ESPECIALISTAS ALERTAM PARA REDUÇÃO DO VOLUME DE ÁGUA DO RIO SÃO FRANCISCO

O Rio São Francisco, terceira maior bacia hidrográfica do Brasil, completa 521 anos de descobrimento nesta terça-feira (4), e os especialistas do MapBiomas alertam que, nas últimas três décadas, 50% do seu volume de água foi perdido.

O Velho Chico, como é popularmente conhecido, passa por seis estados brasileiros: Bahia, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, além do Distrito Federal.

De acordo com o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), os principais riscos à bacia são: desmatamento; poluição urbana, industrial, mineral e agrícola; e alto consumo de água para irrigação. O comitê destaca a importância de preservar a bacia, que abrange 8% do território nacional.

Estudos feitos pelo comitê apontam dois problemas que refletem na saúde do rio: a perda de água potável e a falta de saneamento básico. De acordo com pesquisadores, ao distribuir água para consumo humano, há uma perda de 40% de água potável, o que corresponde a 7,5 mil piscinas olímpicas de água potável perdidas todos dias, quantidade suficiente para abastecer 63 milhões de brasileiros em um ano.

A bacia hidrográfica do Rio São Francisco tem uma extensão 2.863 km e uma área de drenagem de mais de 639.219 km².

Na Bahia, o rio passa por diversas cidades, como Juazeiro, no norte, onde faz divisa com o estado de Pernambuco. Em Bom Jesus da Lapa, no oeste, existe a forte presença de ribeirinhos, enquanto em Paulo Afonso, também no norte, o Velho Chico abastece um dos maiores complexos hidrelétricos do Brasil, composto por um conjunto de usinas que produzem 4.279,6 megawatts de energia, gerada a partir da força das águas da Cachoeira de Paulo Afonso, um desnível natural de 80 metros do rio.

Além disso, o São Francisco também abrange o reservatório de Sobradinho, posicionado a 748 km de sua foz. Além da geração de energia elétrica para o Nordeste, esta é a principal fonte de regularização dos recursos hídricos da região, conforme a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

O reservatório de Sobradinho tem cerca de 320 km de extensão, com uma superfície de espelho d'água de 4.214 km2 e uma capacidade de armazenamento de 34,1 bilhões de metros cúbicos. Esses números o tornam o maior lago artificial do mundo.

Além disso, o rio São Francisco tem grande importância na agricultura do Vale do São Francisco, um dos maiores celeiros da fruticultura brasileira. Os pomares empregam 250 mil trabalhadores e produzem quase 1,5 milhão de toneladas de frutas por ano. Este é o maior polo nacional de produção de manga, com colheita média de mais de 750 mil toneladas da fruta a cada safra.

Texto é do jornalista Kris de Lima/TV São Francisco. Foto Ascom PMJ

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A ORAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO EM TEMPOS DE POUCOS RIOS

Ás 18 horas, sempre guardo na correria da vida e do trabalho, a oração, uma prece. Estes dias olhando o Rio São Francisco ouvindo as canções de Padre Zezinho lembrei da Oração do Rio São São Francisco em tempos de poucos Rios. Assim escutei do amigo Aderaldo Luciano. Aqui reproduzo:

O Rio São Francisco não nasce na Serra da Canastra. Digo isso porque a correria estressante das ruas do Rio de Janeiro me oprime. Os olhos dessas crianças nuas me espetam e essa população de rua dormindo pelas calçadas me joga contra o muro. Esse Cristo economiza abraços e atende a poucos.

Só uma coisa me alenta hoje: a saudade do meu santo rio. O Rio São Francisco, o Velho Chico, Chiquinho. Escuto o murmurar de suas verdes águas: — Deixai vir a mim as criaturas... E assim foi feito. Falar de desrespeito e depredação tornou-se obsoleto. Denunciar matanças e desmatamentos resultou nulo. Orar e orar. Pedir ao santo do seu nome a sua oração.

Lá do Cristo Redentor da cidade de Pão de Açúcar, nas Alagoas, um moleque triste escutou a confissão das águas. Segundo ele, o Velho Chico dizia: “Ó, Senhor, criador das águas, benfeitor dos peixes, escultor de barrancas e protetor de homens fazei de mim bem mais que um instrumento de tua paz. Se paz não mais tenho faz-me levar um pouquinho aos que em mim confiam. Paz para as lavadeiras que, em Própria, choram a sua fome de pão. Que, em Brejo Grande, soltam lágrimas pelos filhos mortos no sul do país. Que, em Penedo, já perderam a fé de serem tratadas como gente sã.

