LUIZ GONZAGA, EXU E CANTOS DE SABIÁS ACALENTANDO AS HORAS

O Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões.

 Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Gonzaga quase seríamos sonâmbulos. Ele, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de BAIÃO.

Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

 O seu peito abrigava o canto dolente e retotono dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade. Viva Luiz Gonzaga do Nascimento!
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II ENCONTRO DE SABERES DA CAATINGA ACONTECE EM EXU, PERNAMBUCO

Parteiras, rezadores, raizeiros e estudiosos de práticas de curas ligadas à natureza, estão desde o dia 19 até o próximo domingo, 28 de janeiro de 2018, na Chácara Paraíso da Serra, no município de Exu (sertão de Pernambuco), reunidos no II Encontro Saberes da Caatinga.

Realizado pela Rede de Agricultores Experimentadores do Araripe, com apoio de instituições como a Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e o Ibama, entre outras, o Encontro tem como um dos principais objetivos incentivar e manter vivas práticas de cura (algumas milenares) que não dependem do sistema biomédico. Nesta segunda edição do evento, serão oferecidos vários serviços, oficinas de agrofloresta, extração de óleos vegetais, primeiros socorros usando óleos essenciais, arteterapia, shiatsu, cromoterapia, aromaterapia e bioenergética.

Na opinião da pesquisadora do departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco Islândia Carvalho, ao apoiar o Encontro, a Fiocruz PE cumpre o seu papel social de valorização da cultura local no que tange á saúde. “Além disso, a instituição vem desenvolvendo várias pesquisas para elucidar a efetividade dessas práticas e sua potencial contribuição para a saúde da população. Para tal, residentes e mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Fundação, participarão do evento com o objetivo de sistematizar conhecimentos e produzir informações científicas sobre o tema”, afirmou.

Desde 2006, o Sistema Único de Saúde – SUS, conta com a Política de Práticas Integrativas e Complementares. Essas práticas são caracterizadas pela Organização Mundial de Saúde como Medicina Tradicional ou Medicina Complementar. Esse termo significa um conjunto diversificado de ações terapêuticas que difere da biomedicina ocidental, incluindo práticas manuais e espirituais, com ervas, partes animais e minerais, sem uso de medicamentos quimicamente purificados, além de atividades corporais, como tai chi chuan, yoga, lian gong. Outros exemplos de PICs são: acupuntura, reiki, florais e quiropraxia.

O primeiro Encontro, realizado há um ano, contou com mais de 100 benzedeiros, parteiras, raizeiros, pesquisadores e professores dos estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. 

Contatos: professora Ana Vartan 87-996352594 e Antonio Alencar: 87999105126 
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TÁCYO CARVALHO, JOQUINHA GONZAGA, NÚRIA MALLENA, FLÁVIO LEANDRO, JURANDY DA FEIRA, NO FORRÓ DO POEIRÃO, EM OURICURI

Tacyo Carvalho, Joquinha Gonzaga, Jurandy da Feira, Flávio Leandro, Nuria Mallena, Epitacio Pessoa, Djesus, Leonardo do acordeon, Vital Barbosa, Leninho do Bodocó, Elmo Oliveira, Serginho Gomes, Cosmo do acordeon, Junior Baladeira, Eliane musicista, Oclécio Carvalho, Reinivaldo Pereira, Guilhiard, Erasmo Rumano, Genivaldo Silva, ( A presença dos Poetas, Juarez Nunes, Ramiro, Azarias do Ibge), se apresentam no sábado (27), no Forró do Poeirão, a partir das 13h, em Ouricuri-Pernambuco, na Churrascaria Chico Guilherme. 

 O evento será um Tributo a Luiz Gonzaga e tem o objetivo de valorizar a passagem do Dia Nacional do Forró, comemorado no dia 13 de dezembro – data de nascimento do Rei do Baião –, e também uma homenagem a todos os seguidores de Luiz Gonzaga

Segundo Tacyo Carvalho, cantor e compositor, organizador do Forró do Poeirão, o Tributo acontece e dá visibilidade aos músicos e ao próprio forró. “O projeto amplia o espaço para os artistas divulgarem seus trabalhos. O compromisso é o legado deixado por Luiz Gonzaga”.

