"É IMPORTANTE RESSALTAR TEMOS ACOMPANHADO CASOS DE PESSOAS QUE NÃO APRESENTAM NENHUM FATOR DE RISCO. EM BOM ESTADO DE SAÚDE E CHEGARAM A TER COMPLICAÇÕES. NINGUÉM ESTÁ RESISTENTE AO VÍRUS", DIZ PROFESSOR

“É importante ressaltar que a gente tem acompanhado casos de pessoas que não apresentam nenhum fator de risco, estão em bom estado de saúde, mas chegaram a ter complicações, ir para a UTI e ainda, em alguns casos, chegaram a óbito. Ninguém está resistente ao vírus", diz 

Um estudo da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP mostra que manter a prática de atividades físicas se tornou ainda mais importante neste período de isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. Além de fortalecer o sistema imunológico, exercícios físicos fortalecem a saúde mental. 

A pesquisa, realizada em parceria com professores e universidades de países da América Latina e Europa, mostra que pessoas com estilo de vida mais saudável, que já realizavam atividades físicas antes da pandemia ou que aderiram à prática neste período, conseguem suportar melhor a ansiedade e o estresse provocados neste momento. 

“Nós temos uma indicação de que as pessoas que, antes da pandemia, eram ativas fisicamente têm apresentado respostas psicológicas mais leves em relação à ansiedade, estresse e estado de humor. E quem está realizando as atividades durante a pandemia também tem apresentado resultados melhores”, afirma o professor da EEFERP, Átila Alexandre Trapé, que participou do estudo. 

Mas os benefícios não estão só na parte imunológica e mental. Realizar atividades físicas durante este período pode evitar problemas de mobilidade no futuro, principalmente para aqueles que, agora, passam mais tempo sentados ou deitados. 

“A partir do momento que a pessoa está se movimentando menos, há um estímulo menor para o corpo, e isso pode acarretar uma perda de massa muscular e de massa óssea. Então, quem já tem algum tipo de problema, precisa ter ainda mais cuidado. E quem ainda não tem, é o momento de prevenir. As pessoas estão passando boa parte do dia deitadas ou sentadas, é importante fazer algum tipo de movimento”, explica. 

O professor ainda destaca que muitos profissionais de educação física estão disponibilizando aulas e treinos on-line para contribuir com quem quer realizar atividades físicas durante a pandemia. Mas alerta sobre alguns cuidados que se devem tomar. 

“Tem muitos profissionais de educação física promovendo treinos ao vivo, gravando vídeos e divulgando e isso é muito bacana; tem sido muito importante para as pessoas se manterem ativas dentro de casa. Mas é importante ter cuidado, respeitar os seus próprios limites. Se a pessoa não treinava, tem que começar com muita cautela, respeitando suas limitações, o seu nível de condicionamento físico. É preciso ter uma consciência muito boa, avaliar aquilo que tem condições de fazer e tentar se adaptar”, destaca. 

Mas algumas pessoas têm dificuldades em manter o ânimo e a motivação para fazer os treinos em casa. Segundo o professor, o primeiro passo para se motivar é “reconhecer a importância que as atividades físicas vão proporcionar para a própria saúde da pessoa”. Trapé aponta ainda que “é importante buscar atividades que ofereçam algum tipo de motivação”. 

Apesar de a prática de atividades físicas ter vários benefícios, isso não significa imunidade à doença. “É importante ressaltar que a gente tem acompanhado casos de pessoas que não apresentam nenhum fator de risco, estão em bom estado de saúde, mas chegaram a ter complicações, ir para a UTI e ainda, em alguns casos, chegaram a óbito. Então, ninguém está resistente ao vírus. Todos estão suscetíveis a se contaminar”, conclui o professor. (Fonte: Jornal USP)
Nenhum comentário

CAMPO GERAL É UM CAMINHO SEM VOLTA PARA O LEITOR DE GUIMARÃES ROSA

“Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-Frango-d'Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covoão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos.”

Campo Geral começa assim, no aconchego familiar. Guimarães Rosa vai guiando o leitor pelo cenário encantado das matas. E, se o leitor se deixar levar pelas descobertas de Miguilim, vai esquecer que a leitura não é apenas uma mera obrigação para o vestibular da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), que dá acesso aos cursos da USP, mas uma oportunidade para conhecer o melhor da literatura brasileira.

