PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO DE PADRE CÍCERO NA IGREJA CATÓLICA FOI AUTORIZADO PELO PAPA FRANCISCO

O processo de beatificação de padre Cícero Romão Batista na igreja católica foi autorizado pelo Vaticano. A informação foi anunciada pelo bispo da diocese do Crato, Dom Magnus Henrique Lopes, durante missa realizada na manhã deste sábado (20), no Largo Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará.

"Queridos filhos e filhas da Diocese do Crato, romeiros de todo Brasil, é com grande alegria que eu vos comunico nesta manhã histórica que recebemos oficialmente da Santa Sé, por determinação do santo padre, o papa Francisco, uma carta do dicastério para a causa dos santos, datada do dia 24 de junho de 2022. Recebemos a autorização para a abertura do processo de beatificação do padre Cícero Romão Batista que, a partir de agora, receberá o título de servo de Deus", disse Dom Magnus Henrique Lopes durante a celebração.

Em 2015, o Vaticano atendeu ao pedido do bispo Dom Fernando Panico e reconciliou o padre Cícero Romão Batista com a igreja católica. Com a reconciliação, não havia mais impeditivos para a abertura do processo de beatificação do "santo popular".

O pedido para a autorização da beatificação de padre Cícero foi solicitado por Dom Magnus Henrique Lopes , através de uma carta entregue ao papa Francisco durante a visita ao Vaticano, em maio deste ano.

"Recorremos a vossa solicitude de pastor universal da santa igreja para pedir especial clemência para com este sacerdote católico, amado, exonerado. Esperamos que Vossa Santidade, na hora oportuna, examine, com o coração de pai e como sucessor de Pedro, este pedido ora formulado, cuja resposta é um anseio nosso e dos milhões de devotos do padre Cícero", diz um trecho da carta entregue por Dom Magnus ao papa Francisco.

O trecho foi lido pelo bispo da diocese do Crato durante o anúncio da autorização do processo de beatificação de padre Cícero. A notícia foi recebida com salva de palmas e fogos por centenas de fiéis que estavam no local.

Padre Cícero morreu em 1934 rompido com o Vaticano por envolvimento com a política e pelo polêmico “milagre da hóstia”. Segundo a crença popular, uma hóstia dada pelo padre virou sangue na boca de uma beata. Para os devotos de padre Cícero, trata-se de um milagre, mas a igreja Católica considerou o caso uma interpretação equivocada. Por conta dos "equívocos", ele foi afastado da igreja católica.

Padre Cícero Romão Batista é considerado "santo popular" para muitos fiéis católicos nordestinos. Todos os anos, as romarias em homenagem a ele atraem milhões de romeiros a Juazeiro do Norte.

BEATIFICAÇÃO: Para concluir a beatificação, o Vaticano faz inicialmente um levantamento da biografia do candidato para verificar se há algum fator na biografia que possa impedir o processo. Se nada for encontrado, a igreja emite o Nihil Obstat (nenhum impeditivo), um documento formal, redigido em latim e dirigido ao bispo indicando que o pode haver continuidade do processo.

“É a partir deste documento que o candidato à santidade passa a ser chamado Servo de Deus e tem a investigação livre para desenrolar-se até o fechamento do processo”, explica o advogado e especialista em Direito Canônico José Luís Lira.

Em seguida, será constituído um tribunal eclesiástico diocesano que vai aferir as qualidades, as virtudes e constatar toda a vida do Servo de Deus.

Após a conclusão da fase diocesana, os documentos são encaminhados para o Vaticano, onde inicia-se a fase romana. O Vaticano avalia relatos de milagres, graças e atos que possam dar status de beato a Padre Cícero.

“Uma vez constatada, ele é automaticamente declarado como ‘venerável’. Se houver um milagre consistente, nos modos que a Santa Sé exige, com laudos médicos e toda documentação cabível, é iniciada a fase de beatificação. Aprovado o milagre, o papa autoriza a beatificação. Depois de se tornar beato, é necessário outro milagre para a canonização”, conta Luís.

PRECEITOS ECOLÓGICOS PADRE CÍCERO: Cícero Romão Batista nasceu na cidade do Crato, Ceará em 24 de março de 1844, e faleceu em Juazeiro do Norte, em 20 de julho de 1934.  Ele era conhecido como Padre Cícero, ou, mais coloquialmente, “Padim Ciço”.

