LIVE GONZAGUEAR DE QUARTA-FEIRA (30) FAZ HOMENAGEM AOS 91 ANOS DO POETA ZÉ MARCOLINO

O pesquisador e escritor Rafael Lima, autor do livro, “O Rei do Baião e a Princesa do cariri”, onde relata sobre os momentos mais marcantes vividos por Luiz Gonzaga na cidade do Crato, Ceará recebe nesta quarta-feira (30), a compositora Fátima Marcolino, filha do poeta, cantor e compositor José Marcolino.

A live acontece a partir das 19hs e na oportunidade Fátima Marcolino irá mostrar diversas curiosidades sobre a vida e obra de Zé Marcolino.

O São João 2020 e 2021 não foi fácil para nenhum nordestino. Em 1996, Bira Marcolino, compositor paraibano, escrevia junto a irmã, Fátima Marcolino, a música Siá Filiça. Mas o fato é que nenhum dos dois jamais imaginaria que ela representaria com tanta força um mês que jamais significou "vontade de chorar". Na véspera e dia de São Pedro, também haverá mais silêncio. E mais saudade.

Essas e outras histórias Fátima Marcolino conta na live Gonzaguear.

"Cadê a lenha da fogueira

Siá Filiça

Cadê o milho pra assar

Cadê aquele teu vestidinho de chita

Que tu vestia pra dançar

Cadê aquele sanfoneiro

Que eu pedia pra tocar

A canção da minha terra

Um forró de pé-de-serra

Que eu ajudava a cantar

Quando me lembro disso tudo

Siá Filiça

Me dá vontade de chorar"

A música marcou o período junino porque fez qualquer nordestino lembrar dos simbolismos que marcam essa época: o vestido de chita, o milho, a fogueira, balão e o sanfoneiro. Bira e Fátima jamais imaginariam que ela realmente fosse representar dor em algum momento.

Mas quem é Siá Filiça? Siá vem do termo "sinhá", uma espécie de abreviação. E Filiça vem de Felícia, uma senhora que morava na cidade da Prata, na Paraíba, e que todos gostavam muito de brincar com ela quando eram pequenos. Segundo Bira, ela sempre andava com uma lenha. Certo dia, ele estava com a irmã em Caruaru e pensou em "Siá Filiça", que era como chamavam Felícia, e a irmã disse que dava uma boa música.

Então começaram a escrever. Fátima Marcolino foi a autora da frase: "minha esperança ainda dorme, e eu com pena de acordar", que retrata um pouco a espera e o desejo de que a pandemia do coronavírus passe, e o São João volte a ser como era.

Quando foi escrita, muitos artistas queriam gravar a música. O primeiro foi Ezequias Rodrigues, que gravou com voz e violão. Depois veio Santanna e Ademário Coelho, da Bahia. Mas foi com O Cantador que a música fez sucesso.

Hoje, Bira tem 62 anos. Para um compositor de forró, deixar o São João morrer seria até um crime. "O São João está na veia da gente, o forró está na veia da gente. Sem São João a gente se sente fora d'água, mas não deixa de ouvir não. Eu fiz meu São João sozinho, no mato", conta.

A música foi a grande emoção da live de Santanna na véspera de São João. Quem assistiu, certamente se emocionou. Antes de cantar, disse algumas palavras: "vou me despedir de vocês com uma música... eu não vou pedir desculpa por me emocionar, porque é a emoção que move o mundo. A emoção é impressionante. Me despeço de vocês com essa canção, que é a música que melhor representa o São João este ano".

Ao fim, tirou o chapéu. Ali, estava representada a tristeza, mas também a esperança de todos se reencontrarem novamente entre público e palco, forró, xaxado e baião.

"A música foi que me escolheu, me escolheu como intérprete principal dela. Ela faz parte da minha vida. Ela foi eleita a música do São João desse ano, e o sentimento é muito grande. A gente que é sertanejo, a gente sabe o que significa uma festa junina para nós. Eu fico impressionado como a música Siá Filiça entra na vida das pessoas", relata.(Por Dani Fechine, G1 PB)

HISTÓRIA: Zé Marcolino nasceu no dia 28 de junho de 1930. Portante se vivo (fisicamente) fosse, o Poeta completaria hoje 91 anos. No mistério do universo e das Leis da Natureza o poeta é Luz.

Pela sua importância na história da música brasileira, o Poeta Zé Marcolino, merecia mais de atenção das entidades culturais. Detalhe: os responsáveis pelo setor cultural de Juazeiro e Petrolina, em geral a falta de uma Política Cultural que deveria ser matriz de desenvolvimento no Brasil, principalmente no Nordeste,  esqueceram nos últimos anos desde que Zé Marcolino "partiu para o sertão da eternidade" de valorizar os frutos produzidos pelo compositor. Zé Marcolino morou nos anos 70 em Juazeiro, onde foi comerciante. Juazeiro e Petrolina tem uma dívida com a memória de José Marcolino.

No dia 20 de setembro de 1987 a voz de José Marcolino Alves  silenciava por ocasião da morte causada de acidente de carro próximo a São José do Egito, Pernambuco. Em Sumé, na Paraíba, Zé Marcolino Venceu os obstáculos da vida simples e quando teve oportunidade mostrou ao então Rei do Baião Luiz Gonzaga, uma centena de baiões, forró e xotes, sambas de melhor qualidade.

