ONG PARQUE AZA BRANCA COMPLETA 20 ANOS EM DEFESA DA VIDA E OBRA DE LUIZ GONZAGA

A ONG Parque Aza Branca completa neste mês de novembro 20 anos de atuação. A ONG foi fundada em Exu com o objetivo de valorizar a vida e obra de Luiz Gonzaga e manter viva a memória do Rei do Baião.

A história conta que em 2001, dez anos depois da morte de Gonzaguinha, o cantor Gilberto Gil foi até Exu, Pernambuco, com toda a equipe do longa-metragem “Viva São João”, de Andrucha Waddington, para gravar algumas cenas do filme. 

“Temíamos que o parque afundasse. A falta de apoio para política públicas e ações eram evidentes. Aproveitamos a visita do cantor e compositor Gilberto Gil e fizemos uma reunião”, lembra, Junior Parente, atual diretor presidente da ONG, ressaltando que o grupo recebeu conselho para criar uma ONG para administrar o parque. 

“Gilberto Gil explicou na época que ao virar uma instituição, teríamos mais possibilidades de pedir apoio do governo ou de empresas”, conta. Naquele mesmo ano, o grupo criou uma organização não-governamental sem fins lucrativos para administrar o Parque Aza Branca.

Dedicação e perseverança são as marcas da ONG PARQUE AZA BRANCA. Inicialmente buscando por alternativas, a professora Clemilce Cardoso Parente Parente viu no site do Ministério da Cultura o projeto Ponto de Cultura. “Convidei minha amiga professora Ilaíde Carvalho para pensar comigo. Criamos um projeto de três anos com oficinas de música, dança, artesanato e teatro”, conta. A ideia de oficina de música nasceu com o gene do Aza Branca. 

“Luiz Gonzaga presenteava sanfona para todo mundo que tinha interesse. Dizem que ele deu mais de 400 sanfonas. Ele tinha medo que as pessoas perdessem o interesse pelo instrumento e não soubessem mais como tocar”, conta. 

Junior Parente destaca ainda que "cuidar da memória de Luiz Gonzaga é um trabalho diário, reunindo voluntários da ONG e os milhares de fãs, admiradores que todos os anos estão em Exu. É um desafio que precisa ser mantido".

O Parque Aza Branca é o principal ponto turístico de Exu. Ele foi fundado pelo próprio Luiz Gonzaga. A Fazenda onde foi instalada a atração foi comprada por ele no início dos anos 70. Em 1982, o sanfoneiro volta a morar em Exu e elegeu o Parque como moradia definitiva.

O Parque Aza Branca é uma antiga fazenda comprada pelo "Rei do Baião". Ele foi idealizado pelo próprio artista – que, já com a carreira consolidada, quis construir um complexo de atrações para preservar seu nome e sua obra.

No local é possível visitar o Museu do Gonzagão, que abriga o maior acervo material original do músico. Entre os objetos pessoais, há sanfonas, chapéus, sandálias e gibão de couro, discos de ouro e fotografias. Outra atração é a casa onde ele morou, que mantém os móveis originais, e o mausoléu onde Gonzaga está sepultado junto com sua primeira mulher (“dona” Helena), que seu filho Gonzaguinha mandou construir para o casal.

Há ainda uma réplica da casa de reboco onde nasceu o músico e um viveiro de asas-brancas. A grafia do nome do parque acompanha a da canção original, registrada assim para acompanhar o Z de Luiz e de Gonzaga. O parque tem também duas pousadas para hóspedes: Santana, em homenagem à mãe de Gonzagão (a agricultora e dona de casa Ana), e Januário, nome de seu pai, lavrador e sanfoneiro.

Endereço Parque Aza Branca: Rodovia Asa Branca, KM 38, Exu (PE).

Telefone: (87) 3879-1295.

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ADMIRÁVEL GADO NOVO NO ENEM MOSTRA QUE MÚSICA TEM SITUAÇÕES POLÍTICAS ATUALIZADAS, DIZ ZÉ RAMALHO

O cantor Zé Ramalho disse ter se sentido "recompensado" ao saber que sua música "Admirável Gado Novo" foi citada na prova do Enem 2021. As primeiras questões do exame foram aplicadas ontem domingo (21).