Em seus preceitos ecológicos, Padre Cícero fazia os seguintes alertas:

Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de árvore.

Não toque fogo no roçado nem na Caatinga.

Não cace mais e deixe os bichos viverem.

Não crie o boi nem o bode soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer.

Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza.

Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva.

Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta.

Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só.

Aprenda a tirar proveito das plantas da Caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca.

Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer.

Mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.


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PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA A CAMINHO DE SE TRANSFORMAR EM SANTO BRASILEIRO

“O nome do padre Cícero / ninguém jamais manchará, / porque a fé dos romeiros / viva permanecerá, / pois nos corações dos seus / foi ele um santo de Deus / é e pra sempre será.” 

Este é um dos temas de incontáveis folhetos de cordel espalhados pelas feiras sertóes afora.
Quem já ouviu falar dos preceitos ecológicos do Padre Cicero, muitos o seguem como exemplo de fé e espiritualidade, mas poucos sabem que ele foi um dos primeiros defensores do meio ambiente, do bioma caatinga. 

Padre Cícero soube unir a mitologia e o poder do conhecimento dos Povos índios Kariris.

Cícero Romão Batista nasceu em Crato, Ceará no dia 24 de março de 1844. Foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Celebrou a sua primeira missa em Juazeiro em 1871. No dia 11 de abril de 1872 fixou residência em Juazeiro. Padre Cícero faleceu no dia 20 de julho de 1934, na cidade de Juazeiro.

A jornalista Camila Holanda escreveu que nas entranhas do Cariri do Ceará foi emergido uma versatilidade de ícones que, entrelaçados povoam o imaginário cultural que habita a região.

Nas terras do Ceará ouvi uma das mais belas histórias. Resumo: o teatrólogo, pesquisador cultural Oswaldo Barroso, ressalta um dos mais valiosos símbolos, a vigorosa força mítica e religiosa. Oswaldo, cidadão honorário de Juazeiro do Norte, diz que a primeira vez que esteve no Cariri foi nos anos 70 e a experiência fez com que suas crenças e certezas de ateu fossem desconstruídas e reconstruídas com bases nos sentimentos das novas experiências e epifanias vividas.

"Desde o início, não acreditava em nada de Deus. Mas quando fiz a primeira viagem ao Horto do Juazeiro do Norte, foi que eu compreendi o que era Deus. Isso mudou minha vida completamente", revelou Oswaldo.

Um outra narrativa importante encontrei na mitologia dos Indios Kariris. Nela a região é tratada como sagrada, centro do mundo, onde no final dos tempos, vai abrir um portal que ligará o Cariri  para a dimensão do divino.

A estátua do Padre Cícero encontra-se no topo da Colina. Muitos romeiros percorrem a Trilha do Santo Sepulcro. A pé eles percorrem às 14 estações trajeto marcado por frases e conselhos ambientais do Padre Cícero, que já alertava naquela época para os muitos desequilíbrios ambientais e impactos da agressão humana na natureza.

Padre Cicero descreveu os preceitos ecológicos:

1) Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau; 

2) Não toque fogo no roçado nem na caatinga;

3) Não cace mais e deixe os bichos viverem; 4) Não crie o Boi e nem o bode solto; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer; 

5) Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva;

6) Não plante em serra a cima, nem faça roçado em ladeira que seja muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca sua riqueza;

7) Represe os riachos de 100 em 100 metros, ainda que seja com pedra solta;

8) Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, ate que o sertão todo seja uma mata só;

9) Aprenda tirar proveito das plantas da caatinga a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca;

10) Se o sertanejo obedecer a estes preceitos a seca vai aos poucos se acabando o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer, mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.

Rezemos com Fé! . Os sorrisos são a alegria da alma.

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LUIZ GONZAGA E A MAÇONARIA

Exu, Pernambuco, respira Luiz Gonzaga, criador dos ritmos ao som da sanfona, triangulo e zabumba. Na cidade onde nasceu o Rei do Baião, a chamada Cultura Gonzagueana está por todas as partes. São bustos, estátuas e no museu que leva seu nome. 

A Maçonaria é um exemplo da presença vivo da valorização da vida e obra do Rei do Baião. Loja Maçonica Irmão Luiz Gonaga, número 59 completa este ano 33 anos.

