ARTIGO: POTENCIALIDADES DO SEMIÁRIDO PARA A AGRICULTURA BRASILEIRA

O Semiárido brasileiro tem características muito desafiadoras. A maioria dos seus municípios apresenta pluviosidade inferior a 800 mm anuais. A evapotranspiração é, em média, de 2000 mm ao ano, superando a precipitação em praticamente três vezes. Nessa perspectiva, é possível analisar o tamanho do desafio que é promover o desenvolvimento da agropecuária na região. O compromisso de contribuir para uma realidade produtiva que permita evolução nos indicadores socioeconômicos atuais impulsiona a pesquisa para o desenvolvimento de soluções tecnológicas adaptadas à condição local, gerando incrementos de produtividade e oportunidade de renda.

Na região, convivem duas agropecuárias: uma tipicamente dependente de chuva e outra que utiliza a irrigação das águas do Rio São Francisco como motor que impulsiona a economia e o desenvolvimento social. Nesses dois espaços, há diferentes atividades sendo desenvolvidas e atendendo ao público diverso do Semiárido.

Para as áreas dependentes de chuva, a pecuária é um elemento importante, sendo a caprinovinocultura sua atividade principal. Cerca de 30% do rebanho caprino nacional está localizado no Semiárido, a maior parte em propriedades de agricultores familiares. Há também microrregiões que têm uma pecuária bovina de bastante relevância e bacias leiteiras consolidadas, que movimentam a economia, em especial, no limite entre o Semiárido e o litoral - o Agreste. Nestas microrregiões, onde a precipitação pluviométrica é relativamente maior, instalou-se e vem crescendo a agroindústria de produtos derivados de leite.

No segundo contexto, a agricultura irrigada trouxe a possibilidade de desenvolvimento de uma fruticultura sólida, em que os avanços tecnológicos notavelmente promovem a evolução contínua das cadeias produtivas, com destaque para três delas: melão, uva e manga. A dimensão dessa realidade, amparada pela irrigação e pelas tecnologias que lhe são associadas, é estimada quando se constata seu crescimento em poucas décadas. Os avanços ressaltam a diversificação da produção, que tornou a fruticultura do Semiárido competitiva diante do mercado nacional e internacional, trazendo um crescimento fantástico para alguns pólos de irrigação no Nordeste.

Hoje, a fruticultura irrigada está consolidada no Vale do São Francisco, em Petrolina (PE), Juazeiro (BA) e municípios do entorno; no pólo Assu-Mossoró, no Rio Grande do Norte, e também em polos do Ceará e de outras microrregiões da Bahia. O mundo reconhece a qualidade da fruta brasileira que é exportada, sendo um diferencial da capacidade produtiva da região Nordeste. Isso tudo apresenta o amplo potencial para aprimorar, crescer e tornar o Semiárido ainda mais importante para a economia nacional.

Mesmo nas regiões dependentes de chuva, tem-se uma agricultura dinâmica e, ao mesmo tempo, limitada pelos ciclos de chuva. O principal desafio, nesse caso, é a própria indisponibilidade de água, que impõe o planejamento da produção e a necessidade de adoção de estratégias de armazenamento e de uso dessa água para torná-la disponível por mais tempo.

São, dessa forma, desafios que têm escalas diferentes quando se considera as atividades da agricultura irrigada e os trabalhos desenvolvidos para a agricultura dependente de chuva, em que o fator água é o determinante de sucesso para a produção. Para que o período de disponibilidade dessa água possa ser estendido, é preciso planejar e atrelar tecnologias de captação para suplementar as limitações hídricas ao longo da produção, em culturas como o feijão-caupi, milho, mandioca e outras que refletem a diversidade de alimentos que a região Nordeste é capaz de produzir e disponibilizar para o resto do país.

O risco de perda de safras, em função da ocorrência de ciclos de seca da região, é altíssimo, mas, com estratégias e com políticas adequadas é possível amenizá-los e ampliar a importância da região para agricultura brasileira nas suas diferentes possibilidades e extratos sociais, fortalecendo as unidades familiares e as empresas absorvedoras de mão-de-obra.

