Apostador ganha mais de R$ 37 milhões em sorteio da Mega-Sena

Um apostador acertou as seis dezenas do concurso 2.118 da Mega-Sena. O bilhete de Teresópolis (RJ) vai render ao ganhador o prêmio de R$ 37.902.607,11. Os números sorteados nesta quarta-feira (23), em Quirinópolis (GO), foram os seguintes: 11, 12, 20, 40, 41 e 46. 

O prêmio estimado para o próximo sorteio, no dia 26, é de R$ 2,5 milhões.
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Venezuela além da grande mídia

De acordo com o senso comum, todo brasileiro é, potencialmente, um técnico de futebol. A cada nova convocação da seleção brasileira, muitos de nosso compatriotas sugerem determinados jogadores, questionam a presença de outros ou opinam sobre o melhor esquema tático a ser adotado. No entanto, com o advento das redes sociais, cada cidadão tupiniquim já não é apenas um potencial treinador futebolístico, também passou a ser crítico musical, analista político, especialista em arte e comentarista geopolítico. Nesse sentido, nos últimos dias o espaço virtual foi tomado por inúmeros “especialistas em Venezuela”.

Antes de observarmos de uma maneira mais aprofundada quais são os posicionamentos dos “especialistas em política venezuelana” é de suma importância identificar a quais referenciais estes indivíduos recorrem para construir os seus argumentos. Conforme pude constatar em meu livro A influência dos discursos geopolíticos da mídia no ensino de Geografia: práticas pedagógicas e imaginários discentes (parceria com o professor de Geografia da UFSJ Vicente Leão), as pessoas, de modo geral, tendem a se interessar por uma determinada temática geopolítica quando ela está em evidência nos principais noticiários da grande imprensa. Se o público vai aderir ou não aos discursos geopolíticos da mídia hegemônica, aí já é outra história.

Porém, se formos levar em consideração que quanto menor a familiaridade de um indivíduo com um assunto qualquer, maiores são as chances de ele aderir aos discursos midiáticos, é plausível concluir que os imaginários geopolíticos da maioria das pessoas (isto é, as representações que fazemos sobre outros países), devido ao distanciamento espacial dos fatos que ocorrem alhures, tendem a ser formados, majoritariamente, a partir das narrativas midiáticas.

Pois bem, dito isso, é interessante analisarmos como a Venezuela é apresentada nos discursos da grande mídia brasileira. Quais possíveis interesses ideológicos estariam por trás de tais representações? Quais são as fontes de informações de nossos principais grupos de comunicação?

Conforme atestou o professor da área de comunicação Daya Kishan Thussu, cerca de 80% do conteúdo dos noticiários internacionais que circulam pelo planeta são distribuídos por apenas quatro agências — Associated Press (AP), United Press International (UPI), Agence France Press (AFP) e Reuters — sediadas, sem exceção, em nações desenvolvidas. Dito de outro modo, isso significa que mesmo as informações sobre acontecimentos em uma nação vizinha como a Venezuela tendem a chegar ao Brasil a partir de materiais produzidos pelas grandes agências internacionais.

Como a grande mídia brasileira praticamente reproduz as notícias distribuídas pelas agências internacionais sem fazer a devida análise crítica, não é difícil constatar que, no tocante aos noticiários geopolíticos, teremos visões favoráveis às políticas externas das principais potências globais e, em contrapartida, representações negativas a respeito de nações como a Venezuela, Irã, Síria e Rússia, consideradas hostis pelo status quo ocidental.

Não obstante, para facilitar a compreensão do público (em geral não familiarizado com as temáticas geopolíticas) e tornar inteligível a complexa configuração das relações internacionais, a mídia fornece “atalhos cognitivos”, a partir de estereótipos, tipificações, maniqueísmos, chavões, personalizações, lugares-comuns, generalizações, “opiniões prontas” e concepções de mundo já formadas.

Desse modo, a Venezuela nos é apresentada como uma nação governada por um ditador sanguinário, em constante estado de caos, com toda a população faminta e onde não há eleições minimamente livres ou respeito aos direitos humanos básicos. Diante dessa realidade, a única solução para o drama venezuelano seria a tomada do poder pela oposição, nem que para isso precise passar por cima da constituição e das instituições. No maniqueísmo das narrativas midiáticas, enquanto o chavismo representaria o mal, os políticos da oposição seriam o “novo”, a “democracia” e a “modernidade”. Figuras claramente golpistas e antipopulares como Henrique Capriles e Juan Guaidó (que se declarou presidente da Venezuela no lugar de Maduro) são exaltadas pela grande mídia brasileira como paladinos do povo venezuelano.