Luiz Gonzaga, o mestre da sanfona, Rei do Baião foi Maçom. A resposta é sim. Luiz Gonzaga também exerceu papel fundamental para o desbravamento da maçonaria no Brasil e especial no Sertão Nordestino. O Rei do Baião iniciou na Maçonaria em abril de 1971, na loja Paranapuan, no Rio de Janeiro. Utilizou a influência que tinha para liderar o grupo que fundaria a Loja Maçônica Força da Verdade, em 1988, a primeira do Exu, Pernambuco, sua terra natal. 

Iniciado na Maçonaria, quando ainda morava na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga começou a participar dos encontros ali mesmo, na loja Paranapuã, localizada próximo a sua residência. Trabalhou para conseguir telefone, escola, luz e estrada de asfalto para Miguel Pereira, onde possuía propriedade. 

Nos estudos maçom, chegou ao terceiro grau, dos 33 níveis. Ajudou muitos os mais necessitados, principalmente nas secas dos anos 80. 


A foto é de uma reunião realizada no município de Souza, Paraíba. “Todo canto que chegava e tivesse uma loja maçônica, ele fazia questão de se apresentar, visitar e ajudar. Nós visitamos diversas Lojas, em Fortaleza, Recife e João Pessoa, e todas foram testemunhas da presença de Luiz Gonzaga”, conta o maçom Almir Oliveira de Amorim, ex-funcionário do Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe) no Exu.

A generosidade que marcou o artista também pode ser vista nas reuniões maçônicas. Amigo íntimo, Almir conheceu bem a personalidade do sanfoneiro. “Gonzaga era uma pessoa uniforme, uma sumidade em pessoa. Era equilibrado, otimista, incentivava os Maçons para trabalhar pela sociedade, pelo povo, pelos mais pobres, pelos idosos. Ele tinha essa visão social”, recorda o amigo de Luiz Gonzaga.

Após o falecimento de Luiz Gonzaga, 02 de agosto de 1989, a Loja Maçonica Força da Verdade passou a se chamar Loja Maçônica Luiz Gonzaga. Mais uma homenagem em Exu, Pernambuco, terra onde nasceu. 

Em vida, o sanfoneiro compôs a música Acácia Amarela, na parceria com Orlando de Silveira, também Maçom. A canção, segundo os maçons entrevistados, é toda escrita em códigos, só possível de ser decifrada por quem é maçônico.

Letra música Acácia Amarela:

Ela é tão linda é tão bela

Aquela acácia amarela

Que a minha casa tem

Aquela casa direita

Que é tão justa e perfeita

Onde eu me sinto tão bem

Sou um feliz operário

Onde aumento de salário

Não tem luta nem discórdia

Ali o mal é submerso

E o Grande Arquiteto do Universo

É harmonia, é concórdia

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ESPAÇO PLURAL REALIZARÁ AÇÃO COM PLANTIO DE MUDAS NA AGROFLORESTA

O Espaço Plural (EP) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) foi criado em 2011 e desde então abriga diversos projetos de extensão, desenvolvimento e pesquisa. Para enriquecer ainda mais esse ambiente, o Conselho Gestor do EP irá realizar um ato político pelo pertencimento a esse espaço. O ato irá acontecer no dia 3 de setembro, a partir das 8h, e irá contar com o plantio de mudas na Agrofloresta Francisco Roberto Caporal e café da manhã coletivo.

O evento irá possibilitar a toda a comunidade acadêmica contribuir com o Sistema Agroflorestal que está sendo implantado no local, ação desenvolvida pelo projeto de extensão “Agrofloresta do Espaço Plural – Francisco Roberto Caporal”. Para participar as pessoas interessadas devem fornecer e plantar uma muda frutífera certificada. Todos que desejarem contribuir com o plantio devem preencher o formulário on-line até 25 de agosto, informando o tipo de muda escolhida. Os participantes também deverão contribuir com um item para a realização do café da manhã no dia do ato.

O coordenador do projeto, Bruno Cezar Silva, explica que a iniciativa busca chamar a atenção da comunidade para o projeto da agrofloresta. 

“O ato tem finalidade política, pedagógica e ambiental, pois estamos ocupando o Espaço Plural. O ato também configura a segunda etapa da implantação do sistema agroflorestal, com o plantio de árvores frutíferas”, destaca Silva, que relembra que na primeira etapa foram plantadas mudas de árvores nativas da Caatinga, fornecidas pelo Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (Nema), pelo Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (Crad), ambos da Univasf, e pela empresa Agrovale.

