MINISTRA DOS POVOS INDÍGENAS ESPERA DEMARCAÇÃO DE 14 ÁREAS ESTE ANO

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, afirmou, em entrevista a veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que 14 processos de demarcação de terras indígenas estão prontos para homologação pelo governo federal.

São áreas localizadas em oito estados de quase todas as regiões do país. "Temos 14 processos identificados, que estão com os estudos prontos, concluídos, já têm a portaria declaratória. A gente espera que o presidente Lula possa assinar a homologação", disse.

As terras indígenas prontas para o reconhecimento definitivo ficam no Ceará, Bahia, Paraíba, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Acre, Amazonas e Mato Grosso. O governo anterior, de Jair Bolsonaro, havia paralisado todos os processos de demarcação de terras indígenas e a retomada desses processos foi um compromisso de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No fim ano passado, durante a transição de governo, o grupo de trabalho temático sobre questões indígenas já havia incluído, no seu relatório, uma lista das 13 áreas prontas para demarcação. Ao todo, elas somam cerca de 1,5 milhão de hectares.

AMEAÇAS: Primeira indígena a assumir um cargo de ministra no governo federal, Sônia Guajajara foi a entrevistada da edição desta sexta-feira (27) do programa Voz do Brasil, da EBC, em que atualizou a situação de vulnerabilidade de diversos povos.

O tema ganhou evidência nos últimos dias com a eclosão da crise sanitária vivida pelos Yanomamis, em Roraima. Segundo a ministra, este caso é apenas "a ponta do iceberg". 

"Tivemos seis anos de muita ausência do poder público. Yanomami é uma pontinha do iceberg", afirmou Guajajara. A ministra citou os casos dos povos Arariboia e Guajajara, no Maranhão, Uru-eu-wau-wau, em Rondônia, Karipuna, no Acre, e Munduruku, no Pará. "Todas essas áreas estão com situação grave de madeireiro ou de garimpeiro e, com isso, [há] uma insegurança geral de saúde e alimentar", disse.

A ministra também mencionou a situação dos indígenas Guarani Kaiowá, grupo que já esteve em evidência há alguns anos, mas que segue grave. Eles vivem em área ainda não demarcada e que é disputada por fazendeiros, as chamadas de áreas de retomada, em que há conflito permanente.

 “Temos recebido demanda do Guarani Kaiowá. Eles vivem em áreas de retomadas e isso dificulta a produção de alimentos. Tem a situação do povo Pataxó, também numa área de retomada. É uma terra indígena que aguarda portaria declaratória do governo federal. [Há também] os Awá Guarani, no Paraná, que têm procurado a gente para dar uma atenção especial", acrescentou.

Outra fonte de preocupação, de acordo com a ministra, segue sendo a região Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, que concentra o maior número de povos indígenas isolados de todo o país. No ano passado, a região foi notícia mundial com os assassinatos brutais do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira.

"Nas duas últimas semanas foi encontrada uma bomba dentro da casa de um servidor da Funai [no Vale do Javari]. A Polícia Federal foi chamada e conseguiu desarmar a bomba. O Vale do Javari é uma prioridade para garantir proteção", revelou a ministra.

"Com essa afirmação do presidente Lula de que vai retomar a demarcação de terras indígenas, de que vai avançar com esses processos, então [isso] já gera uma certa turbulência, animosidade de quem é contra a demarcação e, com isso, eles tentam formas de intimidar a própria atuação do governo federal", acrescentou.

A ministra do Povos Indígenas ainda falou sobre a necessidade de ações permanentes nos territórios indígenas, para repelir ameaças e evitar novas situações de vulnerabilidade.  

"Essa ação é muito importante, é a retomada da presença do Estado no território. E é preciso que seja feito um trabalho articulado com vários ministérios. Para isso, instalou-se uma comissão de enfrentamento que vai começar na segunda-feira (30), e a ideia é que o Ministério da Defesa permaneça ali com essa presença de fiscalização, juntamente com Ministério da Justiça, [com] a Polícia Federal", finalizou. (Fonte Agencia Brasil)

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FEIRA AGROECOLÓGICA E ORGÂNICA FORTALECE COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR

Juazeirenses e visitantes contam com Feira Agroecológica e Orgânica que acontece semanalmente com comercialização de diversos produtos da agricultura familiar e artesanatos. A feira acontece ao lado do Armazém da Caatinga, na Vila Bossa Nova, Orla II de Juazeiro.