No LP Ô Véio Macho, de 1962, Luiz Gonzaga interpretou as composições de José Marcolino: Sertão de aço, Serrote agudo, Pássaro carão, Matuto Aperriado, A Dança do Nicodemos e No Piancó. Luiz Gonzaga gravou Numa Sala de reboco, considerada uma das mais belas poesias, letras de Zé Marcolino.

A história conta que Zé Marcolino participou da turnê de divulgação do LP Veio Macho, viajando de Sul a Norte do País com Luiz Gonzaga, no entanto, a saudade da família e suas raízes sertanejas foram mais fortes. Depois de um show no Crato, Ceará,  ele tomou um ônibus até Campina Grande e de lá foi para Sumé, de onde fretou um táxi para a Prata, onde morava.

Com o sucesso de suas canções cantadas por vários artistas (Quinteto Violado, Assisão, Genival Lacerda, Ivan Ferraz, Dominguinhos, Fagner, Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Mastruz com Leite e tantos outros nomes da música brasileira), é atualmente Zé Marcolino um dos mais talentosos compositores da música brasileira de todos os tempos.

Somente em 1983, produzido pelos integrantes do Quinteto Violado, Zé Marcolino lançou seu primeiro e único, hoje fora de catálogo, LP Sala de Reboco (pela Chantecler). Um disco que está merecendo uma reedição em CD, assim como também seu único livro, necessita uma reedição. No citado disco Véio Macho, com seis músicas de Marcolino, ele toca gongue. No LP A Triste Partida, Luiz Gonzaga gravou Cacimba Nova, Maribondo, Numa Sala de Reboco e Cantiga de Vem-vem.

Zé Marcolino morou em Juazeiro da Bahia e ficou até 1976, quando foi para Serra Talhada, Pernambuco. Inteligente, bem-humorado, observador,  Zé Marcolino tinha os versos nas veias como a caatinga do Sertão. Zé Marcolino casou com Maria do Carmo Alves no dia 30 de janeiro de 1951 com quem teve os filhos Maria de Fátima, José Anastácio, Maria Lúcia, José Ubirajara, José Walter, José Paulo e José Itagiba. Zé Paulo reside atualmente em Petrolina.

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NO SEMIÁRIDO, CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA DRIBLA BARREIRAS LEGAIS E FAVORECE OCUPAÇÃO DA INTERNET PELAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS

Para se conectar com sua terra natal, no estado do Piauí, o proprietário de um estabelecimento comercial em São Paulo deixa tocando nas dependências do restaurante a Rádio Matões FM, emissora comunitária do município de Pedro II, a 200 km de Teresina (PI). Isto hoje é possível porque a rádio chega ao mundo inteiro através da Internet.

Quem poderia imaginar esta realidade por volta dos anos de 1980, quando diversas emissoras comunitárias começaram a operar no Brasil, especialmente em municípios pequenos? Ao contrário, anos depois, em 1998, quando foi aprovada a Lei nº 9.612, que define como deve funcionar o sistema de radiodifusão comunitária no Brasil, o alcance das emissoras foi limitado ao raio de um quilômetro.

Basta conversar alguns minutos com dirigentes e/ou comunicadores/as populares das emissoras comunitárias ou fazer uma pesquisa rápida sobre o tema para entender as principais críticas históricas à referida lei, a exemplo do alcance e sustentabilidade financeira. 

Além disso, a convergência midiática, hoje, vivenciada na sociedade, não foi prevista na legislação vigente, sendo, portanto, necessário que esta seja revista. Isso é o que defende a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), que, há 23 anos, luta pela mudança da lei, uma vez que a atual “dificulta a sobrevivência das rádios comunitárias, foi uma lei que fizeram pra rádio comunitária não dá certo”, aponta o presidente da Abraço, Geremias dos Santos.

A potência da comunicação radiofônica - Segundo a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), o rádio está presente em quase 90% dos lares do Brasil. “Cada vez que entra um segmento novo em comunicação, a gente imagina, o rádio vai acabar, o rádio vai desaparecer e ele permanece (…), o rádio, ele tá muito presente”, menciona o comunicador popular Antônio José dos Santos Neto, o Neto Santos, diretor de jornalismo da Rádio Matões FM.

Ele cita o aspecto da portabilidade do rádio, que em muitos casos é a companhia para quem está na cozinha, no quintal, na roça. O radialista da Rádio Comunitária Zabelê FM, de Remanso (BA), Alessandro Paes Landim, concorda: “o rádio tá em todo local, toda situação, seja casa, carro, trabalho”. Para ele, ouvir rádio não impede de fazer nenhuma outra coisa e que essa é a grande vantagem deste veículo de comunicação de massa.

Com a popularização da internet, as emissoras comunitárias hoje garantem a transmissão da programação por sites próprios, aplicativos ou plataformas como youtube e facebook. É assim que a integrante da Abraço, Rejane Barros, fala de Arapiraca (AL) para o Brasil e o mundo todo de segunda a sexta, por meio do programa “Fórum Cultural no rádio e nas redes”, transmitido ao vivo pelo Youtube.

Neste novo contexto da comunicação popular e comunitária, a interação do público só aumentou. Além do telefone que, há muitos anos, possibilita a participação dos/das ouvintes, aplicativos como o WhatsApp, comentários durante a transmissão pelas plataformas e o engajamento via redes sociais têm encurtado a distância entre essas rádios e a comunidade. Alessandro relata que a Zabelê FM constatou o aumento de ouvintes em comunidades distantes da cidade, onde o sinal da emissora não chegava, bem como fora do município, o que inclui outros estados e países.

