O texto a seguir foi escrito e publicado no Jornal do Dia,
Aracaju, julho de 2009 – um relato sobre a inauguração do estádio, e uma
homenagem a seu primeiro administrador.
Em 2010, o estádio foi fechado para as prometidas reformas,
deixando de servir ao futebol e outros esportes sergipanos.
As obras de reforma estão em andamento – devem estar
adiantadas e muito bem executadas pois foram aprovadas pela FIFA através o
Comitê Organizador da 20.ª Copa do Mundo de Futebol – 2014 e recebeu a Seleção
da Grécia que usou o estádio para seus treinamentos, sob muitos elogios pelo
que já está ali implantado.
Após a participação da equipe grega na Copa, o Batistão foi
novamente fechado para os daqui, que continuarão esperando a reinauguração
festiva, desta vez, provavelmente, sem Seleção, e, definitivamente, sem
Gonzagão e Hugo Costa (autores e intérpretes do hino) que já estão na
eternidade.
O futebol sergipano aguarda ansiosamente que o Batistão
volte a ser o seu palco maior. Será que voltará a ter escola como em sua versão
original? Com as modernas tecnologias, as razões alegadas quando da desativação
da escola que lá havia poderiam muito bem ser superadas e até um Centro de
Excelência em Educação ali poderia ser instalado. Seria o ideal!
Em época de eleições acontecem muitas coisas e em 2014, aos
45 anos de sua inauguração, quem sabe, o famoso Batistão voltará a ajudar e
promover o futebol sergipano.
Assim seja!
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“Precisamos de histórias. Aos poucos, os
seres humanos perderam o hábito de contá-las e começamos a esquecê-las”. (Jostein
Gaardner)
O Estádio Estadual Lourival Baptista,
popularmente conhecido como “o Batistão”, completou 40
anos no dia 09 de julho de 2009 e, além de ampla cobertura da efeméride
pela mídia, teve um dia especial com jogos, discursos, homenagens, reencontro
de futebolistas sergipanos e antigos componentes da Seleção Brasileira de Futebol
que esteve presente na inauguração do estádio em 09 de julho de 1969.
Muito justo tudo o que foi feito para marcar a data, apesar
de, no final das festividades, ter sido anunciado que tudo aquilo daria por
encerrado o período “Batistão” que, a partir de janeiro de 2010 deverá dar
lugar a um novo empreendimento – uma arena multiuso para vários esportes e
outras atividades. Um megaprojeto foi apresentado para que o impacto do
fechamento do Batistão não seja tão sentido.
Os governantes de hoje, como os de ontem, conhecem a grande
força do esporte, especialmente o futebol, e tratam de promover lançamentos de
tão grande vulto. Que tudo se concretize, pois Sergipe merece. Ficará no
coração dos saudosistas a lembrança do Batistão, onde “enquanto os craques jogavam bola
as crianças davam lição ... nosso estádio tinha escola” (Hugo Costa).
Curioso que o Batistão foi lançado dizendo-se a Sergipe, ao
Brasil e ao mundo que o estádio comportava 50.000 espectadores; depois passaram
a dizer que comportava apenas 40.000 e, nos registros constantes em sites na
internet constam capacidades de 32.000 (como record), 22.000 e 18.500 espectadores.
Na verdade, ninguém deu números exatos e definitivos às suas
acomodações, desde o seu lançamento até hoje. Será o segredo e a dúvida eterna
do simpático campo de futebol que encerra uma fase importante de sua existência
e deixará a lembrança nos rádio-ouvintes sobre aquele tradicional “olha
a renda”, “público pagante – X,
biguzeiros – Y”, total de público – X+Y” e o público “u u u ...”.
Em jogo nenhum, aceitou-se a informação sobre público
presente ao Batistão, simplesmente porque não havia parâmetro legítimo para se
avaliar o que se anunciava como a capacidade real de público do estádio.
