IGREJA DO ROSÁRIO: TOQUEI-LHE AS PAREDES E OUVI O ECO DAS CANÇÕES E SOLUÇO DE QUEM A CONSTRUIU

A Igreja do Rosário, levantada e acabada pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na cidade de Sousa, no alto sertão paraibano, foi temperada com o manancial de suor vertido por escravos e pelo banzo incomensurável de quem foi sequestrado dos seus.

 Enquanto a portentosa Matriz se eleva como um pontiagudo mausoléu, ela se encolhe solidária e permanece em contínuo aconchego. A igreja dos mandatários sentiu a pua do tempo minar-lhe as rédeas e se viu, da noite para o dia, sem suas duas torres. A Igreja do Rosário está lá: inabalável e linda. No seu pátio brincam as crianças, ao largo da História. Elas ainda não sabem das mãos feridas, do sangue exposto, dos corpos chicoteados, dos pés em carne viva ou dos sonhos violados.

Os construtores da igrejinha refugiavam-se na excelência da construção, no soerguimento de um marco, testemunha serena de sua resistência. Toquei-lhe as paredes com minhas mãos, encostei o ouvido em seu campanário: senti e ouvi o eco das canções de trabalho e o soluço noturno de quem a construiu. Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia, Vida, Doçura e Esperança Nossa. 

Fonte: Aderaldo Luciano-professor-doutor em Ciência da Literatura
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ELBA RAMALHO VAI PARTICIPAR DAS FESTIVIDADES DOS 105 ANOS DE LUIZ GONZAGA EM EXU

Elba Ramalho no próximo dia 16 de dezembro vai cantar em Exu, Pernambuco. A apresentação está marcado para às 22horas.

A data do Aniversário de  Luiz Gonzaga é 13 de dezembro e três dias depois a paraibana/universal vai vestir uma espécie de manto, caminhar cantando, quase declamando os baiões, forrós de Luiz Gonzaga e Dominguinhos.

Em Exu Elba vai soltar a voz e cantar contar a história de quem sai do sertão, levando consigo somente a cara e a coragem, e viaja no pau de arara em busca de melhor destino. “Eu penei, mas aqui cheguei”. Esse é o caminho percorrido por muitos e muitos nordestinos, brasileiros.

Elba Ramalho tem estreita intimidade com a obra de Gonzagão - e tem, como poucas cantoras brasileiras, pleno domínio sobre ela. “Eu também nasci no sertão, numa cidade bem próxima à de Luiz Gonzaga (ele é de Exu, Pernambuco, e ela, de Conceição, Paraíba). Também fiz todo o percurso que Gonzaga fez, atravessei toda aquela estrada, vivenciei aquela seca, eu nasci embaixo do sol calcinante, caminhei até o mar atravessando rios cheios, rios secos, vi pássaros cegos, eu vivi tudo aquilo na minha infância. Minha história se assemelha muito à de Gonzaga, me sento muito feliz”, descreve ela.

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FLÁVIO BAIÃO SÍNTESE DA VALORIZAÇÃO DO FORRÓ GONZAGUEANO

Nascido em Juazeiro no ano de 1968, portanto, caminhando para meio século de vida, Flávio Marcelo Mendes da Silva é a síntese de um seguidor do forró feito por Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Ele é fiel ao valorizar o nome artístico que ganhou, Flávio Baião. Inspirado no tradicional chapéu de couro e sua simplicidade de ribeirinho nascido nas margens do Rio São Francisco, Flávio é baião para a nação forrozeira Brasil afora. Já gravou cinco Cds e 1 DVD. 

No chiado da sanfona, na batida da zabumba e no zunido do triângulo, esse músico segue difundido os autênticos ritmos nordestinos. Coco, baião, xote xaxado e arrasta- pé são as palavras de ordem desse grande cantor. Da sua voz ecoa melodias que revelam o jeito de ser e de viver do seu povo, suas músicas são marcadas pelo calor festivo presente no sertanejo; sendo o sol o maior dos holofotes a iluminar esse artista que, de tão apaixonado pela sanfona, adotou por sobrenome Baião.

Flávio conta que desde criança foi embalado pelas canções de Luiz Gonzaga, no vai e vem das quadrilhas juninas. "Minha mãe, dona Belinha é a responsável por tudo que faço em nome da cultura". Em 2015, o sanfoneiro, cantor e compositor Flávio Baião recebeu da Câmara de Vereadores de Juazeiro, a Comenda Doutor Pedro Borges Viana. 

A Comenda é uma forma de agradecer e homenagear pessoas que prestam relevantes serviços a comunidade. Flávio Baião atualmente além de inúmeros shows beneficentes é responsável por uma Escola de Música, que atende crianças e adolescentes no aprendizado da sanfona e outros instrumentos. Flávio Baião no ano de 2013 gravou o seu primeiro DVD-Feiras do Nordeste. 