Onde houver o ódio dos poderosos que eu leve o amor dos pequeninos. O amor dos que cavam a terra a plantam o aipim. Dos que cavam a terra e usam-na como cama e lençol para sempre. Dos que querem terra para suas mãos, para os seus grãos, para a sua sede. O amor que não é submisso, mas escravizado. O amor que tem coragem de um dia dizer não. Coragem diante das balas e das emboscadas, das más companhias e da solidão.

Onde houver a ofensa dos governos que eu leve o perdão dos aposentados e servidores públicos. O perdão, nunca a omissão. A luta, porque perdoar não requer calar. Perdoar não quer dizer parar. Como minhas águas, tantas e tantas vezes represadas, mas nunca paradas e que, quando em minha fúria, carregam muralhas, absorvem barreiras e escandalizam Três Marias, Xingó e Paulo Afonso.

Onde houver a discórdia dos que mandam que eu leve a união dos comandados. A suprema união dos que sonham com as mudanças, dos que querem quebrar hegemonias e oligarquias. A discórdia dos reis contra a união dos plebeus. Um povo unido é força de Deus, dizia o velho bendito e sejais bendito, Senhor. A união das águas, a união das lágrimas, a união do sangue e a união dos mesmos ideais.

Onde houver a dúvida dos que fraquejam, que eu leve a fé dos que constroem seu tempo. Na adversidade, meio ao deserto e ao clima árido, a fé dos que colhem uvas e mangas em minhas margens. Dos que colhem arroz em minhas várzeas, dos que criam peixes com minhas águas em açudes feitos. A fé dos xocós lá em Poço Redondo. A fé que cria cabras nos Escuriais. Dos que colhem cajus e criam gado em Barreiras e outros cafundós.

Onde houver o erro dos governantes que eu leve a verdade de Canudos. O bom senso dos conselheiros de encontro à insanidade dos totalitários. Os canhões abrindo fendas na cidade sitiada e a verdade expondo cada vez mais a ferida da loucura na caricatura da História. O confisco da poupança e o rombo na previdência. O fim da inflação e o pão escasso, o emprego rarefeito, a dignidade estuprada em cada lar de nordestinos.

Onde houver o desespero das crianças da Candelária que eu leve a esperança das mães de Acari. E aqui, Senhor, te peço com mais fé. A dor dos deserdados, dos que perderam seus pais, filhos ou irmãos, seja de fome, doença ou assassínio, inundai-os com as águas esmeraldas da justiça. A justiça da terra e dos céus. Pintai de verde o horizonte das famílias daqueles que foram jogados mortos em minhas águas. Eles não foram poucos.

Onde houver a tristeza dos solitários que eu leve a alegria das festas de São João. Solitário eu banho muitas terras e em todas, das Gerais, do Pernambuco, das Alagoas e do Sergipe, não há tristeza ao pé da fogueira, nas núpcias entre a concertina e o repente, entre a catira e o baião.. Das festas do Divino ao Maior São João do Mundo, deixai-me levar, Senhor, o sabor de minhas águas juninas e seus fogos de artifícios.

Onde houver as trevas da ignorância que eu leve a luz do conhecimento e da sabedoria. A escuridão dos homens dementes que teimam em querer ferir-me de morte seja massacrada pela luz de um futuro negro, sem água potável, sem terra e sem ar.. Dai-me esse poder, de entrar nas mentes e nos corações, de espraiar-me pelos mil recantos dos que querem mal à nossa casinha, nossa pequena Terra. O homem sábio seja sempre sábio e contamine os povos com ensinamentos de preservação.

Ó, Senhor, dai-me vocação para consolar os que se lamentam de má sorte. Fazei-me compreender porque tanto mal há nos corações. Sobretudo, Senhor, não autorizeis que eu deixe de ser o Rio São Francisco, que há tantos anos não foge do seu leito, espalha e espelha vida em abundância. Que, embora tenha dado, quase nada recebo, que perdoando sempre, continuo sendo morto enquanto todos pensam que serei eterno.”

Fonte: ( Aderaldo Luciano é doutor e mestre em Ciência da Literatura, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor, poeta, escritor e músico). Foto Ney Vital Jornalista


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WEBNÁRIO: RIO SÃO FRANCISCO COMPLETA 521 ANOS

Em comemoração ao aniversário do Rio São Francisco, nesta terça, dia 04 de outubro, que completa 521 anos de seu “descobrimento”, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco realiza o webinário “25 anos da Lei das Águas”.

