PETROLINA, UM FESTIVAL E UM SHOW

O que há de comum entre um festival e um show? Pouca coisa desde que não tenham acontecido num lugar por nome Petrolina. A terra onde o impossível amanhece provável e anoitece pleno, realizável. E antes que adormeça o sol deste aniversário de 126 anos, vamos apurar algumas sobras de lembranças e retornar a 1980, há 41 anos, quando tivemos dois momentos emblemáticos da cultura sanfranciscana: o '1º Festival Lítero Musical da Faculdade de Formação de Professores de Petrolina – FFPP' e o show 'Cabelo duro é preciso que é pra ser você crioulo'.

O festival, inspirado no 'MPB 1980', realizado pela TV Globo no Rio de Janeiro, foi meu primeiro alumbramento e deu início a uma parceria poética com Lênio Ferraz que resultou na publicação dos livros Suspiros de Imaginações (1981) e Sementes (1983). 

Participamos da primeira eliminatória, defendendo a canção Voar sem Asas. Era o mês de junho e o Cine Massangano, hoje Centro Cultural Dom Bosco, completamente tomado, respirava tão somente os acordes e harmonias, arranjos, letras, melodias, o sentimento dos artistas da região.

 A banda base, Mirage, animava as torcidas organizadas ao som dos solos do guitarrista João Neto, o garanhuense que anos depois veio a tocar com nomes como Dominguinhos, Nando Cordel e Belchior. Tudo bem conduzido com o talento dos apresentadores Daniel Campos e Stella Rios e sob os cuidados de um júri formado por artistas, jornalistas e professores. O primeiro lugar, já era esperado, foi para Maciel Melo, com a música 'Cheia'. A nossa canção não ganhou prêmios, mas pela empolgação foi escolhida para abrir a final deste festival, que além do incentivo, marcou a linguagem e o estilo de muitos compositores ribeirinhos.

Três meses depois, a cidade, ainda sob esse clima, viveu o show que mais incrivelmente teve a plateia enérgica e participativa. Era setembro, e no clima de aniversário de Petrolina, o Grupo de Teatro Imaginativo – Guterima, subiu ao palco do Cine Massagano sob o comando de José Geraldo, Eraldo Rodrigues, Maciel Melo, Mariney, Jailson Mangabeira e uma bandeira: "...Cura dessa doença de branco/ de querer cabelo liso já tendo cabelo louro/ Cabelo duro é preciso que é pra ser você crioulo'".

 Uma canção na qual Gilberto Gil canta sua negritude e a de todos os brasileiros. A primeira apresentação, além da irreverência, rebeldia e recorde de público, deixou um saldo de 42 cadeiras quebradas pela plateia que transformou o auditório em um grande salão e o show em uma dançante festa, uma comunhão de encontros.

A repercussão fez com que a produção procurasse outro endereço para a segunda edição e a trupe seguiu, 15 dias depois, com mais gente ainda para o Cine Petrolina. A empolgação, com músicas a exemplo da 'Massa', de Raimundo Sodré, 'Arrasta Pé', de Jorge Alfredo e Chico Evangelista e o 'O Mal é o que Sai da Boca do Homem' ("Você pode fumar baseado/ baseado em que você pode fazer quase tudo"), de Pepeu Gomes, foi tamanha que o número das poltronas quebradas subiu para 66. 

José Geraldo garante que todo o prejuízo foi devidamente pago aos dois cinemas e ainda sobraram alguns trocados para uma outra paixão, 'A Crucificação', o espetáculo sacro que o Guterima apresenta há 44 anos e que já faz parte da tradição na Semana Santa. Mas o saldo maior deste ano de 1980 rotações, que também registrou o lançamento do primeiro romance publicado na cidade, 'Pedro e Lina', de Antônio de Santana Padilha, é certamente o legado de artes e de saberes que alterou o curso da história cultural de Petrolina, enquanto o País assistia ao desmoronamento do regime militar e já respirava o clima das  'Diretas Já'.