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TRADIÇÃO E FÉ MARCAM A MISSA DOS CHAPÉUS EM JUAZEIRO DO CEARÁ

No dia em que a Igreja Católica celebrou o dia de todos os santos, em Juazeiro do Norte, sul do Ceará, o dia que é reconhecido por lei como o Dia do Romeiro. Na celebração tradicional na Basílica de Nossa Senhora das Dores, os romeiros participaram da missa dos chapéus. É como os devotos começam a se despedir da visita ao túmulo onde está enterrado o Padre Cícero. A romaria de finados é maior do ano no Ceará e uma das maiores do país.


Na última noite da Romaria da Esperança, os padres celebraram missa na basílica de Nossa Senhora das Dores, na intenção dos milhões de devotos que durante todo o ano vão de longe pagar promessas a Nossa Senhora das Dores e a Padre Cícero.


A primeira romaria de finados aconteceu em novembro de 1934, três meses após a morte de Padre Cícero. De acordo com a Diocese do Crato, Aromaria de finados é verdadeiramente a romaria em homenagem a Padre Cícero. Nasceu após a morte de padre cícero e está cada vez mais grandiosa, pela presença dos romeiros e pelo crescimento da organização. 
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Xaxado mostra tradição e resistência em encontro em Serra Talhada

O pau que batia o feijão para retirar da vagem o caroço, após a colheita, fez surgir o ritmo. Da prática (xaxar), veio o nome. E com o tempo, fez-se dança. O xaxado possui hoje um festival só seu, que já está em sua 13ª edição. Ele é realizado em Pernambuco em Serra Talhada, Sertão do Pajeú - cidade que já foi conhecida como Vila Bella, e local no qual o bando de Lampião teria difundido o ritmo.

Essas são algumas das versões históricas, mas fato é que o 13º Encontro Nordestino de Xaxado começa hoje e segue até o próximo domingo, em múltiplos polos da cidade sertaneja.

Num grupo que era formado só por homens, vivendo entre fugas e combates, é compreensível saber que mulheres não dançassem o xaxado. As espingardas, fiéis companheiras dos cangaceiros, faziam as vezes de damas, seguindo ao lado dos homens, durante o arrastar de passos.

A exclusão feminina permanece apenas nos nomes dos grupos mais antigos, como Cabras de Lampião e Herdeiros do Xaxado. Apenas. Pois quem preside esse bando todo é, sim senhora, uma mulher. Cleonice Maria dirige e coreografa e espetáculo, que é o mesmo desde 1995.

Encontro Nordestino de Xaxado seleciona mais de 20 grupos para sua 13ª edição
Peça é encenada em Serra Talhada em comemoração aos 120 anos de Lampião

“O espetáculo dos Cabras de Lampião nunca foi mudado. Porém, periodicamente, apresentamos o maior espetáculo ao ar livre dos sertões brasileiro, 'O Massacre de Angico - a Morte de Lampião'”, afirma. 

“Como em qualquer outra montagem cênica, os dançarinos sugerem e ajudam na criação das coreografias. Na verdade, as coreografias estão prontas há vinte e três anos. Apenas alguns retoques são dados quando aparece uma ideia interessante”, complementa. No que se refere ao figurino, a mudança é recorrente, sem perder a originalidade e autenticidade de como os cangaceiros se vestiam.

O evento conta ainda com oficinas de dança, palestras sobre patrimônio, feira de artesanato da região, mostra de comedoria sertaneja, apresentações musicais, passeio turístico ecológico ao Sítio Passagem das Pedras (onde nasceu Lampião) e à Fazenda Pedreira (do primeiro inimigo de Lampião, Zé Saturnino) e o Baile Perfumado, uma festa no Clube da Fazenda São Miguel, com o forrozeiro Assisão.

O encontro é um grande divulgador da cultura nordestina e conta com incentivo do Funcultura/Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo do Estado.
Mas, em Serra Talhada, o xaxado não é tema só uma vez ao ano.

“Costumo dizer que o xaxado começa cedo em Serra Talhada, a nossa cultura por ele já vem enraizada em nosso povo. Temos grupos formados apenas por crianças, os Herdeiros do Xaxado. Frequentemente, os pais procuram o Museu do Cangaço (nossa sede) para matricular as crianças que ficam aperreando em casa, querendo dançar xaxado. As aulas são semanais e gratuitas”, revela Cleonice.

Fonte: Fundação Cabras de Lampião-Diário de Pernambuco

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MENOS CISTERNAS: GOVERNO REDUZ ORÇAMENTO DE PROGRAMA CONTRA SECA NAS ZONAS RURAIS

Um dos principais e mais reconhecidos programas federais contra seca no semiárido sofre com cortes de verbas e tem uma previsão de redução de 95% no orçamento do próximo ano, o que ameaça inviabilizar a construção de cisternas nas zonas rurais do Nordeste. A fila de espera por uma cisterna de primeira água destinada para consumo doméstico, segundo a ASA (Articulação do Semiárido, entidade que reúne 3.000 organizações sociais dos nove Estados da região semiárida), chega a 350 mil damílias.

