PRIMEIRO SEMESTRE DE 2020 É ENCERRADO COM REDUÇÃO DE 26% DO ENVIO DE FRUTAS PARA O EXTERIOR

A chuva que tão bem faz ao Sertão chegou em excesso onde não deveria no primeiro semestre de 2020. Segundo a Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), esse foi o principal motivo para desbancar em 21,37% as exportações de manga e em 5,79% as exportações de uva. Com mais chuva, a qualidade do produto caiu, comprometendo o alcance das exigências do mercado externo. 

Ao todo, o semestre representou uma perda na casa dos R$ 100 milhões, e a expectativa agora é pela estabilização da disseminação do novo coronavírus ao longo do segundo semestre, para que não haja maiores problemas no período de safra.

No primeiro semestre de 2019, as exportações de manga alcançaram 59.443 toneladas. Já nos primeiros seis meses deste ano deixaram de ser enviadas ao exterior 12.700 toneladas de manga. 

“Nesse primeiro semestre sofremos bastante com a chuva. Houve um acúmulo muito grande, o que não é o normal. Temos chuva no primeiro semestre, mas foi um ano, até então, bem atípico. Com isso, as frutas não atingiram a qualidade ideal exigida pelo importador. Deixamos de exportar a maior parte da fruta devido ao fator climático”, diz o gerente comercial da Valexport, Tássio Lustoza. 

No caso das uvas, deixaram de ser exportadas 636 toneladas. No primeiro semestre de 2019, 10.991 toneladas foram enviadas a outros países.

Mesmo com a pandemia da covid-19, o mercado europeu (principal importador do Vale) continuou demandando mercadoria, como não conseguiu atender a demanda, a produção foi redirecionada para o mercado interno, o que comprometeu a receita. As perdas foram de R$ 94 milhões com a manga e R$ 15 milhões com a uva.

No Vale, notou-se uma normalidade dos pedidos, mesmo com as restrições impostas pelo vírus em todo o mundo. Houve fechamento de restaurantes e empresas, mas as pessoas continuaram demandando o consumo de frutas.

Como o problema se concentrou na oferta, a expectativa da Valexport é de que a curva de contágio siga caindo e leve consigo a possibilidade de uma nova onda durante o período de safra. No ano passado, o Vale foi responsável pela produção de 190 mil toneladas de manga e 47 mil toneladas de uva. Para manter esses números, é fundamental a “normalidade” da produção nos próximos meses.

“Quando a gente fala que reduziu 25% não representa tanto no fechamento do ano, porque 70% do volume de exportação está no segundo semestre. Percebemos que a covid teve sua parcela (de contribuição nos resultados), mas não tão drástica. O maior problema nesse sentido foi que o transporte aéreo parou 100%, mas ele representa 7% do volume exportado ao ano, o que é pouco expressivo”, aponta o gerente comercial. (Fonte: JC.Ne)
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PESQUISADORES DESENVOLVEM PRIMEIRO SISTEMA ORGÂNICO DE MANGA NO BRASIL

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) anunciou o desenvolvimento do primeiro sistema de produção orgânica de manga. A técnica fica disponível para ser utilizada por agricultores interessados em empregar o método em suas propriedades.

O sistema se diferencia pela abstenção do uso de agrotóxicos e de fertilizantes químicos. Em vez desses insumos, são empregadas outras técnicas. A adubação é feita com base em compostos orgânicos. Há também formas específicas de realização do controle de pragas, como monitoramento preventivo.

A pesquisa foi realizada na cidade baiana de Lençóis, na Chapada Diamantina. Ela foi uma parceria com uma empresa, chamada Bioenergia Orgânicos. O projeto conjunto teve início em 2011, já tendo lançado sistemas orgânicos para abacaxi e maracujá.

A iniciativa trouxe uma produtividade maior do que os métodos convencionais. Foram obtidas 20 toneladas por hectare, com perspectiva de alcançar 25 toneladas por hectare em ciclos posteriores.

A média da produção desta fruta é de 15,6 toneladas por hectare. Segundo os pesquisadores, o desempenho pode ser melhorado em caso de plantio de mais mangueiras no espaço, aumentando o adensamento.

