Irmãs Nordestinas guardam até os dias de hoje a sanfona branca, um presente de Luiz Gonzaga

Maria de Lourdes Batista e Socorro. As Irmãs Nordestinas nos ano 70 conheceram Luiz Gonzaga, Rei do Baião e este ao contemplar a desenvoltura de uma interpretação de um choro sentenciou: "Vou lhe presentear com uma sanfona branca".

Elas contam que não foi executado um choro fácil. "Escolhi um difícil e Luiz Gonzaga logo disse que menina para fazer a sanfona falar, tocar bonito".  Tudo isto numa sanfona de 80 baixos.

A palavra do Rei foi cumprida em 1984 quando Maria de Lourdes esteve em Exu e ganhou das mãos de Luiz Gonzaga, a sanfona branca. "E ainda ganhei um disco autografado", revela a sanfoneira "Lourdinha" como é conhecida em Petrolina.

As Irmãs Nordestinas nasceram em São José do Egito, Pernambuco.  Não foi por acaso que Luiz Gonzaga viu logo  a agilidade e habilidade, talento e ousadia ao puxar a sanfona de 80 baixos, pois Lourdinha é filha do melhor sanfoneiro de São José de Egito, Pedro Bentinho, homenageado com Medalha de Honra ao Mério-Centenário de São José do Egito.

As Irmãs Nordestinas ainda fazem shows. "Sempre faço apresentações é só chamar que a gente faz a sanfona roncar neste Nordeste afora"
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João do Vale: o Poeta do Povo, autor da música Carcará, Estrela Miúda, Peba na Pimenta e Pisa na Fulô

João do Vale é o autor da música Carcará, imortalizada na voz de Maria Betanea. 

As poesias de João do Vale são entoadas por esse Brasil afora e a maioria não imagina a autoria das músicas. João do Vale é mais um típico caso de grande artista brasileiro totalmente desvalorizado, pobre, semi-analfabeto, preto e nordestino, uma combinação infelizmente cruel para quem nasce nessas terras.

Na voz de Luiz Gonzaga é da autoria de João do Vale os baiões Meninas do Grotão, Fogo do Paraná, de Terezina a São Luiz.

João do Vale  veio ao mundo como o quinto filho de um casal de camponeses pobres e que se tornou, com suas mais de 200 músicas, um dos mais talentosos compositores da música brasileira.

João Batista Vale nasceu na cidade de Pedreiras, Rua da Golada, no Estado do Maranhão. Negro e pobre sofreu todo tipo de discriminação. Hoje João do Vale", através do trabalho do crítico carioca Marcio Paschoal, além de imortalizado na voz dos grandes cantores de Luiz Gonzaga a Chico Buarque, Clara Nunes e Maria Betanea,  Caetano Veloso a Fagner, ele está também na biografia Pisa na Fulô, mas não maltrata o Carcará - Vida e Obra do compositor João do Vale, o Poeta do Povo.

João do Vale se tornou compositor para ajudar os pais na lida com os outros irmãos, vendia bombons e doces feitos pela mãe. Apesar do trabalho, estudava com prazer na escola primária do lugar até um incidente tirá-lo dos estudos.

"Na época em que cursava o primário, foi nomeado um coletor novo para Pedreiras. Ele levou um filho em idade escolar. Na escola tinha uns trezentos alunos, mas escolheram logo eu para dar lugar ao filho do homem. E eu senti, é claro! Resolvi nunca mais ir estudar", relembrava ele.

Depois disso, a família se mudou para São Luís e o menino, de apenas 14 anos, fugiu de lá para Teresina junto com um circo. Tinha o sonho de morar no Sul e ter uma vida melhor. Foi ajudante de caminhão no Nordeste e, ao conseguir chegar no Rio de Janeiro, arranjou serviço também como ajudante - dessa vez de pedreiro.

Trabalhava e dormia na construção; à noite percorria as Rádios na esperança de se aproximar de algum artista. O primeiro a que teve acesso foi Zé Gonzaga, que a princípio não quis ouvir suas músicas. A resistência durou pouco. O cantor ficou encantado pelas composições de João do Vale e gravou Cesário Pinto, que fez sucesso no Nordeste.

