ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2024 E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

 O aquecimento global é uma consequência direta do modo de vida que os seres humanos impuseram ao planeta. O modo de produzir e o modo/hábitos perdulários de consumo provocam, com maior intensidade e frequência, catástrofes e eventos climáticos extremos em várias partes do mundo, com ondas de calor e frio, chuvas torrenciais (desmoronamentos e inundações), secas, incêndios florestais de grande magnitude e aumento do nível do mar.

Do ponto de vista científico, não existem mais dúvidas que tais fenômenos ocorrem devido à ação humana, elevando o aumento médio da temperatura do planeta. Principalmente pelo uso de fontes energéticas fósseis (petróleo e derivados, carvão mineral e gás natural), desmatamento desenfreado e da agropecuária extensiva.

Se não evitarmos as causas do aquecimento nos próximos anos, as mudanças no clima continuarão a causar catástrofes, colocando em risco a própria sobrevivência da vida na Terra. Banir os combustíveis fósseis e conter o desmatamento são tarefas prioritárias. A natureza nunca foi inimiga, e sem ela não existirá vida em nossa Casa Comum.

No Brasil, um dos mais ricos países em abundância de fauna e flora, avançamos na geração de energia elétrica com fontes renováveis (sol, vento, biomassa), mas infelizmente ainda não adotamos as medidas necessárias para conter o desmatamento em todos os biomas. A ganância incentivada pelo capitalismo, pelos meros interesses econômicos, tem reduzido drasticamente a vegetação e as florestas.

Logo mais teremos eleições que vão escolher novos prefeitos (as) e parlamentares, para compor os legislativos municipais em mais de 5.000 municípios. É um momento propício para a reflexão acerca das questões ambientais e para debater propostas de como enfrentar os desafios da crise climática. Sem a consciência das pessoas sobre a importância da conservação e da preservação ambiental, estamos fadados à derrota.

A Constituição Cidadã de 1988 estabelece que todas as esferas do Poder Público – federal, estadual, municipal - devem promover o equilíbrio ambiental como garantia para as gerações futuras. O papel dos municípios é fundamental no desenvolvimento e implementação de políticas públicas ambientais de enfrentamento às causas e efeitos das mudanças climáticas.

Ninguém mora na União, nos Estados. As pessoas moram nos municípios. É neles, que os serviços são prestados, as crianças estudam, os adultos trabalham, os alimentos são produzidos, a vida acontece. Daí a importância de comprometer as autoridades executivas e legislativas com a defesa da Mãe Terra. Já os munícipes, precisam fazer a escolha certa dos homens e mulheres que governarão pelos próximos 4 anos.

O Nordeste semiárido, o mais populoso do mundo, com 30 milhões de moradores, é um dos locais mais vulneráveis às mudanças climáticas. Estudos, com o uso de satélites, indicam a redução drástica da vegetação no bioma Caatinga, que diminui de tamanho, ano a ano, favorecendo a redução das chuvas, com diminuição da produção de alimentos e aumento das temperaturas. Isto afeta diretamente seus habitantes.

Logo, nas eleições municipais é fundamental que o debate também seja pautado na questão ambiental, pois a realidade do dia a dia ocorre na esfera municipal. Um dos aspectos mais importantes para tornar uma cidade saudável, sustentável, e assim melhorar a qualidade de vida das pessoas, na área urbana e rural, é a participação social, que se dá também nas eleições.

A pergunta que não quer calar é "Até quando esperar para começar as mudanças tão necessárias?

Escolher prefeitos (as) vereadores (as) comprometidos em mudar a atual realidade contribuirá para melhorar a qualidade de vida nos municípios, cujo papel é fundamental no enfrentamento da crise climática e ambiental. Daí você eleitor (a):

- Procure conhecer o passado e a biografia do candidato (a) e a trajetória de seu partido na defesa do meio ambiente e das causas populares.

- Investigue as alianças do partido do candidato (a) e seus projetos, quais os interesses que defende e quem financia.

- Confronte o discurso e a prática do candidato (a). Não vote nos negacionistas que negam a crise climática. Nem naqueles que usam as redes sociais para mentir e propagar o ódio. Não vote em mentirosos, demagogos e postulantes burgueses, ou apadrinhados por bancos e latifundiários.