Um serviço que muitas emissoras comunitárias têm prestado à população e à democracia é a transmissão ao vivo das sessões nas Câmaras de Vereadores/as dos municípios, como é o caso da Matões FM. Em muitos municípios, a população não faz ideia do que é discutido no Legislativo, quais os posicionamentos dos vereadores e vereadoras. “Antes da Matões fazer as transmissões, as sessões duravam dez, quinze, vinte minutos, no máximo, ou seja, não discutiam nada. Quando a emissora começou a fazer as transmissões, o mínimo que dura é uma hora”, conta o comunicador.

“As redes sociais vieram fortalecer esse processo todo”, afirma Neto Santos ao citar a diversidade de espaços virtuais hoje ocupados pela Matões FM, o que ocorre também com outras emissoras no Semiárido. Assim, as vozes que antes ficavam reprimidas pela Lei 9.612/98, agora, ecoam do Sertão ao Litoral, do Nordeste ao Sudeste, do Semiárido brasileiro até para outros países, rompem as amarras da legislação vigente e garantem a sobrevivência do rádio.

RÁDIO E PANDEMIA: O período de crescimento da pandemia no Brasil foi propício também para o aumento das fakes news (notícias falsas), o que exigiu das rádios comunitárias de fato, reforçarem o trabalho de combate à desinformação. Neto Santos explica que na Matões FM é feito todo um trabalho com a divulgação de informações oriundas de fontes seguras, apresentação do contraponto, além de campanhas educativas para que as pessoas não reproduzam fakes news.

Em Remanso, esse trabalho também tem sido realizado pela equipe da Zabelê FM e, segundo Alessandro Paes Landim, até mesmo algumas fontes oficiais, como é o caso dos governos, têm transmitido informações duvidosas ou que mudam de um dia para o outro. Os comunicadores relatam a importância da internet, especialmente nesse momento, onde podem contar com a participação de pessoas de diversos lugares, de forma online, para enriquecer os conteúdos.

O período de pandemia foi propício também para as emissoras ocuparem ainda mais o espaço virtual. Na Bahia, a Lei Aldir Blanc, que assegurou auxílio emergencial para artistas por meio de projetos culturais, possibilitou a produção de programas nas comunidades, além de vinhetas educativas, conteúdos que chegam até as/os ouvintes por meio das ondas do rádio e das demais formas de transmissão hoje adotadas pela Zabelê FM, que também demarca seu lugar nas mídias sociais como Instagram e Facebook.

A locutora da Rádio Comunitária “A voz do povo é a voz de Deus”, a alagoana Rejane Barros, após o início da pandemia da Covid-19, ganhou audiência para além de Arapiraca. “Não tem mais como fazer rádio comunitária sem internet”, afirma a comunicadora, que atua na emissora desde os 14 anos.

Dois dias da semana ela realiza o quadro “Abraço Entrevista”, onde recebe, de forma virtual, pessoas de diferentes lugares do Brasil para falar sobre temas diversos. O que antes não era experimentado, agora, mesmo no pós pandemia, fará parte do chamado “novo normal”.

Foi também de 2020 pra cá que a enfermeira Érika Formiga idealizou o Programa Minuto da Saúde, na Rádio Literária Carrapato, na comunidade Carrapato, interior do Crato (CE). Trata-se de um Rádio Poste, com 22 caixas de som transmitindo para mais de 200 pessoas residentes no povoado, além de disponibilizar os conteúdos na Web, que variam de programas ao vivo a podcasts.

A Rádio faz parte de um Ponto de Cultura existente no Carrapato desde 2013, o que reúne também biblioteca e grupo de maracatu. Animada, a profissional da saúde e comunicadora popular relata que o minuto da saúde, hoje, chega a durar mais de duas horas, levando informações diversas aos sábados.

Rádio Comunitária como espaço de formação – “O padre achava que a rádio era um universo masculino e de fato era”, conta Rejane sobre a época em que ela vivia em um orfanato em Arapiraca e começou a se interessar pela comunicação comunitária. Depois de muita insistência, deram a ela um espaço na programação para rezar o terço, “mas eu não queria só rezar, eu queria ler, passar as informações,” revela.

Ela não desistiu e hoje afirma passar mais tempo na rádio do que na própria casa. “Eu me descobri, eu tenho um lugar de fala. (...) a comunicação, e a arte também, foi muito importante, isso me empoderou. A rádio comunitária foi uma ferramenta de transformação na minha vida como um todo,” testemunha a integrante da Abraço.

A reportagem é de Erika Daiane - Ascom ASA-Articulação Semiárido

A cearense Érika Formiga também conta que a comunidade do Carrapato e quem está acessando pela internet os programas, têm tido a oportunidade de discutir vários temas, inclusive aspectos que passam despercebidos nos grandes meios de comunicação. 

Os primeiros programas Minuto da Saúde, por exemplo, provocaram o público a pensar sobre termos que se popularizam na mídia, mas, muitas vezes, não são nem compreendidos pela população, como é o caso de palavras como quarentena, lockdown e outros bastante usados no contexto da pandemia do novo coronavírus. “Lockdown no Ceará, numa linguagem local, é o ‘dendicasa’”, exemplifica Érika, ao explicar que a rádio deve ser um instrumento para facilitar o processo de comunicação, garantindo a contextualização da informação.