"É uma prova de que essa letra contém situações sociais e políticas atualizadas, acho que para sempre. Desde que o conceito de 'atualizada' refere-se à situação também 'para sempre' do povo brasileiro", refletiu, em nota enviada ao g1.

Segundo Gabryel Real, gerente de Processos Avaliativos do SAS Plataforma de Educação, a questão que mencionava a música, presente na prova de ciências humanas, pedia que o aluno relacionasse um trecho de "Admirável Gado Novo" com o contexto em que a canção foi lançada, em 1979. Os versos falam sobre "massa" e "vida de gado".

De acordo com Renato Pellizzari, professor de História do Descomplica, a resposta correta à pergunta citava uma postura de passividade na sociedade brasileira.

Naquele ano, o Brasil vivia sob ditadura militar, mas o tema do regime militar, especificamente, não apareceu na prova de forma mais direta, segundo quatro professores ouvidos pelo g1.

"Sinto-me recompensado por essa letra, que já tem quase 50 anos, estar se destacando nessas avaliações oficiais do conhecimento atual dos alunos, que estão sendo testados", completou Ramalho.

Além de "Admirável Gado Novo", as músicas "Comportamento Geral", de Gonzaguinha, e "Sinhá", de Chico Buarque, foram citadas no primeiro dia de provas do Enem.

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HISTÓRIA DO MENINO QUE CRIOU MUSEU LUIZ GONZAGA, NO DISTRITO DE DOM QUINTINO, CRATO, CEARÁ É TEMA DO ENEM 2021

Uma das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) edição 2021, que teve o primeiro dia de prova realizado neste domingo (21 de novembro), abordou a história do Museu de Luiz Gonzaga, criado em 2011, por Pedro Lucas Feitosa, no distrito Dom Quintino, em Crato. 


A história ganhou visibilidade internacional através do documentário “O menino que fez um Museu” (2016), do jornalista Sergio Utsch. A produção independente foi premiada em Londres pela Foreing Press Association (FPA), associação de correspondentes estrangeiros mais antiga do mundo, fundada em 1888.

A 8ª questão da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, é um recorte de uma matéria do portal O Povo. Cerca de 3.109.762 pessoas se inscreveram para realizar as provas nos dias 21 e 28 de novembro.

Em contato com a reportagem da REDEGN, o fundador criador do Museu, Pedro Lucas Feitosa, revelou que ficou surpreso com a informação. “A ficha ainda não caiu. Estou muito feliz e isto agradeço a todos que acreditaram neste sonho desde o início e espero que daqui em diante a valorização da cultura brasileira, a partir de Luiz Gonzaga prossiga com mais determinão na busca da cidadania e dignidade humana".

Pedro Lucas também agradeceu o empenho e pautas da REDEGN, um dos principais meios de comunicação do Nordeste em divulgar a história do Museu e destacar a cultura brasileira.

Em 2018, em visita ao Museu Luiz Gonzaga, no Distrito de Dom Quintino, o jornalista Ney Vital, esteve com Pedro Lucas.

Em 2013, Pedro Lucas Feitosa, então com 8 anos, voltou encantado de uma visita que fizera ao Parque Asa Branca/Museu do Gonzagão, em Exu, Pernambuco. Ao voltar para a sua casa, no Crato (Cariri cearense), Pedro Lucas já sabia como dar vazão à admiração que nutria por Luiz Gonzaga: ele criaria um museu dedicado ao Rei do Baião, na casa em que sua falecida bisavó morava, vizinha à dele.

O espaço, localizado na rua Rua Alto da Antena, no distrito de Dom Quintino, reúne cerca de 100 objetos que recriam a época em que Gonzagão viveu. Pedro Lucas guia as visitas no local, contando a história de cada objeto do museu, função que divide com o primo, Caio Éverton. Além de vinis do artista, o museu exibe sanfonas, ferramentas de trabalho e utensílios, partes do universo cantado por Luiz Gonzaga e seus parceiros. 

Esta história virou filme e ganhou a Europa, foi exibido nos Festivais Internacionais, em Londres e Italia. A história de Pedro Lucas também foi exibida na Mostra de Cinema de Outro Preto, Minas Gerais.

Com 20 anos de jornalismo, sete deles dedicados à cobertura internacional, Sérgio Utsch prefere dizer que é um contador de histórias. Mesmo em situações difíceis, como guerras, atentados e crise de refugiados, o correspondente mineiro sempre buscou abordagens humanas, tentando explicar, como ele mesmo destaca, um pouco das complexidades de uma determinada cultura.

