relacionadas a formação e gestão de conhecimentos em produção orgânica, que cooperem para a inserção deste tema na pesquisa, no ensino, na formação e extensão, visando construir e consolidar o setor da produção orgânica no Nordeste.

Na programação do Congresso estão previstas conferências, simpósios, sessões temáticas, apresentações orais, pôsteres, submissão de trabalhos técnicos, minicursos técnicos, relatos de casos de sucesso, teias de aprendizagem, estandes para rodada de negócios, feira de alimentos orgânicos, visitas técnicas e momentos culturais. 

O mercado brasileiro de orgânicos faturou em 2018 R$ 4 bilhões, resultado 20% maior do que o registrado em 2017, segundo o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), que reúne cerca de 60 empresas do setor (MAPA, 2019).

O Brasil é apontado na pesquisa como líder do mercado de orgânicos da América Latina. Contudo, quando se leva em consideração a extensão de terra destinada à agricultura orgânica, o país fica em terceiro lugar na região, depois da Argentina e do Uruguai, e em 12º no mundo (MAPA, 2019).

A escolha dos brasileiros pelos orgânicos é justificada com mais força pela questão da saúde (84%), e o percentual de consumo de produtos orgânicos no Brasil passou de 15% para 19%, nas pesquisas realizadas em 2017 e 2019 pela Organis.

De acordo com o estudo, o principal motivo para consumir orgânicos é a saúde para 84% dos entrevistados (ORGANIS, 2019).
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BAIÃO DE RUA: MÚSICAS DE JORGE DE ALTINHO, PETRUCIO AMORIM E HUMBERTO TEIXEIRA SÃO DESTAQUES NO CARNAVAL DE BELO HORIZONTE

Belo Horizonte, Minas Gerais terá cerca de 4,6 milhões de foliões no período oficial do carnaval 2020 que vai de 16 ao dia 26 de fevereiro de 2020. O clima de festa já toma conta de Belo Horizonte. Desfiles de blocos de rua marcam a programação.

Já circula nas redes sociais uma homenagem no Carnaval 2020, onde o Bloco Baião de Rua destaca nos ensaios composições de Jorge de Altinho, Petrucio Amorim e Humberto Teixeira, entre elas a valorização da obra deixada por Luiz Gonzaga e aos mestres que espalham a cultura do forró pelo Brasil. O desfile de Carnaval pelas ruas de Belo Horizonte é marcado pela alegria, amor e costumes nordestinos. O jovem Bloco Baião de Rua é um dos destaques na folia mineira.

O Bloco Baião de Rua ano passado fez homenagem ao centenário de Jackson do Pandeiro, considerado o Rei do Ritmo. Oficialmente o Bloco sairá na Avenida no dia 21 de fevereiro. Um dos homenageados é o Trio Xamego, cuja formação atual e composto por Dió de Araujo (zabumba e vocal), Demetrio de Araujo (Sanfona) e Felipe de Araujo (Triângulo). Dió de Araujo é o grande homenageado. Dió trabalhou anos ao lado de Dominguinhos e é hoje umas das maiores referências musicais do Brasil.


Jorge de Altinho que este ano completa 40 anos de vida artística tem uma das músicas cantadas pelo Bloco. Confidências, composta por Jorge de Altinho e Petrucio Amorim está no repertório do Bloco Carnavalesco Baião de Rua, em Belo Horizonte e quando executada "levanta os foliões num turbilhão de alegria".


Além da bateria o Bloco Baião de Rua tem Ana Vidal (Vocal), Frederico Letro (Vocal e zabumba), Julio Bretas (Sanfona), Felipe Gangan e Babu Xavier (Percussão) e Victor Latini (Triângulo).

HISTÓRIA: Jorge Assis Assunção, Jorge de Altinho. Nasceu no dia 03 de Junho. Nunca banalizou sua arte e é respeitado pela qualidade do seu trabalho. Compositor de alma cheia e grandeza humana é de Jorge de Altinho as primeiras composições gravadas pelo Trio Nordestino (Lindu, Cobrinha e Coroné), destaco "Fole de ouro", "Amor demais", "Forró quentão", Caruaru a Capital do Forró,  A separação...