O espaço tem sido uma oportunidade para escoar o excedente da produção de dezenas de agricultores/as familiares da região. “A gente tem uma coisa mais certa, a gente produzia, mas pra onde ia escoar essa produção? E hoje, a gente já tem o ponto certo. Através da Coopervida, a gente fez esse gancho de expandir essa comercialização e aí a gente não tá dando conta da demanda”, destaca a agricultora do assentamento São Francisco em Juazeiro e coordenadora do Pré-Núcleo Sertão do São Francisco, Carmem de Oliveira.

A Cooperativa Agropecuária Familiar Orgânica do Semiárido - Coopervida e a Central da Caatinga são as organizadoras da feira. A presidente da Coopervida, Gizeli Maria Oliveira, ressalta que tem trabalhado para “[...] fortalecer mais ainda as comunidades dos distritos de Juazeiro. Muitas famílias, nos quintais agroecológicos, por exemplo, que não tinham para onde escoar os excedentes da produção, com a entrega de cestas, a venda na quitanda, que é num bairro periférico aqui de Juazeiro e a Feira Agroecológica, nós estamos conseguindo absorver essa produção”.

Gizeli pontua que esse trabalho junto às famílias agricultoras conta com “um circuito de apoio” de técnicas/os de organizações que atuam na região e que “fazem essa ponte entre a Coopervida e as famílias que estão nas comunidades”. O Irpaa é uma das entidades que apoiam a feira.

A articulação com as parcerias para garantir a logística com as/os agricultoras/es resulta, por exemplo, na comercialização de cestas, com média de 25 por semana. Devido à comodidade, esse serviço tem sido bem procurado e é uma forma de garantir o acesso da população a produtos saudáveis, sem agrotóxicos. “As famílias fazem o pedido no WhatsApp uma vez por semana e recebem na sexta-feira pela manhã em suas casas. Então, a feira está se ampliando e a proposta é essa, que ela se amplie não só aqui no espaço da Orla, mas também em outras localidades de Juazeiro para a maior parte da população também ter acesso a esses produtos”, destaca Gizeli Maria.

Com essa proposta de ampliação, diferentemente das quintas-feiras, em que são comercializados apenas produtos orgânicos, às sextas há uma diversidade maior. É possível encontrar produtos orgânicos, agroecológicos e itens da economia solidária como artesanatos de couro e madeira, bordados, comidas típicas e perfumes. Nos dois dias, o horário de funcionamento é das 16h às 20h.

Para a coordenadora da Rede Mulher em Juazeiro, Karine Pereira, que participa com artesanatos, o espaço é uma oportunidade para mulheres do coletivo. “É uma novidade, ainda mais se tratando de artesanato que as mulheres ainda estão começando a produzir pensando na comercialização fora do seu ambiente domiciliar, como vender pro vizinho, para uma amiga; mas, para sair da cidade pra ir para outro município, não (ter condições). Então, é um espaço inovador para a Rede Mulher, é um espaço que a gente tá aprendendo”.

Karine avalia que é preciso a comunidade aproveitar e valorizar mais ainda a iniciativa, principalmente, porque é uma forma de apoiar a produção das famílias. “O que a gente mais acha desafiante, no momento, é a população de Juazeiro perceber o valor, a importância de ter uma feira como essa. São produtos de qualidade, com preços super acessíveis e que, além de fomentar a economia local, também contribuem para que as pessoas tenham uma melhor alimentação e com a renda de muitas famílias”.

Há um mês, aproximadamente, o jovem Maurício Fábio da Silva e os amigos participam da Feira Agroecológica e Orgânica de Juazeiro. Maurício avalia que o espaço é importante para divulgar o trabalho de artesanato com reciclagem que é realizado por eles. “A ideia da ‘Berro do Gato’ é isso, pegar material reciclado, que as pessoas não utilizam mais e a gente faz a nossa arte. Exemplo, uma empresa que vai jogar material fora, a gente vai lá e cata. As pessoas procuram mais para trabalhos encomendados e a feira, a gente usa como parte de vitrine mesmo. A gente já conseguiu muita encomenda por fora”.