Maria Auxiliadora Coêlho, Chefe-geral da Embrapa Semiárido

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"NÃO FOI MILAGRE, FOI SABEDORIA ANCESTRAL DO NOSSO POVO", DIZ LÍDER INDÍGENA WITOTO

O que salvou as quatro crianças que sobreviveram na selva amazônica colombiana por 40 dias não foi um milagre, mas sim "a força do conhecimento e da sabedoria ancestral" do povo hitoto, afirma a brasileira Vanda Witoto.

Ela é líder indígena do povo witoto, etnia da qual fazem parte os irmãos resgatados após a queda do avião em que viajavam - na Colômbia, a etnia é comumente chada de hitoto.

Vanda considera os hitoto da Colômbia seus "parentes", apesar da distância. De origem colombiana, a etnia está no Brasil desde a década de 1930, quando os indígenas fugiram das perseguições no país vizinho.

Vanda conta que seus bisavós estavam entre os que deixaram o território original do povo para trás. "Mas ainda nos vemos como parentes, pois a fronteira não cortou nossos laços", diz.

A técnica de enfermagem é professora voluntária na comunidade Parque das Tribos, em Manaus, e afirma que a autonomia, o conhecimento sobre o manejo da floresta e a busca por alimentos na selva são ensinados às crianças indígenas desde muito cedo por meio do convívio em comunidade.

"A educação se dá no cotidiano e na observação dos fazeres dos mais velhos. Desde cedo, as crianças são levadas para a roça e aprendem como cuidar e manejar a natureza, quais folhas, frutas e raízes podem comer ou como procurar rios, pescar e confeccionar instrumentos básicos", diz a líder indígena.

"Por isso, não consideramos um milagre a sobrevivência das crianças hitoto na Colômbia. Foi a força da espiritualidade, do conhecimento e da sabedoria ancestral do nosso povo que as manteve vivas."

Os irmãos de 14, 9, 4 e um ano sobreviveram à queda do avião de pequeno porte em que viajavam com a mãe e outros dois adultos em 1º de maio.

Todos os adultos morreram e eles ficaram sozinhos na selva até a última sexta-feira (9/6), quando foram encontrados pelo Exército após uma intensa busca.

Segundo Vanda Witoto, em sua cultura, a transmissão de conhecimentos não acontece na escola tradicional, mas na convivência com os pais e avós e com a natureza. "Por isso é tão importante garantir o direito à terra", diz.

"Se hoje temos a condição de continuar existindo mesmo diante de toda a violência estrutural que enfrentamos, não só no Brasil, mas em toda a América, é por conta da força da nossa relação com a floresta, com os rios e com a terra."

Como professora voluntária no bairro indígena Parque das Tribos, Vanda afirma que trabalha a preservação da cultura e da sabedoria ancestral.

"Nós indígenas costumamos ter muito baixa autoestima de ser quem somos por conta do preconceito. Então, trabalhamos a valorização da identidade indígena, das nossas línguas e história com as crianças", afirma.

Nativos da Colômbia, os witoto se deslocaram para o Peru e o Brasil para fugir da violência enfrentada em seu território original, advinda principalmente da exploração da borracha na região e da ação de guerrilhas como a extinta Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

A grafia do nome do povo varia conforme o país - na Colômbia são hitoto e no Peru, uitoto - mas os costumes mantidos pela etnia são os mesmos em todos os locais.

No Brasil, o povo witoto vive no Estado do Amazonas, principalmente no Alto Solimões, na região da tríplice fronteira com Peru e Colômbia.

A região abriga atualmente cerca de três aldeias com mais de 150 famílias, que vivem da caça, da pesca e do extrativismo.

Outros indígenas da etnia também vivem no Parque das Tribos, como é o caso de Vanda Witoto.

"Meus bisavós fugiram da Colômbia de canoa e se instalaram no Brasil", conta.

"Nós nos distanciamos do nosso território ancestral, mas, em 2021, fizemos o primeiro encontro entre os witoto do Brasil e da Colômbia em cem anos."

Vanda diz que a mãe das crianças, que morreu no acidente de avião na Colômbia, é parente de uma tia sua que vive em Bogotá, capital da Colômbia.

"Na verdade, dizemos que todos somos parentes, apesar de não compartilharmos necessariamente vínculos de sangue."