Confidências é um das músicas que está no repertório do Grupo Baião de Rua, em Belo Horizonte. No início de carreira inspirou-se em Raul Seixas, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. O seu primeiro disco LP: "Jorge de Altinho - O príncipe do baião", é hoje considerado pelos pesquisadores e colecionadores uma das raridades no mercado dos especialistas e admiradores da vida e obra de Jorge de Altinho.

Ressalto sempre (balizado em mais de 30 anos de pesquisas e estudos didáticos)  que Luiz Gonzaga foi pedra angular, referência-mor do forró, mas o Rei do Baião, não trilhava sozinho. Havia por trás de si, uma constelação de compositores, músicos, além de profícuos conhecedores do seu trabalho, amigos talhados de sol, nascidos do barro vermelho, com almas tatuadas por xique-xiques e mandacarus.

Jorge de Altinho é uma dessas estrelas! Tem sua luz! Brilha inspirado no convívio dos sertões, conhecedor dos segredos e nuances da noite estrelada. Humilde e grande na sabedoria de seguir os ensinamentos e conselhos de Luiz Gonzaga e Dominguinhos.

Uma das mais belas interpretações de Jorge de Altinho é Tamanho de Paixão, onde ouvimos Luiz Gonzaga e Dominguinhos fazendo a sanfona roncar feito trovão em dia de chuva.

No livro Forró de Cabo a Rabo, o jornalista e crítico musical Ricardo Anísio, aponta Jorge de Altinho, como uma das vozes mais bonitas do reduto forrozeiro. Timbre de voz de rara beleza. Compositor de maior sensibilidade, construtor da palavra poética.

"Jorge de Altinho traduz os sons da alma. Sua obra foi feita para elevar coração, alma e espírito da humanidade'.

Tenho dito: é Jorge de Altinho um Poeta Danado e Cantador quase vidente...
"A lua não é mais a mesma
 la no céu do meu sertão
o sol chorando com seus raios 
fica procurando em vão
la no canto da parede chapéu e gibão ficou 
aquela sanfona branca que tanta gente alegrou
só a saudade doendo Luiz Gonzaga deixou...

E vejo num voar alegre de um lindo beija flor 
nas águas de um açude cheio 
e na voz de um cantador/
nas borboletas nos caminhos no arco-iris multicor/
num Riacho do Navio que de tristeza secou 
só a saudade doendo Luiz Gonzaga deixou...

Juazeiro, Assum Preto, Asa Branca e muito mais 
cantigas que fizeram um rei e um trovador da paz
gênio, mito, tua obra já te imortalizou
nos quatro cantos do Brasil o teu canto ecoou
Fostes a realidade nos olhos de um sonhador...
Pelas estradas da vida sempre semeando o amor 
mas só a saudade doendo Luiz Gonzaga deixou...
(Texto: Jornalista Ney Vital)

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MOCINHA DA PASSIRA: A PRESENÇA DA MULHER NAS CANTORIAS DE VIOLA

Em uma tarde incerta de 1953, depois de muito estranhar a chiadeira insistente no velho rádio do irmão, Maria Alexandrina da Silva, com apenas cinco anos de idade, previu: “um dia vai aparecer um rádio em que o cara vai poder ver as pessoas dentro”. 

Desde muito cedo, Maria era tomada por premonições e não anteviu apenas a popularização dos aparelhos televisivos, mas também sua própria sina: “cantar, ser a primeira mulher da viola do mundo”. Uma visão que começou a tomar forma aos 12 anos, no sítio em Várzea de Passira, quando ganhou do pai o primeiro instrumento e desembestou a soltar os versos que já não cabiam mais em seus pensamentos de menina, uma moça, Mocinha de Passira.

“Eu memorizava as estrofes, não fazia pra ninguém ouvir, mas um dia disse ao meu pai que eu sabia fazer rima, ele pediu pra eu mostrar, então falei assim não, só mostro quando vier sentar um cabra aqui comigo mais a viola”, lembra a repentista. Seu João Marques da Silva, que não perdia uma cantoria pela região, confiou na obstinação da filha e não tardou a aparecer com uma viola e o cantador Zé Monteiro, com quem Mocinha fez sua primeira apresentação ali mesmo, na sala do sítio que até hoje resiste e onde a repentista Patrimônio Vivo de Pernambuco recebeu a equipe do Portal Cultura.PE.

“Foi nesse chão em que eu me senti, pela primeira vez, uma partícula no universo”, revela Mocinha, fazendo questão de mostrar os mandacarus que teimam em crescer sobre o telhado da casa, enfeitando seu “lugar sagrado, onde estão as raízes de tudo”.

