ESPECIALISTA DIZ QUE REGIÕES SEMIÁRIDAS ESTÃO ENTRE AQUELAS QUE RECEBERÃO O MAIOR IMPACTO DO AQUECIMENTO GLOBAL

O encerramento do II Encontro Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte (ECOB RN) também contou com uma representação do Comitê da Bacia do Rio São Francisco. Marcelo Silva Ribeiro, membro da Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL) do CBHSF, foi um dos palestrantes da programação que aconteceu semana passada(12/09), no auditório do setor de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal (RN).

Marcelo Ribeiro apresentou uma palestra intitulada “Desertificação e Mudanças Climáticas”. De acordo com o palestrante, durante o século XXI, as regiões semiáridas estão entre aquelas que receberão o maior impacto das mudanças climáticas associadas ao aquecimento global. Marcelo expôs que o que a ciência apresenta é de redução da disponibilidade hídrica justamente aonde a água é um recurso escasso.

Segundo Marcelo, o aquecimento global leva a episódios de chuvas mais intensas inclusive nas áreas semiáridas. “Diagnósticos colocam a região semiárida como a de maior vulnerabilidade social em todo o país frente aos efeitos das mudanças climáticas”, disse ele. A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica desertificação como a degradação das terras situadas nas regiões áridas, semiáridas e do subsumido seco.

De acordo com a sua apresentação, as principais causas da desertificação são a extração de lenha e produção de carvão vegetal, extração de gispsita e produção de gesso, extração de argila e produção de cerâmica, produção vegetal com uso intensivo de defensivos agrícolas e fertilizantes químicos, produção de grãos no cerrado nordestino e bovinocultura e ovinocultura no semiárido.

Marcelo apresentou também dados do IBGE em que cerca de 13% do território brasileiro nas regiões susceptíveis à desertificação já estão em estágio avançado ou médio de desertificação.

O II Encontro Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte (ECOB RN) foi promovido pelo Fórum Potiguar de Comitês de Bacias Hidrográficas, com apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) e do Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte (Igarn) e trouxe o tema “Gestão das Águas e Mudanças Climáticas”.

Segundo Rosimeire Dantas, coordenadora do Fórum Potiguar de Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte, a principal importância do evento é o fortalecimento dos Comitês de bacias. “Se a gente não fortalecer o sistema, não conseguimos fazer gestão de forma eficiente. A participação de todos Comitês e agora a integração junto à família São Francisco é muito importante para o nosso fortalecimento”, disse.

Ainda segundo Rosemeire, é importante fazer com que a sociedade também tenha um reconhecimento dos Comitês. “É preciso saber que há um Comitê, uma defesa especifica naquela bacia, e que pode contar. O evento é também um ciclo de integração de poder público, usuários de água, de todo o sistema. Somos voluntários, temos amor a causa”.

De acordo com Dantas, os desafios após o evento são grandes. “Agora é preciso consolidar. Estamos vivendo um momento bastante complicado com essa questão dessa reviravolta da política ambiental no brasil, mas eu acredito muito no diálogo. Acho que a gente precisa ir lá e conversar com o governo federal, poder informar como é que funciona. É importante que a gente esteja nessa luta do diálogo, buscando a diplomacia, acho que esse é o caminho”.

Fonte: CHBSF

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PROJETO SOCIAL DO SERTÃO DO PIAUÍ CONSTRÓI MONUMENTO A SANFONA E GANHA DIA MUNICIPAL DO SANFONEIRO

Dom Inocêncio, município que fica a 615 km de Teresina, no sertão do Piauí, tem uma característica marcante. A cada 35 habitantes, pelo menos 1 é sanfoneiro, parece que está no sangue. Tanto talento, até então desconhecido, agora ganha visibilidade, com a criação do Monumento Sanfona e do Dia Municipal da Sanfona, que será comemorado, todos os anos, em 20 de setembro.

O idealizador do projeto é Sandro Dias de Sousa, o Sandrinho do Acordeon, o sanfoneiro que está mudando a realidade da região. Ele coordena a Associação Cultural Acordes do Campestre, que ensina, gratuitamente, mais de 200 crianças a tocarem instrumentos musicais em Dom Inocêncio e a vizinha cidade de São Raimundo Nonato. 

