TAMO JUNTO, VINI JR

Enão haveria como não estar. Enquanto homem negro, de origem periférica e amante do futebol que sou, digo que as cenas foram doloridas. E permita-me, Vini Jr., dizer que não somente você irá lutar contra o racismo. Todos nós iremos até o fim contra os racistas. Chegou ao limite a ignorância daqueles que se acham superiores a outros e acreditam ter o poder de menosprezar, ofender, humilhar.

Não é apenas futebol! Ultrapassou as esferas do esporte e ganhou contornos diplomáticos. É um triste acontecimento mundial toda aquela selvageria que pudemos presenciar. Vini Jr., meu irmão — pois assim nós, os pretos, nos tratamos —, desde o último domingo você é mais um forte símbolo na nossa eterna luta contra essa praga chamada racismo. E assim o digo, entre essas palavras, vírgulas e pontos, por vezes sem conter o ato de levantar meu punho direito fechado firmemente!

Ruim, desprezível, nojento, revoltante, odioso… Só quem sofre, ou já sofreu o racismo, poderá expressar o que atitudes racistas podem produzir em nós, irmão Vini Jr. Mas temos a pele escura e espessa, que foi forjada a sol, chuva, ventos e frio. Desde a umidade dos porões dos navios, em que a maioria de nossos antepassados foram empilhados em viagens transatlânticas sem escolhas, aos açoites covardes que riscaram traços de sangue nos corpos sobreviventes. E eis que aqui estamos, irmão Vini Jr. Depois de tudo que nossos ancestrais passaram e conquistaram, ainda temos muito a lutar e a conquistar.

Há tempos que o esporte nos dá lições. Vale a lembrança de Jesse Owens, o atleta norte-americano que participou dos Jogos Olímpicos de Verão de 1936, em Berlim, na Alemanha, quando Adolf Hitler pretendia promover a supremacia branca da raça ariana. Owens, então com 23 anos, ganhou quatro medalhas de ouro naqueles jogos humilhando o ditador: nos 100 m rasos, no salto em distância, nos 200 m rasos e no revezamento 4 x 100 m, com direito a quebra do recorde mundial nos dois últimos.

E chega você, irmão Vini Jr., e humilha os adversários com seus dribles, comemorações e o “jeito brasileiro” mais original de praticar o futebol. Sem maiores exageros, lembrando outros hábeis brasileiros que reinaram no continente europeu, como os Ronaldos, Fenômeno e Gaúcho, Rivaldo e Neymar Jr., entre tantos outros. Todos pretos! E quase todos vítimas de racismo, em certo grau.

Numa partida entre Villa Real e Barcelona, pelo campeonato espanhol de 2014, um torcedor atirou uma banana perto do lateral brasileiro Daniel Alves. Portanto, não é a primeira e, infelizmente, não será a última. Afinal, espero estar equivocado, mas o racismo ainda não está com seus dias contados. Mas você, Vini Jr., com seus dribles e gingados, dentro e fora dos campos espanhóis, está dando um tremendo chacoalhão nessa estrutura apodrecida.

Como diria o “velho Lobo” Zagallo — Mário Jorge Lobo Zagallo, ex-técnico da seleção brasileira —, eles terão de nos engolir… Engolir cada vez mais os pretos retintos, brasileiros ou africanos, desfilarem seus gingados e sua arte por lá. Terão ainda de aplaudir de pé um dos nossos, como assim já o fizeram. Foi em 2005, quando a torcida do Real Madrid em seu estádio, Santiago Bernabéu, não poupou aplausos a Ronaldinho Gaúcho que exibiu seu futebol maravilhoso numa vitória do Barcelona sobre o time da casa.

Por mais que tenham muito dinheiro e que sejam capazes de constituir grandes equipes e organizar competições riquíssimas, conseguem agora deixar uma enorme mancha que carregarão por muito tempo. Não tem volta! Pelas proporções que ganhou em todo o mundo, esse episódio não será esquecido na história, infelizmente.

