PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA AJUIZOU AÇÃO DIRETA PARA DERRUBAR PROIBIÇÃO DE USINA NUCLEAR NA BAHIA

O procurador-geral da República, Augusto Aras, ajuizou uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar derrubar o trecho da Constituição da Bahia que veda a instalação de usinas nucleares no estado. 

De acordo com fontes do setor elétrico, a ofensiva de Aras tem como pano de fundo os projetos do governo federal para ampliar o número de centrais de geração de energia nuclear, incluindo a eventual construção de uma unidade na cidade ainda não definida se na Bahia ou Pernambuco.

 A ação questiona a legalidade de parte do artigo 226 da Constituição estadual, promulgada em 5 de outubro de 1989. Além de proibir a instalação de usinas nucleares, o dispositivo também veta a manutenção de depósitos de resíduos atômicos ou radioativos gerados fora da Bahia.

No setor elétrico, a derrubada do artigo no STF é dada como certa, já que, pela Constituição brasileira, cabe à União, e não aos estados, a prerrogativa de regular atividades nucleares.    

A ligação entre o pedido do procurador-geral e os planos do governo federal para gerar energia nuclear no estado, ainda de acordo com fontes do setor, ficou bastante clara pela data em que a ação foi movida. Quase 32 anos após a Constituição baiana entrar em vigor,  o veto às usinas, fruto de forte mobilização de ambientalistas à época, só foi questionado no último dia 16 de junho.   


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AREENSE HELLOYSA DO PANDEIRO EMOCIONA O BRASIL E AVANÇA NO THE VOICE KIDS

A participante de Areia, na Paraíba, mostrou todo o seu gingado e talento com "Eu só quero um Xodó", de Dominguinhos e Anastácia.  "A gente só tem a se dar bem com essa tarde de domingo", disse o técnico Brown após ficar impressionado com a performance.

Na reta final o The Voice Kids foi marcado por muita emoção neste domingo (12). Com a transmissão ao vivo do programa, que já está nas fases das Quartas de Final, a voz favorita foi escolhida com o voto do público.

No time de Carlinhos Brown a classificada foi a areense Helloysa do Pandeiro que emocionou os espectadores ao soltar a voz com “Eu só quero um xodó”, clássico de Dominguinhos e Anastácia.

*Time Carlinhos Brown; Helloysa do PandeirO e Izabelly e Sofia 

*Time Gaby Amarantos Público salvou: Luane Gaby salvou: Izabelle e Izadora 

*Time Michel Teló Público salvou: Gustavo Teló salvou: Maria Victória e Laís

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RIO SÃO FRANCISCO: CANTOR TARGINO GONDIM GRAVA CLIPE DO NOVO CD BELO CHICO

O cantor e compositor Targino Gondim amanheceu neste sábado (11) gravando o clipe e live do "nosso belo Chico". Targino revelou que está em estúdio gravando um CD que se chamará Belo Chico. “É uma homenagem ao Rio São Francisco, feita por mim e meus parceiros Roberto “Gogó” Malvezzi e Nilton Freitas. 

O objetivo é fazer uma viagem pelo Rio São Francisco, mostrando o que ele, Opará, significado indigena Rio Mar, tem de tão bom em toda a sua história de vida, os ribeirinhos, quais as dificuldades que o rio passa agora, como as questões sociais e ambientais, o seu o habitat. "Estamos transformando isso tudo em música, poesia, imagens”, diz Targino Gondim.

Além de canções inéditas ligadas ao Rio São Francisco o projeto prevê alguns clássicos, como Petrolina Juazeiro (Jorge de Altinho), Sobradinho (Sá & Guarabyra), Matança (Jatobá). Nesse caso, por ser um trabalho com caráter também didático, haverá versão tanto digital quanto em CD, voltado para salas de aulas e palestras. 