Foram utilizadas duas variedades, Ubá e Palmer. A primeira é proveniente da cidade mineira de mesmo nome. A segunda tem origem nos Estados Unidos, mas é plantada no Brasil desde os anos 1960.

Segundo o pesquisador da Embrapa envolvido no projeto Túlio de Pádua, o sistema serve como um “roteiro” que pode ser implantado por produtores. Contudo, ele alerta que é preciso ajustar os métodos à realidade de cada localidade.

“Estamos produzindo na Chapada Diamantina, que tem tanto de chuva por ano, com temperaturas de determinada característica, com uso de manga irrigada. Cada região vai precisar adaptar o roteiro a sua condição”, destaca.

A Embrapa pode esclarecer dúvidas de produtores por meio de seus canais institucionais. A unidade responsável por essa pesquisa foi a Embrapa Mandioca e Fruticultura. A assistência técnica fica a cargo dos órgãos estaduais, as Aters.

De acordo com a Embrapa, não há dados sobre o índice da modalidade orgânica dentro do cultivo de manga no Brasil. Em todo o mundo, essa participação é de 0,43% da área cultivada, conforme dados da Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam). Em uma projeção para a realidade brasileira, isso significaria 282 hectares no país.

A Bahia tem a liderança em área colhida (24.200 hectares, o que representa 36,9% da área colhida de manga em todo o País), ficando em segundo lugar, atrás de Pernambuco, em quantidade produzida (378.362 toneladas contra 496.937 toneladas) e produtividade média (15,6 t/ha contra 41,3 t/ha). Essa diferença se explica pelo fato de Pernambuco utilizar um espaçamento mais adensado e abarcar grandes produtores tecnificados, além de variedades mais produtivas visando à exportação, enquanto na Bahia a produção de manga envolve pequenos agricultores familiares e responde por, aproximadamente, 29% da produção nacional.

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CURAÇA: AUMENTA EXPECTATIVA DAS ARARINHAS AZUIS SEREM REINTRODUZIDAS À NATUREZA E FAZER VOO NA CAATINGA

Na próxima segunda-feira (3) completa 5 meses ão exatosque as 52 Ararinhas Azuis retornaram à caatinga, sertão do Curaçá, Bahia. A cada doa aumenta a expectativa para se poder contemplar o voo das aves livres na caatinga. São mais de 20 anos que isto não ocorre.

Com exclusividade a redação da redeGN, mostrou no mês de março ao leitor fotos do Refúgio de Vida Silvestres da Ararinha Azul e a Área de Proteção Ambiental. Em contato com o Ministério do Meio Ambiente, através do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a informação é que "algumas adaptações estão sendo feitas", nos locais destinados à reintrodução Ambiental e conservação do bioma da caatinga, localizado na Fazenda Caraíbas. 

Desde o momento de chegada ao  Centro de Reprodução e Soltura em Curaçá, as Ararinhas foram admitidos em quarentena, com a supervisão das autoridades do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) no local. Cada ave foi retirada da caixa de transporte e teve a leitura de chip realizada. 

Descoberta há mais de 200 anos pelo naturalista alemão Johann Baptist Ritter von Spix, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) não é observada na natureza desde que o último exemplar, um macho, desapareceu em outubro de 2000. Passados 20 anos desde sua última aparição, a espécie finalmente voltou a habitar as matas de Curaçá, no sertão da Bahia, como resultado de um esforço conjunto que vem sendo desenvolvido desde 1986, quando foi descoberta a última população selvagem de apenas três indivíduos. 

A formalização desta iniciativa ocorreu em 1990, quando o Ibama criou o Comitê Permanente para a Recuperação da Ararinha-azul. Desde então, entre muitas idas e vindas e contando com o esforço de inúmeras organizações, fundações internacionais.
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BRASIL CELEBRA 31 ANOS DE SAUDADES DE LUIZ GONZAGA

O Brasil ainda celebra domingo, 02 de agosto, os 31 anos de saudades, morte do cantor e compositor Luiz Gonzaga, o rei do baião. Lua, como também era conhecido, foi essencialmente um telúrico. Ele soube como ninguém cantar o Nordeste e seus problemas. Pernambucano, nordestino ou simplesmente brasileiro, Luiz Gonzaga encantou o Brasil com sua música, tornando-se um daqueles que melhor souberam interpretar sua alma.