Vanda conta ainda que, durante as buscas pelas crianças na selva amazônica, todos do povo se juntaram em um movimento espiritual para que fossem encontradas.

"Os povos originários seguram o céu. Nós fazemos isso a partir das medicinas tradicionais, da espiritualidade e da relação com a floresta."

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UNIVASF TERÁ CURSO DE MESTRADO EM POLÍTICA, CULTURA E MEIO AMBIENTE

A Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) oferecerá à comunidade mais um curso de pós-graduação: o mestrado em Política, Cultura e Ambiente (PoCAm). O curso, que tem caráter acadêmico na área de Antropologia, será binucleado com oferta nos campi Juazeiro (BA) e Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (PI). O resultado foi publicado na última quarta-feira (7), pela Diretoria de Avaliação (DAV) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O PoCAm cobrirá uma demanda produzida pelas Instituições de Ensino Superior (IES) da região, particularmente pelos cursos de Antropologia e Ciências Sociais da Univasf. O novo Mestrado propõe uma formação baseada no estudo das relações políticas, culturais e ambientais que constituíram o semiárido brasileiro. O curso, apesar de ser disciplinar na área de Antropologia,  incentiva uma interdisciplinaridade em diversas áreas das Ciências Humanas e das Ciências Sociais Aplicadas, como Sociologia, Estudos Latino-Americanos, Demografia, Administração Pública, Musicologia, Arqueologia e Geografia. 

O coordenador da proposta de criação do curso apresentada à Capes, professor Adalton Marques, afirma que o desenho interdisciplinar do qual o mestrado é constituído possibilitará a atuação em diversos setores da sociedade. “Essa abordagem proporciona uma formação integrada em pesquisa e extensão, aquisição de habilidades para que os estudantes atuem como docentes em diversos níveis e capacitação profissional na produção, inovação e promoção artístico-cultural e de tecnologias sociais e educacionais voltadas à administração pública e organizações da sociedade civil”, afirma Marques.

Para a pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Maria Helena Tavares de Matos o curso, além de permitir a produção e a difusão de conhecimentos em ciências humanas e sociais sobre o semiárido nordestino, irá interiorizar a  pós-graduação na região. “O novo mestrado também contribui para a interiorização da formação, em nível de pós-graduação, em antropologia no Nordeste, especialmente, no Vale do São Francisco e do Sudeste do Piauí, uma vez que o programa terá sedes em dois campi, em São Raimundo Nonato e Juazeiro”, destaca. 

O corpo docente do PoCAm contará com 12 professores permanentes, seis do Campus Juazeiro e a outra metade do Campus Serra da Capivara, além de três colaboradores. As disciplinas obrigatórias serão ofertadas conjuntamente por docentes dos dois campi, sendo que os discentes assistirão parte delas presencialmente, com professores de seu campus, e a outra parte será ofertada por meio remoto. Anualmente haverá a integração de docentes e discentes dos dois núcleos do PoCAm, através de um evento acadêmico. A previsão é que a primeira turma do mestrado ingresse em 2024.

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FEIRA DE ORGÂNICOS DA UNIVASF CELEBRA UM ANO DE REALIZAÇÃO COM PROGRAMAÇÃO ESPECIAL

Há um ano, toda quinta-feira, na Universidade Federal do Vale do São Francico (Univasf), acontece a Feira de Orgânicos que comercializa alimentos como legumes, hortaliças, frutas e verduras, na rampa do prédio da Reitoria, no Campus Sede, em Petrolina (PE). A ação é promovida pela Diretoria de Arte, Cultura e Ações Comunitárias (Dacc), vinculada à Pró-Reitoria de Extensão (Proex), em parceria com a Associação dos Agricultores Familiares do Assentamento Terra da Liberdade. 

Para celebrar um ano de realização da feira, nesta quinta-feira (15), a partir das 8h, haverá uma programação especial com visitação à exposição “Frame e Recorte” e exibição de documentário, produzido por estudante e professoras do Colegiado de Artes Visuais (Cartes).

