SEU BILINO, UM TOCADOR DE SANFONA DE 8 BAIXOS

Andar pelos sertões sempre me proporciona encontros! Novos conhecimentos. Entre Exu e Serrita encontrei "Mestre Bilino". Antônio Felizardo Alves, bom proseador e afinador de sanfona de 8 Baixos.

Seu Bilino começou a tocar ainda era menino, em 1958, quando seu pai comprou uma sanfona de 8 Baixos pra ele. Naquela época os forrozeiros tocavam nos casamentos, nos aniversários, diz Seu Bilino. “Ele comprou uma sanfona pra eu tocar pra ganhar um dinheirinho. Nessa época o povo tocava a noite toda”, conta ele, que veio de uma família de  músicos.

Seu Bilino diz que não é tocador profissional, que sua profissão mesmo é afinar sanfona: “Meu ramo mesmo é ser afinador de acordeon, quando o fole se acaba eu também recupero”, diz ele.

Mas é com maestria que ele pega o instrumento e desliza os dedos, puxando o fole. Depois ele mesmo reconhece sua sabedoria: “Tem uma música que eu fiz que eu botei o nome Avessinho, um chorinho.

É um forró tão bom de dançar que quando eu tou tocando ele todo mundo pega o ritmo, quer dançar. O finado Dominguinhos quando tava vivo foi tocar na rádio em São Paulo, aí um senhor me chamou pra tocar nessa rádio e eu fui tocar mais Zé Onório, que era um tocador de 8 Baixos de São Paulo. Aí ele fez assim – porque eu falei de Exu – ‘esse caba de Exu é bom”, conta.

Bilino teve dois mestres, um foi seu pai, que lhe ensinou duas coisas, uma é que “a música é pra ser tocada com carinho e amor, bem feliz”. A outra é que tem músicas que devem ser guardadas pra momentos especiais. “Meu pai dizia ‘Num toque essa música atoa não. Toque num momento especial, que você fica feliz e eu também fico”, ensina.

O outro mestre de Bilino foi Severino Januário, irmão de Luiz Gonzaga.  “Eu tocava com Severino Januário, eu considero ele meu mestre. Eu toco as músicas dele, tem gente que até chora. Hoje eu tou tocando as letras dele por causa dele. É um xote tão bom de dançar que todo mundo arrupeia os cabelos”, brinca Bilino.

Ele só fica triste com a falta de reconhecimento do seu mestre “Severino dos 8 Baixos  num era mostrado na televisão. Eu fiquei desgostoso, o homem tocava um 8 Baixos daquele jeito e num era mostrado. Eu fiquei meio triste, andei um tempo sem tocar”, conta o tocador que também não tem a atenção dos holofotes, apesar de seu talento merecido.

O vínculo com a família de Luiz Gonzaga começou desde cedo, Seu Bilino conta que seu pai só afinava o instrumento com Januário: “Ele trazia o 8 Baixos dele porque ele era mestre, aí quando a sanfona dele quebrava.  Ele vinha pra aqui”. E, Bilino, criança, vinha dentro de um caçoá, de Serrita, sua cidade, para Exu.

Hoje, assim como grande parte dos nordestinos, Bilino tem veneração por Mestre Lua: “Pro futuro ele vai ser nosso santo dos músicos, o santo dos sanfoneiros. Vai ser que nem o Padre Cícero, que nem Damião. Asa Branca é como se fosse um hino, como se fosse uma reza”, profetiza ele. “Ele é uma raiz do Sertão que a gente não pode abandonar”, afirma o sanfoneiro.