Nascido em Exu, no alto sertão de Pernambuco, na chapada do Araripe, ele ganhou o Brasil e o mundo, mas nunca se esqueceu de sua origem. Sua música, precursora da música popular brasileira, é algo que, embora não possa ser classificada como "de protesto", ou engajada, é, contudo, politicamente comprometida com a busca de solução para a questão regional nordestina, com o desafio de um desenvolvimento nacional mais homogêneo, mais orgânico e menos injusto, portanto.

Telúrico sem ser provinciano, Gonzaga sabia manter-se preso às circunstâncias regionais sem perder de vista o universal. Sua sensibilidade para com os problemas sociais, sobretudo nas músicas em parceria com Zé Dantas, era evidente: prenhe de inconformismo, denúncia do abandono a que ainda hoje está sujeito pelo menos um terço da população brasileira, mormente a que vive no chamado semi-árido.

Não estaria exagerando se dissesse que Gonzaga, embora não tivesse exercido atividade política ou partidária, foi um político na acepção ampla do termo. Política, bem o sabemos, é a realização de objetivos coletivos e não se efetua apenas por meio do exercício de cargos públicos, que ele nunca teve. Política é sobretudo ação a serviço da comunidade. Como afirma Alceu Amoroso Lima, é saber, virtude e arte do bem comum.

Além de nunca ter omitido suas opiniões, Gonzaga também nunca se esquivou de participar ativamente quando necessário. Em um momento particularmente difícil vivido por sua terra, Exu, e tendo em vista as muitas mortes decorrentes da rivalidade das famílias Alencar e Sampaio, ele ergueu corajosamente sua voz. Na ocasião, era governador de Pernambuco e pude receber dele ajuda fundamental na tarefa que, com êxito, empreendi no sentido de pacificar a cidade e restabelecer a concórdia naquela importante região do sertão.

Deixei o governo com Exu em paz. Nenhum crime de natureza política voltou a ocorrer e, por meio de melhoramentos que me eram sugeridos pela comunidade por intermédio de Gonzaga, foi possível reintegrar a cidade ao convívio social, do qual nunca mais se apartaria.

Outro aspecto político da presença de Luiz Gonzaga foi no resgate da música popular brasileira. O vigor de suas toadas e cantorias tonificou a nossa música, retirando-a do empobrecimento cultural em que se encontrava. Sua música teve um viés nacionalista, ou melhor, brasileiríssimo, que impediu que lavrasse um processo de perda de nossa identidade cultural. 

Não foi uma música apenas nordestina, mas genuinamente nacional, posto que de defesa de nossas tradições e evocação de nossos valores.

Luiz Gonzaga interpretou o sofrimento e também as poucas alegrias de sua gente em quase 200 canções, em ritmos até então desconhecidos, como o baião, o forró, o xaxado, as marchinhas juninas e tantos outros. Mas foi por meio de "Asa Branca" que Lua elevou à condição de epopéia a questão nordestina. Certa feita, Gilberto Freyre afirmou que o frevo "Vassourinhas" era nossa marselhesa. Poderíamos dizer, parafraseando Gilberto Freyre, que "Asa Branca" é o hino do Nordeste: o Nordeste na sua visão mais significativamente dramática, o Nordeste na aguda crise da seca.

Gilberto Amado disse a propósito da morte de sua mãe: "Apagou-se aquela luz no meio de todos nós". Para o Nordeste, e tenho certeza para todo o país, a morte de Luiz Gonzaga foi o apagar de um grande clarão. Mas com seu desaparecimento não cessou de florescer a mensagem que deixou, por meio da poesia, da música e da divulgação da cultura do Nordeste.

Em sua obra ele está vivo e vive no sertão, no pampa, na cidade grande, na boca do povo, no gemer da sanfona, no coração e na alma da gente brasileira, pois, como disse Fernando Pessoa, "quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente".