É com esse olhar do contador de histórias que Utsch se aventurou no cinema, estreando como diretor no curta-metragem “O Menino que Fez um Museu”, um dos destaques da programação da Mostra de Cinema em todo o Brasil e Europa.

A oportunidade surgiu quando chegou em suas mãos um vídeo de um garoto cearense de 10 anos que criou um museu dedicado ao músico Luiz Gonzaga.

“Pedro Lucas é também um contador de histórias. É ele quem conduz o filme com seu jeito divertido na maneira como narra a história dele, do museu e dos personagens de Dom Quintino, distrito de Crato, Ceará. 

Utsch admite que fez o filme pensando em festivais internacionais.

No interior do Ceará, um menino então com 10 anos transforma uma casa de barro no primeiro museu de sua cidade. O documentário mostra a história de Pedro Lucas, um pequeno brasileiro orgulhoso de suas origens e muito sensível em relação aos problemas do Nordeste. 

O Museu Luiz Gonzaga, além de uma homenagem ao cantor, é uma viagem pela comunidade, pela cultura nordestina e pelos sentimentos de Pedro Lucas. O filme foi gravado em 2016 e finalizado em 2017 por uma equipe de profissionais brasileiros e britânicos em Londres. É resultado de uma tentativa de mostrar um Brasil desconhecido pelo mundo e por muitos brasileiros.

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DIA 20 NOVEMBRO: CONSCIÊNCIA NEGRA E O LEGADO DE ZUMBI DOS PALMARES

Ao se completarem 50 anos dos primeiros atos em comemoração ao 20 de novembro como Dia da Consciência Negra, a histórica Serra da Barriga, em União dos Palmares (AL), promove uma extensão programação especial em homenagem à data e a Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. No local, há um parque memorial visitado por pessoas de todo o mundo. 

O dono desse parque é a Fundação Cultural Palmares, ligado ao Ministério do Turismo, mas a entidade decidiu mudar a atitude observada em outros anos. Ignora a data e não realiza nem apoia qualquer evento no município alagoano, a 80 km de Maceió.

Quando era o mês da Consciência Negra, a fundação sempre trazia atrações e ajudava o município com ações e grupos culturais. Neste ano não foi dado nada, apenas o parque vai estar aberto", diz a secretária de Cultura de União dos Palmares, Elizabete de Oliveira Silva, citando que o órgão vem apenas realizando a manutenção de rotina para o parque ficar aberto. Criado em 2007, no alto da Serra da Barriga (que ocupa uma área de 27,92 km²), o parque recria o ambiente da República dos Palmares. Foi lá o maior e mais organizado refúgio de negros das Américas durante o período escravocrata, abrigando também índios e brancos. 

O local reconstitui as mais significativas edificações do Quilombo dos Palmares e teve Zumbi dos Palmares como seu último líder. Ele foi morto em 20 de novembro de 1695 —por isso a homenagem do Dia da Consciência Negra. Zumbi está inscrito no livro oficial de heróis da pátria desde 1996. 

HISTÓRIA: Em 20 de novembro é comemorado no Brasil o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida para lembrar a morte de Zumbi dos Palmares, uma das principais lideranças negras da história do país. O nome faz referência ao Quilombo dos Palmares, maior espaço de resistência de escravos durante mais de um século no período colonial (1597-1704).

A região que acolhia o núcleo do quilombo, Serra da Barriga, em Alagoas, ganhou desde 2017 reconhecimento internacional, a certificação da área como patrimônio cultural do Mercosul. 

A Serra da Barriga foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1985. Em 2007, foi aberto o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, próximo à cidade de União dos Palmares, a cerca de 80 quilômetros da capital do estado, Maceió. O projeto envolveu a construção de instalações em referência a Palmares, como a casa de farinha (Onjó de farinha), casa do campo santo (Onjó Cruzambê ) e terreiro de ervas (Oxile das ervas). O espaço ainda é o único parque temático voltado à cultura negra no Brasil e recebe anualmente cerca de 8 mil visitantes.

O Quilombo dos Palmares surgiu no século 16. Residiam nele escravos fugidos das capitanias da Bahia e de Pernambuco. O local chegou a reunir até 30 mil pessoas no seu auge, no século 17, e era organizado em pequenos povoados, chamados de mocambos. Os principais eram Cerca Real do Macaco, Subupira, Zumbi e Dandara. O maior deles chegou a ter 6 mil pessoas, quase a mesma população do Rio de Janeiro à época.