Sandrinho nasceu na Bahia, mas foi em Dom Inocêncio que aprendeu seus primeiros acordes na sanfona, incentivado pelo pai, Salvador Nunes, que tinha uma banda com os irmãos. O pai inclusive foi taxado de louco na cidade quando vendeu sua única casa e sua caminhonete para comprar uma sanfona e realizar o sonho do filho.

Tudo valeu a pena. Aos 25 anos, é tri-campeão no Concurso de Sanfona de Petrolina (PE), participou de festivais em vários estados do país e fechou parcerias com cantores nacionalmente famosos como Zezé di Camargo e Luciano, Waldonys, Dorgival Dantas. Hoje a família vive da música.

Mas sua maior vitória mesmo é o projeto social que montou no bairro Campestre, onde mora. "As crianças tocam sanfona, zabumba, triângulo, flauta doce, violão, tudo de graça, não recebemos nada, todo o trabalho é voluntário. A sanfona é muito cara, não teria como eles terem. Então nós conseguimos os instrumentos por meio de doações, como no Programa do Luciano Hulk e damos as aulas voluntariamente. Temos vários alunos que já tocam em bandas e vivem da música, alunos premiados em festivais. Isso é gratificante", diz Sandrinho.

A Associação foi criada em 2011 e  foi a partir dela que foi construída a maior sanfona do mundo, na Praça Monumento Sanfona, a 3 km de Dom Inocêncio. São 5 metros e 10 centímetros de altura construídos com recursos arrecadados pela associação, Sandrinho e amigos. "Não tivemos ajuda das autoridades", afirma.

A obra foi iniciada em julho deste ano e já está na fase de pintura. Foi arquitetada por Wanderson Moura e construída pelo artesão João Dias.

A maior sanfona do mundo não deve ser apenas um título, mas o marco de visibilidade para a cidade e região. "A sanfona é algo natural em Dom Inocêncio. Com esse monumento, fortalecer nossa tradição, colocar o município no calendário nacional, talvez até internacional, de eventos culturais", declara Sandrinho, confiante.

Além do monumento, a Associação conseguiu aprovar na Câmara Municipal o Dia Mundial da Sanfona. A cidade também terá o Selo da Terra do Sanfoneiro e, para garantir a atração do público, será realizado um festival anual de sanfona. 

"A sanfona deve gerar uma economia forte, atrair turistas. A ideia é que isso traga mais visibilidade e também mais recursos para a cidade, divulgando nossa região para todo o Brasil", finaliza.

Fonte: Jordana Cury-Cidade Verde
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FIM DA EXIGÊNCIA DE SIMULADOR E SUSPENSÃO DE AULAS PRÁTICAS PARA CINQUENTINHAS ENTRAM EM VIGOR

A quantidade de aulas necessárias para tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), serão reduzidas a partir desta segunda-feira (16). A mudança também se estende para os motoristas interessados em obter a ACC (Autorização para Conduzir Ciclomotor), documento exigido para dirigir cinquentinhas, ciclomotores com potência de até 50 cilindradas. As novas regras foram determinadas em junho deste ano e entram em vigor hoje (16).

Para a categoria B, responsável por carros, as aulas em simulador nas autoescolas passam a ser facultativas, reduzindo o número de horas obrigatórias de 25 para 20. 

Com as mudanças na ACC, os condutores de cinquentinhas poderão fazer as provas prática e teórica mesmo sem terem passado por aulas práticas, somente em casos de reprovação, a aula passará a ser obrigatória. Em setembro de 2020 as aulas voltarão a ser exigidas para todos, mas apenas 5 horas serão obrigatórias, uma delas deverá ser noturna. Atualmente, a exigência é de 20 horas. Os candidatos também poderão usar sua própria cinquentinha no exame prático, desde que o veículo não tenha mais do que 5 anos de uso.

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FILHA ACUSA HOSPITAL REGIONAL DE JUAZEIRO DE NEGLIGÊNCIA QUE OCASIONOU MORTE DA MÃE

Fátima Santos divulgou imagens em seu perfil no Facebook publicado ontem domingo (15), logo após morte Joana da Conceição Santos, 77 anos. Fátima cita que dona Joana é sua mãe e mostra o desespero durante o atendimento na unidade. “Ela chegou ontem, cansada, e vocês estão massageando ela em cima de um colchão… Era para ela está na UTI… Cadê o médico desse hospital?” grita ela, descendo as escadas correndo.

