FESTIVAL CULTURAL DA FESTA DO PAU DA BANDEIRA DE SANTO ANTONIO DE BARBALHA É CANCELADO

O Governo Municipal de Barbalha anunciou o cancelamento do Festival Cultural da Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio: Salvaguarda das Tradições. O evento seria realizado de forma remota, em cumprimento aos decretos municipal e estadual de prevenção ao coronavírus. Porém, a Secretaria de Cultura e Turismo, em cumprimento à recomendação do Comitê de Enfrentamento à covid-19 no município, cancelou a realização das lives.

O evento seria realizado no período de treze dias com término no dia 13 de junho de 2021, dia do padroeiro do município. Além de manter vivas as tradições regionais, o objetivo era contemplar os artistas da terra, que se apresentariam de forma online.

O prefeito municipal, Guilherme Saraiva, explicou que muitos artistas e mestres da cultura são idosos ou pertencem aos grupos de risco ao coronavírus. “Mesmo sendo um evento online, restrito a poucas pessoas, eles estariam expostos. Consultamos o Núcleo de Epidemiologia e a Vigilância Sanitária e não foi recomendado proceder com a festa. Em todo o ano de 2020 morreram 66 barbalhenses, em maio deste ano já foram mais de 30. Praticamente a metade do ano passado em menos de um mês. É por isso que estamos endurecendo as medidas de restrição”.

O 1º Festival Cultural da Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio: Salvaguarda das Tradições recebeu 115 inscrições deferidas, de artistas, bandas de músicas, grupos de tradição popular, artes cênicas, entre outros. É a única manifestação cultural do estado do Ceará reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio imaterial da cultura brasileira.

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MÚSICA E MEIO AMBIENTE: DEMIS SANTANA E O CHICO RIO

 Nascido em São Paulo-SP, de meados para o final da década de 70, Ademir Santana Silva que; em 1982 viria a se tornar *Demis Santana* por obra, graça e honra de colegas de sala no Colégio Estadual Lomanto Júnior em Juazeiro da Bahia; onde impactado pelo Rio São Francisco, penitentes, Rodas de São Gonçalo, samba de véi, carnaval de batucadas e de trios elétricos, corridas de argolinha, festejos de Cosme e Damião, se descobriu poeta com inclinações para ator e escritor de peças teatrais.

" Foi em Petrolina-PE, no Colégio Dom Bosco, a primeira oficina de teatro, facilitada por Edvaldo Franciolli, com montagem de Medéia de Eurípedes ao final_ ".

Em 1985, estimulado pelo irmão jornalista Zé Carlos Santana, matriculou-se no Sesc Poço de Maceió-AL, e tornou-se ator da Companhia Tespes de Teatro, depois do Grupo Ars Cênico e muitos outros que obedeciam a batuta do diretor de teatro Mauro Braga.

De volta a Juazeiro-Ba em 95, interessou-se por literatura de cordel, aprendeu, pôs em prática e até ensinou a milenar arte da rima metrificada. Já Cordelista reconhecido, se apercebeu compositor, e foi buscar parceiros músicos para amalgamar letras e melodias. Fundou a Companhia Curaçálica de Artes Livres e também se fez integrante Compositor e cantor da Banda de Rock Bichos Escrotos em Curaçá-BA, além da Banda Sendero Luminoso, na UNEB de Juazeiro-BA.

Em 2005, de volta a Maceió, compôs cocos (sincopados), que se diferiam dos costumazes, por quase sempre fala do sertão. Com o coco, o cordel e o teatro foi a Brasília, a São Paulo, ao Rio de Janeiro, a Sergipe, A Recife, a Olinda, ao interior do Ceará (Varjota, Barbalha). Avançou do coco para o maracatu, e passou a ser compositor oficial do Coletivo AfroCaeté. Formou o grupo musical Arca da Cultura Alagoana, que trocou de nome para Arca da Cultura Popular; fundou também o Grupo Musical e Teatral Órfãos do Cangaço, trabalhando com nomes como: Arnaud Borges, Gama Junior, Kaw Lima, Jaques Setton, Wilson Santos, Ykson Nascimento.

Subiu em palcos de eventos das Secretárias municipal e estadual de Maceió e de Alagoas.