O cantor, em contato com a reportagem do BLOG NEY VITAL, voltou a declarar a defesa intransigente com o Velho Chico e ampliar o eco pela revitalização urgente, os investimentos em saneamento e recuperação das suas margens para que todos tenham vida e vida em abundância. 

Targino Gondim foi destaque no Jornal Folha de São Paulo, um dos mais lidos da América Latina. Aos 47 anos, pernambucano de Salgueiro e criado em Juazeiro, na Bahia, o sanfoneiro busca agora neste trabalho através da música o melhor sentimento para valorizar o meio ambiente.

Targino é criterioso e nos acordes da ousadia e empreendedorismo abre sempre novos caminhos inspirado nas lições de Luiz Gonzaga que pediu para não deixar o forró morrer.  

Com 28 discos gravados, seu melhor cartão de visitas talvez seja a autoria do maior sucesso gravado na voz de Gilberto Gil nos últimos tempos, "Esperando na Janela" (Targino Gondim, Manuca Almeida e Raimundinho do Acordeon). Mas é além de sua música que Targino impressiona praticando os acordes como empreendedor da sanfona.

Targino é responsável por quatro festivais na Bahia. Criou com o parceiro Celso Carvalho, o Festival Internacional da Sanfona. Este ano o evento reuniu mais uma vez, em Juazeiro sanfoneiros do Brasil e de outros países, sendo desta vez tudo online,  devido a pandemia o festival aconteceu nas plataformas digitais. 

Targino também produz o Festival de Forró de Itacaré, cidade vizinha a Ilhéus.  Em Andaraí, o e evento Conecta Chapada é sucesso, tendo como palco à beira do rio Paraguaçu. Na Chapada Diamantina o Festival de Forró da Chapada realizado em Mucugê, Bahia é um dos mais esperados pelo público.  Para 2022 outros projetos aguardam que este período de pandemia passe para ser posto em prática. 

BOATO RIBEIRINHO: O novo cd de Targino Gondim, Belo Chico, vai trazer a poesia de Wilson Duarte, que tem parceria musical de Nilton Freitas e Wilson Freitas, bulindo com emoção dos ribeirinhos, na interpretação da música Boato Ribeirinho.

A canção, cantada e declamada rio afora há mais de 20 anos, é um verdadeiro grito de alerta contra os crimes ambientais cometidos ao longo dos anos. “Corre um boato na beira do rio, que o Velho Chico pode morrer, virar riacho e correr, pro nada, viajando por temporada, quando a chuva do meu deus dará chegar...”

Além da interpretação de Nilton Freitas, um dos autores, Boato Ribeirinho também ganhou vida nas vozes do próprio Targino Gondim e Elba Ramalho, Julia Ribas, Endira Freitas, Alexandre Aguiar, Gervilson Duarte, dentre outros.

 

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INSCRIÇÕES ABERTAS PARA O FESTIVAL DE ARTE E CULTURA DO SEMIÁRIDO

Infância, Educação e Convivência com o Semiárido, esse é o tema do Festival de Arte e Cultura do Semiárido que está com inscrições abertas para participação em diversas categorias até o dia 27 de setembro. 

O evento realizado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) acontecerá de forma virtual e será transmitido através do canal TV IRPAA no YouTube, no dia 02 de dezembro de 2021.

Com seis categorias, entre elas: artes cênicas, contação de histórias, dança, fotografia, música e poesia, o Festival objetiva divulgar a produção artístico cultural dos/as artistas populares e incentivar o protagonismo de crianças e adolescentes nas diversas linguagens audiovisuais. Além de abordar de maneira lúdica, temáticas que se entrelaçam com os direitos da criança e do adolescente, pois em um contexto de negação de direitos e redução orçamentária para políticas públicas, as crianças e adolescentes são os primeiros a serem impactados.