“O que mais recomendo para o leitor de Guimarães Rosa é atenção, como todos livros dele. Essa novela deve ser lida com todo cuidado, sem pressa e, junto ao entendimento, com a imaginação aberta”, orienta o professor Luiz Dagobert de Aguirra Roncari, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Por isso ela parece mágica. É que muitos sentidos outros, inesperados, se revelam com aqueles dados à primeira vista, como se abríssemos uma caixa de bolachas e ela nos trouxesse bombons e outras surpresas que satisfazem muito a nossa inteligência. É esse o milagre.”

O professor explica que, em Guimarães Rosa, cada palavra é pensada e tem a sua devida importância. “O autor usa as palavras e as explora em todas as suas possíveis conotações, étimos perdidos e outros possíveis ainda não explorados. Ele é um escritor culto e recusa a escrita fácil, aquela que pretende só passar um recado; para ele a escrita tem também que ser saboreada, como uma fruta. É um momento de gosto, reflexão e descobertas.”

Se o vestibulando sentir dificuldade na leitura do texto, o professor observa que é preciso deixar a escrita aparentemente obscura se revelar no seu tempo e com os caprichos que o autor lhe embutiu. “Quando a sua escrita parece obscura, se temos o cuidado de deixar que se nos revele no seu tempo e com todos os caprichos que o autor lhe embutiu, ela se torna uma coisa viva, que pode nos dar muita alegria intelectual e satisfação.”

A leitura de 'Campo Geral' nos permite apreciar nos seus liames mais cerrados os afetos e as agonias da família média brasileira, que procura imitar o modelo, com seus preconceitos e vícios, da nossa família patriarcal.”"

Importante lembrar que Campo Geral, segundo análise de Roncari, é a primeira das novelas incluídas em Corpo de Baile, um dos livros mais importantes de Guimarães Rosa e da literatura brasileira, daí justificar a sua leitura para o vestibular da Fuvest. “Na primeira edição, de 1956, em dois volumes, o autor as chamava ainda de poemas, e depois passou a considerá-las todas novelas. Cada uma delas, ao mesmo tempo em que tem a sua autonomia, pode ser lida separadamente e não depende das demais para o seu entendimento, compõe com as outras um todo com certa organicidade. 

Enquanto tal é que esse livro precisa ainda ser mais estudado, no seu todo. Existem muitos trabalhos sobre cada uma das estórias, mas ainda ficam muitas dúvidas sobre as suas articulações, do que temos só algumas pistas.”

Para integrar o estudante na literatura de Guimarães, o professor faz uma breve síntese de outras estórias. “É possível ver no livro um movimento que reproduz o ciclo de um dia, da manhã à noite. Campo Geral faria parte das estórias matinais, que teriam seu ápice com outras mais solares, como A Estória de Lélio e Lina, que seria o pico do meio-dia, e fecharia com a noturna, Buriti, a novela das noites eróticas entre Lalinha e Iô Liodoro, passando pelas crepusculares Lão-dalalão (Dão-lalalão) e Cara-de-Bronze. 

Os fios tênues que amarram o conjunto delas são algumas personagens de Campo Geral que voltam a aparecer em outras, como a principal delas, o menino Miguilim, que ressurge na última, Buriti, agora já adulto, como Miguel, para dar-lhe um final radioso, simbolizando o ressurgimento de uma família que havia se desagregado e traz a promessa de ressurreição.”

Na avaliação de Roncari, “a leitura de Campo Geral permite apreciar nos seus liames mais cerrados os afetos e as agonias da família média brasileira, que procura imitar o modelo, com seus preconceitos e vícios, da nossa família patriarcal”.

“O autor, falando de uma família particular, a de Miguilim, no ninho de afetos e rancores do Mutum, capta as ameaças e riscos que, de certa forma, ela vive na sua generalidade”, observa o professor.

 O narrador acompanha muito de perto o menino Miguilim, as suas dores, alegrias e descobertas do mundo.”

Campo Geral revela para o leitor muitas emoções sensíveis e intelectuais. “O narrador acompanha muito de perto o menino Miguilim, as suas dores, alegrias e descobertas do mundo. Por isso ela é também uma novela de formação, de um menino vivendo, sofrendo e descobrindo o mundo e os homens, mas também reagindo a eles”, esclarece Roncari.