Classificou poesia no concurso literário de Sesc Guaxuma (Maceió), música, poesia e teatro no Salão de Artes da UNEB (Juazeiro-BA), música no festival da canção do Sesc Cariri (Juazeiro do Norte-CE), música no Festival Edésio Santos da Canção (Juazeiro-BA), teatro no Festival Loucos em Cena (Barbalha-CE), poesia no projeto: Sarau no Bosque (Uauá, Curaçá e Juazeiro-BA), coco no "De Repente Rap" (Juazeiro - BA) e música no Polo carnavalesco Luiz Galvão - 2019 (Juazeiro-BA). Integra, produz e dirige o Coletivo Cultural Galeota das Artes do São Francisco ( Curaçá-BA), foi gerente de eventos da Fundação Cultural de (Juazeiro-BA, 2001) e representou Jesus, no espetáculo: "Jesus o Filho do Homem", dirigido por Wellington Moteclaro (Juazeiro-Ba, 2001).

*CHICO RIO* 

Esse rio que aqui passa

É a entrada e a saída

Se ele seca, eu seco junto

O Velo Chico é a nossa vida.

Vejam a mata ciliar

Já por demais devastada

Onde íamos brincar e pescar 

Na nossa infância passada.

Pra onde irão tantas Iaras?

O que será do Nego D'água,

quando sumirem as águas claras

E este leito virar estrada.

Sem o namoro no cais

Do menino com a menina

Não vão ficar triste demais

Penedo e Petrolina?

Ao sumirem os lavradores, as lavadeiras, os ribeirinhos, e a lua cheia refletida no refúgio dos sozinhos.

De onde nós beberemos água fresca, poesia?

De onde vates e cantadores vão captar melodias?

Leva correnteza este possível tormento 

De que falte em nossa mesa

Lazer, água e alimento.

Leva correnteza este possível tormento 

De que falte em nossa mesa

Lazer, água e alimento.

De onde nós beberemos água fresca poesia?

De onde vates e cantadores vão captar melodias?

De onde nós beberemos água fresca poesia?

De onde vates e cantadores vão captar melodias?

Rio São Francisco, Velho Chico. Chico Rio.

 *Chico Rio* (Demis Santana)

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ESPECIALISTAS DEBATEM SOBRE DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA

O superintendente de Políticas e Planejamento Ambiental da Sema, Claudemir Nonato afirma que o combate à desertificação é um debate que precisa envolver a comunidade científica, sociedade civil e governos para que, de forma conjunta, possam atuar na busca de soluções assertivas e viáveis que possam ser implementadas pelos órgãos públicos.

 "Vamos ampliar o diálogo com vistas à integração de políticas e ações realizadas pela administração pública e sociedade civil. A nossa proposta é criar estratégias sustentáveis para promoção de um desenvolvimento limpo, com equidade, sustentabilidade e respeito ao meio ambiente”.

A professora Jocimara Lobao, coordenadora do Programa de Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente, desmitificou que a desertificação do semiárido seja algo natural. 

“A desertificação do semiárido não está diretamente relacionada apenas às mudanças climáticas, ela atua, sim nesse processo, mas o que causa a desertificação é a forma como a sociedade se apropria dessa natureza e desse espaço que é tão frágil”, explicou Jocimara. 

“Podemos elencar uma série de problemas conectados com a compactação do solo, entre eles, a perda de nutrientes, perda de biodiversidade e o impacto no ciclo da água. O resultado disso é um colapso ambiental, seja localizado, e depois vai-se expandindo, ou pode acontecer um colapso em uma escala muito maior”, explicou o ambientalista Virgílio Machado.

Ainda segundo Virgílio, os maiores biomas brasileiros estão em risco de desertificação (dados do INPE). 

“Os biomas mais desmatados do Brasil são os biomas que em grande parte compõem a Bahia. A Mata Atlântica, lar de 72% dos brasileiros, tem 88% de sua área desmatada; o Cerrado, berço das águas, tem 51% de sua área desmatada, restando 20% de vegetação nativa; a Caatinga, onde a Bahia tem um maior número de municípios, tem 45% da sua área desmatada. O Nordeste é a região do Brasil mais vulnerável às mudanças do clima”, explicou Virgílio. 