Tácyo ganhou o apelido de Luiz Gonzaga: o garotão de Ouricuri. Isto aconteceu devido a popularidade que Tácyo atingiu apresentando programas de Rádio no Rio de Janeiro e sendo um dos responsáveis em divulgar a vida e obra de Luiz Gonzaga nos meios de comunicação no sudeste. Tácyo é o autor de Trem do Sertão, uma das mais belas músicas do cancioneiro brasileiro. 

"O forró do poeirão é uma oportunidade de fazermos um grande encontro, confraternização de amigos e amantes da boa música e valorizar nosso forró, xote e baião".

As camisas custam R$ 25 e darão direito a entrada do evento. Contatos: 71 994066714

O evento será um Tributo a Luiz Gonzaga e tem o objetivo de valorizar a passagem do Dia Nacional do Forró, comemorado no dia 13 de dezembro – data de nascimento do Rei do Baião –, e também uma homenagem a todos os seguidores de Luiz Gonzaga

Segundo Tacyo Carvalho, cantor e compositor, organizador do Forró do Poeirão, o Tributo acontece e dá visibilidade aos músicos e ao próprio forró. “O projeto amplia o espaço para os artistas divulgarem seus trabalhos. O compromisso é o legado deixado por Luiz Gonzaga”.

Tácyo ganhou o apelido de Luiz Gonzaga: o garotão de Ouricuri. Isto aconteceu devido a popularidade que Tácyo atingiu apresentando programas de Rádio no Rio de Janeiro e sendo um dos responsáveis em divulgar a vida e obra de Luiz Gonzaga nos meios de comunicação no sudeste. Tácyo é o autor de Trem do Sertão, uma das mais belas músicas do cancioneiro brasileiro. 

"O forró do poeirão é uma oportunidade de fazermos um grande encontro, confraternização de amigos e amantes da boa música e valorizar nosso forró, xote e baião".

As camisas custam R$ 25 e darão direito a entrada do evento. Contatos: 71 994066714
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MARIANA, O REI DO BAIÃO E O AMOR POR MINAS GERAIS

De 1980 a 1991 – ano em que faleceu – o cantor e compositor Gonzaguinha viveu em Belo Horizonte onde se casou com Louise Martins, a Lelete, e teve uma filha, Mariana. Foi na capital mineira também que o artista criado no Morro do São Carlos, no Rio de Janeiro, se inspirou para criar clássicos de seu cancioneiro como Lindo lago do amor, em homenagem à Lagoa da Pampulha, e O que é o que é.

Essa história é bastante conhecida. O que pouca gente sabe é que seu pai, Gonzagão - que se estivesse vivo teria 105 anos - também passou uma temporada em BH. Aliás, duas. Uma no começo de sua vida e a outra, no final. A primeira vez que Luiz Gonzaga pisou na capital mineira foi em 1931, quando ainda estava longe de se tornar o Rei do Baião. O artista nascido em Exu, no sertão de Pernambuco, servia o Exército como corneteiro. Belo Horizonte ainda fervilhava com a Revolução de 30. Mas, por aqui, Luiz Gonzaga só ficou por quatro meses e logo foi destacado para servir em outras cidades mineiras, Juiz de Fora, Ouro Fino e São João del-Rei.

Quando ficou famoso, o Velho Lua, como também era conhecido, veio em várias ocasiões para se apresentar nos palcos belo-horizontinos. Mas foi em 1988 que ele pode se aprofundar mais no cotidiano da cidade e de seus habitantes. Com um olho direito já atrofiado – em 1961 ele sofreu um acidente ao lado do filho e perdeu a visão – e com o esquerdo sofrendo de catarata, Gonzagão estava praticamente cego. “A gente teve que pegar ele no laço e trazê-lo para BH para ele se tratar. Seu Luiz sempre inventava uma desculpa para não vir, mas aí fomos lá buscá-lo”, recorda a nora Lelete.

Durante quase um ano, Luiz Gonzaga ia a consultas médicas e em agosto de 1988 finalmente se submeteu a uma cirurgia. Quem o operou foi o oftalmologista mineiro Nassim Calixto, que até meados de 2017 ainda clinicava. Hoje com 90 anos, o médico conta que foi um colega dos tempos de faculdade, o ortopedista Márcio Ibrahim de Carvalho que o recomendou ao pai de Gonzaguinha. Ibrahim de Carvalho estava tratando da osteoporose de Gonzagão. “A primeira consulta foi em julho e no mês seguinte nós o operamos. Mesmo naquela época já era uma cirurgia tranquila. Implantamos uma lente e prontamente ele voltou a enxergar”, conta o dr. Nassim Calixto.