Sobre a realidade das rendas no Batistão, conheço um fato
que não sei se foi divulgado. Faço agora esta divulgação por um dever
de justiça. Foi o seguinte.
O governador do estado nomeou para administrar o Batistão
desde a sua criação o competente cooperativista José Carvalho, homem de
sua confiança e que tinha, segundo ele próprio dizia, livre trânsito junto aos
militares federais (Exército, Marinha e Aeronáutica). Portanto, o dirigente
ideal para a época. E, realmente, o senhor José Carvalho era uma pessoa de
respeito.
Pois bem! O senhor Carvalho, na qualidade de administrador
do estádio ficou responsável pela renda do jogo, pagar as despesas e o saldo
repassar para uma entidade beneficente que cuidava de jovens.
Como não tinha condições de recolher a renda nas bilheterias
no dia do jogo inaugural, acertou com um banco aqui estabelecido fazer tal
trabalho – recolher a renda, registrá-la em conta corrente e pagar a quem de
direito o que fosse devido, mediante apresentação de vauches visados pelo
administrador. Isso foi feito. Carvalho pagou tudo. Lembro a presença do
árbitro da partida, Armando Marques, de vauche na mão, na porta do banco antes
da abertura do expediente bancário. Tinha pressa, queria o dele, pois ia viajar
ainda pela manhã e o avião não esperava. Tanto falou, tanto reclamou, que
recebeu sua cota de arbitragem. Assim mesmo contrariou-se porque o dinheiro da
renda não tinha notas graúdas e teve que levar mesmo em notas de 5 e 10
cruzeiros, dentro de um envelope que lhe foi fornecido.
As demais contas foram pagas calmamente. Depois, Carvalho
fez o relatório dele – receita/despesas –, e o que sobrou ele levou para a
entidade beneficente a que estava destinada. Claro que não foi um valor elevado
pois as despesas pagas foram grandes. Mas, sobraram alguns cruzeiros que ele
fez questão de levar em espécie. Sacou o saldo, colocou em um envelope e foi,
muito feliz, entregar aos dirigentes da entidade. Tudo como acertado,
direitinho. Lá se foi o homem, dinheiro na mão, em carro chapa branca.
Passados alguns dias, apareceu o senhor José Carvalho no
banco, abatido, cabisbaixo e foi conversar com o gerente. A direção da entidade
não aceitou o saldo entregue como legítimo, apesar de conferir todos os dados
do relatório. Entendia a direção que 50.000 ingressos menos os 2.500 que o
governo distribuiu com convidados – 47.500 – teria produzido uma renda maior.
Carvalho explicou que não tinha sido 50.000 ingressos, etc.
... etc. A direção acedeu em acolher uma renda menor que a que foi mostrada,
mas queria o restante e o assunto já estava para ir à presidência da entidade
que, naturalmente, iria ao governador e isso seria ruim para ele.
E aí foi lhe dito, no banco, que o ideal seria ele procurar
o governador, conversar com ele e mostrar que tudo estava correto, para que ele
acomodasse a entidade.
“Não, isso não!”. Não
iria nem à presidência da entidade nem ao governador. “Imagine, incomodar essas autoridades, nem pensar. São pessoas
superocupadas. Não vou fazer isso. Como aceitaram um valor menor, vou pagar do
meu bolso e encerrar o assunto”.
E o senhor José Carvalho fez um empréstimo pessoal no banco,
levou para os dirigentes da entidade e deu o assunto por encerrado. A cada 4
meses ele reformava o empréstimo que não foi pequeno. Mas, não incomodou o
governador.
Gerente, contador e alguns funcionários do banco, tomaram
conhecimento do fato mas não tornaram público. Quarenta anos depois, em
respeito à memória do administrador correto, senhor José Carvalho, faço
o registro e peço que, para o futuro, no Batistão ou no Arenão que vem
aí, o espaço disponível no estádio seja real, pois, já não se fazem administradores
como antigamente!!!
* Raymundo Mello
é Memorialista
raymundopmello@yahoo.com.br