Evidentemente, não há como negar que a nação bolivariana está atravessando uma grave crise política e econômica. Contra fatos não há argumentos. Todavia, seria puro cinismo creditar todas as mazelas venezuelana exclusivamente às más gestões dos mandatos chavistas, sem levar em consideração as inúmeras tentativas de sabotar o governo feitas pela oposição, a atuação golpista da grande imprensa local e a interferência imperialista, sobretudo da grande potência mundial: os Estados Unidos da América. Diga-se de passagem, tais questões são absolutamente escamoteadas pela grande mídia brasileira.

Lembrando as palavras de Tarso Genro, “a mídia esgota um determinado acontecimento em sua imediatidade, não levando em conta suas conexões e historicidade”. Sendo assim, a atual crise venezuelana é tratada pela imprensa brasileira sem citar seus condicionantes espaciais e temporais, ou seja, como algo que “surgiu do nada”.

Desde que Hugo Chávez assumiu, no final da década de 1990, há uma intensa campanha estadunidense (com apoio de setores da elite e da imprensa local) para desestabilizar o chavismo, com destaque para a tentativa de golpe de Estado ocorrida em 2002 (sobre este acontecimento, que praticamente não é mencionado na grande mídia brasileira, sugiro o documentário irlandês “A Revolução Não Será Televisionada”). O ódio que os Estados Unidos, imprensa e elite venezuelana sentem em relação ao chavismo não está relacionado a um possível autoritarismo de Chávez ou Maduro. Tratam-se de questões muito mais pragmáticas.

Sob o ponto de vista geopolítico, o chavismo foi um dos movimentos políticos latino-americanos responsáveis por catapultar a grande guinada à esquerda em nosso subcontinente ocorrida nas últimas décadas. Nesse sentido, países como a Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador e Brasil promoveram determinadas mudanças políticas, econômicas e sociais que não foram bem recebidas tanto pela grande potência mundial quanto pelos setores mais conservadores das sociedades latino-americanas.

Embora em escalas diferentes, os governos de esquerda da América Latina romperam com alguns paradigmas neoliberais, fomentaram uma maior participação estatal em setores estratégicos da economia, colocaram em prática medidas que visavam a minimizar a histórica concentração dos meios de comunicação de massa no subcontinente e incrementaram políticas sociais (o que desagradou profundamente às classes médias e altas “acostumadas” com a população pobre desamparada frente ao poder público).

Durante o mandato de Hugo Chávez houve grande incentivo para a criação de rádios comunitárias e de outros veículos da chamada imprensa alternativa. Não obstante, o presidente venezuelano também bateu de frente com a grande mídia do país, chegando a não renovar a concessão da RCTV (que participou da tentativa de golpe citada anteriormente) em 2007, alegando que a emissora, ao privilegiar negócios privados em detrimento de prestar informações de interesse público, não cumpria as funções destinadas aos canais de televisão, conforme o previsto na constituição venezuelana.

Após a primeira eleição de Maduro, em 2013, o candidato derrotado, Capriles, e a oposição venezuelana de maneira geral não aceitaram a decisão das urnas (qualquer semelhança com um candidato derrotado no Brasil em 2014 não é mera coincidência). Desde então, os grandes empresários venezuelanos iniciaram a chamada “guerra econômica”, colocando em prática boicotes à produção e distribuição de produtos básicos, especialmente alimentos e medicamentos. Isso explica, em parte, o aumento de famintos na Venezuela e a astronômica inflação (causada pelo desequilíbrio entre demanda e oferta).

Soma-se a isso também o implacável cerco dos Estados Unidos, responsável por impor um bloqueio econômico e financeiro à Venezuela, promover grupos de extrema-direita que realizam ataques em todo o país e financiar políticos, membros de partidos e ONGs de oposição ao chavismo. Essas questões, evidentemente, não aparecerão nos jornais de circulação nacional e tampouco nas principais redes de televisão brasileiras.