Luís Vieira foi o segundo que João procurou; conseguiu que Marlene gravasse Estrela Miúda (de autoria dos dois). Embora não tenha sido fácil, o início da carreira de João do Vale foi rápido. Apenas um ano após chegar no Rio de Janeiro, suas músicas já começaram a ser gravadas. Quando, em 1952, foi receber os direitos autorais da venda de suas composições pela primeira vez, surpreendeu-se com a quantia: 200 cruzeiros. Uma fortuna para quem suava na construção por 5 cruzeiros mensais.

"Tudo o que nasce de João do Vale tem verdade e tem chão", disse Clara Nunes, cantora que recheia a já grande lista dos que gravaram composições do maranhense.

 Com sua simpatia e humanidade, o músico conviveu com uma centena de personalidades de destaque como artistas, políticos e escritores. Maria Bethanea gravou Carcará.

João teve três derrames cerebrais e morreu em 1996 aos 63 anos. Ele era de uma simplicidade contrastante com a época e o meio em que viveu. A biografia escrita por Marcio Paschoal, de 295 páginas, é um apanhado de mais de 40 fotos, cópias de contratos de edição e de partituras originais, discografia, musicografia e depoimentos dos artistas.

Fonte: Jornal do Commercio/Livro Marcio Pascolal
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Adeus a Antonio da Mulatinha. Agricultor, tocador de pandeiro, vendedor de cordel

Chorei! A morte esta danada "Caetana" sempre me faz chorar! 

Chorei pela falta do último abraço, a distância não permitiu: resta a lembrança do cantador, embolador Antonio da Mulatinha.

 Nascido no municipio de Esperança-Paraíba, Antonio Patrício aos 22 de outubro de 1927, irmão do também genial Dedé da Mulatinha (José Patrício) e outros nove irmãos

O motivo do sentimento é que durante quase 10 anos frenquentava a feira de Campina Grande, Paraíba e lá ainda jovem eu encontrava o vendedor de cordel Antonio da Mulatinha. Com ele aprendi os mais bonitos pensamentos, palavras e ações a favor da cultura brasileira.

Antonio da Mulatinha aprendeu apenas as primeiras letras do ABC. No entanto, estas lhe foram suficientes para ganhar o mundo e a fama, e em especial, a cultura.

Começou a cantar coco em 1940 e em 45 já publicava seu primeiro cordel: “A Viagem Sagrada”, seguindo-se outros oitenta e tantos títulos.

Campina Grande foi o lugar escolhido para viver, o bairro de Santo Antonio. Gravou dezenas de disco vinil-Lps.

Pai de dez filhos. Realizou centenas de viagens pelo Brasil afora  com seu irmão Dedé. Em 2014, Toinho da Mulatinha com então 89 anos foi homenageado pelo Museu de Arte Popular (MAPP) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), pelos seus mais de 60 anos de atuação na cultura, como cordelista e embolador de coco. No dia do evento, Toinho falou sobre sua vida e trabalho artístico.

Os seus versos, por muitos já fora elogiado. Eis aqui um pequeno exemplo da sua versatilidade:

“Em Sodoma tão falada/
Passei uma hora só/
Lá vi a mulher de Ló/
Numa pedra transformada/
Dei uma talagada/
Com caldo de mocotó/
E saí batendo o pó/
Adiante vi Simeão/
Tomando café com pão/
Na barraca de Jacó”.

São da autoria de Antonio da Mulatinha os seguintes títulos: Morte de Rosil Cavalcanti, Almanaque pernambucano brasileiro para o ano de 1957, Campina Grande, a viola e as belezas do nordeste, O casamento de Bernardo com Maria do Saguím ou o rapaz que casou-se e correu com medo da mulher, A Paixão de Cristo, As missões de Frei Damião em Bom Jardim e a tempestade em Limoeiro, As missões de Frei Damião em Soledade e os castigos de um amancebado, O povo chora com pena do frade Frei Damião, O desastre de ônibus que atropelou uma procissão e matou vinte e três pessoas em Currais Novos, A História do desastre da Lagoa do Parque Solon de Lucena em João Pessoa, entre outros.