Em 2018, foi realizada uma pesquisa desenvolvida na Unicamp revelando que o Estado da Bahia vem apresentando aumento no índice de aridez e diminuição de chuvas. Os estudos indicam que a tendência é que a situação se agrave nos próximos 30 anos, provocando um aumento das áreas com risco de desertificação na região. As conclusões são da tese de doutorado “Áreas de risco de desertificação: cenários atuais e futuros, frente às mudanças climáticas”, defendida por Camila da Silva Dourado na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp.

A desertificação é a degradação de terras nas zonas áridas, semiáridas e subúmidas a secas, como resultado das variações climáticas e ações antrópicas, ou seja, as alterações causadas pelo ser humano no ambiente.

 Este fenômeno transforma terras férteis e agricultáveis em terras improdutivas, causa impactos ambientais como a destruição da biodiversidade, diminuição da disponibilidade de recursos hídricos e provoca a perda física e química dos solos. Neste caso, a pesquisa aponta que as mesorregiões que mais expandiram as áreas com risco de aridez são os maiores polos agrícolas baianos. 

“Ainda é necessária uma análise mais aprofundada sobre a desertificação nessas áreas, mas os dados mostram que esses polos agrícolas observados passaram a ser considerados como áreas de alto risco”, explica Camila.

O trabalho foi realizado sob orientação de Stanley Robson de Medeiros Oliveira, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária e coorientação de Ana Maria Heuminski de Avila, pesquisadora do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura). Os autores alertam para a necessidade de se adotar medidas preventivas agora para que as previsões não se consolidem.

Historicamente a região norte do território baiano integra o polígono da seca, uma área de mais de 1 milhão de km² entre os Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, que enfrenta crises repetidas de estiagem. Dessa forma, a manutenção da fruticultura no norte é feita através de sistemas de irrigação. Porém, outro problema apontado pela pesquisa é que regiões antes consideradas com risco baixo de desertificação passam ao moderado e alto, como é o caso da região oeste. Essa situação mudaria todo o cenário de produção agrícola do estado.

Nos últimos anos os pesquisadores também vêm se preocupando com a influência das mudanças climáticas no avanço do processo de desertificação. 

“Com o aumento de temperatura estimado em 1 ºC e a diminuição na precipitação, há a ocorrência de um outro indicador que utilizamos, a evapotranspiração, que é subsídio para um outro indicador, o índice de aridez. Juntando essas variáveis, e com as novas projeções do modelo de mudanças climáticas, confirma-se que há uma expansão muito grande das áreas de desertificação”, afirma Camila.


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CETEP: RIO SÃO FRANCISCO, MUDANÇAS CLIMÁTICAS E RECAATINGAMENTO SÃO TEMAS DA SEMANA DO MEIO AMBIENTE

 O CETEP-Centro Territorial de Educação Profissional do São Francisco, através da disciplina História e Atualidades da Agricultura familiar, ministrada pela professora e engenheira agrônoma, Janine Souza da Cruz comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente. A disciplina é do Curso de Agroecologia.

O evento será realizado entre os dias 5 e 9 de junho, de forma virtual, devido à pandemia e visa conscientizar a população sobre a importância da preservação ambiental, com foco em áreas relevantes, como mudanças climáticas, importância do Rio São Francisco,  arborização, educação ambiental e sustentabilidade.  

Palestras, plantio de árvores, momento cultural e exposição de fotos estão entre as atividades pedagógicas desenvolvidas  no CETEP (Centro Territorial de Educação Profissional do São Francisco, Juazeiro e que também envolve a Escola Estadual Chico Mendes, localizada no Assentamento Vale da Conquista, em Sobradinho, região norte da Bahia.

"O objetivo é alertar sobre a importância do cuidado com a natureza, fazendo o uso sustentável dos recursos naturais de modo a  assegurá-los para as atuais e futuras gerações", afirma a professora Janine.

O tema sobre Mudanças Climáticas e importância do Rio São Francisco, será proferida pelo professor Lucas Cleber. A Caatinga, Comunidades Tradicionais e Recaatingamento é o tema da colaboradora do Irpaa-Instituto  Regional da Pequena Agropecuária Apropriada, Aline Nunes Lopes.

O técnico em Agropecuária Cicero Francisco de Oliveira, dará uma palestra sobre o Planto Nacional do MST: Plantar Àrvores, Produzir Alimentos Saudáveis.