Fonte: Site Senador Marco Maciel foi vice-presidente da República. Foi governador do Estado de Pernambuco (1979-82), senador pelo PFL-PE (1982-94) e ministro da Educação (governo Sarney).
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LAVANÉRIO LEANDRO FURTADO: UNIDOS PELA XEPA

Lavanério Leandro Furtado, escritor da cidade de Bodocó-Pernambuco, em plena pandemia, desconstroe a distópica situação premente. O seu livro, lançado em formato digital (pela Amazon) e cognominado Unidos Pela Xepa, nos remete a um passado não tão longínquo e o um horizonte não tão próximo. 

Trata-se da vida de jovens que têm um ponto em comum: a vida na cidade grande (Recife), deixando, cada um, suas vidas no interior para confluir e existir como força motriz na Casa do Estudante de Pernambuco (C.E.P.). No desenrolar das anedotas, percebemos a humanidade e a divergências econômico-sociais dos residentes da casa. O coronelismo, a união, a vida e seus melindres. Com a força que urge no leão de cada sertanejo, surge uma nova literatura. Regionalista. Inteligente. 

Link para comprar o E-Book: https://www.amazon.com.br/s?k=lavanerio&ref=nb_sb_noss
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PAÊBIRU: NAS PAREDES DA PEDRA ENCANTADA, OS SEGREDOS TALHADOS POR SUMÉ

Foi em 2001 que ouvi falar sobre Paêbirú: caminho da montanha do sol (1975), primeiro lançamento comercial do paraibano Zé Ramalho, acompanhado do pernambucano Lula Côrtes. O disco era mencionado na revista Showbizz numa lista de 10 grandes obras da psicodelia brasileira. Eu, que à época já começava a conhecer melhor as canções de Zé, fiquei intrigado com o álbum, sem vislubrar que pudesse escutá-lo algum dia.

Isso aconteceria em 2007, graças à boa e velha internet, pois o disco era (e ainda é) raríssimo. Contam-se diversas lendas para explicar a exiguidade de exemplares de Paêbirú. A mais conhecida, certamente, é que diz ter ocorrido uma enchente que destruiu 1.000 das 1.300 (?) cópias originalmente prensadas, além das próprias fitas master. O fato é que, hoje, um exemplar do LP de 1975 custa em torno de 5.000 mangos – apesar de circularem algumas cópias, por aí, lançadas pelo selo Mr. Bongo. (E o crítico Mauro Ferreira informou, há pouco, que a raridade voltou a ser editada pela série Clássicos do Vinil, mediante parceria da Polysom com a Rozenblit, gravadora original do álbum).

O folclore que envolve o disco, apesar de interessante, não é nada comparado ao seu próprio conteúdo. As faixas estão divididas nos quatro lados (do LP duplo) intitulados de acordo com os quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Assim, trata-se de uma obra conceitual e, acima de tudo, coletiva. Participaram da concepção de Paêbirú não apenas Lula e Zé Ramalho, mas também outros amigos que, mais tarde, ganhariam maior notoriedade, Alceu Valença e Geraldo Azevedo – além de músicos inquestionáveis como Ivson Wanderley, Zé da Flauta, Paulo Rafael e Jarbas Mariz.

O disco representa uma imersão no misticismo, na mitologia e nas estórias que envolvem o sítio arqueológico paraibano da Pedra do Ingá. Tudo gira ao redor da entidade conhecida pelos indígenas da região como Sumé, aludida em suas narrativas orais e nos desenhos rupestres ali encontrados. Há quem diga que Sumé foi um ser humano comum, vindo de algum outro continente (já ouvi a história de que se trata do próprio São Tomé!); mas as lendas também o descrevem como um extraterrestre que desembarcou no Ingá a partir do ar, e há quem considere se tratar do próprio Ashtar Sheran, entidade que lideraria um conselho galático do qual Jesus Cristo faz parte, como responsável/representante da Terra. (Enfim, na mística envolvendo Sumé, cabe todo tipo de maluquice).

Assim, Paêbirú tem momentos tão loucos e incompreensíveis como as estórias acima (por exemplo, na suíte de abertura que engloba todo o lado “terra”, “Trilha De Sumé”, “Culto À Terra” e “Bailado Das Muscarias”), mas também traz faixas de elevada delicadeza, como as instrumentais “Harpa Dos Ares” e “Beira Mar”.