 Carlos Laerte *Poeta, jornalista e diretor da Clas Comunicação e Marketing
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NESTA SEGUNDA-FEIRA (20) COMPLETA 34 ANOS DA MORTE DO POETA ZÉ MARCOLINO

"Quem, morrendo, deixa escrito um verso belo deixou mais ricos os céus e a terra e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente". A frase de Fernando Pessoa traduz o sentimento que Zé Marcolino vive.

Pela sua importância na história da música brasileira, o Poeta Zé Marcolino, merecia mais de atenção das entidades culturais. Detalhe: Zé Marcolino morou nos anos 70 em Juazeiro, onde foi comerciante. Juazeiro e Petrolina tem uma dívida com a memória de José Marcolino.

No dia 20 de setembro de 1987 a voz de José Marcolino Alves  silenciava por ocasião da morte causada de acidente de carro próximo a São José do Egito, Pernambuco. Em Sumé, na Paraíba, Zé Marcolino nasceu no dia 28 de junho de 1930. Venceu os obstáculos da vida simples e quando teve oportunidade deixou o Rei do Baião...digamos "bestim com tamanha genialidade". 

No ano de 1962, metade do repertório do LP Ô Véio Macho, tem Luiz Gonzaga interpretando as composições que José Marcolino lhe mostrou em Sumé, Paraíba: Sertão de aço, Serrote agudo, Pássaro carão, Matuto aperriado, A Dança do Nicodemos e No Piancó. Estes seriam os  forrós de Zé Marcolino gravados  pelo Rei do Baião. Ele interpretaria várias outras, entre as quais as antológicas Numa Sala de reboco Cacimba Nova e Quero chá.

Zé Marcolino participou da turnê de divulgação do LP Veio Macho, viajando de Sul a Norte do País com Luiz Gonzaga, no entanto, a saudade da família e suas raízes sertanejas foram mais fortes. Depois de um show no Crato, Ceará,  ele tomou um ônibus até Campina Grande e de lá foi para Sumé, de onde fretou um táxi para a Prata, onde morava.

Com o sucesso de suas canções cantadas por vários artistas (Quinteto Violado, Assisão, Genival Lacerda, Ivan Ferraz, Dominguinhos, Fagner, Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Mastruz com Leite e tantos outros nomes da música brasileira), é atualmente Zé Marcolino um dos mais talentosos compositores da música brasileira de todos os tempos.

Somente em 1983, produzido pelos integrantes do Quinteto Violado, Zé Marcolino lançou seu primeiro e único, hoje fora de catálogo, LP Sala de Reboco (pela Chantecler). Um disco que está merecendo uma reedição em CD, assim como também seu único livro, necessita uma reedição. No citado disco Véio Macho, com seis músicas de Marcolino, ele toca gongue. No LP A Triste Partida, Luiz Gonzaga gravou Cacimba Nova, Maribondo, Numa Sala de Reboco e Cantiga de Vem-vem.

Zé Marcolino morou em Juazeiro da Bahia e ficou até 1976, quando foi para Serra Talhada, Pernambuco. Inteligente, bem-humorado, observador,  Zé Marcolino tinha os versos nas veias como a caatinga do Sertão. 

Zé Marcolino casou com Maria do Carmo Alves no dia 30 de janeiro de 1951 com quem teve os filhos Maria de Fátima, José Anastácio, Maria Lúcia, José Ubirajara, José Walter, José Paulo e José Itagiba. Zé Paulo e Fátima residem atualmente em Petrolina.

FAMÍLIA MARCOLINO: Recentemente Walter Marcolino, lançou o CD ao vivo  "Pai, Filho e Neto". No trabalho consta participação da Banda Corrupio, Walter Junior, Ruy Grudi e Dany Feitosa. No CD Walter Marcolino "Pai, Filho e Neto", tem a interpretação Socorro Moreninha, Amor Divino, Rolinha Branca, Recordando o Ceará e Lata de Lixo.

Fátima é compositora. Em 1996, numa conversa com o seu irmão, cantor e compositor Bira Marcolino, escreveram a música Siá Filiça.

