ELBA RAMALHO E FAGNER CELEBRAM O FORRÓ E LUIZ GONZAGA EM NOVO ÁLBUM

Elba Ramalho e Raimundo Fagner gravaram discos e dividiram o palco com Luiz Gonzaga, a quem sempre tiveram como uma das principais referências. Artistas da mesma geração e de muitas afinidades, a cantora paraibana e o cantor e compositor cearense, em 50 anos de carreira, nunca haviam se juntado em algum trabalho. Esse encontro, porém, ocorreu, recentemente, quando os dois se reuniram num projeto em que prestam tributo ao eterno rei do baião.

Acaba de chegar às plataformas digitais o álbum Festa, com o qual Elba e Fagner além de reverenciar Gonzagão, celebram a decisão do Iphan de declarar o forró como patrimônio imaterial do país. 

Com direção artística do multi-instrumentista Zé Américo, profundo conhecedor do universo musical nordestino, o disco de 12 faixas traz composições que ganharam registro na voz do homenageado — embora nem todas sejam de autoria dele. O álbum marca também o lançamento do selo Bonus Track, braço fonográfico da empresa de entretenimento comandada pelo empresário Luiz Oscar Niemeyer.

Quando Elba surgiu artisticamente, no começo dos anos 1970, como participante do espetáculo A feira, protagonizado pelo grupo pernambucano Quinteto Violado, o repertório de Luiz Gonzaga já lhe era familiar. Fagner, que se projetou nacionalmente, no início da mesma década, após vencer um festival em Brasília, tomou conhecimento da obra do autor de Asa Branca, ainda na infância, em Fortaleza. Já com a carreira consolidada, ambos se aproximaram do artista que se tornou símbolo da música do Nordeste.

O cantor, nascido em Orós, no interior do Ceará, gravou LPs com Luiz Gonzaga em 1984 e 1988 e fez alguns shows com o ídolo; enquanto a cantora originária de Conceição do Piancó lançou os CDs Elba canta Luiz (2002) e Cordas, Gonzaga e Afins (2015). O fato de eles terem conhecimento do vasto acervo do mestre, em vez de facilitar a seleção das 13 canções que deram formato ao Festa, acabou sendo algo difícil. Por isso, precisaram contar com o auxílio de Zé Américo.

Para compor o repertório foram escolhidos clássicos como Danado de bom (Luiz Gonzaga e João Silva), Estrada de Canindé (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), Vem morena (Luiz Gonzaga e Zé Dantas), O cheiro da Carolina (Luiz Gonzaga e Amorim Roxo) e Baião da Penha (Guio de Moraes e David Nasser), Forró nº 1 (Cecéu), Sanfona sentida (Dominguinhos e Anastácia), Facilita (Luiz Ramalho) e a faixa que dá título ao disco, composta por Gonzaguinha, A Festa.

Gravado nos estúdio Luni Áudio (Recife) e Gigante de Pedra (Rio de Janeiro), o álbum foi masterizado no Zap Studio, contou com a participação de músicos como Zé Américo (teclados e arranjos), Mestrinho (acordeon), Tostão Queiroga (bateria), Marcelo Martins (flauta, piccolo e pife), Fernando Fofão (baixo), Zapa Souza (guitarra) e Durval (percussão). (Fonte: Correio Braziliense)

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JOÃO GILBERTO, UM HOMEM CHAMADO MISTÉRIO

É difícil encontrar na música brasileira um personagem tão transformador, tão revolucionário, tão original como João Gilberto. Um dos maiores influenciadores, inspiradores e criadores do século XX e além.

A celebrada geração de Gil, Caetano, Edu, Chico não existiria sem ele, nem seus filhos e netos musicais. Miles Davis e Bob Dylan eram seus grandes fãs. Eric Clapton ainda é. Mas não só músicos, cineastas, escritores e dramaturgos se influenciaram por seu estilo cool e minimalista.


Um artista tão especial naturalmente só poderia ser um personagem complexo, muito complexo. E misterioso. Gostava da vida reclusa, dedicado à sua arte, como um mestre zen que passa os dias repetindo músicas como mantras. Seu traço fundamental é a delicadeza e a doçura de melodias, palavras e gestos.

Com seu violão e sua voz integrados como um só instrumento, a bossa nova ganhou o mundo. Um raro orgulho nacional nos atuais tempos de vergonhas.

Ele é o tema da esplêndida biografia “Amoroso”, escrita por seu amigo da vida inteira Zuza Homem de Mello, um dos melhores críticos musicais do Brasil e um rigoroso pesquisador que escreve em um estilo fluente e cheio de humor.

Ruy Castro já havia mergulhado no mistério de João Gilberto no clássico “Chega de saudade”, uma biografia da bossa nova que tem nele o seu grande protagonista, lançada em 1990. E Zuza agora completa o serviço, acompanhando a trajetória de João até a sua morte.

A vantagem de Zuza é que, além de baixista de jazz formado nos EUA, ele também era engenheiro de som competente, o que lhe deu condições para aprofundar a análise de João como um fenômeno musical. Tudo em linguagem simples, sem tecnicalidades.