Mas que seja lembrado, sim, como um motivo de luta cada vez mais intensa contra os racistas que ainda persistem em suas atitudes. Meu irmão Vini Jr., continuaremos por aqui, de punhos erguidos e firmes!

Por Antonio Carlos Quinto, jornalista e editor de Diversidade do “Jornal da USP”

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GOVERNO FEDERAL LANÇA CAMPANHA QUE PROMOVE O CONSUMO DE PRODUTOS ORGÂNICOS

Na segunda-feira (29), o Ministério da Agricultura e Pecuária vai lançar a XIX Campanha Anual de Promoção do Produto Orgânico, às 15h, com a participação do ministro da pasta, Carlos Fávaro. O evento terá a duração de 3 dias, com a realização de lives, palestras e mesas de debate. 

O tema escolhido para o ano de 2023 é "Produto Orgânico, Amigo do Clima”. O objetivo é ressaltar os benefícios do alimento orgânico como instrumento de preservação do meio ambiente e opção resiliente ante às mudanças climáticas, em alinhamento a um dos principais compromissos firmados pelo governo federal junto à sociedade brasileira e internacional.

A Semana dos Orgânicos é realizada anualmente pelo Mapa. Voltada para o público consumidor, tem como principal objetivo reforçar para a população brasileira, principalmente urbana, os princípios da produção orgânica, caracterizada por uma produção sustentável ao longo de toda a cadeia de produção.

A live de lançamento terá transmissão ao vivo pelo canal do Youtube do Mapa. Nos dias seguintes, as palestras serão transmitidas pelo canal da Enagro. 

Serviço: Lançamento da XIX Campanha Anual de Promoção do Produto Orgânico

Data: 29/05/2023

Horário: 15h

Local: Ministério da Agricultura e Pecuária - bloco D - Esplanada 

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PESQUISA COM AGRICULTORES FAMILIARES APONTA VANTAGENS DA TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA

(Agencia Eco Nordeste-Alice Sales) Recente estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Caprinos e Ovinos, localizada no Estado do Ceará, aponta os benefícios econômicos e ambientais resultantes da transição agroecológica baseada em práticas mais sustentáveis nos sistemas de produção.

A pesquisa, feita a partir das experiências de 70 famílias de agricultores familiares do Ceará, comparou aspectos quantitativos e qualitativos nos territórios do Sertão de Crateús e Sertão de Sobral. Os dados revelam um aumento da renda das propriedades que vêm adotando práticas agroecológicas há mais tempo quando comparadas com aquelas que estão no início do processo ou ainda praticam agricultura de forma tradicional. 

A transição agroecológica se dá pelo processo gradual de mudança dos manejos no sistema de produção, para a adoção de práticas agrícolas com princípios e tecnologias de base ecológica. A transição tem como cerne a racionalização do uso da terra e mudança de atitudes e valores em relação ao manejo e à conservação dos recursos naturais.

De acordo com a pesquisa, a maioria dos agricultores que aderiram a esse sistema, no início do estudo, em 2012, estão em nível intermediário da transição, quase não usam mais insumos químicos e não adotam pacotes tecnológicos fechados, explica o zootecnista Éden Fernandes, líder do projeto Redinovagroeco, que realizou esse estudo. 

A propriedade familiar de Ramom Ximenes, jovem agricultor, é um exemplo dentre as que estão em processo de transição desde 2012. A família cria caprinos, ovinos, bovinos, suínos, aves, peixes e abelhas, além de possuir árvores frutíferas, palma, gliricídia e uma capineira para alimentar o rebanho. Ximenes ressalta que começou a participar do projeto porque queria trabalhar preservando a natureza e, dentre as modificações implantadas ao longo do processo, destaca a estrutura para armazenamento de forragem e água para os animais, um galinheiro e área cercada para animais e plantas. 

Para a zootecnista Maria Gardênia Sousa, que atuou como bolsista no projeto, as principais transformações observadas nas propriedades que estão no processo de transição agroecológica estão relacionadas à maior autonomia e capacidade de resposta das propriedades: “As famílias alcançaram maior independência em relação a adubo orgânico, água, sementes e produção de forragem, diminuindo a necessidade da compra de insumos para a produção em mercados”.

