19ª ROMARIA DE PAU DE COLHER ACONTECE NO DIA 13 DE DEZEMBRO COM O TEMA SOMOS POVO DA ESPERANÇA. POVO DE FÉ

No dia de Santa Luzia, terça-feira (13) de dezembro, será realizada, no município de Casa Nova (BA), será realizada a 19ª Romaria de Pau de Colher.  Com o tema “Somos Povo da Esperança. Povo de Fé", a romaria terá início às 8h, com concentração no “acampamento”, local em que na década de 1930 reuniu um movimento camponês religioso, social e político, composto por aproximadamente quatro mil pessoas.

No mesmo espaço, em janeiro de 1938, cerca de mil camponeses foram massacrados pelo Estado brasileiro.

No ano de 2018, na sombra lateral de sua casa, em meio ao sertão nordestino, Seu Militão Rodrigues da Silva pega a bengala improvisada e desenha um círculo no chão de terra. Ao lado da esfera, sinaliza com algumas batidas que ali era o local onde estava a metralhadora, amarrada a uma árvore e apontada para o acampamento. O episódio ao qual se refere, com memórias tão vivas, mesmo próximo de completar 90 anos de idade, é o massacre de cerca de mil pessoas da comunidade de Pau de Colher, ocorrido em janeiro de 1938.

Sobrevivente, Seu Militão é testemunha de um capítulo de horror da história brasileira, marcado pela violência brutal do Estado, na época sob a Ditadura Vargas, e que até hoje reverbera em traumas e preconceitos.

Há 84 anos, o arraial, localizado a 98 km da sede do município Casa Nova (BA), na divisa com os estados de Piauí e Pernambuco, chegou a reunir aproximadamente quatro mil pessoas, população maior do que a própria sede do município e cidades vizinhas, a exemplo de Petrolina (PE) e Remanso (BA). No local, debaixo de um frondoso pé de juazeiro existia uma feira e importante ponto de encontro, bastante movimentado, mas os motivos dessa grande aglomeração foram religiosos e sociais.

A comunidade se tornou uma espécie de extensão de Caldeirão, comunidade cearense liderada pelo beato Zé Lourenço. O escritor piauiense Marcos Damasceno, autor do livro “Guerra de Pau de Colher: Massacre à sombra da ditadura Vargas”, explica que, no início, a ideia era que Pau de Colher fosse um local que selecionasse as pessoas que iriam para Caldeirão, mas, com a destruição deste em 1936, as pessoas permaneceram e os sobreviventes que seguiam Zé Lourenço se juntaram a eles.

“Então Pau de Colher se formou como uma terra sagrada, como uma terra prometida. E daqui as pessoas iam buscar alcançar as coisas do céu porque aqui faltava tudo”, comenta o escritor.  Era uma época em que imperava a injustiça social, desigualdades e opressões, marcada sobretudo pelo coronelismo. A região era esquecida pelo Estado e grande parte da população vivia em situação de extrema pobreza. A escolha de seguir o José Senhorinho, líder religioso de Pau de Colher, representava uma luta por melhores condições de vida. Pau de Colher foi um movimento camponês religioso, mas também social e político.

Em 1934, as pessoas começaram a chegar ao local, primeiro para participar das rezascom o Senhorinho, depois, para morar. Em 1937, o arraial atingiu sua maior população. Foi um “dilúvio de gente”, lembra Dona Helena Nogueira, sobrevivente da guerra. Homens, mulheres e crianças viviam em “latadas”, uma espécie de barraca feita com palha e varas, e faziam refeições coletivas. Comia “tudo na mão, não era colher não”, conta Seu Militão ao falar da alimentação no acampamento, que, segundo ele, era “um feijão véio mal cozinhado, sem tempero”.

Nem toda a população da vizinhança quis integrar o movimento religioso, o que gerou disputas, motivadas, principalmente, de acordo com Damasceno, pela postura do Joaquim Bezerra. O Quinzeiro, como era conhecido, assumiu a liderança de Pau de Colher após a morte do Senhorinho. Para o escritor, a história do movimento pode ser dividida em dois momentos, uma sob a liderança de Senhorinho, marcada pela vida em comunhão, partilha e rituais religiosos; e outro com o Quinzeiro, época de violência e brigas entre os que estavam dentro e fora do arraial. Essa distinção também é relatada em depoimentos dos moradores do local.