Esses mocambos constituíam uma espécie de república. As decisões políticas eram tomadas pela reunião da liderança de cada um deles em conjunto com o chefe supremo. Essa posição de comando foi ocupada por Acotirene, sucedida por Ganga Zumba e, depois, por Zumbi. No tocante às relações afetivas, Palmares era uma sociedade poliândrica, em que mulheres podem ter relação com diversos homens.

Segundo Zezito de Araújo, professor de história e supervisor de Diversidade da Secretaria de Educação do Estado de Alagoas, Palmares ainda é lembrado muito pela dimensão do conflito, mas deveria ser conhecido por ter sido o primeiro grande movimento de resistência das Américas no período colonial e pela sua organização política.

“A Revolução Francesa é tida como o símbolo da liberdade, mas a luta de Zumbi aconteceu antes. Enquanto em Palmares tínhamos propriedade coletiva, produção para subsistência e para troca, na colônia tínhamos atividade agrícola para exportação e escravidão como base do trabalho. São sociedades opostas”, analisa. (Fonte: Uol e Agencia Brasil)

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CANTOR LUIZ DO HUMAYTÁ LANÇA VIDEOCLIPE DA MÚSICA "VOU ME EMBORA PRO SERTÃO", NA QUARTA (24)

O cantor, compositor, poeta Luiz do Humaytá além de ter iniciado no último dia 06 de novembro,  o Projeto Som na Caatinga, com participação especial do sanfoneiro Cicinho de Assis, traz mais uma novidade.

No próximo dia 24, quarta-feira, às 20h30, será lançado no canal youTube,, o primeiro videoclipe da música autoria do poeta Luiz do Humaytá,  "Vou me embora pro Sertão".

Neste segundo semestre do ano o cantor trouxe várias  novidades para os fãs e admiradores, ele ampliou o trabalho que agora pode ser encontrado no canal youTube e spotify, que é o serviço de streaming de música mais popular do mundo.

Luiz do Humaytá completou, em junho de 2021, 10 anos de vida profissional na música. Iniciou sua trajetória em 2011, ao criar a banda Forró Avulso em Salvador. Com essa banda, tocou na noite soteropolitana por 5 anos e também fez apresentações em outros estados, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em 2016, iniciou carreira solo e se mudou para o sertão baiano, onde mora atualmente.

Neste ano de 2021, lançou o oitavo CD da carreira, o álbum Boemia Cult, em que interpreta grandes sucessos já consagrados da música romântica, além de alguns bregas clássicos.

O poeta, que mora na Fazenda Humaytá em Curaçá da Bahia, tem o nome de batismo de Luiz Carlos Forbrig. Quando foi para o sertão, passou a ser chamado de Luiz do Humaytá, contemplando, assim, esta peculiaridade, típica do sertanejo, de incorporar um adjetivo de identificação aos nomes.

O cantador é natural de Jabuticaba Velha, pequeno distrito de Palmeira das Missões, no interior do Rio Grande do Sul. Com os pais Anoly e Guilhermina, aprendeu a veia musical: a mãe era puxadeira dos cantos religiosos na igreja católica e o pai, tocador de gaita de boca.

DISCOGRAFIA CD’s

2012 ‡ Acústico

2014 ‡ Pé de Chão

2015 ‡ Luiz do Humaytá Canta Músicas Gaúchas

2016 ‡ Luiz do Humaytá e Forró Avulso – 5 Anos de Estrada

2017 ‡ Luiz do Humaytá Avulso

2019 ‡ Decanto o Sertão

2020 ‡ Luiz do Humaytá ao Vivo

2021 ‡ Boemia Cult

71 98869-4488 74 99914-8813 Luiz do Humaytá luizdohumayta@gmail.com


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MESTRE DA CULTURA RAIMUNDO ANICETO: UMA SAUDADE EM SOM DE PIFE

O Professor, mestre e doutor em Ciência da Literatura Aderaldo Luciano numa carta endereçada ao cantador cantor Beto Brito, relatou a certeza, "e vai colocar isso em um livro, que Deus era um tocador de pife e foi soprando nele, num pife feito de taboca, que deu vida ao Homem com seu sopro fiel".