Um dos integrantes da comissão organizadora do Festival, Felipe Sena, fala sobre a importância da realização do evento também para mostrar a força que a arte e a cultura têm no Semiárido. "Nós somos uma região extremamente rica, uma diversidade cultural enorme de várias manifestações culturais, folclóricas e que precisam ser vistas (...) Se a gente não mostrar nossa produção cultural ela, consequentemente, vai ser abafada por outras produções culturais que não falam do Semiárido, que não exaltam a sua beleza, a sua riqueza, suas potencialidades", expõe Sena.

As inscrições para participar do Festival são gratuitas e devem ser feitas através do formulário on-line, até o dia 27 de setembro de 2021. No formulário, o proponente deve indicar em qual categoria deseja participar. Cada participante poderá se inscrever até 1 (uma) vez, valendo a última enviada.

Para mais informações confira a convocatória do Festival de Arte e Cultura do Semiárido. Em caso de dúvidas, basta entrar em contato através do e-mail: comunicação@irpaa.org, com o assunto FESTIVAL- DÚVIDAS.

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PUBLICAÇÕES REFORÇAM A IMPORTÂNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS QUE GARANTAM A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E RENDA PARA AS MULHERES

Duas grandes ações metodológicas do Governo do Estado, por meio do Projeto Pró-Semiárido, estão agora sistematizadas e podem inspirar outras ações de governos, empresas e sociedade civil organizada. São elas a metodologia da Caderneta Agroecológica e da Ciranda das Crianças. 

As publicações foram escritas coletivamente pelas(os) técnicas(os) do projeto e os diversos parceiros do Pró-Semiárido junto às famílias agricultoras do Semiárido baiano. 

"Já são sete anos de caminhada do projeto trabalhando as ações especificas de gênero, mas levando também as questões étnico-raciais e geracionais. E, hoje, em particular, o Pró-Semiárido, ao desenvolver as suas ações no enfoque de gênero, conseguiu incluir criança, idosos(as), jovens, mulheres e homens para entender que estas ações envolvem todos e todas que estão no universo rural", destacou a assessora de gênero do Projeto e organizadora das duas publicações, Elizabeth Siqueira. 

As publicações, intituladas Ciranda das Crianças: experiência lúdico-metodológica no âmbito do projeto Pró-Semiárido e Cadernetas Agroecológicas: a revolução silenciosa das guardiãs da agrobiodiversidade, estão disponíveis para consulta e download nos sites da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR). Ambas mostram a amplitude e potência das duas metodologias para o empoderamento, geração de renda e autonomia das mulheres agricultoras. 

O lançamento contou com a presença de parceiros como o Administrador Joaquim Neto, da Associação Regional dos Grupos Solidários de Geração de Renda (Aresol), entidade responsável pelo processo formativo de cirandeiras(os) nos Territórios Piemonte da Diamantina e Bacia do Jacuípe; a doutora em Educação e colaboradora do Instituto Rumos, Ivânia Freitas; a técnica do componente social do Pró-Semiárido, Giçara Cadidé; e as Engenheiras Agrônomas Dulce Carvalho, do Serviço de Assistência Socioambiental no Campo e Cidade (Sajuc), e Aline Nunes. 

A Caderneta é uma ferramenta desenvolvida pela organização não governamental CTA Zona da Mata de Minas Gerais. A ferramenta metodológica permite que as agricultoras façam o controle sobre o que produzem em seus quintais a partir da anotação diária de venda, consumo, troca e doação. De forma simples e dinâmica, a caderneta tem provocado uma mudança significativa na autoestima das mulheres, que passaram a planejar melhor a produção e comercialização dos seus produtos e ter seu trabalho visibilizado e valorizado. 

Sobre a adoção da Caderneta Agroecológica, Aline Nunes destaca a importância de o Estado assegurar recursos para fomento dessas e de outras ações de gênero: "Muitas vezes os projetos se perdem na transversalidade e eu queria aqui enfatizar a importância de se ter um recurso previsto para estas ações nos projetos públicos pois os resultados são maravilhosos". 

