EMBRAPA: AGRICULTURA DEVE SE PREPARAR PARA POSSÍVEL FALTA DE ÁGUA NO FUTURO"

As questões climáticas são fundamentais quando se fala de agricultura e devem se tornar ainda mais primordiais em um futuro não muito distante. É o que afirma o pesquisador Carlos Pacheco, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nesta sexta-feira (16/4), em entrevista ao CB.Agro, programa realizado em parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília.

“Vários trabalhos têm apontado para o território brasileiro um aumento generalizado da temperatura média do país em todas as regiões, em todas as épocas do ano. Com relação a disponibilidade de água, a precipitação deve ser concentrada durante o verão em todas as regiões brasileiras, e deve se observar uma redução muito expressiva dessa ocorrência de chuvas em outras épocas do ano sobretudo no inverno e na primavera”, diz o pesquisador da Embrapa.

A Política Nacional de Recursos Hídricos prevê como prioridade, em caso de escassez, o consumo humano e a dessedentação de animais. A agricultura, como maior consumidora de água dentro das atividades econômicas, deve se preparar para uma possível falta de água no futuro e procurar alternativas para economizar no uso do bem, pontua Pacheco.

“Trabalhamos no sentido de buscar sistemas de produção que consumam menos água, por exemplo, sistemas de irrigação, como gotejamento, que reduzem a necessidade de água para produção de alimentos, o cultivo em ambiente protegido por meio de hidroponia, que tem o potencial de reduzir em 90% a quantidade de água utilizada”, explica o pesquisador.

: Cerca de 12% da disponibilidade de água doce do mundo estão concentrados em território brasileiro, o que pode ter gerado uma cultura no país de que a água seria sempre abundante. Porém, destaca o especialista, não é bem assim. Segundo ele, muitas regiões não têm acesso ao saneamento básico, por exemplo, e muitas pessoas já sofrem com a escassez de água.

“A distribuição de água no território brasileiro é muito desigual. Se nós observarmos a distribuição dos recursos hídricos no Brasil, 80% estão concentrados na região amazônica, que abriga 20% da população brasileira; enquanto os outros 20% estão distribuídos pelo restante do país, que abriga 80% da população”.

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NASCEM OS PRIMEIROS FILHOTES DE CASAL DA ARARINHA AZUL EM CURAÇÁ BAHIA

No meio inúmeras notícias tristes a reportagem do BLOG NEY VITAL obteve uma informação que veio provocar esperanças ao meio ambiente. No último sábado, dia 11 de abril nasceu o primeiro filhote de ararinha-azul na Caatinga, de um casal jovem no Centro de Reprodução da ACTP, no Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha Azul. Segundo informações, a Ararinha Azul foi deixada com  os pais, que ainda inexperientes, não conseguiram criá-lo. 

O segundo filhote deste casal nasceu no dia 13 de abril e está sendo criado na mão. O par fez postura de 4 ovos, sendo 2 deles férteis.

"O nascimento de ararinhas-azuis não era registrado na região há mais de 30 anos. Ainda em cativeiro, esta ararinha integrará um grupo de soltura em breve", segundo informações postadas cedidas pela ACTP. A foto é de Cromwell Purchase.

De acordo com o site do ICMIBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), a ararinha-azul é considerada uma das espécies de aves mais ameaçadas do mundo. Endêmica de uma pequena região no semiárido, o último indivíduo selvagem desapareceu da Caatinga baiana em outubro de 2000, o que levou a espécie a ser classificada como Criticamente em Perigo (CR), possivelmente Extinta na Natureza (EW). Desde 2000, os poucos exemplares que restaram em coleções particulares vêm sendo usados para reproduzir a espécie em cativeiro. A espécie foi descoberta no início do século 19 pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix.

A reintrodução das ararinhas-azuis no seu bioma de origem é um processo previsto pelo Plano de Ação Nacional (PAN) da Ararinha-Azul em conjunto com organizações internacionais que detinham grande parte das aves em cativeiro. No primeiro ciclo do PAN, dentre outros resultados, o principal foi a multiplicação de animais em cativeiro para aumentar a variabilidade genéticas das aves. Agora, no segundo ciclo, o objetivo esperado é realizar a soltura de algumas ararinhas-azuis com as maracanãs.