CONFIRA PROGRAMAÇÃO:

TERÇA-FEIRA 8: *Tema 01: Mudanças Climáticas e importância do Rio São Francisco (Professor Lucas Cleber)

*Tema 02: Caatinga, Comunidades Tradicionais e Recaatingamento (Colaboradora do IRPAA: Aline Nunes)

*Tema 03: Plano Nacional do MST:  "Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis!" Cicero Francisco. As palestras terão Início às 19hs 

Palestrantes: Cicero Francisco de Oliveira. Militante do MST; Técnico em Agroecologia, Coordenador Estadual do Plano Nacional do MST:  Plantar árvores, produzir alimentos saudáveis!; Coordenação Regional da Frente de Produção Cooperação, Comercialização e Meio Ambiente.

Aline Thaiane Nunes Lopes-Colaboradora do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada, Graduada em Eng. Agronômica e Gestão Ambiental e Mestre em Extensão Rural.

Lucas Cleber: Licenciatura com Láurea em Geografia (UPE); Especializações em Educação Ambiental, Ensino da História e Geografia, Educação Superior, Geografia Humana e Econômica; MBA Gestão Empresarial. Cadeiras em Mestrado como Aluno Especial: Educação e Cultura no Semiárido (UNEB), Pesquisa em Educação (UPE) e Epistemologia da Prática (UPE).

Vinte anos atuando na educação básica em Juazeiro e Petrolina. Atualmente professor do colégio Auxiladora, Bios pré-vestibular e Servidor público do estado da Bahia.

HISTÓRIA: O Dia Mundial do Meio Ambiente 2021, comemorado no dia 5 de junho tem como o tema deste ano "Restauração de Ecossistemas." A proposta prevê a urgência de todos fazerem as pazes com a natureza.

"O homem destrói a natureza na justificativa de sobreviver; a natureza luta para sobreviver para garantir a sobrevivência do homem." 

"A natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a sua ganância." (Gandhi)

"Se soubesse que o mundo se acaba amanhã, eu ainda hoje plantaria uma árvore." (Martin Luther King Jr.)

São objetivos da Semana do Meio Ambiente:

Contribuir para a formação da consciência em relação às causas ambientais;

Apoiar a realização de ações que divulguem o conhecimento produzido que permitam o diálogo entre esta e a sociedade;

Incentivar a circulação de informações sobre a preservação dos recursos naturais;

Promover atividades que auxiliem no aprendizado como meio de promoção do desenvolvimento social;

Despertar o interesse da comunidade externa para as ações desenvolvidas no CETEP.


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ARTIGO: A VIDA É BELA

Quando a médica da UTI veio até mim e falou delicadamente: “Professor, precisamos intubá-lo”, não imaginei que sobreviveria por algumas semanas, sem consciência, em um outro mundo. Questionam-me frequentemente se, nessas semanas, conversei com Jesus Cristo, se vi meu corpo no leito hospitalar, se me encontrei com parentes que já se foram e coisas desse tipo. Confesso que não. Ficaria até contente se tivesse reencontrado meus avós e meus pais. Mas nada disso aconteceu!

Na verdade, essa “aventura não voluntária” começara alguns dias antes, quando me senti um pouco fraco, sem apetite e com discreta “falta de ar”. Procurei o hospital numa sexta-feira e, no sábado, me telefonaram com a notícia:

— Seu exame deu positivo para o coronavírus.

Isolei-me em casa e tentei usar os medicamentos tradicionais. Não imaginava que essa viagem, felizmente com volta, duraria mais de 60 dias.

O estado onírico induzido pelos anestésicos, miorrelaxantes e outros medicamentos retorna vagamente à minha consciência, em especial nas madrugadas. Classifico como alucinações que são relembradas aos poucos, vacilantes, intermitentes; se descritas com a habilidade e a inspiração de Cervantes, dariam um novo capítulo da saga do “Cavaleiro de Triste Figura”.

Não sei por quê, mas eu tinha certeza de que estava internado em Limeira, no último andar de um edifício, com um restaurante de culinária portuguesa no térreo e que iria almoçar por lá um bom bacalhau. Outras imagens mágicas no meu delírio foram as decorações dos vários boxes da UTI. Eram todos diferentes, criativos e luxuosos. 

O box situado em frente ao meu era decorado com motivos caribenhos e eu podia desfrutar, pela “janela do box”, a paisagem com folhas de palmeiras balançando ao vento e o azul-turquesa do mar do Caribe. Outro detalhe é que fazia parte dessa decoração um pôster de Mohamed Ali e o paciente que ocupava o leito, com covid-19, seria um egípcio do Cairo.