Para além das disputas internas, a multidão em Pau de Colher incomodou as forças políticas regionais. O período era de Ditadura Vargas, perseguição ao cangaço, e movimentos semelhantes como o próprio Caldeirão e Canudos haviam sido dizimados.

Quatro volantes policiais foram a Pau de Colher. A primeira, de São Raimundo Nonato (PI); a segunda, de Casa Nova, que matou o Senhorinho; a terceira, do Pernambuco, comanda pelo capitão Optato Gueiros e responsável pelo massacre da comunidade; e a última, do estado Piauí.

O ataque da polícia de Pernambuco ocorreu entre os dias 19 e 21 de janeiro de 1938. A população reagiu, lutou contra a força policial com as armas que tinham (cacetes feito de árvores), alguns conseguiram se esconder e fugir, mas a maioria não sobreviveu. Mais de 400 pessoas estão enterradas em uma sepultura coletiva localizada onde funcionava o acampamento. Estima-se que cerca de mil tenham morrido no massacre, atingidos pelas armas e também de fome e sede na caatinga.

“Diz minha mãe que ficou lá o campo igual melancia na pedra”, relata o lavrador Francisco do Nascimento, nascido em Pau de Colher. Ele conta que sua mãe, Dona Ângela, 92, sobrinha do Senhorinho, enquanto fugia do ataque policial com a família, viu sua irmã mais nova morrer em seus braços com um tiro na cabeça. A brutalidade da ofensiva policial foi tamanha, que Dona Gildete Justiniano, nascida no ano do massacre, e que perdeu avó e tios na guerra, diz que “até tem hora que pensa que [a guerra] é um sonho”.

Para o lavrador Gregório Manoel Rodrigues, 73, nascido na comunidade, “eles morreram tudo de injusto. A polícia não era pra ter matado aquele povo. Era pra ter pegado e ver o que eles queriam”.

INVISIBILIDADE: Quem chega na comunidade formada por cerca de 40 famílias, se depara com aqueles que têm orgulho de dizer que são “raiz e semente da história” e outros que evitam ao máximo tocar no assunto. A história da luta do povo por dignidade e pela sobrevivência diante da negação e violência do Estado foi ocultada. Prevaleceu a versão de um povo sem propósito, violento e fanático.

“Ainda hoje tem gente que tem preconceito com isso aqui, tem umas pessoas que não quer nem que falem das pessoas daquele tempo”, comenta Gregório Manoel. Por muito tempo as pessoas utilizavam o nome da comunidade no sentido pejorativo, para adjetivar negativamente outras situações. “Lá vai virar um Pau de Colher”, conta Francisco do Nascimento. “Usavam o nome daqui pra poder chocar os outros”, complementa.

O historiador e professor da Universidade de Pernambuco (UPE) Moisés de Almeida afirma que em quase todos os eventos em que ocorrem massacres há a tentativa de apagamento, de esquecimento da memória. Almeida desenvolve pesquisa sobre a narrativa dos jornais de Pernambuco sobre os movimentos sociais, entre os anos de 1896 a 1938. Segundo o historiador, a imprensa do período trata as lutas de Pau de Colher, Canudos e Caldeirão como atentados ao regime.

Para a imprensa “é uma população que se rebela contra o governo, contra o Estado e o Estado precisa neste caso agir, agir fortemente contra a população”, destaca o professor que acrescenta que “a imprensa, inclusive, vai dizer que para fera não existe outra solução que não a bala ou a faca”.

IDENTIDADE: Após 84 anos da Guerra do Pau de Colher ainda encontramos objetos da época no local do acampamento, a exemplo de balas. Não existe museu ou memorial na comunidade. A memória e a história são preservadas pelos próprios moradores, que são os responsáveis por capinar o acampamento, manter conservadas as sepulturas e guardar os objeto antigos.

À espera da construção de um museu, a família do Seu Gregório guarda como se fosse um tesouro as balas, talheres, pedaços de vidro, moedas e cachimbos encontrados. “O poder público acabou, matou o povo, eles tinham o direito de construir e entregar propovo”, afirma Gregório ao falar sobre o desejo da construção de uma estrutura física.

O Estado, que despreza a história, continua a negar o local, mas a população permanece resistindo. Desde 2003, a comunidade realiza, todos os anos, uma romaria. “É de muita importância, porque se não o lugar tava acabado. Todo mundo fala na romaria, se não tivesse a romaria ninguém falava”, diz Gregório.