As ações de conservação, previstas no PAN, culminaram na criação de duas Unidades de Conservação (UCs) em 2018: Refúgio de Vida Silvestre e a Área de Proteção Ambiental – APA da Ararinha Azul. O objetivo de criação das unidades de conservação é uma estratégia de proteção das amostras do bioma Caatinga, especialmente os fragmentos florestais de mata ciliar e de savana estépica relevantes para o ciclo de vida da ararinha-azul.

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MATA ATLÂNTICA É O BIOMA COM MAIOR CAPTAÇÃO DE ÁGUA DO PAÍS, REVELA PESQUISA


A Mata Atlântica, que em 2010 representava 42% da retirada de água do país, passou a 39% em 2017. Este bioma concentra grande parte da população brasileira e, mesmo com a redução, apresenta a maior captação de água do país, com destaque para o abastecimento urbano.

Os dados constam do estudo Contas de Ecossistemas: Condição dos Corpos Hídricos, divulgado hoje (15), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Tanto em 2010 quanto em 2017, a segunda maior captação foi observada no Cerrado, que passou de 20% da retirada de água do país para 23%. O Cerrado apresentou a maior taxa de crescimento de retirada de água, que se deu principalmente para a irrigação e expansão agrícola.

Em terceiro lugar, vem o Pampa, que manteve a taxa de 17% de captação de água em 2010 e 2017. Este bioma, por sua vez, tem grande participação na agricultura irrigada no país, com destaque para o cultivo de arroz.

A agricultura irrigada foi a principal responsável pela retirada direta de água, seguida do abastecimento humano urbano, indústria de transformação, abastecimento animal, termoeletricidade, abastecimento humano rural e mineração.

Em média, verificou-se que, em cada um dos biomas Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa, 25% da água captada foram para fins de irrigação da agricultura em 2010, sendo que esse resultado não mudou significativamente em 2017.

Em relação ao segundo principal uso da água no país, o abastecimento humano urbano, cerca de 64% da captação de água destinada para essa finalidade ocorreram no bioma Mata Atlântica em 2010 e 2017.

A maior parcela de água captada para abastecimento animal ocorreu no Cerrado em 2010 e 2017: 33% da água captada para essa finalidade no país foram realizadas nesse bioma devido à atividade agropecuária na região.

O risco de extinção das espécies aquáticas avaliadas incidia mais sobre a fauna (vertebrados, na maioria) e a flora da Mata Atlântica, num total de 360 espécies ameaçadas. Em seguida, vinham o Cerrado (216) e a Amazônia (104). Já o maior percentual de vertebrados ameaçados estava na Mata Atlântica (11,3%), com Cerrado (9,1%) e o Pampa (7,8%) em seguida.

O IBGE também divulgou hoje a publicação Contas de Ecossistemas: Produtos Florestais Não Madeireiros. O estudo apresenta dados analisados entre 2006 e 2016.

A Amazônia e o Cerrado são os biomas com a maior variedade dos dez produtos florestais não madeireiros pesquisados: açaí (extraído e plantado), látex coagulado (extraído e plantado), erva mate (extraída e plantada), palmito (extraído e plantado), castanha-do-pará, pequi (fruto e amêndoa), babaçu, carnaúba (cera e pó), jaborandi e piaçava.

Os maiores aumentos na produção foram do açaí extraído (113%), da erva mate cultivada (45%) e extraída (51%) e do palmito cultivado (60%). Com forte valorização no mercado nacional e internacional, o açaí teve aumento de 113% na quantidade extraída, saindo de 101,3 mil toneladas em 2006 para 215,4 mil toneladas, em 2016.

Na Mata Atlântica, destaca-se a produção de 347 mil toneladas de erva mate extraída e, na Amazônia, a extração de açaí (215 mil toneladas).

Esses dois estudos compõem o Sistema de Contas Econômicas Ambientais, que seguem as recomendações das Nações Unidas para promover a integração dos benefícios gerados pela natureza ao Sistema de Contas Nacionais do IBGE. 

Os dados são experimentais e estão em fase de teste e avaliação. Segundo o instituto, sua publicação pretende incluir a sociedade no processo de desenvolvimento desses indicadores desde os estágios iniciais.