“Indignação, essa é a palavra que tenho agora. Minha mãe acaba de falecer por negligência médica no Hospital Regional de Juazeiro. Infelizmente, não cheguei a tempo de me despedir da minha mãe. Só encontro essa cena, minha mãe em cima de uma cama de enfermaria”, diz Fátima. “Não tinha um médico, alguém tem que se responsabilizar por essa morte“, diz.

Também no facebook Fátima escreve: “Mãe…Minha Veinha. É assim vc estará sempre no meu coração com sua alegria e amor por todos, vc foi muito guerreira, sempre fez tudo por nós, infelizmente não resistiu ao descaso da saúde pública, ficamos muito tristes por sua partida, mas sabemos que vc estará em um bom lugar, pq sempre foi uma mulher, uma mãe e uma avó maravilhosa. Que Deus ilumine a sua partida e conforte a sua chegada. A saudade sempre irá existir“, diz a publicação.

Confira a nota diretoria Hospital Regional de Juazeiro:
O Hospital Regional de Juazeiro informa que a paciente Senhora Joana da Conceição Santos, 77 anos, era portadora de múltiplas patologias, internada no HRJ em 02/09, vinha sendo acompanhada pela equipe multidisciplinar, sendo realizado todos os procedimentos médicos necessários à estabilização do quadro.

No dia 15/09 apresentou uma piora súbita. Foram feitas manobras de ressuscitação conduzidas pelos médicos plantonistas da emergência, mas a paciente não respondeu, evoluindo a óbito.


Direção do Hospital Regional de Juazeiro

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GOVERNO BOLSONARO GANHA FORÇA PARA INSTALAR USINA NUCLEAR NO MUNICÍPIO DE ITACURUBA NAS MARGENS DO RIO SÃO FRANCISCO

No próximo dia 30, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético, Reive Barros, do Ministério de Minas e Energia, e o presidente da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães, têm uma reunião com o governador Paulo Câmara. Na pauta principal, o pleito para o Estado de Pernambuco sediar, em Itacuruba, uma usina nuclear, conforme estudos já feitos pelo Ministério de Minas e Energia.

Conforme este Blog NEY VITAL denunciou com exclusividade no mês de janeiro deste ano, já existem estudos para implantar um centro de energia nuclear no município de Itacuruba, Sertão de Itaparica, município localizado nas margens do Rio São Francisco. 

A igreja católica é uma das principais ativistas contra a usina em Itacuruba. Dezenas de outras instituições e órgãos também já se posicionaram contra o projeto. As entidades estão unidas na Articulação Sertão Antinuclear. Representantes dos Movimentos sociais acusam que existe "um grupo denominado Bancada da Bomba Atômica,  composto por deputados que apoiam a proposta".

Semana passada durante entrevista ao Programa de Rádio Frente a Frente, direto de Brasília, o líder do Governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB), anunciou que irá procurar o governador Paulo Câmara, nos próximos dias, para convencê-lo a aceitar a instalação de uma usina nuclear no município de Itacuruba, investimento, segundo ele, da ordem de U$ 2,5 bilhões. 

O senador explicou explicou que o Governo Bolsonaro está retomando o projeto de abertura de novas usinas no País e que no caso de Pernambuco a melhor localização ainda continua sendo Itacuruba, conforme estudos anteriores. “Pernambuco não pode ficar de fora, em todo lugar do mundo existe usina nuclear, que gera uma energia limpa, sem nenhum risco”, disse. Sobre a reação negativa da população quando se discutiu o assunto em governos anteriores, o senador afirmou que não há mais preconceito em relação à energia nuclear. 

“O que o sertanejo tem medo é de fome”, advertiu, ao responder pergunta como a população de Itacuruba iria receber a notícia. O líder avaliou que o governador não poder abrir mão de tamanho investimento, que só nas obras de instalação irá gerar cerca de 14 mil empregos diretos.