Realizada junto com a Paróquia São José Operário e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Romaria de Pau de Colher acontece sempre dezembro, no dia de Santa Luzia. “Até o ano de 2003 o pessoal tinha um trauma daqui, mas agora o pessoal tá atentando pravalorizar a história do Pau de Colher”, aponta Francisco. É também a partir desse período que tecnologias sociais chegaram, a exemplo das cisternas de captação de água de chuva para consumo humano e produção, e algumas instituições passaram a atuar na comunidade, possibilitando melhores condições de vida para população.

Entre os moradores do município de Casa Nova é comum encontrar pessoas que desconhecem a história de Pau de Colher ou que a associam apenas a uma visão negativa da comunidade. Com o objetivo de mostrar uma nova visão do movimento religioso e social, uma turma de estudantes do Colégio Antônio Honorato desenvolveu um projeto sobre a história local. Eles realizaram uma pesquisa com a comunidade escolar e descobriram que apenas 4% dos estudantes, professores e servidores do Colégio tinham conhecimento sobre a Guerra de Pau de Colher.

A partir desse dado, os estudantes foram até a comunidade, conversaram com os moradores e produziram uma série de materiais, como um álbum de fotografias, perfis de redes sociais online e um documentário. “Foi muito importante para trazer a história de Pau de Colher para que se torne patrimônio da escola, para ela ser mais conhecida, porque é uma história muito desconhecida e tem sua versão muito distorcida pela população casa-novense”, avalia a estudante do 1º ano do ensino médio Jailane Braga

Para Átila Ramon Gomes, também estudante e integrante do projeto, os materiais que eles produziram “estão sendo usados como meio para contar uma nova versão da história e mostrar realmente como que aconteceu, que não foi só o que eles pensam, mas que tem um outro lado da história”.

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NEY VITAL SACODE O FORRÓ COM BOM JORNALISMO

A audiência de rádio no Brasil vem crescendo, segundo dados do Kantar IBOPE Media. A integração entre o rádio e as plataformas digitais é uma realidade que vem ganhando corpo nos últimos anos no Brasil. Se no início da ascensão digital se falava em ouvir rádio pelo site das emissoras, hoje muitas delas já contam com aplicativos e uma série de conteúdos e promoções exclusivas para os meios digitais.

Para se ter uma ideia, segundo estudo recente do Kantar Ibope Media, 89% das pessoas escutam Rádio via mobile, pelo computador, enquanto 56% segue nos receptores convencionais, em casa ou no carro.

A audiência ainda está ligada ao aparelho receptor comum, mas o ouvinte também está no computador e, principalmente, no celular.O rádio continua sendo o principal veículo de comunicação do Brasil. Aliado a rede de computadores está cada vez mais forte e líder.

Na rádio Cidade AM 870 e Cidade FM 95.7, o jornalista Ney Vital apresenta o Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e Amigos.  O programa é transmitido todos os domingos,  a partir das 8hs da manhã, www.radiocidadeam870.com.br, também no instagram, YouTube.

A direção da emissora apostou na reinvenção, no projeto especial e aposta no conteúdo cultural e os resultados aparecem.

O Programa NAS ASAS DA ASA BRANCA VIVA LUIZ GONZAGA e SEUS AMIGOS segue uma trilogia amparada na cultura, cidadania e informação. “É o roteiro usado para contar a história da música brasileira a partir da voz e sanfona de Luiz Gonzaga, seus amigos e seguidores”, explica Ney Vital.

O programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga é um projeto que teve início em 1990, numa rádio localizada em Araruna, Paraíba. “Em agosto de 1989 Luiz Gonzaga, o  Rei do Baião fez a passagem, partiu para o sertão da eternidade e então, naquela oportunidade, o hoje professor doutor em Ciência da literatura, Aderaldo Luciano fez o convite para participar de um programa de rádio. E até hoje continuo neste bom combate”.

O programa é o encontro da família brasileira. Ney Vital não promove rituais regionalistas, a mesquinhez saudosista dos que não se encontram com a arte e cultural, a não ser na lembrança. Ao contrário, o programa evoluiu para a forma de espaço reservado à cultura mais brasileira, universal, autêntica, descortinando um mar e sertões  de ritmos variados e escancarando a infinita capacidade criadora dos que fazem arte no Brasil.