A parceria com instituições sociais é uma forma de contribuir com a veiculação de  conteúdo educativo na Zabelê FM, além do que é produzido pelos/as comunicadores/as populares. Alessandro destaca que a rádio divulga materiais produzidos por organizações como a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e abre espaço para sindicatos, pastorais, movimentos sociais, ONG’s que possuem programas na emissora, os quais, inclusive, já possuem um público fidelizado.

Proposições – De acordo com o presidente da Abraço, Geremias Santos, uma reformulação na Lei 9.612/98 deve assegurar financiamento público, flexibilização das possibilidades de publicidade, aumento de potência e criação de mais canais comunitários no rádio, mas até o momento o movimento segue sem respostas.

Na Bahia, tramita na Assembleia Legislativa desde 2017, o Projeto de Lei 22.453, que, se aprovado, “institui a Política Estadual de Incentivo às Rádios Comunitárias do Estado da Bahia e dá outras providências”. De autoria da deputada estadual Neusa Cadore (PT), um dos benefícios para as rádios comunitárias baianas seria a permissão para receber recursos oriundos da verba publicitária dos governos estadual e municipais.

O Brasil hoje conta com 4.700 emissoras comunitárias outorgadas, “sendo que temos cerca de 1.400 municípios brasileiros que ainda não tem uma rádio comunitária, são verdadeiros desertos de notícias. Então, essa é nossa luta, nós gostaríamos que tivesse um governo que agilizasse mais esse processo,” conclui o representante da Abraço.

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PESQUISA ANALISA PLANTA DA CAATINGA QUE PODE SER BOA PARA A MEMÓRIA

A caatinga é um bioma totalmente nacional que representa cerca de 11% do território brasileiro e está presente no Nordeste e no norte de Minas Gerais. Em uma das plantas nativas desse bioma, um grupo de cientistas identificou substâncias medicinais que podem ser boas para a memória.

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Kirley Canuto, que coordena os estudos, conta que foi selecionada uma variedade de açucena [planta herbácea] encontrada em solo cearense, benéfica para várias doenças crônicas. 

O nome científico dessa espécie de planta com flor é Hippeastrum elegans. Na linguagem popular, além de açucena, também é conhecida como lírio, cebola-do-mato, cebola-berrante e flor-da-imperatriz. As mudas de açucena foram colhidas nas cidades de Pacatuba, que faz parte da Grande Fortaleza, e em Moraújo, a cerca de trezentos quilômetros da capital cearense.

Depois disso, foram cultivadas em canteiros da Embrapa. O pesquisador Kirley Canuto disse que estão sendo realizados testes farmacológicos e testes pré-clínicos.

O grupo pretende seguir com as análises para avaliar o desenvolvimento de novos fármacos que podem custar menos para o consumidor.

A pesquisa teve início em 2016 e contou com uma equipe multidisciplinar de 20 profissionais da Embrapa Agroindústria Tropical e das universidades Estadual e Federal do Ceará, além de estudantes universitários. 

Kirley Canuto disse, ainda, que "mudas de açucena estão sendo analisadas em testes pré-clínicos em roedores para avaliar os efeitos sobre a perda de memória."

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PROFESSOR JUAZEIRENSE MANTÉM VIVA A MEMÓRIA DA VIDA E OBRA DE RAUL SEIXAS

Raul Seixas faria 76 anos nesta segunda-feira, dia 28. E, mesmo que o cantor tenha morrido em 1989, as músicas dele ainda continuam fazendo sucesso.

Em Juazeiro, Bahia, Jonivaldo Fernandes de Souza, 63 anos,  conhecido por professor Vado, graduado em Geografia e Filosofia, é um pesquisador que mantém a vida e obra, memória e história musical de Raul Seixas vivas.

Atualmente ministrando aulas na Escola Estadual Chico Mendes no Assentamento Vale da Conquista (CETEP), localizado em Sobradinho, Bahia o professor Vado, é um colecionador e aponta que "são 10.076 anos do nascimento do Maluco Beleza".

"Sobre a obra de Raul Seixas desde os  15 anos de idade que acompanho a trajetória musical dele. Só que tem um porém há 35 anos que faço pesquisas e estudo a referida obra, mas no dia 21 de agosto de 1989, dia em que Raul Seixas pegou o seu disco voador e foi para o outro planeta, nós os simpatizantes do Raulzito criamos o Movimento RaulSeixista  de Juazeiro da Bahia", diz Vado, acrescentando que a idade de nascimento do ídolo Raul Seixas, coincide com a data de nascimento da filha dele, a caçula Ivis Lourenço.

Recentemente, os fãs compartilharam o hit O Dia Em Que A Terra Parou, destacando que a letra de 1977 tem tudo a ver com o atual momento de isolamento social provocado pela crise sanitária da pandemia da Covid 19. 
Raul Seixas nasceu em Salvador (Bahia), no dia 28 de junho de 1945. Foi o mais perspicaz observador moderno da sociedade brasileira. Mais do que qualquer outro artista, tornou-se a referência  e a essência do rock brasileiro. Em 1959, Raul Seixas fundou o Elvis Rock Club com o amigo Waldir Serrão. E, mesmo famoso, Raul continuou mostrando admiração pelo ídolo americano.

Na adolescência, Raul integrou a banda Os Relâmpagos do Rock que, posteriormente, foi batizada como The Panthers. O disco de estreia do cantor foi Raulzito e os Panteras (1968). O trabalho veio antes da carreira solo, quando ele ainda integrava o grupo Raulzito e os Panteras.