Abraço meu amigo...deixaste este vale de sofrimentos!
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Dominguinhos: uma imensidão de ritmo, hamonia e melodias, saudade, paixões e amores, sol, lua, solidão e silêncio

"Que saudade matadeira eu sinto no meu peito. Faço tudo para esquecer, mas não tem jeito." Este é um dos muitos versos que Dominguinhos cantou e tocou com sua sanfona, transformando-a em um instrumento da saudade, sentimento que persiste no coração de todos nós que convivemos com o cantor, compositor e instrumentista desde sua morte em 23 de julho de 2013.

Hoje 12 de fevereiro se fisicamente estivesse entre nós Dominguinhos completaria 75 anos.

Hoje convidado que fui para participar de Programas de Rádio na região do Vale do São Francisco destaquei a genialidade, simplicidade, humildade do mestre Dominguinhos. Em especial a gratidão que o discípulo tinha por Luiz Gonzaga.

Destaquei dois filmes que fala sobre vida e obra de Dominguinhos: primeiro o documentário "O milagre de Santa Luzia" (2008), de Sergio Roizenblit, no qual o instrumentista viaja pelo Brasil para mostrar as diferentes formas regionais de se tocar sanfona e os principais sanfoneiros do país.

E aquele que mais me toca: O longa metragem webserie "+Dominghinhos". Neste filme é mostrado “Um Dominguinhos que pouca gente conhece: jazzista, improvisador, seu refinamento musical, sua universalidade.

Assim era Dominguinhos. Grande, muito grande. Simples, muito simples.

Aos 6 anos, José Domingos de Morais, O Dominguinhos ganhou a primeira sanfona do pai, o mestre Chicão. Aos 8, já se apresentava com os irmãos, Morais e Valdomiro, em feiras livres e portas de hotel de Garanhuns (PE), onde nasceu em 12 fevereiro de 1941.

Dominguinhos foi nome dado por Luiz Gonzaga, com quem gravou, em 1957, Moça de Feira. “O menino chegou de um ambiente diferente e começou a viver num mundo glamourizado. Mas foi sempre na dele, sempre com esse jeitão sertanejo”, diz Gilberto Gil no primeiro episódio da web série +Dominguinhos.

A riqueza dessa história levou os músicos Mariana Aydar, Duani e Eduardo Nazarian a se associar à produtora bigBonsai para pesquisar e promover encontros entre o sanfoneiro e parceiros, antigos e jovens que tocam e contam histórias vividas nos palcos da vida.

Em uma delas, Gil lembra do tour do álbum Refazenda (1975), em que viajaram juntos mais de 20 mil quilômetros. Em certo momento, Dominguinhos pergunta: “Isso é reggae, é?”. Quando o amigo responde que sim, ele rebate: “Que reggae nada, isso aí é um xotezinho sem-vergonha”.

"Seu Domingos" é grande demais para um filme. Se o Rei do Baião levou o sertão nas costas para que um País inteiro conhecesse, Dominguinhos fez com que cada homem, nascido no canto que fosse, encontrasse o sertão que havia no próprio peito.

Antes de começar a luta contra o câncer que o submeteria a uma injustiça do destino vivida em um quarto do Hospital Sírio Libanês, convalescendo na dor física e da alma que sofria sob desavenças de familiares, Domingos recebeu uma equipe de jovens cineastas. Estavam ali para colocar a água do Rio São Francisco em uma garrafa. Ou, se fosse preciso, em duas.

Ao lado de Djavan, Domingos chorou. Estava visivelmente abatido pela doença, mais magro do que em outras cenas, e parecia sentir as próprias notas em dobro. Ali, foi dureza. Havia as vozes de Djavan e de Mayra Andrade na belíssima toada Retrato da Vida, mais o violão de Yamandú Costa e o bandolim de Hamilton de Holanda.

Seu Domingos tirou a água dos olhos e pediu a Djavan um favor com uma humildade de estraçalhar os técnicos do estúdio. "Se você tivesse trazido seu violão, eu ia pedir pra tocar uma música pra mim".

O São Francisco transbordou e os produtores, amparados perceberam que Dominguinhos precisava de mais. O que seria um filme ganhou formato de websérie e o nome de Domingos +. Dividida em oito capítulos.