A implantação do sistema agroflorestal foi iniciada em fevereiro deste ano com o intuito de tornar uma área do EP em um laboratório vivo para estudantes de pós-graduação e para as formações destinadas aos agricultores familiares, visando estimular a agricultura com baixa emissão de carbono e a recuperação de áreas degradadas.

Estão em atuação no Espaço Plural, órgão suplementar da Univasf que se localiza no bairro Malhada da Areia, em Juazeiro (BA), diversas ações e projetos, a exemplo do Espaço Arte, Ciência e Cultura (EACC), Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC), Horta Orgânica Comunitária para mulheres do entorno, Sisteminha Integrado de Produção, Núcleo de Estudos Étnicos e Afro-Brasileiros Abdias Nascimento-Ruth de Souza (Neafrar) e Núcleo de Desenvolvimento Territorial (DEDET). Também funcionam no local os Programas de Pós-Graduação em Extensão Rural (PPGExR) e em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial (PPGADT) e cursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), entre outra ações. (Fonte: Ascom Univasf)

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OS MARES DO MUNDO ESTÃO SENDO PREENCHIDOS POR GRANDES ENCHENTES DE SERTÕES

Os mares do mundo estão sendo preenchidos por grandes enchentes de sertões. O movimento das placas tectônicas das redes sociais geram abalos sísmicos de magnitudes inimagináveis, inconcebíveis. Os algoritmos cibernéticos, dos quais sou crítico, pela falta de transparência como são concebidos, assumiram o controle... Mas não posso negar que os sertões do mundo ganharam sua carta de alforria, através deles, deixando capitais a ver navios, mostrando que elas são tão somente o ponto de convergência destes sertões. 

A roça impera, viaja horrores sem sair da roça... E tem seus condutores. Na música, em especial, a brasileira, o condutor desta viagem à terra prometida é o menino João Gomes, aqui de pertinho, de Serrita, no meu Pernambuco. 

Salve, João! 

Erra feio, quem o trata como fenômeno. João é um abalo sísmico, sem medida na escala richter. Parou Recife, com seu estrondo... E pararia qualquer grande centro do país.

Muita gente reclamou da ousadia de parar Recife, mas quantas vezes nossa amada capital já não foi parada, tristemente, pelas chuvas vindas de nuvens alimentadas por gestões fuleiras? E quantas vezes vários e vários artistas renomadamente grandes, não sonharam em parar Recife, a partir de seus shows e gravações neste mesmo marco zero? Mas quem parou, foi João. Simplesmente, João! E não parou por maldade, nem por querer, parou por que o sertão que carrega consigo ficou grande demais para a opulência majestosa de nossa "Veneza". Este mesmo sertão esquecido por muitos artistas que deixaram o sucesso lhes subir à cabeça, o egocentrismo lhes tornar párias. 

Não se abale com as críticas, João! Muitas delas, são por dor de cotovelo, ou por desconhecimento, ou por oportunismo sem reciprocidade, ou por maldade mesmo. Não se cobre por um cantar preciso e apurado, tendo sido você, puxado pelos braços da imediatez da Internet e trazido à velocidade da luz para abrilhantar com humanismo, humildade e empatia este mundo de medíocres! O mar virou sertão, acunhe, @joaogomescantor! (Texto-cantor compositor Flávio Leandro)

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CONCERTO PARA O GONZAGÃO SERÁ REALIZADO NO DIA 31 DE AGOSTO EM OURICURI, PERNAMBUCO

 

Concerto para o Gonzagão será realizado no próximo dia 31 de agosto, às 19hs, na Praça Frei Damião, em Ouricuri, Pernambuco. O evento contará com atrações Raul do Acordeon, Tacyo Carvalho e Ana Paula Nogueira.

O poeta e cantor Neudo Oliveira também consta na programação que terá apresentação do poeta Juarez Nunes.

O evento também abre espaço para feira de agroecologia e artesanatos.

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CEM ANOS DO RÁDIO NO BRASIL: AS TRANSFORMAÇÕES DO RADIOJORNALISMO

Notícias 24 horas pelo rádio. All news, talk news, news plus. Migração da AM para a FM. Da antena para a internet. Rádio on demand. Em novos formatos e plataformas. O radiojornalismo e, de forma ainda mais ampla, o jornalismo sonoro, passou por grandes transformações a partir dos anos 1980. E, de um meio de comunicação que já foi considerado moribundo, o rádio passou a abraçar o grande potencial para a produção jornalística que sempre esteve lá.