Consciente de que está cada vez mais raro achar pelas bandas do Araripe um tocador de 8 Baixos, “Daqui a uns 50, 100 anos quem tocar 8 Baixos vai ser chefe majoritário do mundo inteiro”, Bilino sente prazer quando consegue passar seu conhecimento a alguém “A coisa que eu acho mais feliz no mundo é eu dar aula pra uma criança, de 8 Baixos, porque de acordeon tá cheio já de tocador”

“Eu num posso abandonar essa carreira até o fim da minha vida”, diz com veemência. “Eu tou feliz desse jeito, porque dinheiro num é tudo na vida não. Eu sou um cara da roça, do mato, eu tenho um sitiozinho que eu plantei, tem 16 pés de coco. As filhas vem do meio do mundo passear. Eu acho bom estar no meio da terra aqui escutando Gonzaga tocar, chega um amigo, conversa comigo, chega outro”, conta o humilde tocador do fole típico do Sertão que hoje se tornou preciosidade.

Fonte: www.cultura.pe.gov.br/canal/mergulhe/um-modesto-tocador-de-8-baixos-2
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VENDEDORES DE DISCOS RESISTEM A ERA DIGITAL E COMERCIALIZAM RARIDADES MUSICAIS

Em um mundo cada vez mais digital, os discos de vinil, que marcaram época continuam teimando em resistir e em alguns casos até retornam ao mercado e também impulsionam a venda de toca discos e agulhas. Os discos de vinil, LPs, ou simplesmente “bolachões” estão na moda. São quase 20 anos que anunciaram a "morte", dos LPs, quando o mercado ficou dominado pelos CDs.

Em Petrolina a resistência em vender disco vinil cabe a Geraldo José Marcolino e José Lisboa dos Santos. Geraldo nasceu em Ipanema de Santana, Alagoas. Aos 65 anos revela que sua profissão foi sempre vendedor de disco vinil, confessa que pela "força do mercado também vende cd". Contudo afirma que a paixão está mesmo é pelo LP.

Geraldo conta que trabalhou na maior feira do mundo, que segundo ele é a feira de Caruaru, Pernambuco. Também vendeu discos em Juazeiro do Ceará e em São Paulo. "Houve uma época que vender disco vinil dava pra ganhar o pão de cada dia. Hoje as vendas caíram, mas ainda tem comprador. Meu sonho sempre foi montar uma loja de venda de discos vinil", revela Geraldo.

Já o vendedor José Lisboa, ex-pedreiro avalia que ainda existe a procura porque os jovens enxergaram no disco os encartes, a história da música. "Os discos mais procurados são de rock, Luiz Gonzaga, Roberto Carlos, Caetano Veloso e Elvis Presley. E isto se dá devido o conhecimento das pessoas mais jovens que começam a adquirir música de boa qualidade e música boa está é no vinil", diz José.  

Ele explica ainda que a procura de disco antigo existe porque não havia aparelhos para tocar. Nos últimos quatro anos, os modelos novos, todos importados, inundaram o mercado e as vendas cresceram muito, perto dos 80%.

A explicação do comprador Albertino dos Santos é que compra o vinil por saudosismo. "Não pulo para o digital. Acho até que o som dos discos vinis são melhores que o digital. Não troco meu vinil pelo digital de ninguém", finalizou Albertino.

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LULA ESCREVE CARTA AO CANTOR E COMPOSITOR MACIEL MELO

O cantor, compositor e escritor Maciel Melo divulgou para alguns amigos  nas redes sociais o teor da carta que recebeu por portador, feita a punho pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso na sede da PF em Curitiba, no último dia 6 de junho.

Maciel Melo não escondeu a felicidade e também compartilhou com este jornalista.

Também não nega que é admirador do ex-presidente. Quando no poder, Lula e Eduardo Campos por algumas vezes convidaram Maciel Melo e Petrucio Amorim para apresentar suas canções, no que sempre eram prontamente atendidos. “Quis apenas compartilhar com alguns amigos. Isso é histórico, amigo”, disse  emocionado. Leia a carta de Lula para Maciel:

Querido Maciel Melo ou Neguinho,

Hoje, quarta-feira estou com seu amigo Dr Rocha falando sobre o seu livro que acabei de ler A Poeira e A Estrada, e fiquei orgulhoso de ver mais um nordestino fazendo sucesso como escritor poeta e sobretudo como músico.