Segundo ela, também houve um aumento da biodiversidade animal e vegetal nos sistemas produtivos, estoque de insumos e na diversidade de mercados acessados: “Os agricultores passaram a acessar um número maior de feiras para comercializar os produtos, gerando renda para suas famílias”.

O pesquisador Edén Fernandes pontua que os benefícios econômicos, sociais e ecológicos foram consequência da organização social promovida pelo chamado espaço rede (nichos de inovação social): “Isso aumentou a integração social na partilha de saberes e experiências; aumentou a agrobiodiversidade e geração de produtos com valor mais agregado com independência de insumos agropecuários do mercado, como adubo, sementes, água e forragem; e aumentou a renda pelo acesso a mercados diversificados e de proximidades (cadeias curtas)”.

Fernandes explica que um conjunto de inovações tecnológicas vem sendo implementado nessa transição agroecológica e as que tiveram efeitos captados na avaliação na pesquisa foram:

Em cada território, foram avaliadas uma propriedade em estágio mais avançado de transição agroecológica e outra que não aderiu ou entrou mais tardiamente. Fernandes observa que algumas características são comuns às propriedades dos dois territórios, como a diversidade da produção. No entanto, alguns detalhes diferenciam e interferem nos resultados. “O gado bovino, por exemplo, é mais presente no Sertão de Crateús e não aparece tanto no território de Sobral, onde as propriedades são menores e existem áreas compartilhadas que não pertencem aos agricultores. Tudo isso impacta os resultados da produção”.

Duas propriedades foram avaliadas no Sertão de Sobral.  Aquela que está há mais tempo no processo de transição agroecológica obteve valores mais altos que os da propriedade que pratica agricultura de forma tradicional, tanto no produto bruto, ou seja tudo o que é produzido, quanto no valor agregado, que exprime a riqueza efetivamente gerada e equivale à renda bruta menos os custos relacionados aos insumos adquiridos nos mercados. 

Já no Sertão de Crateús, as propriedades avaliadas são da localidade Picos de Baixo, no município de Santa Quitéria. Enquanto uma delas está em estágio mais avançado, a outra intensificou a transição agroecológica somente a partir de 2021. Também se observou crescimento do produto bruto na propriedade que iniciou a transição agroecológica há mais tempo, assim como a maior agregação de valor em função da menor dependência da compra de insumos. 

IMPACTOS ECOLÓGICOS-O incremento da venda direta dos produtos para os consumidores em espaços como feiras municipais, venda na comunidade, pela internet, de porta em porta, por encomenda e em loja especializada foi também uma mudança observada pelo estudo. Além dos aspectos econômicos, outros indicadores são considerados: a responsividade, que diz respeito à capacidade de resposta às mudanças nos entornos social, econômico e ambiental; integração social, relacionada à participação em outros espaços fora da propriedade e acesso às políticas públicas; equidade de gênero e protagonismo das mulheres; e o protagonismo da juventude, que garante a sucessão familiar no trabalho.

“Houve melhorias em diversos aspectos, entre eles o ambiental, com o uso mais consciente da terra, sem queimada, desmatamento e com preservação da mata nativa; o econômico, com incentivo à geração de riqueza a partir dos insumos presentes nas propriedades, e aumento do valor agregado dos produtos; e por fim, o aspecto social, com a maior integração social entre as famílias, destacando a intensa participação das mulheres e dos jovens nesse processo de transição agroecológica”, ressalta Dalcilene Paiva, zootecnista que também atuou como bolsista no projeto.

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OS VERTÍGIOS DOS VERDES CANAVIAS NA REGIÃO DO CARIRI CEARENSE

Autores divergem quanto à chegada do primeiro engenho de cana-de-açúcar ao Cariri. Um diz que foi em 1718, no Sítio Salamanca, em Barbalha, por Antônio de Souza, bisavô de Bárbara de Alencar. Outros, acreditam que a chegada só aconteceu em 1735, no Sítio Santa Tereza, entre Barbalha e Missão Velha, tecnologia trazia pelo sergipano José Paes Landim. Independentemente disso, a economia açucareira foi importante para região, é tanto que batizou o “Cratinho de Açúcar” e também é parte da identidade barbalhense, a terra dos “Verdes canaviais”. 