Para finalizar este artigo deixo uma pergunta em aberto: se a Venezuela é realmente uma ditadura completa, conforme diz a mídia brasileira, porque a Assembleia Nacional é controlada pela oposição e cerca de 80% dos meios de comunicação são contrários ao governo Maduro? Geopolítica é um assunto mais complexo do que os poucos minutos dos noticiários internacionais ou do que as postagens “engajadas” nas redes sociais. Bashar al-Assad, Nicolás Maduro e Hassan Rouhani, entre outros governantes, são representados negativamente na mídia não pelos seus equívocos políticos, mas por não cederem os recursos naturais e humanos de suas nações para que as grandes potências capitalistas se recuperarem dos prejuízos causados pela crise econômica de 2008. Nessa “guerra híbrida”, ter um eficiente aparato midiático é tão importante quanto possuir um poderoso exército.

O que está em jogo na Venezuela não é somente a dicotomia democracia versus ditadura, mas a própria soberania de uma nação subdesenvolvida que está na mira de uma grande onda planetária de golpes de Estado capitaneada pela maior potência global. Manuel Zelaya, Fernando Lugo e Dilma Rousseff não caíram de “maduro”. Em suma, a Venezuela é muito além do que a mídia mostra.

*Fonte: Francisco Fernandes Ladeira é professor do IFES – Campus Vitória. Autor (em parceria com Vicente de Paula Leão) do livro A influência dos discursos geopolíticos da mídia no ensino de Geografia: práticas pedagógicas e imaginários discentes, publicado pela editora CRV.
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Polícia civil desafio de reduzir índices de feminicídios

O número de feminicídios na Bahia cresceu em 2018. De acordo com o balanço apresentado pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), 70 feminicídios foram registrados em todo o estado, o que representa um crescimento de 6,1% em comparação com 2017, quando foram contabilizados 66 feminicídios.

Em Pernambuco a secretaria de Defesa Social (SDS) divulgou um balanço de feminicídios referente a janeiro a novembro de 2018. Neste período foram registrados 18 feminicídios no Sertão do estado. A queda foi de 10% se comparado ao ano de 2017, que foram 20 ocorrências.

Em Salgueiro, não aconteceu este tipo de crime em 2018, e teve um caso no ano anterior. A estatística também diminuiu em Petrolina, no ano passado foram registrados dois feminicídios, já em 2017, seis crimes deste tipo aconteceram. A redução foi de 67%.

Segundo o delegado de homicídios de Petrolina, Gabriel Sapucaia, os dois feminicídios que ocorreram no ano de 2018 foram solucionados. “Então, a taxa de elucidação é de 100%. Isso mostra que a Polícia Civil vem desempenhando um trabalho satisfatório na investigação e na elucidação do feminicídio".

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Antonio Vicelmo e Huberto Cabral, Luiz Gonzaga e o Crato

Luiz Gonzaga tinha grande amizade pelo Crato, Ceará. Quem atesta é o historiador e radialista Huberto Cabral, cratense e um dos estudiosos que mais guardam a memória da região do Cariri. Segundo Cabral, Luiz Gonzaga, ao deixar sua terra natal e fugir para Fortaleza, passou pelo Crato, pegou um trem na estação com destino à Fortaleza, onde serviu no quartel do 23º BC.

Quando menino, seu pai Januário vinha sempre que podia para o Crato onde comercializava seus produtos na feira, principalmente farinha. “O pai de Luiz Gonzaga estava sempre no Crato vendendo a farinha dele, fez amizades aqui e sempre que vinha trazia Luiz Gonzaga e seu irmão”, afirma. Foi nessa época, segundo o jornalista que Luiz Gonzaga certamente aprendeu a gostar do Crato.

Luiz Gonzaga participou de alguns momentos marcantes da História do Crato. Em 1946, por exemplo, ele retorna ao Crato para animar e tocar em leilões da festa de São Francisco. Maçon que era teve vários trabalhos filantrópicos desenvolvidos a favor do bem estar do povo.

Em 1950 Luiz Gonzaga e o Cego Aderaldo do Crato participam da inauguração da TV Tupi, primeira emissora de televisão da América Latina.

Em 1951 Luiz Gonzaga esteve presente à inauguração da Rádio Araripe, primeira emissora de rádio do Interior do Ceará, junto com o pai, Januário, e o irmão, Zé Gonzaga.

