FEIRA DE SÃO CRISTOVÃO, CENTRO LUIZ GONZAGA DE TRADIÇÕES NORDESTINAS SERÁ ENTREGUE A INICIATIVA PRIVADA

A prefeitura do Rio de Janeiro lançou um edital de concessão do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, mais conhecido como Feira de São Cristóvão. A licitação está marcada para 25 de maio. O vencedor deverá investir R$ 97 milhões na renovação de toda a estrutura do imóvel e do seu entorno (estacionamento e praça). Ao todo, serão 82 mil metros quadrados de área revitalizada com recurso privado.

A empresa vencedora fará a gestão da Feira de São Cristóvão por 35 anos, com obrigações de manter o local exclusivamente como centro de tradições nordestinas; dar prioridade à permanência das pessoas que atuam hoje no pavilhão e fazer as intervenções por fases, para garantir o trabalho de quem vive da feira durante o período das obras, que devem durar 30 meses.

Espaço nordestino no Rio-Estabelecida desde 1982 no Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, a Feira de São Cristóvão é um pedacinho do Nordeste no Rio de Janeiro. No local, os migrantes moradores da Cidade Maravilhosa podem matar a saudade da terra natal, enquanto turistas e cariocas têm a possibilidade de conhecer um pouco da região. Quem vai ao pavilhão pode comer carne de sol, apreciar a manteiga de garrafa, além de apresentações de repentistas, literatura de cordel e muito forró.

Os primeiros movimentos começaram em 1945, quando retirantes chegavam ao Campo de São Cristóvão em caminhões, para trabalhar na construção civil. O fim da viagem e o reencontro com parentes e conterrâneos que já estavam no Rio eram comemorados com muita música e comida. Essa celebração informal deu origem à feira, que permaneceu no entorno do Campo por 58 anos.

Nos anos de 1960, foi construído, com projeto do arquiteto Sérgio Bernardes, o Pavilhão de São Cristóvão, que tinha o objetivo de abrigar exposições internacionais. Até o final dos anos 1980, o local recebeu importantes eventos, como o Salão do Automóvel e feiras industriais. Mas isso não afastou os comerciantes, e as barracas eram montadas e desmontadas todos os fins de semana.

Em 2003, o antigo pavilhão foi reformado pela prefeitura, e a feira – já legalizada desde 1982 – começou a funcionar dentro do Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. Os trabalhadores ganharam boxes de alvenaria e cobertura, no espaço de 34 mil metros quadrados. O local possui três palcos e cinco praças com nomes de artistas e cidades nordestinas. Uma estátua em tamanho natural de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, dá as boas-vindas a quem chega.

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MAIS LIVROS: GOVERNO FEDERAL QUER RETORNAR POLÍTICAS PÚBLICAS PARA LEITURA

Fazer uma nação leitora, este é o desafio do atual governo. Em entrevista exclusiva para a Agência Brasil, o secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Fabiano Piúba, destaca as ações de retomada das políticas para a área, assim como aponta propostas da pasta para o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). De acordo com ele, a formação leitora dos brasileiros é uma das prioridades da gestão.

“O próprio presidente Lula, no processo de campanha, trouxe muito essa pauta quando falava menos armas e mais livros, menos clubes de tiro e mais bibliotecas. Eu creio que essa política ganha um relevo desde o fato de estar numa secretaria como também em uma agenda social e política do governo federal”, afirma.

Reduzida a uma diretoria dentro da Secretaria de Economia Criativa durante o governo Bolsonaro, a pasta recupera agora um grau institucional maior, segundo Piúba. Uma das atribuições da atual Secretaria é implementar o Plano Nacional de Livro e Leitura (PNLL), de forma articulada com o Ministério da Educação. O PNLL trata de diretrizes básicas para a democratização do acesso ao livro e para o fortalecimento de sua cadeia produtiva.

“Nós estamos com um grupo técnico específico para a construção desse PNLL e uma das linhas é a implementação e a modernização de bibliotecas, tanto da rede pública como da rede escolar”, explica o secretário. 

Para Fabiano Piúba, é preciso modernizar o próprio conceito de biblioteca. “Ela deve ser vista como um dínamo cultural, conforme diz a Unesco, não como um depósito de livros”, defende.

Uma das propostas para levar essa inovação adiante é a implementação das chamadas Bibliotecas Parque, atualmente em fase de estudo. Criadas na cidade de Medellín, na Colômbia, essas bibliotecas são centros culturais que desenvolvem diversas atividades educativas e lúdicas, com forte envolvimento da comunidade.