"Cadê a lenha da fogueira

Siá Filiça

Cadê o milho pra assar

Cadê aquele teu vestidinho de chita

Que tu vestia pra dançar

Cadê aquele sanfoneiro

Que eu pedia pra tocar

A canção da minha terra

Um forró de pé-de-serra

Que eu ajudava a cantar

Quando me lembro disso tudo

Siá Filiça

Me dá vontade de chorar"

A música marcou o período junino porque faz qualquer nordestino lembrar dos simbolismos que marcam essa época: o vestido de chita, o milho, a fogueira, balão e o sanfoneiro. Bira e Fátima jamais imaginariam que ela realmente fosse representar dor em algum momento.

Mas quem é Siá Filiça? Siá vem do termo "sinhá", uma espécie de abreviação. E Filiça vem de Felícia, uma senhora que morava na cidade da Prata, na Paraíba, e que todos gostavam muito de brincar com ela quando eram pequenos. Segundo Bira, ela sempre andava com uma lenha. Certo dia, ele estava com a irmã em Caruaru e pensou em "Siá Filiça", que era como chamavam Felícia, e a irmã disse que dava uma boa música.

Então começaram a escrever. Fátima Marcolino foi a autora da frase: "minha esperança ainda dorme, e eu com pena de acordar", que retrata um pouco a espera e o desejo de que a pandemia do coronavírus passe, e o São João volte a ser como era.

Quando foi escrita, muitos artistas queriam gravar a música. O primeiro foi Ezequias Rodrigues, que gravou com voz e violão. Depois veio Santanna e Adelmário Coelho, da Bahia. Mas foi com O Cantador que a música fez sucesso.

Hoje, Bira tem 62 anos. Para um compositor de forró, deixar o São João morrer seria até um crime. "O São João está na veia da gente, o forró está na veia da gente. Sem São João a gente se sente fora d'água, mas não deixa de ouvir não. Eu fiz meu São João sozinho, no mato", conta.

A música foi a grande emoção da live de Santanna na véspera de São João de 2020. Quem assistiu, certamente se emocionou. Antes de cantar, disse algumas palavras: "vou me despedir de vocês com uma música... eu não vou pedir desculpa por me emocionar, porque é a emoção que move o mundo. A emoção é impressionante. Me despeço de vocês com essa canção, que é a música que melhor representa o São João este ano".

Ao fim, tirou o chapéu. Ali, estava representada a tristeza, mas também a esperança de todos se reencontrarem novamente entre público e palco, forró, xaxado e baião.

"A música foi que me escolheu, me escolheu como intérprete principal dela. Ela faz parte da minha vida. Ela foi eleita a música do São Joã  e o sentimento é muito grande. A gente que é sertanejo, a gente sabe o que significa uma festa junina para nós. Eu fico impressionado como a música Siá Filiça entra na vida das pessoas", relata.

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NASCIDA EM AREIA PARAÍBA, MARIA HELLOYSA BRILHA É CLASSIFICADA PARA FINAL DO THE VOICE KIDS. ELBA RAMALHO ELOGIA TALENTO DAS CRIANÇAS

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Natural de Areia, no Brejo paraibano, Helloysa do pandeiro (Maria Helloysa) brilhou mais uma vez no reality musical da TV Globo e é finalista do programa do próximo domingo (26). 

Nordeste na música, no coração e até no figurino! A participante de Areia, PB, cantou "Aquarela Nordestina" e deixou todo mundo arrepediado. Teló elogiou a apresentação. "A voz dela tem uma força, eu adoro ela, sou fã!".

A cantora Elba Ramalho abriu o coração revelando que é fã de The Voice Kids. "Eu tive uma infância bem focada na música, porque meu pai era músico de orquestra. Ela transitava em todos os cômodos e principalmente nos nossos corações. Era costume da família colocar cadeiras na calçada no final da tarde e fazer serestas", diz.

"O violão estava sempre presente, painho no saxofone. O rádio era ligado já às 6h da manhã para ouvir violeiros e repentistas e a difusora da cidade pequena tocava clássicos de Dalva de Oliveira, Francisco Alves...".

De lá para cá, a cantora teve muitas aventuras justamente por conta dessa influência. Ainda pequena, cantou no coral da igreja; depois trabalhou como atriz; e, já moça, se surpreendeu quando veio para o Rio de Janeiro e descobriu que poderia ganhar dinheiro como cantora.