À luz das estrofes metrificadas de Raul Ferreira, Zé Ananias, Severino Moreira e Severino Camocim, que costumava ouvir na companhia do pai, Mocinha foi ganhando confiança para também encontrar sua voz própria, traçar seu caminho no universo do repente. Desde a apresentação improvisada – e aplaudida por Zé Monteiro e seu pai – na sala de casa, não parou mais de exercer a função de transformar em verso raro o pensamento ligeiro.

“A primeira cantoria foi numa quarta-feira, no sábado eu já tava me apresentando pelas fazendas e daí não parei mais, meu pai sempre comigo, me acompanhando”, lembra Mocinha.  “Nenhuma outra repentista conseguiu viver da viola como eu. Desde cedo, decidi que se eu quisesse comprar um sapato tinha que ser com o meu repente, nunca trabalhei com outra coisa.” A exceção foi um breve momento, quando aos 10 anos de idade, montou uma escolinha de reforço escolar para os filhos dos fazendeiros da região, “os meninos ricos e burros”, sorri ao lembrar.

Herdou da mãe, Alexandrina Maria da Silva, a busca por independência financeira. Em tempos ainda mais marcados pelo machismo, “a mãe já tinha sua independência, criava uns bezerros ali atrás e se um boiadeiro passasse por aqui querendo comprar, pai falava logo tem que ver com a mulher, é dela, ela que decide”.

Ao contrário de Seu João, Dona Alexandrina não queria que Mocinha aceitasse o convite de ir morar em Caruaru com um dos maiores poetas populares e improvisadores brasileiros, o paraibano Pinto do Monteiro. Não teve outro jeito, aos 15 anos, juntou o que pôde em sua frasqueira amarela – “a coqueluche da época, toda menina tinha uma” -, e fugiu.

Dizem que foi desses encontros que mudam para sempre a vida de alguém. Era noite alta quando Mocinha e seu pai adentraram pelo Sítio Tamanduá, em Passira, para conhecer Pinto do Monteiro, que estava de passagem pela região. “Finalmente estou lhe conhecendo, você que é a famosa Mocinha da Passira”, lembra a repentista, com apenas 14 anos à época. Já admirado em todo o Nordeste e presença constante em emissoras como a Rádio Difusora de Caruaru, Pinto reconheceu de imediato o talento de Mocinha, colocando-se à disposição para ajudá-la a seguir carreira. “Eu tinha que ir pra Limoeiro pegar as cartas que ele mandava pra mim; caixa postal 114”, nunca vai esquecer.

Após deixar Passira e ir viver com a família de Pinto em Caruaru, Mocinha pôde mergulhar no circuito da cantoria popular, mas ainda sob os cuidados do pai. “Andei muito tempo com ele, pra tudo que era lugar, só fiquei ‘de maior’ aos 21 anos de idade”, conta.

Uma verdadeira peleja contra o machismo é o que Mocinha tem travado ao longo de sua trajetória no repente. São muitas as situações guardadas na memória em que teve que “sair quebrando todos os preconceitos, passando por cima de cantadas de homem safado”, diz.

Em muitas ocasiões, o drible para situações em que se via desafiada por ser mulher vinha em forma de versos mesmo. Um dos casos mais difundidos foi a resposta que deu ao mote Se você casar comigo/vai ficar de gravidez/vai acabar parindo/três meninos de uma vez, apresentado pelo repentista Jorge Amador. De pronto, Mocinha soltou o que gosta de chamar de “tapa sem mão”: Eu posso ter todos os três / são filhos tudo meu / o primeiro é do padeiro /o segundo do Ricardão / o terceiro de Oliveira / nenhum dos três é teu.

Em 1976, só após quase 20 anos de estrada, Mocinha teve a oportunidade de registrar seus versos em um disco. Foi a única mulher repentista a participar das gravações de um marco importante para a discografia do gênero, o LP Viola, Verso, Viola, do Estúdio Rozenblit. O disco reuniu grandes nomes da tradição oral, como Diniz Vitorino, os irmãos Otacílio, Dimas e Lourival Batista, além de Zé Vicente da Paraíba. 