Foi no período de redemocratização do Brasil que se concretizou a próxima grande etapa de experiências bem-sucedidas no jornalismo de rádio: as emissoras dedicadas exclusivamente à notícia.

A novidade seguia a tendência de segmentação das rádios e corria atrás de um modelo de negócio que os Estados Unidos já tinham consolidado décadas antes. Era o chamado “all news” e suas variações – formato surgido em Tijuana, no México, e popularizado nos EUA ainda na década de 1960.

O modelo mexicano consistia em ciclos de notícias repetidas e atualizadas de tempos em tempos, partindo da premissa que o ouvinte ligaria na emissora, se informaria de forma satisfatória e seguiria para outra frequência de sua preferência, abraçando, assim, a ideia de que a audiência se renova periodicamente.

Nos Estados Unidos, outros modelos foram explorados com sucesso. All talk, que eram rádios conversadas e com participação intensa do ouvinte; talk news, a mistura das duas, com formatos que iam de noticiários a programas de entrevista e opinião; ou o news plus, que é a já conhecida fórmula brasileira música-esporte-notícia.

Em terras brasileiras, o projeto mais famoso e um dos pioneiros na área é o da Central Brasileira de Notícias (CBN), criado em 1991. Cabe destacar que, segundo um dos principais pesquisadores do rádio no Brasil, Luiz Artur Ferraretto, ela não foi a primeira emissora do tipo no país.

“No Brasil, a primeira emissora a se dizer all news, mas que de fato nunca fez jornalismo 24 horas, foi a rádio Jornal do Brasil, que tenta fazer isso de 1980 até 1986. (A rádio Jornal do Brasil) tem uma certa importância no Rio de Janeiro, mas enfrenta uma série de dificuldades. Quem vai conseguir fazer isso pela primeira vez com sustentabilidade é a Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, que já se assume como talk news ao longo dos anos 1980. Ela consegue consolidar o formato em 1986, mas começa a investir nisso em 1983”.

Ele afirma que encontrou evidências – inclusive de visitas de integrantes do Grupo Globo à Gaúcha na época que a CBN ainda era gestada. “Há reportagem na Revista Imprensa identificando isso. Os observadores queriam ver como o modelo era adotado na Rádio Gaúcha. E, como repórter da emissora na época, eu presenciei isso”.

A CBN, no entanto, permanece como a primeira experiência exitosa nacional no ramo. Hoje, a rádio do Grupo Globo está presente em 86 cidades brasileiras, com quatro emissoras próprias e 38 afiliadas.

O jornalista Heródoto Barbeiro, que participou da criação do projeto e atuou por muitos anos com um dos principais âncoras da emissora, conta que a delimitação do público-alvo e o entendimento que a audiência da rádio é rotativa foram fundamentais para determinar o formato e o conteúdo da emissora.

“Foi descoberto que o público-alvo era principalmente o cara que está no carro de manhã. Então é para ele que a gente vai falar. Ele é de que camada da população? Geralmente A e B. Quanto tempo ele ouve o rádio? Ele liga e desliga em vários momentos. Então a repetição (de notícias) é boa, não é um mal”, detalha.

Barbeiro lembra qual era o principal desafio do projeto: “A grande preocupação era se tinha notícia suficiente para ficar 24 horas no ar. Mas a gente viu não só que tinha, como a gente não conseguia dar tudo”. Para alimentar a fome incessante da programação por notícias, era preciso ter atualização constante de conteúdo; para isso, investir em profissionais entre âncoras, repórteres e produtores, era fundamental.

Da AM para a FM: A CBN foi, também, a emissora totalmente dedicada ao jornalismo operando na faixa de frequência modulada - a FM. Desde que começou a funcionar, a FM, com maior qualidade sonora, foi direcionada principalmente para a música. Por décadas, o jornalismo, quando existente, era tímido, limitado a horários específicos. Em 1996, a entrada da CBN para a FM mudou o jogo.