"Até hoje, eu considero a arte à frente das coisas materiais. À frente de qualquer razão. Ela é muito mais da alma, da emoção, do espiritual", conta como única explicação para tudo acontecer como aconteceu.

Por conta disso, se identifica - mesmo com toda a fama e sucesso - com a trajetória de talentos que estão apenas começando. Fã assumida do reality, ela manda um recado especial para os participantes deste ano.

"Desejo imensamente que esse show continue acontecendo, embalando as nossas tardes de domingo e trazendo gratas revelações. As vozes que vão ser cantadas ali vão ecoar pela eternidade. E a música é isso. A gente passa para outras dimensões e a música vai. Pelo seu poder forte, pelo êxtase que provoca na nossa alma e pela divinização dela mesma em si. A música é algo muito sagrado".

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JOQUINHA GONZAGA GRAVA CLIPE HOMENAGEM MÚSICA ESPELHO DAS ÁGUAS DO ITAMARAGY

"Tanta saudade preservada num velho baú de prata dentro de mim. Digo num velho baú de prata porque prata é a luz do luar. Este baú é como um museu pessoal, o museu que todos temos, feito de lembranças, quinquilharias e reminiscências que alimentam o nosso presente. Como todos os museus pessoais, o da canção tem qualquer coisa que vai além do eu...é futuro”.

Os versos do cantor e compositor Gilberto Gil pode traduzir o sentimento do clipe gravado pelo sobrinho de Luiz Gonzaga e neto de Januário, tocador de 8 Baixos, Joquinha Gonzaga, valorizando o patrimônio de Exu Pernambuco. A música é um universo de riquezas culturais.

O clipe mostra a letra da música Espelho das águas do Itamaragy, composta por Gonzaguinha e Joquinha Gonzaga. No último dia 08 de setembro Exu, Pernambuco, completou 114 anos de Emancipação Política. Exu é privilegiada pela sua diversidade cultural e abraçada pela exuberante beleza da Chapada do Araripe,

Em contato com o BLOG NEY VITAL, Joquinha Gonzaga, disse que apesar das dificuldades que todos os cantores e músicos enfrentam o momento é de otimismo. 

"Resolvi prestar mais esta declaração de amor juntando voz e imagens da nossa Exu, Pernambuco e assim o Brasil conhece nossas riquezas culturais", disse Joquinha

Joquinha Gonzaga completou no dia (01) de abril, 69 anos de nascimento. Ele é neto de Januário e sobrinho de Luiz Gonzaga. João Januário Maciel, o Joquinha Gonzaga é hoje um dos poucos descendentes vivos da família. Dos nove filhos de Santana e Januário, todos eles, ja "partiram para o Sertão da Eternidade". 

Joquinha Gonzaga, nasceu no dia 01 de abril de 1952, filho de Raimunda Januário (Dona Muniz, segunda irmã de Luiz Gonzaga) e João Francisco Maciel. Luiz Gonzaga declarou em público que Joquinha é o seguidor cultural da Família Gonzaga. 

Além de sobrinho do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Joquinha é neto de Januário (tocador de 8 Baixos) e ainda tem como tios o Mestre da Sanfona, Zé Gonzaga, Chiquinha Gonzaga (tocadora de sanfona 8 Baixos) e Severino Januário.

MÚSICA - ESPELHO DAS ÁGUAS DO ITAMARAGY:

Quando Gonzaga chegava no exu

Naquela cadeira abraçava os amigos

Olhando o açude contava histórias

Do espelho das águas do Itamaragy

O sol se deita em cada entardecer

E a lua derrama sua luz de prata

E o verde da mata em volta vem beber

Mulheres, latas, roupas e homens

Meninos, moleques e animais

A vida da minha cidade está toda ali

No espelho das águas do Itamaragy

Meus zamô deixa não, essa história se quebrar

Meus zamô deixa não, esse espelho se quebrar

Deixa não, cuida aí,

Do espelho das águas do Itamaragy

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EDUCADOR PAULO FREIRE 100 ANOS

Há exatamente 100 anos, em 19 de setembro de 1921, nascia no Recife, em Pernambuco, aquele que se tornaria um dos mais notáveis pesquisadores da história da pedagogia mundial: Paulo Freire. Patrono da educação no Brasil, o educador, pedagogo e filósofo é reconhecido mundialmente, mas no país em que nasceu ainda é alvo de resistência e fake news. Mas a sua importância para o debate educacional é inegável. Paulo Freire é o brasileiro mais homenageado no mundo. 