Das oito faixas, Mocinha participa de duas, duelando com Diniz Vitorino em Martelo Alagoano e na histórica Desafio em Martelo Agalopado, em que por meio de versos como acabou-se o tempinho em que a mulher / só vivia nas margens dos barreiros / lavando blusinhas e cueiros / dos filhos dos homens sem respeito vai desconstruindo o imaginário da mulher ideal, sempre recatada e do lar, ao passo em que reivindica seu próprio lugar na história do repente.

Se o Brasil oficial é dos brancos, do presidente e de seus ministros, o Brasil real é o de Antônio Conselheiro e Mocinha de Passira. A sentença, parte integrante do discurso de posse de Ariano Suassuna na Academia Brasileira de Letras (ABL), revela a admiração que o imortal escritor e dramaturgo brasileiro tinha pela repentista.

O primeiro encontro foi em uma das muitas cantorias na Praça do Diário, centro do Recife, organizadas pelo embolador Oliveira. “Eu tava cantando só na época, Ariano me conheceu ali, me deu um mote pra eu cantar e parti, sem montagem nenhuma, esperando que desse certo… Na terceira estrofe, lá vem ele, me deu um abraço, chorou e tudo, se identificou mesmo”, conta Mocinha.

Em 1990, quando foi eleito para a ABL, Ariano fez questão de convidar a repentista para uma cerimônia realizada no Palácio Campo das Princesas, no Recife. Na ocasião, coube à Mocinha entregar-lhe o colar oficial de membro da Academia. “Ele mandou o carro ir me buscar onde eu estivesse, tinha que ser eu a botar esse colar nele, então, fui! Botei o colar e ainda cantei pra ele”, lembra com carinho.

Com hábitos simples, cuidando dos gatos de rua que acolhe ou torcendo por seu Santa Cruz, Mocinha vive hoje com seu filho Marcos em Feira Nova. Quando não está se apresentando pelo Brasil, divide-se entre o cuidar da casa na cidade e o sítio em Várzea de Passira, a 30 minutos dali e onde, vez ou outra, ainda organiza noites de boemia com dominó e duelos de viola.

O pai, seu grande incentivador, morrera no sítio mesmo, em 5 de abril de 1978. Chegou a ver seu sucesso e a ouvir o primeiro disco. 

“Eu tava em São Paulo, comecei a ter uns sonhos atribulados, sentia que tinha alguma coisa acontecendo, que precisava voltar. Quando cheguei, vi ele doente e o povo jogando dominó na sala, tive tanta raiva que ainda deve ter peça voando por aí. Falei com ele, respondeu bem baixinho, entendendo o que eu tava dizendo porque o último que morre é a árvore da vida, o cérebro”, narra Mocinha, lembrando que foi mesmo Seu João quem lhe abriu os caminhos. “Se ele tivesse ido pelas ideias da minha mãe e do meu irmão, eu teria fugido de casa sem viola, mas pra onde… não sei”.

O título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, Mocinha “comemorou sozinha, porque a batalha sempre foi minha mesmo, só depois fui falando para três ou quatro pessoas que considero”.

Dedilhando sua viola, gosta de deixar aberta a parte superior da porta principal do sítio, apreciar o vento que entra e a paisagem à frente.

“Nunca quis uma casa que não fosse pro nascente”. Além do Diploma de Patrimônio Vivo – exposto em lugar de destaque na parede da sala -, a repentista também guarda em Passira fotografias, recortes de jornais, troféus e outros registros de uma vida inteira dedicada a uma das mais ricas expressões da cultura popular nordestina. A vida que previu ainda menina e construiu na certeza de que “quando a gente tem vocação, não tem fronteira”, como faz questão de ensinar.  (Fonte: Tiago Montenegro/Fundarpe)
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SEU BILINO: UM TOCADOR E AFINADOR DE SANFONA DE 8 BAIXOS DO ARARIPE

Seu Bilino, Antônio Felizardo Alves, de 71 anos, começou a tocar ainda era menino, em 1958, quando seu pai comprou uma sanfona de 8 Baixos pra ele. Naquela época os forrozeiros tocavam nos casamentos, nos aniversários, diz Seu Bilino. “Ele comprou uma sanfona pra eu tocar pra ganhar um dinheirinho. Era a diversão da zona rural e da mata. Nessa época o povo tocava a noite toda”, conta ele, que veio de uma família de 60 músicos.