Mas o que tornou minha viagem onírica mais interessante foi a identidade que conferi ao anestesista. Explico: sou admirador de um filme nacional chamado Tempos de paz, cujo ator principal é Dan Stulbach. Pois bem, ele próprio, o Dan Stulbach, era o anestesista da UTI. Mais curioso é que, no filme, Dan representa um ator polonês, Sr. Clausewitz, que tenta entrar no Brasil em janeiro de 1946, passando-se por agricultor e é barrado pelo delegado da polícia de imigração de Getúlio Vargas, vivido por Tony Ramos.

 O filme é fantástico e a interpretação de Dan é inesquecível: ele vive Segismundo, personagem da obra de Pedro Calderon de la Barca, intitulada La vida es sueño. Imperdível e inesquecível o monólogo que interpreta. Pois bem, passei a chamar o anestesista de Sr. Clausewitz, o que fez com que a equipe médica da UTI levantasse a hipótese diagnóstica, felizmente não confirmada, de demência senil. Outro detalhe é que esse anestesista estaria lançando no mercado uma cerveja de nome TAB (não imagino de onde tirei isso) e ele próprio fazia propaganda da sua cerveja na UTI…

Não resta dúvida de que o estado de alucinação me ajudou a suportar os períodos em que não estava totalmente anestesiado. Mas veio a seguir a outra etapa: adquiri um derrame no tórax e um pequeno infarto na base do pulmão esquerdo. Esse processo levou-me a uma punção para drenagem e, de presente, a colocação de drenos para coletar o líquido que ainda lá ficou. 

Foram mais dez dias com antibióticos de última geração na veia, além de uma sonda no estômago para alimentação. Capítulo à parte do tratamento foram as injeções matinais e vespertinas de anticoagulante. Pelos meus cálculos foram mais de uma centena, com um detalhe: as injeções eram aplicadas intradermicamente no abdome.

O último desafio que estava por vir se iniciou quando a enfermeira e a fisioterapeuta me disseram: “O senhor precisa andar!”. Mas eu não conseguia, não tinha forças nem coordenação e muito menos equilíbrio para fazer aquilo que aprendera havia 74 anos. Apoiado dos dois lados, dei uma dúzia de passos até uma balança e vi que o vírus havia me consumido treze quilos. Grande parte de músculo!! Esses poucos passos foram para mim tão cansativos e gloriosos como provavelmente o são para um atleta ao terminar a maratona olímpica. Começa então um trabalho muito importante e estafante que é reaprender a levantar, andar, sentar, subir e descer escadas, agachar.

A outra surpresa foi voltar a me ver no espelho depois de quase quarenta e cinco dias. Que susto! “Meu Deus, não sou eu!” O consumo dos músculos das têmporas fez de mim uma figura esquálida, semelhante àquelas que eu discutia com os alunos de Medicina no curso de Semiologia. Precisaria refazer meus músculos, mas… cadê a fome? A insistência e dedicação da minha esposa e o auxílio dos suplementos alimentares fizeram-me, pouco a pouco, reconstruir os músculos e as suas funções.

Depois deste período insólito aprendi como é maravilhoso poder levantar, ver o sol nascer, ouvir a guitarra de Paco de Lucia, brincar com a Terra (minha fidelíssima cachorra, companheira constante quando estou em casa), conversar com a minha esposa, rever as netas, os filhos, os enteados, os amigos e poder agradecer a Deus, aos médicos, aos enfermeiros, aos auxiliares de enfermagem, às fisioterapeutas, às fonoaudiólogas, às nutricionistas, que colaboraram para que eu recuperasse a autonomia. Como é bom, pela manhã, dar uma volta até a banca de jornais e cumprimentar a todos que encontro pelo caminho, ainda que de longe e de máscara, voltar a trabalhar, ir à feira aos domingos, ao supermercado e rever os locais onde vivi minha infância na Vila Tibério.

Enfim, confirmar uma vez mais: A vida é bela!