Ele tem 29 títulos de Doutor Honoris Causa dado por universidades da Europa e da América, além de vários outros prêmios, como o Educação pela Paz, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura (Unesco). O educador ainda é o terceiro pensador mais citado do mundo em universidades da área de humanas, de acordo com levantamento da London School of Economics.

De acordo com o professor Ítalo Francisco Curcio, pesquisador no curso de pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor e pós-doutor em educação, a importância de Paulo Freire está no fato de que ele foi o primeiro a pensar em um método educacional voltado para a realidade brasileira. Em 1963, o educador aplicou seu método em Angicos, cidade do interior do Rio Grande do Norte. O projeto conseguiu alfabetizar 300 adultos em apenas 45 dias. "Paulo Freire apresenta um trabalho revolucionário. Ele mostrou que não tínhamos modelos adequados para a nossa realidade", explica Ítalo.

Naquela altura, o Brasil tinha mais de 40% da população totalmente analfabeta. A proposta de Paulo Freire era considerar o conhecimento que aquelas pessoas tinham na hora de ensiná-las a ler e escrever. “Ele propõe um método considerado o conhecimento prévio. A gente usava cartilha de crianças para ensinar adultos. E ele diz que adultos têm que ser tratados como adultos. Com esse método ele acaba socializando a educação”, completa o professor.

O trabalho de Paulo Freire, porém, foi interrompido em 1964 pela ditadura militar, que acreditava que o método poderia incentivar revoltas populares. O educador ficou preso por 72 dias e passou 16 anos em exílio, onde continuou a se dedicar a sua obra. Paulo Freire lançou mais de 30 livros. "Nós não podemos confundir o método dele com a obra. Ele foi muito mais do que o método. Ele foi um filósofo da educação. Ele não agrada a todos, mas nem todos os filósofos agradam a todos. Há de se reconhecer que ele foi um revolucionário da educação e por causa desse sucesso ele ficou conhecido internacionalmente”, destaca Ítalo. 

Segundo o professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Erlando da Silva Rêses, a filosofia de Paulo Freire é estudada no mundo inteiro e admirada. "Ele primeiro observou a realidade, depois ele escreveu a teoria, que foi a Pedagogia do Oprimido. A importância dele está não só no Brasil, mas no mundo inteiro", afirma. 

Maurilane de Souza Biccas, professora de História da Educação na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), lembra que a obra de Paulo Freire é estudada em todo o mundo como base de pesquisas em educação. "Os livros de Paulo Freire foram publicados em quase todo mundo. A Pedagogia do Oprimido, é a obra mais importante, a terceira mais citada em trabalhos de ciências humanas do mundo, foi traduzida e publicada em mais de 20 idiomas. 

A produção teórica e a reflexão sobre sua prática como educador e consultor, inspirou e ainda tem inspirado, inúmeras pesquisas acadêmicas e práticas pedagógicas que são realizadas no Brasil e em vários países do mundo", diz. 

Apesar de todo o reconhecimento dado ao trabalho de Paulo Freire, ele tem sido uma das personalidades mais atacadas pela direita no Brasil. Tachado de comunista, o educador já foi alvo de críticas até do presidente Jair Bolsonaro. Na campanha para a Presidência, Bolsonaro chegou a dizer que para melhorar a educação seria preciso “expurgar a ideologia de Paulo Freire” das escolas. O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub também ameaçou tirar um mural em homenagem ao educador que tem em frente ao MEC. Nessa semana, a Justiça Federal do Rio de Janeiro deferiu liminar que proíbe o governo federal de "praticar qualquer ato institucional atentatório à dignidade intelectual" de Paulo Freire.