Mas o que interessa é a história de como esse baiano saiu de Juazeiro para o mundo, mudando o rumo da música brasileira e fazendo a bossa nova se tornar uma influência nobre no melhor jazz americano. Ao contrário dos haters, que divulgavam a fake que a bossa nova era uma cópia subdesenvolvida do jazz...

João já mereceu incontáveis obras, ensaios, textos e teses, e até um livro de um alemão que o procura pelo Rio de Janeiro, fala com os seus amigos, mas nunca o acha. A biografia de Zuza o encontra e o revela ao leitor através de inúmeras conversas com ele, entrevistas com muitos que conviveram e trabalharam com ele. E muita pesquisa de jornais, rádios e TVs.

A história de João, além de um personagem fascinante e sedutor, dono de uma musicalidade extrema e de uma inteligência rara, é a história de um Brasil que deu certo contra todas as expectativas, encantando plateias nos melhores palcos do mundo.

João se impôs pela qualidade absoluta, gerada por seu implacável perfeccionismo e sua intransigência a qualquer concessão, e uma percepção aguda de seu papel na música brasileira. Tão rigoroso que, ao longo de toda sua carreira, só lançou doze álbuns. Todos impecáveis.

Lendo o livro e acompanhado no streaming todas as gravações de João, é fácil entender por que ele é um gênio amoroso. (O Globo) João Gilberto - Foto: Adenor Gondin/Governo do Estado da Bahia

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O QUE ESPERAR DE 2022 NA ÁREA AMBIENTAL NO BRASIL

O ano de 2021 foi muito difícil para nosso país, em vários aspectos. Não só pela pandemia da covid-19, mas, principalmente, pela forte degradação econômica, social e política que estamos vivenciando. Na área ambiental, observamos a degradação crescente e acelerada dos biomas brasileiros, além da contaminação das águas, solos e atmosfera. De modo mais geral, é claro o projeto de desmonte de políticas públicas em áreas vitais como educação, ciência, saúde e meio ambiente, e ele segue a todo vapor.

Somente neste ano, tivemos a derrubada de mais de 13 mil km² de florestas na Amazônia, e o Pantanal teve 60% de sua área queimada pelo segundo ano consecutivo, em atividades associadas a crimes ambientais. O agronegócio segue avançando sobre o Cerrado, já que não há a implementação de políticas de uso da terra voltadas à preservação dos nossos ecossistemas. 

O garimpo ilegal continua a poluir com mercúrio nossos rios, afetando a saúde de ribeirinhos, população indígena e de todo o bioma amazônico. E, para completar, os eventos climáticos extremos marcaram o Brasil central e trouxeram insegurança energética e hídrica a grande parte da população.

Não é raro constatar, na mídia nacional e internacional, manchetes e editoriais nos quais o governo do Brasil é duramente criticado e repudiado por destruir políticas públicas, leis e órgãos de proteção ao meio ambiente, asfixiando instituições tradicionais, como o Ibama, ICMBio, Funai e outras. E os resultados destas ações se configuram no avanço dos crimes ambientais e nos ataques aos direitos de povos indígenas e das comunidades tradicionais.

Vale ressaltar que estas políticas de destruição do Estado brasileiro promovidas pelo Poder Executivo receberam apoio do Legislativo e do Judiciário, que desgastaram princípios básicos da proteção ao meio ambiente, resultando em extensas áreas desmatadas e degradadas em todos os biomas e ecossistemas brasileiros. Certamente, os impactos sociais e econômicos serão de longa duração, agravados pelas mudanças ambientais globais. A redução de qualidade do ar, das águas e dos solos foi uma das principais consequências dessas ações (des)coordenadas.

Importante salientar que a COP-26 significou um revés importante neste ano de 2021, no que se refere à questão da governança mundial sobre meio ambiente. A principal razão foi a falta de ações concretas para enfrentar e minimizar os impactos das mudanças climáticas em curso, uma das maiores ameaças à nossa sociedade. 

A COP-26 também frustrou expectativas devido à negação dos países desenvolvidos em ajudar os países pobres a lidar com a emergência climática, a reduzir suas emissões e a se adaptarem. A consequência de todo esse processo é o aumento das desigualdades sociais, e tudo indica que elas serão um forte fator de instabilidade política no futuro próximo.

Apesar de o governo brasileiro ter assinado um compromisso de zerar o desmatamento da Amazônia até 2028, sabemos que as chances de isso acontecer são remotas, afinal, não há qualquer política pública de fortalecimento a instituições-chaves como Ibama, ICMBio, MMA, MCTI e órgão associados, para que esta meta seja atingida. Se realmente houvesse interesse, este estaria contemplado no orçamento de 2022. Ou seja, na prática, não há incremento de recursos para essa finalidade, indicando que a meta era só “para inglês ver”.