Apesar dos avanços, do reconhecimento internacional (o programa foi premiado em setembro, na China) e da necessidade de mais cisternas, segundo a PLOA (Projeto de Lei Orçamentária Anual) enviada pelo governo federal ao Congresso Nacional, a previsão para 2018 é de que haja investimento de R$ 20 milhões, o que significa um corte de 95% em relação ao orçamento deste ano ano --quando a verba prevista foi de R$ 248 milhões.
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Durval Muniz, professor em tempos de ser encantador de palavras

Jornalista Ney Vital e Professor Pós-dourado Durval Muniz
Durval Muniz de Albuquerque Júnior é de profissão historiador, o que não o impede de ser também um 'encantador' de palavras. 

Como Michelet, Durval Muniz em vez de simplesmente redigir, escreve. Escrita audaciosa, provocativa, criativa e elegante, não diria, contudo, que ele escreva com uma "linguagem de em dia-de-semana", como suplica um 'famigerado' personagem de Guimarães Rosa. Mas que ele nos conduz para o terreno 'nebuloso' e 'temerário' da arte literária, disso, não tenho dúvida. Cuidado, historiadores! Durval Muniz, tal como Foucault, é um desses 'sujeitos' perturbadores da boa ordem científica, desses que se colocam entre o sono dogmático e a vigília epistemológica 'só' para provocar a polêmica.

Vivemos um momento de desidentificação com a memória nacional e regional. O livro de Durval Muniz de Albuquerque Júnior, “A Invenção do Nordeste e outras artes” (Cortez Editora, 2006) é uma boa prova disso. O trabalho de pesquisa para a realização do doutorado em História na Unicamp, defendido em 1994 apresenta o surgimento de um recorte espacial, de um lugar imaginário e real no mapa do Brasil, que todos nós conhecemos profundamente, não importa de que maneira, mas que nunca pudemos imaginar com uma existência tão recente. 

E falar do Nordeste é inventariar os muitos estereótipos e mitos que emergiram com o próprio espaço físico reconhecido no mapa composto por alguns estados e cidades. É mobilizar todo o universo de imagens negativas e positivas, socialmente reconhecidas e consagradas, que criaram a própria idéia de Nordeste.

Um trabalho de pesquisa aprofundado que desconstrói foucaltianamente os discursos que deram visibilidade e que tornaram dizível a região nordestina. O que o livro interroga não é apenas por que o Nordeste e o nordestino são discriminados, marginalizados e estereotipados pela produção cultural do país e pelos habitantes de outras áreas, mas ele investiga por que há quase 90 anos dizemos que somos discriminados com tanta seriedade e indignação. Como, por meio de nossas práticas discursivas, reproduzimos um dispositivo de poder que nos reserva o lugar de pedintes lamurientos.

“Nós, os nordestinos, costumamos nos colocar como os constantemente derrotados, como o outro lado do poder do Sul, que nos oprime, discrimina e explora. Ora, não existe esta exterioridade às relações de poder que circulam no país, porque nós também estamos no poder, por isso devemos suspeitar que somos agentes de nossa própria discriminação, opressão ou exploração. Elas não são impostas de fora, elas passam por nós.

Longe de sermos seu outro lado, ponto de barragem, somos ponto de apoio, de flexão. A resistência que podemos exercer é dentro desta própria rede de poder, não fora dela, com seu desabamento completo”, escreveu no prefácio.

“O Nordeste é tomado, neste texto, como invenção, pela repetição regular de determinados enunciados, que são tidos como definidores de caráter da região e de seu povo, que falam de sua verdade mais interior”. As fontes utilizadas foram desde o discurso acadêmicos, passando pela publicação em jornais de artigos ligados ao campo cultural, à produção literária e poética de romanistas e poetas nordestinos ou não, até músicas, filmes, peças teatrais, que tomaram o Nordeste por tema e o constituíram como objeto de conhecimento e de arte.

Divididos em três capítulos, o primeiro, Geografia em Ruínas acompanha as transformações históricas que possibilitaram a emergência da idéia de Nordeste, desde a emergência do dispositivo das nacionalidades, passando por uma mudança na sensibilidade social em relação ao espaço, à mudança da relação entre olhar e espaço trazido pela modernidade e pela sociabilidade burguesa, urbana e de massas.

O segundo capítulo, Espaços da Saudade, aborda esta invenção regional, o surgimento do Nordeste como um novo recorte espacial no país, rompendo com a antiga dualidade Norte/Sul. A seca, o cangaço. O messianismo, as lutas de parentela pelo controle dos Estados, são temas que fundarão a própria idéia de Nordeste, uma área de poder que começa a ser demarcada, com fronteiras que servirão de trincheiras para a defesa dos privilégios ameaçados.

No terceiro capítulo, Territórios da Revolta, é abordado uma série de reelaboração da idéia de Nordeste, feitas por autores e artistas ligados ao discurso de esquerda. Nordeste gestado, a partir dos anos 30, por meio de uma operação de inversão das imagens e enunciados consagrados pela leitura conservadora e tradicionalista que dera origem à região. Obras como as de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Portinari, João Cabral de Melo Neto produzem Nordestes vistos pelo avesso, Nordeste como região da miséria e da injustiça social. Estes Nordestes, construídos pelo avesso, ficam presos, no entanto, aos mesmos temas, imagens e enunciados consagrados e cristalizados pelos discursos tradicionalistas.
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