A feira foi inaugurada no dia 30 de junho de 2022, como parte integrante de um projeto que engloba também o Armazém da Caatinga. O contato disponibilizado pela organização para os pedidos de cestas, via WhatsApp, é o (74) 98859-9873.

Fonte: Arte de divulgação: Organização da Feira Texto e foto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa

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SÃO 18 HORAS E MAIS UMA ORAÇÃO

Tenho caminhado em busca de conhecimento da mística Hora do Angelus. Um dos mais belos discos Lp de Luiz Gonzaga tem o título: o sanfoneiro do povo de Deus. Nele canta beatas e louvações, mística, trabalho e fé.

O cantor Maciel Melo canta:
...Um poeta já disse Deus virá
Dou-te o nome Maria Fortaleza
Tua fé é sinônimo de grandeza
Em teu reino quem reina é o coração

Oh Maria Lourdes da Labuta
Em sumé foste doce, amarga e bela
Paraíba foi tua passarela
Pernambuco te trouxe a sedução
O destino entregou tua missão
Onze ítens a ti foi destinado
E a lei que constitui o teu reinado
Foi escrita com a tinta do perdão

Tú andaste muito mais que muitas léguas
Tú abriste as cancelas do destino
Te vististe com o manto do divino
Traçaste um futuro sem ter régua
Teu amor incansável não dá trégua
Teu silêncio arenga com o fracasso
E o sol ao cair deixa o mormaço
São seis horas e mais uma oração...

Cida Golin doutora em Letras, Professora do Departamento de Comunicação da Universidade do Rio Grande do Sul e Bárbara Salvatti, bolsista de iniciação cientifica apontam em artigo para a tela A Hora do Angelus (1858-9 – Museu D’Orsay) de François Millet, com a imagem de um casal na lavoura, mãos cruzadas e a cabeça baixa em sinal de reverência, registra, às vésperas do movimento impressionista, a luz e a dimensão religiosa do calendário.

A cena naturalista e poética, associada a um ritual de base sonora, conquistou o público e foi amplamente difundida em cartões postais e almanaques. A prece alude à passagem bíblica da Anunciação do Anjo Gabriel à Virgem Maria; oração essa que, paulatinamente, incorporou-se ao culto católico como eixo meditativo quando "bate às seis horas", regulando a disciplina dos corpos e das mentes.

Dentro dessa vivência da religiosidade, o culto à Maria, configurada como uma visão materna protetora, vigilante  e poderosa, capaz de interceder pelos fiéis. Reproduzo aqui um dos momentos mais reflexivos apresentado na Rádio Jornal do Comérccio - Recife-Pernambuco.

"Seis horas, esta é a hora do ângelus Hora da anunciação. A humanidade esquece por um momento a sua luta inglória, deixa de lado os pensamentos pecaminosos, a perseguição desenfreada dos homens contra os próprios homens e contempla a paz da natureza, uma sombra pálida do olhar de Maria.

Nos templos, nas ruas e nos campos, as preces brotam espontâneas de todos os lares. Esta é a hora do ângelus, a hora da anunciação! Nós vos suplicamos Maria que olheis por nós, vossos filhos ingratos.

Dai-nos a graça do arrependimento e a vossa benção materna, porém, mais do que nós, Maria, outros necessitam do vosso apoio, nessa hora. Os que morrem de necessidade. Os que blasfemam. Os que não creem. Iluminai-os Virgem Santíssima Vós que fizestes os homens semelhantes a Deus por que foste Mãe de Jesus.

 Olhai para os que perderam a fé Protegei-os, vislumbrai-os como um relâmpago aos olhos de Paulo

Lembrai-vos deles nessa hora, Maria e sede, para todo o sempre, louvada e bendita!

Ave Maria Cheia de Graças  Senhor é convosco Bendita sois vós entre as mulheres

Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus".

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FESTIVAL SALITRANDO A HISTÓRIA, 25 ANOS DE SACERDÓCIO DO PADRE TITO ACONTECE DIA 05 DE FEVEREIRO

Anita Rodrigues, 81 anos. Diva Rodrigues, 70 anos. São duas irmãs que tiveram o privilégio de nascer nas margens do Rio São Francisco, em Juazeiro Bahia. As duas cultivam a valorização da cultura e religiosidade. "Nossos antepassados, ancestrais, nos passaram essa devoção. A Casa de Oração, os terços, ofícios, terços das almas, tudo é motivo de gratidão e festejos", diz Anita.