Diante desta possibilidade da instalação de uma usina nuclear às margens do Rio São Francisco, no município de Itacuruba, no Sertão pernambucano, movimentos sociais estão se mobilizando em defesa da segurança hídrica e ambiental da região.

O professor e doutor Heitor Scalambrini destaca a preocupação com obras da dimensão de uma usina nuclear. "Não existe obra com desastre zero. Falar que um vazamento não pode acontecer não é verdade. Eles falam que o acidente é quase nulo. Não é verdade. Quando acontece acidente nuclear ele perdura por vários anos, a contaminação penetra no lençol freático", explica.

Enquanto a professora e doutora da UFPE e UPE, Vânia Fialho, enfatiza que a região não é um vazio demográfico. " Estamos falando de uma região com grande complexo étnico, com relações de parceria e troca. Ao invés de baixa densidade temos rica rede e presença indígena na região", argumenta. 

Os conflitos e as possíveis ações coletivas para barrar esse projeto foram colocados pelo público. O deputado estadual Doriel Barros (PT), engajado à luta contra usina em Pernambuco, se colocou à disposição do movimento. " Não podemos pagar o preço para ver as consequências de uma usina como essa. Me coloco à disposição para discutir junto com a população e trabalhadores. Me coloco nessa luta com a Igreja e junto a todos que defendem a vida", concluiu o deputado.

A redação do blog NEY VITAL enviou solicitação para o Governo Federal esclarecer sobre o Projeto de criação da fonte atômica de energia que foi sinalizada no Plano Nacional de Energia 2050, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). 

Além de Itacuruba, outras oito localidades no Nordeste e Sudeste do país estão sendo estudadas para abrigar usinas. De acordo com o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Reive Barros, a Eletronuclear já concluiu estudos que indicam Itacuruba como a área ideal para a construção do empreendimento que custaria R$ 30 bilhões.

Redação Blog Ney Vital Foto: Arquivo MST
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SUICÍDIO: RODA DE CONVERSA DEBATERÁ IMPORTÂNCIA DO SETEMBRO AMARELO

No Brasil, o suicídio é considerado um problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo e é a segunda principal causa de morte entre indivíduos com faixa etária entre 15 e 29 anos.

Desde 2015, foi criada a campanha do ‘Setembro Amarelo’ pela parceria entre o Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O intuito é criar um período no ano em que a sociedade possa debater, ter conhecimento sobre o tema e possa alertar a população sobre a prevenção do ato. 

Fundado há mais de 50 anos, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma das ONGs voltadas ao tema mais antigas do Brasil. A associação filantrópica atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio por meio de e-mail, telefone (188), chat ou pessoalmente. O CVV funciona 24h e obtêm 110 postos pelo Brasil com mais de 2400 voluntários. 

No Recife, Eliene Soares, 51, já é voluntária há 10 anos. “É um trabalho muito especial ser voluntária dO CVV. Eu tenho a oportunidade de melhorar todo dia, ajudando pessoa que precisam conversar, desabafar e muitas vezes elas não têm com quem fazer isso. É ter tolerância, paciência, aceitação e abertura para receber e ouvir quem pensa diferente”, afirma Eliene.  

Garantindo o sigilo e anonimato de quem entra em contato com o Centro, em 2018 o CVV Brasil recebeu em torno de 3 milhões de ligações. Foi um aumento de quase 50% em relação a 2017. Já no Recife, eles recebem em média 6 mil ligações por mês. Neste mês de setembro, o número geralmente dobra. 

No dia 18 de setembro, o Teatro Beberibe sediará uma roda de conversa devido ao Setembro Amarelo. Organizado pelo projeto Mundo do Lua, o debate tem o intuito de discutir a importância de conversar sobre depressão e suicídio sem barreiras, desmistificando ambos os temas. O evento será às 16h e as inscrições podem ser feitas online. 

O Mundo do Lua é um projeto que oferece diversos serviços para ajudar pessoas com depressão, transtornos mentais ou apenas pessoas que sintam a necessidade de serem ajudadas. O projeto foi criado em 2017 por Sibely Fernanda, que perdeu o filho em 2015 e se viu na obrigação de criar um projeto que reduza a taxa de suicídios em Pernambuco.  