No ano de 1959, Luiz Gonzaga participou da inauguração da Rádio Emissora Educadora do Crato, atendendo convite do jornalista Pedro Gonçalves Norões, grande amigo do Rei do Baião.

Luiz Gonzaga participou das festas do centenário do Crato realizando show na Praça da Sé. Em 1974 recebeu o título de cidadão cratense outorgado pela Câmara Municipal em iniciativa do vereador Ivan Veloso.

Em 1987 na Expocrato o presidente da Comissão Gestora, Francisco Henrique Costa, promoveu grande show folclórico na história da exposição numa homenagem a quatro heróis do ciclo do Jumento.

"Pela primeira vez e única vez reuniram-se no palco Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, Padre Antonio Vieira e José Clementino que foram saudados pelo violeiro Pedro bandeira". revela Huberto Cabral.

Todavia o próprio Luiz Gonzaga dizia que o mais importante acontecimento foi a instalação da Universidade do Cariri-Urca. Durante o lançamento da Universidade Luiz Gonzaga anunciou a criação da Fundação Vovo Januário, que beneficiou os estudantes de Exu com transporte gratuito, entre Exu e Crato.

O jornalista Antonio Vicelmo diz que vários amigos e compositores nascido na região do cariri foram parceiros musicais de Luiz Gonzaga. Zé Clementino de Varzea Alegre. Hildelito Parente, Patativa do Assaré, Jose Jathai, que é o compositores de Eu vou pro Crato. 
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Barragem Sobradinho no início do ano passado contava com 13,59% do seu volume útil, e em janeiro de 2019 o lago armazena 35,76% da sua capacidade

Começando o ano com uma realidade bem diferente de 2018, o reservatório de Sobradinho, no Norte da Bahia, deixa a região em uma situação mais confortável. 

No início do ano passado contava com 13,59% do seu volume útil, e em janeiro de 2019 o lago armazena 35,76% da sua capacidade. Não é muito, mas já muda o cenário dos últimos tempos de crise hidrica. 

Com um cenário um pouco mais confortável do que nos últimos anos, no último dia 07 de janeiro durante reunião de avaliação da operação dos reservatórios do São Francisco, coordenada pela Agência Nacional de Água – ANA, foi definido o aumento da defluência de Sobradinho passando para o patamar de 900 m3/s.

Com o período úmido Bacia no São Francisco, a expectativa é de que o lago continue recebendo mais água e o volume útil continue subindo. 

Segundo o Diretor de Operação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), João Henrique de Araujo Franklin Neto, a autorização da elevação da defluência para o patamar de 900 m3/ está condicionada a uma situação de armazenamento em Sobradinho igual a 55% volume útil no mês de maio de 2019.

"Se as simulações apresentadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, no âmbito da Reunião de Avaliação da Operação dos Reservatórios do São Francisco indicarem um armazenamento inferior a este valor de 55% VU na data de 01/05/2019, será revista a programação de defluência para valores inferiores ao atualmente praticado (900 m3/s)” concluiu Franklin.

*Fonte: CHBSF Juciana Cavalcante

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Parteiras tradicionais resistem e lutam por reconhecimento profissional

Pelas mãos de Maria José Galdino da Silva, de 61 anos, mais de 2 mil crianças nasceram. Conhecida como Zezé Parteira, ela se dedica ao ofício há 43 anos na comunidade de Taquara de Cima, em Caruaru (PE). Cada criança de quem fez o parto tem o nome anotado em um caderno que a acompanha por quatro décadas. 

Nascida em Gravatá (PE), Zezé aprendeu a ser parteira com mãe, a paraibana Maria do Carmo da Conceição, que também era rezadeira. E é essa transmissão de conhecimento, de geração a geração, que marca o ofício das parteiras tradicionais. O dia 20 de janeiro é a data que celebra o trabalho e saberes dessas mulheres. 

Tudo o que a parteira aprendeu foi acompanhando o trabalho da sua mãe na adolescência, ainda que cercada de tabus. "Depois que eu comecei a fazer parto que  soube que se nascia pela vagina. Nossa mãe nunca passava isso, porque ficava com vergonha”, lembra. Ela fez seu primeiro parto aos 18 anos e conta que nunca cobrou por nenhum deles. Em troca, às vezes recebia ovos, leite ou mesmo galinhas. Depois, se tornou agente de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), onde atua há mais de 20 anos. 

