UFRN SERÁ A PRIMEIRA INSTITUIÇÃO DE ENSINO NO BRASIL A REALIZAR PESQUISAS CIENTÍFICAS COM DERIVADOS DE CANNABIS

A Anvisa concedeu uma autorização especial para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) conduzir projetos de pesquisa pré-clínica com derivados da Cannabis.

As pesquisas pré-clínicas não são realizadas em humanos e serão conduzidas pelo Instituto do Cérebro da UFRN (ICe-UFRN) para avaliação da eficácia e segurança de combinações de fitocanabinóides no manejo de sinais e sintomas associados a distúrbios neurológicos e psiquiátricos .

A Autorização Especial Simplificada para Estabelecimento de Ensino e Pesquisa (AEP) foi concedida após a UFRN entrar com um recurso administrativo frente ao indeferimento de um pedido anterior de AEP relacionado aos referidos projetos de pesquisa científica, que buscam avaliar o potencial terapêutico da planta.

Apesar de sua utilização com fins medicinais há milhares de anos, ainda existe importante lacuna científica sobre as potencialidades, mecanismos de ação e efeitos do uso de Cannabis no organismo humano.

De acordo com a Anvisa, a ausência de informações científicas acuradas pode implicar em imprecisão que impede, muitas vezes, a determinação da eficácia do uso de produtos derivados da Cannabis em terapias curativas ou amenizadoras de dores.

Para a Anvisa, a geração de conhecimento científico se torna fundamental ao desenvolvimento de medicamentos, nos termos da própria Resolução da Anvisa, que prevê uma regularização temporária para os produtos derivados de Cannabis autorizados, de modo que possam ser comercializados de forma segura enquanto estão sendo concluídos os estudos clínicos.

Para conceder a autorização especial, a Anvisa alguns critérios obrigatórios a serem seguidos, dentre os quais destacam-se:

O projeto de edificação e instalações da Instituição de Pesquisa deve ser submetido à avaliação da Anvisa previamente ao início da pesquisa;

A Universidade deverá encaminhar à Anvisa os registros do acompanhamento individual de cada projeto em desenvolvimento por meio de relatórios semestrais e anuais;

Deverá ser apresentado à Anvisa um relatório de conclusão ao término do projeto de pesquisa, contendo informações completas sobre a utilização e destinação da planta Cannabis sp.;

Em caso de descarte de produto, este deve ser inativado por meio de autoclavagem e, posteriormente, descartado por empresa especializada em descarte de resíduos químicos e biológicos pelo processo de incineração;

Definição de requisitos específicos referentes ao controle de acesso às instalações onde serão realizadas as pesquisas.

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LIVRO CELEBRA 110 ANOS DE LUIZ GONZAGA Á ALTURA DE SUA GRANDEZA

Foram muitas as vezes em que Paulo Vanderley repetiu “Seu Luiz Gonzaga”. Havia respeito no tom e reverência na fala que discorria sobre o Rei do Baião. Aos 43 anos, Paulo segue sem hesitar em demonstrar (e afirmar) que o artista pernambucano é o maior do Brasil de todos os tempos.

“Sim, eu sempre falo isso. Eu sempre falo isso”, reforçou o paraibano, assumidamente fã, colecionador, admirador e mais recentemente autor de um compilado que reúne um tanto do muito que foi/é a imensidão do mais completo representante da música nordestina e que no último dia 13, se vivo estivesse, teria completado 110 anos – data que trouxe à tona o livro “Luiz Gonzaga – 110 do Nascimento”, material em box que envolve de histórias da vida e obra de Gonzagão, além de raridades em fotos, capas de LP’s e outros itens que detalham sobre o filho de Januário e Mãe Santa, nascido no Sertão do Araripe, em Exu.

 “A ideia do livro vem rondando meu juízo desde a época do centenário, mas acabei envolvido em vários projetos de Seu Luiz, como o filme (“Gonzaga: de Pai para Filho”, 2012), o desfile da Escola de Samba (Gonzaga foi homenageado no desfile da Unidos da Tijuca, em 2012). Eu já queria fazer o livro, porque são mais de 30 anos colecionando e juntando materiais do selo Luiz Gonzaga”, contou Paulo em conversa com a Folha de Pernambuco, complementando que do livro, o fã vai se emocionar com o fato dele ser contado em primeira pessoa. 