Os engenhos se perdem no tempo e, aos poucos, na memória.

Em Barbalha, apenas cinco engenhos se mantêm com a produção de cana-de-açúcar. Destes, dois fabricam somente rapadura e, os outros três, além do doce, fazem cachaça, batida e alfenim. Todos trabalhando por encomenda. Na Usina Manoel Costa Filho, a paisagem foi ocupada por bananeiras há quatro anos. Já no Crato, só existe um funcionando, mas como destilaria, produzindo apenas aguardente.

No Cariri, os engenhos passaram por três fases. Na primeira, no século XVIII, como a água nas nascentes eram abundantes, as moendas eram movidas pela força hídrica. Neste sistema, havia três tipos, o “copeiro”, “meeiro” e “rasteiro”, de acordo com a entrada da água: por cima, pelo meio ou por baixo da roda. Com o desvio da águas e, depois, a escassez, começaram a investir na tração de boi. Uma peça no eixo principal e duas catracas movimentavam com os animais. Na época, toda a engenharia era de madeira, jatobá ou pequi.

Depois veio o de ferro, trazido pela família Ferreira de Melo, possivelmente de Pernambuco. No entanto, quando os bois eram colocados nas juntas pra mover, eles se deslocavam com dificuldade e tinham que apanhar muito. O som no engenho de madeira cadenciava o caminhar dos animais, mas, no ferro, não tinha o mesmo “gemido”. Anos depois, a tração animal foi substituída pelo vapor, diesel e eletricidade.

No Cariri, dois grandes mecânicos eram responsáveis por fabricar quase todos os engenhos da região no Século XX: Antônio Linard, em Missão Velha; e Severino Honorato, no Crato. O primeiro, era filho de um engenheiro francês que chegou ao Brasil para trabalhar na Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Depois do serviço, se estabeleceu em Santana do Cariri para ajudar na fundição dos engenhos locais. O filho, Antônio, começou a aprender lendo manuais de mecânica. Como não tinha dinheiro para montar sua própria oficina, conseguiu comprar um torno com a ajuda de Lampião e seus cangaceiros, após limpar suas armas. A partir da década de 1940, não parou mais. Suas peças eram assinadas “Linard” e ainda é possíveis de encontrá-las.

Já seu concorrente, Severino Honorato, dono da “Oficina Cratense”, deixou o estabelecimento aos cuidados do filho, Luiz Honorato, mecânico da Aeronáutica que deixou de lado a vida de oficial, após visitar outros países e ganhar medalhas, e se dedicou ao trabalho com ferro junto do pai. No ano de 2018, aos 91 anos, mantinha o prédio da oficina e boa parte dos equipamentos utilizados para fabricar os engenhos. Peças estão espalhadas pelo enormes galpões, misturadas com a plantação de frutas.

“Mesmo tendo muitos engenhos para trabalhar, Antonio Linard era meu concorrente. Mas muito leal. Era mais evoluído que a gente. Eu reconheço”, admite Luiz. A fabricação do rival era mais famosa, mas Honorato utilizava peças de ferro velho, o que tornava o material mais resistente, enquanto Linard fabricava com o ferro puro.

Com 30 homens, a Oficina Cratense chegou a fabricar 150 engenhos ao mesmo tempo. Todo o processo durava, em média, 40 dias, mas já havia peças prontas. “O engenho é composto de várias peças rústicas, mas principalmente de três moendas. Lisa e duas de flange. Aquelas moendas eram mais trabalhosas, porque eram pesadas, com fundição muito grande. Numa fundição, eram tirados, no máximo, três tambores grandes de 18, 20 e 24 polegadas, que serviam para armazenar o “caldo”. A roda de espora, de cerca de 1,7m, pesava quase 100Kg. 