Há quatro décadas, no sertão pernambucano, a estrutura para realizar um parto era diferente. Usava um candeeiro para iluminar o local, em partos realizados à noite, e chegou a dar banhos em recém-nascidos na tampa de uma cuscuzeira. 

Hoje, com energia elétrica, Zezé relata que o cenário mudou na região. Menos a importância da parteira para a comunidade, que não se restringe a fazer partos. Zezé explica que está junto da gestante do primeiro mês em que falta a menstruação até o nascimento. E, por viver na comunidade, acompanha o crescimento de cada criança. 

A influência de Zezé na comunidade explica como a parteira com quatro décadas de profissão é, hoje, a única mulher entre os 23 vereadores na Câmara Municipal de Caruaru. Nas eleições de 2016, ela obteve 945 votos disputando uma vaga pelo Partido Verde (PV) — número ainda menor do que de crianças que auxiliou chegar ao mundo. 

Na Câmara, ela centraliza seu trabalho em pautas relacionadas à saúde e o direito das mulheres. Tem trabalhado para abrir uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no bairro onde viveu por toda a vida e onde mantém a casa de parto Mamãe Zezé. 

O Ministério da Saúde não tem uma estimativa de quantas parteiras tradicionais existem no Brasil, mas define o ofício como a assistência ao parto domiciliar que tem como base saberes e práticas comunitárias. O termo inclui também mulheres indígenas e quilombolas. 

Mãe de 10 filhos, Zezé tem repassado seu conhecimento para a neta mais nova. Ela afirma que o interesse na prática — focada no meio rural e entre mulheres analfabetas — tem diminuído ao longo dos anos. “Estamos em extinção”, alerta. “Acho que hoje, em Caruaru, somos só três parteiras”. 

Os dados do Ministério da Saúde mostram que, proporcionalmente, os nascimentos em domicílio estão em queda. Em 2014, foram registrados 21.262 partos domiciliares. Ou seja, 0,71% dos mais de 2,97 milhões de nascimentos. Já em 2017, foram 19.310 partos realizados em casa — o que equivale a 0,66% dos 2,91 milhões de nascimentos daquele ano. 

Mas, ainda assim, uma nova geração de parteiras tradicionais resiste. Marcelly Carvalho, de 46 anos, é uma delas. “Eu recebi um conhecimento da minha mãe porque na prática das parteiras tradicionais é assim que se repassa, uma mestra ou você acompanha uma parteira e ela te ensina até o momento que você faz o primeiro parto”, conta ela, que vive em Olinda (PE). 

Marcelly é uma das fundadoras da ONG C.A.I.S do Parto (Centro Ativo de Integração do Ser). No braço, tem uma tatuagem para lembrar um dos 400 partos que já fez nos 12 anos que atua como parteira. Este, segundo ela, foi o mais difícil, mas comemora que nunca teve um óbito. 

“O parto, para mim, é um grande momento de cura, um grande portal. É um momento de ancoramento de muita força, da espiritualidade. Não uma fisiologia, mas um momento sagrado. De conexão para todos. Na hora que uma criança vai fazer seu rito de passagem, que é o nascimento, se ancora uma grande força na terra. E esse momento é a hora que precisamos nos preparar para a chegada de um mestre.” 

Para ampliar o apelo entre as mais jovens, Marcelly defende a regulamentação da profissão de parteira. A Portaria 1.459 de 2011, do Ministério da Saúde, reconhece e apoia o parto domiciliar assistido por parteira tradicional. A normativa define, inclusive, a existência do Kit da Parteira, que disponibiliza material descartável para sua assistência. Mas não há regulamentação do ponto de vista trabalhista. 

O Projeto de Lei 359 de 2015, que tramita com esse propósito, está parado no Congresso Nacional desde 2016. Por enquanto, a falta de uma legislação sobre o tema impõe dificuldades para a renumeração e barreiras, já que elas não podem se responsabilizar por um parto de risco habitual em hospitais. “A gente não tem essa autorização por não termos uma formação técnica para estar no hospital”, pontua Marcelly. 

O Ministério da Saúde informou que parteiras podem acompanhar gestantes na rede de assistência “sempre que ela seja a acompanhante de sua escolha ou quando existir parceria e diálogo entre os estabelecimentos de saúde do município e a parteira ou associação de parteiras”. 