O coordenador da CCR Baixo São Francisco, Anivaldo Miranda, e a promotora de Justiça do Ministério Público Estadual da Bahia, Luciana Khoury, com a mediação do advogado e membro da Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL), do CBHSF, debaterão os avanços e desafios da Lei 9.433/97, a Lei das Águas, que completa este ano 25 anos de sua promulgação.

O webinário será transmitido no canal do CBHSF no Youtube, a partir das 17h do dia 04 de outubro.

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JULIANA ARINI: A ESPECIALIZAÇÃO DE JORNALISTAS EM MUDANÇAS CLIMÁTICAS É CRUCIAL

Existe uma necessidade latente em formar jornalistas especializados em mudanças climáticas. A ideia é defendida pela jornalista, fotógrafa e documentarista especializada na cobertura de temas socioambientais Juliana Arini. “A especialização dos jornalistas em mudanças climáticas é crucial porque é uma realidade cada vez mais presente no nosso cotidiano”, afirmou a profissional, que é colaboradora do Infoamazonia, National Geographic Brasil e O Eco.

Juliana participou da Mesa Desafios Ambientais do Brasil, realizada na tarde da última quarta-feira (28/09). O evento faz parte do V Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Ambiental, promovido pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (GPJA-UFRGS). A programação contou ainda com a participação de Fernando Aristimunho, integrante do Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa e pecuarista familiar. A mediação foi do jornalista e professor Roberto Villar Belmonte.

A fala de Juliana faz contraponto a uma triste realidade do Brasil: o meio ambiente não é uma pauta constante dentro das grandes mídias tradicionais. “Esse é um tema muito reativo e que incomoda por que passa por interesses econômicos e políticos”, disse. No entanto, as mudanças climáticas são uma realidade urgente e que precisa ser pautada dentro das redações.

 “Como eles vão fazer isso sem jornalistas especializados é o grande desafio”, lamentou Juliana. Mas existe uma pequena luz no fim do túnel, que é o surgimento de veículos segmentados independentes. Para a jornalista, que mora no Mato Grosso, nesses casos, o desafio é conseguir furar a bolha.

 Juliana defende que o discurso jornalístico precisa ser mais carregado de emoção e não somente dados: “Eu estou em um estado onde tem 10 cabeças de boi por habitante e as pessoas estão indo à fila do osso. É esse discurso que as pessoas precisam ouvir”. Fernando Aristimunho concorda com Juliana ao dizer que o grande desafio do Jornalismo Ambiental no Brasil é alcançar os rincões do país. Inclusive, esse é um dos temas apresentados pela Coalizão pelo Pampa, que defende, entre outras pautas, a implementação de políticas públicas de comunicação sobre os campos nativos do bioma. 

Além de uma imprensa especializada sobre questões ambientais, a Coalizão também requer a efetivação dos processos de regularização dos territórios tradicionais, cumprimento e regulamentação da legislação ambiental vigente na proteção do bioma Pampa e a valorização das cadeias produtivas dos ecossistemas. Essas medidas decorrem da questão agrária preocupante na região. Em 2018, existiam apenas 33,6% de área de vegetação no bioma, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados também mostram que 125 mil hectares do bioma foram transformados em lavouras entre 2012 e 2018.

"A produção agrícola não respeita o zoneamento e vem avançando em áreas da vegetação campestre nativa", explicou Aristimunho. Ele também relembrou que recentemente a “lei dos agrotóxicos” do Rio Grande do Sul, Lei 7747/1982 pioneira no Brasil, foi flexibilizada pelo Pacote do Veneno, como ficou conhecido o Projeto de Lei 260/2020, sancionado em 27 de julho do ano passado.

Atualmente, há pelo menos cinco projetos de lei que alteram as regras de proteção de territórios, favorecendo a formação de latifúndios em terras públicas e minando a reforma agrária. E boa parte do Congresso Nacional não tem compromisso com o meio ambiente. "Quem comanda a Amazônia é o agronegócio", disse Juliana Arini.

Segundo a jornalista, quem assumir os governos em 2023 vai herdar demandas ambientais enormes e um orçamento apertado. “Nós estamos vivendo os maiores desafios ambientais de todos os tempos - economia, mudanças climáticas e produção de alimentos - porque todos os problemas foram agravados e todas as soluções foram descontinuadas”, afirmou.

O V ENPJA, realizado pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (UFRGS/CNPq) e pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS), contou com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFRGS, do Curso de Jornalismo da UFSM/FW e do Curso de Jornalismo da UniRitter. As gravações de todas as mesas estão disponíveis no canal do GPJA no YouTube.