Para Ítalo, estes ataques são motivados por dois motivos: o desconhecimento e a natureza libertária da sua filosofia. “Infelizmente algumas camadas da população interpretam errado. Chegam a dizer que Paulo Freire é responsável pelas mazelas da educação. Tem gente que fala mal dele, mas nunca nem leu um livro dele”, lamenta.

O professor destaca que a educação brasileira demorou muito tempo para ter algum incentivo e segue sem investimento adequados até hoje. Isso por si só explica a situação da educação no país e não a filosofia de Paulo Freire. 

“São 200 anos de história e de políticas públicas inadequadas. A gente só começa a ter alguma coisa a partir da Constituição de 1988. Somente em 2001, o Brasil teve o primeiro Plano Nacional de Educação. O problema da educação atual não é Paulo Freire é a ausência de políticas públicas”, enfatiza.

Isso, porém, segundo Erlando, mostra o quanto Paulo Freire incomoda. "Muita gente levanta o nome dele sem conhece-lo e ai a gente vê o tanto que ele esta inserido no imaginário popular, não só na academia. Ele é atacado por conta das ideias referentes a uma educação não só ligada a leitura e escrita, mas com uma discussão sobre conscientização", afirma. 

Maurilane Biccas reflete que esses ataques só mostram o quanto ele incomoda. "Paulo Freire é valorizado no exterior por que é genial. É rejeitado também por ser genial. Se a pedagogia de Paulo Freire foi considerada “perigosa” pela ditadura militar, sua práxis causou muitas polêmicas, taxada de comunista. 

Hoje, a pedagogia do Paulo Freire é considerada por alguns também como “esquerdista”, “comunista”, e que influencia negativamente a educação no país. O governo Bolsonaro vê Paulo Freire como o responsável pela má qualidade pelo ensino publico brasileiro. Ele é chamado de “Doutrinador”, o que ele nunca foi, pois em suas obras podem ser conferidas a importância conferida por ele sobre a curiosidade, o estranhamento e o questionamento em relação ao mundo", esclarece. 

A professora Maria Madalena também avalia da mesma forma. “O grande medo é porque a metodologia esclarece e no capitalismo a classe dominante quer ter todos os lucros e gente que estuda é mais esclarecido”, afirma. “Os pobres que criticam Paulo Freire é por puro desconhecimento. Vão sendo levados pelas fakes news. Nos livros dele só tem coisas boas. Diz que educação exige respeito, diálogo, esperança, liberdade, amor, ser contra ele é ser contra tudo isso”, completa.

ATAQUES: Os ataques são tantos, que ano passado o Instituto Paulo Freire lançou um livro avaliando essa situação. “Essa desconstrução tem um endereço, um propósito: atacar o que ele defendia que era uma escola democrática, popular, emancipadora. O alvo da campanha contra Paulo Freire não é só ele: o alvo é o direito à educação pública”, afirma Moacir Gadotti, presidente de honra do Instituto Paulo Freire no Prefácio do e-book Paulo Freire em Tempos de Fakes News.

25 anos após a morte de Paulo Freire, o Brasil ainda tem 11 milhões de analfabetos, segundo o IBGE, e a educação ainda enfrenta mais um desafio com a crise provocada pela pandemia. De acordo com relatório Education at a Glance 2021, elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e divulgado esta semana, o Brasil é um dos poucos países que não aumentou o investimento em educação durante a pandemia.

 “Os estudantes da EJA não conseguiram nem participar das aulas remotas. Muitos ficaram desempregados e não tinham acesso a internet. O governo economizou com água e luz, poderia ter revertido em planos de internet e cesta básica, mas não fez. Nós investimos tudo que podíamos em cestas básicas para não ver os nossos passando necessidade”, lamenta Maria Madalena.

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VIGILÂNCIA SANITÁRIA: OPERAÇÃO MUNICIPAL FECHA ABATE CLANDESTINO EM PETROLINA

Em uma operação conjunta realizada na última sexta-feira (17), que envolveu a Agência Municipal de Vigilância Sanitária (AMVS), Guarda Civil Municipal e a Polícia Rodoviária Federal, foi desarticulado um grupo que realizava abate clandestino de animais. 