É o conteúdo dessa autêntica expressão nacional que faz romper as barreiras regionais, esmagando as falsificações e deturpações do que costuma se fazer passar como patrimônio cultural brasileiro.

Também por este motivo no programa o sucesso pré-fabricado não toca e o modismo de mau gosto passa longe. “Existe uma desordem , inversão de valores no jornalismo e na qualidade das músicas apresentadas no rádio”, avalia Ney Vital que recebeu o título Amigo Gonzagueano Orgulho de Caruaru, e Troféu Luiz Gonzaga 2014 Exu,  recentemente em evento realizado no Espaço Cultural Asa Branca, foi um dos agraciados com o Troféu Viva Dominguinhos em Garanhuns.

Ney Vital usa a credibilidade e experiência de 30 anos atuando no rádio e tv. Nas afiliadas do Globo TV Grande Rio e São Francisco foi um dos produtores do Globo Rural, onde exibiu reportagens sobre Missa do Vaqueiro de Serrita e festa aniversário de Luiz Gonzaga e dos 500 anos do Rio São Francisco, além de dezenas de reportagens pautadas no meio ambiente do semiárido e ecologia.

Membro da Rede Brasileira de Jornalismo e Técnico em Agroecologia, Ney Vital é Formado em Jornalismo na Paraíba e com Pós-Graduação em Ensino de Comunicação Social pela UNEB/Universidade Federal do Rio Grande do Norte faz do programa um dos primeiros colocados na audiência do Vale do São Francisco, segundo as pesquisas.

O Programa Nas Asas da Asa Branca, ao abrir as portas à mais genuína música brasileira, cria um ambiente de amor e orgulho pela nossa gente, uma disseminação de admiração e confiança em nosso povo — experimentada por quem o sintoniza, dos confins do Nordeste aos nossos pampas, do Atlântico capixaba ao noroeste mato-grossense.

Ney Vital usa a memória ativa e a improvisação feita de informalidade marcando o estilo dos diálogos e entrevistas do programa. Tudo é profundo. Puro sentimento. O programa flui como uma inteligência relâmpago, certeira e  hospitaleira.

“O programa incentiva o ouvinte a buscar qualidade de vida. É um diálogo danado de arretado. As novas ferramentas da comunicação permitem ficarmos cada vez mais próximos das pessoas, através desse mundo mágico e transformador que é a sintonia via rádio”, finalizou Ney Vital.

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NO BRASIL SÃO MAIS DE 4,2 MIL EMISSORAS DE RÁDIO FM E CERCA DE 1 MIL NA FAIXA AM

O Ministério das Comunicações homenageou ontem (23), 55 radiodifusores, emissoras, entidades e personalidades do setor em cerimônia que celebrou os 100 anos da rádio no Brasil. O evento foi promovido em parceria com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Cada um dos premiados recebeu uma medalha em bronze, confeccionada pela Casa da Moeda e pelo Ministério das Comunicações. Segundo o ministro das Comunicações, Fábio Faria, a rádio continua em expansão, mesmo com os avanços tecnológicos.

“A rádio continua voando. A iniciativa de levar os aplicativos de rádio FMs para os celulares foi fundamental para este momento. Com mais de 250 milhões de aparelhos de telefones no país com modo FM, vamos ter muito mais gente escutando rádio”, disse Faria.

Segundo o ministro, a pasta já fez mais de 1,1 mil migrações de rádios para FM. “Tivemos também o parcelamento das outorgas. Foi uma entrega de todo o time que temos no ministério e ouvindo a todas as entidades. Acredito que demos mais vida longa para este ramo que é tão importante”, disse.

Entre as emissoras premiadas estão as rádios Band FM (SP), Jovem Pan (SP), CBN (RJ), FM O Dia (RJ), Verdes Mares (Fortaleza), Itatiaia (MG), Pampa e Guaíba (RS), Clube (DF) e Rádio Nacional (EBC). Entidades como a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel) e a Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) também foram condecoradas.

Também foram homenageados os comunicadores Ratinho e Ricardo Boechat, que morreu em 2019 em um acidente de helicóptero. E condecorados o programa A Voz do Brasil, o ministro da Ciência, Tecnologia, Paulo Alvim, e a família do ex-presidente Epitácio Pessoa, que inaugurou o rádio no Brasil.