O oftalmologista não se esquece de uma cena no pós-operatório no Hospital São Geraldo, na Avenida Alfredo Balena. Gonzagão estava com um tampão no olho, e o médico perguntou: “Está tudo bem? O senhor está enxergando, seu Luiz?”. “Estou, sim”, respondeu o forrozeiro. “E o que o senhor está vendo?”. “Estou vendo um santo”, declarou o Rei do Baião. Como forma de agradecimento, Luiz Gonzaga presenteou o médico com um LP com a seguinte dedicatória: “Ao meu santo Dr. Nassim Calixto, com a gratidão do Gonzagão. Belo Horizonte, 14/11/88”. “Ele era muito cordial, simples, afável e bem espirituoso. Foi um episódio que marcou a minha vida profissional”, afirma o médico.

A cirurgia realmente deu uma sobrevida ao pernambucano. Lelete não se esquece de um comentário que ele fez, assim que teve alta: “Nossa, Lelete, você é muito mais bonita do que eu imaginava. Gonzaguinha, você, que é o poeta da família, também deveria fazer essa cirurgia para se inspirar. É um turbilhão de cores”.

Mesmo passados 30 anos, a presença de Gonzagão na casa de Lelete e Gonzaguinha na Pampulha é forte. Alguns objetos dele ainda estão pelos cômodos, como fotos, chapéus de couro com dedicatórias para a família, roupas, um gravador em que registrava suas conversas com o filho, um dos seus relógios e até o seu último carro, um Monza com placa de sua cidade natal, Exu. 

“O carro era do seu Luiz e ficava em Recife para ele poder se deslocar para o sertão, já que Exu fica a 600 quilômetros de Recife. Quando ele morreu, o Gonzaga herdou o carro e depois eu herdei. Fui lá em Recife e vim dirigindo o carro até BH. O motor ainda funciona, mas a gente não sai com ele. Virou uma relíquia”, comenta Lelete. Uma das lembranças mais marcantes daquele período era de Gonzagão cantarolando pelos corredores, já que estava produzindo seu último disco, Vou te matar de cheiro. “Ele usava o gravador também para ouvir as fitas que artistas do Brasil inteiro mandavam pra ele”, acrescenta.

Apesar de ter apenas 5 anos na época em que o avô ficou hospedado em sua casa, Mariana – hoje com 35 – diz que a recordação mais nítida que tem do ‘Vôvô Lua’ era de estar sentada em seu colo, na cozinha de casa, e ouvi-lo tocando seu acordeom durante horas. Foi nessa época que ele compôs, ao lado de Gonzaguinha, a música em homenagem à garota, Mariana (Eu vou pra ver Mariana/ Mariana sorrir e dançar/Mariana brincando na vida, tô correndo pra lá/ E vou levando a sanfona, mode a gente cantar/Ei, garota, pirritota, Mariana, Mariana).

“Eu ficava quietinha ouvindo ele cantar e tocar. Acho que ele vivenciou comigo bastante essa coisa de ser avô. Sempre achou que nós éramos muito parecidos, sobretudo a boca”, comenta. Mariana diz que o avô era muito carinhoso e não media esforços em agradá-la. “Quando a gente saía, eu não podia apontar para nada que ele comprava pra mim. Eu nem era uma criança pidona, mas ele queria me agradar o tempo todo. Não me esqueço de um urso de pelúcia marrom que ele me deu e era maior do que eu.”

A neta costumava também passar as férias quando criança em Exu e não se esquece do seu ‘primeiro emprego’, como guia do museu criado em vida pelo avô. “Eu acordava cedinho e ia para lá. Adorava; sabia tudo do vovô. Exu era uma cidade muito importante para ele, e ele fez questão de retribuir. Levou rodovia, posto de gasolina, Banco do Brasil. Vovô tinha orgulhoso disso”, pontua.