O grupo oferece psicólogos voluntários para atuar em algumas escolas estaduais e municipais de Paulista, pois a presença dos profissionais é rara. “Eu senti na pele o que muitos brasileiros sentem, que é querer ter dinheiro para pagar uma consulta para o seu filho e não ter, querer ajuda psicológica ou psiquiátrica e não ter”, diz Sibely sobre a iniciativa.  

Já no âmbito cultural, foi criado o MaracaLua, maracatu criado com o objetivo de tirar os jovens da comunidade de Paratibe da marginalização e oferecer um entretenimento diferente dos que são disponibilizados na área. Além disso, também promovem palestras em escolas, eventos, rodas de conversas, para levar esse assunto ao conhecimento de todos.
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REPORTAGEM NACIONAL ACUSA QUE PRODUÇÃO DO SUPER MOSQUITO DA DENGUE DESPREZOU NORMAS DE SEGURANÇA E COLOCA POPULAÇÃO DE JUAZEIRO E JACOBINA EM RISCO

Irresponsabilidade da CTNBio produz ‘super mosquito’ da dengue. Estudo aponta que cruzamento entre Aedes comum e transgênico, no interior da Bahia, resultou em um híbrido que pode ser mais nocivo à saúde e ao ambiente.

Sem ter sido consultada e muito menos esclarecida sobre os riscos a que estaria sendo exposta, a população do distrito Pedra Branca, em Jacobina (BA) foi cobaia de um experimento realizado entre 2013 e 2015, com autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). 

Durante esse período, os 1.144 moradores foram infestados com milhares e milhares de Aedes aegypti geneticamente modificados (GM) pela empresa Oxitec. Participaram a organização social Moscamed e a Secretaria Municipal de Saúde. Aparentemente inofensivos, tinham a missão de copular com fêmeas do Aedes comum e transmitir aos descendentes uma proteína capaz de matá-los antes de chegar à idade reprodutiva. Pela propaganda, os insetos GM não se reproduzem com outras espécies e muito menos se perpetuam no ambiente.

O objetivo era reduzir a população de Aedes selvagem, responsável pela transmissão do vírus causador de mais de 1.800 casos de dengue no município em 2012.  Embora a Oxitec afirme que ao final do projeto tenha reduzido em 92% a população dos mosquitos da dengue, em 19 de agosto de 2014 o prefeito de Jacobina, Rui Rei Matos Macedo, decretou situação de emergência no município justamente em virtude da doença.

Fracassada no combate ao mosquito “do mal”, a tecnologia do Aedes “do bem” pode ter causado alterações ecológicas ainda desconhecidas em Jacobina. Isso porque os milhões de transgênicos OX513 liberados na pequena cidade do sudoeste baiano transferiram seus genes modificados em laboratório para a população natural de Aedes aegypti. Ou seja, os transgênicos teriam se reproduzido e se perpetuado no ambiente. O dado, que desmente a Oxitec, foi revelado nesta terça-feira (10) em artigo publicado no boletim eletrônico Scientif Reports, do grupo Nature Research.

A Oxitec, a organização britânica GeneWatch revelou que a primeira geração de mosquitos GM é cara, não funciona e pode colocar a saúde da população em risco. Para chegar a essa conclusão, técnicos da entidade analisaram o conteúdo de e-mails trocados entre gestores da empresa e representantes da autoridade de saúde nas Ilhas Cayman, um  território britânico no Caribe.

A exemplo da Vaza Jato, em que o jornalista Glenn Greenwald contextualiza com fatos as mensagens trocadas via Telegram entre procuradores da Lava Jato, a GeneWatch compara dados propalados na propaganda da Oxitec com  aqueles coletados em audiências públicas, como no Congresso dos Estados Unidos, os pouquíssimos estudos realizados – que a CTNBio considera fartos – com as conversas obtidas por meio de um serviço oficial de acesso à informação.

Em meio à política de cortes, ajuste fiscal e Emenda Constitucional (EC) 95, que penaliza principalmente as prefeituras, com a menor arrecadação entre os entes federativos, as dificuldades da Oxitec tendem a se multiplicar como os mosquitos transgênicos despejados sobre a população de Jacobina. 