- Não se venda por nada. Analise a campanha do candidato, não confie em palavras vazias. Olho nos oportunistas que fazem da política trampolim para enriquecerem. Vote em candidatos a prefeito (a) e vereador (a) comprometidos com as lutas populares.

- Fuja do cabresto. Não vote em quem o padre, patrão, pastor manda votar.

- Não vote em quem ataca os grupos, associações, sindicatos, organizações não governamentais que defendem os pobres.

- Procure conhecer as propostas. Se são factíveis, ou meras promessas. No passado fez o que pelos pobres e vulneráveis/ Como propõem estimular maior participação social no seu governo?

- Discuta com seu candidato (a) algumas propostas que devem estar presentes no processo eleitoral e integrar o programa de governo, sua atuação parlamentar. Sugestão:

· Promover ações de prevenção, proteção e recuperação ambiental, como a criação e incentivo a viveiros com distribuição de mudas nativas e frutíferas para a população.


 Incentivar a agricultura familiar no município, com distribuição de insumos necessários no contexto de práticas agroecológicas.

 Combater o desmatamento regional.

· Atender às melhorias reivindicadas pelas populações rurais, incentivando a permanência no campo (iluminação, recuperação de estradas, transporte, internet, saneamento, ...).

· Fortalecer e potencializar os Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente.

· Criar os Conselhos Municipais de Educação Ambiental, instituindo nas escolas (urbanas e rurais) temas relacionados às mudanças climáticas, à preservação e importância da natureza na vida das pessoas.

· Combater as "fake news", o negacionismo ambiental, com estratégias institucionais de checagem, além de informação direta em sites institucionais sobre a situação climática e seus impactos.

 Fortalecer a governança e a gestão dos bens comuns da natureza, do financiamento, proteção e recuperação dos mananciais.

· Garantir recursos no planejamento orçamentário para a gestão hídrica e do meio ambiente, com ampla participação e controle social.

Recente pesquisa, promovida pela Confederação Nacional dos Municípios, registrou que só 2 em cada 10 municípios estão preparados para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Esta situação impõe a intensificação de estratégias e ações urgentes para evitar que a população sofra mais.

Devemos aproveitar o processo eleitoral em curso como um momento auspicioso para a discussão, conscientização e proposição de políticas públicas sociais, rumo a conquista de municípios sustentáveis e resilientes diante do aquecimento global, maior desafio já enfrentado pela humanidade!

Heitor Scalambrini Costa-Professor associado aposentado da Universidade Federal de Pernambuco. Graduado em Física, Mestrado em Ciências e Tecnologias Nucleares e Doutorado em Energética. Membro da Articulação Antinuclear Brasileira.


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ARTIGO: DO SEMIÁRIDO A AMAZONIA

É sina da população do Semiárido a de migrar. Com efeito, a região não tem como sustentar uma população que cresce. As pessoas migram a procura de melhores condições de vida. Arriscam-se até. E, nesse processo, podem acontecer muitas coisas.

O caso das migrações do Semiárido para a Amazônia já é muito conhecido. As pessoas foram empurradas pelas crises de secas, especialmente a de 1877-79, e atraídas pela promessa de eldorado. Lá, na Amazônia, os problemas de cada um seriam resolvidos. Se tinham fome, só precisava ir ao rio, sempre bem próximo, pegar um peixe, e comer. Trabalho não faltava, os seringais se espalhavam.

Estudamos o assunto quando da realização da primeira ICID – Conferência Internacional sobre Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável de Regiões Semiáridas. O tema ainda é atual, para todas as regiões. Lá, na ICID, tivemos uma apresentação sobre as migrações do Nordeste para a Amazônia, feita por Tania Bacelar e Jean Bittoun. Ver o artigo publicado no livro da ICID chamado “Climate Variability, Climate Change and Social Vulnerability in the Semi-arid Tropics”, editado por Jesse Ribot, Antonio Magalhães e Stahis Panagides, publicado pela Universidade de Cambridge.