“A gente fazia engenho completo. Tudo que precisava, de ferro fundido”, garante Luiz. No entanto, com a baixa da cultura açucareira, a Oficina Cratense foi afetada. De 30 operários, chegou a quatro funcionários. “Não dava para cobrir todo serviço”, lamenta. Por isso, o aposentado passou a fazer só serviços de manutenção.

IMPORTÂNCIA: A poucos quilômetros da sede de Crato, o Engenho da Lagoa Encantada, que foi um dos maiores da região, se tornou ruínas à beira da estrada. Criado, provavelmente, no século XIX, pelo coronel José Rodrigues Monteiro, a moenda era, inicialmente, movida a boi. No entanto, foi substituída por motor e caldeira. Posteriormente, passou a ser acionado por óleo diesel e eletricidade, incluindo equipamento importado da Inglaterra.

Foi no Engenho Lagoa Encantada que ocorreu a primeira experiência da mecanização da lavoura de açúcar no Cariri, utilizando trator com grade de disco, sulcador e cultivador, que ainda podem ser vistos ao lado das ruínas. Além disso, foi pioneiro na técnica de cultivo em curva de nível e irrigação por inundação. Lá, havia uma fornalha capaz de produzir 32 cargas de rapadura por dia, cada uma com 100 rapaduras, além de um alambique para produção de 300 canadas de aguardente/dia (uma canada tem 2,662l).

“Nascido e criado aqui”, como descreve Geraldo Pereira de Sousa, o “Geraldo Fumaça”, 71, lembra que no Lagoa Encantada a jornada de trabalho começava de madrugada “para amanhecer já cozinhando a rapadura, alambique destilando e casa de farinha fazendo beiju”, lembra. Lá, era plantado também arroz, que chegava a ocupar o lugar da cana-de-açúcar em épocas de diferentes. “Não tinha serviço maneiro”, completa. Os produtos eram encomendados para outras cidades e vendidos em um armazém no centro do Crato.

Na beira da Avenida Leão Sampaio (CE-060), entre Barbalha e Juazeiro do Norte, as peças dos engenhos ficam expostas na placa de uma sucata. Segundo o comerciante Elias Bezerra, este material foi comprado dos proprietários que fecharam. Três deles, completos, já foram vendidos para fazendas da região só para ornamentar. O valor médio é R$ 2 mil. “A procura é grande do pessoal rico. Eles preferem os menores. A gente tem um lucro bom, a procura é grande”, conta.

Os engenhos são pintados de preto e enfeitam as entradas das fazendas em Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha e Barbalha. Por isso, Elias fica atento quando tem algum disponível para adquirir. Inclusive, um deles, só com a moenda, já está apalavrado por R$ 1.800. “A gente vende não só completo. Chegando à sucata, se precisar do volante, os mancais, as madeiras ou alguns roletes, consegue a parte que precisa”, completa o comerciante.

MUSEU-O Instituto Cultural do Cariri (ICC) elaborou um projeto para criar o Museu do Engenho do Cariri, que ficaria nos fundos de sua sede, em terreno que pertence ao Departamento Estadual de Rodovias (DER), em Crato. A planta já foi feita e apresentada à população e políticos, que demonstraram apoio ao empreendimento, com a criação de uma emenda parlamentar que garante o orçamento de sua construção. Estima-se que o valor total da obra seja de R$ 208 mil.

“A ideia surgiu pela sensibilização com o fim da economia açucareira, que nos traz uma certa comoção e vontade de preservar. O rompimento pode ser danoso à história e à memória. Os mestre de rapadura, os cambiteiros, os metedores de fogo, essa gente está morrendo. As minúcias da produção podem desaparecer ou deixar breves vestígios”, explica o presidente do ICC, o advogado Heitor Feitosa.

A aquisição do equipamento será feita por meio de doação. Proprietários e herdeiros de antigos engenhos prometeram disponibilizar tudo, incluindo um carro de boi utilizado no século XIX. Além disso, no Casarão, terá três seções. Numa delas, um café social e uma lojinha para o ICC se manter. No meio, um salão de eventos para receber manifestações culturais. Por fim, um laboratório e acervo técnico de arqueologia colonial e pós-colonial. “Há uma carência aqui na região”, justifica Heitor. Se a verba for conquistada, a expectativa é que fique pronto entre seis meses e um ano.