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CONSUMO EXCESSIVO DE VITAMINAS PREOCUPA ESPECIALISTAS

Durante a pandemia do novo coronavírus, um assunto ganhou destaque: a suplementação de nutrientes, em especial das vitaminas D e C,  supostamente para evitar a covid-19. O cenário vem preocupando as autoridades de saúde, que alertam para os prejuízos da ingestão excessiva dessas substâncias. 

Conforme adianta Helio Vannucchi, professor titular sênior da Divisão de Nutrologia do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, além dos riscos do consumo descontrolado, “ao que se conhece atualmente, nenhuma vitamina tem ação de tratamento ou prevenção na pandemia por covid-19”. 

A vitamina D, já relacionada com a melhora da resposta imunológica, quando ingerida em excesso “pode causar aumento exagerado de íons de cálcio” que, depositados nas artérias e em órgãos como o rim, causam “lesões permanentes”;  por isso, seu uso “não está inteiramente aceito”, conta Vannucchi.

 O indivíduo intoxicado por esse nutriente em excesso pode apresentar sintomas como náuseas, vômitos e aumento da pressão arterial. Segundo o especialista, é recomendado o consumo de 600 unidades internacionais diárias do nutriente, através de fontes alimentares, e 800 unidades para idosos e gestantes. Além disso, 15 minutos de exposição solar diariamente são suficiente para o organismo absorver a quantidade necessária de vitamina D.

A vitamina C, que também já foi especulada na prevenção do novo coronavírus, também tem eficácia descartada. Em excesso, a vitamina pode causar diarreia e, cronicamente, causar cálculos urinários. Nesse sentido, o professor lança um alerta à população: a suplementação vitamínica deve ser realizada apenas diante do diagnóstico clínico de deficiência, necessitando confirmação de “dosagens em laboratório”. 

É que cada nutriente deve ser absorvido pelo organismo em uma quantidade específica; quando um “limite superior” é ultrapassado, “a continuidade de ingestão em maiores doses pode provocar a hipervitaminose”, adianta o professor.Vannucchi ainda informa que a intoxicação vitamínica acontece mais facilmente com as vitaminas lipossolúveis, A, D, E e K, que se dissolvem em gorduras, sendo seus excessos de difícil eliminação pelo organismo. Assim, como cada nutriente tem funções distintas,  excesso de cada um provoca consequências diferentes. Enquanto megadoses de vitamina E podem levar a fenômenos hemorrágicos e ao aumento da mortalidade no longo prazo, a vitamina K está ligada à “coagulação sanguínea”, afirma o especialista.

Já a vitamina A, conhecida por beneficiar a visão, pode causar “problemas neurológicos semelhantes à meningite e cefaleia intensa”, quando administrada em excesso, além de oferecer risco teratogênico (malformação do feto) para gestantes. Segundo Vannucchi, as hipervitaminoses mais graves são causadas pelas vitaminas A, D, E e C.

O procedimento para lidar com a intoxicação de vitaminas difere entre cada grupo de nutrientes. No caso dos hidrossolúveis (que se dissolvem em água), vitaminas B1, B2, B3, B6, B9, B12, o ácido pantotênico e a vitamina C, basta interromper a administração dos nutrientes, sem grandes problemas, pois seu excesso é excretado pelos rins e pela urina.

Já no caso dos lipossolúveis, além de suspender a ingestão das vitaminas, é preciso saber que “pode demorar semanas ou meses para retornar à normalidade” e, “enquanto isso, nada pode ser feito”. Ácido pantotênico e biotina, do grupo de vitaminas do complexo B, são nutrientes que não apresentam relatos de efeitos colaterais.

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DOUTOR EM MÚSICA CLIMÉRIO DE OLIVEIRA PARTICIPA DO DEBATE SOBRE A RADIOGRAFIA DO FORRÓ

Para apresentar uma radiografia de Luiz Gonzaga e do Forró,  o doutor em música pela Unirio Climério de Oliveira é convidado do Cais do Sertão na faixa Conexão Cais. Autor de uma pesquisa de doutorado em que esmiúça o legado do Rei do Baião, Climério conversa com o pedagogo e educador do Cais Sandro Santos. A live será nesta quinta-feira (15), pelo Instagram @caisdosertao, a partir das 17h.