O secretário também aponta a experiência das Bibliotecas Parque do Rio de Janeiro, inauguradas nos anos de 2010 e 2011. “A gente quer desenvolver também uma ação para as Bibliotecas Parque em áreas de periferia, em áreas de vulnerabilidade, não necessariamente nas capitais”, especifica.

Outro desafio é recuperar as bibliotecas públicas fechadas nos últimos anos. Segundo o Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais (2009), empreendido pela Fundação Getúlio Vargas, 1.152 municípios não contavam com este aparelho cultural.

“Em 2010, a gente zerou o déficit de municípios sem bibliotecas. Isso era uma meta que estava vinculada à presidência da República à época”, afirma.

Segundo a pasta, atualmente faltam bibliotecas públicas em pelo menos 991 cidades brasileiras e apenas dois estados – Amapá e Sergipe – estão contemplados em todos os municípios. A ideia agora é abrir uma linha, por meio de edital, para que os municípios apresentem seus projetos. 

Para Piúba, o fomento ao livro e à leitura deve ser pensado a partir da bibliodiversidade. Esse conceitfaz referência à diversidade da produção editorial de um país.

“Uma política de aquisição e de atualização de acervos [para bibliotecas públicas] tem que compreender essa bibliodiversidade, isto é, uma diversidade regional, de editoras, mas compreendendo também que há autores e autoras independentes, além de uma diversidade cultural e étnica”.

A proposta é que as aquisições de livros para bibliotecas públicas possam abranger obras variadas e não se concentrar apenas na produção de poucas editoras da Região Sudeste, como costumava ser feito. 

Também para incentivar a diversidade, a Secretaria lançou o Prêmio Carolina Maria de Jesus em abril deste ano. O edital prevê a seleção de 40 obras inéditas escritas por mulheres, destinando o valor de R$ 50 mil reais por agraciada.

“Esse edital já deu o tom do que vem por aí. Ele estabeleceu cotas importantes, 20% no mínimo para mulheres negras, 10% para mulheres indígenas, 10% para mulheres com deficiência, 5% para mulheres ciganas e 5% para mulheres quilombolas”, detalha o secretário. De acordo com ele, as políticas afirmativas também compõem as estratégias da Secretaria e seguem as diretrizes da ministra da Cultura Margareth Menezes. (Fonte Agencia Brasil)

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O CERTO É QUE O VELHO CHICO VEM PERDENDO GRANDE PERCENTUAL DE VOLUME DE ÁGUA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, DIZ PESQUISADOR


Desde 2020, o rio São Francisco tem vivido tempos menos difíceis devido às intensas chuvas que possibilitaram maiores volumes de água ao longo do seu leito. Em 2022 e no início deste ano a bacia esteve sob o decreto de situação de cheia, realidade bem diferente da última estiagem, considerada a pior em cem anos, e que chegou a provocar a seca da principal nascente do Velho Chico em 2014, na Serra da Canastra, em Minas Gerais.

Embora o cenário seja animador, não é possível afirmar que essas fortes chuvas possam repor o que está se perdendo de superfície de água na bacia, é o que afirma o pesquisador e coordenador da Expedição Científica do Baixo São Francisco, Emerson Soares. Segundo ele, o problema da bacia vai além da falta de chuva, tratando-se ainda do balanço hídrico, ou seja, repor o que se retira. 

“E essa equação não fecha, porque se tira mais água do que se repõe. Ademais, os rios contribuintes para formação do Velho Chico passam por problemas ambientais graves como desmatamento, assoreamento, consumo de água muitas vezes desregrado e dificuldade de gestão”, destacou Soares.

Depois da mais recente e forte estiagem, registrada entre os anos de 2012 e 2018, em 2019 houve uma pequena melhora no regime de chuvas e em 2020 a vazão do rio aumentou, ficando com média anual de 1.450 m³/s, permanecendo estável em 2021. Já em 2022 e 2023 aconteceu um aumento considerável da vazão, quando, no ano passado, houve três meses de vazões oscilando entre 2.800 e 4.200 m³/s, com mais de 30 dias na média de 4.000 m³/s. Já este ano, foram mais de 15 dias com vazões de 4.000 m³/s, devido ao período chuvoso nas cabeceiras dos afluentes do São Francisco.