Com uma base filosófica muito forte, base essa que seria utilizada em suas letras visionárias e reflexivas, Raul Seixas, ao revelar suas influências, já começa cita um paraibano, o poeta Augusto dos Anjos: “Minha infância foi formada por, vamos dizer, um pessimismo incrível, de Augusto dos Anjos, de Kafka e Schopenhauer”, disse em entrevista ao Pasquim, na época jornal referência.

Antes de se tornar o maior nome do rock nacional de todos os tempos, Raul Seixas trabalhou como produtor em algumas gravadoras e na época, mesmo tendo apostado em grandes nomes populares, como Diana, Odair José, Jerry Adriani e outros, não deixou de pensar no conceito que pretendia usar em sua música. 

Neste “conceito”, um nome era fundamental para Raul Seixas: o do paraibano Jackson do Pandeiro, Mestre do Ritmo,  um de seus ídolos. Ao saber que Jackson do Pandeiro estava nos estúdios do Rio de Janeiro, Raul foi até ele e o convidou, e ao seu conjunto Borborema para participar da gravação de “Let me sing, let me sing”, música defendida pelo cantor baiano no VII Festival Internacional da Canção, em 1972.

Durante a década de 1970, Raul Seixas se uniu ao talento de Paulo Coelho, que hoje é mais conhecido mundialmente como escritor. A dupla compôs clássicos como Gita, Tente Outra Vez e Eu Nasci há Dez Mil Anos Atrás.

Em 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho criaram a Sociedade Alternativa. A ideia foi baseada nos preceitos do ocultista britânico Aleister Crowley, praticamente repetindo o chamado Livro da Lei. "Faça o que tu queres, pois é tudo da lei", diz um trecho da letra do hit Sociedade Alternativa, de Raul e Paulo.

A Panela do Diabo foi o último álbum de estúdio de Raul. Gravado ao lado do cantor Marcelo Nova, o disco foi lançado em 1989 e traz os hits Carpinteiro do Universo e Pastor João e a Igreja Invisível.

Raul foi encontrado morto em 1989, vítima de uma pancreatite aguda causada pelo alcoolismo. Ele tinha 44 anos.

Em 2019, o jornalista Jotabê Medeiros lançou o livro “Raul Seixas. Não Diga Que A Canção Está Perdida”, o crítico musical relata a como Raulzito, o garoto classe média de Salvador e fã de Elvis Presley, se transformou em Raul Seixas, um dos maiores ícones da cultura pop brasileira.

Jotabê Medeiros  descreve como o jovem sonhador, depois de “passar fome por dois anos na cidade maravilhosa, conquistou as gravadoras e o grande público? E como o responsável por versos que se confundem com a contracultura dos anos 1970 foi derrotado pelas drogas e pelo alcoolismo na década seguinte, mas sem deixar de produzir hits inesquecíveis. 

O “maluco beleza” Raul Seixas não é apenas uma das maiores referências da música brasileira e o maior nome do rock nacional, tendo antecipado a fusão do rock´n´roll com os ritmos nordestinos dezenas de anos antes do surgimento do Movimento Mangue Beat. Também é autor de hits clássicos, como “Ouro de tolo”, de parcerias memoráveis e polêmicas, como a com Paulo Coelho, e compositor de diversos sucessos que ainda hoje fazem a cabeça dos apaixonados pela música brega. 

O livro “Raul Seixas: Não diga que a canção está perdida” (Todavia, 2019), de Jotabê Medeiros, narra toda essa trajetória do criador da “Sociedade Alternativa”.
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PIAUÍ É UM DOS MAIORES PRODUTORES DE MEL DE ABELHA NO BRASIL

No primeiro bimestre de 2021, o Piauí comercializou 2.285 toneladas de mel,  arrecadando pouco mais de US$ 9,8 milhões. Um crescimento de 112,4% das exportações do mel brasileiro comparado com o mesmo período do ano passado.

O volume representa 31,7% do total do mel exportado do Brasil. Os dados são da a Agrotast (ferramenta que reúne números de exportação e importação de produtos agropecuários ) e confirmados pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-PI).

Em 2020, o Estado foi observado como o segundo maior produtor de mel do país, ficando atrás apenas de Santa Catarina e os Estados Unidos continua sendo o principal destino para o mel piauiense, com 70% do volume exportado. Em seguida, estão a Alemanha, Canadá, Países Baixos, Reino Unido e Panamá.

Os municípios piauienses que mais produzem mel são Picos, Pio IX, Itainópolis e Campo Grande do Piauí.

O Superintendente Francisco das Chagas Ribeiro, coordenador do Projeto Viva o Semiárido no Piauí (PVSA), executado por meio de parceria entre o Governo do Estado e o Fundo Interamericano de Desenvolvimento Rural (FIDA), explica que este crescimento, principalmente da comercialização, acontece sempre no primeiro semestre do ano, no período das chuvas, quando a floradas estão mais intensas no semiárido.

“Produção e exportação também se destacam e este ano  a produção está bem consolidada, aumentou consideravelmente e pode ser que continue até o fim do ano”, diz Francisco das Chagas.

Para o gestor, a conquista do Piauí do primeiro lugar em exportação do produto em nível nacional tem grande  contribuição da Secretaria de Agricultura Familiar e dos agricultores familiares que são acompanhados pela SAF.