*José Ernesto dos Santos, professor sênior da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP

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O CEGO RABEQUEIRO IN-ÃN-IA

Ele não era dali, mas já mantinha encravada a sua presença na imagem da feira de Ouricuri como a aparente ausência dos olhos na profundidade da sua cavidade ocular. O semblante, os trejeitos e a voz dele já nos eram familiares, como os cheiros de macaúba, coco catolé, pequi, jatobá... como a vibração do calor ardente nos corpos e nas mentes; o aceso burburinho e o vai e vem de gente, interesses, euforias e frustrações – efervescências que movem as feiras de rua.

Os pés de In-ãn-ia já conheciam cada pedra de calçamento daquelas ruas. Já pertenciam, aqueles ares, à intimidade dos seus sentidos; sabia estar em um dos terreiros da sua casa – a estrada musical do Sertão –, do seu universo existencial. Ali, onde ganhou a alcunha que tanto o incomodava, também se sentia distinguido – era conhecido e a sua peleja musical tinha uma inconfundível ressonância.

Logo cedo chegava e se aboletava, como tantas outras daquelas já esperadas e sempre festejadas – especialmente pela meninada – atrações do dia da feira, invariavelmente na sombra da castanhola da esquina de Seu Teófilo Lins com a bodega de Babá, e das calçadas desta até o Grupo Telésforo Siqueira e do açougue municipal. 

Ali, pairava a energia de uma envelhecida e vigorosa corrente de arte curtida e entrelaçada numa travessia que vem de tempos primitivos. In-ãn-ia aparecia como se advindo do abandono de um mundo entranhado muito pra lá das encostas da Serra do Araripe. 

Vinha como que através de elos sanguíneos de um povo em cujos costumes os nobres se vestem com andrajos e perambulam, com passos errantes e melodias incisivas, pelas ondas viscerais da sua música ancestral. 

Nos primeiros tempos, conduzia às costas um surrado violão e, se deslocando de um ponto para outro e, quando da chegada ou da saída, não era perdoado pelos gritos de meninos e gracejadores em geral, sempre de plantão na porta de bares, bodegas e do açougue; em volta das bancas ou numa esquina qualquer: 

– In-ãn-ia, o violão caiu! ...

A partir daí desencadeava-se uma desaforada reação por parte daquele que trazia uma renhida disposição para a autodefesa – comum entre os cegos de rua – e, no seu caso, ampliada pela sensibilidade de artista, resultava num rosário de resmungos de irritação; o que levava os seus fustigadores a um êxtase de sadismo.

In-ãn-ia foi, como muitos outros, um músico de rua no tempo em que estes eram confundidos com e tratados como mendigos. Diferente dos pedintes, que apelavam para a misericórdia dos transeuntes, em função do estado de miséria e ou de deficiências físicas em que se encontravam, In-ãn-ia e seus pares invocavam a paga da assistência que fazia roda em volta deles e apreciava as suas atávicas e arrebatadoras apresentações. 

Do final dos anos 1960 para o início dos anos 70, aquele nosso carismático vate trazia no seu repertório além das cantigas, versos e temas instrumentais da nossa tradição ancestral; canções que foram ou eram sucessos de rádio, naquele período; entre elas, várias guarânias como Índia e Cana Verde – Abra a porta ou a janela – gravada por Tonico e Tinoco (1958). Como fruto da dinâmica cultural, algumas dessas canções ou temas musicais, que foram adaptadas e gravadas, já tinham sido colhidas no manancial da tradição popular – como é o caso da célebre “Asa Branca”.

Pelas feiras do Sertão, numa mambembe peregrinação, vinha uma legião de pedintes, músicos, cordelistas, repentistas e outros artistas itinerantes; entre eles os cegos rabequeiros como In-ãn-ia e o Cego Oliveira. Na nossa região seguiam o espontâneo roteiro do que chamamos de um “circuito de mendicância”, que ia de Juazeiro do Norte (CE) – “a Meca dos pedintes do Sertão” – `a Juazeiro da Bahia; num ciclo que envolvia parte do Cariri cearense, do Araripe pernambucano e do submédio São Francisco.

Trazia, o nosso precioso menestrel, inconfundíveis traços fisionômicos, tendências existenciais – como a necessidade de viver com liberdade de espaço e movimentos e a essência poético-musical dos Índios Cariris; que viveram e sacralizaram, com seus místicos passos, o solo do mesmo território.     

Muito do que In-ãn-ia arrastava no bojo essencial da sua existência ficou nos traços e nos teores mestiços das imagens e dos valores que se fizeram determinantes nas nossas vidas.