No filme Um pião gira no chão de terra até que aparecem os primeiros ruídos. Um boiadeiro canta, uma ave bate as asas. O pião retorna. É uma imensidão de sol e silêncio que abrem o documentário sobre Dominguinhos. Uma solidão que ficou com ele até o final da vida, estivesse na festa dos vitoriosos que levam prêmios Grammy para casa e na colheita do feijão com o pai, nas terras de Garanhuns.

Quando a música aparece, ela vem em turbilhão. Um Dominguinhos de cabeça baixa, de pé, à frente de um grupo, tocando sua sanfona como se estivesse em transe. De olhos fechados, transpassa dedos uns sobre os outros como se tivessem vida própria, como se nem dos comandos do cérebro precisassem.

É o próprio músico quem narra sua história. Seu Domingos fala do pai que já tocava na roça, lembra de sua sanfoninha de 8 baixos e do primeiro grupo que formou com dois irmãos no Nordeste, quando tinha 8 anos. Conta das brincadeiras e dos passatempos. "Eu não matava nem passarinho, por pena." A mãe, alagoana filha de índios como o pai, teve 16 filhos, muitos dos quais "iam morrendo" e sendo enterrados em caixõezinhos que o pai já construía como um especialista.

Seu Luiz, Luiz Gonzaga, já era rei quando viu o menino pelos anos de 1946, 1947. Como fazia quando apostava em um pirralho com jeito de gente, deu a ele 300 mil réis e sua bênção. "Passamos três ou quatro meses com esse dinheiro", lembra Domingos. Logo, é Domingos, pouco tempo depois de aposentar o apelido Nenê, quem está acompanhando o próprio Gonzaga. "O caminho de todo sanfoneiro era Luiz Gonzaga, não tinha outro." Dominguinhos o segue no sucesso, e aparece em programas de TV desafiando o mestre nas mãos e nos pés, com um duelo de xaxado.

O sanfoneiro chega ao Rio de Janeiro de Garanhuns depois de uma saga de 11 dias na carroça de um caminhão.

A história segue na voz do sanfoneiro e nas imagens de encontros em estúdios, alguns dos quais aproveitados de registros para a da websérie feita antes do documentário. Nana Caymmi não consegue cantar afinada Contrato de Separação. Em frente a um Dominguinhos debilitado, ela chora sem se conter, mas segue em frente.

Dominguinhos, estudado em escolas de jazz, esmiuçado por músicos eruditos, jamais estudou partitura. Tentou fazer isso, mas abandonou as aulas "porque os livros não tinha figurinhas." 

Já consagrado, fora da sombra do Rei do Baião, foi com Gal Costa fazer shows pelo país por dois anos, acompanhado por Toninho Horta na guitarra e Robertinho Silva na bateria. "Eu já estava me sentindo um sanfoneiro pop, já estava com o cabelão black." Quando chegou 1978, veio morar em São Paulo e sentiu aflorar a solidão do sertão que havia em seu peito. Dominguinhos era um solitário, como ele mesmo diz.

Seus olhos se enchiam de água depressa, sobretudo depois que ele começou seu tratamento contra o câncer. Em uma noite, deixou o quarto do hospital com seu chapéu de vaqueiro, apertou o botão do elevador e fez o nome do pai.

Momento de emoção no filme quando Dominguinhos chega ao teatro no qual a Orquestra Jazz Sinfônica o esperava e sentou-se para tocar De Volta pro Aconchego. Quando sentiu os arranjos sinfônicos atravessando seu peito, não se conteve e chorou uma lágrima graúda, como se soubesse que, ali, era a hora de se despedir.

Levantou a cabeça, tirou o chapéu e chorou...
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Dominguinhos: deixou mais ricos os céus e a terra e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente

Dia 12 fevereiro: Dominguinhos completaria 75 anos.

Dominguinhos encantou o Brasil com sua sanfona e voz, simplicidade e humildade.  Dominguinhos tornou-se um cantador que melhor soube interpretar a alma brasileira e vive na boca do povo, no puxado da sanfona em todos os recantos desse Brasil.