A novidade veio não sem alguma resistência empresarial, como lembra Heródoto Barbeiro: “Eu sugeri que a CBN fosse colocada em um canal que o Grupo Globo tinha na FM, 90,5. Mas na época era um desafio grande, porque se entendia que AM era a rádio falada e a FM era a rádio musical. Eu insistia, dizendo que fora do Brasil as rádios (de notícia) eram FM. Depois de algum tempo de insistência, a CBN foi para a FM. E se tornou um sucesso comercial e de público”.

Atualmente há outras emissoras que atuam no mesmo segmento e que estão presentes na FM, como a BandNews, criada em 2005 e que também está presente nacionalmente. Uma de suas principais vozes era o jornalista Ricardo Boechat, morto precocemente em um acidente em fevereiro de 2019.

O RÁDIO EXTRAPOLA A ANTENA: Como foi com a televisão, a internet e o celular também transformariam o modo como consumimos informação, como vivemos e nos reunimos – o que levou o rádio, novamente, a expandir seus horizontes e pensar modelos atualizados de sobrevivência. As novas tecnologias permitiram ao jornalismo sonoro extrapolar a antena, como diz a coordenadora da Rede de Pesquisa em Radiojornalismo e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Valci Zuculoto:

“É um meio que evidencia cada vez mais sentido de permanência, que tem adaptação resiliente e transborda para além da antena. Na antena temos o rádio AM, o constituidor da nossa radiofonia, migrando para o FM, e continua em reconstrução seus modelos comerciais, estatais e públicos. E principalmente se reinventa na web, com emissoras transmitindo sua programação pela internet ou com as rádios web exclusivas”.

Os custos de apuração e transmissão da notícia também diminuíram, como destaca Heródoto Barbeiro. “Fui muitas vezes fazer reportagem na rua, e você tinha que pedir uma linha telefônica e ir lá para o aparelho. Hoje você pode fazer do seu celular, do seu laptop. O custo técnico de emissão de som caiu vertiginosamente”.

Além da agilidade de cobertura conquistada pelo jornalismo em geral, a presença do rádio no meio virtual criou novas interações com o conteúdo. Jornais de emissoras de rádio passaram a ser exibidos no YouTube. Os programas das emissoras foram disponibilizados on demand, para que o público pudesse ouvir o programa quisesse e quando desejasse.

“Estou escrevendo um livro sobre os 150 anos do rádio, que vou lançar agora, e o primeiro capítulo fala do metaverso, que é a tecnologia mais avançada na internet. O rádio já está lá”, defende Barbeiro.

Recentemente, o rádio ganhou um “irmão”: é o podcast, um formato popular e que já tem no jornalismo um dos segmentos com mais potencial e criatividade. Grandes reportagens, com riqueza de narrativas e até mesmo áudio dramatização, são sucesso de público. (Fonte: Agencia Brasil)

Ferraretto afirma que, infelizmente, as rádios vêm deixando passar a oportunidade usar o podcast ao seu favor. “O podcast se constituiu à parte do rádio, que não soube usar o podcast. O radiojornalismo deveria ser o breaking news, a notícia na hora em que ela acontece, e o podcast pode ser uma ferramenta de aprofundamento da notícia”, analisa.

Se o rádio conseguiu expandir limites físicos e de plataforma para ganhar contornos globais, ele ainda assim não perdeu uma de suas principais características: a de ser o meio mais próximo do cidadão.

De acordo com o Atlas da Notícia, pesquisa que mapeia desertos de notícias (como são chamados municípios em que não há nenhum meio de comunicação com produção jornalística) e o jornalismo local no país, o rádio figurou como o meio de comunicação mais numeroso nos municípios brasileiros até a última edição, quando ele foi ultrapassado – por menos de 1% – pelo online.

Em 2021, eram quase cinco mil emissoras, o que corresponde a 33,5% do total de veículos com produção jornalística local. O rádio ainda está em primeiro no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul do país.

O coordenador do projeto, Sérgio Ludtke, afirma que esse número pode ser ainda maior. “Ainda estamos desbravando os municípios. E se a gente pudesse contabilizar rádios comunitárias que produzem jornalismo, provavelmente o rádio ainda seria o principal meio de comunicação que atende as audiências locais no país”.

Mesmo com tanta capilaridade do rádio e da expansão de meios online, o país está longe de se livrar dos desertos de notícia: 14% da população brasileira ainda vive sem acesso à produção local de informações, o que corresponde a 29 milhões de pessoas. Elas vivem em mais da metade dos municípios do país – mais precisamente 53%.

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