Maurício Cordeiro Ferreira. 

*Não havendo grafia exata para a pronúncia da alcunha – que imaginamos ter a sua origem no nome de Inhana, integrante da dupla Cascatinha e Inhana – cantores do rádio e do disco, de grande sucesso nacional nos anos 1950\60 –, aplicamos esta, por acharmos que seja a que mais se aproxima.

PS: – Um dado sugestivo é que o nosso In-ãn-ia tinha no seu repertório várias guarânias; o mesmo gênero que marcou a carreira da dupla Cascatinha e Inhana. 

– Parte substancial da memória e das reflexões sobre In-ãn-ia, que desaguaram neste texto, são reflexos das constantes conversas que mantenho com o amigo e poeta ouricuriense Virgílio Siqueira.

Texto: Mauricio Ferreira-diretor fundado do Sebo Rebuliço

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CAMPANHA EU VIRO CARRANCA PARA DEFENDER O VELHO CHICO É LANÇADA DURANTE COLETIVA DE IMPRENSA

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Foi lançada ontem (1), a campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”. O objetivo é conscientizar a população sobre a preservação do rio e mobilizar todos pelo uso responsável dos seus recursos hídricos.

O jornalista Ney Vital, representou a REDEGN, e questionou sobre os riscos que o Rio São Francisco sofre com a proposta do Governo Federal de instalar uma Usina Nuclear com o uso das águas do Velho Chico, na localidade de Itacuruba, Pernambuco.

O grande número de esgotos em Juazeiro e Petrolina, jogados diretamente no Velho Chico também teve destaque durante a coletiva de imprensa.

“Não temos o poder de fiscalizar. Mas todo cidadão pode denunciar as prefeituras este crime que e jogar esgoto diretamento no Rio São Francisco. Em relação a instalação da Usina Nuclear é um risco sim e real. Enquanto na Alemanha estão excluindo essa ideia, aqui no Brasil querem investir. Nosso país não possui estrutura para isso e corremos grandes riscos com a possível implantação da usina nuclear. Precisaremos nos aprofundar futuramente sobre esse assunto”.

Este ano de 2021, com o mote VELHO CHICO PARA TODOS, a campanha tem como foco os usos múltiplos do Velho Chico e da necessidade de se concretizar o Pacto das Águas na bacia do São Francisco. 

“As águas do rio São Francisco, bem como seus reservatórios, estão vocacionadas para os usos múltiplos, e não só para a geração de energia. Queremos sinalizar, com essa campanha, que todos aqueles que se beneficiam das águas sanfranciscanas devem ter compromisso com a sua preservação e com a saúde do seu ecossistema” destaca o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda.

Os usos múltiplos abrangem abastecimento público, agricultura, indústria, geração de energia, navegação, pesca e aquicultura, turismo e recreação, entre outros. A diversidade de setores usuários provoca uma série de impactos – positivos e negativos – entre as diferentes atividades, o que resulta em interações complexas.

Por conta de todas essas diferenças, o múltiplo uso não é uma questão consensual. Divergências e conflitos avançam à medida que aumentam a demanda e a escassez de recursos. O único consenso é que se trata de um tema que merece ser amplamente discutido pelos diferentes setores e a sociedade como um todo. Por isso, o CBH São Francisco vem elaborando estudos e realizando discussões para a concretização de um Pacto das Águas para a bacia do Velho Chico. O Pacto das Águas deve prever ações coordenadas que levem à distribuição harmônica das águas aos seus usos múltiplos, evitando conflitos e garantindo água de qualidade e em quantidade para todos.

O CBHSF continua seguindo as recomendações das autoridades de saúde, e para evitar aglomeração de pessoas, utilizará a mídia para a disseminação da campanha, por meio de podcasts, spots para rádio, VTs para veiculação em televisão e na web, além das redes sociais.

“Este é um momento de conscientização geral para defender o rio de forma muito concreta, lutando pela restauração de suas matas ciliares, pela recarga de aquíferos, pela defesa e proteção das nascentes, contra o processo de contaminação de suas águas por agrotóxicos e pelo lançamento de esgotos“, explica Anivaldo, o presidente do CBHSF. E completa: “Devemos tirar de fato da gaveta o programa de revitalização e mobilizar todos para que os instrumentos de gestão sejam universalizados na bacia do São Francisco.“

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