No próximo dia 05 de fevereiro, as duas vão viver um momento de emoção. Trata-se do Festival Salitrando a História, 25 anos de sacerdócio do filho de dona Anita e sobrinho de dona Diva. Padre Tito Regis Rodrigues da Silva festeja o Jubileu de Prata.

Anita revela que Salitre, vem do sal, de sabor. "Salitrar é restituir, devolver sabores. Estamos na emergencia cultural e ste momento é de valorizar a nossa história e por isto os salitreiros vão mostrar habilidades humanas, culturais, sociais e religiosas".

O padre Tito diz que a festa tem razões bíblicas. "Os livros de Números e Crônicas apresentam o sal como o simbolo que confirma amizade entre as regiões e nos Evangelhos, Jesus chama seus discípulos de Sal da Terra e alerta para  que todos tenham sal entre si e estejam em paz uns com os outros".

Além da Missas no dia 5 de fevereiro ás 8hs, no Sítio Recanto da Emaus, Salitre, a programação consta de várias manifestações culturais, congada, paineis referente história do Salitre, roda de São Gonçalo,  Samba de Vei, distribuição de plantas nativas para plantio, lançamento da cartilha cultural, brincadeiras para crianças, bumba meu boi e folia de reis, entrega Troféu Salitrando a História.

Durante o período da noite haverá apresentação dos penitentes do Salitre e Alimentadoras de Almas e festas juninas.

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MAIO, O MÊS MÁGICO PARA GUIMARÃES ROSA

Há exatos 70 anos – em maio de 1952 -, o escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967) acompanhou uma boiada – conduzida pelo vaqueiro Manuelzão – numa viagem de 240 quilômetros pelo sertão de Minas Gerais, desde Sirga até Araçaí, ao longo de dez dias. Enquanto seguia com o rebanho em sua lenta marcha, Rosa registrou o que via em cadernetas penduradas no pescoço, que conservaram suas anotações em forma de rabiscos e comentários soltos. 

Os escritos, que descrevem com minúcias os cenários e situações vividas naquela ocasião, foram depois datilografados e serviram de base para duas das mais importantes obras do escritor, Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas, ambas lançadas em 1956.

Essas anotações de Rosa – que só foram publicadas em livro em 2011 pela Editora Nova Fronteira, com o título A Boiada – serão o tema do ciclo de seminários Infinitamente Maio: A Boiada – 70 Anos, que o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP e a Oficina de Leitura Guimarães Rosa, instalada no IEB, promovem nesta terça, quarta e quinta-feira, dias 10, 11 e 12, sempre às 15 horas. “Maio é um mês mágico para Guimarães Rosa”, afirma Regina Pereira, da Oficina de Leitura Guimarães Rosa, uma das organizadoras do evento, citando um trecho do conto Desenredo, de Rosa, que inspirou o título do ciclo de seminários: “Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o amor. Enfim, entenderam-se”. Regina acrescenta: “É um mês muito citado nas obras dele. A viagem que fez pelo sertão mineiro e a publicação de Grande Sertão: Veredas também ocorreram em maio”. 

“Às 6 horas da manhã. Claridade da madrugada. O sol ainda não saiu. “Está clareando agora, resumindo”. “Romper da aurora”, perto de nós, o grosso, enorme rôlo reto, de bruma branca (‘fumaça’) desce da bocâina pela baixada. Sôbre êle o outeiro, que marca o nascente. Grandes nuvens alaranjadas, que, a certa hora, se mudam em azuis – mas sobre elas o céu se toma de difusos laivos côr de rosa, extensos – aumentação dos raios do sol (parecem uma). Maiora a claridade.” (Trecho das anotações de Guimarães Rosa feitas em maio de 1952)

“Esta madrugada, deitado, via a lua, já baixa, lua cheia, pronta a ir-se. (Lado meu era o do poente). Poente da lua cheia (ainda alto, eclipsado). Depois, às 4 hs. 30, as nuvens cinzento-verde, leves. Hora em que as nuvens (isoladas) refletem os verdes do mundo. Depois, elas ficam azul e rosa.” (Trecho das anotações de Guimarães Rosa feitas em maio de 1952)