Por causa das restrições, Marcelly enxerga com bons olhos o movimento, também nas grandes cidades, em busca da humanização do parto, com a formação de uma rede parteiras urbanas, sejam técnicas ou profissionais. “Todo o tipo de formação é importante. As academias têm que começar a olhar para essa questão com um olhar mais humano e sensível”, pontua. 

A falta de regulamentação da profissão e de cursos dedicados exclusivamente a estudos sobre o parto no Brasil fez com que a parteira uruguaia Maria Cecília Pintos deixasse de exercer o ofício no país. Formada na Escola de Parteiras de Montevideo, ela não conseguiu revalidar seu diploma desde que chegou no Brasil, em 1987. 

Maria Cecilia chegou a trabalhar na Santa Casa de Santa Vitória (RS), município onde vive, na fronteira com o Uruguai. “Os médicos que trabalhavam conosco já conheciam o trabalho das parteiras no Uruguai e valorizavam muito nosso trabalho. Então, eles confiavam plenamente”, lembra ela, que decidiu fazer um técnico de enfermagem para trabalhar no país.

Maria Cecília relaciona a prática das parteiras com a redução da violência obstétrica. “A gente tenta, principalmente, dialogar com a paciente e com a família para tomar nossas atitudes”, aponta. “Eu acho que por causa disso, por não existir parteiras [como profissão] no Brasil, tem tanta cesárea. Não tem uma pessoa em quem confiar durante o trabalho de parto.” 

Em 2014, as cesáreas feitas pelo SUS corresponderam a 57,07% dos partos. Já em 2017, com dados ainda preliminares, as cirurgias responderam a 55,51% dos nascimentos. 

Hoje, a Universidade de São Paulo (USP) é a única instituição no país que oferece a graduação direcionada especificamente para a formação de parteiras. Depois de 33 anos de extinção, o curso superior de obstetrícia foi reaberto em 2005. A obstetra Bianca Zorzam, do Coletivo Feminista de Sexualidade, se formou na primeira turma do curso, em 2008. 

“A gente sabe que a maioria das cesáreas acontece sem indicação clínica. Elas não precisam acontecer para salvar a vida da mãe e do bebê. E vários estudos indicam que as mulheres são convencidas, durante o pré-natal, a fazer uma cesárea. Elas começam com um desejo de ter um parto normal e, ao longo do pré-natal, com seu médico, são convencidas de que a cesárea seria a melhor opção; sendo que, na verdade, a cesárea é uma cirurgia onde há risco”, explica a especialista. 

Bianca também trabalha na Casa Angela, na casa de parto localizada na zona sul, na periferia da cidade de São Paulo. O local, inaugurado em 2009, é reconhecido pelo trabalho de humanização da assistência à mulher gestante. O espaço conta com uma equipe multiprofissional, composta por médicas e até professoras de yoga, e desde 2016 atende em convênio com o SUS. 

Ainda que reduzindo timidamente na rede pública, o Brasil tem um padrão de cesárea bastante elevado quando comparado com a taxa recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O órgão internacional recomenda que a taxa de cesárea seja de 15%. Mas, segundo a pesquisa Nascer do Brasil, conduzida pelo Instituto Fiocruz, este índice chega a 88% dos nascimentos em hospitais do sistema particular.

Brasil de Fato Rute Pina
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Vereador quer incluir música como disciplina nas escolas

O vereador Alcides Teixeira Neto (PRTB) apresentou o Projeto de Lei 387/2017, que pretende implementar a música como disciplina para estudantes da educação infantil e do Ensino Fundamental.

"Aplicando-se um olhar humanista e reflexivo, o ensino de música nas escolas da rede municipal e da rede privada de ensino pode colaborar para melhorar a formação dos alunos, sobretudo, no que se refere ao déficit de atenção, ao desenvolvimento cognitivo; e, principalmente, à formação do caráter e personalidade.

Além do desenvolvimento psicomotor e do contato com outras matérias de uma forma natural", explica Alcides Teixeira Neto, em trecho da justificativa do projeto.

A proposta está em tramitação nas comissões de Educação, Cultura, Turismo e Esportes, e de Políticas Públicas da Juventude. Em seguida, será enviado ao Plenário da Câmara.
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