Na programação festiva, haverá a exibição do documentário "Assentamento Terra da Liberdade - Falta água nesse chão?", produzido pelo discente Bruno de Melo e pelas docentes Isabela Barbosa e Havane Melo do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Univasf.  A obra, que conta com a participação de Maria José da Conceição, Marinalva Pereira da Silva, Idenildo Damião de Souza e Maria Lopes da Silva, membros do Assentamento Terra da Liberdade, será exibida às 10h, na antiga sala do Conuni, na Reitoria.

Documentário será exibido quinta-feira.

Também como parte da programação a artista Rafaela Lucas, discente do Cartes, receberá os agricultores e estudantes da escola do Assentamento em visitação à sua exposição "Frame e Recorte", que está disponível no hall da Reitoria. A Mostra apresenta obras que são representações denominadas dioramas, formas artísticas tridimensionais de caráter realista, de cenas da vida para fins de exposições diversas, e são baseadas em filmes de animações.

A Feira de Orgânicos é uma iniciativa do Projeto de Extensão da Dacc “A Feira de Agricultura Familiar como Dispositivo de Transformação Social e Preservação Ambiental”. Segundo a diretora da Dacc, professora Flora Romanelli Assumpção, a feira tem tido um impacto positivo tanto para os comerciantes quanto para os clientes. “A feira está sendo muito positiva para a renda dos agricultores, bem como pros clientes que já têm consciência da importância da agricultura orgânica e de alimentos que não nos adoecem nem ao planeta”, afirma.

A celebração que acontecerá nesta quinta-feira será um momento de interação entre a Universidade e membros do Assentamento Terra da Liberdade. Para a professora Flora é importante manter uma relação entre Universidade e a comunidade em geral. “A população precisa compreender que seu bem-viver também depende do desenvolvimento das pesquisas e ações de comunicação das universidades. Estamos vivendo um momento em que a população precisa aprender sobre os benefícios que as universidades lhes proporcionam em termos de saúde, cultura e conquista de cidadania”, disse a diretora da Dacc.

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LULA INAUGURA BATE-PAPO SEMANAL NAS REDES SOCIAIS: CONVERSA COM O PRESIDENTE

Ao realizar um balanço dos primeiros seis meses de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (13) estar “extremamente satisfeito” com o trabalho desempenhado até o momento. Nas redes sociais, ao inaugurar um bate-papo semanal que recebe o nome Conversa com o Presidente, ele avaliou que o governo atual trabalhou mais do que em qualquer outro momento da história por ter encontrado “um país destruído”.

“Fazer reforma e reconstruir é muito mais difícil do que fazer uma coisa nova. Como nós tínhamos uma quantidade enorme de políticas públicas que tinham dado certo, a gente então resolveu recriar essas políticas públicas para, a partir do dia 2 de julho, lançar um grande programa de obras, um grande programa para o desenvolvimento nacional, com obras de infraestrutura em todas as áreas.”

Durante a live, Lula disse ter encontrado cerca de 14 mil obras paradas quando assumiu o governo em janeiro – 4 mil apenas na área da educação. “O povo brasileiro tem que ter um pouquinho de paciência porque não vai ter fake news no nosso governo”.

“Governar é como plantar uma árvore. Você plantou uma árvore frutífera, você tem que aguar, tem que ter sol e tem que esperar os frutos aparecerem. Primeiro aparece uma flor, depois, um botão. Depois esse fruto vai crescendo, vai ficando bom, vai ficando maduro e a gente come. Nós estamos nessa fase em que amadureceu. Já sabemos o que fazer daqui pra frente. Sabemos que temos que fazer muito mais do que fizemos em qualquer outro mandato que nós tivemos porque precisamos reconstruir o Brasil.”

“Sinceramente, estou extremamente satisfeito. Tenho combinado viagens aqui dentro com viagens no exterior, porque é preciso recuperar a capacidade do mercado interno brasileiro. O Brasil estava aleijado de política internacional”, disse.

“Vamos trabalhar muito porque o povo brasileiro está com muita expectativa. Ele quer emprego, quer salário, quer educação de qualidade, quer ter áreas de lazer, quer ter acesso à cultura. E tudo isso está dento do nosso planejamento para recuperar o país até 2026.”