 “As pessoas vão ouvir a voz de Seu Luiz Gonzaga contando a história dele pra gente, através de QR Codes espalhados pela obra, bastando apontar o celular para ouvir a voz dele bem intimista, parece que está falando no ouvido da gente, essa é a sensação”.

Pensado para levar o máximo de Gonzagão, como artista e como pessoa, aos fãs, o livro é fruto de um trabalho de pesquisa intenso, que envolve do palco à infância entre as boas novas do artista que foi porta-voz das dores e das delícias do nordestino. 

“Montamos o livro com entrevistas de rádio que ele deu, transcrevemos o material e foram mais de 300 páginas. E a cereja do bolo desse projeto foi a entrevista com Dominique Dreyfus (biógrafa de Gonzaga com a obra “Vida de Viajante: a saga de Luiz Gonzaga”, 1996). 

Ela, uma jornalista francesa, fez com Seu Luiz exatamente o que eu gostaria de fazer: acompanhou-o do palco até em casa, numa relação muito próxima”, contou Paulo, que como referência para a obra utilizou materiais semelhantes produzidos para os Beatles, Elvis e Senna.

“Não é muito comum no Brasil ver esse tipo de trabalho com nossos artistas, e usamos isso como base mas tem que ser daqui para frente, tem que ser melhor do que essas referências”. 

A obra é formada, entre outros detalhes, por capas dos discos de carreira de Gonzaga, carteira com seu retrato 3 x 4, documento do carro, cartaz, pôster e o livro, multimídia, com quase 500 páginas, além de curiosidades como o contrato de ‘Seu Luiz’ com a Rádio Nacional e o seu cartão bancário – este último item, aliás, traduz bem o começo da história de Paulo Vanderley com o Rei do Baião, já que o seu pai era gerente do Banco do Brasil em Exu.

E foi com Luiz Gonzaga como cliente da agência que a história do artista pernambucano se entrelaçou com a do paraibano, fato que consta inclusive em fotos suas em rede social, precisamente ao lado de sua irmã, ambos crianças e sorridentes ao lado do ídolo.

“Eu adoro essa palavra legado. Porque o legado gonzaguiano é fantástico, imensurável e para mim foi ele que ditou, que embalou minha vida desde que me entendo de gente”, contou.

Serviço: O box “Luiz Gonzaga - 110 Anos do Nascimento” pode ser adquirido pelo valor de R$ 200 (+ frete), no link que fica no Instagram de Paulo (@paulovanderley_) ou diretamente no site 110anos.luizluagonzaga.com.br.

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PROGRAMAÇÃO E HORÁRIOS DA POSSE DE LULA E ALCKIMIN ACONTECE NO DIA PRIMEIRO DE JANEIRO

O Senado divulgou o roteiro da cerimônia de posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 1º de janeiro. O cronograma previsto tem início às 13h30 com a chegada de autoridades, convidados e chefes de Estado ao Congresso Nacional, e se encerra com a ida de Lula e do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) ao Palácio do Planalto às 16h20.

Em sua conta no Twitter, Lula fez nesta sexta-feira (16/12) uma convocação para que seus apoiadores compareçam à Esplanada dos Ministérios a partir das 11h para acompanhar a posse.

O cortejo com Lula e Alckmin terá início na Catedral Metropolitana de Brasília às 14h30, em carro aberto, em direção ao Congresso Nacional. Ambos serão recebidos pelos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A sessão solene da posse terá início às 15h, com a leitura e assinatura do termo da posse e pronunciamentos de Lula e Pacheco.

Após a sessão solene, presidente eleito e vice vão à área externa do Palácio do Planalto, onde recebem as honras militares antes de subir a rampa. Além do Congresso, Lula e Alckmin também participarão de solenidades no Planalto e no Itamaraty.

Em paralelo, ocorre na Esplanada dos Ministérios o Festival do Futuro, com shows gratuitos de dezenas de artistas e transmissão da posse. O evento terá início às 12h.

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MPF CONSEGUE INCLUSÃO DA COMUNIDADE INDÍGENA COMO PRIORIDADE DE VACINAÇÃO CONTRA CONVID-19

Após atuação do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal proferiu uma sentença obrigando a União a incluir o povo indígena Pankararu, da Aldeia Angico, em Petrolândia, no Sertão de Pernambuco, no rol de prioritários para a vacinação contra a Covid-19 e ao cadastramento no Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS). 

A decisão confirmou liminar obtida no âmbito de ação ordinária movida contra a União pelos indígenas. O Estado de Pernambuco, por sua vez, deverá receber os imunizantes disponibilizados pelo Governo Federal e encaminhá-los ao Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei/PE).