Na solenidade ocorreu também a apresentação de selos que marcam os 100 anos do rádio. Confeccionados pelos Correios, eles sintetizam a história do rádio e fazem referência à primeira transmissão ocorrida no Brasil, com a imagem de Roquette-Pinto, fundador da primeira emissora do país e considerado o pai da radiodifusão no Brasil. No total, foram confeccionados 14 mil blocos comemorativos. Num procedimento chamado de obliteração, os selos foram marcados para evitar o uso posterior.

O secretário de Radiodifusão, Maximiliano Martinhão, apresentou dados dos programas e ações executadas pelo Ministério das Comunicações. Em quase 2 anos e meio, mais de 36 mil processos foram analisados, resultando na assinatura de mais de 1,6 mil termos de adesão ao Programa Digitaliza Brasil.

Martinhão também citou a migração de mais de 1 mil rádios de AM para FM e a contemplação de 431 municípios pelo Plano Nacional de Outorgas (RadCom). Um total de 94 emissoras foram autorizadas a retransmitir a programação na Amazônia Legal – nos estados do Amazonas (62), Acre (28) e Rondônia (4).

O secretário mencionou ainda a elaboração de editais de consulta pública para rádios comerciais, a flexibilização e dispensa do horário de veiculação da Voz do Brasi, o parcelamento de outorgas vencidas e a portaria que atualiza alterações de classe dos serviços de radiodifusão.

Atualmente, o Brasil tem 642 geradoras de programação para a televisão, com cerca de 24 mil retransmissoras de TVs. São mais de 4,2 mil emissoras de rádio FM com outorgas vigentes e mais de 1 mil na faixa AM. Além disso, existem quase 5 mil rádios comunitárias em funcionamento no país.

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LUIZ GONZAGA E AS BANDAS DE PIFE DOS SERTÕES

Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel". A expressão, licença poética é do professor doutor em Ciência da Literatura, Aderaldo Luciano. Uma das manifestações culturais mais emblemáticas da cultura são as bandas de pífano.

No próximo dia 13 dezembro, os festejos são para o cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que completaria 110 anos anos de nascimento. Um dos momentos mais emocionantes em Exu, Pernambuco, ainda éf a presença da Banda de Pífe, comadanda pelo mestre Louro do Pife.

No livro Igreja de São João Batista Exu Pernambuco-Sesquicentário, a professora e escritora Thereza Oldam de Alencar, pesquisadora dos episódios e sentimentos que nortearam a criação, o desenvolvimento e a consolidação do território exuense, desde a época da colonização, quando a região ainda era habitada pelos índios da nação Cariri, destaca que o grupo de zabumbeiros e pifeiros pontuam historicamente os eventos em Exu.

"O grupo de pifeiros e zabumbeiros se encontra capitaneado pelo histórico Seu Louro do Pife", diz Thereza Oldam ressaltando que octagenário Lourival Neves de Souza, Louro do Pife, continua atuando, forte, persistente e dinâmico.

Em vida Luiz Gonzaga sempre destacou a presença dos pifes e a importância do instrumento na cultura brasileira. Um das músicas, Bandinha de Fé, é uma homenagem de Luiz Gonzaga aos pifeiros espalhados neste Brasil.

O pífano (ou pife) é um tipo de flauta transversal feita em material cilíndrico (geralmente de Taboca, metal ou PVC) com 7 furos, um pra assoprar e 6 pra dedilhar, geralmente tem 3 tamanhos: “Régua Inteira”, “Três Quartos”, e “Régua Pequena”, onde quanto maior a grossura ou o tamanho do cano mais grave o som, e vice-versa.

O cantor Alceu Valença conta que Luiz Gonzaga traduzia e definia o ritmo e harmonia de sua banda dizendo: Alceu, sua música é uma banda de Pife eletrônica. 

PIFES SERTÕES: Minhas mais remotas lembranças de uma banda de pífanos levam-me às margens do Rio São Francisco, em Propriá, no Sergipe. Ali onde o calor entra pela boca do rio e desce sobre os viventes, devagar e sempre. O São Francisco foi o primeiro rio que vi de verdade. Nessa primeira vez, passei sobre ele por volta das 4 da manhã. Viajava num velho ônibus da São Geraldo que vinha de Natal, no Rio Grande do Norte, passava em Campina Grande, descia por Caruaru, se mandava para dentro das Alagoas, parava em São Miguel dos Campos seguia para Aracaju. Antes de Aracaju, deixou-me na entrada de Propriá. Não havia ninguém me esperando. Com minha mochila, caminhei a pé por mais ou menos dois quilômetros até à Rua Japaratuba, à procura da casa onde viveria por dois anos. Em lá chegando, sentei praça sob o comando de Salatiel Franciscano do Amaral.