“Há questões nos engenhos que implicam diretamente como o direito trabalhista. As mudanças criadas com a CLT reverberaram nos engenhos e no destino deles. Fecharam muitos. Um fator importante para ser lembrado: a exploração dessa mão-de-obra se equiparava ao trabalho escravo.

Começava de madrugada, sem equipamento próprio, jornadas extenuantes. O museu pode servir para quem queira conhecer essa história”, finaliza.

"Tinha muito engenho e muita cana. Eles foram parando. Larguei de trabalhar só com quatro operários, não tinha condição de fazer", comenta o Aposentado e fabricante de engenhos, Luiz Honorato

"Nos engenhos, em noite enluarada, faziam o maneiro pau. Eles não estão ligados somente à economia açucareira, mas também à nossa cultura", diz o advogado Heitor Feitosa. Fonte: Diário do Nordeste/ Antonio Rodrigues - Colaborador


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VII ENCONTRO DE SABERES DA CAATINGA ACONTECE ENTRE OS DIAS 03 A 09 DE JULHO

Estão abertas as inscrições para o VII ENCONTRO DE SABERES DA CAATINGA que, este ano, acontecerá entre os dias 03 a 09 de julho de 2023 no Instituto Federal do Ceará – IFCE – Campus do Crato.

O Encontro de Saberes da Caatinga, tem como objetivo promover a Troca de Saberes entre os Raizeiros(as), Meizinheiras, Benzedeiros(as) e Parteiras da região da Chapada do Araripe, contribuindo para o fortalecimento do papel cultural da sabedoria tradicional nos processos de cuidado e cura. ⠀

Este ano o encontro tem como tema: O CANTO QUE NO MUNDO ECOA, NO CORPO RESSOA

De acordo com o site Saberes da Caatinga, essa é uma atividade promovida com amor por diferentes voluntári@s, movimentos sociais, instituições não governamentais e governamentais, unides para propagação dos saberes de cura.

O período de inscrição será do dia 24/05/2023 a 18/06/2023.

O BIOMA CAATINGA-O Bioma Caatinga é um ecossistema único e diversificado que enfrenta vários desafios, incluindo desmatamento, desertificação e mudanças climáticas. É importante não só pelo seu valor ecológico e cultural, mas também pelo seu significado econômico e social. A região fornece recursos e serviços valiosos para as comunidades locais, como alimentos, água, remédios e combustível. Portanto, é essencial adotar uma abordagem holística e sustentável para sua gestão e desenvolvimento.

Um dos principais desafios para o bioma Caatinga é o rápido e extenso desmatamento, causado principalmente por atividades humanas como agricultura, pecuária e extração de lenha. Para resolver este problema, práticas sustentáveis de uso da terra que combinem objetivos de conservação e produção devem ser promovidas. Por exemplo, sistemas agroflorestais que integram cultivos, árvores e animais podem proporcionar múltiplos benefícios, como fertilidade do solo, conservação da biodiversidade e geração de renda.

A mudança climática é outro desafio para o bioma Caatinga, que deve aumentar a frequência e intensidade de secas, enchentes e outros eventos extremos. Para enfrentar esse problema, estratégias de adaptação e mitigação que sejam específicas ao contexto e participativas precisam ser desenvolvidas, envolvendo o conhecimento e as preferências locais. Por exemplo, a restauração de áreas degradadas e a promoção de técnicas de coleta de água podem ajudar a aumentar a resiliência do ecossistema e os meios de subsistência da comunidade.

A pesquisa e a inovação desempenham um papel crucial na compreensão da dinâmica e das funções do bioma Caatinga e no desenvolvimento de novas tecnologias e práticas para seu manejo e restauração. Eles também podem fornecer insights e soluções valiosas para os desafios e oportunidades da região da Caatinga, não apenas em termos de conservação ambiental, mas também em termos de desenvolvimento econômico e social.