Ana Clara Brant-Jornal Estado de Minas
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LUIZ GONZAGA E O DIA EM QUE ELE CANTOU PARA MAIS DE UM MILHÃO DE PESSOAS EM SALVADOR

O Chiclete com Banana estava no auge, a fantasia ainda era a mortalha e a Banda Mel começava a despontar. Mas, no reduto de uma axé music que se fortalecia, eis que a avenida virou sala de reboco. De cima do trio elétrico Carnaforró, ressoava um vozeirão do tamanho do Nordeste.

Pouca gente sabe, mas parte desse momento histórico está em uma relíquia postada no YouTube em 2009. São imagens da TV Itapoan guardadas por mais de 20 anos pelo cantor e compositor baiano Gereba, responsável pela vinda do Rei do Baião. “Farol da Barra ontem à noite”, informam os caracteres do vídeo.

No chão, a galera arrasta o pé na manha, ao ritmo de sucessos como Vida de Viajante, Riacho do Navio, Cintura Fina e a própria Sala de Reboco. Pela primeira vez na carreira, Luiz Gonzaga subia em um trio elétrico. E muito bem acompanhado. Além de Gonzagão, Dominguinhos, Gereba, Bule-Bule e Grupo Bendegó.

Talvez a primeira vez em que uma sanfona, abraçada por Dominguinhos, fazia dueto com a guitarra baiana, tocada por Zeca Barreto, do Bendegó, irmão de Gereba. “Foi uma porrada! Saímos do Porto da Barra, quando chegamos no Espanhol já tinha 80 mil pessoas acompanhando a sanfona”, calcula Gereba.  

No dia seguinte, o Rei do Baião novamente subia no trio, dessa vez no circuito da avenida. Na Praça Castro Alves, o poeta do Sertão tocava para o poeta dos escravos. Luiz Gonzaga teria participado do Trio Carnaforró quatro dias seguidos. “Nos quatro dias, ele bateu o recorde de público da vida dele. Tocou para mais de um milhão de pessoas”.

Os jornais locais se referiram ao encontro, que teve destaque nacional. “O Jornal do Brasil deu uma página falando das duas novidades no Carnaval da Bahia: o Carnaforró e a Dança do Pezinho. Pra variar, né?”, ri Gereba, que neste ano diz ter inaugurado o circuito Barra-Ondina. “O primeiro trio do Circuito Barra-Ondina foi nosso. Nós, com Luiz Gonzaga, criamos o Barra-Ondina. Mas o pessoal do axé odeia que a gente diga isso”.

No ano anterior, em 1985, porém, Luiz Gonzaga já mostrava aproximação com os baianos do Carnaval. A convite de Armandinho, Dodô e Osmar, fez uma participação no disco Chame Gente, que saiu pela RCA. Gravou Instrumento Bom, de Moraes Moreira e Fred Góes.

“A participação dele no disco é um grande encontro com meu pai. Ele fala: ‘Ô, Osmar, quer dizer que agora eu tô no seu trio elétrico’. Aí meu pai responde: ‘É isso aí Luiz, bem-vindo ao trio elétrico da Bahia’”, lembra Armandinho, que considera Luiz Gonzaga um carnavalesco na essência. “Luiz Gonzaga é Carnaval. Pela popularidade e pelo ritmo do galope nas músicas”, diz Armando. “Hoje o Carnaval dá espaço para todo mundo. Naquela época, não. Tinha que ser muito bom. Aliás tinha que ser gênial”.

O convite para Luiz vir ao Carnaval surgiu no ano anterior, em 1985, quando Gereba foi visitar Luiz Gonzaga em Exu (PE), sua terra Natal. Haviam se tornado amigos uns 10 anos antes, em 1974, quando Gereba trouxe Luiz Gonzaga para tocar pela primeira vez em um espaço de respeito na Bahia: a Concha Acústica.

“Botamos 5,5 mil pagantes na Concha Acústica”. Anos depois, em fevereiro de 1979, Luiz Gonzaga se apresentaria, aí sim, no palco mais nobre da Bahia. Novamente ao lado de Dominguinhos, fez uma temporada no Teatro Castro Alves. “Um duelo de sanfonas”, estampou o Correio da Bahia.