Pois bem, desse tempo passado no Sergipe conheci todo o sertão e as cidades para baixo de Propriá. Em Brejo Grande fui batizdo nas curvas do rio. Na antiga Neópolis, atravessei para Penedo, numa balsa barulhenta com medo de ser arrastado pelas águas.Eu tinha 17 anos e vi e escutei pela primeira vez uma banda de pífano, banda cabaçal, zabumba, como queiram. A Briga do Cachorro Com a Onça e O Besouro Mangagá foram minha primeira aula. E ainda não ouvira falar da Banda de Pífanos de Caruaru. Aquilo arrebatou-me de tal forma que fiquei desarrazoado. O casamento dos pífanos, um na melodia, outro numa espécie de contracanto, a zabumba marcando num compasso diferente de tudo que eu ouvira, uma caixa malassombrada marcando um xaxeado e um par de pratos como um enxame de chuveirinhos juninos.

Nunca mais parei de ouvir esses sona. Depois encontrei com João do Pife, em Caruaru e, com seus discos debaixo do braço, fui fazer uma comparação dele com Zé da Flauta, nos discos de Alceu Valença. O pife é o sopro da vida, é o bicho escondido rosnando enfezado. Tenho certeza que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel. Foi mesmo. E vou mais além em meu sonho de jeca: a trilha sonora do Universo, independente de Stephen Hawking, é a Briga do Cachorro Com A Onça!

A tradição do pife brasileiro ainda necessita de boas apreciações. Sendo um instrumento primitivamente da mata, feito a partir da taboca ou do bambu, muitas vezes do próprio talo da folha da abóbora ou do mamoeiro, o pife detém a magia elemental. Tirar o som de um instrumento, ao mesmo tempo rústico e sofisticado musicalmente, com uma escala complicada, não é nada fácil. O pife, como todo o instrumental, é caprichoso, requer tanta dedicação, tanto estudo e tanto apuro que muitos de nós que tentamos tocá-lo ficamos pelo caminho.

Minha arqueologia pessoal, como disse, encontra o pífano na infância quando a tribo de índios de João Pé-de-bolo saía no carnaval areense tocando, fatalmente, a marcha dos índios cariris. Aquele som parecia feito de bolinhas sonoras galopando, invisíveis, até nossos ouvidos. Brotaram-me a admiração e o afeto. Mas, também como falei acima, João do Pife apareceu-me um dia traduzindo uma imensa mesa de possibilidades. Das músicas folclóricas ao mais sofisticado jazz, o velho pife dava conta, dependendo do bico e das acrobacias digitais do tocador.

Independente de toda uma casta pifeira nacional, minhas raízes trazem-me sempre os quatro cavaleiros pelos quais afeiçoei-me na vida: João, Biu, Zé e Edmilsom do Pife. Para mim é o quarteto fundamental porque os primeiros que escutei detidamente tentando entender as frases, as síncopes, os dobrados, os trinados, as longas viagens e precisas estalagens. A partir daí, imaginei certa vez a imagem de Deus criando o homem e, olhando o barro inerte, entrando na mata, retirando um pedaço de taboca, lhe furando o corpo. Assoprou-lhe, dançando os dedos, e derramou a Vida do seu próprio Sopro dentro de nós.

Texto: Aderaldo Luciano-Doutor em Ciência da Literatura

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PROFESSOR DOUTOR ADERALDO LUCIANO PARTICIPA DA FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY

A Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), Rio de Janeiro, um dos eventos mais importantes do calendário editorial e tem início nesta quarta-feira (23): depois de dois anos sem acontecer presencialmente, a FliP, em sua vigésima edição retorna excepcionalmente agora em novembro.

A Flip acontece entre os dias 23 a 27/11. Entre os temas a serem discutidos estão o futuro da Lei Cortez e do preço do livro no país, a indústria livreira como agente de inclusão e diversidade e as novidades no setor de audiolivros.