Devido à ausência de ações concretas do governo federal, vimos, na COP-26, a atuação subnacional se impor, com a presença de 12 governadores, CEOs de grandes empresas e a participação significativa da sociedade civil. Acredito que esse novo quadro possa ser um importante motor de transformação de nosso país em uma sociedade mais justa e sustentável.

E para 2022, o que esperar? Como teremos o mesmo governo federal, o mesmo Congresso dominado por ruralistas e o mesmo Judiciário, claro que seria ingenuidade pensarmos em mudança estrutural. Há pressões internacionais para reduzir o desmatamento, por parte dos países desenvolvidos, e elas podem ser intensificadas com sanções comerciais em relação à importação de carne, madeira ou soja advindas de regiões desmatadas. Talvez isso possa mobilizar o atual governo brasileiro em relação a suas práticas (inclusive, existe pressão interna dos grandes produtores de carne).

Um dos graves problemas que temos hoje é a forte atuação de redes criminosas na Amazônia, seja pela grilagem de terras públicas ou indígenas, seja pelo avanço da mineração ilegal ou pela atuação de madeireiras ilegais. O fato é que as atividades criminosas passaram a dominar na Amazônia. Para encontrarmos um modelo de desenvolvimento sustentável para a região, o primeiro passo é coibir atividades ilegais de exploração e cumprir o que diz a nossa Constituição.

Para além da Amazônia, nossas questões ambientais atingem também a maior parte de grandes cidades, que continuam a viver com níveis altos de poluição atmosférica, proveniente de emissões veiculares. Por muitos anos, a indústria automobilística impediu a implementação de ações visando à melhoria nos padrões de emissões de poluentes, já em vigor em países desenvolvidos. Embora vislumbremos novos padrões de emissões para veículos a diesel, provenientes das próximas etapas do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares), as chamadas L7 e P8, equivalentes ao padrão Euro 6, em vigor na Europa, os impactos da atual frota veicular altamente poluidora durarão décadas, aumentando a mortalidade na população urbana por problemas respiratórios.

Outro problema a ser enfrentado é o uso excessivo e crescente de agrotóxicos pelo agronegócio brasileiro, com número recorde de autorização de produtos proibidos em outros países e largamente utilizados em nosso país. Além de contaminar nossos rios, população e produtos, muitos deles são compostos persistentes no meio ambiente.

Importante realçar que o Brasil tem todas as condições para ser uma potência mundial em sustentabilidade, pelas vantagens estratégicas em vários setores. Nossa matriz energética, por exemplo, poderia se beneficiar em muito do uso em larga escala de energia solar e eólica. Além disso, seria viável implantar uma agricultura de baixas emissões de carbono, zerar o desmatamento e servir de exemplo para nosso planeta.

Não há maneira mais fácil, rápida e barata de reduzir emissões de gases de efeito estufa do que zerar – pra valer e não para inglês ver – o desmatamento da Amazônia. O Brasil já foi um líder na redução de emissões de desmatamento e poderíamos repetir a façanha, se tivéssemos um governo comprometido em defender os interesses da população ao invés de beneficiar e até estimular o agronegócio predatório. Pesquisas de opinião mostram que mais de 80% da população brasileira são contra a destruição de nossos recursos naturais. A implementação de políticas de preservação de nossa biodiversidade é crítica para a região amazônica e demais biomas brasileiros.

Não podemos esquecer que o ano de 2022 será marcado por eleições majoritárias, e muitas das políticas e leis sendo discutidas atualmente no Congresso Nacional dizem respeito ou a “terminar” com o restante da reforma na legislação de proteção ambiental no Brasil, ou a beneficiar grupos econômicos que possam contribuir na campanha eleitoral (e reeleição) do atual governo. Neste quadro, o panorama ambiental para 2022 continua a ser desesperançoso, como em 2021.

A sociedade brasileira vai ter que trabalhar muito para recuperar os danos ao meio ambiente promovidos ao longo dos últimos anos e também para que possamos atingir nossos compromissos com o Acordo de Paris e os ODS da ONU. Claro que muitos dos danos ambientais já feitos são irreversíveis, como a destruição de dezenas de milhares de quilômetros de florestas. Resta-nos torcer para que os debates públicos em 2022 sejam uma nova oportunidade para lembrar e discutir os valores que nos definem como nação digna em um mundo democrático, inclusivo e sustentável.

*Por Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP

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OLHE ALÉM DAS LUZES E LEMBRE-SE DOS POBRES, DIZ PAPA FRANCISCO

Em discurso aos católicos romanos do mundo todo na véspera do Natal, nesta sexta-feira (24), o Papa Francisco disse que as pessoas indiferentes aos pobres ofendem a Deus e pediu a todos que "olhem além das luzes e das decorações" e se lembrem dos mais necessitados.

Vivendo o nono Natal de seu pontificado, o Papa celebrou uma missa solene de vigília na Basílica de São Pedro para cerca de 2 mil pessoas, com participação restrita pela covid-19 a cerca de um quinto do tamanho visto nos anos pré-pandêmicos.

Minutos antes do início da missa de véspera de Natal, a Itália contabilizou seu segundo recorde consecutivo no número diário de casos de covid-19, com 50.599 novas infecções.

Francisco, vestido de branco, fez sua homilia em torno do argumento de que Jesus nasceu sem nada.

"Irmãos e irmãs, diante do presépio, contemplamos o que é central, além de todas as luzes e enfeites, que são lindos. Contemplamos a criança", disse ele na missa celebrada em conjunto com mais de 200 cardeais, bispos e padres. Todos, exceto ele, usavam máscaras.

Francisco, que fez 85 anos na semana passada, disse que o menino Jesus nascido na pobreza deve lembrar às pessoas que servir aos outros é mais importante do que buscar status ou visibilidade social ou passar a vida inteira em busca do sucesso.

"É neles (os pobres) que ele quer ser homenageado", disse Francisco, que faz da defesa dos pobres o ponto central do seu pontificado.

"Nesta noite de amor, tenhamos um só medo: ofender o amor de Deus, ferindo-o ao desprezar os pobres com a nossa indiferença. Jesus os ama ternamente e um dia eles nos receberão no céu", disse.

Ele citou um verso de um poema de Emily Dickinson: "quem não encontrou o céu --aqui embaixo-- falhará nele lá em cima". O papa acrescentou em suas próprias palavras: "Não percamos de vista o céu; cuidemos de Jesus agora, acariciando-o nos necessitados, porque é neles que ele se fará presente".

Dizendo que os trabalhadores --os pastores-- foram os primeiros a ver o menino Jesus em Belém, Francisco disse que o trabalho tem que ter dignidade e lamentou que muitas pessoas morram em acidentes de trabalho em todo o mundo.

"No Dia da Vida, vamos repetir: chega de mortes no local de trabalho! E vamos nos comprometer a garantir isso", disse.

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SITE DIGITAL DA VIDA E OBRA DE LUIZ GONZAGA, PODCAST, LIVES JÁ MARCAM FESTIVIDADES DOS 110 ANOS DE NASCIMENTO DE LUIZ GONZAGA EM 2022

Na semana em que completou 109 anos, o lendário Luiz Gonzaga voltou a ter no ar uma das principais fontes de acesso à sua história. O site Luiz Lua Gonzaga foi idealizado e construído pelo colecionador Paulo Vanderley em 2004, carregando entrevistas, discos, digitalização de materiais gráficos e vários outros materiais sobre o legado do Rei do Baião. 

A iniciativa se tornou um dos principais meios de pesquisa sobre o músico de Exu, levando Paulo Vanderley a ser consultor em projetos como o Museu do Cais do Sertão e a cinebiografia de Gonzagão. O site Luiz Lua Gonzaga parte do projeto de seu criador em celebrar os 110 anos de seu ídolo, comemorados em 2022.

O site luizluagonzaga.com.br está com um novo projeto gráfico e abastecido com uma infinidade de materiais que contam a trajetória de Luiz Gonzaga. 

“Para nós, gonzaguianos, que admiramos tudo o que ele foi, é quase que um princípio propagar a vida e a obra dele. Apesar das dificuldades de trabalhar com cultura no Brasil, trazer mais pessoas para admirá-lo é o que nos anima, é o nosso combustível para fazer esse trabalho”, afirma Paulo.

A produção e luta pela memória de Gonzaga começaram a tomar forma na vida de Paulo ainda na infância. Filho de um funcionário do Banco do Brasil, o colecionador morou em 16 cidades do Nordeste com a família e uma delas foi justamente Exu, onde conheceu pessoalmente aquele que se tornaria seu ídolo. Em 1989, quando Gonzagão faleceu, o garoto recebeu a missão do pai de filmar o cortejo fúnebre, evento que colocou dentro de si a vontade de colecionar tudo o que podia de um dos maiores artistas da história do país, assim como levar adiante o encanto que vivenciou naquela época.

“Hoje eu ainda tento contribuir com essa história. O Luiz Lua Gonzaga chegou a ser o maior acervo sobre um artista brasileiro. No ano do centenário dele, tivemos 9 milhões de acessos e milhares de contatos, se tornando a base de dados mais procurada por jornalistas e pesquisadores. Levamos de 4 a 5 anos para abastecer o site. Hoje, com a retomada, estamos com 30% do que teremos até 2022, quando Gonzagão completará 110 anos”, elabora Paulo.

Para firmar ainda mais esse projeto de digitalizar o máximo possível da história de Luiz Gonzaga, Paulo está desenvolvendo um livro sobre o artista pernambucano para ser lançado no próximo ano, escrito em primeira pessoa, com o próprio Rei do Baião contando sua história, a partir de uma intensa pesquisa em acervos de entrevistas. O projeto também será lançado em formato de áudio, narrado pelo próprio biografado a partir desse material. 

Esta obra, que pretende homenagear o 110º aniversário de Gonzaga, também se transformará em um podcast e uma websérie, garantindo o caráter multimídia do livro. Dessa forma, o público conseguirá ter acesso ao conteúdo de parceiros musicais e os herdeiros de Gonzaga no forró em diversas plataformas.

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MST REALIZA CAMPANHA NATAL SEM FOME ATÉ O DIA 06 DE JANEIRO DE 2022

Durante a campanha Natal Sem Fome, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), serão distribuídas mais de 700 toneladas de alimentos vindos em sua maioria de assentamentos, acampamentos e cooperativas. Os alimentos são arrecadados com o apoio das campanhas promovidas pelo movimento, em conjunto a uma rede de solidariedade para beneficiar famílias vulneráveis, em situação de fome e insegurança alimentar nas periferias urbanas e rurais do país.

Além dos alimentos distribuídos em cestas, serão doadas marmitas e ceias populares para cerca de 30 mil pessoas em todas as grandes regiões do país. Segundo o MST, parte das doações já foi distribuída. Os alimentos continuarão sendo entregues até 6 de janeiro, período em que se encerra a edição natalina da campanha do MST: “Cultivando Solidariedade para Alimentar o Povo”.

“O MST vê a solidariedade como um princípio indispensável para nossa organização popular de luta pela terra e reforma agrária. Então, a solidariedade para nós é tida como uma virtude e sobretudo como um princípio indispensável. E é nesse sentido que nós queremos atuar, trabalhar, desenvolver essa campanha do Natal Sem Fome, realizando na prática esse princípio do MST que é a solidariedade de classe”, diz a dirigente nacional do MST no Rio de Janeiro Marina dos Santos. Ela faz uma distinção entre “caridade” e “solidariedade de classe”.

Segundo Marina, esta também é uma forma de levar aos trabalhadores e trabalhadoras urbanas o resultado do processo de luta do MST pela reforma agrária popular, que se inicia na ocupação do latifúndio improdutivo, até a conquista do assentamento com a formação de comunidades rurais, produção de alimentos, construção de agroindústrias, escolas, postos de saúde, cultura e lazer para uma vida digna no campo.

“Essa campanha é muito importante para nós, porque estamos levando para os trabalhadores urbanos a produção, o produto dos trabalhadores do campo, que têm a terra hoje como fruto da luta e da organização e da pressão ao estado para construir os assentamentos, que hoje estão à disposição para produzir comida, produzir alimentos saudáveis. São esses os alimentos que nós vamos oferecer no Natal Sem Fome, de forma solidária”, afirmou a dirigente.
David Zamory, da direção estadual do MST em São Paulo, salienta que as doações solidárias contra a fome não resolverão por si só este problema social. É preciso, acrescenta, que haja vontade e gestão política capaz de reverter essa realidade. Mas essas ações emergenciais se somam a uma resposta do movimento e dos trabalhadores no que o MST chama de pacto nacional contra a fome.

REDE SOLIDARIEDADE: A campanha vem sendo construída em conjunto à diversos movimentos sociais, estudantis, sindicatos, entidades religiosas, entre outros, além de contar com o apoio de artistas, educadores, influencers, amigas e amigos do MST. As doações estão sendo distribuídas em periferias urbanas e rurais, comunidades indígenas e para população em situação de rua. 

Qualquer pessoa pode contribuir com a campanha, a depender das arrecadações, o movimento pode chegar a doar até mil toneladas de alimentos até 6 de janeiro de 2022. 

A arrecadação de doações de apoiadores tem sido feita por meio da coleta de alimentos não perecíveis entregues nas lojas da Rede de Armazéns do Campo do MST, entre outros locais disponíveis nas grandes regiões do país. Já as doações em aportes financeiros podem ser feitas a partir de qualquer valor via PIX: campanha@institutocultivar.org.br.

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POR QUE O LEGADO DE CHICO MENDES CONTINUA ATUAL, 33 ANOS DEPOIS DE SUA MORTE

Nunca um tiro de espingarda ecoou tão longe e continua lembrado por tanto tempo. O que matou o seringueiro Chico Mendes, na boca da noite do dia 22 de dezembro de 1988, quando ele se preparava para tomar banho nos fundos de sua casa em Xapuri, uma pequena cidade na floresta amazônica no Acre, reverberou pelo planeta inteiro.

Quase instantaneamente, virou manchete nos principais jornais e destaque no noticiários da TVs de todo mundo.

Morto uma semana depois de seu aniversário de 44 anos, ocorrido no dia 15 — teria completado 77 anos neste ano —, Chico Mendes era um dos pioneiros da defesa da preservação da floresta amazônica e deixou um legado político e ambientalista que ainda perdura.

"Ele colocou a Amazônia no centro do debate e chamou atenção do mundo para sua preservação", diz o hoje advogado e membro do Comitê Chico Mendes, uma organização não governamental ambientalista, Gomercindo Rodrigues, o Guma, que o conheceu em 1984, se tornou seu amigo e foi uma das últimas pessoas fora da família a ver o seringueiro com vida, poucos minutos antes de seu assassinato.

De acordo com outra amiga de Chico Mendes, a antropóloga Mary Allegretti, que o conheceu em 1981, quando era professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e fazia pesquisa para seu doutorado, como continuidade da que havia realizado para o mestrado em seringais do Acre, ele antecipou a relação entre sociedade e meio ambiente ao mostrar que as pessoas protegem este quando dependem dele para viver.

"Se no passado, essa constatação era aplicada às populações tradicionais que viviam desses recursos, hoje as mudanças climáticas estão mostrando que toda a humanidade depende da natureza para sobreviver", diz.

"Sua causa continua muito atual e necessária."

Para o biólogo e doutor em Ecologia Paulo Brack, do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da coordenação do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), o seringueiro do Acre teve um papel fundamental em dar maior visibilidade às causas comuns ambientais com a temática social, em especial das comunidades locais que sofrem das mesmas causas de um modelo econômico em grande parte degradador dos recursos naturais.

"Ele foi um exemplo de esforço pela unidade nas lutas comunitárias de grupos sociais, que desejam manter seus modos de vida digna, um bem viver talvez utópico, em maior harmonia com a natureza, desapegados da loucura pela acumulação reinante", explica.

Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, nasceu em um seringal chamado Porto Rico, no município de Xapuri, pertinho da fronteira do Acre com a Bolívia, a 68 km da cidade mais próxima daquele país, Cobija.

Filho de seringueiro, seringueiro é — pelo era menos naquela época. Ele passou sua infância e juventude ao lado do pai colhendo látex da Hevea brasiliensis, o nome científico da seringueira.

Embrenhado na mata, sem escola num raio de quilômetros, Chico foi analfabeto até os 16 anos. O encontro que viria a mudar isso e a história posterior da sua vida ocorreu em 1956, quando ele tinha 12 anos.

Foi aí que ele conheceu o refugiado político Euclides Fernandes Távora, que havia participado, junto com o líder comunista Luís Carlos Prestes do chamado levante comunista em 1935, uma tentativa de golpe contra o governo do presidente Getúlio Vargas.

Fugindo da polícia, Távora se refugiou na floresta no Acre, justamente na região em que Chico vivia. O contato e a amizade com o ativista lhe abriram as portas do conhecimento, que, posteriormente, o levou à militância política e ambiental. Távora o alfabetizou e passou a ele ideias sobre o comunismo e noções sobre a história e a realidade social do Brasil.

Depois disso, mais instruído que seus companheiros seringueiros, Chico Mendes passou a pensar e se questionar sobre os problemas da sua região e, principalmente, de seu trabalho, baseado na extração da borracha, uma atividade econômica que historicamente sempre havia gerado conflitos e miséria na Amazônia.

Ela era alicerçada no chamado "aviamento", isto é, na troca do látex coletado pelos seringueiros por produtos e mercadorias industriais. Era uma relação desigual, na qual os extrativistas sempre ficavam devendo.

Foi nesse contexto que começaram a serem criados os primeiros sindicatos de seringueiros no Acre, história na qual Chico esteve envolvido desde o começo.

Já em 1975, ele passou a integrar a diretoria do Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia, o primeiro criado no Acre, e que era presidido por Wilson Pinheiro.

Um ano depois, esse sindicato criou a estratégia dos chamados "empates" das derrubadas, nos quais os seringueiros desmontavam os acampamentos e paravam as motosserras dos peões dos fazendeiros encarregadas de derrubar floresta.

Como era de se esperar, essas ações desagradaram os proprietários dos seringais. Por causa de sua atuação à frente do sindicato, Pinheiro foi assassinado em 21 de julho de 1980.

Sua liderança não ficou vaga por muito tempo, no entanto. Em 1983, Chico Mendes foi eleito presidente do STR de Xapuri e continuou e intensificou a luta pelos direitos dos seringueiros, além da luta em defesa da floresta e contra a ditadura.

Daí então até seu assassinato, sua atuação e seu prestígio, principalmente no exterior, só cresceram.

A antropóloga Mary lembra que atuação política institucional de Chico havia começado um pouco antes. "Em 1981, quando o conheci, ele já era vereador [exerceu o cargo de 1977 a 1982, na Câmara Municipal de Xapuri]", conta.

"O Acre vivia um momento crítico de venda de antigos seringais para empresas do sul do Brasil, que passaram a desmatar a floresta e expulsar os seringueiros. Chico liderava o movimento dos empates - impedir as derrubadas e defender o meio de vida dos seringueiros, baseado na coleta de borracha e de castanha."

Hoje, ela diz que ficou "muito impressionada" com o trabalho que ele fazia e com o movimento dos empates, tanto que resolveu ajudá-los.

"Chico queria organizar escolas e cooperativas para tirar os seringueiros do analfabetismo e eu ajudei a implantar o Projeto Seringueiro de Educação, abrindo as primeiras escolas na floresta", relembra.

"Ficamos muito amigos em consequência desse projeto."

Uma das consequências disso foi que, em 1985, os dois organizaram juntos o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em Brasília, no qual surgiu a ideia da reforma agrária do seringais - a proteção da floresta sem a divisão de lotes para as famílias, mas como uma grande reserva ambiental.

"Em 1986, criei o Instituto de Estudos Amazônicos (IEA), em Curitiba", conta Mary.

"Reuni advogados e várias lideranças dos seringueiros e formulamos a proposta de Reserva Extrativista, unidade de conservação de uso sustentável e ajudamos a criar as primeiras unidades. Eu e Chico mantivemos parceria política e amizade até 1988, quando ele foi assassinado. O IEA continua apoiando o movimento dos seringueiros em toda a Amazônia."

O dia daquele ano em que Chico foi morto não sai da memória de Guma.

"Eu estive com ele minutos antes do tiro fatal", conta.

"Ele tinha estado viajando até o dia anterior, participando de um encontro de seringueiros em Sena Madureira [a 144 km de Rio Branco e a 333 de Xapuri], trabalhando na organização regional do Conselho Nacional de Seringueiros. Ele voltou para Rio Branco e por aqui ficou resolvendo a burocracia para liberação de um caminhão que havia sido concedido mediante o empréstimo BNDES para o Conselho Nacional de Seringueiros para ser repassado a cooperativa de Xapuri."

De acordo com Guma, Chico chegou a Xapuri, no dia 21, com o caminhão novo.

"As pessoas estavam admiradas", lembra. "Mas nem todas positivamente. Havia muito preconceito, de boa parte da cidade, contra o Chico, especialmente por causa das disputas políticas. Ele era um militante político e isso dava uma certa divisão na cidade. Quando ele chegou, eu estava muito preocupado, porque já fazia dias que eu não via os pistoleiros."

Aqui Guma contextualiza sua preocupação. Ele conta que, de maio a dezembro daquele ano de 1988, todos os dias, em frente ao sindicato, dois pistoleiros ficavam postados o dia inteiro.

"Eles ficavam por ali, sentados na praça, na sombra de uma árvore que tinha em frente", explica.

"Além disso, havia sempre dois pistoleiros também em frente ao local onde eu morava, em Xapuri, que ficava a cerca de 200 metros do sindicato, numa outra rua. E de repente eles tinham sumido."

Quando Chico Mendes chegou à cidade, perguntou a Guma como estava a situação. Ele respondeu que estava muito preocupado.

"Eu realmente estava angustiado, coração apertado, e falei para ele que estava muito preocupado, porque eu não estava vendo os pistoleiros", conta.

"O Chico respondeu que no dia seguinte daria uma olhada na situação. Então, no outro dia, 22 de dezembro, já final da tarde, por volta das 18h, eu cheguei na casa dele e o encontrei jogando dominó, um dos seus hobbies, com dois dos policiais que estavam fazendo a segurança dele."

Chico o convidou para participar do jogo, mas Guma preferiu ficar de fora, porque continuava angustiado e preocupado.

Nesse ponto, a segunda mulher do seringueiro, Ilzamar, disse a ele que queria servir o jantar, porque iria começar a novela. "Era uma quinta-feira, dia do penúltimo capítulo de Vale Tudo, cujo grande mistério era quem havia matado Odete Roitman", lembra o amigo.

"O Chico me convidou para jantar, mas eu recusei, dizendo que continuava preocupado. Ele me falou que também não tinha visto os pistoleiros e que isso era realmente estranho."

Guma disse que daria uma volta pela cidade e Chico reiterou o convite para jantar.

"Ele falou: 'Então, vai, enquanto vou tomar um banho, e volta para jantar'", relembra.

"Com minha moto de 125 cilindradas, andei por todos os pontos, onde os pistoleiros sempre estavam, inclusive numa chacarazinha na qual eles faziam umas festas privês. Não encontrei nada, tudo vazio, tudo às moscas e em silêncio. Eu não sei em que ponto eu estava da cidade quando deram o tiro. Quando fui chegando com a moto, a mulher dele saiu gritando: 'Ô Guma, atiraram no Chico'."

Enquanto socorriam o seringueiro e o levavam ao hospital "num caminhãozinho", Guma foi em casa se armar.

"Peguei um revólver que eu tinha, carreguei, peguei mais duas carga de bala, coloquei numa bolsa a tiracolo e fui até o hospital, mas não me deixaram entrar", conta.

"Então comecei a telefonar paras pessoas, para avisar. Liguei para Rio Branco, Brasília, Rio de Janeiro, para Mary (Allegretti) em Curitiba, enfim, para os amigos, os avisando."

Guma voltou então ao hospital e, desta vez, o deixaram entrar, embora estivesse de bermuda, motivo pelo qual havia sido impedido da primeira vez.

"Quando eu passei do hall de entrada do hospital, numa sala ao lado vi uma maca", recorda.

"O Chico estava nela, estendido só de short - ele ia tomar banho - com o lado direito do peito todo perfurado de chumbo."

O estrago no peito do seringueiro foi feito por um tiro de uma espingarda calibre 20, com cartucho carregado com grânulos de chumbo que se espalham, disparado por Darci Alves, a mando do seu pai, o grileiro de terras Darly Alves, então conhecido por casos de violência em vário lugares do Brasil.

A repercussão mundial foi tamanha que, pela primeira vez, um assassinato em conflito agrário no norte do país foi a julgamento e acabou em condenação dos acusados.

Em 1990, os dois foram condenados a 19 anos de prisão, fato inédito na época.

Em 1993, Darci e Darly fugiram, mas foram recapturados em 1996. Por causa de problemas de saúde, três anos depois o pai conseguiu o direito de cumprir a pena em prisão domiciliar. No mesmo ano de 1999, o filho passou ao regime semiaberto, em Xapuri. Ao final da pena, ele se mudou para Brasília e se tornou pastor evangélico.

A grande repercussão de seu assassinato tem explicações.

"Chico Mendes tinha uma formação política consistente sem ser radical e articulava apoio à luta dos seringueiros com a Igreja, os partidos políticos, a universidade, a imprensa", explica Mary.

"Tinha um pensamento claro a respeito da importância e do valor da floresta e lutava para defender que a floresta em pé valia mais do que derrubada - foi ele quem primeiro expressou essa ideia que hoje todos reconhecem como verdadeira."

Por isso, ele era muito atacado no Acre, principalmente depois que suas ideias passaram a ser conhecidas e respeitadas em nível internacional.

"No 1º Encontro em Brasília, ele conheceu um diretor de documentários baseado em Londres, Adrian Cowell, que passou a filmar seu trabalho e o recomendou para dois prêmios importantes. Por isso ele ficou conhecido no mundo inteiro antes de ser conhecido no Brasil. Razão pela qual sua morte teve tanta repercussão internacional."

Os dois prêmios a que Mary se refere são o Global 500, concedido a Chico em 1987 pela Organização das Nações Unidas (ONU) na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, dada em 1988 nos Estados Unidos.

O documentário de Cowell, chamado Eu Quero Viver, foi lançado em 1987.

Com tudo isso, o seringueiro e sua luta passaram a ser conhecidos no mundo todo, o que atraiu jornalistas e pesquisadores para visitar os seringais, difundindo suas ideias pelo planeta.

Se para o mundo e para as questões ambientais Chico Mendes deixou um legado político, para família a herança foi de ensinamentos e de vontade de lutar pelas mesmas causas.


Pelo menos para a filha do primeiro casamento, com Eunice Feitosa Mendes, do qual nasceu a filha única do casal - ele teve mais dois filhos com Ilzamar -, Ângela, que soube que estava grávida de Angélica Francisca Mendes Mamede no dia da missa de sétimo dia do pai.

Para ela, receber a novidade naquele momento foi realmente muito estranho.

"De repente você perde um ente querido, está no maior sofrimento e então descobre que que vai nascer alguém", diz.

"O mundo é muito isso, cheio desses ciclos, que são naturais, mas nunca estamos preparados para perder ninguém. Ao mesmo tempo, a novidade de uma vida traz muita esperança, muita renovação."

Em relação a seu pai, com o qual só passou a conviver na adolescência, Ângela diz que ele tinha qualidades que ela admirava e procurou tomar para ela.

"Uma delas é o espírito de coletividade, de nunca fazer as coisas sozinho, porque elas ganham mais força quando são feitas de forma coletiva", explica.

"Sempre buscar apoio e parcerias, porque desde sempre a luta que se faz pela preservação do meio ambiente, pela defesa da natureza, precisa ser coletiva. Meu pai e seus companheiros já sabiam disso."

Ângela diz que Chico deixou para ela um legado de persistência, de luta, de pensar sempre no próximo e no bem comum.

"É isso assim, de ser uma pessoa que sabe ouvir, e, de uma certa forma, buscar soluções, tentar encontrá-las para possíveis problemas", acrescenta.

"Foram muitos os ensinamentos que ele nos legou, que ele deixou a mim. Eu sinto forte isso, essa coisa de fazer junto."

Para Ângela essas qualidades são imprescindíveis, porque a luta de hoje continua a mesma da época do seu pai.

"É a mesma luta pela conquista dos territórios e pela consolidação deles", explica.

"Apesar de mais de 30 anos depois já terem sido criadas quase uma centena de reservas extrativistas, muitas ainda não foram de fato consolidadas, ainda não têm seus instrumentos de gestão consolidados. Estamos avançando devagar nisso."

Sua filha, Angélica, neta do seringueiro, que é bióloga e doutora em Ecologia e atua como voluntária no Comitê Chico Mendes, diz que seu avô tinha uma frase que ela nunca esquece.

"Ele dizia que primeiro pensou que estivesse lutando para salvar uma seringueira, depois achou que estava lutando pela floresta amazônica e, por fim, ele percebeu que eu estava lutando pela humanidade", cita.

"Hoje mais do que nunca sabemos sabe que essa luta é global, que estamos falando de uma crise climática de todo o planeta, de uma emergência que estamos vivendo. Estamos vendo aí as consequências, como tornados, um monte de secas extremas, eventos de cheias, enfim, estamos vivendo uma desregulação do clima global muito grande. Por isso, a luta dele é muito atual." (Fonte:  Evanildo da Silveira, BBC)

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