Já Dulce Carvalho salienta a transformação gerada a partir do processo metodológico de adoção da ferramenta: "Através dessa metodologia, que faz as agricultoras se descobrirem no processo, nós, técnicas, também nos descobrimos. Nos descobrimos feministas, descobrimos que é por este caminho que a gente tem que andar".  (Fonte: Ascom SDR/CAR)


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DIA NACIONAL DO CERRADO: BIOMA JÁ PERDEU 50% DA VEGETAÇÃO ORIGINAL E PESQUISADORAS ALERTAM PARA AUMENTO DO DESMATE E DO FOGO

O Dia Nacional do Cerrado é celebrado neste sábado (11), mas, neste ano, não há motivo para festejar: o bioma tem visto, nas últimas semanas, recordes de incêndio e de desmatamento que, para especialistas ouvidas pelo G1, são preocupantes.

"A preocupação é que é um bioma que já perdeu 50% da cobertura original, que já vem bastante pressionado sob as transformações das últimas décadas", explica a pesquisadora Mercedes Bustamante, professora titular da Universidade de Brasília (UnB) e uma das principais referências sobre o bioma no país.

De 1º janeiro até 31 de agosto, o Cerrado viu a maior quantidade de pontos de fogo para esse período desde 2012, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Considerados apenas os números do mês, houve a maior quantidade de focos de incêndio desde 2014 – mesmo com uma proibição do uso do fogo no país em vigor.

O desmatamento também cresceu: no mês passado, o bioma teve a maior área sob alerta de desmatamento desde 2018, de acordo com o Inpe.

"Quando você vê um aumento do alerta, é um sinal bastante negativo, porque a gente deveria estar controlando o desmatamento do Cerrado", completa Bustamante, que também integra a Academia Brasileira de Ciências.

O crescimento do desmate no bioma tem a ver com a expansão da nova fronteira agrícola brasileira – na região chamada de "Matopiba", por abarcar parte dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

"O avanço do desmatamento no Cerrado, sobretudo nos últimos anos, é uma realidade preocupante. O plantio de commodities agrícolas nessas regiões vem causando grande impacto para a natureza e povos e comunidades tradicionais que aí habitam", afirma a cientista Terena Castro, assessora técnica do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), também em Brasília.

Na avaliação de Bustamante, da UnB, o que ocorre no Cerrado é a repetição da degradação que houve na região sul do bioma – e que, hoje, avança para o norte, na região de fronteira entre os estados citada acima.

"Muitas vezes as pessoas abrem a área, utilizam de forma inadequada, a produtividade cai, você abre novas áreas e vai aumentando o desmatamento, deixando terras degradadas para trás", explica.

De 1970 até 2018, a perda de bioma no Cerrado foi de 50% – mais que o dobro da Amazônia, que perdeu 20%, segundo um levantamento feito pela ONG WWF.

A velocidade de expansão, a intensidade do uso do solo e a extensão das áreas ocupadas pela agricultura no bioma atualmente são preocupantes, afirma a cientista da UnB.

"Hoje você tem uma enorme quantidade de terras desmatadas no Cerrado que poderiam ser utilizadas novamente para a produção. A gente deveria estar modificando o rumo dessa história e encaminhando ações de conservação", diz.

Recuperar o bioma, diz a pesquisadora, custa mais dinheiro do que simplesmente desmatar novas terras para plantar. Mas, no curto e no longo prazo, a destruição ambiental custa caro: o Brasil corre o risco de não ser mais uma potência na produção e exportação de alimentos.

Para Terena de Castro, a queda na fiscalização ambiental nos últimos anos contribui para a situação precária.

"A fragilização dos órgãos ambientais responsáveis pela fiscalização, bem como o enfraquecimento de políticas públicas para o meio ambiente nos últimos anos, contribuem para esse cenário que se anuncia cada vez mais catastrófico", afirma a especialista.