O sucesso de Seu Luíz na década de 1980 era a maior prova de que ele havia superado definitivamente um período instável na carreira. Entre o final da década de 60 e início da de 70, enfrentou o descaso da classe média dos centros urbanos e, por consequência, da mídia.

O poeta Capinam também teve sua parcela de “culpa” no ressurgimento de Gonzaga. Junto com Jorge Salomão produziu o show do Teatro Tereza Raquel, em 1974, um marco. O Tereza Raquel lotado mostrava que o rei estava mais vivo do que nunca. Outro tropicalista, Gilberto Gil, sempre deixou claro que Luiz Gonzaga foi sua maior inspiração no início da carreira. Tanto que explorou toda a sua sonoridade em dois discos de forró, um gravado em estúdio (As Canções de Eu, Tu, Eles - 2000) e outro ao vivo (São João Vivo - 2001).

O pai da axé music, o cantor e instrumentista Luiz Caldas, conheceu Luiz Gonzaga no programa do Chacrinha. Se encontraram algumas vezes até surgir um convite que tornou Luiz Caldas o único artista a ter uma música gravada por Gonzagão, quando o que acontecia era o contrário. “Convidei ele uma vez para cantar comigo em um disco. Ele disse: “oxe, é só marcar. Quando fui gravar Amazonas, lembrei e liguei. Ele já tava um pouco adoentado, mas se prontificou", lembra.

“Grandes compositores e intérpretes do Brasil gravaram com ele, mas sempre cantando a obra de Seu Luiz. Eu sou o único que ele canta uma música do outro artista. A música é minha, de Gerônimo e Jorge Matos”. No estúdio da Poligram, no Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga ficou todo saidinho para o lado de Rita Caldas, irmã do músico baiano, o que explica a brincadeira que o rei faz no início da gravação. “Ele sempre foi muito saidinho, né? Minha irmã estava cuidando dele e Seu Luiz brinca com ela no início da música: ‘Índio quer mulher. Índio quer mulher’. Estava brincando com Rita”, diverte-se Caldas.

No interior da Bahia, Luiz Gonzaga fez diversos shows em cidades como Cachoeira, Cruz das Almas, Senhor do Bonfim e Monte Santo. Para Jânio Roque de Castro, professor de geografia cultural da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Luiz Gonzaga foi um dos impulsionadores das festas de São João em grandes palcos do interior. “As festas com grandes concentrações começavam a surgir nos interiores da Bahia. Luiz Gonzaga tocou no Recôncavo e outras cidades”.

A ligação de Gonzaga com a Bahia se confirmou com o título de Cidadão Baiano que ele recebeu na Assembleia Legislativa da Bahia, em 1984. Mas quando chegava aqui, dispensava hotel. Tudo por conta da amizade com o fazendeiro baiano Manoelito Argolo, de Entre Rios. “Eram muito amigos”, confirma Gereba. E eram mesmo. Manoelito ganhou até música. Foi assim que virou Manoelito Cidadão, “o maior cabra desse Sertão”. Que nada, Luiz. O maior cabra desse Sertão é Luiz Gonzaga. Do Sertão, do Brasil e da Bahia.   

Alexandre Lyrio-Correio da Bahia
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LUIZ GONZAGA: O CARNAVAL E O PRIMEIRO FORRÓ TRIOLETRIZADO

Nos ano 80 Luiz Gonzaga gravou o primeiro forró trio eletrizado. A gravação consta no LP disco Instrumento Bom. Na época Luiz Gonzaga conversa com Osmar e diz: até no trio elétrico eu tô. Viva a Bahia.

Por tudo isto Luiz Gonzaga continua atual. Quando a Dragões da Real entrou na avenida anos passado fez  o Nordeste brilhar. A escola de samba homenageou o povo nordestino através de um dos seus maiores ícones - a música Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Isto foi no carnaval de São Paulo 2017.  

O enredo (Dragões canta Asa Branca) é uma espécie de releitura da música. "De tanto "oiá" o sol "queima" a terra / Feito fogueira de São João / Puxei o fole, embalado me inspirei / Aperreado coração aliviei / De joelhos para o pai, pedi / Com os olhos marejados, senti / Quanta tristeza brota desse chão rachado / Perdi meu gado, "farta" água para danar / "Eta" seca que castiga meu lugar / Vou me embora... seguir meu destino / Sou nordestino arretado, sim "sinhô", diz a letra. 