Na faceta louca/inclassificável/descontrolada, o grande destaque é a canção tematizada hoje, com o longo título “Nas Paredes Da Pedra Encantada, Os Segredos Talhados Por Sumé” e pertencente ao incendiário lado “fogo”.

À época em que conheci o álbum, li em algum lugar que a faixa poderia ser definida como o que seria dos The Doors se eles tivessem nascido no Nordeste. Perfeito! “Nas Paredes…” é exatamente isso: um complexo e intrincado improviso que envolve baixo, bateria, guitarras, sopros e teclados, muitos teclados. É como se o “Roadhouse Blues” fizesse uma viagem de ácido no sertão, trombando cangaceiros e tupinambás. (Prefiro considerar que talvez seja a primeira incursão brasileira no que hoje se chama de jazz fusion).

A letra é formada por quatro estrofes com dez versos decassílabos, utilizando a forma conhecida como martelo agalopado, sempre concluindo com o mote: “Nas paredes da pedra encantrada / Os segredos talhados por Sumé”.

A melodia, por fim, é provavelmente o que mais chama a atenção (além da viajante letra que narra a importância e descreve as façanhas atribuídas a Sumé). Indefinível… mas talvez eu possa arriscar dizendo que ela mistura a inquietude de um repente cordelista com a ludicidade de uma cantiga infantil.

Bom, só ouvindo mesmo:
Quando as tiras do véu do pensamento
Desenrolam-se dentro de um espaço
Adquirem poderes quando eu passo
Pela terra solar dos cariris
Há uma pedra estranha que me diz

Que o vento se esconde num sopé
Que o fogo é escravo de um pajé
E que a água há de ser cristalizada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

Um cacique de pele colorida
Conquistou docilmente o firmamento
Num cavalo voou no esquecimento
Dos saberes eternos de um druida
Pela terra cavou sua jazida

Com as tábuas da arca de Noé
Como lendas que vêm do Abaeté
E como espadas de luz enfeitiçada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

Cavalgando trovões enfurecidos
Doma o raio lutando com Plutão
Nas estrelas-cometas de um sertão
Que foi um palco de mouros enlouquecidos
Um altar para deuses esquecidos

Construiu sem temer a Lúcifer
No oceano banhou-se na maré
E nas montanhas deflorou a madrugada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

Sacrifique o cordeiro inocente
Entre os seios da mãe-d'água sertaneja
Numa peleja de violas se deseja
É que o sol se derrube lentamente
Que a noite se perca de repente

Num dolente piado de Guiné
Nos cabelos da ninfa Salomé
Nos espelhos de tez enluarada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé
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FUNDADOR DA CASA GRANDE GRANDE MEMORIAL DO HOMEM KARIRI PARTICIPA NO DOMINGO DIA 02 DE AGOSTO DO PROGRAMA NAS ASAS DA ASA BRANCA-VIVA LUIZ GONZAGA E SEUS AMIGOS


Domingo 02 de agosto no Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, às 9hs www.radiocidadeam870.com.br. Café Prosa com Alemberg Quindins. 

Você vai saber o motivo do Estado de Espírito do vento/cariri que sopra com saudade do Mar. Você vai compreender a importância do contexto da Chapada do Araripe para o mundo. Rio São Francisco. Patativa do Assaré. Luiz Gonzaga e Padre Cícero. Arqueologia. Gestão Cultural. Alemberg diz que a Chapada do Araripe tem uma influência nesse território desde o período cretáceo. Em torno dela, de um lado tem Luiz Gonzaga, a Pedra do Reino, de Ariano Suassuna e a Missa do Vaqueiro, Padre Cícero, Patativa do Assaré, Espedito Seleiro, toda uma cultura. O Cariri é um oásis em pleno sertão. É o solo cultural por conta de toda essa força que vem da geologia, da paleontologia, da cultura.

Francisco Alemberg de Souza Lima- Alemberg Quindins. Músico de formação popular, historiador autodidata, Fellow da Ashoka e Líder da Avina.

Em 1992, restaurou a primeira casa grande da fazenda que deu origem ao Município de Nova Olinda, Ceará e criou a Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri: Uma Organização não governamental que tem como missão educar crianças e jovens através da gestão cultural e do protagonismo juvenil. Como consultor do UNICEF, criou nos assentamentos dos sem terra no Ceará e no Rio Grande do Norte, o projeto Vez da Voz com a implantação de irradiadoras para crianças
e adolescentes, além de rádios escolas em várias cidades do Ceará.