A liminar, proferida em maio do ano passado, garantiu a aplicação da primeira dose da vacina contra a Covid-19 em 34 homens e mulheres acima de 18 anos. À época, a Justiça Federal determinou, após atuação do MPF, que Pernambuco e a União providenciassem a distribuição das doses necessárias para a vacinação prioritária do povo indígena. A comunidade ainda não tinha sido contemplada pelo Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19, embora a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) tivesse promovido a vacinação de outros indígenas da etnia Pankararu.

A pedido do MPF, a Justiça Federal também incluiu o Estado de Pernambuco no polo passivo do processo, uma vez que a ação ordinária movida pela comunidade indígena havia sido ajuizada apenas contra a União. A inclusão visou a garantir todas as providências necessárias para a efetivação da vacinação dos índios, desde o fornecimento dos imunizantes pelo Ministério da Saúde, passando por sua distribuição pelo Estado de Pernambuco, até sua efetiva aplicação pelo Dsei.

Na manifestação do MPF, o procurador André Estima destacou que, embora a área ocupada pela Aldeia Angico Pankararu não tenha sido demarcada oficialmente como terra indígena ou área de reserva, a comunidade habita o local e ali vive de modo tradicional, atendendo aos requisitos legais e à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou prioridade na vacinação dos povos indígenas localizados em terras não homologadas.

O MPF reforçou ainda que a Lei nº 14.021/2020, que dispõe sobre as medidas de proteção social para prevenção do contágio e da disseminação da Covid-19 nos territórios indígenas, impõe que serão abrangidos, entre outros grupos, os indígenas isolados e de recente contato, aldeados e aqueles que vivem fora das terras indígenas, em áreas urbanas ou rurais.

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ESPECIALISTAS COBRAM A VOLTA DA EXCELÊNCIA À VACINAÇÃO NO BRASIL

Os especialistas que participaram do painel "A saúde como fonte de sustentabilidade da nação" chamaram a atenção para a vacinação no país, cuja falta de uma campanha pelo Ministério da Saúde, no governo do presidente de Jair Bolsonaro, baixou os índices de cobertura junto à população. Isso aumentou o risco da volta de doenças que estavam erradicadas, como a poliomielite — segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, foi enfática ao ressaltar a necessidade de fortalecimento do Programa Nacional de Imunização (PNI), posição endossada pelo ex-ministro da Saúde Humberto Costa ao salientar que entre os pontos considerados emergenciais pelo governo de transição — e que deverá ser objeto de ação do futuro governo — está a reorganização do Programa Nacional de Imunização (PNI), "para atender a milhões de crianças e jovens que correm o risco de contrair doenças que já foram erradicadas no país".

A presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida lembrou que o PNI, que tem quase meio século, é referência mundial e oferece 47 imunobiológicos. Mas lamentou que a cobertura vacinal infantil voltou ao patamar de 1987. "Tem que voltar ao centro da discussão", cobrou Marlene.

Mas este não é o único problema no horizonte da saúde brasileira no curto prazo, que terá de ser enfrentado pelo governo que se inicia em 1º de janeiro de 2023. Humberto Costa chamou a atenção para uma demanda reprimida de consultas, atendimentos e tratamentos que deixaram de ser executados por causa da crise sanitária provocada pela covid-19.

"São milhões de pessoas que, na pandemia, tiveram que abdicar de suas consultas, seus exames, porque os hospitais estavam voltados ao tratamento dos pacientes de covid", lembrou, acrescentando que o isolamento social que foi necessário ser feito no primeiro momento da pandemia afastou os pacientes de suas rotinas médicas. Costa assegurou que haverá "um grande mutirão" do futuro governo para diminuir esse passivo.

O senador ressaltou, porém, que esse esforço não poderá ficar somente sobre os ombros da administração pública. Ele deixou claro que a iniciativa privada terá de participar desse processo, como fornecedora de insumos e tecnologias.


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DOCUMENTÁRIO SOBRE A TRAJETÓRIA DE MANUCA ALMEIDA SERÁ LANÇADO NESTA SEXTA-FEIRA (16)

O lançamento do vídeo documentário 'Eu sou o que sou', que narra a trajetória do multiartista Manuca Almeida será lançado às 18h desta sexta-feira (16), dentro da programação do Festival Edésio Santos da Canção, na Orla II de Juazeiro. 