SECA ANUNCIADA: Por ser responsável pelo abastecimento hídrico de 8 das 12 regiões hidrográficas brasileiras, o que acontece no Cerrado não fica só lá: influencia o resto do país. (Entenda melhor aqui).

Se a vegetação do bioma é retirada, o solo perde a capacidade de reter umidade – o que significa menos água indo para as bacias dos rios: vem a seca. Ao mesmo tempo, aumenta a evaporação da água e a temperatura da região. Para completar, quanto mais vegetação é destruída, menos chove.

"A gente corre o risco de deixar o país numa situação de vulnerabilidade hídrica maior do que já está. Você tem a convergência das mudanças climáticas globais com as mudanças locais, que são essas de uso da terra. Essa combinação efetivamente acentua esses efeitos da degradação e reduz a capacidade do sistema de armazenar carbono, de armazenar água", alerta Bustamante.

A seca pela qual passa o rio Paraná, por exemplo – a maior desde 1944 – é a crônica de uma morte anunciada. O Cerrado, que alimenta a bacia, já vinha tendo menos chuva nos últimos anos, lembra a cientista.

"Em um país habitável, a gente vai precisar ter água, temperatura controlada. Está batendo recorde de área queimada no Cerrado e a gente sente o impacto disso na qualidade do ar em Belo Horizonte. Aqui em Brasília está horrível – eu abro a janela, entra fuligem. A gente começa a ver a poluição em São Paulo com as queimadas e as pessoas começam a perceber, 'o que é que está queimando?' É basicamente o Cerrado", relata Bustamante.

Agora, resta esperar pelo período chuvoso, em novembro, para a situação melhorar.

"Eu gostaria de ter um Dia do Cerrado em que a gente comemorasse a diminuição do desmatamento e o aumento da restauração. Vamos ver se a gente vai ter um dia do Cerrado que tenha essa boa notícia para dar", diz. ( Lara Pinheiro, G1 Foto Inpe)

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1962: JOÃO PEDRO TEIXEIRA, LÍDER DAS LIGAS CAMPONESAS MARCADO PARA MORRER

O filme Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho, sempre me emociona e faz refletir sobre a vida e atuação política deste nosso Brasil. Conheci pessoalmente a camponesa que se tornou líder das Ligas Camponesas, Elizabeth Teixeira,  viúva do homem que ameaçado para morrer e que teve a vida interrompida por pistoleiros a mando do latifundiário, o capital. 

O próximo ano 2022, vai completar 60 anos do assassinato do fundador das Ligas Camponesas da Paraíba. A proposta das Ligas Camponesas surgiu no engenho Galiléia, Pernambuco e se alastrou no Nordeste e outras regiões do Brasil É no Engenho da Galiléia, o primeiro caso de reforma agrária no Brasil após o fim da 2º Guerra Mundial.

Foi em virtude das dificuldades legais para se criarem sindicatos rurais que surgiram as Ligas Camponesas, com igual sentido associativo.  O filme Cabra Marcada para Morrer narra a trajetória da fundação das ligas camponesas.

As primeiras tentativas de se fundar associações camponesas no estado da Paraíba, como viria a ser a Liga Camponesa de Sapé, ocorreu através de iniciativas do camponês João Pedro Teixeira em 1954, resultado de sua experiência em movimentos de organizações de trabalhadores adquirida durante sua vivência em Pernambuco.

João Pedro conseguiu junto com a esposa Elizabeth Teixeira unir os agricultores em defesa da dignidade do trabalho e direitos. Foi assassinato no dia 02 de abril de 1962.

Reproduzo aqui o discurso histórico do poeta, advogado e tambpem compositor da música Tropeiros da Borborema, Raymundo Asfora, pronunciado em 03 de abril de 1962, no Ponto Cem Reis, em João Pessoa, Paraíba, horas após o sepultamento do líder da Liga Camponesa de Sapé, João Pedro Teixeira, morto no dia anterior em emboscada ordenada por usineiros do chamado Grupo da Várzea. 