Finalmente, a pesquisa e a inovação podem contribuir para o empoderamento e participação das comunidades locais, proporcionando-lhes acesso a conhecimentos, recursos e tecnologias que podem melhorar sua qualidade de vida e bem-estar. Eles também podem ajudar a promover o reconhecimento e respeito pelos saberes e práticas tradicionais das comunidades locais, alcançando uma abordagem mais inclusiva e diversificada para a gestão e desenvolvimento do bioma Caatinga.

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PESQUISA MOSTRA IMPORTÂNCIA DE ÁREAS VERDES URBANAS PARA SAÚD

Estudo realizado por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) revela que há menos internações hospitalares por doenças respiratórias em municípios com mais áreas verdes. A pesquisa, que envolveu ciência de dados, usou bases de informações públicas como o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (Datasus), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Secretaria Nacional de Trânsito e o Instituto Água e Terra (IAT) do Paraná.

O objetivo do trabalho era avaliar como a infraestrutura verde urbana (IVU), composta por praças, parques, jardins planejados, fragmentos florestais, reservas florestais urbanas, bosques e arborização, impacta na saúde da população.

“Combinamos várias informações e fizemos um estudo que envolve aplicação de ciências de dados, realizando, primeiro, uma análise multivariada de tais dados e, depois, análise de padrão. E chegamos à conclusão com base nesses estudos”, disse à Agência Brasil a engenheira civil Luciene Pimentel, professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana da PUCPR e uma das autoras da pesquisa.

A pesquisa usou também dados censitários, porque o estudo, que envolvia somente a questão das internações por doenças respiratórias, analisou também indicadores de pobreza. “Encontramos resultados interessantes nesse sentido. Na verdade, os municípios que têm índices de pobreza mais altos também apresentam mais internações hospitalares na comparação com municípios em que os índices são menores.”

A pesquisa envolveu 397 dos 399 municípios paranaenses, porque dois apresentavam falhas de dados. As informações foram coletadas em 2021 e 2022, sendo os resultados divulgados agora. Artigo referente ao estudo, intitulado Ecosystems services and green infrastructure for respiratory health protection: A data science approach for Paraná, Brazil (Serviços ecossistêmicos e infraestrutura verde para a proteção da saúde respiratória: Uma abordagem de ciência de dados para o Paraná, Brasil, em tradução livre), foi publicado na liga internacional de revistas científicas MDPI e pode ser acessado na íntegra neste link.

O estudo é assinado por Luciene Pimentel e pelos professores Edilberto Nunes de Moura e Fábio Teodoro de Souza, da PUCPR, e pelo doutorando da mesma universidade Murilo Noli da Fonseca.

Luciene salientou a importância do resultado, porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) reporta 4 milhões de mortes anuais por doenças respiratórias, das quais 40% são por doenças pulmonares obstrutivas crônicas. “O mundo inteiro está muito preocupado com essa situação.”

Ainda de acordo com a OMS, 99% da população mundial respiram ar que excede os limites de qualidade recomendados. Além de inúmeros problemas de saúde, a poluição atmosférica causa 7 milhões de mortes anuais em todo o mundo.

Luciene ressaltou a existência de uma dúvida na literatura científica sobre até que ponto a vegetação realmente contribui para diminuir a poluição do ar, tendo em vista que as doenças respiratórias são fortemente conectadas com esse problema nas áreas urbanas, ou se a forma como se dispõe a vegetação urbana pode até piorar a saúde respiratória pela dispersão de pólen.

A professora disse acreditar que os resultados do estudo podem subsidiar políticas públicas voltadas para a sustentabilidade ambiental e a gestão da saúde urbana. A redução das taxas de internações por doenças respiratórias traz acoplada a redução dos custos com hospitalizações por agravos de saúde e outras infecções, podendo contribuir ainda para a queda das faltas ao trabalho e à escola.