Apesar da inocência, da ingenuidade, Miguilim não é passivo. “Por isso, o final da novela tem um sentido alegórico: quando o médico percebe que ele é míope e lhe empresta os seus óculos e o herói descobre um outro mundo, mais claro e definido do que tinha percebido até o momento, o vê agora nas suas verdades ou pelo menos que ele era muito diferente do que tinha visto. Significa que ele mudou, cresceu ou houve para ele um ganho na percepção do mundo. Esse esclarecimento da visão tem também o significado de que ele aprendeu, não apenas sofreu o mundo, mas deu um passo além no seu conhecimento do que viveu.”

Difícil resumir Campo Geral para uma rápida leitura. O leitor, como bem diz Roncari, terá que ser atencioso. “De uma literatura como a de Guimarães, por tudo o que já disse, é muito difícil de fazer uma síntese. Seria quase a sua negação, já que a sua verdade maior está mais, como ele próprio diz, na sua travessia, quer dizer, na passagem de cada uma das suas palavras, frases e acontecimentos, do que na chegada ao final. Este é quase nada sem passar por elas, o como é tão ou mais importante do que disse. Isso já é um lugar comum sobre a escrita do autor.”

“O sítio era um ninho de afetos e recalques familiares vivendo as suas ameaças: externas, simbolizadas pela selvageria dos macacos e antas; e internas, simbolizadas pelos porcos do Patori.”

Certo é que o leitor vai se deixar envolver pela imaginação infantil. “A estória é sobre uma família camponesa média, de pequenos arrendatários de terras, endividados, sendo eles próprios que trabalhavam com alguns ajudantes, no Mutum. Ele ficava na fronteira entre o conhecido e o desconhecido, tanto que os lugares próximos ainda não eram nem nominados”, conta o professor. “O sítio era um ninho de afetos e recalques familiares vivendo as suas ameaças: externas, simbolizadas pela selvageria dos macacos e antas; e internas, simbolizadas pelos porcos do Patori.

 Elas eram as possibilidades de traição, como as da mãe com o tio Terêz e o Luisaltino, e do incesto, como a inclinação de Miguilim, que dizia a si mesmo que ‘era ele quem ia se casar com a Drelina’, uma de suas irmãs. Era contra essas ameaças que a Vovó Izidra, na verdade uma tia-avó da mãe, uma espécie de portadora da ordem familiar patriarcal, como Hera, irmã de Zeus, praguejava e lutava. Ela temia que a mãe, Nhanina, seguisse os impulsos desorganizadores da sua mãe, Vó Benvinda, que tinha sido, como dizia um vaqueiro, ‘quando moça mulher-à-toa’.

 O curso da novela são os episódios vividos por Miguilim, das suas perdas, como a expulsão do lugar de tio Terêz, a da cachorrinha Pingo-de-ouro, a morte do irmão mais próximo, Dito, que ele ouvia muito, lhe ensinava coisas sábias sobre a vida e de quem ele gostava tanto, o assassinato de Luisaltino pelo pai e o seu suicídio.”

Segundo o professor, “tudo se passa a partir do ângulo de visão de Miguilim, que o narrador acompanha de muito perto, como pelas costas, mas todos têm também um significado extra, mítico-simbólico – tio Terêz, vó Izidra, Mãetina, Nhanina, Dito, o Patori, seo Aristeu –, acrescido pelo autor, que faz o narrador combiná-lo com as percepções agudas dos sentimentos do menino. Por isso, cada personagem tem um composto empírico, dado pela sua experiência com o herói, Miguilim, e um elemento simbólico, que só o autor com sua intervenção poderia acrescentar à exposição do narrador, aquele sujeito invisível que nos conta a estória”.

O professor afirma que “é importante o leitor saber distinguir o que é da experiência do herói, o menino no seu embate com o mundo e os homens, o que é do autor, senhor de um conhecimento que só um sujeito muito culto poderia ter e sutilmente acrescentar, e o que é do narrador, aquele que reúne os saberes dos mais diferentes campos, coisas do sertão e dos livros, e conta tudo para nós”.

Para os interessados em saber mais detalhes ou pesquisar a obra de Guimarães Rosa, há dois livros escritos pelo professor Luiz Roncari: O Brasil de Rosa: o Amor e o Poder e Lutas e Auroras: os Avessos do Grande Sertão: Veredas, ambos publicados pela Editora da Unesp.

