Consagrado no Cine PE com quatro troféus – melhor filme, fotografia, montagem e edição de som –, Danado de Bom (2016) traz à luz um artista cujo reconhecimento está aquém de sua importância para a música nordestina: o compositor pernambucano João Silva (1935 – 2013), autor de mais de 3 mil canções e um dos principais parceiros de Luiz Gonzaga (1912 – 1989).
O documentário será apresentado nesta quinta-feira, ás 19hs, no Centro Cultural do Cariri, Crato Ceará. Cineclube Cego Aderaldo, pensado para democratizar o acesso à sétima arte e facilitar a reflexão e debate de filmes
O filme de longa-metragem de Deby Brennand acompanha uma viagem do personagem de volta a sua Arcoverde natal, no agreste de Pernambuco, relembrando a trajetória de menino andarilho e semianalfabeto a criador de forrós, baiões e xotes de sucesso como A Mulher do Sanfoneiro, Danado de Bom, Pagode Russo, Nem se Despediu de Mim e Pra Não Morrer de Tristeza.
Reunindo depoimentos ou participações musicais de nomes como Dominguinhos, Trio Nordestino, Elba Ramalho, Mariana Aydar, Zeca Baleiro, Gilberto Gil e Lenine, o filme procura dar a dimensão de João, responsável por colocar Gonzagão de novo nas paradas na última parte da vida do ídolo graças às letras animadas e espirituosas que escrevia para o Rei do Baião – de quem foi produtor de seus discos de maior êxito.
– Luiz Gonzaga falava dos Três Mosqueteiros: ele, Zé Dantas e Humberto Teixeira (compositores parceiros do cantor e sanfoneiro). Eu digo que o João era o D'Artagnan – definiu a pernambucana Deby em entrevista a Zero Hora por telefone desde Recife.
O projeto de levar às telas a trajetória de João Silva surgiu em 2007, depois que a produtora cultural Roberta Jansen conheceu o compositor por meio de um pesquisador e convidou Deby a dirigir um filme sobre ele. Na época, o parceiro do Velho Lua amargava o esquecimento artístico.
– Ninguém conhecia o João, apesar de conhecer suas músicas. E ele queria ser reconhecido na terra dele – explica a diretora, definindo assim o protagonista de Danado de Bom: – Ele era um autodidata. Muito fechado, mas divertido, mentia demais. A principal característica dele era a alegria. Cantava a música nordestina com a linguagem do matuto, que a gente chama de babeco. João cantava o Nordeste, mas não a seca. Foi essa alegria que levantou o Gonzaga.
Apesar de ter sido iniciado antes, Danado de Bom chega aos cinemas somente depois da estreia de outras produções exaltando estrelas da música nordestina, como os documentários O Homem que Engarrafava Nuvens (2009) – sobre Humberto Teixeira, coautor com Gonzagão do clássico Asa Branca – e Dominguinhos (2014) e a cinebiografia Gonzaga: De Pai pra Filho (2012). Segundo Deby, que começa a filmar neste segundo semestre a história de Frei Damião, outro mito sertanejo, João Silva morreu sem ter visto seu filme:
– Isso é uma coisa que dói no meu coração até hoje. Queria fazer uma surpresa para ele, disse que só iria mostrar quando o filme estivesse pronto.
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