Mesmo assim, a bacia do São Francisco continua inspirando sérios cuidados já que, até hoje, as obras de revitalização, quase que em sua totalidade, têm sido feitas e financiadas apenas pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Em 2014 quando a nascente do São Francisco chegou a secar, a informação era de que o volume do rio não seria afetado devido à água dos seus afluentes. No entanto, a estiagem se prolongou e atingiu a maioria dos quase 200 afluentes.

O secretário da Diretoria Colegiada do CBHSF, Almacks Luiz Silva, lembra que nos últimos anos a bacia do São Francisco tem vivenciado os impactos das mudanças climáticas e um dos resultados sentido é a mudança no padrão de cheias.

 “É preciso reforçar que as mudanças climáticas já têm afetado também a bacia do São Francisco. Antigamente, a cada 30 anos se registrava cheia, a exemplo de cheias históricas, e agora tivemos no ano passado e esse ano novamente. Isso deve ser cada vez mais recorrente, ou seja, as cidades que se acostumaram com as longas estiagens e acabaram permitindo a invasão de áreas pertencentes ao rio, precisam se adaptar às cheias e entender que o rio requer seu espaço sempre que tem maiores volumes. Além disso, o Comitê alerta que não pode ser atribuído ao rio o despejo de esgoto, restos de obras e tantos outros poluentes que assoreiam, degradam e provocam os problemas que temos visto ao longo do tempo, precisa-se de conscientização, educação ambiental, respeito ao rio, porque se perdemos o rio, não existe plano “’B’”, conclui.

Mas com a melhora no regime de chuva nos últimos anos, será que esse seria um novo padrão para a bacia? A resposta, de acordo com o professor Emerson Soares, é de que esse dado é impreciso. 

“É muito embrionário falarmos que este é um novo padrão para bacia, pois os modelos tem seus erros. Além disso, devido às mudanças climáticas a nível mundial, é muito arriscado dizermos que isso irá se manter já que o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) prevê secas mais intensas e chuvas mais torrenciais. Não sei dizer se este padrão se manterá ano que vem, na minha opinião, qualquer modelo para embasar períodos chuvosos encontrará muitos erros e terá dificuldades nesta previsão. O certo é que o Velho Chico vem perdendo um grande percentual de volume de água nas últimas décadas e não podemos confiar que o rio dará conta das atribuições de gerar energia, irrigar, abastecer municípios, entre outras, com a alta demanda imposta, além do aumento do desmatamento dos seus afluentes, mudanças climáticas e aumento da necessidade de água devido ao aumento do adensamento populacional no entorno de sua calha”, destacou.

Período úmido em 2023-De acordo com o Diretor de Operação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), João Henrique de Araújo Franklin Neto, o reenchimento dos reservatórios na Bacia do São Francisco, deve ocorrer no final do período úmido, ou seja, até abril. Em março de 2020 a usina hidrelétrica de Três Marias, em Minas Gerais, atingiu, depois de 11 anos, 100% de sua capacidade. Já a UHE Sobradinho na Bahia chegou ao volume máximo no ano passado, em abril de 2022, marca alcançada pela última vez em 2009, há 13 anos.

Com isso, de acordo com dados da Chesf, a região Nordeste foi, pelo terceiro ano consecutivo, exportadora de energia, sendo que no ano de 2022, a região foi exportadora em todos os meses do ano, perfazendo um valor de 3.733 MW médio no ano de exportação de energia para as demais regiões do País, correspondendo a um aumento de 37% em relação à exportação do ano de 2021.

“Essa condição de Nordeste exportador de energia é decorrente da expressiva expansão da fonte de geração eólica e solar na região, associada à melhoria das condições hidrológicas da Bacia do Rio São Francisco, tendo como consequência maior acúmulo de água no Reservatório de Sobradinho, que possibilita a utilização plena dos recursos hídricos dos reservatórios das usinas operadas pela Eletrobras Chesf nesta bacia. Atualmente, a região tem se mantido exportadora de energia para o Sistema Interligado Nacional – SIN, em virtude das condições favoráveis. Esta também é a tendência futura para o Nordeste”, afirmou o Diretor de Operação da CHESF, João Henrique. (Fonte-Assessoria de Comunicação do CBHSF/Juciana Cavalcante)

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA PARAÍBA REALIZA SIMPÓSIO CARIRI CANGAÇO SERRA DA BORBOREMA

O Cariri Cangaço com o apoio da Universidade Estadual da Paraíba, vai realizar, durante o período de 27 a 29 de abril, no Museu dos Três Padeiros, o 1º Simpósio Cariri Cangaço Serra da Borborema (Antônio Silvino).