O livro Campo Geral, de Guimarães Rosa, está em domínio público e pode ser baixado em pdf em vários endereços. Um deles é este: https://rl.art.br/arquivos/6338307.pdf (Fonte: Jornal USP Leila Kiyomura)
Nenhum comentário

BARBALHA: TRADICIONAL FESTA DE SANTO ANTÔNIO É TRANSMITIDA PELOS APLICATIVOS DIGITAIS

Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cantou que a Festa de Santo Antonio de Barbalha, Ceará, era um dos mais bonitos encontros de religiosidade. Este ano a festa não vai envolver a multidão. As sanfonas e as bandas de pife quase em silêncio.

De forma inédita, a SerTão TV transmitirá a Festa de Santo Antônio de Barbalha em 2020. A parceria foi firmada entre a Paróquia do município e a emissora. Serão 13 dias de celebrações transmitidas direto de Barbalha, no Cariri do Ceará, pelo canal 180, redes sociais, plataforma e aplicativos.

O público da região já acostumou-se com a alegria do momento de junho na companhia das celebrações ao Santo Antonio casamenteiro. Devido à pandemia, Barbalha e o Ceará esperam um momento de vivência com a festa online, o que será amplamente mostrado pelos canais digitais.

Em 2018, o Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Ceará (Coepa) considerou a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha como Patrimônio Cultural do Estado do Ceará. Já o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu a festa como Patrimônio Imaterial Brasileiro.

Misto de cultura popular e fé católica, a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha, município do Sul cearense, entrou desde 2015 para a lista das celebrações registradas como patrimônio imaterial brasileiro.

Os festejos de Santo Antônio remontam ao fim do século XVIII e se relacionam à própria origem da cidade de Barbalha, com a construção de uma capela em devoção ao santo. Atualmente, as celebrações duram 13 dias, terminando no dia 13 de junho, Dia de Santo Antônio.

A tradição do Pau da Bandeira começou em 1928. Trata-se do tronco de uma árvore previamente escolhida, simbolizando a promessa e a devoção ao santo casamenteiro. Os carregadores formam uma espécie de irmandade e centenas de homens se revezam para levar o pau sobre os ombros por cerca de 6 quilômetros até a frente da Igreja Matriz de Barbalha, onde é hasteado com a bandeira de Santo Antônio, numa demonstração de força e fé.
Nenhum comentário

VOLUME ÚTIL DA CAPACIDADE DE SOBRADINHO NESTE DOMINGO É DE 92,63%

O nível da capacidade do volume útil para este domingo 31, na Barragemd de Sobradinho é de 92,63%.A previsão para este domingo é de afluência (água que entra) de 1.460 m³/s, enquanto a defluência (água que sai) permanece em 1.400 m³/s.

Os pescadores da região do vale do São Francisco apontam o quanto o "homem domina a vazão do Rio São Francisco".  

A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) continua o acompanhamento das vazões e os níveis dos seus principais reservatórios. Neste sábado (29), a Companhia divulgou as previsões de cotas e vazões do Reservatório de Sobradinho (BA) para o período de 29 de maio a 13 de junho deste ano.

A barragem chegou a atingir 95% de sua capacidade útil, o nível alcançado pela primeira vez desde 2009, quando Sobradinho chegou a 100% de sua capacidade. A assessoria de imprensa da Chesf informa que " o cenário se dá por conta das chuvas, principalmente as ocorridas no estado de Minas Gerais, a partir da segunda quinzena de janeiro deste ano, que possibilitaram um aumento significativo do nível do reservatório, após oito anos de escassez hídrica.

A situação é de normalidade e bastante favorável com relação ao armazenamento de água em Sobradinho, que possibilitará o atendimento aos usos múltiplos, durante o próximo período seco, motivo de comemoração por parte de todos os usuários do Velho Chico.
Nenhum comentário

EX--PARCEIRA DE DOMINGUINHOS, A CANTORA E COMPOSITORA ANASTÁCIA COMPLETA 80 ANOS NESTE SÁBADO 30

Autora de quase mil músicas e regravada por artistas como Gal Costa, Gilberto Gil, Nana Caymmi e Luiz Gonzaga, que a apadrinhou, Anastácia compôs cerca de 250 canções com Dominguinhos, de quem foi esposa e parceira de toda uma vida. Da vida entre os dois, ela resgatou a inédita “Venceu A Solidão”, um bolero daqueles que pedem um trago de conhaque, que fecha o EP com Mariana Aydar e Mestrinho - que também dá o toque na sanfona - nos vocais.


