Por Osvaldo Coelho*
Sou leitor dos seus artigos na revista Veja e
ultimamente o senhor fez abordagens sobre o desenvolvimento do Nordeste, sobre
as desigualdades inter-regionais. Em um dos depoimentos o senhor anunciou que o
problema estava na educação e chegou a afirmar que se oferecer ao Semiárido, educação
como é oferecida no Centro-Sul do Brasil, teríamos avançado muito no
encurtamento das desigualdades.
Eu lhe peço uma reflexão. A Califórnia era um
deserto. A receita para o desenvolvimento da Califórnia foi à irrigação.
Naturalmente acompanhada da educação e da profissionalização dos técnicos. A
mesma coisa aconteceu no canal do Arizona nos Estados Unidos. Um canal de 600
km. O sub-desenvolvimento transformou a região em uma área produtiva e
positiva. Se formos para o México, no deserto de Sonora, lá fez-se irrigação, o
que tornou a região desenvolvida. Se formos para a Espanha árida iremos ver que
a quantidade de canais e barragens transformaram a Espanha em um grande
exportador de frutas para a Europa.
Então eu vivo e sou um cidadão do semiárido. Acompanho
a precipitação pluviométrica daqui. Se nós construímos uma grande educação
iremos formar mão de obra qualificada para migrar para o Centro-Sul, porque não
vai ter oportunidade de emprego para eles aqui.
Eu lhe convido para
visitar Petrolina-PE. Aqui tem universidade federal, instituto federal, órgãos
do Sistema S (Sebrae, Senai), estrutura razoável de ensino fundamental e médio,
e o embrião forte que a irrigação com as águas do Rio São Francisco. Isso nos
permite anunciar que Petrolina é o maior produtor de frutas do Brasil. A renda
per capita da cidade é de R$ 12 mil, o comércio é dinâmico, a migração é
constante. Então, eu queria lhe mostrar a minha reflexão sobre o
problema. O Brasil é ingrato com o semiárido. Só tem discurso e a região
continua deprimida, pobre, abandonada, da maneira mais extravagante possível.
Nós temos o Rio São Francisco, e ele tem um potencial para irrigar mais de um
milhão de hectares, mas só tem irrigado 300 mil.
Irrigou-se aqui no governo da revolução, no
governo de José Sarney e Fernando Henrique. Há dez anos a região não é
irrigada. Petrolina chegou a ser o 3° PIB agropecuário do Brasil. Hoje já se
distancia porque foram dez anos de inatividade no sertão.
Esperar agricultura no sequeiro onde chove pouco
e de maneira irregular é poesia, irrealidade. Gostaria muito, pela sua
seriedade e competência que o senhor refletisse comigo e me ajudasse a dizer ao
Brasil que esse tipo de situação não pode continuar. Uma federação não tolera
estados tão ricos e estados tão pobres.
Dentro do Nordeste existe o semiárido. Eu não
posso comparar o Nordeste, o interior de Pernambuco e Bahia que se aproxima do
São Francisco, com a região do café, do boi gordo, do cacau. É preciso que
vozes como a sua bradem contra isso. Fui deputado federal por oito legislaturas
e três estaduais. A minha bandeira de luta era educação e irrigação.
Uma não funciona sem a outra. Mas o Brasil não
quer saber disso não, não quer saber da seca. Quando vem a seca eles mandam uma
cisterna, depois um caminhão pipa que enche a cisterna de água. Quando passa a
seca se acaba tudo. Nós temos um São Francisco, temos muitos açudes, não vejo
outro caminho para encurtar as desigualdades inter-regionais.
Essas desigualdades já são intoleráveis. O erro
também está quando se elege um presidente pela maioria. A eleição deveria ser
por estados. Assim é na Argentina, Alemanha, Japão, Estados Unidos. No Brasil
basta que São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro se unam que já se tem um
novo presidente. Outro erro é a falta de voto distrital para eleição
parlamentar.
Gostaria que o senhor refletisse e colocasse nos
seus depoimentos a educação aliada à irrigação. Assim terei um parceiro nessa
luta de encurtar as desigualdades inter-regionais.
Osvaldo Coelho*
Ex-deputado federal por oito legislaturas