Garanhuns agreste de Pernambuco é o lugar onde nasceu Dominguinhos e a cidade através da Prefeitura realiza o Festival Viva Dominguinhos, este ano em sua III Edição.

O evento cria a oportunidade para discutir a Política Cultural no mundo globalizado e mais torna Garanhuns uma vitrine de atração de desenvolvimento econômico e social.

Garanhuns nesse sentido consolida um calendário que já é um dos principais acontecimentos do Nordeste.  Garanhuns firma com o Festival Viva Dominguinhos o incentivo e valorização da cultura e arte, um festival ancorado na alma e no profissionalismo do filho mais ilustre da música brasileira.

Garanhuns ao valorizar a arte, vida e obra de Dominguinhos abastece todo o Brasil, Estado, através da impressionante riqueza de ritmos, do cordel aos cantadores de viola, do aboio ao frevo, do armorial ao maracatu, do baião ao xote e xaxado,  as múltiplas variações da música nordestina/brasileira presentes na sanfona, triangulo e zabumba, “uma autêntica orquestra”, na definição de Luiz Gonzaga.

O professor paraibano, radicado no Rio de Janeiro, doutor em ciência da literatura Aderaldo Luciano, sempre me lembrou que Luiz Gonzaga foi pedra angular, referência -mor do forró, mas o Rei do Baião, não trilhava sozinho. Havia por trás de si, uma constelação de compositores, músicos, além de profícuos conhecedores do seu trabalho, amigos talhados de sol, nascidos do barro vermelho, com almas tatuadas por xique-xiques e mandacarus.

E por isto Garanhuns é o local apropriado para ser o palco capaz de reunir milhares de admiradores, com sede e fome de ouvir, cantar, silenciar, transformar e aplaudir em noites e nuances do céu estrelado sanfonado do mestre Dominguinhos, o discípulo que inovou a arte do mestre Luiz Gonzaga.

Garanhuns vai proporcionar no próximo mês de abril com o Festival Viva Dominguinhos a oportunidade de conhecermos e ampliar o debate sobre compositores, músicos, artistas que sabem divisar o Cruzeiro do Sul do Sete Estrelo e muito além disso discutir e como lidar com a máquina capitalista avassaladora dominante hoje da “indústria musical”.

Dominguinhos Vive. Garanhuns é agora um pedaço de terra de todos nós brasileiros. Dominguinhos, qual Luiz Gonzaga tornou-se uma estrela luminosa a brilhar. Como disse Fernando Pessoa, “quem, morrendo, deixa escrito um belo verso, deixou mais ricos os céus e a terra, e mais emotivamente misteriosa a razão de haver estrelas e gente”.

Viva Garanhuns. Viva o Nordeste. Viva Petrucio Amorim, Xico Bizerra, Três do Nordeste, Jorge de Altinho, Elba Ramalho, Anastácia, Paulo Vanderley, Luiz Ceará,  Quinteto Violado, Flávio Leandro, Cezinha, Flávio José, Viva o Fole de Oito Baixos, Targino Gondim... Viva o Festival Dominguinhos.
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Gibão e Chapeu de couro do Mestre Aprigio, de Ouricuri destaque na Vila Isabel

A Escola de Samba Vila Isabel desfilou na Sapucaí do Rio de Janeiro contando a vida de Miguel Arraes, político cearense, nascido no Crato, três vezes governador de Pernambuco. A escola retomou uma tradição de enredos políticos, com forte cunho social.

A comissão de frente de Jaime Arôxa trouxe um cortejo fúnebre nordestino, com corpos carregados em redes. "Não é a morte física.
É a morte pela falta da cultura, da educação. E combina com o carnaval, porque a vida retoma com a chegada da cultura", explicou Arôxa.

Para homenagear o centenário de Miguel Arraes, as mazelas sociais que ele enfrentou foram lembradas na avenida: a seca, as moradias sobre palafitas, as dificuldades dos cortadores de cana, o analfabetismo. Esses temas vieram ao lado de ícones culturais de Pernambuco, como o frevo e o bloco carnavalesco Galo da Madrugada, que mereceu um enorme carro ao fim do desfile.
 