Segundo Ribeiro, só pelo PVSA foram executados 40 projetos de apicultura e investidos 12,5 milhões de reais na região do semiárido;  foram realizados  8 cursos de apicultura para jovens e formação com apoio da Secretaria do Trabalho (SETRE), bem como  realizados cursos de aperfeiçoamento  para apicultores tradicionais. Também foram construídas ou  reformadas 39 casas de mel que facilitam a entrega para entrepostos de grande porte como a Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (COMAPI), em Simplício Mendes  e Casa Apis em Picos, que representam mais de 50% do mel do Piauí. A maioria é orgânico, certificado e com exportação para Europa e EUA.

O Coordenador do Projeto Viva o Semiárido cita como exemplo um beneficiário da comunidade Morro de Dentro, que recebeu do PVSA, caixas, casa de mel e equipamentos de produção. Na comunidade já havia apicultura, com uma produção média de 3,3 toneladas por ano e em 2020 a produção aumentou para 20 toneladas, a partir das ações do PVSA foram introduzidas novas caixas, aumentando o número de colmeias e técnicas de manejo  aumentando a produtividade.

No norte do Estado, a apicultura tem crescido bastante, com destaque para a Codevarpi, do Vale do rio Piracuruca, Associação de Apicultores, de Domingos Mourão e Apicam, de Campo Maior, os três  têm projetos de apicultura pelo Progere ( Programa de Geração de Emprego e Renda) executado pela SAF.

“Estamos comemorando e parabenizando todos os  apicultores e a expectativa é que possamos manter esta liderança no segundo semestre, contribuindo para o aumento da  produção e consumo deste alimento saudável que é o mel e que cresceu durante a pandemia pelas suas características nutritivas, já que é bom para fortalecer o sistema imunológico e respiratório e é um antibiótico natural”.

O mel também  tem seu valor nutritivo, pois contém açucares como a frutose, levulose , sem a sacarose, considerado um açúcar mais nocivo à saúde. O produto que é rico em vitaminas e sais minerais, teve aumento no seu consumo no mundo no inteiro, inclusive, no Brasil, mesmo que em menor proporção, isso fez com que o preço do mel elevasse no mercado e ajudou a favorecer a venda e com dólar em alta, a maioria vende por R$15 reais o quilograma. “A maioria fazendo um excelente negócio na comercialização do seu mel”, concluiu Ribeiro.


Na análise do gerente de vendas da COMAPI, Antônio Carlos, o clima e as quantidade de chuvas foram fatores diferenciados e que ocasionaram uma safra incomum na  região. De outubro a dezembro, a Comapi chegou a receber quase 100 toneladas de mel, número considerado muito alto para este período, inclusive, antecipando a safra de 2020.

Os município de Simplício Mendes, São João e São Raimundo Nonato têm uma produção muito forte de mel e  empresas do sul e do sudeste do país sempre compram na região. “Mas este resultado é porque este mel começou a ficar mais no Piauí e a ser exportado pelo Estado pela Comapi, Casa Apis, Wenzel em Picos e Samuel de Oeiras. Outro fato importante, segundo o gerente da Comapi, são parcerias que apoiam as associações e cooperativas, como o Sebrae e o Estado por meio da SAF/PVSA.

José Manoel Oliveira, coordenador do PVSA do Território do Vale do Guaribas, além de citar a melhoria das condições climáticas, frisa que o destaque do Piauí é fruto de um trabalho organizado coordenado pela Secretaria de Agricultura familiar, com apoio do Emater, Sebrae e Câmaras Setoriais e da grande contribuição  dos agricultores e agricultoras familiares. “Através das suas associações de pequenos produtores e produtoras e de apicultores e apicultoras têm feito um excelente trabalho como a Cooperativa de Simplício Mendes e a Casa Apis.

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O PAÍS TEM CAPACIDADE DE PRODUZIR E ALIMENTAR. NINGUÉM PRECISA PASSAR FOME NO BRASIL, AFIRMA ENGENHEIRA AGRÔNOMA CANDIDA BEATRIZ

Dá para perceber a animação da Natalina dos Santos de longe. Ela chega sorrindo, com um turbante vermelho combinando com a blusa. Natalina podia ter esperado em casa pelos alimentos entregues à população da pequena cidade localizada no sertão do Rio São Francisco.

Por ela morar em uma comunidade ribeirinha, distante do centro de Pilão Arcado (BA), os alimentos do PAA são enviados pela prefeitura até sua casa. Mas como Natalina estava ansiosa, acabou encontrando os funcionários da prefeitura na casa da vizinha. “Eu moro ali, minha filha, naquele barraquinho, você bota aí que moro sozinha, só eu e Deus”, diz Natalina.

PAA é a sigla para Programa de Aquisição de Alimentos, um programa criado em 2003, no qual o governo compra alimentos de agricultura familiar local e os entrega às pessoas em situação de insegurança alimentar.

Natalina é uma das 116,8 milhões de pessoas no Brasil que convivem com algum grau de insegurança alimentar. A falta de disponibilidade e o acesso aos alimentos atingiu em 2020, segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil, metade da população brasileira (55,2%). Desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave) e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome (insegurança alimentar grave).

A pesquisa, realizada em dezembro de 2020, mostrou que pessoas como Natalina - mulheres, negras, entre 50 a 64 anos, sem escolaridade, moradoras das regiões Norte e Nordeste do país e da área rural - têm mais chance de terem insegurança alimentar grave.