O presidente também destacou a importância do programa Desenrola Brasil, que pretende juntar devedores e credores para renegociar dívidas e reduzir a situação de inadimplência como, por exemplo, de pessoas que ganham até dois salários mínimos ou que estejam inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) e com dívidas até 31 de dezembro de 2022. Elas poderão saldar seus débitos de até R$ 5 mil.  

"Estamos preocupados em encontrar uma saída para 72 milhões de brasileiros e brasileiras que devem e devem qualquer coisa. Estão com nome sujo no Serasa. Ou devem porque usaram o cartão de crédito para comprar comida ou devem porque usaram o cartão de crédito para enfrentar a pandemia e nós queremos ajudar essa gente. Por isso, estamos criando um programa chamando Desenrola", disse o presidente. "Nós vamos garantir isso para as pessoas: encontrar um jeito de ajudar para ela poder voltar à normalidade", acrescentou.

Previsibilidade-Lula ressaltou ainda a importância da previsibilidade para o crescimento da economia do país. O presidente lembrou o encontro com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, em Hiroshima, no Japão. Na ocasião, os dois trataram da situação de países da América Latina. 

"É por isso que encontrei com a presidente do FMI em Hiroshima e disse para ela: "vou te avisar uma coisa. A previsão do FMI sobre o crescimento do Brasil está equivocada. Quando chegar no final do ano que vem, eu vou me encontrar com a senhora no G20 e vou lhe provar que a economia brasileira cresceu muito mais do que o que o FMI está dizendo agora'", disse.

Agronegócio-Questionado sobre uma "reaproximação" com agronegócio, o presidente afirmou que o setor "deu um salto de qualidade" em seus governos anteriores. Lula afirmou que, do ponto de vista econômico, não há problema e sim ideológico.

"Eu nunca tive problema com agronegócio. Eu governei oito anos esse país e eles sabem o que nós fizemos por eles. Eles sabem que temos muita responsabilidade com o salto de qualidade que deu a agricultura brasileira por causa do financiamento que nós fazíamos", disse. O presidente reforçou ainda que não há incompatibilidade entre pequenos e médios produtores.

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ALEMANHA DEVOLVE FÓSSIL UBIRAJARA JABATUS AO CARIRI CEARENSE

Após anos de negociações em quase três décadas desde que foi contrabandeado do Brasil para Alemanha, o fóssil Ubirajara jubatus foi devolvido ao Cariri cearense. 

O exemplar de um dinossauro ancestral das aves, que viveu há 110 milhões de anos, é o primeiro da espécie encontrado na América Latina e o mais antigo da Bacia do Araripe, na divisa entre Ceará, Piauí e Pernambuco. 

Retirado de forma irregular do Brasil nos anos 90, o fóssil estava no Museu Estadual de História Natural Karlsruhe, na Alemanha e retornou à origem no dia 4 de junho.

O fóssil do tamanho de uma galinha e revestido por penas está em duas placas (positiva e negativa) medindo uma placa 47 centímetros (cm) por 46 cm x 4 cm, pesando cerca de 11,5 kg. A segunda placa mede 47 cm x 46 cm x 3 cm, com peso aproximado de 8,0 kg.

Exemplar fará parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, que pertence à URCA, na cidade de Santana do Cariri - Joédson Alves/Agência Brasil

Para celebrar a repatriação do fóssil, o Ministério das Ciências e Tecnologia, o governo do Ceará, a Universidade Regional do Cariri e representantes do governo alemão fizeram cerimônia solene nesta segunda-feira (12).

O reitor da Universidade Regional do Cariri, Francisco do O' de Lima Junior, destacou a concretização da decisão tomada por autoridades alemãs em meados do ano passado. "Nos dá de brinde essa convivência, essa cooperação, por reconhecer que para a gente ter autodeterminação politica, ética, vale também o reconhecimento do nosso patrimônio, então aqui a Universidade Federal do Cariri, em nome da nossa comunidade acadêmica, nós queremos agradecer toda nossa cooperação que já se desenvolve no conjunto de pesquisa em andamento".

A ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, também comemorou a retomada do fóssil ao país. Ao destacar a importância da cooperação científica mantida com a Alemanha há mais de 50 anos, a ministra também apontou que espera por outros eventos semelhantes de repatriação de bens da União.  "Espero que esse reconhecimento por parte da Alemanha seja inspiração para outros países que detêm, em circunstancias não elucidadas, outras espécimes da biodiversidade paleontológica brasileira".