A Boiada em Imagens é o título do segundo seminário do ciclo, no dia 11. Nele, o coordenador do Museu Casa Guimarães Rosa, de Cordisburgo – cidade natal de Rosa -, Ronaldo Alves, fará análises sobre as imagens da boiada produzidas pelo fotógrafo Eugênio Silva para a revista O Cruzeiro, no último dia do percurso. Já a arquiteta Gabriella Roesler Radoll, da Oficina de Leitura Guimarães Rosa, vai apresentar mapas da época que descrevem a trajetória da boiada acompanhada por Rosa. Ainda nesse segundo seminário, a pesquisadora Beth Ziani vai explicar a obra coletiva O Manto do Vaqueiro, idealizada por ela, que foi composta com bordados feitos por mais de 200 moradores do sertão mineiro e está em exposição no Museu Casa Guimarães Rosa. A mediação será de Regina Pereira.

A importância das anotações para a compreensão da obra completa de Guimarães Rosa será o tema do terceiro e último seminário, no dia 12, intitulado A Boiada Presente em Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. A apresentação será do pesquisador Frederico Camargo, organizador do Arquivo de João Guimarães Rosa, com mediação de Rosa Haruco Tane, da Oficina de Leitura Guimarães Rosa. “Essas anotações são um material muito interessante para aqueles que fazem crítica genética”, destaca Regina Pereira, referindo-se ao campo de estudo voltado para a investigação das origens mais remotas de uma obra de arte.

Regina conclui: “Ao reler as anotações, você percebe o quanto o Cerrado foi destruído. Guimarães Rosa já possuía a visão de que o progresso estava chegando e aquele local não continuaria o mesmo por muito tempo. Refletir sobre o que mudou na geografia de Guimarães Rosa é essencial para a conservação desse patrimônio ecológico e cultural brasileiro”.

“TREM DE GADO – Passando (Brumadinho). Alguns bois, ao extremo de uma das gaiolas, conseguiram deitar-se. Um guarda-freio sentado, no extremo final, perto do engate, no último carro. Outro vem andando, sôbre a táboa longa, de cima do carro (tablado). Os bois estão lá dentro, quietos.” (Trecho das anotações de Guimarães Rosa feitas em maio de 1952)

Mariana Carneiros-Jornal da Universidade de São Paulo - USP

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AGRICULTORES TRANSFORMAM DESERTO EM FLORESTA NO SEMIÁRIDO

Uma mancha esverdeada se destaca na paisagem ondulada dos arredores de Poções, pequeno município no Semiárido baiano. Ali, a profusão de cactos, suculentas e árvores da Caatinga contrasta com a pastagem degradada e os solos nus do entorno.

O responsável pelo "oásis" é o engenheiro aposentado Nelson Araújo Filho, de 66 anos. "Quando comecei aqui, o solo era compactado e não produzia nada". 

Sentado na sombra de um umbuzeiro, Araújo conta que por muitos anos aquela área, que pertence a seu pai, abrigou roças de milho e aipim. Depois, virou pasto para gado.

Mas os anos de uso intensivo esgotaram o solo e o deixaram em vias de virar deserto — fenômeno que atinge cerca de 13% das terras do Semiárido brasileiro, segundo o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de Alagoas.

Araújo começou a reverter o processo há três anos com a implantação de um sistema agroflorestal em 1,8 hectare, área equivalente a dois campos de futebol.

O método, que tem sido adotado em várias regiões brasileiras e do mundo, se espelha no funcionamento dos ecossistemas originais de cada região.

No início, Araújo plantou espécies da Caatinga que sobrevivem mesmo em solos degradados, como a palma forrageira e o avelós. Depois, passou a podar a vegetação com frequência, usando todo o material cortado para cobrir e adubar o solo.

Com a melhora das condições, espécies mais exigentes, como árvores frutíferas e de grande porte, já começam a pedir passagem. A abundância de flores e frutos atrai aves e abelhas; e animais silvestres que há muito não eram vistos, como veados, voltaram a circular pela região.

Em mais alguns anos, Araújo espera que seu sistema se assemelhe a uma área intocada da Caatinga, com plantas de todas as alturas e alta variedade de espécies, de onde possa tirar mel, frutas e alimento para rebanhos o ano todo.