O evento acadêmico também voltado para o público, vai abordar a trajetória cangaceiro Antônio Silvino na Paraíba, especialmente tendo a região do Compartimento da Borborema e Campina Grande, cidade onde o cangaceiro viveu seus últimos dias de vida.

Segundo o professor Julierme Wanderley, os debates que serão realizados durante o Simpósio, pretendem traçar a geografia do cangaceiro Antônio Silvino na Paraíba e Pernambuco, suas conexões com a política coronelista na região e o combate contra o banditismo rural por parte da Polícia Militar da Paraíba.

O simpósio terá a participação da UEPB, Escola Poetisa Vicentina Vital do Rego, Cariri Cangaço e GPEC.

Julierme Wanderley destaca na programação no simpósio as participações de renomados escritores e escritores, além de entidades culturais., como o escritor Dr. Bismarck Martins de Oliveira – Representante do “Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço” (GPEC – PB); professor Julierme do Nascimento Wanderley — Representante do “Cariri Cangaço” e pesquisador da vida Cangaceira de Antônio Silvino; Tenente Narciso Dias — Representante da “Polícia Militar da Paraíba” e “Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço” (GPEC – PB); professor José Pereira da Silva — Representando o “Museu de Arte Popular da Paraíba” (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

O simpósio ainda terá a participação do escritor João de Sousa Lima — Representante do “Instituto Histórico e Geográfico de Paulo Afonso/BA, Academia Brasileira de Letras do Cangaço e Cariri Cangaço”,  escritor Alexandre Ferreira — Representante do Instituto Histórico e Geográfico de Ingá/PB e o escritor Hesdras Sérvulo Souto de Siqueira Campos Farias — Sociólogo formado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco com pós-graduação em Ciências Sociais, História do Brasil e Jornalismo Digital.

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GOVERNO FEDERAL LIBERA R$ 2,44 BILHÕES EXTRAS PARA UNIVERSIDADES

O Governo Federal anunciou, nesta quarta-feira (19), que vai alocar R$ 2,44 bilhões de reais a mais para recompor o orçamento das universidades e institutos federais de ensino. Segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, parte dos recursos irão para a recomposição do orçamento discricionário das instituições e parte para obras. "Vamos trabalhar muito para que o presidente possa percorrer esse país e entregar várias obras importantes de melhorias para os nossos estudantes".

Os recursos foram viabilizados ainda no ano passado, quando o então gabinete de transição do presidente eleito Lula aprovou uma emenda constitucional que ampliou os gastos do governo federal para 2023.

Segundo Ricardo Marcelo Fonseca, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), as medidas são importantes, uma vez que os institutos federais e as universidades tiveram suas contas comprometidas pelas sucessivas reduções orçamentárias nos últimos anos. "Depois de quatro anos de diminuição crescente dos nossos orçamentos, e mais do que isso, como sabemos, de ataques às universidades, que eram continuamente detratadas, no segundo semestre do ano passado vimos que 2023 seria impossível".

Segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, as obras paradas ainda terão outro reforço. "O presidente deverá, nos próximos dias, anunciar uma ação importante: assinar uma medida provisória garantindo a retomada de toda as obras paralisadas e inacabadas da educação desse país, para que a gente possa entregar todas elas aos municípios e estados brasileiros", adiantou o ministro.

E nesta semana, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, já havia adiantado que não haverá bloqueios na área de educação este ano. (Agencia Brasil)

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CAETANO VELOSO: REVELA A HISTÓRIA DA COMPOSIÇÃO DA MÚSICA CAJUÍNA

Nascido em Teresina, capital do Piauí, Torquato Neto foi um poeta, jornalista, letrista, tropicalista e experimentador ligado à contracultura, que morreu aos 28 anos, em 1972, no Rio de Janeiro. Entre várias canções marcantes do Tropicalismo, ele compôs as canções Geleia Geral, em parceria com Gilberto Gil, e Mamãe Coragem, com Caetano Veloso.

"Existirmos: a que será que se destina? Pois quando tu me deste a rosa pequenina/ Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina do menino infeliz não se nos ilumina/ Tampouco turva-se a lágrima nordestina/Apenas a matéria vida era tão fina e éramos olharmo-nos intacta retina/ A cajuína cristalina em Teresina.