Visitei no Crato, Ceará, o mestre da cultura de tocar pife, Raimundo Aniceto, 86 anos, nascido em 14 de fevereiro de 1934. Fui na casa do líder da Banda Cabaçal de Pife dos Irmãos Aniceto.  A Banda de Pífe é Patrimônio Cultural Imaterial.

No mês de outubro do ano passado (2020), a jornalista Beatriz Jucá, destacou em reportagem para o EL País, que se calou o pífano de Raimundo Aniceto. Mestre Raimundo Aniceto era o mais antigo dos integrantes da banda cabaçal Irmãos Aniceto. Enérgico mestre da cultura popular brasileira, Raimundo exaltava a ancestralidade do Cariri cearense e a magia do sertão na sonoridade do seu pífano e na dança. 

Raimundo era base de uma família que dança e toca há mais de 200 anos, inspirada na observação da natureza e na sonoridade transmitida de pai para filhos pelo ouvido. Raimundo era o último vivo de sua geração do grupo e já dedicava 80 de seus 86 anos à arte popular. Durante décadas, viajou pelo Brasil e pelo exterior para mostrar a força cultural dos seus. Mas nunca se afastou do seu rincão, o Crato.

Não se deslumbrou nem mesmo com a Europa, onde fez uma turnê em 2004. Surpreendeu-se, sim, com “o mundo de gente” que se juntou a cada apresentação feita em praças portuguesas e espanholas. 

Nos últimos anos, Raimundo aceitou o convite do Sesc-Ceará para transformar a própria casa onde morava em um museu aberto. Com muita generosidade, converteu seu lar em uma rica ponte para a magia cultural do sertão. O motivo? “Meu pai me ensinou como era a cultura. A cultura é coisa séria. É onde está nossa vida”, dizia.

Fotografias de apresentações dele e dos irmãos lotaram as paredes. Geladeira, fogão e cadeiras passaram a dividir o espaço dos cômodos com dezenas de objetos históricos do grupo formado ainda no século XIX ― todos os integrantes descendentes do índio Kariri José Lourenço da Silva (o Aniceto) e de Maria da Conceição. 

A história está colada em placas espalhadas na sala e no corredor: os meninos (seis filhos) passaram a ser chamados de Aniceto pelo apelido do pai. Ainda criança, começaram a produzir instrumentos musicais feitos de cabaça e taboca ― o alicerce da banda cabaçal.

O tradicional pífano de Raimundo Aniceto está acomodado sobre pregos cravados nas paredes, ao lado das coloridas vestimentas dos brincantes. Mas nunca ficou ali esquecido pelo mestre como mero adorno. Nem mesmo quando o AVC que sofreu há pouco mais de quatro anos lhe roubou a capacidade de falar palavra e parte da força da mão direita. 

Quando estive em sua casa-museu em agosto de 2019, Raimundo tentava conversar em um idioma próprio, já que sua dicção estava muito prejudicava pela doença. Cabia à sua esposa tentar traduzi-lo. A melhor coisa no mundo que achava era receber visita e encontrava um jeito de se comunicar ― se não era possível fazê-lo pelo verbo, o fazia pela força cultural que carregava em si.

A sala então virou espetáculo para uma plateia de três pessoas, onde ele dançava e brincava sua cultura popular, na época aos 85 anos. Pegava o pífano e tirava dele ainda algum som, mesmo com a falta de força nas mãos e no sopro. Sem pronunciar qualquer palavra, tentava ensinar aos visitantes a sua arte. 

Esta foi uma tarefa que assumiu durante toda a sua vida: disseminar e ensinar sua cultura para que ela siga viva mesmo quando seus parentes deixam este mundo. “Meu pai faleceu aos 104 anos e deixou essa banda. Seis filhos, que são tudo tocador e artista. Hoje a banda está repleta de sobrinho, filho já dos meninos que morreram”, contou Raimundo em uma entrevista ao músico Antônio Nóbrega, há alguns anos. “A gente quer continuar como meu pai deixou. É se acabando um, e nós botando outro pra não se acabar a tradição”.

Raimundo Aniceto Faleceu aos 86 anos. Mas a história da banda cabaçal criada pelo seu avô ao pé da chapada do Araripe, lá no Crato, deve continuar a ecoar. 