O Museu Nacional do Rio de Janeiro chegou a ser cogitado como local de abrigo ao fóssil do dinossauro. No entanto, Ubirajara jubatus  fará parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, que pertence Universidade Regional do Cariri, na cidade de Santana do Cariri, no Ceará. O local recebe, em média, 2 mil visitantes por mês. (Agencia Brasil)

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LUIZ GONZAGA VIVE NA PUREZA DAS CRIANÇAS E NO OLHAR DO FUTURO DA CULTURA

O Brasil vai celebrar no dia 02 de agosto de 2023, os 34 anos da morte do cantor e compositor Luiz Gonzaga, o rei do baião. 

Essa imagem, foto de Rafael de Souza, site Belezas do meu Exu. em Nova Olinda Ceará, é o retrato que Luiz Gonzaga, vive e é Patrimônio dá Humanidade. Vive na pureza das crianças, verbo esperança de uma cultura gonzagueana eterna e que se renova sempre.

Lua, como também era conhecido, foi essencialmente um telúrico. Ele soube como ninguém cantar o Nordeste e seus problemas. Pernambucano, nordestino ou simplesmente brasileiro, Luiz Gonzaga encantou o Brasil com sua música, tornando-se um daqueles que melhor souberam interpretar sua alma.

Nascido em Exu, no alto sertão de Pernambuco, na chapada do Araripe, ele ganhou o Brasil e o mundo, mas nunca se esqueceu de sua origem. Sua música, precursora da música popular brasileira, é algo que, embora não possa ser classificada como "de protesto", ou engajada, é, contudo, politicamente comprometida com a busca de solução para a questão regional nordestina, com o desafio de um desenvolvimento nacional mais homogêneo, mais orgânico e menos injusto, portanto.

Na foto, Joquinha Gonzaga, sobrinho de Luiz Gonzaga e neto do tocador de sanfona de 8 Baixos, Januário, nas palavras do professor doutor em Ciencia da Literatura Aderaldo Luciano, mostra que o Nordeste continuaria existindo caso Luiz Gonzaga não tivesse aterrissado por lá há cem anos. Teria a mesma paisagem, os mesmos problemas. Seria o mesmo complexo de gentes e regiões. Comportaria os mesmos cenários de pedras e areias, plantas e rios, mares e florestas, caatingas e sertões. Mas faltaria muito para adornar-lhe a alma. Sem Gonzaga quase seríamos sonâmbulos.

Luiz Gonzaga, mais que ninguém, brindou-nos com uma moldura indelével, uma corrente sonora diferente, recheada de suspiros, ritmos coronários, estalidos metálicos. A isso resolveu chamar de BAIÃO.

Luiz Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz. Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

O olhar de Gonzaga furou o ventre de todas as coisas e seres, escaneou suas vísceras, revirou seus mistérios, escrutinou suas entranhas. A mão do homem deslizou pelas teclas sensíveis da concertina, seus dedos pressionaram os pinos, procurando os sons baixos e harmônicos. Os pés do homem organizavam o primeiro passo, sentindo o caminho, testando o equilíbrio. A cabeça erguida, o queixo pra frente, a barriga desforrada e o pulmão vertendo cem mil libras de oxigênio, vibrando as cordas vocais: era Lua nascendo.

O peito de Gonzaga abrigava o canto dolente e retorno dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade. Viva Luiz Gonzaga do Nascimento, sempre na mira de nossos corações. (Fonte: professor doutor em Ciencia da Literatura Aderaldo Luciano)

O escritor Gilberto Amado disse a propósito da morte de sua mãe: "Apagou-se aquela luz no meio de todos nós". Para o Nordeste, e tenho certeza para todo o país, a morte de Luiz Gonzaga foi o apagar de um grande clarão. Mas com seu desaparecimento não cessou de florescer a mensagem que deixou, por meio da poesia, da música e da divulgação da cultura do Nordeste.

Em sua obra ele está vivo e vive no sertão, no pampa, na cidade grande, na boca do povo, no gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira, pois, como disse Fernando Pessoa, "quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente".

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