"Debater o legado social e musical de Luiz Gonzaga é sempre uma prioridade na nossa programação online. No mês de aniversário do museu, reforçamos a nossa admiração pelo artista e a importância de existir uma instituição cultural como o Cais situada no coração do Recife", comenta a coordenadora de Conteúdo do Cais, Clarice Andrade.

Mediado pelo pedagogo e educador do Cais Sandro Santos, o bate-papo vai trazer à tona o legado do forró na formação da música brasileira e a jornada sociocultural de Gonzagão. A live também foca a carreira acadêmica e o nascimento da Associação Respeita Januário, da qual Climério é membro-fundador.

PROGRAMAÇÃO MENSAL: O mês de abril contará com mais uma Conexão Cais. No dia 29, a faixa recebe o trio As Januárias, que reflete sobre o forró, o xaxado, o baião e a receptividade dos gêneros no mercado fonográfico. A conversa contará com mediação do músico-educador Diogo do Monte.

A celebração do aniversário do centro cultural contará também com um webinário, que promete refletir sobre o papel dos museus no século 21. Transmitida ao vivo e via canal do YouTube do museu, a roda de conversa contará com a participação do arquiteto responsável pelo projeto da sede do Cais, Marcelo Ferraz; e outros convidados: o professor titular do Programa de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Luiz Amorim e a doutoranda em Desenvolvimento Urbano/Arquitetura (UFPE) Lívia Nóbrega. Será no dia 20 de abril, às 20h, com mediação do vice-chefe do Departamento de Antropologia e Museologia (DAM), da UFPE, Hugo Menezes.

O Cais do Sertão segue fechado para visitação presencial, em respeito às medidas de controle ao novo coronavírus determinadas pelo Governo de Pernambuco.

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RIO SÃO FRANCISCO: O POVO INDÍGENA PANKARÁ E AS USINAS NUCLEARES


O povo indígena Pankará Serrote dos Campos, município de Itacuruba, Estado de Pernambuco, vive às margens do Rio São Francisco, também reconhecido como o grande Opará, pelos povos indígenas do Sertão de Itaparica. O velho Chico se trata de um verdadeiro território tradicional, pois, bem antes da chegada dos colonizadores na região, a mesma já era ocupada por diversos Povos Indígenas.

O Opará é de fundamental importância para o Bem Viver dos Povos, tanto do ponto de vista material, quanto em relação à religiosidade, de modo que é possível identificar uma grande área de ocupação tradicional, com a presença de vários Sítios Arqueológicos. Todavia, pela proximidade junto ao rio São Francisco, a região sempre foi cobiçada pela colonização, com interesses junto às águas, favorecendo a implantação de cidades e áreas de produção agrícola e pastoril, em detrimento dos povos indígenas e demais comunidades tradicionais.

“O Opará é de fundamental importância para o Bem Viver dos Povos, tanto do ponto de vista material, quanto em relação à religiosidade”. Na década de 1950 começam a ser implantadas ao longo do Rio São Francisco várias hidrelétricas desde o estado de Minas Gerais, passando pela Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Uma dessas barragens, a barragem de Itaparica (Gonzagão), teve suas comportas fechadas em 1988, o que provocou a inundação de toda a região, alagando a antiga cidade de Itacuruba, assim como outras cidades ao longo das margens do rio, inundando extensas faixas de terra, entre essas, parte do território tradicional do povo Pankará Serrote dos Campos.

Diante disso, os povos do Opará foram obrigados a saírem de seus territórios tradicionais e muitas famílias foram removidas para outras localidades, sendo alojadas nas chamadas Agrovilas, construídas pela CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco -. Por outro lado, outras muitas famílias recusaram abandonar as terras não alagadas e assim permaneceram, com o objetivo de rearticular suas forças, diante do intenso processo de violência sofrido pelo Estado e suas grandes obras.

Com o passar do tempo e dos anos traumáticos, começaram a organizar suas comunidades em busca da demarcação territorial dos poucos pedaços de terra/território que sobraram das inundações promovidas pelo Estado brasileiro. A partir da promulgação da Constituição de 1988, a qual reconheceu o direito imemorial e imprescritível à terra, o povo Pankará Serrote dos Campos, mais fortalecido e empenhado na luta pela demarcação do território tradicional, obteve seu reconhecimento como povo indígena Pankará por volta dos anos 2.000.