Na década de 1950, o então jovem escritor paraense chamado Leandro Tocantins escreveu o livro “Um Rio Comanda a Vida”. Segundo esse escritor, esse livro foi a raiz dos seus livros posteriores, já que foi muito prolífico na sua vida. Ele escreveu, em um dos capítulos do “Rio Comanda a Vida”, que o estado do Acre basicamente foi anexado ao território brasileiro por causa dos nordestinos do Semiárido que foram expulsos pela seca de 1877, especialmente pelos cearenses. Em qualquer comunidade do Acre onde se chegasse se poderia fazer o teste. Todos eram nordestinos, a maioria era do Ceará. Com isso, eles conseguiram ocupar um espaço vazio para tirar seringa e aumentar o território brasileiro em cerca de 150.000 km2.

Hoje a situação está mudada, mas nem tanto. Nas solenidades no Acre, ainda se canta o hino do Ceará. Os cearenses chegaram ao Acre, encontraram uma esposa indígena, procriaram, muitos morreram, muitos ficaram dependentes do dono do seringal por toda a vida, alguns enriqueceram e puderam mostrar a pujança de Manaus e de Belém durante o ciclo da borracha. Nessa labuta, o rio era sempre o meio de transporte, o canal de riqueza e de pobreza. As cidades foram se estabelecendo nas margens do rio, que comandava tudo.

Leandro Tapajós fala dos batelões, os barcos comandados por árabes (sírios e libaneses) que dominavam o comércio nos recantos dos rios na Amazônia. Era a civilização aquática, a união entre o semiárido e a Amazônia, o seco e o úmido, as secas do Nordeste e as cheias dos rios amazônicos. Mas a mesma pobreza, a mesma população sobre quem se baseava o bem-estar de uma pequena minoria.

Nesse quadro, o Rio Amazonas despontava como o Deus de todas as águas, o rei que comandava tudo. Ainda é assim, embora a Amazônia esteja cada vez mais devastada para suprir a fome do mundo em novas madeiras, em soja e em gado.

Por Antonio Rocha Magalhães

armagalhaes@gmail.com

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A SINA DE CANTADOR DO POETA ALDY CARVALHO

O cantador e poeta petrolinense Aldy Carvalho é  um artista completo, nascido no sertão de Pernambuco, cuja obra reflete o rico universo nordestino. Como poeta, cantador, escritor, compositor e violonista, sua arte é um verdadeiro mosaico de sons e histórias.                     

Recentemente Aldy lançou  nas redes o single "É  Preciso Amar" (Arnaldo Carvalho e José  Verismar dos Santos), um xote envolvente e de mensagem positiva da vida, onde Aldy imprime seu estilo através  da excelente interpretação  e dos arranjos que concebeu para a música,  não  obstante isso esse poeta, cantador das barrancos do São  Francisco, não  para. Aldy segue autografando sua mais recente obra literária "O Menino Iluminado". O livro, no gênero codel, traz ilustrações  de Anna B. Gonzalez, que com sensibilidade artística primorosa enriquece mais ainda a obra do autor cantador.                                                     

Lançado  pela Companhia do Cordel Edições " O Menino Iluminado", conforme Ely Verissimo, é  um convite  a nos tornarmos crianças com tudo no que isso implica, sobretudo, que sejamos capazes de ver, novamente, o que se tornou invisível  aos nossos olhos, isto é, o divino que nos cerca e que está,  como sempre esteve, em nós  mesmos. Desde a infância, Aldy  encantava amigos e familiares com suas narrativas e causos. Hoje sua discografia e bibliografia são testemunhos vívidos desse talento. Com álbuns como Redemoinho, Alforje, Cantos d'Algibeira, SerTão Andante e o mais recente Tempo Menino além de obras literárias como *Memórias de Alforje, Via-Sacra: o caminho da luz, A Preá  e a Cobra e O Cavaleiro das Léguas, Aldy Carvalho se consolida como um dos grandes cantadores, contadores de histórias do Brasil, imortalizando o lirismo do sertão em suas criações.   