A equipe de pesquisadores pretende dar continuidade agora ao estudo envolvendo a capital paranaense, Curitiba, em escala intraurbana, e não mais municipal, com participação da rede de pesquisa Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação, financiada pela Fundação Araucária, no âmbito de emergências climáticas. Será medida, por exemplo, a distribuição de pólen na cidade. De acordo com Luciene, as medições serão usadas para analisar dados em uma escala mais detalhada.

“O que estamos querendo fazer agora é começar a olhar por tipologia de doenças respiratórias, como a asma, por exemplo, que tem aumentado muito no mundo. A asma é uma doença que preocupa. Na faixa de crianças, que interessa à nossa pesquisa, a doença vai comprometer a vida adulta. Asma não tem cura, é doença crônica. A pessoa vai depender de remédios o tempo todo. Enquanto crianças, faltam à escola por causa da doença; os pais faltam ao trabalho”, disse Luciene.

As doenças respiratórias têm sinais diferentes. Daí a razão de o estudo continuar, no sentido de esmiuçar os detalhes. O objetivo dos pesquisadores, mais adiante, é estender a pesquisa para outros estados do país. “A ideia é termos uma pesquisa nacional.” (Agencia Brasil)

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PESQUISA RELACIONA MORTES PRECOCES AO CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), junto aos dados de mortalidade dos brasileiros, permitiram a pesquisadores da USP calcular o impacto do consumo de ultraprocessados nesta população. O cruzamento de informações estimou que 57 mil pessoas morrem prematuramente a cada ano por consumirem alimentos ultraprocessados, o que corresponde a 10,5% de todas as mortes precoces de adultos entre 30 e 69 anos no Brasil.

O conceito de morte prematura por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a probabilidade de morrer entre 30 e 70 anos em decorrência de doenças cardiovasculares, câncer, diabete e doenças respiratórias crônicas. 

Segundo o professor Leandro Rezende, um dos autores da pesquisa, filiado ao Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, já existem evidências suficientes nos estudos epidemiológicos que associam o aumento de consumo de ultraprocessados com o risco de se desenvolver as DCNT. Ele também inclui o excesso de peso e a obesidade devido à ingestão de ultraprocessados como fatores que contribuem para uma pessoa desenvolver essas patologias.

A metodologia do estudo envolveu o uso de dados abertos coletados por meio de questionários para avaliar o consumo de alimentos a partir de diferentes variáveis. Este tipo de enquete é realizado pelo IBGE a cada dez anos e está publicado no site da instituição (para visualizar, clique aqui).  Trata-se de uma série de perguntas para investigar o consumo alimentar individual por todo o País, que faz parte de uma pesquisa ampla sobre o perfil dos orçamentos familiares. 

Os dados foram separados por faixas etárias, entre homens e mulheres, a partir dos 30 anos. Os pesquisadores avaliaram a ingestão das calorias diárias de cada grupo e quanto dessas calorias tiveram como fonte os alimentos ultraprocessados (ver tabela). Em seguida, foram considerados os dados sobre mortalidade do mesmo período e, por fim, os dados foram cruzados.

O professor Eduardo Nilson, também pesquisador do Nupens e autor do artigo, ressalta que as informações recentes, de 2017/2018 mostram que houve um aumento de consumo de 20% de calorias vindas de ultraprocessados em relação ao mesmo tipo de levantamento realizado em 2007/2008, também pelo IBGE.

Ainda segundo Eduardo Nilson, este aumento se deve a uma série de fatores, como as campanhas de marketing em torno desses alimentos e à maior subida de preços dos produtos frescos em relação aos ultraprocessados. Além disso, ele aponta, “a substituição aconteceu em todos os grupos da sociedade, independente da renda. Mas tem mais impacto na população vulnerável. O macarrão instantâneo e o biscoito recheado são alimentos-símbolo dessa situação.”

O artigo também faz um cálculo de quantas mortes poderiam ser evitadas em diferentes cenários de diminuição do consumo de ultraprocessados (ver tabela). Com a redução para 10% das calorias diárias consumidas em ultraprocessados, 3.500 pessoas não morreriam de doenças crônicas ao longo do ano. E esse número aumenta à medida que se diminui a quantidade de ultraprocessados ingeridos.

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