* Danielly Oliveira é estudante de Jornalismo da UniRitter e teve a supervisão do seu professor e jornalista responsável Roberto Villar Belmonte

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RIO SÃO FRANCISCO DE CORPO E ALMA É TEMA DO PROJETO BATE PAPO NESTA SEXTA-FEIRA (30)

O Grupo de Estudos e Pesquisa em Ecologia Espiritual: Integrando Natureza Humanidades e Espiritualidade promove nesta sexta-feira (30), às 17h30, o bate papo com autores (as), com a doutora Sofia Oliveira de Barros Correia.será transmitido pela plataforma teams.

O tema do encontro é Rio São Francisco de Corpo e Alma-Gestão das águas do Submédio São Francisco as múltiplas vozes do Rio. O bate papo será transmitido pela plataforma teams.

A coordenação é da professoras doutora Elis Santana e Iva Cavalcante.

A professora Sofia Oliveira é doutora em Desenvolvimento e Meio ambiente, pela UFPE e UFS, com tese intitulada "Territorialidade discursiva e acesso à água na Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco".

Sofia atualmente, desenvolve trabalho autônomo a partir de princípios e conceitos da Educação Ambiental e do Yoga Integral, atende como Terapeuta da Medicina Chinesa, também se dedicando a palestras e cursos de formação na área ambiental alinhada às Terapias Integrativas.

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EXU PERNAMBUCO E A FUTURA ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL LUIZ GONZAGA. A PEDAGOGIA DA ESPERANÇA

Luiz Gonzaga, Mestre da Sanfona, Rei do Baião despertou a consciência de gerações para as questões sociais. Foi defensor além da cultura, um visionário em relação ao ensino público, pois sempre sonhou e trabalhou para que a sua Exu, Pernambuco, terra onde nasceu, fosse lugar de ensino, pesquisa e extensão.

Luiz Gonzaga em uma de suas composições disse: crianças e adolescentes, o lugar deles é na sala de aula. Luiz Gonzaga sabia da importancia do ensino de qualidade e, principalmente, da qualificação profissional para os estudantes e as inúmeras possibilidades que a educação é capaz de construir.

Este sonho de Luiz Gonzaga, em parte em breve  será realizado com a futura inauguração da Escola Técnica Estadual (ETE), que inclusive, será mais uma homenago ao Reio do Baião, portanto a Escola Técnica Estadual Luiz Gonzaga, obra em andamento, vai garantir o futuro aos jovens sertanejos da região do Araripe.

O novo prédio do equipamento terá, aproximadamente, 5,5 mil metros quadrados (m²). O investimento com recurso do Tesouro Estadual e da União, via Fundo Estadual de Desenvolvimento da Educação (FNDE), beneficirá 1.300 estudantes das cidades ao redor de Exu, que se tornará um ponto de referência no setor educacional da região.

A nova escola faz parte do programa Brasil Profissionalizado. A estrutura contará com 12 salas de aula, seis laboratórios básicos, auditório, biblioteca, refeitório, área de convivência, quadra poliesportiva coberta e dois laboratórios para qualificações específicas.

Todos os pesquisadores de Luiz Gonzaga, revelam que Uma característica que marcou o comportamento de Luiz Gonzaga, foi a preocupação dele com a condição socioeconômica da população mais carente. Ele ia a Brasília reivindicar melhorias na área da educação,  saúde, da infraestrutura entre outras e conseguiu levar progresso neste sentido a localidades do Nordeste. 

Nos shows , fazia questão de se apresentar para o público que não tinha dinheiro para comprar ingressos. “Canto para o meu povo”, dizia Luiz Gonzaga.

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ECOLOGIA ESPIRITUAL: INTEGRANDO NATUREZA, HUMANIDADES E ESPIRITUALIDADES

Ecologia espiritual: Integrando natureza, humanidades e espiritualidades. O presente livro é uma ação e organização de membros do grupo de pesquisa “Ecologia Espiritual: integrando Natureza, Humanidades e Espiritualidades”, da Universidade Estadual de Feira de Santana, cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil (DGP), ligado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

O livro tem por organizadores os professores Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto (UEFS) e Dra. Elis Rejane Santana da Silva (UNEB, Campus 3), com a colaboração de diversos pesquisadores, de diferentes instituições de ensino superior, os quais vêm demonstrando interesse e ações no campo interdisciplinar da ciência, com foco na busca e compreensão da relação do universo espiritual com o universo natural, dentro da temática da ecologia espiritual. 