 Aldy estará  presente com seu "O Menino Iluminado" na FLAE (Feira Literária  de Associados Escritores) da AFPESP em São  Paulo de 22 a 26 de julho de 2024 e confirma sua presença como autor convidado na 27ª  Bienal Internacional do Livro de São  Paulo de 06 a 13 de setembro de 2024.                                                                   O livro "O Menino Iluminado" bem como outras obras literárias e musicais deste poeta e cantador podem ser adquiridos através dos contatos: 

www.companhiadocordel.com.br

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MORRE AOS 75 ANOS O FORROZEIRO BILIU DE CAMPINA


Severino Xavier de Souza, de 75 anos, mais conhecido como Biliu de Campina, morreu na tarde desta segunda-feira (8) no Hospital de Trauma de Campina Grande. Nascido em 1º de março de 1949, Biliu foi um compositor, cantor e advogado paraibano.

Biliu de Campina estava internado no Hospital de Trauma de Campina Grande desde o último dia 24 de junho, em virtude de uma queda que provocou um sangramento na cabeça. A situação de Biliu se agravou e ele precisou ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Por ter 75 anos e uma condição de comorbidades, como hipertensão e diabetes, ele apresentou dificuldades para respirar e ficou entubado na UTI.

A informação da morte de Biliu foi confirmada inicialmente pela produção do artista. Segundo a produção, a morte do artista foi provocada por uma parada cardiorrespiratória. Por volta das 16h30 desta segunda (8), o Hospital de Trauma de Campina Grande confirmou a informação em uma nota (leia abaixo).

"O Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande informa, com profundo pesar, o falecimento do cantor e compositor, Severino Xavier de Souza, “Biliu de Campina”, de 75 anos, na tarde desta segunda-feira, às 14h55".

O velório de Biliu de Campina deve acontecer no Teatro Municipal Severino Cabral, no Centro de Campina Grande.

Forrozeiro formado em direito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), trocou a advocacia pela música em 1978, quando iniciou a carreira artística, resgatando o forró de raiz, o cantor e compositor se auto-intitulava como o maior carrego de Campina Grande.

Na carreira musical, Biliu de Campina lançou três discos independentes: Tributo a Jackson e Rosil, Forró o Ano Inteiro e Matéria Paga, e lançou dois cds independentes: Do Jeito que o Diabo Gosta e Forrobodologia.

No ano de 2002, mantendo seu lado irreverente, lançou outro projeto, o cd 'Diga Sim a Biliu de Campina', trocadilho da campanha nacional do combate à pirataria, que dizia "Diga não a Pirataria".

Forrozeiro Nato-O forró de Biliu tem toda a essência dos forrós tradicionais, com um swing característico dos discípulos de Jackson do Pandeiro. Na sua história em Campina Grande, Biliu fez de tudo um pouco no meio da música, chegando a ser puxador de samba nos carnavais da Rainha da Borborema. Mas o que o artista fez por muitos anos foi subir no palco do Maior São João do Mundo, no Parque do Povo.

Carreira Artística-Biliu teve sua primeira composição gravada em 1984, "A Grande Herança", por Messias Holanda e criou a banda "Os ETs do Forró". Em seus três primeiros discos, incluiu, além de suas composições, outras já consagradas, como "O canto da ema", de João do Vale, Aires Viana e Alventino Cavalcanti, e "Sebastiana", de Rosil Cavalcanti. Gravou também "Galo I (trupizupe)" e Galo II (embalo geral) músicas do bloco Galo de Campina, com arranjos do maestro Gabymar Cavalcanti.

Em 1989, participou com Gilberto Gil de show realizado no Parque do Povo, em Campina Grande, no lançamento do movimento político-ecológico "Onda Azul" e que também serviu como homenagem aos 70 anos de Jackson do Pandeiro. Em 1999, foi homenageado durante o Forró Fest.

Foi essa mistura de ritmos, humor e tradição que levou o artista a ser homenageado com o troféu Ícone da Cultura do projeto Sesi Forró na empresa 2008. De lá pra cá, Biliu esteve presente em quase todas as edições do Maior São João do Mundo em Campina Grande.

No dia 30 de março de 2022, Biliu de Campina e outros artistas da região foram reconhecidos pelo estado como os novos mestres das artes, pela Lei Canhoto da Paraíba.