Grande parte dos bichos eram caprinos e ovinos, eles seriam comercializados nas feiras e demais estabelecimentos da cidade. Durante a ação, além da condução dos envolvidos à delegacia, todas as carnes foram apreendidas.

O combate à clandestinidade no abate e comercialização de carne, e demais produtos derivados de animais, tem se intensificado no município e a população tem contribuído para que isso aconteça.

No local foram encontrados cerca de 100 animais já abatidos, que foram identificados através das peles e das carcaças, as vísceras estavam em estado de decomposição, muita sujeira e sangue misturados aos animais mortos. A fiscalização também localizou mais 30 animais em condições de maus-tratos. Durante a operação foi constatado ainda que o grupo estava de posse de carimbos e documentos falsificados.

Para o diretor-presidente da Vigilância Sanitária, Marcelo Gama, a operação além de desarticular a criminalidade, resguardou a saúde pública. "Temos um abatedouro público funcionando 24h em Petrolina para assegurar aos comerciantes abates com segurança, higienização e todos os trâmites legais que asseguram uma carne de qualidade destinada ao consumidor final, que é a população. Prezamos  pela saúde pública da população, com isso, estamos atuantes e vigilantes a estas situações", explicou Gama.

Sobre a operação, o diretor ainda ressalta. "Temos uma parceria com a Guarda Municipal que está junto com a nossa equipe de vigilância nas operações e ações de combate à clandestinidade, em especial de abates. Contamos nesta operação com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, uma vez que esses produtos iriam para outras cidades da região. Reforço mais uma vez, o nosso trabalho é para assegurar que produtos com certificação de qualidade cheguem até o consumidor, isso é saúde pública", acrescentou.

A população pode denunciar através do 153, número da Guarda Civil Municipal, e também do 156, da Ouvidoria Municipal que funciona de segunda a sexta-feira em horário comercial. (Fonte:  Débora Sousa – Assessora de Comunicação da Agência Municipal de Vigilância Sanitária)

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JORGE DU PEIXE LANÇA ÁLBUM BAIÃO GRANFINO EM HOMENAGEM A LUIZ GONZAGA

Curtindo uma espécie de hiato forçado dos shows da Nação Zumbi, Jorge Du Peixe aproveitou esse período para formatar e processar um novo projeto: o álbum “Baião Granfino”, que vai reunir versões das músicas de Luiz Gonzaga, uma das mais importantes figuras da música popular brasileira. O primeiro single, “Rei Bantu”, foi lançado em todas as plataformas de streaming.

Exaltando a obra e o legado do Rei do Baião, o projeto abre espaço para novas propostas sonoras e arranjos criativos enlaçados na interpretação marcante e inconfundível de Du Peixe. Para o cantor e compositor pernambucano é uma honra e um desejo antigo se concretizando: “Faz parte da minha memória afetiva. Quem é do Nordeste cresce ouvindo as melodias de Luiz Gonzaga.”, diz.

O álbum Baião Granfino” tem 11 faixas, com produção de Fábio Pinczowski pelo selo Babel. O single “Rei Bantu” apresenta e dá uma ideia do que esperar do álbum. “Acho essa música muito importante por dois motivos: primeiro por não ter muitas versões conhecidas pelo público, e depois por ligar o maracatu ao baião. No disco ela ganha um peso muito forte, afinal, como diz a letra, Jorge é um dos nossos ‘reis do maracatu.’”, revela o produtor.

“É uma música forte que exalta as nações de maracatu, gênero originalmente pernambucano. É também um grito de resistência e empoderamento”, conta Du Peixe, que convidou os músicos Mestrinho, Carlos Malta, Pupillo e Swami Jr., para participarem da faixa.

A gravação contou ainda com um coro feminino, formado pelas cantoras Victória dos Santos, Naloana Lima e Sthe Araújo, que remete aos clássicos do samba. “O baião está ali presente, ele é universal. Tem esse lamento, melancolia, próximo do samba.”, conclui Du Peixe.

Em texto de apresentação para a imprensa, o canto e compositor Siba escreveu sobra “Rei Bantu”:

- Gatoreba?