“O rapaz chorou muito aquele dia.” O rapaz era Caetano Veloso e a frase é a atribuída a "Doutor Heli", pai de Torquato Neto. Naquele dia, em Teresina, algum tempo depois da morte trágica do poeta piauiense, um encontro entre Caetano e Heli resultou em uma das canções mais conhecidas do repertório da música brasileira: Cajuína. Aos que escutam a música sem conhecer a história por trás dela, é quase impossível saber do que se trata. Mas Caetano tratou de explicar a passagem.

"Existirmos, a que será que se destina?", questiona Caetano Veloso no primeiro verso de Cajuína, clássico de sua carreira que apareceu no disco Cinema Transcendental, de 1979 e que ele mesmo admitiu, em uma entrevista no começo dos anos 2000, que é uma de suas preferidas. A resposta não vem na sequência da canção, justamente porque parece ser uma provocação que cabe ao ouvinte (ou leitor) responder.

Caetano provavelmente se fez essa pergunta também na cena que o inspirou a escrever a música, durante uma visita à casa do pai do poeta Torquato Neto, que havia se suicidado em 1972 em Teresina, no Piauí, sua terra natal.

No livro Verdade Tropical, o cantor dá a sua versão mais acabada para o episódio, contando que fora um grande amigo de Torquato nos anos 1960 e que, na época de sua morte, eles estavam um tanto afastados um do outro, o poeta tinha se tornado mais próximo do cantor e compositor Chico Buarque, que estava ao lado de Caetano quando ambos receberam a notícia de sua morte.

O poeta e escritor piauiense Paulo José Cunha escreveu há alguns anos que a ocasião da visita de Caetano ao pai de Torquato, Heli Nunes, aconteceu durante uma turnê em que o cantor desembarcou na capital do estado para um show. "Ele retornava pela primeira vez à cidade onde havia nascido um de seus principais parceiros na Tropicália e seu grande amigo", disse.

O próprio Caetano afirmou o seguinte durante o programa Altas Horas, da Rede Globo, em 2014: "Torquato era um parceiro, letrista do Tropicalismo, e ficamos muito abalados com sua morte, mas eu não chorei quando soube. Mas quando eu fui a Teresina, anos depois, e encontrei o pai do Torquato no hotel -- ele foi me procurar. Quando eu o vi, chorei muito. No final, ele ficou me consolando e me levou à casa dele. Ele estava sozinho porque a esposa dele estava hospitalizada e Torquato era filho único", começou.

"A casa dele tinha muitas fotografias do Torquato e nós ali, sozinhos, ficamos em silêncio. Ele ficava passando a mão na minha cabeça e dizendo: 'Não chore tanto'. Aí ele foi na geladeira, pegou uma garrafa de cajuína, colocou dois copos e ficamos bebendo sem falar nada. Depois ele foi no jardim, colheu uma rosa-menina e me trouxe. Cada coisa que ele fazia eu chorava mais".

Doutor. Heli, como se desejasse relembrar a beleza da vida, deu ao amigo de seu filho uma rosa-menina colhida diretamente do quintal; e também serviu cajuína, como se quisesse adocicar aquele instante. Caetano continuava a derramar lágrimas, mas não mais de tristeza ou amargura. “Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Heli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei”, definiu Caetano.

Na cidade seguinte à turnê de Caetano pelo Nordeste, na primeira parada, ele diz ter composto a canção. Em Verdade Tropical, Caetano diz que assim que soube da morte de Torquato, sentiu uma "dureza de ânimo". "Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental", o que foi quebrado apenas quando ele foi à casa de Heli.

O poeta e letrista Torquato Neto surgiu no cenário nacional em 1967, ao lado dos compositores mais famosos do movimento que seria chamado de Tropicalismo. Com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo e Jards Macalé compôs canções como Geleia Real, Louvação, Marginália 2, Mamãe Coragem e Deus vos Salve esta Casa Santa. Além disso, também trabalhava como jornalista -- tinha uma coluna chamada Música Popular no jornal O Sol e outra, batizada de Geleia Real, no Última Hora. O aumento da repressão durante a ditadura militar fez com que ele se afastasse dos amigos e do trabalho e se internasse em uma clínica diante de um quadro de instabilidade mental.