Confira na íntegra, o discurso:  São tão mesquinhos, no seu egoísmo, que, na expressão de um ironista, deixariam o universo às escuras, se fosse proprietários do sol.

“Um tiro franziu o azul da tarde e ensangüentou o peito de um camponês. Foi assim que João Pedro morreu. Eu o vi morto no hospital de Sapé. Peguei na alça do seu caixão e, ao lado de outros companheiros e milhares de camponeses, levei-o ao cemitério. Estava com os olhos abertos. A morte não conseguiu fechar os olhos de João Pedro. Brilhavam numa expressão misteriosa e estranha, como se tivessem sido tocados por um clarão de eternidade. 

Os seus olhos, os olhos de João Pedro, estavam escancarados para a tarde. E, dentro deles, eu vi – juro que eu vi – havia uma réstia verde que bem poderia ser saudade dos campos ou o fogo da esperança que não se apagara. Tinha sido avisado de que o perseguiam. Assistira, certa vez, ao lado da esposa, a uma ronda sinistra em torno do seu lar. Talvez soubesse tudo, mas aprendera, na poesia revolucionária do mundo, que é melhor morrer sabendo do que viver enganado.

Por que mataram João Pedro? Por que o trucidaram? E de emboscada? Mataram João Pedro porque ele havia sonhado com um mundo melhor para si e para os seus irmãos. Idealista puro, ele não compreendia nunca, na sua inteligência ágil e no seu raciocínio acertado, como todas as terras da Várzea do Paraíba pertenciam apenas a proprietários que poderia ser contados nos dedos de uma mão. E tantos homens sem terra e tantos homens aflitos e tantos homens com fome! 

Sonhara com a reforma agrária. Mas, não pensava na revisão dos estatutos das glebas empunhando uma foice ou um bacamarte, na atitude dos desesperados. Apelava, apenas, para a organização da opinião campesina, da opinião dos campos, porque organizada a opinião do povo, tudo mais ficaria organizado.

Nunca me deparei, paraibanos, com uma população rural tão penetrada e compenetrada de consciência de classe, do valor da disciplina e da coesão como os lavadores de Sapé. Foi João Pedro quem os convenceu, mobilizando-os, ardentemente, em cada feira e em cada roçado. Argumentando sempre, com uma fé inquebrantável, sobre a necessidade da formação do seu sindicato. De um sindicato igual aos vossos, trabalhadores de João Pessoa, respeitado pelos patrões, protegido e protetor. 

Por que os latifundiários não querem respeitar as ligas camponesas? Por quê? Não se organizam eles nas cidades? Nas associações comerciais, nas federações das indústrias, não frenqüentam eles o Clube Cabo Branco, o Clube Astréa, os clubes do Recife e do Rio? Por que os camponeses não têm direito de ter a sua Liga?

O campo se priva de tudo para nos promover de tudo. Sem a enxada, que fecunda o ventre da terra, para a gravidez da semeadura e o parto da colheita, nada chegará às nossas mesas. A vida vem dos campos. Sem o suor, sem a fadiga dos campônios, jamais alcançaremos a fartura do povo, e a pobreza será cada vez mais infeliz e desamparada. 

Os latifundiários, todavia, na sua ganância, fingem desconhecer essa verdade, e na sua cupidez e na sua egolatria, negam aos pobres até o direito de ter fome. Fecham as suas propriedades ao cultivo, trazem-nas avaramente estagnadas, mandando matar aqueles que desejam transformá-las num instrumento de produção e de felicidade social. São tão mesquinhos, no seu egoísmo, que, na expressão de um ironista, deixariam o universo às escuras, se fosse proprietários do sol.

Eu vi João Pedro morto. Os seus olhos ainda estavam abertos. Eles tinham visto muito. Tinham visto quase tudo à sombra do Sobrado, povoado de Sapé, ouvira, talvez, contar na varanda de sua casa tosca, a história dos pais e dos avós que cultivaram aquelas terras. Sempre sob o regime do cambão, da terça e do cambito. Desse miserável cambão, dessa hedionda terça, desse desumano cambito, que deve ser varrido de nossa paisagem rural, nem que seja a golpes, nem que se a impacto das multidões revolucionárias nas praças.

Ouvira contar que, certa vez, o pai fora enxotado cruelmente, pelo capataz do amo, pelo simples fato de terem discutido sobre uma cuia de feijão. Sofria, ele próprio, as angústias daquele servilismo, doendo, agora, sobre o corpo exausto, com o suor da agonia que lhe escorria pela alma, fermentando, então, no íntimo, a convicção de que a dignidade humana não poderia ser tão aviltada. Urgia uma reação e João Pedro, à sombra do Sobrado, meditava e sonhava com um mundo melhor para os seus filhos. 

Eles não haveriam de amargar a mesma servidão. Sonhou. Haveria de pagar pelo crime de ter sonhado. O seu sonho era uma visão perigosa de liberdade. Os latifundiários não podem compreender que os corações dos humildes possam aninhar tão elevados sonhos. Contrataram sicários, armaram pistoleiros, puseram-se na tocaia. João Pedro deveria ser eliminado.

Acuso, perante o governo e a Paraíba, que há um sindicato da morte implantado na Várzea para ceifar a vida dos homens do campo. Ninguém se iluda: aquilo não foi mandado de um homem só. Todos devem se levantar em favor da luta dos camponeses. Todos, principalmente vós, pessoense, depositários da vida indômita da raça tabajara, para que, em face da violência e da opressão, os camponeses não se sintam desamparados. Mataram João Pedro. 

Nunca mais poderei os seus olhos. Os olhos dos mortos não choram. Ele nos deixou, no transe derradeiro da vida, a dignidade final da sua morte. Sigamos o seu último exemplo. Ninguém derramará mais lágrimas. Os seus olhos queriam dizer que os camponeses, de tanto verterem suor, não têm, sequer pranto para derramar outras lágrimas.

Paraibanos, esta cruzada é diferente das demais porque é maior do que todas as outras. Não há um candidato, não há partido político, não há um interesse exclusivista a ser defendido. Esta insurreição é hoje na história da Paraíba o seu grande apostolado. 

Ou defendemos o homem do campo, numa onda de solidariedade pacífica e irreprimível, pressionando as elites dirigentes para uma revisão da estrutura jurídica vigente, que os depaupera e degrada, efetivando urgentemente a reforma das leis agrárias, ou o Brasil será a pátria traída pelo poder econômico que já nos vem atraiçoando nos governos da República e no parlamento nacional.

É inútil matar camponeses. Eles sempre viverão. Antes de morrer, João Pedro era apenas a silhueta de um homem no asfalto. Mas, agora, paraibanos, João Pedro virou zumbi, virou assombração. É uma sombra que se alonga pelos canaviais, que bate forte na porta das casas grandes e dos engenhos, que povoa a reunião dos poderosos, que grita na voz do vento dentro da noite, e pede justiça, e clama vingança. Que passeia pelas estradas de Sapé, que fala, pela boca de milhares de criaturas escravizadas, a mesma língua que, com a sua morte, não se perdeu porque a mensagem dos verdadeiros líderes não se esgota.

Meditemos profundamente na destruição de João Pedro, da tremenda cilada que armaram contra o inesquecível líder, na carga de ódio que caiu sobre si com o peso de um destino. Ele sofreu no próprio sangue a grave ameaça que existia contra todos nós. Que todos os patriotas dobrem o joelho diante do seu túmulo”.

Ao discursar o então tribuno Raymundo Asfora emocionou todos os presentes e vez ecoar a voz de João Pedro Teixeira.

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