Como ressalta José Maria Gusman Ferraz, é coerente com o sistema uma empresa querer lucrar com a venda de seus produtos, mesmo que tenha que fazer propaganda muitas vezes enganosa e omitir dados desfavoráveis. “O que não podemos aceitar é a falta de ética científica da CTNBio, de liberar eventos transgênicos mesmo sem informação suficiente, colocando a população na situação de cobaia, vulnerável aos efeitos negativos de uma tecnologia que gerou híbridos, possivelmente resistentes a  inseticidas. Nada disso foi avaliado.”

Inaceitável também, segundo ele, é o mantra repetido por integrantes da comissão, de que seu papel é estritamente analisar o gene inserido em uma planta, animal ou micro-organismo, como se isso não tivesse relações e impactos à saúde, meio ambiente e à vida. “O transgênico aumenta o uso de agrotóxico, que é muito danoso. E vêm dizer que isso é outro problema, fora da alçada da CTNBio, como se fosse possível separar tudo em caixinhas? Cartesiano isso. É incompetência e irresponsabilidade de pesquisadores entrarem nessa de aprovar tudo sem análise crítica, em decisões que não são científicas.”


Pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular e da Moscamed Brasil que assinam o estudo afirmam se tratar de uma “anomalia”. Conforme a amostra e o critério utilizado para definir essa troca genética – tecnicamente chamada de introgressão – pode-se dizer que de 10% a 60%  de mosquitos carregam pelo menos um gene do OX513A.

Ainda segundo o artigo, amostras de genes dos Aedes selvagens coletadas em períodos de seis, 12 e 27 a 30 meses após o início da soltura dos transgênicos trazem claras evidências de que porções do genoma GM foram incorporadas pela população de insetos naturais que deveria ter sido reduzida significativamente. “Evidentemente, descendentes híbridos e raros são suficientemente robustos para poder se reproduzir na natureza”, dizem os cientistas. Por isso recomendam que haja programa de monitoramento genético durante a liberação de organismos transgênicos para detectar “consequências imprevistas”.

“O estudo mostra que houve uma troca de genes, e que nessa troca os mosquitos comuns incorporaram genes de uma outra variedade, transgênica, resultando em insetos híbridos, que geralmente têm maior vigor, são mais potentes, sobre os quais ainda não há estudos. Muito menos quanto à sua eficiência na transmissão de vírus, que pode inclusive ser maior. O que temos agora é um ‘super mosquito’, mais resistente, que pode se desenvolver em ambientes em que outros talvez não se desenvolveriam”, avalia o biólogo José Maria Gusman Ferraz, pesquisador do Laboratório de Engenharia Ecológica da Unicamp e professor da pós-graduação do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto (UniAraras).

Para ele, é salutar que tais resultados tenham sido encontrados em um estudo que envolveu especialistas que conhecem bem de perto as experiências nas cidades do interior baiano, como a professora Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Margareth de Lara Capurro, e o geneticista Aldo Malavasi, professor aposentado do Departamento de Genética da USP e atual diretor da Moscamed.

Na qualidade de integrante da  CTNBio, em 2013 Ferraz visitou a cidade de Juazeiro, na Bahia, que desde 2011 vinha sendo infestada com mosquitos da Oxitec. O objetivo da visita técnica era conhecer o laboratório onde os insetos soltos ali e em Jacobina estavam sendo produzidos. Verificar, por exemplo, se não estavam vazando larvas pelo ralo ou outras situações semelhantes, indesejáveis, verificar como estavam sendo feitas as liberações no ambiente e como a população estava se relacionando com a novidade.

Em seu relatório, pedia à CTNBio a suspensão da soltura dos insetos transgênicos nas duas cidades até que fossem feitos mais estudos de impactos à saúde e ao meio ambiente. E destacava o desprezo pela segurança da população, reduzida a cobaias. Primeiro porque a própria comissão de biossegurança, que deveria desempenhar o papel para o qual foi criada, enquadrou o inseto GM na classe do risco 1 (baixo risco individual e baixo risco para a coletividade) quando deveria ser classe 2 (moderado risco individual e baixo risco para a coletividade), conforme fontes ouvidas pela RBA.

