Morreu na manhã desta quinta-feira (6 fevereiro) o cantor e compositor Vital Farias, um dos nomes mais importantes da história da música brasileira. Ele tinha 82 anos e estava internado desde a última quarta (5) no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, em Santa Rita, na Grande João Pessoa após sofrer um infarto agudo do miocárdio.
Vital Farias nasceu em 1943, no sítio Pedra d'Água, município de Taperoá, na Paraíba. Ele era o caçula de uma família de 14 irmãos. Alfabetizado em casa, se mudou para João Pessoa aos 18 anos para servir ao exército. Se apaixonou pelo violão e aprendeu o instrumento de forma autodidata. Posteriormente chegou a dar aulas de violão e de teoria musical no Conservatório de Música de João Pessoa.
Elba Ramalho afirmou através de sua assessoria que "teria muito a falar sobre Vital Farias", e relembrou momentos em que, junto com Vital, celebrou a musicalidade nordestina.
"Tanta música que saia pelas mãos, veias e coração, preenchendo nossas noites de poesia! Sempre tivemos um bom trato, um para com o outro, muito respeito e admiração! Amo cantar suas canções, todas elas.
Estivemos juntos em muitos momentos, tanto no palco como na boemia! Vi nascer alguns dos seus clássicos e até servi de fonte de inspiração como na bela 7 Cantigas para voar! Agora só a saudade e o desejo que ele encontre paz na eternidade, no jardim do Céu; nos braços do Criador!
Valeu companheiro. Um breve aviso: não se admire se um dia um beija- flor invadir, a porta da tua casa, te der um beijo e partir: fui eu!", escreveu
Dono de sucessos como Canção em dois tempos, Ai, que saudade d’ocê, o artista começou a carreira com o lançamento de um álbum autointitulado em 1978. Antes havia feito parte dos movimentos artísticos do início da década de 1970 no Rio de Janeiro, para onde se mudou para se aprofundar nos estudos de música. Um dos principais destaques do início da carreira é a participação no espetáculo Gota d’água.
O trabalho de Vital Farias viajou o Brasil e foi importante para o desenvolvimento da música brasileira. “Ele tem uma contribuição e uma história muito forte, sobretudo a partir das cantorias, pelo o trabalho que ele tinha junto com Xangai, Elomar e Geraldo Azevedo e pela criação de peças únicas e muito importantes para a musicalidade brasileira”, afirma Marcus Alves, diretor-executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), orgão equivalente à secretaria de cultura da capital paraibana, ao Correio. “O nosso coração fica muito triste com a notícia da perda do Vital Farias. Ele era um verdadeiro símbolo da nossa música popular brasileira”, complementa.
A Paraíba perde um ícone, uma figura marcante e um dos maiores nomes da música a ter se desenvolvido no estado para ganhar o país. “A cidade de João Pessoa e o estado da Paraíba lamentam esse momento. A música popular brasileira perdeu um grande protagonista criativo e provocativo”, comenta o diretor-executivo. “A gente perdeu uma pessoa muito importante que marcou diversas gerações. Porém, ele deixa uma grande contribuição na nossa memória afetiva. Quantas pessoas não tem uma lembrança importante em torno das grandes músicas dele”, exalta.
Cantoria-Além de composições que marcaram a música popular brasileira, Vital Farias fez parte de um dos mais longevos e essenciais projetos da história do showbiz no Brasil: o espetáculo Cantoria. Gravado originalmente em 1984, no Teatro Castro Alves, em Salvador, o show era um encontro de titãs da música de repente e do cancioneiro sertanejo: além de Vital, estavam no palco Elomar, Geraldo Azevedo e Xangai.
O show, que levava a assinatura do produtor musical Mário de Aratanha, da Kuarup Discos, foi um dos primeiros a serem registrados ao vivo em LP com o emprego de um sistema digital, e é referência absoluta na música de viola de repente. Fazem parte do repertório canções que se tornaram clássicos da MPB, como Ai, que saudade d'ocê, de Vital Farias; Desafio do auto da Catingueira, de Elomar; e O ABC do preguiçoso, de Xangai. Além dessas, o espetáculo traz músicas como Caravana, Moça bonita, Talismã, Cantiga de amigo, Sabor colorido, Estampas Eucalol e Cantilena de lua cheia.
Nas palavras do violonista e arranjador João Omar, filho de Elomar, o Cantoria é um verdadeiro “encontro de trovadores do sertão”. A declaração foi dada na ocasião do reencontro do espetáculo, em 2023, quando Vital e companhia voltaram a apresentar o repertório pelo país. O concerto foi realizado duas vezes em Brasília, uma em 2016 e outra em 2023, dessa vez com a participação de João Omar.
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