Conhecido como o Anjo Torto da Tropicália, Torquato se suicidou em novembro de 1972, um dia depois do seu aniversário de 28 anos. Os amigos tinham acabado de deixar sua casa, no Rio de Janeiro, quando ele entrou no banheiro e ligou todas as torneiras de gás, morrendo asfixiado. Os jornais da época relataram que as últimas anotações encontradas em seu caderno de espiral traziam frases como "Pra mim chega" e "O amor é imperdoável", esta última atribuída justamente a Caetano Veloso. (Fonte: Livro Verdade Tropical)

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HELENA THEODORO: RÁDIO PÚBLICA NÃO TEM DONO, TEM QUE SER PLURAL

No mês em que completa o seu centenário, a Rádio MEC foi o tema central de uma audiência pública realizada na última quarta-feira (12) na Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados. Durante o evento, que debateu o resgate do protagonismo da emissora e a busca pela inovação tecnológica, a radialista aposentada Helena Theodoro foi homenageada. A iniciativa reconhece as mais de três décadas que ela dedicou à Rádio MEC.

A carreira de radialista de Helena é marcada por sua múltipla formação. Natural do Rio, ela é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com graduações em Direito e em Pedagogia, mestrado em Educação, doutorado em Filosofia e pós-doutorado em História comparada. É referência no país na pesquisa em história e cultura afro-brasileira.

Sua passagem na Rádio MEC, iniciada aos 15 anos de idade, é marcada por programas como Samba na Palma da Mão, Faixa Autoral e Origens. Ela também coordenou nacionalmente o Projeto Minerva. Instituído pelo regime militar e produzido pela Rádio MEC, era um programa radiofônico de educação a distância de transmissão obrigatória pelas demais emissoras.

Considerada a primeira emissora do país, a Rádio MEC nasceu como Rádio Sociedade, criada em 1923 por Edgard Roquette-Pinto e Henrique Morize. Doada em 1936 ao Ministério da Educação e Saúde Pública (posteriormente Ministério da Educação e Cultura - MEC), a emissora acabaria sendo rebatizada como Rádio MEC. Mais tarde, a sigla deixaria de ser uma referência à pasta, passando a significar música, educação e cultura, considerados os três pilares da sua programação.

Nessa entrevista concedida à Agência Brasil, Helena Theodoro conta detalhes da sua trajetória na Rádio MEC e discute a importância da emissora. 

Agência Brasil: Como foi sua entrada na Rádio MEC em 1958? 

Helena Theodoro: Um repórter do Diário de Notícias, chamado Pedro Jorge, tinha um projeto que ele chamava de Estudantes do Ano, onde aqueles jovens negros que se destacavam ganhavam uma fotografia no jornal para estimular os outros a estudar. Eu estava estudando no Conservatório de Música, fazendo piano e harmonia. E ele me escolheu como uma das estudantes do ano. Os meus pais eram militantes do movimento negro e eu tinha passado muito bem qualificada para o Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Naquela época, as crianças negras não costumavam ser destaque em colégios considerados de qualidade no Rio, como era o Instituto de Educação. E eu passei em sétimo lugar. 

O Pedro Jorge sabia que eu era ligada ao movimento dos meus pais, que batalhavam para a criação do Renascença Clube, frequentavam o Teatro Experimental do Negro do Abdias Nascimento, eram fãs e colaboradores da orquestra do maestro Abigail Moura, participavam de toda a movimentação nos anos 50 do pessoal negro no Rio de Janeiro. E aí ele me convidou para participar do programa Tarde Estudantil como pianista. Era um programa da Rádio MEC de estudantes universitários e secundaristas.

Agência Brasil: Então você começou como pianista? 

Helena Theodoro: Comecei como pianista. Mas no Instituto de Educação, a gente tinha a Associação Metropolitana de Estudantes Secundários. A gente tinha uma consciência muito grande da política nacional, a gente se empolgava com a história da reforma agrária. E eu comecei a escrever no Tangará, que era o nosso jornal dos estudantes secundaristas. Também passei a escrever para o jornal O Metropolitano, que era voltado para os estudantes universitários. 

E depois o pessoal da Rádio MEC começou a se interessar pelas minhas poesias. Eu já escrevia poesia para a Revista Ciência Popular. Eu tive uma formação muito voltada para a arte. Tive uma infância muito estimulada para o campo das artes. O meu pai me levava para todos os concertos para a juventude. Domingo era religiosamente sagrado ir à feira em Vila Isabel, mas antes ele me levava para assistir os concertos para a juventude no Theatro Municipal.

Agência Brasil: O Origens é um dos programas que marca a sua trajetória. Como ele foi pensado? 