E tudo isso sem usar agrotóxicos, adubos químicos ou uma só gota de água com irrigação.

"Não falta água na Caatinga", diz o agricultor, referindo-se ao orvalho que banha a vegetação todas as noites e que o deixa com a roupa molhada ao visitar a agrofloresta pela manhã.

Ele afirma que a água do sereno é suficiente para "manter o sistema funcionando".

"A chuva, para mim, é um bônus", diz, questionando a noção de que, no Semiárido, toda plantação precisa de irrigação ou de verões chuvosos para prosperar.

Técnicas como as usadas por Araújo têm atraído holofotes num momento em que líderes globais discutem como frear as mudanças climáticas. 

Para climatologistas, sistemas agroflorestais são ferramentas tanto para a adaptação às mudanças quanto para a redução do ritmo das transformações.

Isso porque a diversidade dos sistemas deixa os agricultores menos vulneráveis a extremos climáticos, ao mesmo tempo em que as agroflorestas ampliam a absorção de carbono na atmosfera.

E, segundo os especialistas, o Semiárido brasileiro já tem sido uma das regiões mais afetadas pela mudança do clima no mundo.

Em seu último relatório, divulgado em agosto, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) afirmou que o Semiárido tem enfrentado secas mais intensas e temperaturas mais altas, condições que tendem a acelerar a desertificação de seus solos.

Daí a urgência em substituir uma agricultura que fragiliza os solos por outra capaz de restaurá-los.

Em seu relatório de 2019, o IPCC já havia dito que "sistemas agroflorestais podem contribuir com a melhora da produtividade de alimentos ao mesmo tempo em que ampliam a conservação da biodiversidade, o equilíbrio ecológico e a restauração sob condições climáticas em mutação".

Para a agrônoma Eunice Maia de Andrade, professora da Universidade Federal do Ceará, sistemas agroflorestais são capazes de recuperar uma boa parcela dos solos do Semiárido.

Especialista em conservação de solo e água no Semiárido, com doutorado em Recursos Naturais Renováveis pela Universidade do Arizona (EUA), Andrade afirma que esses sistemas facilitam a infiltração da água e reduzem seu escoamento superficial, o que protege a microbiologia do solo e ajuda a reter nutrientes.

Mas ela afirma que a implantação do sistema seria "muito difícil" em algumas partes do Semiárido, como em regiões onde o solo é muito raso e rochoso, ou em áreas onde chova menos de 500 milímetros ao ano.

As partes mais secas do Semiárido brasileiro recebem cerca de 250 mm de chuva ao ano, um terço do índice verificado nas partes mais úmidas da região.

Em Poções, onde Nelson Araújo Filho implantou seu sistema agroflorestal, o índice médio de chuvas é de 624 mm/ano, segundo o portal Weather Spark.

Para a professora Eunice Maia de Andrade, o combate à desertificação exige "um conjunto de ações e técnicas distintas", que considerem o nível de chuvas e as aptidões de cada local.

Área desertificada no interior de Alagoas, onde fenômeno atinge 32,8% do território estadual

Nos últimos anos, vários coletivos e movimentos sociais têm realizado cursos e vivências no Semiárido para estimular a adoção de sistemas agroflorestais ou agroecológicos.

Os dois conceitos são semelhantes e se opõem à chamada Revolução Verde, conjunto de técnicas agrícolas que se disseminaram pelo mundo a partir dos anos 1930 e se baseiam no uso intensivo de fertilizantes, agrotóxicos e mecanização.

Já a agroecologia e os sistemas agroflorestais buscam conciliar a produção de alimentos com a restauração ambiental. Além disso, valorizam a autonomia dos agricultores e o uso dos recursos que já estão disponíveis no local.

Uma das organizações que têm difundido as práticas no Semiárido é Centro de Assessoria e Apoio a Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas (Caatinga).

Um dos membros do grupo, Vilmar Luiz Lermen, recebe frequentemente em seu sítio em Exu, Pernambuco, agricultores de vários Estados interessados em aprender os métodos e visitar uma agrofloresta com 15 anos de idade.

No Semiárido, porém, assim como em outras partes do país, há obstáculos à penetração dessas ideias e relutância em abandonar certas práticas tradicionais.