Durante o processo de luta pela demarcação do território, porém, esse povo acabou surpreendido com o projeto de instalação de um complexo de usinas nucleares em suas terras, confirmado pela empresa estatal brasileira Eletronuclear, através do Plano Energético nacional para o ano de 2050. O projeto prevê a construção de um conjunto de 6 reatores nucleares, criando uma sobreposição de interesses ao território, propondo mais uma vez a expulsão da comunidade do seu local de origem com a instalação de uma grande obra.

“Durante o processo de luta pela demarcação do território, porém, esse povo acabou surpreendido com o projeto de instalação de um complexo de usinas nucleares em suas terras”

Assim, diante de mais uma ameaça ao seu território tradicional e à toda a bacia do Rio São Francisco, o grande Opará, o Povo indígena Pankará Serrote dos Campos se vê obrigado a peregrinar em defesa de seus direitos. Desde 2008 promove a resistência contra o projeto das usinas nucleares, em defesa da terra e da vida, já que estão contra a “energia da morte”, articulando e mobilizando todos os setores que são atingidos pelo projeto nuclear, como as comunidades vizinhas, outros povos indígenas, comunidades quilombolas, pescadores tradicionais, ciganos, agricultores familiares, trabalhadores rurais e um grande números de cidadão residentes das cidades próximas. Bem como a população das capitais Nordestinas, visto que todas elas estão no raio a ser atingido, direta e/ou indiretamente, em caso de qualquer falha mínima ou acidente nuclear, caso as usinas nucleares sejam construídas.

Ainda, enfrentam também uma batalha política no Estado de Pernambuco, pois tramita a PEC 09/2019 (Projeto de Emenda Constitucional) que tenta alterar o artigo 216 da Constituição do Estado de Pernambuco, o qual proíbe a instalação de usinas nucleares nesse Estado, até que sejam esgotadas as demais fontes de recursos energéticos no estado, como solar e eólica.

“Diante da ameaça o povo Pankará Serrote dos Campos se vê obrigado a peregrinar em defesa de seus direitos.” Para tanto, o povo indígena Pankará Serrote dos Campos estabelece um intenso processo de resistência, articulação e mobilização, envolvendo intelectuais, a Arquidiocese de Recife e Olinda, Diocese do município de Floresta/PE, pastorais sociais, professores/as universitários, estudantes, o Movimento Negro Unificado – MNU -, povos de terreiros e as populações em geral. Para que todos somem nessa luta em defesa da vida, em defesa do Grande Opará, o Rio São Francisco, junto a resistência Nacional, ao lado dos atingidos elas usinas nucleares em Angra dos Reis/RJ, assim como os atingidos nas áreas de mineração espalhadas por todo o Brasil, com destaque ao município de Caetité/BA e Santa Quitéria/CE, como também junto ao movimento internacional contra as Usinas Nucleares e contra a energia nuclear no Mundo.

Recife, 10 de abril de 2021. Conselho Indigenista Missionário – CIMI. Regional Nordeste




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CARNAÍBA (PAJEÚ DAS FLORES) GUARDA MEMÓRIA DO FILHO MAIS ILUSTRE: MÉDICO COMPOSITOR ZÉ DANTAS


Na década de 1940, o aparelho de rádio ficava instalado em um ponto de destaque na sala de estar da família brasileira. Era o veículo de comunicação do momento. Através dessas ondas radiofônicas, os sucessos de Luiz Gonzaga atingiram todo o território nacional, reformulando para sempre os imaginários do país sobre o Nordeste. As composições que emanavam daquela voz nasalada de tenor caboclo, tão comum nas toadas sertanejas, vinham de grandes poetas da cultura nordestina. Um deles era o médico José de Sousa Dantas Filho, que assinava suas letras como ZéDantas.