Querido, jamais imaginei que estando numa solitária na Polícia Federal em Curitiba pudesse ganhar o seu livro de presente do Dr Rocha que é seu amigo.

Maciel, ontem, dia 5/6 recebi de uma amiga um pen drive com músicas suas e ouvi até meia noite. Na verdade é um show…

O primeiro disco seu eu ganhei do pernambucano José Múcio e agora espero ganhar das suas mãos. Depois quando eu sair da Polícia Federal e tiver em liberdade te pagarei.

Continue porque nordestino não pode parar.

Sucesso amigo,

Lula
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POÇO REDONDO, SERGIPE-CARIRI CANGAÇO MAIS QUE UM SENTIMENTO

O  professor sociólogo Stuart Hall, pesquisador da área de estudos sociais apontou  que a questão da identidade está sendo extensamente discutida na teoria social. Em essência os argumentos são os mais diversos e complexos. Novas identidades vem fragmentando o indivíduo moderno.

 Discute-se assim a chamada  "crise de identidade". Crise vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.

Stuart Hall dialoga também que a identidade cultural surge a partir da noção de pertecimento, associada a memória, etnias, raciais, linguísticas, religiosas e acima de tudo nacionais. Já Habermas diz que "saber do que se fala sempre ajuda; de resto, se se trata do problema de legitimidade, é preciso sabê-lo de modo particularmente exato".

A lembrança dessas frases e dos estudiosos da comunicação e da cultura, frases sábias me veio a cabeça quando da participação do evento Cariri Cangaço 2017, realizado em Exu e Serrita, Pernambuco, entre os dias 20 a 23 de julho. 

Notícias chegam de Poço Redondo Sergipe. Entre os dias 14 a 18, o Cariri Cangaço 2018, ocorre nas terras de Alcino Alves da Costa (em memória). Rangel Alves, o seu filho é um dos mais entusiasmado com a história. Conferências, visitas técnicas, debates, o diálogo com referência a vida e obra de Lampião, cangaceiros e volantes.

Parabenizo Manoel Severo, curador do evento. Severo um defensor da cultura com capacidade de liderar uma equipe de valentes e valiosos cangaceiros da cultura. Cangaceiros culturais do bom combate. Na condição de convidado (serei sempre muito grato) impressionou-me a tarefa dos membros do Cariri Cangaço a missão de serem ousados. Ousadia de enfrentar a crise cultural e mostrar a riqueza de valores da cultura brasileira/universal.

Escutar e olhar a Cecília do Acordeon e Pedro Lucas Feitosa é saber do significado da esperança de um mundo melhor. Cecilia e Pedro Lucas são crianças que tem a identidade de sanfona.  Possuem o sentimento da terra, região. Corações tão puros e um futuro que deve ter como base os estudos e a educação para quando chegarem a maturidade e tempo adulto estarem prontos e preparados para enfrentar novos desafios em defesa da cultura. 

Manoel Severo, Conselheiros e membros do Cariri Cangaço clamam o mais alto possível pela valorização da cultura e exigem respeito ao legado histórico cultural. 

No Cariri Cangaço existe a ousadia da resistência aos valores mais nobres da cultura: o talento, o abraço e o sorriso.

O cidadão que participa do Cariri Cangaço não sai impune. Conviver com os cangaceiros da cultura é ganhar mais inteligência, engenho e arte. Eles tem a magia da valorização da memória e da cultura na alma.