“Já não consigo mais me encontrar/ Findou-se a calma, vou desesperar/ A solidão bateu mais uma vez/ E fez de mim seu lar”, diz o refrão. “Não
mostrei a ele em vida porque não houve oportunidade. Cantamos nós três como se fosse uma homenagem a Dominguinhos”, conta a aniversariante. Com o ex-companheiro, falecido em 2013, ela deu vida a clássicos do cancioneiro nacional, entre eles “Eu Só Quero Um Xodó”, cantada de norte a sul do país, e “Tenho Sede”, que ganhou linda versão de Gil. “Meu repertório com ele foi uma coisa maravilhosa para mim, para ele e para a música brasileira”, diz a compositora.

Aos 80 anos de vida e pouco mais de 60 de carreira na música, há de ser ter muitas histórias para contar. E quando se trata de resistir ao tempo para exaltar o cancioneiro nordestino e deixá-lo reluzente, o mérito da narrativa se torna ainda mais especial.

Ao menos para a cantora, compositora e forrozeira pernambucana Lucinete Ferreira, a Anastácia, como artisticamente é conhecida, essa tem sido a retórica de suas oito décadas de idade celebradas neste sábado (30), com comemorações abertas ontem no lançamento do EP “Anastácia 80 – Lado A”, compilação que reúne algumas de suas composições inéditas disponibilizadas nas plataformas digitais e apresentadas em duetos com artistas da Música Popular Brasileira.

“Tudo faz sentido, porque chegar aos 80 anos fazendo o que eu faço e com saúde, gostando e vivendo da música nordestina, levando alegria às pessoas. Eu não podia ter recebido presente melhor do que essa vida longa, embora espere mais e espero mesmo, viu?”, conta ela, em conversa com a Folha de Pernambuco e com empolgação de menina, provavelmente a mesma que a levou aos 14 anos de idade a escrever suas primeiras letras na música.

Foram minhas primeiras três músicas, ainda quando eu vivia no Recife. Naquele tempo não se tinha muita noção das coisas, aos 14 anos não é? Eu só sei que ria, me divertia quando via o que eu escrevia sendo musicado por outras pessoas”, relembra ela citando Clóvis Pereira, compositor e arranjador pernambucano, entre os nomes que levaram adiante seus escritos da época. 

Em “Anastácia 80 – Lado A” a artista pernambucana, que mora em SP há pelo menos seis décadas, o forró ganha os brios enraizados do Nordeste, sem polimento nem maquiagem.

Com Chico César, Jorge de Altinho, Roberta Miranda, Amelinha, Mestrinho e Mariana Aydar, Anastácia impõe suas vontades de cantar o amor sob a batuta da sanfona, gênero que a consagrou também junto ao Mestre Dominguinhos (1941-2013) com quem dividiu anos de vida e de palco, assinando com ele mais de duzentas composições - entre elas "Eú Só Quero um Xodó" e "Tenho Sede". 

“Tenho uma pastas cheias de coisas (letras), separei uma relação e submeti à minha produção que também achou interessante. Tem músicas mais antigas, outras mais recentes, mas todas perfeitas para o momento que eu pensei para o disco”, conta.

O álbum, dividido em duas partes – na sequência de “Anastácia 80 – Lado A” virá o “Anastácia 80 – Lado B” com outros nomes da MPB e como se fosse “um disco de antigamente, o LP, que a gente virava e ouvia faixas de um lado e de outro”, como explicou a artista – tem a produção do maranhense Zeca Baleiro que o tanto quanto a pernambucana conserva raízes e exalta regionalidades. 

“Forró faz parte da memória afetiva, né? Ouvia no rádio e nos discos de meus pais, Gonzaga, Genival, Jackson (...). Isso impregna na alma. Hoje tenho um projeto de forró em São Paulo (Forró do Safadinho), em que toco clássicos do gênero e também de minha lavra. E sempre recebo convidados", revela Baleiro à Folha. E Anastácia foi um dos nomes que já passou por lá.

Ele adianta, inclusive, que “em breve vem um disco autoral de forró por aí”. Enquanto não chega, é com Anastácia que Zeca Baleiro se emparelha na produção e em duas faixas do disco “O Sertão Está Chorando” e “Venha Logo”. 