Biliu de Campina em uma de suas internações no Hospital Pedro I, em Campina Grande — Foto: SMS Campina Grande/Divulgação

Biliu de Campina em uma de suas internações no Hospital Pedro I, em Campina Grande — Foto: SMS Campina Grande/Divulgação

Estado de saúde debilitado-Em 2022, Biliu ficou internado no Hospital Municipal Pedro I, em Campina Grande, com um quadro de congestão pulmonar e precisou fazer sessões de diálise. Em julho do mesmo ano, ele deu entrada novamente em uma UPA da cidade e foi transferido para o Hospital Municipal Dr. Edgley, com edema agudo hipertensivo provocado por uma hipervolemia, que é o excesso de líquido nos pulmões em função de uma doença renal crônica. Após a recuperação, deixou o hospital no dia 6 de julho.

A última aparição de Biliu foi em 29 de março de 2023, durante um evento particular em Campina Grande, em que ele era o homenageado. Em 30 de março, o cantor procurou uma unidade hospitalar com um pico hipertensivo, pressão arterial, pressão alta, dificuldade na fala e outros sintomas difusos, o que levantou suspeita de AVC.

Já em junho 2024, Biliu de Campina foi internado no Hospital de Trauma de Campina Grande dois dias depois de ter o show no Maior São João do Mundo cancelado. Dias depois, Zezé di Camargo e Luciano homenagearam Biliu no palco principal do Parque do Povo.


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INDUSTRIA DO GESSO ESTÁ DESTRUINDO O BIOMA CAATINGA

 No Brasil, a indústria do gesso está destruindo um bioma precioso do nosso país: a Caatinga. A produção depende da queima de madeira, e as empresas estão desmatando cada vez mais, indo cada vez mais longe em busca de lenha. As consequências podem ser irreversíveis e ameaçam transformar o sertão pernambucano em um deserto.

O desmatamento e a falta de energias alternativas podem levar ao colapso da maior região produtora de gesso no país. Milhares de toras de madeira alimentam os fornos do polo gesseiro de Pernambuco - o maior do país, a 700 km do Recife. De lá saem 97% da gipsita do Brasil. É a quarta maior reserva do mundo.

"Gera muito emprego, gera renda para região”, afirma o economista e consultor Werson Kaval.

Dia e noite, sete dias por semana: 20 mil pessoas dependem direta ou indiretamente do que é produzido pelas 500 mineradoras, calcinadoras, fábricas de pré-moldados. Desde a década de 1960 que a Caatinga está virando carvão. Mas, agora, a natureza parece estar no limite. E as indústrias do gesso se tornaram vítimas do desmatamento que causaram.

"O setor gesseiro hoje vive um colapso iminente”, afirma Jefferson Araújo Duarte, presidente do Sindicato das Indústrias do Gesso do Araripe.

Com a escassez de árvores, a lenha está vindo cada vez mais de longe.

"Hoje, grande parte das empresas conseguem trazer essa lenha com 650, 700 km de distância”, Jefferson Araújo Duarte.

Para se transformar em gesso, a pedra de gipsita precisa passar por um processo de calcinação, ou desidratação, que é a retirada da maior parte da água. E, para isso, é preciso queimar muita lenha.

Depois da explosão nas minas, o britador quebra a gipsita. É para facilitar o transporte. Caminhões lotados levam o mineral que vai ser usado na construção civil, em hospitais, e até na agricultura para correção do solo. Só depois de triturada, a pedra segue para os fornos das calcinadoras. Sob altas temperaturas, a gipsita se desidrata, fragmenta e vira pó.

Só que com a tonelada da lenha custando cerca de R$ 230 e a do gesso vendida a R$ 250, a conta está difícil de fechar.

O frete é outro problema. Muitos caminhões irregulares circulam à noite abarrotados de lenha. O Fantástico acompanhou uma blitz da Polícia Rodoviária Federal em Araripina. Em poucas horas, quatro caminhões foram apreendidos com várias infrações.

Devastação na Caatinga-A apreensão de lenha sem comprovação da origem aumentou em 500% em 2023.

O engenheiro florestal Ivan Ighour estudou a devastação na Caatinga no polo gesseiro. Ele comparou imagens de satélites ao longo de dez anos na região.

"A informação que a gente tem com esse estudo é que ao longo do ano se extrai 11 mil campos de futebol aqui da região do Araripe, de forma legal e ilegal”, diz Ivan Ighour Silva Sá.