A Escola Unidos da Tijuca do Rio de Janeiro, ganhou  o título de campeã no Carnaval carioca de 2012, com o samba-enredo O Dia em Que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida para Coroar o Rei Luiz do Sertão. A composição falava da paisagem, solo e vegetação do Sertão. O título fez o nome de Luiz Gonzaga ter destaque  nos meios de comunicação devido os 100 anos de nascimento.

Todavia o tema Luiz Gonzaga deve ser sempre pauta. Na década dos anos 80 Luiz Gonzaga foi homenageado pela Escola de Samba Vermelho e Ouro. No samba-enredo ele participou da gravação cantando e puxando sanfona. Isto tudo chama atenção e lamentamos as porcarias que hoje são produzidas e que as emissoras de Rádio e televisão divulgam colocando-as em primeiro lugar e salientadas como as mais ouvidas, dançadas e cantadas. A maioria possui letras pobres e vazias de arte.

Usando riqueza de ritmo, harmonia e melodia Luiz Gonzaga no início de sua trajetória musical, poucos sabem, divulgou e cantou o ritmo musical Frevo. Em 1946 gravou "Cai no Frevo". Detalhe: usou sua majestosa sanfona. Puxou a sanfona também no Frevo "Quer Ir mais Eu?", este regravado várias vezes até os dias de hoje e executado pelas orquestras de frevos nas ruas e bailes. "Quer ir mais eu vambora, vambora vambora...

Luiz Gonzaga ainda gravou "Bia no Frevo" e "Forrobodó Cigano". Homenageou o genial Capiba-Lourenço Fonseca Barbosa, tocando o frevo "Ao mestre com carinho" , este genial pernambucano criador da canção "Maria Betânia".

Luiz Gonzaga em parceria com João Silva, já no final da carreira,  mistura sanfona e instrumentos metais. Grava "Arrasta Frevo". Ainda Na seara do carnaval o Rei do Baião  participou do primeiro forró trioeletrizado junto com Dôdo e Osmar, Instrumento Bom. Viva a Bahia.

Toda esta trajetória faz Luiz Gonzaga atual...basta ouvir a letra de "Eu quero dinheiro, saúde e mulher. É isto mesmo e vice e versa Mulher Saúde e Dinheiro e o resto é conversa. Eu quero ser deputado, senador, vereador. Eu quero ser um troço qualquer para mais fácil arranjar Dinheiro Saúde e Mulher"...Impressionante ele gravou essa façanha em marcha-frevo no ano de 1947.

Viva Luiz Gonzaga, Viva a Bahia, o frevo, o trio elétrico, Pernambuco. Viva o Carnaval.
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JURANDY DA FEIRA: DE PÉ NA ESTRADA, TERRA VIDA ESPERANÇA, CANTO DO POVO, FRUTOS DA TERRA

Jurandy estará se apresentando em Ouricuri, Pernambuco, no sábado 27, no tradicional Forró do Poeirão, evento organizado pelo compositor e cantor Tacyo Carvalho, que também contará com a presença de Joquinha Gonzaga. Jurandy na vida e obra de Luiz Gonzaga é presente e futuro. É tese e síntese de talento e dedicação ao melhor da música brasileira.

Em dezembro de 2017, as festividades dos 105 anos de Luiz Gonzaga, em Exu, Pernambuco, contou com a presença de Jurandy da Feira. A voz de Jurandy e seus versos provocaram um turbilhão de Felicidade/Encontro aos gonzagueanos de
toda parte do Brasil, que visitam Exu, neste período do ano, na esperança de colher os bons frutos da música e memória de privilegiados que conviveram com o Rei do Baião.

Morador do Rio de Janeiro há mais de 40 anos, Jurandy mantém a sua essência e nunca deixa de estar bem perto do Nordeste, ao tomar em consideração suas escolhas estéticas e de repertório. Em Exu, o cantor reviveu as emoções ao falar de Luiz Gonzaga e da cultura brasileira. 

Jurandy é o compositor entre outros sucessos das músicas Frutos da Terra, Nos Cafundó de Bodocó, Canto do Povo, além de Terra Vida Esperança. Para Jurandy, a resistência é o que faz sentido para seguir no meio musical, pois somente o talento não basta. 