No Norte, 18,1% da população passa por essa situação e no Nordeste, 13,8%. Comparando com o Sul e Sudeste, as regiões Norte e Nordeste tiveram o triplo e o dobro de número de domicílios expostos à insegurança alimentar grave respectivamente.

A precarização das relações de trabalho e o aumento do desemprego também colaboram para o aumento da fome. A fome no país foi quatro vezes superior entre as pessoas com trabalho informal e seis vezes superior entre as pessoas desempregadas.

O momento emergencial fez com que mais de 800 organizações da sociedade civil apresentassem ao Governo Federal uma proposta para o fortalecimento do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O governo respondeu à pressão social e liberou R$ 500 milhões para o PAA emergencial.

O agricultor Joelson Nascimento, 28, ficou sabendo que o PAA emergencial estava liberado para Pilão Arcado um dia antes de fechar o prazo de inscrição no programa. "Falaram que não tinham agricultores cadastrados e que não tinham produtos [no município]'', disse Joelson.

Por ser técnico agrícola e integrante da Associação de Técnicos em Agropecuária e Apoiadores da Agricultura da Bahia, ele estranhou a informação que deixaria a cidade baiana de fora do PAA. Afinal, o que não falta na cidade são agricultores. Pilão Arcado tem 35 mil habitantes. Aproximadamente 80% da população vive na área rural e cerca de 70% dos moradores da área rural vivem da agricultura. Apesar disso, o município tem um índice alto de insegurança alimentar. Joelson garantia: usando a produção local para alimentar quem tinha fome, daria para atender a cidade e ainda sobrava. Parecia só uma questão de falta de comunicação, então, ele mesmo resolveu o problema:

''Tive que cadastrar 21 agricultores em 24 horas. Peguei todo o processo, me responsabilizei, fiquei por minha conta'', diz Joelson.

Feito o cadastro dos agricultores, foram disponibilizados R$ 90 mil para o PAA, no município, para serem gastos entre janeiro e junho de 2021. Mas como é a primeira vez do programa em Pilão Arcado, esse processo não foi tão simples, explicou Sineide Soares, 35, assistente social da prefeitura há 11 anos. A primeira compra acabou sendo realizada só em abril e 120 pessoas foram beneficiadas.

Em abril deste ano, na primeira etapa do PAA, em Pilão Arcado, foram distribuídos 1,5 tonelada de alimentos. Para que o dinheiro do programa, destinado ao município baiano, fosse usado completamente até junho, seria preciso comprar aproximadamente 19 toneladas de alimentos dos agricultores na segunda etapa realizada na última semana de maio.

Como era o dia anterior da coleta com os agricultores, o celular da professora universitária e engenheira agrônoma Cândida Lima, 34, não parava de tocar. Ela fazia o levantamento de alimentos produzidos torcendo para chegar ao maior número possível para conseguir utilizar todo o valor obtido.

 '' [Na primeira etapa], eu pensei: 'gente, não acredito, eu tô vivendo um sonho, para tudo, o que é isso?'. A gente de fato se surpreendeu com o quanto os agricultores se dedicaram nesse processo, o quanto eles estão preparados para uma demanda muito maior. A gente limitou porque a gente tinha receio na questão da verba que tinha disponível, mas isso foi uma falta de experiência da gente'.

Rosinaldo Viana, 39, é um dos agricultores que fez a venda de alimentos para o PAA de Pilão Arcado. Quando ele tinha cinco anos, a família mudou para São Paulo para tentar uma vida melhor. "Fomos como retirantes. Meu pai participou de uma invasão e pegamos um lote. Era favela mesmo, em Diadema. Não fomos felizes, sofria muito bullying, 'paraíba, nordestino', essas coisas."

Em São Paulo, Rosinaldo trabalhou na indústria metalúrgica por 12 anos, "mas teve uma hora que eu falei: 'tenho que retornar'. Lá em São Paulo a gente está dentro da gaiola, aqui tinha liberdade."

Quando voltou para Pilão Arcado, em 2011, o agricultor desenvolveu um sistema de captação de água para conseguir produzir alimentos durante o ano todo. 

"Eu via o sofrimento da minha mãe com a bacia na cabeça.". Poucos agricultores em Pilão Arcado conseguem captar a água de um poço para a produção. A maioria produz em estruturas sazonais, em uma época do ano específica — de novembro a abril — conhecido por eles como inverno por ser o período da chuva. Pelo principal bioma de Pilão Arcado ser a caatinga, o município do semiárido nordestino é afetado por secas extremas e períodos de estiagem.

Rosinaldo acredita que o levantamento de alimentos feito pelo PAA foi importante para mostrar para a prefeitura a força dos agricultores de Pilão Arcado.

A maioria dos produtos [alimentos consumidos no município] vem de Juazeiro, Petrolina, mas poderia vir daqui. A secretaria de agricultura poderia mobilizar e fazer um mapeamento, quem são esses produtores? O primeiro ano do programa é esse, agora cabe ao poder público continuar e botar ele pra funcionar, não só o PAA, mas fazer um espaço pro próprio pessoal da cidade tá comprando dos produtores daqui também.

Os produtos dos agricultores inscritos no PAA são levados pela prefeitura para o Ginásio de Esporte no mesmo dia. Lá, a equipe da assistência social organiza as filas para distribuição.