Modesto, Bilino diz que não é tocador profissional, que sua profissão mesmo é afinar acordeon: “Meu ramo mesmo é ser afinador de acordeon, quando o fole se acaba eu também recupero”, diz ele. Mas é com maestria que ele pega o instrumento e desliza os dedos, puxando o fole. Depois ele mesmo reconhece sua sabedoria: 

“Tem uma música que eu fiz que eu botei o nome Avessinho, um chorinho. Esse choro que eu fiz, o povo do Rio, de São Paulo pegaram muito, eles  ‘Seu Bilino, toca Avessinho pra nós’. É um forró tão bom de dançar que quando eu tou tocando ele todo mundo pega o ritmo, quer dançar. O finado Dominguinhos quando tava vivo foi tocar na rádio em São Paulo, aí um senhor me chamou pra tocar nessa rádio e eu fui tocar mais Zé Onório, que era um tocador de 8 Baixos de São Paulo. Aí ele fez assim – porque eu falei de Exu – ‘esse caba de Exu é bom’. Eu toquei Avessinho. Eu toco à direita e às avessas, à direita e às avessas. Músico nenhum tá conseguindo no país inteiro tocar esse choro porque é muito difícil, ler pra trás num é difícil? Num dá outras palavras? A música é assim também”, conta.

Bilino teve dois mestres, um foi seu pai, que lhe ensinou duas coisas, uma é que “a música é pra ser tocada com carinho e amor, bem feliz”. A outra é que tem músicas que devem ser guardadas pra momentos especiais. “Meu pai dizia ‘Num toque essa música atoa não. Toque num momento especial, que você fica feliz e eu também fico”, ensina.

O outro mestre de Bilino foi Severino Januário, irmão de Gonzagão.  “Eu tocava com Severino Januário, eu considero ele meu mestre. Eu toco as músicas dele, tem gente que até chora. Hoje eu tou tocando as letras dele por causa dele. É um xote tão bom de dançar que todo mundo arrupeia os cabelos”, brinca Bilino. Ele só fica triste com a falta de reconhecimento do seu mestre “Severino dos 8 Baixos que era muito talentoso mas não mostrado na televisão", conta o tocador que também não tem a atenção dos holofotes, apesar de seu talento merecido.

O vínculo com a família de Gonzagão começou desde cedo, Seu Bilino conta que seu pai só afinava o instrumento com Januário: “Ele trazia o 8 Baixos dele porque ele era mestre, aí quando a sanfona dele quebrava uma vozinha, ele fazia uma botando na linha. Ele vinha pra aqui”. E, Bilino, criança, vinha dentro de um caçoá, de Serrita, sua cidade, para Exu: “Eu até me lembro que ele botava nós num jumento com dois caçoá. Aí nós era dois irmão e uma menina, aí a menina ele deixava em casa. Aí ele botava eu dentro de um caçoá e o outro irmão dentro do outro. Ele colocava uma pedra pra equilibrar o peso do outro, que era maior, aí trazia nós”.

Hoje, assim como grande parte dos nordestinos, Bilino tem veneração por Mestre Lua: “Pro futuro ele vai ser nosso santo dos músicos, o santo dos sanfoneiros. Vai ser que nem o Padre Cícero, que nem Damião. Asa Branca é como se fosse um hino, como se fosse uma reza”, profetiza ele. “Ele é uma raiz do Sertão que a gente não pode abandonar”, afirma o sanfoneiro.

Ciente de que está cada vez mais raro achar pelas bandas do Araripe um tocador de 8 Baixos, “Daqui a uns 50, 100 anos quem tocar 8 Baixos vai ser chefe majoritário do mundo inteiro”, Bilino sente prazer quando consegue passar seu conhecimento a alguém “A coisa que eu acho mais feliz no mundo é eu dar aula pra uma criança, de 8 Baixos, porque de acordeon tá cheio já de tocador”.