A Festa Literária de Paraty, em seus 20 anos de história, se posiciona como um laboratório de reflexão, em que encontros e atividades buscam pensar saídas para as crises contemporâneas.A Flip oferece experiência única, permeada pela literatura, cujo evento está sempre em conexão com uma manifestação cultural, que está reunida numa interlocução permanente entre as artes; além de propagar vivências focadas sobretudo na diversidade cultural.

Uma das presenças é da escritora Annie Ernaux vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, entre outros grandes nomes. A homenageada deste ano é a educadora e escritora Maria Firmina dos Reis. 

Em defesa da cultura, origens e perspectivas da literatura de cordel o evento conta com a presença do escritor Aderaldo Luciano, doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Aderaldo Luciano afirma que como forma poética o cordel nasceu no Recife, tendo como seu sistematizador Leandro Gomes de Barros, nascido em 1865 e que morreu em 1918. Essa defesa está publicada em seu livro Apontamentos Para uma História Crítica do Cordel Brasileiro, publicado pela Editora Luzeiro, de São Paulo.

A ideia é mostrar a força e a riqueza desse sistema poético que, como dizem os especialistas, uma coisa é o folheto, elemento meramente gráfico, outra o cordel, elemento-linguagem. A compreensão desses conceitos é essencial para acompanhar a discussão.

Outras formas de arte complementaram o cordel, como a xilogravura na confecção dos livretos. Outras beberam de sua fonte. Aderaldo lembra que quando a editora Prelúdio de São Paulo passou a publicar folhetos doou um novo formato ao cordel, com capas coloridas, papel melhor, letras trabalhadas. Ele conta que foi uma revolução. Já a Editora Luzeiro, sucessora da Prelúdio, transformou-se na maior e mais bem-sucedida editora de cordel do Brasil.

“Muitos folheteiros, como José Bernardo, culparam a Luzeiro pelo fim das folhetarias tradicionais no Nordeste. Quem produzia as capas eram grandes nomes das artes plásticas nacionais: Sérgio Lima, Eugenio Colonese, Seabra, Smaga. A Luzeiro passou a quadrinizar o cordel. Até hoje é reeditado o Pavão Misterioso em quadrinhos. No cinema, O Homem Que Virou Suco, de João Batista de Andrade, é um exemplo, usou o cordel como matéria principal. O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, é inspirado em três folhetos de cordel. A música nordestina tem a base no cordel e na cantoria. As artes plásticas e até a arquitetura seguiram temas cordelísticos. Há inclusive presença do cordel na moda. O cordel é uma ordem”, destaca.

A festa literária também conta com eventos paralelos, com opções como ioga e meditação, além de atividades para crianças na Central Flipinha.

A curadoria neste ano é coletiva e fora do eixo Rio-SP. São eles: Fernanda Bastos, jornalista gaúcha, Milena Britto, professora da UFBA, e Pedro Meira Monteiro, que é de São Paulo, professor na Universidade de Princeton.

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ROMANCE HISTÓRICO RETRATA A FRAGILIDADE HUMANA NA SANGRENTA GUERRA DE CANUDOS

Na aridez do sertão baiano, com armas em punho sob o sol escaldante, tropas avançam prontas para dizimar civis e enfrentar jagunços que têm como trunfo o conhecimento geográfico - e a capacidade de sobreviver em situação miserável. A fome, a desidratação, as feridas abertas, as privações de sono e descanso rondam ambos os lados, assim como os urubus se aglomeram ansiosos pelas sobras dos embates.

Por esse cenário inóspito, Roosevelt Colini, que assina como R. Colini, convida o leitor a uma jornada de sobrevivência no livro Entre as Chamas, Sob a Água. O romance histórico retrata a brutalidade da Guerra de Canudos, em uma terra banhada em sangue e desesperança, onde a dignidade é arrancada e a humanidade se esvai.

No meio desse massacre, que eviscerou ambos os lados, o protagonista, um jovem combatente do exército brasileiro, perde a empatia, a fé e o propósito. Acostumado às estratégias militares que forjaram os heróis nos campos de batalha, ele logo percebe o despreparo e a incompetência do exército para aquele cenário.

O livro mostra que, sem instrução acerca do comportamento dos jagunços na guerra, o pelotão é surpreendido por um “inimigo invisível”. Para sobreviver, o soldado atravessa a trincheira e passa a combater os próprios colegas, enquanto sucumbe à solidão e ao odor podre da guerra.