Alemberg na África, em Moçambique e Angola, criou a rede de jovens comunicadores da língua portuguesa. São mais de 30 programas “de criança para criança”, fortalecendo o protagonismo juvenil e o intercâmbio entre os paises pares.
Em 2007 foi consultor do Projeto Rumos do Itaú cultural.

*MARIANA ALBANESE:
Nordestina era uma cidadezinha desse tamanho assim, da qual se dizia: "eita lugarzinho Sem futuro!". Antônio ouviu dizer isso desde pequeno, e deu por certo o fato. Para chegar em Nordestina, tinha que se andar bem muito. É claro que ninguém fazia isso: o que é que a pessoa ia fazer em um lugar onde não tinha nada para fazer?

(Trecho do livro “A Máquina”, de Adriana Falcão)
Quando pequeno, morando em Tocantins, Alemberg Quindins era um menino fora do mapa. Sabia do mundo por quem passava por sua cidade, Miranorte, e mais não tinha.

Se virou como podia e montou uma pequena editora, cineminha, tudo improvisado para dar alguma diversão a seus colegas, também fora do mapa. Da primeira infância, no Sertão do Cariri, no Ceará, lembrava-se de uma índia que lhe contava histórias e de uma estátua de indiozinho em sua casa. 

Quando voltou para lá, já crescido, foi atrás destas lembranças. Conheceu uma moça do Crato, Rosiane Limaverde. Por essas coincidências da vida, haviam nascido no mesmo dia e ano: 19 de dezembro de 1965. Casaram-se na mesma data, em 1983. A parceria também era musical. Saíram sertão afora, estudando a música pré-histórica da região, e vez por outra deparavam-se com objetos de valor histórico, que iam recolhendo. Formaram um acervo.

Em 1992 nasceu oficialmente a Fundação Casa Grande, no mesmo dia 19 de dezembro. Uma velha casa no município de Nova Olinda, que havia pertencido ao avô de Alemberg, Neco Trajano, foi reformada e passou a abrigar o Memorial do Homem Kariri. O espaço guarda o acervo recolhido por Alemberg e Rosiane - ao qual foi incorporado o indiozinho da infância, cuidado até então pela velha senhora que lhe contava histórias. Kariúzinho hoje é personagem de revista em quadrinhos feita pelos meninos.

A iniciativa gerou interesse das crianças que viviam na zona urbana da cidade. Elas foram se achegando, dando novas idéias e demanda para ampliação.

De forma natural, as áreas de atuação da Fundação foram aumentando, conforme o casal sentia a carência cultural da cidadezinha. Em 1998 foi anexado o prédio da primeira escola da cidade, o Educandário. Tornou-se a Escola de Comunicação da Meninada do Sertão. Em 2002, foi a vez do Teatro Violeta Arraes – Engenho de Artes Cênicas ser inaugurado. O fluxo de curiosos foi aumentando e a necessidade de um programa de turismo surgiu. Foram criadas pousadas domiciliares no fundo das casas, administradas pela Cooperativa dos Pais e Amigos da Casa Grande (Coopagran).

Memória, Comunicação, Artes e Turismo são hoje as áreas de abrangência da Casa Grande, que aos 15 anos de existência, chega à adolescência. Seus primeiros meninos já são adultos, trilham seu caminho paralelo e começam a levar seus filhos para brincarem no parquinho da Fundação. Os mais velhos ensinam os mais novos, sempre dispostos a ouvir.

Essa geração de jovens com formação de qualidade superior à encontrada na maioria das escolas regulares faz com que a instituição seja, além de um projeto bem sucedido, um marco histórico para a região em que está inserida. Mais do que uma escola de comunicação, um centro cultural, ou uma instituição para crianças, a Casa Grande é hoje um laboratório de convivência social onde aprende-se a ter responsabilidade sem perder a alma infantil. Ou, como Alemberg bem resumiu:

“Não queremos formar comunicadores, e sim futuros gestores do país”.
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