“Sou grande fã de Anastácia desde sempre. A conheci em umas gravações do Gilberto Gil e depois fui conhecer seu trabalho solo e sua parceria histórica com Dominguinhos. Ela é danada, criativa, irrequieta, compõe o tempo todo, fácil, letra e melodia, é daquelas artistas essenciais, que abrem caminhos, uma grande referência para todos nós”, complementa ele que assina o álbum junto ao maestro Adriano Magoo, co-produtor do trabalho.

Para Zeca, é de grande valia conhecer e se aprofundar na obra de Anastácia, “artista fundamental para o forró e para a música brasileira”, como ele mesmo pontua ao colocá-la como “pioneira destemida” assim como Marinês e Almira Castilho, esta, parceira de outro mestre, Jackson do Pandeiro. “Elas que foram abrindo caminho para garotas no forró. Eu sou suspeito porque sou muito fã, mas acho Anastácia imensa, vamos celebrá-la - em vida, de preferência”, conclui Baleiro.

Além das faixas já citadas, “Anastácia 80 – Lado A” chega com as faixas “A Saudade me Trouxe Pelo Braço”, “Contando as Estrelas” e “ Venceu a Solidão”, esta última tratada pela artista pernambucana de forma especial. “A melodia é dele (Dominguinhos) e a letra é minha. Quando comecei a compor músicas com ele eu tinha que ficar de olho para não comprometer as suas melodias, feitas de uma forma que não tinha como a gente não gostar. 

Foram quase onze anos de convivência. Divido minha vida antes e depois dele”, ressalta Anastácia que retorna mais adiante com o seu “Lado B” ao lado de Alceu Valença, Lenine e Flávio José entre outros nomes. (Fonte: Folha Pernambuco-Germana Macambira)
Nenhum comentário

NOTA DE REPÚDIO: REITOR PRO TEMPORE CRIA RUPTURA NA UNIVASF

No dia 29 de maio de 2010, conselheiros da Univasf reagem a ruptura estabelecida pelo reitor pro tempore, professor Paulo Cesar Fagundes, fazendo circular nota de repúdio. Conforme publicado com ontem dia 29, o reitor pro tempore durante reunião com 67 conselheiros presentes,, de acordo com a nota, "proporcionou "um espetáculo dantesco, vergonhoso que se mostrou incompetente para conduzir uma reunião de praxe, abandonando-a sem explicações e justamente no ponto de pauta em que seria discutida a situação dos pró-reitores que tiveram os nomes rejeitados pelo Conselho Universitário e mantidos pelo Reitor temporário".

Confira na integra Nota Conselho Universitário da Unifasf:

Caros(as) colegas a universidade é um espaço público onde devem vicejar as reflexões, os conhecimentos e técnicas, em clima de normal aceitação das contradições, das diferentes visões de mundo, da liberdade de pensamento e de criação. Tem de ser, obrigatoriamente, lugar da convivência plural da sociedade pelas responsabilidades que a sua missão impõe para além das disputas de poder e acima dos interesses pessoais ou grupais. Portanto, é dever do seu dirigente respeitar as suas instâncias superiores e os sujeitos que as integram por direito, compreendendo a legitimidade de quem ali chegou por deliberação dos seus órgãos colegiados. 

O Conselho Universitário da UNIVASF reunido em sessão ordinária, no dia 29 de maio de 2020 e com 67 conselheiros presentes, vivenciou um espetáculo dantesco, vergonhoso de um Reitor Pró-Tempore que se mostrou incompetente para conduzir uma reunião de praxe, abandonando-a sem explicações e justamente no ponto de pauta em que seria discutida a situação dos pró-reitores que tiveram os nomes rejeitados pelo Conuni e mantidos pelo Reitor Pró-Tempore e proposta de nota de esclarecimento desse Conselho a ser divulgada no site da UNIVASF como direito de resposta a nota publicada pelo Reitor Temporário. Neste momento, ele deixou a sala de reuniões via conferência web da Rede Nacional de Pesquisa apenas dizendo que o expediente se encerrava às 18h e ele tinha outros compromissos, quando apenas um item da pauta tinha sido deliberado e a plenária manifestando-se positivamente para continuar o debate e deliberações, uma vez que havia quórum e um representante legal que poderia dar continuidade a reunião, o Vice Reitor, substituto natural em eventos como esse. Lamentavelmente, estamos no dizer de Eric Hobsbawm (2013, p. 9-10), vivendo na UNIVASF “Tempos Fraturados”, com a perda de rumo, uma instituição desgovernada, desorientada e com dias tenebrosos.  