O próprio Nelson Araújo Filho enfrentou resistências quando começou a implantar sua agrofloresta em Poções.

Alguns vizinhos e parentes protestaram, afirmando que a grande presença de palma forrageira (um tipo de cacto) na plantação desvalorizaria a área.

Isso porque essa espécie é bastante usada como alimento para cabras, cuja criação é associada à pobreza na região.

Os descontentes defendiam que, em vez de palma, ele plantasse capim para bois, já que a pecuária bovina, ao contrário, é uma atividade valorizada.

Agricultores que implantaram sistemas agroflorestais em outros pontos do Semiárido lidam com questionamentos semelhantes.

Antonio Gomides França, que  cultiva uma agrofloresta no Crato, interior do Ceará, diz que muitos vizinhos relutam adotar seus métodos por não saber como lidar com a vegetação da Caatinga nas áreas onde os sistemas são implantados.

Em geral, essa vegetação é formada por árvores duras e espinhentas que sobrevivem em solos degradados, como a jurema, a unha de gato e o mameleiro.

Quando uma agrofloresta é plantada, é preciso podar ou derrubar essas árvores para dar lugar a outras espécies que ajudem a recuperar o solo e ampliem a diversidade do sistema.

"Mas o agricultor, quando vai derrubar essa vegetação espinhenta, não sabe como organizar o material, então ele derruba e taca fogo", diz França.

O problema é que a queimada se contrapõe radicalmente aos conceitos agroecológicos, pois deixa o solo exposto à erosão e mata microorganismos essenciais para a vida vegetal - além de gerar emissões de gases causadores do efeito estufa.

Para França, no entanto, com técnicas e equipamentos simples, é perfeitamente possível abrir mão do fogo no Semiárido, usando as plantas espinhentas para adubar e proteger o solo.

Outra vantagem do sistema em relação à agricultura convencional, diz ele, é a diminuição dos riscos por conta da diversidade de espécies. Enquanto o agricultor convencional deposita todas as suas fichas em alguns poucos alimentos, podendo perder tudo se não chover no mês certo ou se surgir alguma praga, o agrofloresteiro maneja um sistema em que há colheitas o ano todoO.

Gomides pretende implantar outra agrofloresta que ele quer transformar em um ponto de referência no Cariri, no Ceará.

Segundo ele, há grande dificuldade na região para encontrar mudas e sementes de plantas adequadas a agroflorestas.

Por isso, França quer criar um banco de matrizes dessas plantas para compartilhá-las com outros agricultores da região. O passo seguinte, diz ele, será criar uma "força coletiva" com moradores para implantar e manejar sistemas agroflorestais em série.

"Você chega com a estrutura, implanta, vai para a próxima área, até criar um circuito de agrofloresta popular na região."

Hoje Gomides diz que falta apoio técnico e incentivo do governo para que agricultores migrem para o sistema.

"Aqui somos nós por nós mesmos, estamos cavando uma cacimba na unha", diz.

Fonte BBC-João Fellet e Felix Lima 


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CHEIA DO RIO SÃO FRANCISCO PROVOCA ESPETÁCULO DA NATUREZA

A visitação às cachoeiras do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, na Bahia, foi aberta pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Eletrobras Chesf), neste mês de janeiro. O espetáculo da natureza acontece por causa do aumento da vazão do Rio São Francisco, ocasionado pela situação de cheia nessa bacia hidrográfica.

As visitas são realizadas em grupo, nos turnos da manhã e da tarde, com duração média de uma hora. No percurso, os visitantes podem conhecer o Dreno de Areia; o Mirante do Bondinho e a Ilha do Urubu. A contemplação do espetáculo das cachoeiras acontece de terça a domingo, pela manhã, das 8h às 11h, reabrindo à tarde,  das 13h às 16h.

Para os empregados da Eletrobras Chesf a entrada é gratuita, já os demais visitantes devem procurar a Secretaria de Turismo do Município para realizar o agendamento. O deslocamento aos pontos de visitação só pode ser feito por meio de carros de passeio, ônibus, micro-ônibus e vans, mediante prévio agendamento.

A ação é realizada em parceria com a Prefeitura de Paulo Afonso e conta com a presença de aproximadamente 2,5 mil turistas nos fins de semana. 

Ascom CHESF Foto: Socorro Fernandes

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