O cantor Martinho da Vila encarnava um cangaceiro. O sambista se emocionou do começo ao fim da passagem da escola, da qual é presidente de honra e símbolo maior. Detalhe: o chapeu de couro e o gibão é confecção do artesão Mestre Aprigio.

Mestre Aprigio está em plena atividade em Ouricuri. Mestre Aprigio nasceu em Exu no dia 25 de maio de 1941. “Mestre Aprigio”, José Aprigio Lopes confecciona couro e sem nenhuma pretensão ou arrogância conta que conhece bem o repertório de Luiz Gonzaga. Ele confeccionou a partir de 1955 os chapéus de couro usados por Luiz Gonzaga.

 “Meus chapéus serviram de coroa para os dois grandes reis que conheci, veja só que privilégio, Luiz Gonzaga e Dominguinhos”, diz o Mestre Aprigio.

Nas músicas cantadas Luiz Gonzaga uma das marcas é a exaltação ao chapéu de couro e gibão. Uma das homenagens mais bonitas é  "Aquela Sanfona Branca, de Benito de Paula que foi dedicado ao Rei do Baião:

“Aquela sanfona branca
Aquele chapéu de couro
É quem meu povo proclama
Luiz Gonzaga é de ouro
Aquele tom nordestino
A voz sai do coração
É ele o rei do baião, é Luiz
É cantador do sertão
É filho de Januário
É quem canta o Juazeiro
É festa, é povo, Luiz alegria
Luiz Gonzaga é poesia”...
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Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca que deu vida ao homem

Minhas mais remotas lembranças de uma banda de pífanos levam-me às margens do Rio São Francisco, em Propriá, no Sergipe. Ali onde o calor entra pela boca do rio e desce sobre os viventes, devagar e sempre.

O São Francisco foi o primeiro rio que vi de verdade. Nessa primeira vez, passei sobre ele por volta das 4 da manhã. Viajava num velho ônibus da São Geraldo que vinha de Natal, no Rio Grande do Norte, passava em Campina Grande, descia por Caruaru, se mandava para dentro das Alagoas, parava em São Miguel dos Campos e caminhava para Aracaju. Antes de Aracaju, deixou-me na entrada de Propriá. Não havia ninguém me esperando. Com minha mochila, caminhei a pé por mais ou menos dois quilômetros até à Rua Japaratuba, à procura da Fraternidade Marista. Em lá chegando, sentei praça sob o comando do Irmão Salatiel.

Pois bem, desse tempo passado no Sergipe conheci todo o sertão e as cidades para baixo de Propriá. Lembro bem de Brejo Grande, onde me batizei nas curvas do rio, e de Neópolis, onde atravessei para Penedo, numa balsa barulhenta com medo de ser arrastado pelas águas.

Nessas minhas viagens, tinha eu 17 anos, escutei uma banda de pífano, banda cabaçal, zabumba, como queiram. A Briga do Cachorro Com a Onça e O Besouro Mangagá foram minha primeira aula. E ainda não ouvira falar da Banda de Pífanos de Caruaru. Aquilo arrebatou-me de tal forma que fiquei como metido em um transe. O casamento dos pífanos, um na melodia, outro numa espécie de contracanto, a zabumba marcando num compasso diferente de tudo que eu ouvira, uma caixa malassombrada marcando um xaxeado e um par de pratos como um enxame de chuveirinhos juninos.

Nunca mais parei de ouvir. Depois encontrei com João do Pife, em Caruaru e, com seus discos debaixo do braço, fui fazer uma comparação com Zé da Flauta, nos discos de Alceu Valença. Olhem bem, desculpem-me vocês aí da Bossa Nova, mas o pife é nosso. O pife é o sopro da vida, é o bicho escondido rosnando enfezado.

Tenho certeza, e vou colocar isso em um poema, viu Beto Brito, tenho certeza que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel. Foi mesmo. E vou mais além em meu sonho de jeca: a trilha sonora do Universo, viu Stephen Hawking, é da Banda de Pífanos de Caruaru: é a Briga do Cachorro Com A Onça!

Fonte: Texto professor doutor em Ciencia da Literatura Aderaldo Luciano-facebook
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