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VIRGILIO SIQUEIRA: QUEM FEZ DA LUZ O BAIÃO FOI UM REI ENLUARADO CHAMADO LUIZ

Quem fez da luz o baião
Foi um rei enluarado chamado Luiz
Quem deu à luz o baião
Foi um rei ensolarado chamado Luiz
Quem com acordes candentes
Colhidos dos raios do sol
Harmonizou sua música
Com mãos reluzentes
Suaves gorjeios e encantos de algum rouxinol
Foi um rei chamado Luiz
Quem fez da luz o baião



Era um rei revestido
Com raios de prata e de ouro

Quem deu à luz o baião
Tinha o corpo incandescido
E alma de couro

Quem fez mais rubro o sangue nordestino
Tingindo-o com a luz do mais vermelho arrebol
Era feito com fibras de lua e de sol
Foi um sanfoneiro/vaqueiro feliz

O que acendeu o sertão não foi o fogo do sol
Foi a voz do rei Luiz

Que partiu, mas ficou reluzindo
No chão da esperança, florindo
Num verde que quando explodindo
Acende a fé, num clarão

No sertanejo plantou seus anseios
No peito, a vertente de um veio
Que brota do fundo, do seio
Da terra, do amor, do sertão

Era feito de couro e de luz
O vaqueiro chamado Luiz
Sertanejo de couro de luz
Sanfoneiro chamado Luiz
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NOVENA DOS 150 ANOS DA IGREJA SÃO JOÃO BATISTA DO ARARIPE EM EXU, TERRA DE LUIZ GONZAGA TEM INÍCIO HOJE

Este ano a igreja de São João Batista do Araripe comemora 150 anos. Para celebrar a data nesta quinta-feira 14, tem início as Novenas na Fazenda Araripe.

A Budega Cultural Vale do Ançu, realiza o concurso “Sarau poético, com o tema "a promessa do Barão de Exu, 150 anos de história". A divulgação do resultado e a cerimônia de premiação acontecerá em um evento público a ser realizado no dia 21 de junho de 2018, a partir das 21 horas, nos festejos da igreja de São João Batista, no povoado do Araripe no municipio de Exu.

Poderão participar do concurso todos os exuenses residentes ou não no município, os interessados em participar poderão se inscrever na Budega Cultural Vale do Ançu, que fica localizada na rua Eufrásio Alencar (Calçadão Ioiô Ulisses) no centro da cidade, no horário das 10 ás 17 horas de segunda a sexta.

O Concurso tem o objetivo de comemorar o aniversário de 130 anos de Fernando Pessoa e os 150 anos da igreja São João Batista do Araripe, que foi construída por Gualter Martiniano de Alencar Araripe (O Barão de Exu), como pagamento a uma promessa feita a São João Batista por salvar seu povo de uma epidemia de cólera que invadiu principalmente o nordeste brasileiro, tendo atacado o Crato, Ceará de 1862 a 1864.

No dia 23 de junho a professora Thereza Oldam de Alencar lançará o livro Igreja São João Batista do Araripe-150 anos. O evento encerra as noites do novenário.

Serão premiadas com um certificado comemorativo todas as poesias selecionadas, e mais premiação em dinheiro para as três poesias finalistas do concurso. Outras informações podem ser obtidas através dos telefones: (87) 9.9816 6096 - Alvenir Peixoto, (87) 9.9936 2258 - Carlina Alencar, (63) 9.9253 9797 - Antonio Rubens e (87) 9.9635 2594 - Ana Vartan.
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LUIZ GONZAGA: O SORRISO DAS FESTAS DE SANTO ANTONIO, SÃO PEDRO E SÃO JOÃO

Luiz Gonzaga plantou a sanfona entre nós, estampou a zabumba em nossos corpos, trancafiou-nos dentro de um triângulo e imortalizou-nos no registro de sua voz.

Dentro do seu matulão convivemos, bichos e coisas, aves e paisagens. Pela manhã, do seu chapéu, saltaram galos anunciando o dia, sabiás acalentando as horas, acauãs premeditando as tristezas, assuns-pretos assobiando as dores, vens-vens prenunciando amores.

O seu peito abrigava o canto dolente e retorno dos vaqueiros mortos e a pabulagem dos boiadeiros vivos. As ladainhas e os benditos aninhavam-se por ali buscando eternidade. 

Fonte: Aderaldo Luciano-professor. Doutor em Ciencia da Literarura
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