“Ele deixa um legado grande, fica tudo. Foi um grande homem, um grande pai e será sempre lembrado pela família e na cena cultural popular”, diz a filha, Socorro. 

O grupo Irmãos Aniceto agora segue com seus sobrinhos na dianteira. Não há como pegar uma zabumba feita com timbaúba e couro de bode, uma tarefa geralmente executada por Raimundo lá nos fundos de sua casa, sem lembrar do grande mestre. Sua casa-museu também seguirá aberta ao público. Como ele mesmo explicava: "A gente não quer deixar essa raiz se acabar mais nunca. Só se o mundo se acabar de uma vez só. Isso é uma alegria do nosso Brasil”.

Serviço
Museu Casa do Mestre Raimundo Aniceto – Crato

Onde: Rua Dr. Manuel Macêdo, bairro Seminário 

(Fonte: BEATRIZ JUCÁ/El País)

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USINA NUCLEAR: PERDEMOS A BATALHA, NÃO A GUERRA, AFIRMA PROFESSOR HEITOR SCALAMBRINI

USINA NUCLEAR: PERDEMOS A BATALHA, NÃO A GUERRA.

O título retrata o estado de ânimo e de espirito diante das últimas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), definindo que legislar sobre atividades nucleares cabe exclusivamente a União Federal. Este entendimento ocorreu após o ajuizamento, pelo Procurador Geral da República, de ações de inconstitucionalidade contra artigos e dispositivos de Constituições Estaduais que defendiam e protegiam suas populações e o meio ambiente, de uma “catástrofe nuclear”.  

Por exemplo, no caso de Pernambuco, o artigo 216 de sua Constituição Estadual restringia a instalação de usinas nucleares em seu território, desde que todas outras fontes energéticas já tivessem sido utilizadas. Segundo decisão do STF este dispositivo foi anulado, e assim, do ponto de vista jurídico, esta decisão vai facilitar a instalação de usinas nucleares em seu território, conforme defende o atual (des)governo federal.

As usinas nucleares, termoelétricas que transformam o calor produzido pelas reações nucleares em energia elétrica, é uma tecnologia em declínio de aceitação, principalmente pela possibilidade de ocorrer acidentes extremos, ou seja, vazamento de material radioativo para a atmosfera. Além do custo da energia gerada ser considerada uma das mais caras entre as opções energéticas para termoelétricas. Hoje seu custo por MWh está em torno de 4 vezes maior que o produzido pelas usinas solares fotovoltaicas e eólicas.


Países como a Alemanha, Itália, Áustria, Bélgica, entre outros, já abandonaram esta tecnologia. Na França e no Japão novas instalações de usinas nucleares sofrem grandes resistências, de inúmeros e representativos grupos sociais. Nota-se, mundialmente entre os povos, um posicionamento majoritário contrário à tecnologia nuclear, pois, além do risco de uma tragédia com espalhamento de material radioativo para o solo-terra-ar; as usinas nucleares são caras, sujas e perigosas.


Diferentemente daqueles que defendem tal tecnologia para o Brasil, a nucleoeletricidade em nada contribui para a transição energética. No Brasil real as usinas Angra I e Angra II contribuem com menos de 2% da potência total instalada na matriz elétrica. O Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 projeta uma ampliação da geração nuclear entre 8 e 10 Gigawatts (GW). Mesmo que esta potência seja agregada à matriz elétrica nos próximos anos, a contribuição da fonte nuclear continuaria mínima e desnecessária para segurança energética do país.

Existem inequívocos interesses econômicos e militares em promover as usinas nucleares, em detrimento ao interesse público. Econômicos, pois são construções caras, 5 bilhões de dólares cada usina de 1.200 Megawatts (MW), obviamente de grande interesse dos vendedores dos equipamentos e das empreiteiras. Do ponto de vista militar, um acordo binacional está em pleno andamento com a França para a construção de submarinos nucleares com o apoio da França, cujo custo ao pais é estimado em 35 bilhões de reais. E sem dúvida na área militar, o desejo sempre desmentido é pela construção de artefatos nucleares, como a bomba nuclear. 

Assuntos gravíssimos e de interesse da sociedade brasileira, que impliquem consequências para as gerações futuras, não estão sendo devidamente debatidos. Um deles é a nuclearização do pais em um continente até então pouco provido de atividades nucleares.

Heitor Scalambrini Costa-Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco

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