O material é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso do jornalista André Calixto e o lançamento acontece no dia em que Manuca completaria 59 anos. O apoio é da Prefeitura de Juazeiro, através da Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes (Seculte).

No documentário, André Calixto mergulhou fundo na trajetória de Manuca Almeida, que faleceu aos 53 anos, no ano de 2017. A narrativa do vídeo é baseada na família, nos amigos e nos parceiros. O material conta com importantes contribuições de pessoas que conviveram com Manuca e muitos nomes de renome nacional, como Margareth Menezes, Xangai, Tato (Fala Mansa), Targino Gondim, Alexandre Leão e o ator Paulo Betti, além de artistas locais como João Sereno, Mauriçola, entre outros.

Nascido em Sergipe e radicado em Juazeiro, Manuca era compositor, poeta, ator, escritor e artista multiplural. Sua marca era a irreverência, como explica o autor do vídeo documentário. "Manuca era um artista completo, um ser inigualável, inimitável, amigo, parceiro, pessoa do bem que sempre levou por onde quer que andasse, o nosso jeito criativo no meio artístico, musical, poético e futebolistico, o cara que simplesmente fez o "marqueting", um dos dialetos criados por Manuca, o qual através da sua irreverência foi e continua sendo o maior propagandista da nossa cultura e arte para o Brasil e o mundo inteiro", descreveu o jornalista André Calixto.

Esse é o primeiro trabalho desse tipo após o falecimento de Manuca, esse ícone que que chegou até a ganhar um Grammy de melhor música brasileira em 2001, com "Esperando na Janela", composta em parceria com Targino Gondim e Raimundinho do Acordeon.  André Calixto aproveita a oportunidade para convidar a população para o lançamento do documentário e agradece pelo apoio da Prefeitura de Juazeiro. "Eu quero agradecer à gestão Suzana Ramos, por meio da Seculte por apoiar a divulgação desse importante documentário e convidar a população de Juazeiro para prestigiar o lançamento hoje, às 18h", concluiu. (Fonte: Ascom/PMJ)

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ADERALDO LUCIANO: ESTRADAS, ENGENHOS E SINAS

Areia Paraíba 14 dezembro de 2022. Boa tarde a todos e a todas. 

Minha mãe, hoje, me deu a seguinte missão: "Escreva um texto bem bonito sobre Aderaldo Luciano. Ele merece!". Essa missão quase me fez desistir de vir aqui apresentar o novo livro de Aderaldo, que recebi há dois dias e li, de chofre, em poucos minutos. Leitura fluida e boa. Vou ficar devendo o belo texto, nunca o afeto e a gratidão pela honra do convite. Venho de uma família de ansiosos e, amanhã, serei madrinha de casamento do meu primeiro sobrinho. E, como ser madrinha de casamento será o mais perto que cheguei e chegarei de um altar, estou eu tão nervosa quanto a noiva. Pois bem, apresentado o motivo real pelo qual vocês não ouvirão esse belo texto, vamos a ele: o texto. 

Sobre o livro, falarei depois, porque o autor é figura deveras instigante. Seguindo o conselho do escritor, na orelha do livro: "Quanto a mim, quem quiser saber mais dos meus desencantos, jogue meu nome na busca da internet." Assim o fiz. Quase sem fim, a busca. Em suma, louvam o Mestre e Doutor em Ciência da Literatura, pela UFRJ, poeta, músico, cantor e um dos maiores nomes no estudo da poética nordestina. Mas, querido Aderaldo, li muita coisa e, creio, que sabemos mais dos seus desencantos que todos os navegadores de busca, nós, os amigos de sempre. Uma amiga querida me disse outro dia: "Eu não entendo Aderaldo Luciano". Ao que respondi: nem você, nem ele, nem eu. Nem nós. 

Mas apresentadora elegeu um leque de adjetivos para sua alma inquieta e para quem quiser entender Aderaldo Luciano. Aderaldo, o inquieto, o polêmico, o performático, o inteligente, o saudosista, o satírico, sarcástico e lírico, ao mesmo tempo. O sensível, o corrosivo, o lúcido, o louco, o provocador, o conciliador, o avesso do avesso. Um belo verso de pé quebrado, talvez lhe seja uma boa definição. O verso de pé quebrado é aquele que fere a métrica ou o ritmo do poema, mas para alcançar melhor o sentido. Aderaldo sempre grita porque sempre careceu de gritar para ser ouvido. Como disse Clarice: "como atingir sem exagerar? Sem exagerar, como conseguir?". Por isso, ele superou aos outros, ao meio e a si e serve de modelo e exemplo para quem veio antes e depois dele. 