A democracia e o respeito à vontade da comunidade que não elegeu essa gestão que aí chegou por imposição política, sem o voto dos atores que a constrói, estão com enormes fissuras. Essa gestão descomprometida e sem lastro democrático, desconhece o sentido público da universidade como instituição social, pretendendo anular o sujeito moral exigido pela cidadania consciente e participativa, para emergir o protecionismo, a troca de favores, o desrespeito aos Conselheiros da instância mais importante da universidade e o ódio, na tentativa de apagar o projeto civilizatório que foi construído nesses últimos anos.

Como partícipes da Educação Superior, os Conselheiros em suas diversas categorias entendem a universidade como campo de disputas de poder que envolvem ideias e lugares sociais distintos e frequentemente conflitantes, nos currículos dos cursos, nas estruturas de ensino, de pesquisa e de extensão, mas respeitando-se as regras e os instrumentos legais que regem a instituição. É da missão da UNIVASF enquanto instituição pública democrática, quando mergulhada nos encontros e desencontros do seu cotidiano, conduzir a sua política educacional com respeito às diferenças e as contradições vigentes na coletividade, assumindo suas responsabilidades na construção do bem comum.

Estamos reagindo a tamanho descalabro. Não ficaremos calados diante de tamanha afronta à Educação Pública e a toda a comunidade que a financia. 

Assinam esta carta os seguintes conselheiros do CONUNI:
Adelson Dias de Oliveira - CCISO
Alexandre Ramalho Silva - PROFMAT
Ângelo Augusto Silva Sampaio - PPGPSI
Bruno Abreu de Melo - representante discente titular
Bruno Cezar Silva - Rep Tec. ADM
Claudine Gonçalves de Oliveira- CECO
Cristiane de Queiroz Bezerra representante titular TAE
Daniel Pifano -CCBIO
Daniel Tenório da Silva- Titular Colegiado de Farmácia
Daniel Vieira de Sousa – CGEO
Denes Dantas Vieira- PPGExR
Fernando Augusto Kursancew - Representante Técnico-Administrativo
Flora Romanelli Assumpção – CARTES
Jàder Barrozo Carvalho - representante TAE
Jiovane dos Santos Gomes - Representante Discente titular
João Alves do Nascimento Júnior - Representante Docente.
Lucido Lopes de Alencar - Representante Técnico-Administrativo
Lucimary Araujo Campos – Representante Técnico-Adminsitrativo
Luis Alberto Valotta - Representante Docente Titular
Luzania Barreto Rodrigues - Titular Mestrado Profissional de Sociologia em Rede
Nacional
Marcia Bento Moreira PPGADT
Mariane Valesca de Menezes Lacerda - Representante Discente Titular
Mateus Alencar Ferreira - Representa vinte Discente Titular
Mayara Marques de Santana - Representante Discente Titular
Miguel Lino Spinelli Rabelo Neto - Rep. Téc Adm
Milton Pereira de Carvalho Filho - Representante TAE titular
Omar Dias Torres - Rep. do Público Externo
Patrícia Avello Nicola - PPGCSB
Rafael Torres de Souza Rodrigues- PPGCA
Rainer Miranda Brito -CANT
René Geraldo Cordeiro Silva Junior - Decano interino - Colegiado de Medicina
Veterinária
Sirius Oliveira Souza – CGEO
Thaís Pereira de Azevedo - CENAMB
Vanderlei Souza Carvalho – Presidente docente da SindUnivasf
Victória Maria Duarte Rangel Cunha - Representante Discente titular
Vivianni Marques Leite Dos Santos
Vladimir de Sales Nunes - Representante Discente
Wagner Carvalho Santiago – CCIVIL

Petrolina 29 de Maio de 2020. 


Nenhum comentário

CANTOR E COMPOSITOR EVALDO GOUVEIA MORRE AOS 91 ANOS EM FORTALEZA, CEARÁ

O compositor e trovador Evaldo Gouveia morreu na noite desta sexta-feira, 29 de maio, aos 91 anos.  O artista, que há alguns anos convivia com as consequências de um acidente vascular cerebral, foi contaminado pela Covid-19 e não resistiu às complicações. O cearense deixa um legado robusto e apaixonado.