Em 1947, o Brasil respirava uma aurora democrática após o fim do Estado Novo, ditadura de Getúlio Vargas que exerceu em Pernambuco o autoritarismo em seu mais alto nível com o interventor Agamenon Magalhães. Foi nesse ano que Luiz, já famoso pelas transmissões na Rádio Nacional, do Rio, conheceu o então estudante de medicina José Dantas numa farra no Grande Hotel, na praia do Pina. Era o início de uma parceria que renderia brilhantes obras, proporcionadas pela combinação magnífica da interpretação de Gonzagão com o conhecimento folclórico das composições de Zé.

A primeira parceria gravada foi Vem morena, em janeiro de 1950. A partir daí foram surgindo outros sucessos, como A dança da moça, Forró de Mané Vito, Paulo Afonso, Vozes da seca, Riacho do navio, São João do arraiá, Volta da Asa Branca, Acuã (a favorita de Zé), Xote das meninas, Forró em Caruaru, Siri jogando bola, Farinhada, Letra I, Sabiá, entre outras. Sem a parceria, talvez o baião não tivesse uma repercussão nacional tão estável, sendo o ritmo do momento até a dominação da bossa nova, no final da década de 1950. Outro responsável pela longevidade foi Humberto Teixeira, também grande dupla de Gonzaga.

José de Sousa Dantas Filho nasceu em Carnaíba, quando o município ainda distrito do município de Pajeú das Flores. Ele foi estudou no Recife ainda muito jovem, quando já começou a publicar as primeiras composições na Revista Formação, publicada pelo Colégio Americano Batista. Quando chegavam as férias, ele ansiava pela volta ao Sertão. 

"Ali, vivendo no meio dos sertanejos, dos quais me tornava amigo, ia recolhendo ditos, estórias, cantorias... toda riqueza da vida sertaneja. E quando regressava ao Recife, levava as melhores coisas daquilo que havia recolhido, para mostrar aos amigos nas rodas que eu frequentava. Foi nessa época que escrevi a primeira crônica sobre folclore", disse Zédantas, em matéria em sua homenagem publicada pelo Diario em 8 de junho de 1969.

José concluiu os estudos no colégio Marista, no Recife. Aprovado em medicina na então Universidade do Recife (a atual UFPE), ele se formou em 1949 e seguiu para o Rio de Janeiro, estagiando no Hospital dos Servidores do Estado, onde se especializou em obstetrícia e foi efetivado. O Rei do Baião também já morava na então capital federal do Brasil. Mesmo no Rio de Janeiro, Zédantas nunca esqueceu de Pernambuco, elevando o nome do estado e de todo o Nordeste brasileiro nas músicas que compunha.

As músicas de Zédantas estão entre as mais populares da história do forró no Brasil. Na época, elas penetraram desde as festas dos casebres do interior ao baile do mais grã-fino palacete, pois refletiam sobre uma psicologia que dominava praticamente toda a nação, mas usando de referências sertanejas. Em Xote das meninas, ele faz um paralelo entre a flor de mandacaru, no sinal que precede a chuva dando fecundidade à terra, com a menina que, enjoada da boneca, torna-se mulher. Em outras, faz alertas aos poderes públicos para com os nordestinos em miséria. Tudo isso remetendo a uma noite mágica de São João.

Nas horas de folga, o médico dedicava-se à divulgação do baião, chegando a trabalhar na Rádio Nacional como produtor do programa No mundo do baião. Ele ainda chegou a trabalhar na Rádio Mayrick, sendo diretor do Departamento Folclórico. Mais do que um grande compositor, ele foi um perspicaz folclorista, estudioso das curiosidades e do comportamento musical da gente sertaneja. A ele interessava tudo que dissesse respeito ao folclore regional nordestino, fosse vindo da viola (instrumento dos cantadores de desafio, principalmente nas feiras) ou do pandeiro (remetia a época das senzalas, quando ritmavam os sambas dos escravos nos terreiros).

Em 1961, quando estava na fazenda de Luiz Gonzaga, em Miguel Pereira, região serrana do Rio, Dantas rompeu o tendão do pé. Depois de um ano tomando fortes remédios para sanar as dores, ele teve os rins comprometidos e faleceu precocemente no Rio, em 11 de março de 1962, aos 41 anos. Duas semanas antes da morte, foi visitado por Gonzaga, que levava um gravador. Nele, Zédantas colocou músicas que havia feito, já enfermo, todas gravadas pelo Rei do Baião: Balança rede, Praias do Nordeste, Forró do Zé Antão, entre outras. Quando o disco saiu, Zé já tinha morrido. Mas suas músicas, já regravadas por vários cantores de sucesso, como Alceu Valença, Gal Costa, Maria Bethânia, Fagner e Gilberto Gil, ficaram eternizadas.