A história conta que Luiz Gonzaga costumava acolher em casa compositores, em quem descobrisse afinidades, e acreditasse, obviamente, no talento. Depois de avisar que seriam gravados por ele, vinha o convite para ir ao Rio de Janeiro.

Jurandy Ferreira Gomes, é conhecido como Jurandy da Feira, o “da Feira” foi praticamente imposto por Luiz Gonzaga. Quando começou a aparecer como artista em sua cidade natal, Tucano, no sertão da Bahia, ele era chamado de Jurandy da Viola, por causa do violão, seu instrumento desde a adolescência.

“Quando Luiz Gonzaga gravou a primeira música minha, quando fui olhar no selo do disco. Estava lá Jurandy da Feira. Fui conversar com ele. Disse que aquilo não ia pegar bem na minha cidade, porque iam pensar que eu queria ser de Feira de Santana. Ele disse que não era de Feira de Santana, mas da feira, a feira do povo, do cantador. Acabei concordando, mas até hoje eu tenho que me explicar ao povo de lá”, conta Jurandy, em visita a Petrolina. 

Luiz Gonzaga em vida, sorria e se divertia com esta história e explicava: "Eu botei assim, para lembrar o lado de cantador, de poeta de cordel em feiras livres do Interior. O talento de Jurandy é de uma riqueza muito grande, igual a dia de feira."

Para o ano de 2018, Jurandy da Feira, está repleto de poesia, música e um novo CD.

O compositor tinha 24 anos quando conheceu o Rei do Baião. Foi levado a ele por José Malta, um jornalista, e produtor dos shows de Gonzagão. “Fomos para Exu, para a casa de Luiz Gonzaga. Passei uma semana lá. Mas era aquela coisa. Ninguém chegava a Gonzaga. Ele é que chegava às pessoas. Era fechado, meio cismado. Foi ele que se chegou pra mim, e perguntou sobre o violão que eu havia levado comigo. Se eu tinha um violão, por que não tocava? Quis saber se eu fazia músicas. Pediu para cantar para ele. Depois me disse que queria uma música que falasse de Bodocó”. 

Passou algum tempo e eu fiz Nos cafundó de Bodocó. O cafundó, foi porque eu achei que a cidade ficava longe de tudo. Naquela época ainda estavam asfaltando as estradas, e fui da Bahia até lá de Karmann-Ghia (carro esportivo, de dois lugares, saído de linha em 1971), a maior poeira, foi um sofrimento a viagem até o sertão pernambucano”.

Luiz Gonzaga gostou de Nos cafundó de Bodocó. Veio o inevitável convite para ir ao Rio. A música foi aprovada pelos produtores de Gonzagão na época, coincidentemente dois pernambucanos, Rildo Hora e Luiz Bandeira. Nos cafundó de Bodocó entrou num dos melhores álbuns de Luiz Gonzaga nos anos 70, Capim novo (1976). Lula gravaria mais outras três composições de Jurandy, que sacramentariam uma amizade que durou até o final da vida de Lua. 

O baiano, portanto, testemunhou os bons e maus momentos de Luiz Gonzaga em suas duas últimas décadas de vida: “Ele passou uma época em baixa. Várias vezes assisti a apresentações suas numa churrascaria chamada Minuano, na estrada Rio/São Paulo. Era aquele barulho de churrascaria. Mas quando ele dava o boa noite., pra começar a cantar, menino ficava quieto. Os adultos se calavam. Ficava silêncio enquanto ele cantava”.

Foi Luiz Gonzaga que levou Jurandy para gravadora, e ajudou a suas músicas serem gravadas por nomes como Trio Nordestino, Terezinha de Jesus. Atualmente Jurandy da Feira é um dos artistas mais admirados no meio da cultura brasileira e gonzagueana.

“Ele, Luiz Gonzaga, chegou a me prestigiar num show num colégio de padres em Tucano, minha terra natal. Passou a me apelidar de “minha paz”, porque quando chegava sempre desejava a ele: “Uma paz, seu Luiz”, relembra emocionado Jurandy.

Jurandy traz a poesia do ritmo da cultura brasileira na alma. É fartura de dia de Feira.  Luiz Gonzaga sabia reconhecer um fiel discípulo...Tenho Dito...
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