Do menino de oito anos que cantava na radiadora da Praça da Estação de Iguatu ao trovador que conquistou o Brasil com palavras e melodias. Evaldo Gouveia de Oliveira nasceu em 8 de agosto de 1928 no município de Orós e desde cedo sentia que, eventualmente, conquistaria o País. “Eu ia pro pezinho do rádio e pegava a letra, o tom. Eu já nasci artista”, dividiu em entrevista às Páginas Azuis do Jornal O Povo, publicada em 16 de agosto de 2010. 

A partir de “Deixe que Ela se Vá” (1957), primeira composição de sua autoria, escreveu sentimentos e melodias intensas que reverberam até hoje no cancioneiro nacional popular e nos corações dos românticos. Entre elas, despontam “Tango de Teresa”, “Sentimental”, “Brigas”, “Bloco da Solidão e “O Trovador” - para citar somente algumas, pois entre as mais de mil composições acumulam-se sucessos.

A mudança de Iguatu para Fortaleza se deu mais para o fim da infância de Evaldo, lá para os 11 anos. Na Capital, participou de um concurso de calouros cantando “Caminhemos”, de Herivelto Martins, onde ganhou o prêmio principal. Era um prelúdio da atuação que viria alguns anos depois junto ao Trio Nagô, o começo da carreira profissional do artista. Seguiu no contato com a arte e, na certeza de que seria artista, acabou sendo contratado pela Ceará Rádio Clube, onde uniu-se a Mário Alves e Epaminondas de Souza para formar o conjunto. Foi a partir daí que alçou maiores voos e desbravou Rio de Janeiro e São Paulo. Acabaram contratados pela Rádio Nacional.

Até então, a face compositor de Evaldo Gouveia ainda não havia dado as caras. Mas em 1957, surgiu “Deixe que ela se vá”, escrita em parceria com Gilberto Ferraz. A canção chegou ao seu primeiro intérprete, Nelson Gonçalves, tendo o ator Mário Lago como ponte. Lembrando das primeiras composições, afirmou ao O POVO, sem modéstia: “É perfeição! Eu já vim derrubando os outros”. 

A modéstia não se fazia necessária, de fato. Era a realidade. Os frutos financeiros da gravação levaram Evaldo à União Brasileira de Compositores e foi lá que ele conheceu Jair Amorim, com quem travaria parceria artística e pessoal - cantada, principalmente, por Altemar Dutra: "Que Queres Tu de Mim", "Somos Iguais" e “Serenata da Chuva”, além das já citadas "Sentimental Demais", "Brigas", "O Trovador" e "Bloco da Solidão, entrou inúmeras outras”. Na avaliação de Evaldo, Altemar tinha uma voz que “se adaptava e ele cantava a dupla com amor”.

Além de Jair Amorim, outros parceiros de composições também se somaram à sensibilidade melódica de Evaldo. Entre eles, Fausto Nilo, com quem criou “Esquina do Brasil” e “Nada Mudou”. Além de Altemar Dutra, outros intérpretes de composições de Evaldo Gouveia foram, também, nomes que vão do clássico ao contemporâneo: Angela Maria, Jair Rodrigues, Anísio Silva, Maysa, Gal Costa, Elba Ramalho, Cauby Peixoto, Ney Matogrosso, Wilson Simonal, Fafá de Belém, Maria Bethânia, Zizi Possi, Emílio Santiago, Dalva de Oliveira, Agnaldo Timóteo, Jamelão, Ana Caroline, Simone. A lista é longa, não termina aí e é mais uma das provas da grandeza de Evaldo Gouveia, que pôs em palavras e melodias emoções cantadas até hoje pelo Brasil: “Romântico é sonhar / E eu sonho assim / Cantando estas canções / Prá quem ama igual a mim”.

Com 12 composições interpretadas na voz de artistas cearenses, Evaldo Gouveia ganhou homenagem em docudrama que condecora sua obra e carreira. Em noite especial para convidados, a nova temporada do projeto “Os Cearenses” teve lançamento em julho de 2019, durante evento no restaurante Cantinho do Frango. Produzido pela Fundação Demócrito Rocha com apoio do Governo do Ceará e da Assembleia Legislativa. (Fonte: O Povo) 
Nenhum comentário

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial