PATATIVA DO ASSARÉ COMPLETARIA 116 ANOS NESTA QUARTA-FEIRA, 5 DE MARÇO 2025

Neste 5 de março, Antônio Gonçalves da Silva, o eterno Patativa do Assaré, completaria 116 anos. Cantador, repentista, compositor e referência da poesia popular brasileira, o filho de Assaré deixou um legado que atravessa gerações.

Patativa foi porta-voz do povo excluído de seu tempo e denunciou as desigualdades sociais. Criou versos que retratavam a vida simples do homem do campo e preservou a oralidade de seus saberes profundos. Sua voz e sensibilidade única ultrapassaram as fronteiras do Ceará.

As obras “Inspiração Nordestina” (1956) e “Cante Lá Que Eu Canto Cá” (1978) lhe consolidaram entre os grandes da literatura nacional. O cearense deixou sua arte registrada em livros e discos. A partir deste reconhecido acervo, vários outros artistas, pesquisadores, memorialistas e historiadores tiveram o primeiro contato com a literatura e puderam desenvolver seus trabalhos.

Os versos de Patativa ganharam vida na interpretação de artistas como Luiz Gonzaga (1912-1989), que eternizou os versos de “Triste Partida”, um dos mais profundos retratos acerca da migração nordestina.

Quase duas décadas após sua morte, em 2002, a memória do cearense prossegue como inspiração para sua gente. O Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), criou e concede a “Comenda Patativa do Assaré”. Além de homenagear o poeta, a honraria celebra aqueles que dedicam suas vidas à arte e à tradição popular.

Criada pela Lei Estadual n.º 16.511, de 12 de março de 2018, esta iniciativa reforça o compromisso do estado com a valorização dos saberes e fazeres do povo, incentivando a preservação e difusão das manifestações culturais.

A condecoração é dada a pessoas que se relacionam com uma ou mais linguagens artísticas (música, teatro, dança, circo, literatura, cultura alimentar, artes visuais, humor, moda, expressões culturais afro-brasileiras e indígenas, dentre outras) e/ou a cultura tradicional popular (reisados, lapinhas, caretas e bois, entre outras).

No aniversário de 116 anos de seu nascimento, Patativa do Assaré continua ecoando os fazeres e saberes de um povo, reafirmando a tradição e a memória dos nordestinos.

Para salvaguardar e projetar a arte do poeta, a Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) reúne rico acervo e traz ao público um especial encontro com as obras de Patativa, bem como autores e autoras que o estudaram.

Ao visitar o espaço público do Governo do Ceará, os visitantes podem apreciar as obras no setor de “Coleção Ceará”. O acervo é composto por uma série de trabalhos como poemas, cordéis, biografia, coletâneas e publicações acadêmicas.

A Bece reúne títulos como o já citado “Cante lá que eu canto cá”, “Patativa em sol maior: treze ensaios sobre o poeta pássaro” (2009) e “O melhor do Patativa do Assaré” (2020), lançado pela Secult Ceará e organizado pela referência nacional nos estudos de cultura popular, o professor, pesquisador e comunicador Gilmar de Carvalho (1949-2021).

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PAPA FRANCISCO ELOGIA O TEMA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025: ECOLOGIA

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança nesta Quarta-Feira de Cinzas (5) a Campanha da Fraternidade 2025, com o tema Fraternidade e Ecologia Integral. 

Já o lema bíblico escolhido para a campanha e extraído do livro do Genesis é: “Deus viu que tudo era muito bom”.

Em nota, a CNBB destacou que a campanha foi inspirada na publicação da Carta Encíclica Laudato Si’ do papa Francisco que, em 2025, completa 10 anos; nos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; e na 30ª Conferência das Partes (COP30), a ser realizada em novembro em Belém.

“O objetivo geral da campanha é promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra”, informou a entidade.

A CNBB divulgou ainda uma mensagem enviada pelo papa Francisco em razão da Campanha da Fraternidade 2025. No documento, o pontífice louva o que chama de “esforço em propor o tema da ecologia, junto à desejada conversão pessoal a Cristo”.

O santo padre chama a atenção de toda a humanidade para a “urgência de uma necessária mudança de atitude” em nossas relações com o meio ambiente e recorda que a atual crise ecológica simboliza um apelo a uma profunda conversão interior.

“O meu predecessor de venerável memória, São João Paulo II, já alertava que era preciso estimular e apoiar a ‘conversão ecológica’, que tornou a humanidade mais sensível ao tema do cuidado com a casa comum”, destacou Francisco.

“Que todos nós possamos, com o especial auxilio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas”, concluiu.

Celebrada nacionalmente desde 1964, a campanha da fraternidade, de acordo com a CNBB, é um modo de a Igreja Católica no Brasil celebrar o período da quaresma, em preparação para a Páscoa, com atitudes de oração, jejum e caridade.

“O ponto alto da campanha é a coleta da solidariedade, realizada em todas as comunidades do Brasil no Domingo de Ramos – neste ano, nos dias 12 e 13 de abril. Os recursos são destinados a projetos sociais em todo o país.”


 

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CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025 REFLETE SOBRE A ECOLOGIA E OS CUIDADOS COM O PLANETA TERRA

Os cuidados com o planeta Terra, a conscientização sobre coleta seletiva de lixo e a preservação do meio ambiente serão os temas em 2025 da Campanha da Fraternidade, promovida anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom”, a escolha da campanha em 2025 teve uma série de motivações, entre eles, os 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; os 10 anos de publicação da Carta Encíclica Laudato Si’; a recente publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum; os 10 anos de criação da Rede Eclesial PanAmazônica (REPAM) e a realização da COP 30, em Belém (PA), a primeira na Amazônia.

“Em 1225 São Francisco compôs o hino das criaturas e a justificativa é como se ele estivesse se reconciliando com a natureza, de modo que ele chama tudo na natureza de irmão: irmão Sol, irmã Lua, irmã Terra, porque ele se compreende parte da natureza”, lembra o coordenador arquidiocesano da Campanha da Fraternidade 2025, monsenhor Robério Camilo. 

Em relação a outra motivação para escolha do tema, a Carta Encíclica Laudato Si completa 10 anos neste ano, sendo uma das primeiras ações do Papa Francisco após sua escolha para a missão de Sumo Pontífice. O documento constituiu um marco em mil anos de Igreja Católica, sendo a única dedicada exclusivamente aos desafios ecológicos dos tempos atuais com o tema “O cuidado da Casa Comum”.

“Esse tema é interessante demais porque, além disso, as mudanças climáticas estão aí na nossa cara. O calor que estamos sentindo hoje não é de graça, ele tem um motivo, tem uma causa”, acrescenta.
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O VALOR DO CAFÉ E SUA IMPORTÂNCIA PARA A ECONOMIA E CULTURA DO BRASIL

Artigo: O valor do café e sua importância para a economia e cultura de nosso país

O café, uma bebida consumida em vários países, teve sua origem na África, nas terras altas da Etiópia (Cafa e Enária).

O nome “café”, pode ter sua origem na região de Cafa, sendo atualmente uma das bebidas mais consumidas no mundo.

Há diversos tipos de grãos de café (arábica, robusto, etc.) e algumas derivações, como o expresso, cappuccino, mocha, café gelado, café com leite, dentre outros.

Ultimamente tem se discutido muito acerca do aumento de preços da cesta de consumo nos supermercados e em especial do café.

O preço do café subiu 46% em 2024 nas gôndolas do varejo e passou a pesar mais no bolso do consumidor brasileiro. A bebida mais consumida no país vem sendo considerada um dos vilões da inflação de alimentos. E, pelo menos por enquanto, a tendência é continuar subindo.

Mas, além do aspecto econômico, o café serviu de inspiração para artistas famosos e até como instrumento de realização de sua obra de arte.

Candido Portinari é considerado um dos artistas mais importantes do Brasil. A pintura Café é considerada sua obra prima, com ela o artista recebeu a segunda menção honrosa na Exposição Internacional de Arte Moderna do Instituto Carnegie, em Nova Iorque.

Como ele nasceu em uma fazenda de café, esse tema aparecia de forma recorrente em seu trabalho. Nessa pintura, ele retrata o árduo trabalho diário realizado por mulheres e homens em uma plantação de café. É um retrato realista e ao mesmo tempo simbólico da época em que o café era considerado o ouro verde do Brasil.

Em Pernambuco temos um expoente da pintura utilizando o café, além de ser um grande amigo pessoal, Abrãao Figueiredo.

Ele se formou na Escola de Belas Artes no Recife na década de 1980. Além de ser aquarelista, também trabalha com acrílica e óleo, e é retratista. Ele também cria esculturas em papel machê, especialmente voltadas para ambientação infantil.

Além de suas habilidades artísticas, Abraão é conhecido por suas oficinas e workshops, onde ensina técnicas de pintura com café e outras práticas artísticas. Ele tem participado de várias exposições e eventos culturais, promovendo a inovação e a criatividade através de seu trabalho.

Abraão Figueiredo é um grande artista que se destaca por sua inovação ao utilizar café como meio de pintura. Ele é o idealizador de uma exposição que tive a honra de ter ido “O Café Que Nos Une”, que reuniu obras de artistas de diversos países, todos utilizando café como material artístico. A exposição contou com a participação de 28 artistas de lugares como Portugal, Estados Unidos, México, Noruega, Ucrânia, Singapura, Filipinas, Malásia, Alemanha, França, Ilhas Maldivas, Indonésia, Suíça, Equador, Iraque e Quirguistão.

A mostra destacou a beleza e a versatilidade do café como material artístico, além de incluir palestras e degustações de cafés especiais.

Sua exposição “O Café Que Nos Une” não só destacou a versatilidade do café como material artístico, mas também promoveu a cultura e a história da bebida de uma maneira única e envolvente.

E sobre amizades e café, lembro da célebre frase de Immanuel Kant:

“A amizade é semelhante a um bom café; uma vez frio, não se aquece sem perder bastante do primeiro sabor”.

Que a produção artística em nosso país e em nosso Pernambuco continue efervescente e saboroso como um bom café, bem como as boas amizades.


Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues-Advogado e Professor Universitário
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ADVOGADO ANTONIO CARLOS ENVIA CARTA A LULA

O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, divulgou no domingo (16) um texto com críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A mensagem, redigida no formato de carta aberta, foi enviada a ministros e aliados do presidente.

Lula, a esperança da democracia.

'Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro', Clarice Lispector.

Lula ganhou 3 vezes e elegeu Dilma como sua sucessora. À época elegeria o qualquer de seus Ministros pois era imbatível.

Certa vez, conversando com um senador do PT, ele me disse que tinha um ano tentava uma audiência com a Presidenta Dilma. Ela não fazia política. Sofreu impeachment.

Um dia no Governo Lula um Senador da oposição me liga as 11 hs da manhã e reclama que tinha assumido há 15 dias - era suplente - e que não havia sido recebido pelo Zé Dirceu, chefe da Casa Civil. Liguei para o Zé . As 12.30 a gente estava almoçando no Palácio do Planalto. O Zé - de longe o mais preparado dos Ministros - deu um show discorrendo sobre o Estado de origem do Senador, que saiu de lá com o número do celular do Zé e completamente encantado.

Neste atual governo Lula fez o que de melhor podia ao enfrentar Bolsonaro e ganhar do fascismo impedindo que tivéssemos mais 4 anos de Bolsonaro. Seria o fim da democracia. Seriam destruídas de maneira irrecuperável tudo que foi construído nos governos democráticos, não só do PT. O fascismo acaba com tudo. Este o maior legado do Lula. Para tanto foi necessário, senão não teríamos ganhado, fazer uma aliança ampla demais. Só o Lula conseguiria unir e fazer este amplo arco para derrotar Bolsonaro. 

Aqui em casa, no dia da diplomação, 12 de dezembro, determinado político se aproximou em um momento em que Lula e eu conversávamos, colocou amistosamente a mão no meu ombro e fez uma brincadeira. Ao sair da roda o Lula me falou baixinho, rindo :" este jamais será meu Ministro, e acha que vai ser." Dia 1º de janeiro ele assumiu como Ministro. Este o brilhantismo do Lula neste momento difícil. Não fosse sua maturidade não teríamos tido chance de vencer o fascismo. Por isto cometo aqui certa indelicadeza de comentar este fato: para ressaltar a maturidade do Presidente Lula.

Mas o Lula do 3º mandato , por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir. Não recebe mais os velhos amigos políticos e perdeu o que tinha de melhor: sua inigualável capacidade de seduzir, de ouvir, de olhar a cena política.

Outro dia alguns políticos me confidenciaram que não conseguem falar com o Presidente. É outro Lula que está governando.

Com a extrema direita crescendo no mundo e , evidentemente aqui no Brasil, o quadro é muito preocupante. Sem termos o Lula que conhecíamos como Presidente e sem ele ter um grupo que ele tinha ao seu redor, corremos o risco do que parecia impossível: perdermos as eleições em 2026. Bolsonaro só perdeu porque era um inepto. Tivesse ouvido o Ciro Nogueira e vacinado, ou ficado calado sem ofender as pessoas, teria ganho com a quantidade de dinheiro que gastou. Perder uma reeleição é muito difícil, mas o Lula está se esforçando muito para perder. E não duvidem dele, ele vai conseguir.

Claro que as circunstâncias estão favoráveis ao projeto de perder as eleições. Não dou tanto importância para estas pesquisas feitas o tempo todo. Mas prestei atenção nesta que indica que 62% não querem que Lula seja candidato a reeleição. A pergunta é : quem é seu sucessor natural? Não foi feito um grupo ao redor do Presidente, que se identifique com ele e de onde sairia o sucessor político natural, o " grupo" do Lula a gente sabe quem é. E certamente não vai tirá-lo do isolamento. Ele hoje é um político preso à memória do seu passado. E isolado. Quero acreditar na capacidade de se reencontrar. Quem se refez depois de 580 dias preso injustamente, pode quase tudo . E nós temos o Haddad, o mais fenomenal político desta geração em termos de preparo. Um gênio. Preparado e pronto para assumir seu papel.

Já fico olhando o quadro e torcendo para o crescimento de uma direita civilizada. Com a condenação do Bolsonaro e a prisão, que pode se dar até setembro, nos resta torcer para uma direita centrista, que afaste o fascismo.

Que Deus se apiede de nós!

É necessário lembrar o mestre Torquato Neto no Poema do Aviso Final:

'É preciso que haja algum respeito , ao menos um esboço ou a dignidade humana se afirmará a machadada.'"

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JOÃO ALEXANDRE SOBRINHO, VOZ E VIOLA

A casa da Avenida Paraíba, esquina com a rua José Paracampos, bairro do Romeirão, em Juazeiro do Norte, Ceará, morava João Alexandre Sobrinho, um dos grandes da arte da cantoria, de todos os tempos

No terreno adquirido nos anos 70, quando a cidade começara a se expandir nesta direção (depois da inauguração do estádio), construiu uma vila, cujo aluguel complementa uma aposentadoria insatisfatória.

O pé de jambo do jardim foi cortado por conta dos meninos, em busca dos frutos maduros, que não o deixavam em paz.

A cadela Tila, oportunista, ameaça sair para a calçada. A varanda é abafada, mas ele abre a porta da sala, com móveis estofados, o televisor, fotos da família, inclusive a dele, aos trinta e poucos anos, empunhando a viola.

Mora com a cunhada Priscila, e a filha Matilde. A primeira visita foi marcada pelo telefone. Depois, os contatos se tornaram prazerosos, e os labirintos da casa foram se abrindo, inclusive um quintal, com um frondoso sapoti, onde ele se refugia do ruído da rua.

Abatido pela morte da esposa Francisca, quatro anos atrás, o cantador revolve o baú das relembranças, o que reforça sua importância de mestre da arte da palavra cantada, que ele soube, pelo que ficou na memória da comunidade, trabalhar como poucos.

O CONTEXTO-Em 1928, Lampião espalhava pânico por onde passava, e deixava o Nordeste em polvorosa. As narrativas orais ampliavam as façanhas do bando rebelde, fixados pela literatura de folhetos, que depois ganharam as páginas do romance social, e os planos seqüências do cinema novo.

Foi neste clima de conflagração que os Alexandre decidiram sair de Ouro Branco, no município alagoano de Santana de Ipanema, para buscar refúgio na terra do Padre Cícero.

Na bagagem, veio o menino João, nascido em 1920, na localidade de Olho d´ Água do Chicão. O pai, Tito Alexandre da Silva, que sempre teve preguiça de trabalhar na roça, além de sapateiro, era informante da polícia civil, e temia ser agredido pelo cangaço.

Juazeiro significava, também, a expectativa de uma vida nova, para os romeiros que chegavam à Nova Jerusalém sertaneja, onde Padre Cícero os acolhia, dava a sua bênção, e ainda sugeria uma ocupação.

Os Alexandre foram morar na rua do Limoeiro, no arisco, proximidades da Estação Ferroviária, e o chefe da família foi trabalhar como pedreiro.

A mulher, Felismina Maria da Conceição, impregnada pela cultura tradicional, rimava, embolava, e cantava coco de roda, tocando pandeiro, isto nas Alagoas; no Cariri, contava histórias para um menino deslumbrado com o que ouvia. Ele tem até verso dela, que participou, com umas estrofes, de uma toada de vaquejada que ele compôs: “Adeus serra de Caiçara / serrote da Carié / nós vamos pra Moxotó / pra casa de Manoé / quem pagou o caminhão / foi meu filho Ezequié, ê, ê!.

João teve apenas três meses e poucos dias de banco de escola, saindo de lá, quando já dominava a carta de ABC, na quarta lição do Segundo Livro, de Felisberto de Carvalho, depois da surra de palmatória que levou da professora e madrinha, porque estaria “mangando” de um colega. O pai, indignado, não deixou que ele voltasse à sala de aulas. Ainda magoado, tantos anos depois, diz que ela fez isso “de malvada”.

Os pais estavam no segundo casamento. A mãe teve cinco filhos, da primeira união, e cinco da segunda: Manuel, barbeiro em Arapiraca (AL); Alexandre Tito, artista plástico, na mesma cidade; João Tito, que morreu criança; Emília, morta aos 36 anos, além de João Alexandre. O pai, viúvo, não tivera filhos do primeiro enlace.

Traziam no matulão, esperança, e a certeza da paz. Lampião nunca atacaria a cidade do santo do povo, onde estivera, dois anos antes, para receber a patente de capitão, e ser cooptado para combater a Coluna Prestes, grupo de militares que percorria o país, para conhecê-lo e combater, politicamente, os privilégios das oligarquias.

INICIAÇÃO-O jovem João Alexandre “inventou” de tocar e improvisar versos aos dezenove anos. A mãe, costureira, o incentivou. Foi quem tirou os cinco mil réis do bolso para a compra da primeira viola, a um vizinho que chegara de São Paulo, e queria se desfazer do instrumento que trouxera.

João Alexandre não tinha um tostão, e nem sabia tocar, “era só vontade”, admite, começava o “tirinete”, ele faz o balanço hoje, e “foi o dinheiro mais abençoado que ganhei em toda a minha vida”.

Quem não gostou muito foi o pai, que fechou a cara, e disse, categórico, que todo cantador era irresponsável e cachaceiro, mas terminou por aceitar a decisão do filho. “Não gostava, mas não empatou”. Os parceiros apareciam, em grande número, mas o “velho” tinha o cuidado de evitar que o filho fizesse dupla com cantadores boêmios.

A família ficou num vaivém, entre o Ceará e as Alagoas, depois do desmantelamento do cangaço, com a morte de Lampião e Maria Bonita, em 1938, no sertão de Angicos (SE), e João optou por se fixar no Cariri.

No final das contas, seus pais terminaram por ficar mais tempo no Juazeiro, onde morreram, na década de 60, com uma diferença de dois meses e um dia do marido para a mulher, estando ambos sepultados no cemitério do Socorro.

Aos poucos, ele foi dominando o instrumento, autodidata que era. Seu primeiro baião de improviso foi com o cantador Bezerrinha e, de tão marcante, ele não esquece a data até hoje: 15 de agosto de 1939, nem os quinze mil réis que ganharam.

Cantou muito em “festa de santo”, ou renovação, que comemora, anualmente, a entronização do Coração de Jesus, um ritual forte no catolicismo popular.”Nunca fiquei liso, vivi 52 anos às custas da viola”, ele constata, e pode-se dizer que se saiu bem, tanto do ponto de vista da imagem que cristalizou, como do que amealhou.

Casou, em 1940, com Francisca Pereira Alexandre, e tiveram apenas uma filha, Matilde, que lhe deu dois netos (João Alexandre e Juliana) e uma bisneta (Ana Letícia). Ela era “cuidadosa” com o marido e “não muito ciumenta”.

A perda da mulher, ainda é muito dolorosa para ele, que gravou uma fita com uma elegia à companheira, intitulada “Um ninho de amor que se desfez”.

Relembra o passado, mostra seu Cd “Memórias de um poeta” gravado, domesticamente, pelo neto, e faz planos de publicar uma coletânea de poemas,- o impresso legitimando o oral -, cujos originais estão à espera de um patrocínio.

TRAJETÓRIA-oão Alexandre relembra alguns dos grandes nomes da cantoria com quem pelejou: João Pereira, Expedito Passarinho, Severino Pinto, Lino Pedra Azul, Joaquim Vitorino, Amaro Bernardino, Antonio Aleluia, Zé Miguel, Antonio Marinho, e Vicente Landim, ao todo, mais de trezentos rivais.

Ele diz que um cantador aprende com o outro, no calor da hora, e enumera os romances que cantava, como “Coco Verde e Melancia”, “ O Mau Filho e o Bom Pai”, mas gostava mesmo era das pelejas. Não deixou folhetos impressos, como a maioria dos seus parceiros, que se moviam no campo da oralidade.

Ainda solteiro, passou seis meses em Fortaleza, para onde voltou outras vezes, e cantou com os grandes nomes da cantoria da capital, como Siqueira de Amorim, Alberto Porfírio, e o piauiense Domingos Fonseca.

Ele diz que “agüentava o chicote” e por isso nunca levou “pisa” de cantador.

O rival mais famoso foi mesmo o Patativa, com quem cantou durante quase dez anos. A afinidade foi tanta que João Alexandre chegou a comprar um terreno, e a se estabelecer na serra de Santana, onde o poeta morava.

Cantador novo que era, sua viola ficava de pé, na parede da entrada do Mercado de Assaré, na expectativa dos convites para apresentações.

Perto do parceiro e compadre (é padrinho de Afonso) ficava mais fácil arranjar cantorias nos sítios, e assim faziam pequenas viagens, sempre a cavalo, para Mombaça, Cedro, Iguatu, Campos Sales, Potengi, e Araripe.

Um episódio curioso é o do dia em que o violeiro boa pinta, já casado, se engraçou de uma moça que assistia à cantoria. Patativa, quando viu o “enxerimento”, delatou o parceiro: “A família desse João / é maior do que a minha / tem um filho caminhando / tem outro que engatinha / e eu soube que a mulher dele / ficou comendo galinha”, fazendo referência à dieta das mulheres paridas.

As últimas cantorias com o poeta de Assaré foram em 1958, e as controvérsias vieram por conta da toada “Triste Partida”, que Luiz Gonzaga ouviu no rádio, em um programa de violeiros de Campina Grande (PB), e quis comprar, antes de gravá-la, em 1964.

João Alexandre reclama a autoria da música de “Triste Partida” e Patativa dizia que a composição era só dele. Depois de muita insistência, admitiu que o compadre “contribuiu” com a melodia, que levou para todo o país, na voga da canção de protesto, a denúncia de um “intelectual orgânico”, que ia fundo nos problemas da região, porque tinha vivências do que estava falando. 

A letra havia sido publicada no livro de estréia de Patativa, “Inspiração Nordestina”, em 1956, o que retira, qualquer influência da seca de 1958 sobre a composição. Seca braba aquela, que deu origem à Sudene, e aumentou o êxodo, agora não mais para a Amazônia, ou para São Paulo, mas para a construção de Brasília, a nova capital, inaugurada em 1960.

Depois desta disputa pela autoria, as relações entre eles nunca foram as mesmas. Deixaram de se visitar, apesar de Patativa vir com freqüência a Juazeiro, e de João Alexandre possuir um carro, e, ainda que tentassem, era impossível disfarçar as mágoas.

VOZ E VIOLA-Sua estréia no rádio foi marcada por uma visita que fez a Dom Vicente, então bispo do Crato, em companhia de Geraldo Menezes Barbosa. Cantou no Palácio, e o bispo gostou tanto que o convidou para se apresentar na Rádio Educadora, da diocese. Lá ele ficou dez anos, enfrentando Antonio Aleluia, Antonio Maracajá, e Zé Magalhães, dentre outros rivais.

A morte do Papa João XIII, o ideólogo da renovação da Igreja Católica, foi assim cantada por ele: “Com a morte do Papa Vinte e Três / enlutaram-se muitos corações / trouxe muita tristeza pras nações / esse golpe fatal que a morte fez”, de acordo com a “Antologia Ilustrada dos Cantadores”, de Francisco Linhares e Otacílio Batista, editada pela Imprensa Universitária, em 1976.

Em Juazeiro, João Alexandre cantou durante sete anos com Pedro Bandeira, que chegou a morar em sua casa, no início da carreira, com quem também se desentendeu, e ficaram vinte anos sem se falar, não por problemas de autoria, mas por questões financeiras.

Faziam dupla, nas apresentações ao vivo, e nos programas de rádio, onde a presença dos violeiros foi ganhando espaço, ao contrário das previsões apocalípticas que previam o fim da cantoria, com a chegada do transistor.

Ao todo, foram vinte anos na rádio Progresso, de Juazeiro do Norte, e quando saiu de lá deixou de cantar, é o que diz, ainda que participasse, eventualmente, dos programas de outros violeiros, como o de Sílvio Granjeiro, na rádio Vale do Cariri, também em Juazeiro.

Relembra o improviso feito para saudar o colega Geraldo Amâncio, que havia deixado o Cariri, em busca de espaços mais amplos: “Meu caro Geraldo Amâncio/como vai de Fortaleza?/aumentou mais o recurso/ou cresceu mais a pobreza?/melhorou da alegria/ou cresceu mais a tristeza?”.

Avalia que a maior parte dos cantadores “faz balaio”, preparando e decorando, antecipadamente, o que vai ser cantado, o que é falso, e abre mão da força do improviso. É exatamente na rapidez e agilidade do argumento, empunhado a palavra como uma arma, que a cantoria ganha importância, ritmo, e empolgação.

O “balaio” é a necrose de um processo da prevalência da voz, que vigora desde tempos imemoriais, acompanhada, na maioria das vezes, pela viola.

Considera Ivanildo Vilanova o maior cantador, dos que estão na ativa, vindo, em seguida, Geraldo Amâncio.

Também se refere a Moacir Laurentino, a Sebastião da Silva, e diz que Oliveira de Panelas faz “balaio”, prática que ele tanto abomina.

Em relação aos repentistas do Cariri, ele não ameniza o comentário ácido: “são violeiros de sopapo, meio lá e meio cá”.

Relembra fragmentos de improvisos que se perderam no tempo, como a toada de aboio que cantou numa vaquejada em Juazeiro: “Quem gosta de vaquejada / faz da maneira que eu faço / tanto pega boi com a mão / como pega boi de laço / e cada garrote que apanha / tem que deixar um pedaço, ô, ô.”

É um grande narrador de episódios, do tempo em que vendia cavalos, ouro de Juazeiro, e “lambe-lambe”, tirava retratos com a “mão no saco”.

Fez de tudo um pouco, mas sua grande contribuição foi dada à transmissão oral, e à riqueza do imaginário sertanejo, no ponteio da viola, manifestação fugaz, mesmo no tempo do registro e da reprodução técnica, porque é impossível captar a entonação, as nuances da voz emitida, e a performance, quando o corpo todo expressa.

Gilmar de Carvalho  (Diário do Nordeste) em 12 de maio de 2003

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DOMINGUINHOS O ENCANTADOR DE SANFONAS FARIA 84 ANOS NESTA QUARTA-FEIRA (12)

 Vem amor, vem cantar

Pois meus olhos

Ficam querendo chorar

Deixe a mágoa pra depois

O amor é mais importante a dois

Os versos da música Sanfona Sentida, na voz e acompanhados pelo dedilhar de Dominguinhos (1941-2013), inspiraram o professor de história Gustavo Alonso, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para o título da biografia do artista nascido em Garanhuns (PE). A letra é de autoria de Anastácia, uma das principais parceiras profissionais, e também uma das companheiras de vida do músico.

O livro, que deve ser lançado no ano que vem (2026) pela editora Todavia (com previsão de 380 páginas), traz detalhes sobre a inventividade, a mistura de ritmos e até polêmicas da vida do artista que ficou conhecido como uma referência da sanfona e do forró, e um herdeiro musical do “rei do baião”, o também pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989). A data de nascimento de Gonzagão, 13 de dezembro, passou a ser reconhecida como o Dia Nacional do Forró

 “[Essa imagem] de ele ser o herdeiro de Gonzagão era uma questão tensa para Dominguinhos pelo menos até a morte do Rei do Baião. Às vezes, ele abraçava essa ideia. Às vezes, não”, disse o biógrafo, que também é músico, em entrevista à Agência Brasil.

“Era um gênio. Muito humano, com fraquezas, carências, dificuldades e capacidades. Um artista intuitivo.”

A infância humilde em Garanhuns, na década de 1940, com os pais camponeses, passou a ter um outro tom quando foi tocar com dois irmãos no centro da cidade, o mais velho, Moraes, e o mais novo, Valdomiro. “No total, a família teve 16 filhos e seis morreram. Em 1949, eles estavam tocando em frente ao Hotel Tavares Corrêa para ter dinheiro para o almoço. A renda da plantação não dava para todo mundo”, explica o pesquisador.

Foi quando o astro Luiz Gonzaga chamou o trio para tocar com ele. E deu aos meninos um telefone e um endereço no Rio de Janeiro. “Luiz Gonzaga fazia e fez isso com muita gente. Na época, o Dominguinhos não tocava sanfona, mas pandeiro”.

Em 1954, a família foi para o Rio. Todos em caminhão pau-de-arara. Dominguinhos ainda era chamado de Neném do Acordeon.

Depois de trabalhar até como tintureiro com seus 13 anos de idade, Dominguinhos procurou Gonzagão no Rio de Janeiro, ganhou confiança e passou a ser um faz-tudo do experiente músico. “Com o tempo, Dominguinhos passou a buscar um caminho próprio dele, flertando com o pessoal da MPB, por exemplo”. Ia além: misturava forró com jazz e fazia um ritmo de forma mais desconstruída, sobretudo na obra instrumental.