Afinal de contas, ainda que Canudos acabe sem que eu morra, mesmo se eu não tivesse vivido

entre os dois lados da guerra, sinto que minha vontade de fuga não é vontade de regresso,

porque não gostaria de ver mais ninguém, não gostaria de encontrar meu pai, que saberia,

no momento em que chegasse, que eu estaria destituído de ilusões e que o filho que partiu

não é o mesmo que retorna. Não é vergonha, não é culpa, não é arrependimento;

é ausência devontade de estar entre humanos,é a alma que se foi, farta do que viu.

(Entre as Chamas, Sob a Água, p. 52)

O personagem principal de Entre as Chamas, Sob a Água descreve na calada da noite os horrores que vivencia, com um pequeno lápis em papel. Para não ser descoberto, relata o drama no Arraial em francês, língua incomum aos envolvidos no conflito.

Presenciar a barbárie das degolas, as condições insalubres nos acampamentos, as dores causadas pela fome, sentir o cheiro ocre do sangue misturado a fezes, urina e suor, arrancam a civilidade do protagonista, tornando-o cada vez mais solitário e silencioso. Nesta nova realidade, ele recebe a alcunha de Chico Mudinho e passa a conviver com personagens históricos, como Antônio Conselheiro e João Abade.

Colini, autor do romance Curva do Rio, obra elogiada pela crítica e pelo público, prova que ainda existe um universo humano a ser explorado, interpretado e atualizado em relação a essa batalha histórica.

O escritor oferece uma vigorosa composição literária para marcar uma parte da história brasileira que não deve ser esquecida. A saga do jovem oficial do exército não nos deixa esquecer de homens, mulheres e crianças que tiveram a existência apagada pairando entre o fogo e as águas que afundaram Canudos.

O AUTOR: Colini é um escritor que andou fazendo outras coisas por 30 anos e que faz agora meio século de idade. Quando o vagalhão de 1968 acabava de deixar suas últimas espumas na praia e recuava com força ao mar, arrastando aquela geração de volta para as utopias irrealizadas e deixando o cheiro de maresia e AIDS na década de 1980, Colini participou da última leva do movimento estudantil não-profissionalizado. Depois, foi jornalista por dois anos na Folha de S. Paulo e então decidiu batalhar grana virando empresário. Estudou Filosofia e Ciências Sociais na USP, mas não conclui nenhum dos cursos. Escalou dois dos sete cumes mais altos dos continentes: Elbrus e Kilimanjaro. Montou uma operadora de telecomunicações, mas há três anos, delegou a gestão da empresa. Escreveu três romances e dezenas de contos. Daqui para frente, sua vida será focada na escrita.

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ARMAZÉM DA CAATINGA LANÇA LOJA VIRTUAL DE PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR

Os produtos da agricultura familiar, comercializados no Armazém da Caatinga de Juazeiro, estarão disponíveis também na internet. Na próxima terça-feira (22), será lançada a loja virtual, que disponibilizará, inicialmente, uma média de 150 produtos diferentes para a entrega em todo o Brasil. 

A ideia é aumentar o número de itens e assegurar que mais alimentos saiam da propriedade dos agricultores e das agricultoras familiares e cheguem às mesas de muitos lares brasileiros. Na semana de lançamento, a loja ofertará promoções e frete grátis. Para quem mora nos municípios de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) as entregas serão feitas por meio de delivery.

O evento de lançamento da loja virtual deve reunir representantes da imprensa e influencers digitais do Vale do São Francisco, formadores de opinião, lideranças da agricultura familiar, comunicadores populares e jornalistas de, pelo menos, sete estados do Nordeste e de Minas Gerais.

A estratégia é parte de um conjunto de ações da Central de Cooperativas da Caatinga - Central da Caatinga, entidade que gerencia o Armazém, que visa potencializar a comercialização da produção de famílias agricultoras e assegurar que a loja virtual consiga visibilizar e despertar o consumo consciente em mais pessoas, aumentando assim a cartela de clientes.

O lançamento da loja virtual conta com o apoio do Governo do Estado da Bahia, por meio do Pró-Semiárido, projeto executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), com cofinanciamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). A ação tem também a parceria do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa).

Serviço: O quê: Lançamento da loja Virtual do Armazém da Caatinga

Local: Armazém da Caatinga, vila Bossa Nova/Orla II, Juazeiro (BA)

Data: 22/11/2022

Horário: 19h 

Fonte: Assessoria de Comunicação SDR/CAR 

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