Passando por cima do autor, vamos à obra: Estradas, Engenhos, Sinas. 

Talvez a escolha da pessoa para apresentar a obra tenha sido devido ao afeto, de há muito tempo, entre mim e ele: cursamos algumas disciplinas no Curso de Letras da, hoje, UFCG. Já naquela época, ele armora um levante para exigir a saída do professor de Crítica Literária, considerado terrível, pois só duas alunas (eu e outra) teriam pago a disciplina e deveria haver outros motivos mais. 

Aderaldo, o notívago insone, a fazer a ronda noturna, acompanhando os vigias, quando havia os poéticos vigilantes pelas ruas enladeiradas. Aderaldo, o que largou tudo e, de repente, estava bem instalado no RJ, para a surpresa dos amigos. O que casou, fundou editora, largou tudo e foi pra SP. O que vai e vem sempre, porque é ser de fluidez absoluta. 

Deixemos o autor em paz. Vamos ao texto.

Não tenho sido autoridade quando o tema é a poesia popular, o maravilhoso cordel. Nunca soube contar bem sílabas poéticas e cédulas reais, sou também um verso de pé quebrado no poema trágico que é a vida. 

Pois bem, vamos tentar fazer o melhor com o pouco que temos. A apresentação é um texto perfeito, são 8 itens explicativos, como sinalizadores da forma escolhida, da história de Sebastião e seu lugar. São sextilhas, seis estrofes, versos de sete sílabas poéticas (aqui o ritmo é que manda) e rimas soantes, são as que levam em conta a identificação sonora entre as vogais até a última sílaba tônica do verso. E, claro, os bem vindos versos de pé quebrado, que desobedecem as ordens estabelecidas. Tal qual o autor do texto. Assim, somos apresentados à leitura  da história de Sebastião e à paisagem brejeira, aos Engenhos de fogo Morto, às estradas sinuosas e simpáticas que ligam Pilões, Serraria, Areia, aos famigerados temporais. Sim. Tudo é Areia. 

Aderaldo é um homem de sua terra, o telurismo, o amor à terra natal perpassa todos os versos. Amar um lugar nunca é amor contínuo, segue exatamente como são as batidas irregulares do coração, vezes amor, outras puro ódio, outras devoção. Amar Areia e seus arredores não é amor fácil. Todos sabemos disso. Mas li de um autor que nada é mais significativo que o lugar em que a gente nasce e a pessoa a quem a gente ama. Não há nada mais importante que isso.

Pois bem, a forma perfeita, o lugar imperfeito são o cenário, para a história de Sebastião, um cambiteiros dos Engenhos, como chamados aqui. Sebastião e o cenário descritos pelo autor me lembraram os personagens de José Lins do Rego e me levou um pouco mais longe: a Juca Mulato, de Menochi dele Picchia, lá de 1922, leitura amada na adolescência, do caboclo que cisma e passa a se sentir inadequado desde que, ali, a filha da patroa começa a lhe dirigir olhares. Aqui, em Aderaldo, a própria patroa. O desfecho é perfeito: sem amores perfeitos, ele volta apenas como observador que não julga, apenas observa e louva e aceita, altivo, o seu destino: 

Suas certezas estavam 

Claramente definidas: 

Um momento é um momento, 

Pode ou não mudar as vidas. 

Os detalhes vêm na estrada,

Nas léguas todas vencidas. 

Ainda no fim do texto, os dísticos (as parelhas, estrofes de dois versos) perfeitos, que resumem, todo o telurismo e o amor â terra, pretendidos pela obra: toda estrada só nos leva ao lugar que mais amamos. É a certeza. 

Por fim, as ilustrações feitas pelo artista plástico areienses Severino Ramos vão narrando, junto com as sextilhas, a história de Sebastião, e dos meeiros, cambiteiros, agregados que ainda compõem o repertório do nosso lugar. Meus desenhos eleitos são as  duas primeiras ilustrações porque são imagens eternizadas desde a primeira infância. 

Parabéns, Aderaldo. Obrigada, Aderaldo. Fico devendo o Belo texto. 

(Texto: Janaína de Castro Azevedo Silva,  Mestre em Linguística pela UEPB, professora, escritora, elaboradora de projetos culturais)  

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