A vegetação da Caatinga não existe em nenhum outro lugar do mundo. É um bioma que só o Brasil tem. E nem assim ele conseguiu escapar do desmatamento. A natureza paga um preço alto por esta destruição. Com a terra mais seca, sem a cobertura vegetal, o processo de desertificação se agrava.

Segundo levantamento do MapBiomas, restam pouco mais de 57% da vegetação nativa da Caatinga no Nordeste.

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OS BIOMAS CAATINGA E CERRADO ESTÃO SENDO DESTRUÍDOS PELAS FORMAS DE EXPLORAÇÃO

Como amante da obra de João Guimarães Rosa, especialmente do romance Grande sertão: veredas, confesso que fiquei apreensivo e um pouco indignado com a produção de Grande sertão, filme de Guel Arraes e roteiro de Jorge Furtado, baseado na obra de Rosa. Fiquei pensando como poderiam ter a coragem de "brincar" com uma das obras mais importantes da literatura brasileira e mundial, um orgulho para o Brasil. Não concebia a ideia de que o cenário da obra poderia ser completamente diferente do que está no romance, tendo em vista que um dos objetivos de Guimarães Rosa foi justamente retratar o sertão do Brasil profundo, com suas mazelas e belezas características dessa região.

No entanto, ao assistir ao filme, coincidentemente na semana em que se comemora o nascimento de Guimarães Rosa, 27 de junho, vi que estava completamente enganado. Fiquei totalmente bem impressionado não só com a excelente produção, como também com os atores, todos, especialmente Caio Blat, que dá um verdadeiro show, tanto na fase jovem de Riobaldo, quanto na fase em que, mais velho, relata os fatos marcantes da sua saga. Também o cenário, que mais parece uma favela futurista, que mostra a realidade de uma sociedade na qual impera a "lei do mais forte"; de um lado, os "barões" da bandidagem, e, do outro, os "agentes da lei", imersos na corrupção, com as comunidades tendo que conviver com o fogo cruzado e com todo tipo de injustiça social, assim como nos dias atuais.

Aí vemos quão grandiosa é a obra de Guimarães Rosa, pois não se trata de uma literatura regionalista e datada, mas, sim, de uma obra que alcança uma linguagem universal e atemporal.  Daí, a possibilidade de transpor o roteiro para outras realidades. Conforme ressaltado por Antônio Cândido, um dos mais importantes críticos literários brasileiros, trata-se de uma obra que tem um caráter metafísico: "Não é uma obra regionalista, pois toca em problemas universais, problemas que atormentam o homem em qualquer parte do universo. Quem sou eu? Quem é você? Deus existe ou não? O diabo existe ou não? O que é o bem? O que é o mal? O culpado é ele ou sou eu? O homem faz o meio ou é fruto do meio? Em Grande sertão: veredas a terra não condiciona o homem, e o homem não condiciona a luta. Não há relação causal. Os três estão no mesmo plano, tudo está embaralhado. O sertão é o lugar onde a vontade do homem se fez mais forte que o poder do lugar. O bonito em Grande sertão: veredas é a extrema ambiguidade, é fluido, as coisas são e não são, tem o lado do bem e o lado do mal. Todas as vezes que se faz o mal, sem querer, se faz o bem. Isso é um paradoxo, a ambiguidade máxima".

Assim, saí feliz do cinema e mudei completamente meu sentimento inicial, e acredito que Guimarães Rosa também estaria feliz. Conversando com Lucas, meu enteado, que faz artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB), ele colocou algo interessante. Acredita que Guimarães Rosa se sentiria honrado em ter sua obra passando por uma releitura, sendo transposta para uma realidade atual, em um cenário completamente diferente, de forma corajosa e que quebra a nossa ideia de sertão.

Por falar em sertão, o real, este, sim, está sofrendo bastante. Os biomas Cerrado e Caatinga, que abrangem o que é denominado sertão, estão sendo destruídos pelas formas  como estão sendo explorados e ocupados. A expansão desenfreada das atividades agropecuárias, incentivadas e legalizadas pelo poder público, sem uma estratégia minimamente aceitável de preservação dos biomas, ocasionada principalmente pela produção de commodities para exportação, está determinando um futuro sombrio. 