Helena Theodoro: Em 1963, eu fui efetivamente contratada. E aí eu passei a ser técnica de Comunicação Social. Toda quinta-feira eu tinha programação, e, mais tarde, comecei a fazer os meus próprios programas. Eu comecei com o Mundo da Criança, porque eu já era professora primária e tinha feito uma série de livros nos anos 70. Quando eu me formei em Pedagogia, eu fui junto com o Frei Davi fazer um trabalho de rádio educativo com o pessoal do Mobral [Movimento Brasileiro de Alfabetização, órgão criado pela ditadura militar]. E aí a gente começa a achar brechas para atender a comunidade preta e pobre. E eu fiz o programa Mundo da Criança. Eu buscava fazer na Rádio MEC o que eu tinha feito nos meus livros infantis, mostrando para a criança a importância da natureza. Depois, tivemos uma série com o personagem Bentinho Benedito. O Luiz Carlos Saroldi, que era muito meu amigo, era da Rádio Nacional. Depois foi da Rádio JB [Jornal do Brasil]. Eu pedi a ele para criarmos uma história que falasse de um menino negro criado pela avó, que era de terreiro. E que retratasse o negro como um artista plástico e não como músico, para sair do estereótipo. Vocês não imaginam o quanto eu sofri com a Editora Bloch porque os ilustradores não queriam pintar crianças negras. E também teve a série sobre o dia a dia, onde valorizamos o lixeiro, a empregada doméstica, as pessoas que plantam e que colhem. 

Mais tarde eu passei para o programa Faixa Autoral, na medida em que eu estava muito ligada à divulgação da música preta brasileira. Depois, como eu estava muito interessada na educação, veio o Origens. Nele, coloquei no ar pessoas que não estão mais entre nós como é o caso de Lélia Gonzalez, Maria Beatriz Nascimento, Joel Rufino dos Santos e Oliveira Silveira que deu a sugestão para que o 20 de novembro fosse o Dia de Zumbi. E eu transplantei os contos do Mestre Didi, que são incríveis. Inclusive foi ele quem fez a vinheta do Origens. É ele tocando e cantando. E eu radiofonizei os contos com a equipe de radioteatro. Quem era essa equipe? Nicette Bruno, Paulo Goulart, Fernanda Montenegro e Myriam Pérsia. Vocês não imaginam a qualidade. Eles depois vão para a TV Tupi. Era uma rádio que dava visibilidade aos artistas. 

Na Rádio MEC, a gente tinha contato com os poetas. Walmir Ayala, Vinícius, todo mundo era presente na Rádio MEC. A gente tinha o programa de jazz do Paulo Santos, a gente tinha uma relação muito íntima com todo o movimento cultural. No Samba na Palma da Mão, eu levei Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Aluisio Machado e Dona Ivone Lara que gravou pela primeira vez na Rádio MEC. Todos os grandes sambistas do Rio de Janeiro passaram pelo programa. Eu tinha facilidade de convidá-los porque eu estava casada com o Nei Lopes. Eu comi feijoada feita por Clara Nunes, morram de inveja. Uma pessoa linda, maravilhosa. 

Mas olha a importância de manter a memória da Rádio MEC. Ela é o princípio de tudo. Criou muitos projetos de qualidade. Veja o nosso trabalho incrível nos anos 70 no projeto Minerva, buscando dar consciência crítica através dos programas radiofônicos que eram distribuídos para todo o Brasil. Eu fui coordenadora nacional do projeto. Fomos reconhecidos pelos ingleses.   

Esse projeto também recebeu algumas críticas e chegou a ser apelidado de “projeto me enerva”. Como você avalia essas críticas? 

O que a gente estava fazendo? A gente estava vendo a necessidade do país de crescer e pensar criticamente. A quem interessa isso? E a quem não interessa isso? 

Agência Brasil: Chegou a sofrer alguma interferência do regime militar? 

Helena Theodoro: Olha, eu fui na Alemanha e lá eu vi algo que eu quis fazer aqui. O caderno de acompanhamento de conteúdo do Projeto Minerva era vendido nas bancas pela Editora Abril. Eu queria distribuir gratuitamente pelos jornais. A ideia era que os jornais pagassem taxas menores ao governo em troca de espaço para um suplemento. Eu fui mexer com a Editora Abril. Ela ganhava muito dinheiro vendendo esses cadernos. E aí depois de um tempo me tiraram de lá. Fiquei doente. Fiquei dois meses de cama. Eu sempre amei o Projeto Minerva. 

Agência Brasil: Podemos dizer que seus programas na rádio articulam sua formação artística e política? 