Nas décadas de 1960 e 1970, o artista frustrou quem imaginava que ele poderia ser uma voz contra a ditadura, tal como Gonzagão, que não enfrentou o regime de exceção em suas obras. A morte de Gonzagão e depois de Gonzaguinha, em 1991, foi, para o pesquisador, fundamental para ele aceitar, informalmente, o rótulo de herdeiro do Rei do Baião. Inclusive, nos anos 1990, ele recebeu apoio estatal para um projeto chamado “Asa Branca”, em que ele levava forró pelo país para cultuar a memória do músico que o descobriu.

Dominguinhos, diferentemente do Gonzaga, nunca parou de gravar música instrumental. “Nessas músicas, eu diria que estão as mais virtuosísticas obras dele”, avalia o pesquisador. Depois, o artista passou a assumir a imagem com um chapéu de vaqueiro e nunca deixou de usar. “Era mais comum ele aparecer com roupas modernas, camisas floridas, cabelos grandes em um flerte com os tropicalistas”.

O biógrafo explica que foi Anastácia (que era mais conhecida do que o parceiro) quem o ensinou a cantar. Era uma relação profissional e amorosa em que as letras também mergulhavam em empolgação ou melancolia.

“Anastácia é uma compositora que ele conhece em 1967 e tem um caso amoroso com ela. Eles viram amantes e ficam juntos até 1978”.

O término abrupto deixou mágoa na artista, que foi entrevistada pelo pesquisador. Hoje ela tem 83 anos de idade, vive em São Paulo (SP) e, segundo o pesquisador, revela detalhes da vida com Dominguinhos.

Ela guardou tristeza profunda, destruiu fotografias com o antigo parceiro, mas reconhece que foi o amor da vida dela. As traições recorrentes do artista, além de a desanimarem, foram inspirações para composições. Ficaram 30 anos sem se comunicarem e só se encontraram quando Dominguinhos descobriu o câncer que iria matá-lo.

A história de amor clandestina começou em uma turnê com Luiz Gonzaga. Depois, passaram a viver e se encontrar em São Paulo. “Foi lá, inclusive, que compuseram Eu Só Quero um Xodó, que é um grande clássico”.

“Antes, era Anastácia quem o levava para conhecer as pessoas. Ela era uma compositora. Ele compunha temas instrumentais”. A artista explicava como escolher e desenvolver um tema, e voltar para o refrão. “Ela deu a régua e o compasso para ele no mundo da canção”, diz o biógrafo. A parceria ganha os sons de baiões, xotes, forrós e também boleros.

A união musical rendeu discos como Domingo, Menino Dominguinhos (1976). Outros álbuns que o pesquisador destaca são Apôs, tá Certo (1979), Querubim (1981) e Simplicidade (1982).

“São os meus preferidos. A discografia dele é longa. Depois tem a parceria com o Nuno Cordel também, em meados dos anos 1980, quando ele não tem mais a Anastácia. Ele se separa dela em 1978 e também da esposa no Rio de Janeiro porque ele se apaixona por outra artista, Guadalupe, com quem ele ficou casado por cerca de dez anos”.

Dominguinhos, sem Anastácia, passou a procurar compositores como Nando Cordel, Chico Buarque, Djavan e Gilberto Gil. “Ele teve grandes parceiros”. Mas o artista apreciava aqueles que respondiam rapidamente. Por isso, sentia falta da antiga companheira.

Dominguinhos, na avaliação do biógrafo, trouxe uma feição nova para o gênero do Luiz Gonzaga. A sanfona que ele usou mais tempo na vida foi um modelo Giulietti, ítalo-americana, que ele comprou usada na Inglaterra.

“Ele se encantou com aquela sonoridade”. E isso fez parte das transformações musicais dos anos 1970. “Ele é um agente fundamental desse momento”.

O forró misturado a outras influências entoaram uma nova história para a música nordestina. O pesquisador afirma que não houve um batismo oficial de Rei do Forró, mas considera que Dominguinhos ajudou a moldar o ritmo que é ouvido no século 21.

“Hoje em dia, todo sanfoneiro quer ter o instrumento igual do Dominguinhos”. E também a inventividade de uma sanfona que não parou, que cantava o amor, celebrado com xodós, que “alegre meu viver” e pela busca de estar “de volta para um aconchego”.

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