Luciana Lino dos Santos, 40, aguarda a sua vez na fila com duas amigas. Ela trabalha na limpeza do Mercado Municipal de Pilão Arcado e mora próximo ao centro do município com seus dois filhos e uma amiga.

"É caro pra gente comprar esses alimentos. Quando eu recebo [meu salário], eu compro o que precisa para uma alimentação saudável pras crianças. Aí, na semana seguinte, a gente já não tem [dinheiro]. O pagamento só sai dia 10, então daqui [27 de maio] até lá [10 de junho], eu como o mínimo possível".

Evitar situações extremas como a de Luciana é a meta do PAA. Foram 480 famílias que receberam os alimentos da agricultura familiar na segunda entrega do PAA emergencial em Pilão Arcado. Quando a distribuição para as famílias é finalizada, Cândida e Sineide se reúnem para fazer a checagem da quantidade dos alimentos distribuídos.

Nas duas compras, feitas em abril e maio, foram 12 toneladas de alimentos distribuídos e foi gasto a metade do valor disponibilizado para Pilão Arcado, R$ 45.810,66 -- o que preocupava Cândida e Sineide.

Mas Rose Pondé -- a Superintendente de Inclusão e Segurança Alimentar da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos da Bahia --, informou que o prazo do PAA foi prorrogado. Pilão Arcado e outros municípios que não concluíram as compras do PAA emergencial estão autorizados a finalizar a compra até novembro.

"Produção a gente tem, trabalhador rural a gente tem, esse projeto é um empurrão para que a gente consiga chegar nessa meta, para que a agricultura familiar do município não seja um paliativo, para que ela seja a sustentação", diz Cândida Lima. O programa serviu para mostrar à cidade a força de seus produtores rurais. E ele deve continuar:

"A gente está finalizando o PAA emergencial, mas trabalhamos para a implementação do PAA contínuo. Eu acredito que o PAA contínuo vai trazer a possibilidade de trabalho para 1.000 agricultores, essa é minha perspectiva a longo prazo", diz Cândida.

Rose Pondé explicou que por Pilão Arcado ter um nível alto de insegurança alimentar, a perspectiva é dar continuidade ao PAA no município: "A gente vai manter no nosso cadastro como um município que necessita ter a continuidade do PAA, aí vai depender muito da liberação do orçamento para o ministério supervisor, que é o Ministério da Cidadania".

A superintendente acredita que o PAA é fundamental para reduzir a fome no Brasil: "É onde conseguimos chegar com alimento mais rápido, de forma mais justa, mais sustentável e mais adequada à realidade de cada região".

Cândida lembra que Pilão Arcado é só um exemplo do que poderia acontecer no país todo. "Em alguns municípios, o PAA não foi implementado antes porque a administração municipal simplesmente não se interessou. O nosso país tem capacidade de produzir e alimentar gente sem precisar de outros lugares. Ninguém precisa passar fome no Brasil"

GABRIELE ROZA (DATA_LABE). Foto: Clara Castel. Essa reportagem faz parte da série de publicações produzidas como resultado do programa Laboratório de Jornalismo de Soluções, da Fundação Gabo e da Solutions Journalism Network, com o apoio da Tinker Foundation, instituições que promovem o jornalismo de soluções na América Latina.

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O ROSTO DE LUIZ GONZAGA EM SEU BUSTO ENCOBERTO POR UMA MÁSCARA, PARECE VERTER LÁGRIMAS, ESCREVE JORNALISTA MAGNO MARTINS

Rumo ao Sertão, dei uma entradinha, há pouco, em Caruaru. Saí de coração dilacerado. Em pleno São João, festa curtida por milhares de turistas, bati de frente com um cenário de cidade fantasma. Comércio fechado, ruas desertas. O rosto de Luiz Gonzaga em seu busto encoberto por uma máscara, parecia verter lágrimas. A única lembrança do dia junino, antes fervilhante, estava nas estações de rádio tocando forrós saudosos.

Minha alma sentiu a profunda dor do trauma, da minha tristeza. Também pudera, fui presença assídua, todos os anos, no São João de Caruaru, uma das minhas cidades paixões. Sou, com orgulho e vaidade, Cidadão Honorário da terra de Vitalino. 

Bateu uma saudade da alegria contagiante de Caruaru, da sua gente hospitaleira quando se abre a cortina dos 30 dias de festejos juninos. O São João está para Caruaru como o Carnaval para o sobe e desce das ladeiras de Olinda. Saudade de cruzar com aquela multidão saltitante no Pátio do Forró, do barulho de todos os ritmos que saiam dos principais palcos ou até mesmo do forró pé de serra numa simples barraquinha.

A pandemia jogou uma nuvem de tristeza no País de Caruaru, vestiu o colorido das bandeirinhas do preto enlutado. Que Deus compreenda a nossa súplica, mas Caruaru não pode prescindir do seu São João. Tira a alma da cidade, o meio de vida de muita gente. Adormece a alegria, mata a razão de muita gente esperar o ano inteiro pelo 23 de junho.

Nunca imaginei que viesse um dia, em pleno São João, compartilhar tristeza com minha gente de Caruaru quando vivi alegria a vida inteira. Uma cidade que viveu a alegria da sua grande festa, por tantos e tantos anos, nunca reconhecerá a tristeza. 

Sai de Caruaru com o sentimento de que, se meus olhos mostrassem a minha alma, neste momento todos, ao me verem sorrir, chorariam comigo.

*Jornalista Magno Martins

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