- Fala, Du Peixe…

- Escreve aí qualquer coisa sobre uma música que eu gravei, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas? 

- Oxe, claro! Mas que projeto é esse?

- Vai chamar “Baião Granfino”, só versão pesada do Véio Lua. Quem tá produzindo é o Fábio Pinczowski e essa música vai ser o primeiro single.

- Sério? Que música é?

- “Rei Bantu”, tá ligado?

- Conheço demais! E como tá a versão?

- Mermão, tá um maracatu meio amaxixado, tem o Pupillo na batera, Mestrinho na sanfona, Swamy Jr. no violão e Carlos Malta no sopro. Um coro feminino de cair o cabelo da cabeça, depois te passo a ficha completa.

- Pode crer, eu tô ligado nessa música. Fala de herança afro brasileira, de resistência cultural, da cultura popular enquanto espaço de afirmação de dignidade e diferença, né? Quer dizer, é como eu entendo ela hoje, nesse contexto que a gente tá vivendo. Porque antes eu achava que era apenas uma música bonita sobre o maracatu pernambucano. Engraçado como uma música pode mudar com o tempo. Ou será que o que muda é a gente? O nosso jeito de ouvir, ver, entender? Bom, manda a música, eu escrevo sim, me dá uns dias que o bagúi tá zoado, hahaha…

- Ainda bem que tu pode, Gatoreba. Muito obrigado!

- Du Peixe? 

- Fala Gatoreba.

- Porque é mesmo que tu só me chama de Gatoreba?

- Lembra não, véio? A gente em São Paulo em 95, perdido na rua tentando achar a casa de Xico Sá, paramos pra matar a sede e tu não sabia o que era Gatorade. Me viu bebendo e perguntou: "O que diabo é GATOREBA?", haha!

- Lembrei, tô rindo aqui. Pelo jeito é a gente que muda com o tempo, porque o maracatu e a música de Luiz Gonzaga estão aí, iguaizinhos desde sempre, hahaha.

Siba é cantor, compositor e instrumentista pernambucano. Um dos principais representantes do maracatu.

JORGE DU PEIXE: Jorge Du Peixe começou a sua carreira na música em 1993. O cantor e compositor pernambucano é vocalista da Nação Zumbi, uma das bandas mais importantes e revolucionárias da música brasileira. Nascida no início da década de 1990, a banda originalmente se chamava Chico Science e Nação Zumbi e era liderada por Chico Science, cantor, compositor e um dos principais representantes do movimento manguebeat. Depois da morte precoce de Chico, Du Peixe, que já era membro da banda, assumiu os vocais.

Com a Nação Zumbi lançou 13 discos, fez parcerias com diversos artistas e shows em vários países. Algumas de suas músicas entraram em trilhas sonoras de filmes e novelas. O artista também integra outros projetos musicais, como a banda Los Sebosos Postizos, com quem lançou o disco “Los Sebosos Postizos Interpretam Jorge Ben Jor” (Deck), produzido por Mário Caldato Jr., e o grupo Afrobombas, que tem como vocalista, além de Du Peixe, Lula Lira, filha de Chico Science.

Jorge também compõe trilhas para filmes nacionais. Em “Amarelo Manga” (2003), do diretor Cláudio Assis, assinou a trilha com Lúcio Maia. Em 2011, ganhou o prêmio no Festival de Paulínia de melhor trilha sonora pelo filme “Febre do Rato”, de Cláudio Assis. Em 2017, fez a direção musical do espetáculo “Cão Sem Plumas”, da Cia de Dança Deborah Colker, ao lado de Berna Cepas.

 Em 2019, fez a trilha do filme “Piedade”, também de Cláudio Assis, que foi premiada no 13º Los Angeles Brazil Film Festival. Lançou em 2020 o livro juvenil “A Nave Vai”, pela editora Barbatana. Em formato de compacto, a publicação conta com o texto e a narração de Jorge Du Peixe e as ilustrações do artista Rodrigo Visca. Recentemente, fez parcerias com os artistas Marcelo D2, na música “Pela Sombra”, e Edi Rock, na música e clipe “Vai”.

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