Está mais do que na hora de a sociedade refletir e debater se é isso que queremos. Do contrário, enfrentaremos problemas seríssimos, como o aumento da emissão de gases do efeito estufa, o aumento da seca e de processos de desertificação na Caatinga, a perda da biodiversidade e a diminuição da oferta de água no Cerrado. O Parque Nacional Grande Sertão Veredas e o Mosaico Sertão Veredas Peruaçu, localizados no sertão do noroeste de Minas Gerais e sudoeste da Bahia, que abrangem o cenário original da obra de Guimarães Rosa, são estratégias importantes e interessantes que unem cultura e meio ambiente e poderiam ser consolidadas e replicadas em outras partes do Cerrado e da Caatinga, ajudando na conservação do ambiente e do povo do sertão.

Guimarães Rosa, com certeza, estaria muito triste de presenciar o que está acontecendo no sertão. Apesar de a sua obra transpor fronteiras e o tempo, o cenário original e o povo do sertão foram suas mais fortes fontes de inspiração, pois, diferente do filme, sem as veredas, não há um grande sertão.

Cesar Victor do Espírito Santo — Engenheiro florestal e conselheiro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), representando a sociedade civil da Região Centro-Oeste

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TRIBUTO A VIRGOLINO A CELEBRAÇÃO DO CANGAÇO TEM INÍCIO NESTA SEXTA-FEIRA EM SERRA TALHADA

Para lembrar o nascimento de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, a Fundação Cabras de Lampião vai realizar mais uma edição do festival multilinguagens Tributo a Virgolino – A Celebração do Cangaço.

 Entre a próxima sexta-feira e domingo, o Quintal do Museu do Cangaço, o Espaço Cangaço Fitness e o Sítio Passagem das Pedras vão receber apresentações de música, teatro, dança, fotografia, literatura, artesanato, gastronomia, visitas e trilhas, tudo fortalecendo a cultura popular local. Os serratalhadenses e os turistas vão poder conferir as exibições artísticas de graça.

"O Tributo a Virgolino" é uma vitrine de várias linguagens artísticas que celebra o legado cultural deixado pelos cangaceiros. Trata-se de uma homenagem à data de nascimento do Rei do Cangaço", comentou Cleonice Maria, presidente da Fundação Cabras de Lampião. O festival teve a sua primeira edição em 1993.

No primeiro dia de atividades, o Quintal do Museu do Cangaço vai receber, a partir das 21h, Coco Trupé de Arcoverde e George Silva. No sábado, as danças vão marcar presença no local, já pela manhã, a partir das 10h, com Sertão Latino, Ponto de Cultura Herdeiros do Xaxado e Grupo Cultural Sanfonar.

Mais tarde, começando às 15h, ainda no sábado, será a vez do Grupo Filhos do Sol, do Ponto de Cultura Mistura Pernambucano e da Companhia Soul Dance. À noite, das 21h em diante, Assisão, seguido por Grudinho e Trio The Grud's, é quem vai tomar conta da festa. No domingo, às 9h, a tão aguardada Celebração ao Cangaço, composta por diversos grupos da cultura popular, subirá ao palco.

Já o Espaço Cangaço Fitness terá um dia inteiro dedicado à criançada. No sábado, das 9h às 17h, acontecerá a Oficina Brincanças. Serão vivências de artes cênicas e de cultura popular ministradas por Bruna Florie. O público-alvo será formado por todos aqueles com idades entre 6 e 12 anos.

Por fim, o Tributo a Virgolino - A Celebração do Cangaço também vai oferecer uma opção verde e saudável para quem quer conhecer a história e a cultura locais. É que o Sítio Passagem das Pedras será o ponto de partida para a Trilha dos Mirantes e para a Trilha dos Umbuzeiros. Os participantes conhecerão Pedras da Emboscada, onde aconteceu o primeiro confronto armado entre os irmãos Ferreiras (família de Lampião) e Zé Saturnino (primeiro inimigo). Ruínas da antiga casa-grande da Fazenda Pedreira, pertencente a Zé Saturnino, também fazem parte do roteiro. Para participar, basta agendar o horário, para um dos três dias do evento, no Museu do Cangaço.

O evento também contará com barracas com comidas regionais e artesanatos. A programação será realizada com o incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), através da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Secretaria de Cultura de Pernambuco, Governo de Pernambuco.





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