Mesmo não tendo alcançado o sucesso profissional que merecia, Bilino toca porque é um apaixonado “Eu num posso abandonar essa carreira até o fim da minha vida”, diz com veemência. “Eu tou feliz desse jeito, porque dinheiro num é tudo na vida não. Eu sou um cara da roça, do mato, eu tenho um sitiozinho lá que eu plantei, tem 16 pés de coco. As filhas vem do meio do mundo passear. Eu acho bom estar no meio da terra aqui escutando Luiz Gonzaga tocar, chega um amigo, conversa comigo, chega outro”, conta o humilde tocador do fole típico do Sertão que hoje se tornou preciosidade.(Fonte: Maria Peixoto)
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PSOL PROMOVE DEBATE E HOMOLOGA NOVAS FILIAÇÕES EM PETROLINA

O presidente PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), Rigel Castro, homologou as fichas de filiação ex-vereador do PT Geraldo da Acerola, e do médico Marcos Heridijânio durante a abertura de um evento de Formação Política ocorrido na sexta (14) e sábado  e que prossegue neste sábado (15), no Recanto Madre Paulina, Bairro Ouro Preto. O evento debate tem como tema: Temos e a cidade que queremos. Com o tema "Outra Petrolina é Possível, o evento será realizado no Recanto Madre Paulina.

A programação prossegue neste sábado 15, uma mesa redonda discute a Saúde Pública, uma visão de esquerda, direitos humanos e cidadania e mulheres no espaço do poder.

Rosalvo Antonio, segundo secretário do PSOL diz que o "momento que o Brasil vive e Petrolina acompanha o crescimento dos desrespeitos pelas minorias é essencial debater os porquês e buscar principalmente as soluções e novos caminhos para um futuro melhor e possível".

Uma das palestrantes é a pré-candidata a vereadora Lúcia Mota. Lúcia e filiada ao Psol e concorreu nas últimas eleiçãoa deputado estadual e recebeu mais de 16 mil votos.

Na época Lucia Mota revelou à redação do Blog Ney Vital que a iniciativa de ser pré-candidata dela, que procurou o PSOL após uma pesquisa entre os partidos no estado. Durante sua fala no lançamento das pré-candidaturas ela comentou sobre a caminhada até sua entrada na política.

“A partir daquele dia [que foi à Delegacia depor sobre a morte de Beatriz] eu entendi que para se resolver o caso de Beatriz e para se resolver todos os casos de violência dentro do estado  Pernambuco, precisa-se de políticos. No início alguns repórteres da região me perguntaram se eu teria intenções políticas e eu deixei isso bem claro: a partir do momento em que eu não me sentisse representada politicamente, eu seria uma opção e a partir de hoje eu direi, eu sou uma opção para Pernambuco”, afirmou emocionada ao relembrar da sua filha.

Lúcia Mota é a mãe da menina Beatriz Angélica Mota, que foi assassinada há quatro anos e 1 mês. Este ano em dezembro de 2020, o Caso Beatriz caminha para os 5 anos. Beatriz foi assassinada com 42 facadas durante uma festa no Colégio Maria Auxiliadora, onde estudava na cidade. 

Em dezembro de 2018, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) decretou a prisão preventiva de um funcionário da escola onde a menina Beatriz Angélica foi assassinada quando tinha 7 anos. O acusado que não chegou a ser preso, é acusado de ter apagado as imagens do circuito interno da câmera de segurança da instituição de ensino. Em setembro de 2019, o TJPE revogou o pedido de prisão do suspeito por entender que as investigações não chegaram a nenhum resultado.

Um mês depois, em outubro, Lúcia Mota, mãe da menina Beatriz, protocolou na Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) de Pernambuco evidências obtidas pela família sobre o possível desvio de função de um perito que teria atrapalhado o inquérito policial que investiga o caso. De acordo com a mãe de Beatriz, o profissional, que não teve o nome revelado, teria elaborado um plano de segurança para a instituição de ensino enquanto investigava o caso. A Corregedoria Geral da Secretaria de Segurança Pública informou que uma investigação preliminar foi instaurada para apurar os fatos.

Segundo a Polícia Civil do Estado (PCPE) as investigações correm em segredo de justiça e, por esse motivo, não pode fornecer informações sobre o caso. A PCPE disse ainda que a delegada Polyanna Neri, que está à frente do inquérito policial sobre o crime com dedicação exclusiva, instituiu uma Força Tarefa composta por policiais civis, três delegados e suas respectivas equipes, que possuem experiência na investigação de homicídios, para contribuírem na celeridade da conclusão do inquérito. 

Em nota, a PCPE reitera a confiança em “elucidar esse bárbaro assassinato e apresentar quem cometeu esse crime à Justiça”. Atualmente, o inquérito que investiga o caso conta com 19 volumes, mais de 4 mil páginas e está no Ministério Público de Pernambuco (MPPE).
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