Helena Theodoro: A minha vida de pianista, de professora, de militante política e de militante do movimento negro está completamente relacionada. Papai e mamãe eram sócios da orquestra do maestro Abigail Moura. Foi a primeira orquestra voltada para tradição musical africana. Ele usava instrumentos africanos. E quem eu encontro na Rádio MEC que era uma figura presente na minha vida de filha de um militante: o maestro Abigail Moura. Ele consertava os instrumentos da Rádio MEC e ensaiava a orquestra afro-brasileira lá na Rádio MEC. Então, eu fechei os meus laços de amizade com o maestro Abigail Moura e conheci uma pessoa incrível na minha vida que se chama Haroldo Costa. 

Ao mesmo tempo, a minha mãe havia passado no concurso para os Correios e Telégrafos e trabalhava como intérprete de inglês na Praça Mauá. Era vizinha do edifício A Noite, onde funcionava a Rádio Nacional. E ela faz amizade com o pessoal da Rádio Nacional. Ela conheceu um jovem que trabalhava como empregador de correspondência que ela adota como se fosse filho. E ela estimula esse menino que é o Hermínio Bello de Carvalho. Então, desde muito cedo, eu fui criando relações que estão ligadas com o movimento negro, com a música popular brasileira e com uma consciência política do nosso país. 

Agência Brasil: E como você avalia a importância do rádio para o país? 

Helena Theodoro: No rádio, você não mostra as coisas, você deixa as pessoas imaginarem. Você desenvolve a intuição. Você estimula a reflexão das pessoas. A televisão te chapa um negócio e é aquilo que você viu e acabou. Historicamente, o rádio foi fundamental para a formação do país. Dona Helza Camêu me ensinou muito cedo que o Brasil no século 19 falava tupi-guarani. E foram as rádios que criaram uma unidade em torno do idioma português em um país continental como o nosso. Principalmente a Rádio MEC e a Rádio Nacional. E a Rádio Roquette-Pinto também. 

Eu fui à Espanha, onde há grupos separatistas, como os bascos. Na Itália, há uma série de divisões linguísticas. Eu fui em vários países africanos onde não há uma unidade. Inclusive vi uma experiência muito linda no Senegal. Você sabe que lá eles falam aproximadamente sete dialetos. Então, quando a criança entra na escola, ela não se comunica da mesma maneira que a outra. E essas crianças têm um ano para aprender a falar e escrever em francês, que é a língua obrigatória do país. Eles montaram uma estratégia incrível. Reuniram professores doutores pela Sorbonne para trabalhar na alfabetização. Eles fizeram uma seleção dos contos mais populares no Senegal, que são conhecidos diferentes dialetos. Traduziram para o francês e desenvolveram teatro para essas históricas. Eu vi. As crianças vão ouvir essas histórias em francês. Só que elas conhecem essas histórias. São da sua realidade. Eu fiquei pensando: eles usam o método Paulo Freire lá e a gente não usa aqui. E uma coisa mais interessante ainda. Eles usam músicas deles. E colocam letras francesas. É um transplante que facilita a compreensão das crianças. Em um ano, eles conseguem alfabetizar. 

Você também foi, por três anos, jurada do Prêmio Nacional Jornalista Abdias do Nascimento, criado pela Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira) do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro. Como foi essa experiência? 

É um trabalho incrível de premiar jornalistas que realmente contam para a gente a verdade da vida. Eu acho absolutamente necessário, porque eu acho que a grande responsável do atraso brasileiro é a mídia. A gente tem uma mídia que valoriza a mentira. 

Agência Brasil: A Rádio MEC é vinculada hoje à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), fundada em 2007 dentro de um esforço de estruturação do campo público da comunicação. Como você avalia esse processo? 

Helena Theodoro: Esse debate é básico. Não pode deixar nas mãos de interesses particulares algo que é de interesse público. Você vê o que o Twitter está fazendo. Estão permitindo até compartilhamento de ameaças de ataque às escolas. É comandado por um homem que tem trilhões de dólares. Há uma falta de ética. Desde sempre eu aprendi que o teu limite acaba onde começa o limite do outro. É preciso parar e pensar. Ouvir e escutar. A rádio nos permite isso. E a rádio pública não tem dono. Ela é de todos. A partir do momento que ela tem conhecimento dessa sua característica, ela não vai ser uma rádio que vai te levar para uma dada religião, que vai te levar para um dado partido. Ela não pode ser esse tipo de rádio. Ela tem que ser diversa. Ela tem que ser plural. Ela tem que ser democrática.

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