Apesar de todo o sucesso nacional de Zédantas como compositor, foi necessário o esforço de vários moradores para que o artista e médico tivesse reconhecimento merecido na sua própria terra natal, Carnaíba. Em 1975, as professoras recém-formadas Margarida Pereira, Joana Darc Malaquias e Bernadete Patriota tiveram a ideia de fazer uma festa na Escola Estadual João Gomes dos Reis. Elas resolveram trabalhar músicas de Zé, porque tinham o conhecimento de que ele nasceu na cidade. Através de uma carta, enviada por uma prima do compositor, as professoras conseguiram entrar em contato com Dona Iolanda, a viúva.

"Poucos dias depois, Iolanda respondeu com uma relação das músicas dele, além de recortes de jornais e revistas, o que nos ajudou a fazer a festa", relembra Margarida, que hoje é secretária de cultura do município. "Em 1978, o tenente João Gomes da Lira foi eleito vereador e propôs colocar um busto de Zédantas na cidade. A prefeitura não fez, então ele mesmo conseguiu esse busto, inaugurado no mesmo ano. Foi um evento de grande repercussão, quando a família e o próprio Luiz Gonzaga compareceram."

A festa em homenagem a Zédantas foi se espalhando por todas as escolas da Carnaíba. A proporção cresce com a chegada do Padre Luizinho, que segue como o pároco da cidade. "O ano de 1993 foi muito pesado, pois o Sertão sofria uma seca muito grande e perdurava a dominação de poucos ricos em cima de muitos pobres. Carnaíba já tinha uma história muito bonita, com muitos músicos e maestros, mas era muito atrasada no sentido político, com uma religião bem mais tradicional. Eu apostei na obra de Zédantas para alcançar os jovens e os estudantes, fazendo justiça com o nome dele. Zédantas nunca esqueceu de nós, do homem, da terra, das relações com a natureza", diz Luizinho.

A primeira festa ocorreu naquele ano de 1993, sendo encabeçada pela igreja. Uma carta inspirada em Vozes da seca foi lida, denunciando a situação de abandono da região. "Pegamos a música e começamos a trabalhar em cima da pobreza, da exploração. Assim nasceu o Grupo de Educação Base, que uniu toda a comunidade, sobretudo músicos e sanfoneiros. A cidade carrega até hoje esse atrativo, com uma grande festa que mobiliza toda a cultura", diz o padre.

Ainda demoraram anos para o poder público chegar junto ao evento, que só não foi realizado em 2004, 2020 e 2021 (devido à pandemia). Até hoje, uma carta sobre a situação do município e do Sertão é lida. "Visitamos as cidades vizinhas para divulgar a festa. Nós nunca tivemos Zédantas como exclusivo de Carnaíba. Ele é do Pajeú, do Nordeste, do Brasil e do mundo, ele tem essa dimensão", avalia Margarida. "Ainda assim, temos muito orgulho. Mesmo sendo um homem da cidade grande, ele não desprezou as suas raízes e exaltou o nosso forró."

CELEIRO: Carnaíba é um celeiro de artistas. A centenária Associação Filarmônica Santo Antônio atualmente conta com 20 integrantes, em sua maioria oriundos da Escola de Música Maestro Israel Gomes. A instituição foi criada em 2005 e instalada no antigo prédio da Estação Ferroviária, oferecendo aulas de percussão, sanfona, sopro em metal e madeira, violão, teclado e pífano. De lá já saíram artistas para bandas e cursos universitários em música.

O Conservatório Carnaibano de Música Maestro Petronilo Malaquias foi criado como extensão da escola. Também existe o Museu Zé Dantas, com histórias e objetos do compositor. No Recife, existe um acervo sobre Zédantas no Museu Caís do Sertão, no Bairro do Recife. (Fonte Diário de Pernambuco/Emanuel Bento)

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