E depois porque os moradores afetados receberam apenas informações sobre o mosquito transmissor de vírus causadores da dengue e sobre a doença propriamente dita. Nada foi falado sobre os riscos dos insetos transgênicos à sua saúde e ao ambiente. Para completar, não assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, praxe em casos de participação em experimento científico. E sequer foram apresentados – e nem a CTNBio exigiu – pareceres de comitês de ética humana e animal das instituições responsáveis, uma vez que pessoas seriam picadas e teriam seu sangue em contato com os insetos, estando sujeitas a infecções entre outras intercorrências.

O pesquisador anotou ainda a omissão da Oxitec em informar a taxa de sobrevivência do mosquito desenvolvido em seus laboratórios, já que a técnica não garante 100% de esterilidade nos machos produzidos. E questionou os níveis mínimos de contaminação da água pelo antibiótico tetraciclina necessários para a sobrevivência do seus insetos. O dado está diretamente associado à expectativa de aumento da população GM e aos consequentes desequilíbrios ambientais.

Desprezado pela CTNBio, o relatório de Ferraz questionava ainda a falta de estudos sobre o desempenho dos machos transgênicos quanto à cópula com fêmeas de Aedes. “A possibilidade desse mosquito permanecer no ambiente, bem como de cruzamento com GM, tudo isso foi alertado, mas desprezado pela maioria dos integrantes da comissão. Então foram direto a campo e despejaram os mosquitos no ambiente, onde vivem pessoas”, disse o pesquisador.

A experiência em Jacobina foi autorizada pela CTNBio em dezembro de 2012. No extrato do parecer 3.541/2012, publicado no Diário Oficial da União, o então presidente Flávio Finardi Filho declarou que “o processo (01200.002408/2012-74) descreve as condições de biossegurança propostas para a liberação, as condições gerais para a condução do experimento e a qualificação da equipe de pesquisadores envolvida no projeto”. E que a “Comissão considerou que os protocolos experimentais e as demais medidas de biossegurança propostas atendem às normas da CTNBio e à legislação pertinente que visam garantir a biossegurança do meio ambiente, agricultura, saúde humana e animal”.

Mas a Oxitec, como bem lembrou Ferraz, omitiu uma série de informações. Chegou a arrancar páginas do dossiê, alegando sigilo, e a comissão de biossegurança fez vista grossa. Mesmo sem ter feito estudos a respeito, lembrou, a empresa negou a possibilidade de implicações ecológicas do cruzamento entre mosquitos transgênicos sobreviventes e fêmeas de Aedes selvagem. E desprezou a capacidade da linhagem OX513A vir a cruzar com o Aedes albopictus, espécie que disputa espaço com o aegypti e que também é transmissor de diversos vírus.

Atropelando normas internas, a maioria dos componentes da CTNBio aprovou em abril de 2014 o pedido de liberação comercial do Aedes GM. Até então não havia sido feita avaliação técnica do experimento em Jacobina, o que só veio a acontecer em 2018. E o relatório apresentado à comissão, segundo fontes, veio cheio de defeitos e imprecisões, espelhando toda a insegurança e irresponsabilidade que expôs a população a riscos desconhecidos e desnecessários. Mais uma vez prevaleceu a ciência nanica e comercial comum no âmbito do colegiado, salvo exceções, que desprezou organismos geneticamente modificados diretamente associados a vírus causadores de doenças graves em humanos.

O parecer sobre a liberação, bisonho, expressa o entendimento da maioria do colegiado, de que um único estudo, realizado por um pesquisador da própria Oxitec – Renaud Lacroix – mais o dossiê apresentado pela empresa pleiteadora do registro configurem um “conjunto considerável” de informações. 

Conforme destaca a ilustração, o parecer assinado pelo então presidente, Edivaldo Domingues Velini, argumenta que “embora ainda não exista uma experiência com a liberação comercial deste OGM, há um conjunto considerável de informações pertinentes advindas da liberação planejada deste mosquito em outros países”. E cita Lacroix et al., 2012 como se a sua pesquisa não estivesse afinada com os interesses da empresa para a qual trabalha, segundo o site ResearchGate.com. A reportagem é assinada por  Cida de Oliveira, da Rede Brasil Atual.
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