Aproveitamos esse momento para parabenizar tanto os organizadores quanto os demais autores dessa obra literária tão importante no atual momento que vivemos na ciência e academia, parabenizar pela determinação e ousadia em quebrar os paradigmas cartesianos e fechados da ciência tradicional, e por evidenciar que a ciência é um campo aberto e que nela podemos ter diferentes diálogos, diferentes olhares, diferentes percepções e diferentes atores sociais envolvidos. 

O livro está organizado em quatro partes: 1) Ecologia, Espiritualidades e Conservação da Natureza; 2) Ecologia Espiritual na vertente de uma Ciência Ecocentrada; 3) Conexões com os Seres Elementais; e 4) Ecologia Espiritual e Saúde Integral. Os capítulos distribuídos nessas quatro partes apresentam diferentes olhares no contexto da ecologia espiritual, com reflexões sobre possíveis caminhos a serem trilhados pelo grupo de pesquisa em Ecologia Espiritual, formado junto ao CNPq em março de 2021. 

Os autores destacam, entre outras coisas: a tentativa de extermínio da percepção da Terra como a Grande Mãe, como vetor, embora não isolado, da separação ser humano-Natureza; correntes de pensamento integrativo onde o ser humano não está apartado da Natureza, mas dela é elemento; e desafios e possíveis caminhos para que a Ecologia Espiritual auxilie na reunificação ou reconexão do ser humano com a Natureza.

Sobre a Ecologia Espiritual, podemos encontrar afirmações e explicações interessantes, como as que seguem, extraídas do livro “Ecologia Espiritual: o choro da Terra” (The Golden Sufi Center, 2013), editado por Llewellyn Vaugahn-Lee, no qual temos textos de escritores, filósofos e mestres espirituais: 

“Se é para nós restaurarmos o equilíbrio em nosso planeta, nós precisamos ir além da superfície para curar a separação entre espírito e matéria e assim contribuir em trazer o sagrado de volta à vida.” 

“A Ecologia Espiritual é uma resposta espiritual à presente crise ecológica. Este campo em desenvolvimento une ecologia com a consciência do sagrado existente na criação, firmando uma nova forma de se relacionar no mundo”.

“A Ecologia Espiritual propõe que as realidades físicas da crise ecológica que vivenciamos – desde os fenômenos de alteração climática ao consumismo exacerbado e poluição das águas, ar e solo, refletem uma realidade mais profunda, a da crise espiritual”.

Diante da importância dessa área da ciência e de toda a contribuição que a Ecologia Espiritual pode trazer para auxiliar no entendimento e busca por soluções das crises ambientais que o mundo vem passando, inclusive com impactos na vida emocional, pessoal, social, familiar e espiritual de cada pessoa, que referendamos o presente livro, o qual chega em hora muito oportuna para fazer eco e propagar essa realidade, que tem sido negligenciada por muitos. 

Precisamos nos reconectar com a natureza e salvá-la enquanto temos tempo. Essa reconexão também passa pelo respeito e proteção dos povos indígenas e populações tradicionais, os quais são os guardiões da natureza e vêm passando por diversos e complexos momentos de destruição de suas culturas e formas de viver, assim como suas conexões com a natureza.

Outro ponto a ser destacado no presente livro é seu caráter internacional, pois temos capítulos de pesquisadores de países como Argentina, Canadá, Colômbia, Equador e Estados Unidos, evidenciando que a temática da ecologia espiritual está sendo observada, discutida e desenvolvida em várias partes do mundo.

 Nesse contexto, o Brasil tem como colaborar fortemente nesse universo, em virtude da gigantesca diversidade biológica e cultural que temos em nosso país, em suas diversas regiões, com uma ampla heterogeneidade cultural, étnica, social e econômica, aliadas e relacionadas aos diferentes biomas como a Amazônia, Caatinga, Cerrado, entre outros, e em cada um deles, a presença marcante da espiritualidade com seus mitos e lendas, dos quais, muitos são relacionados com a proteção dos ecossistemas e sua biodiversidade. 

Esse livro também contribuirá com a formação acadêmica de alunos, professores e pesquisadores que se interessem pela área da Ecologia Espiritual, fortalecendo assim o contexto da mesma como uma ciência séria, e que vem para somar com resultados robustos e necessários para enfrentar os problemas atuais da sociedade. 

Termino deixando meus imensos parabéns aos organizadores e autores do livro “Ecologia Espiritual: integrando Natureza, Humanidades e Espiritualidades”, e desejo que o mesmo possa promover uma reconexão espiritual e natural de cada pessoa, cada leitor que tiver contato com o mesmo. 

Texto: Professor doutor Reinaldo Farias Paiva de Lucena-Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS

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