CICLISTA: DIA NACIONAL ALERTA SOBRE DESAFIOS PARA O TRÂNSITO MAIS SEGURO
Foi no dia 19 de agosto de 2006 que, após participar de um churrasco em comemoração ao aniversário da filha Lulu, de 8 anos, que Pedro, aos 25 anos e com um curso de biologia recém-concluído, optou por fazer algo que estava muito acostumado: “dar um pedal”.
O ciclismo, para ele, era mais que um modal de transporte. Era uma forma de manifestar todo o amor que sentia pela natureza e pela vida. Prova disso foi a viagem que fez a Trancoso, na Bahia. Foram 11 dias pedalando e fazendo novas amizades.
“Pedalar, para ele, era uma forma de diálogo com as populações locais. Ele pernoitava em quintais e na casa das pessoas que ia conhecendo. Meu filho fazia disso um modo de vida”, lembra Persio.
Em outra viagem, acompanhado de dois colegas, passou 45 dias pedalando pelo Tocantins e, no retorno a Brasília, margeou o Planalto Central na direção do Pantanal. “A vocação dele, como biólogo e ambientalista, estava presente também no ciclismo”, afirma Persio.
Após o impacto com um veículo a mais de 110 quilômetros por hora (km/h), o jovem Pedro foi arremessado a uma distância de 84 metros e morreu. O motorista Leonardo Luiz da Costa foi encontrado cerca de meia hora depois, tentando escapar de uma blitz no Setor de Indústria e Abastecimento. Ele estava alcoolizado. Sua placa já havia sido informada por um motociclista que testemunhou o crime. A história do biólogo é contada em um curta-metragem chamado Lulu Vai de Bike. Entre as atividades programadas pela organização não governamental (ONG) Rodas da Vida para o Dia Nacional do Ciclista em Brasília está a exibição do curta, às 19h, Espaço Infinu, na 506 Sul. Para acessar a programação, clique aqui.
“Não é acidente. É crime”:
“O Dia do Ciclista é ato político. Teve sua origem, mas não é a ela que se volta e sim à defesa do direito de o ciclista ter sua mobilidade segura e respeitada. O foco está na construção e não nas tragédias de tantas perdas. A mensagem é de mobilização e futuro”, resume o pai da vítima, ao se referir à tragédia que, hoje, simboliza uma quebra de paradigmas.
O que antes era visto como “acidente”, desde então passou a ser percebido, tanto pela sociedade quanto pela Justiça, como “crime”.
“Não há acidentes, há crimes no trânsito. Não são circunstâncias acidentais: são decisões conscientes tomadas por um adulto que decide dirigir acima da velocidade permitida, sob efeito do álcool ou transgredindo qualquer outra norma das boas práticas ao volante”, argumenta a coordenadora administrativa da ONG Rodas da Paz, Joyce Ibiapina.
Toda a mobilização decorrente desse crime praticado contra Pedro Davison favoreceu um ambiente que, dois anos depois, em 2008, resultou em uma legislação que salvou muitas vidas no trânsito: a Lei Seca.
RODAS DA PAZ: Persio e Beth Davison, junto à bicicleta que lembra o filho Pedro, no local do acidente - Foto Marcello Júnior/Agência Brasil
Persio lembra que, com a ajuda de organizações como a Rodas da Paz, um movimento tomou conta do país que, por meio do Congresso Nacional, criou leis visando uma “mobilidade respeitosa à vida, com um olhar para os ciclistas e pedestres”. Entre as causas defendidas pelo movimento está “o dever de reconhecimento, pelas leis e pela Justiça, da tipificação de crime no trânsito e a condenação e punição desses crimes pelo Judiciário”.
Na época, lembra Persio, havia o entendimento de que o tombamento impedia a construção de ciclovias em Brasília. “Hoje, o DF lidera a oferta de infraestrutura cicloviária, e a fiscalização mais efetiva tem coibido motoristas transgressores, a direção e o consumo de bebida”.
Em meio à luta pelos direitos dos ciclistas – e ao fato de seu filho ter se tornado um símbolo da causa – Persio e sua esposa, Beth Davison, tornaram-se conselheiros e, no caso dele, vice-presidente da ONG.
“Brasília tem seu simbolismo e cumpre esse papel de incentivo, motivando um movimento nacional para a transformação de nossas cidades e de nossa conduta, de forma a propiciar maior respeito aos ciclistas e aos pedestres, em relação a seus direitos e a uma mobilidade segura”, diz.
A ONG desenvolve diversas ações nas quais apresenta a bicicleta como o “mais promissor dos veículos” para enfrentar a crise econômica, climática e de saúde que o país atravessa, agravada pela pandemia.
“O transporte por bicicleta é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela ONU Habitat como alternativa ao transporte coletivo e ao transporte individual motorizado, para que as pessoas façam seus deslocamentos com risco reduzido de contágio pela covid-19 e possam praticar exercícios físicos regularmente, o que aumentou o número de bicicletas no mundo todo”, relata Joyce Ibiapina, do Rodas da Paz.
Outra entidade que atua na defesa dos direitos dos ciclistas é a União de Ciclistas do Brasil (UCB), que tem Felipe Alves como um de seus diretores. A entidade também aproveita a data de hoje para chamar a atenção ao “permanente descaso com ciclistas no trânsito”.
“Descaso por parte de motoristas, motociclistas e, principalmente, do Poder Público, tanto federal quanto estaduais ou municipais, que pouco se esforçam para tornar o trânsito mais seguro no Brasil, seja não atendendo às necessidades dos usuários mais vulneráveis (como pedestres e ciclistas), seja afrouxando as leis de trânsito e as punições previstas para condutores que não cumprem a lei”, declarou à Agência Brasil.
PALESTRA DISCUTE RAZÃO E SENSIBILIDADE AS TRAVESSIAS POSSÍVEIS
Para um mundo cada vez mais complexo, é necessário bem mais do que dominar conteúdos. Enfrentar as incertezas cotidianas requer pensamento capaz de ligar conhecimentos que estão separados, como defende um dos maiores pensadores vivos do mundo, o antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin.
O autor de mais de 50 livros, inclusive obras como “O Método” e “Introdução ao Pensamento Complexo”, é um dos convidados do Mundo Unifor. O evento realizado bienalmente pela Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, conta com programação que vai de 18 a 23 de outubro. Em 2021, será em formato híbrido, com o tema Razão e sensibilidade: as travessias possíveis.
A programação conta ainda com a participação de Niall Ferguson, um dos mais renomados historiadores da atualidade, que foi considerado pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.
Ambos os palestrantes participarão do Mundo Unifor por intermédio do projeto Fronteiras do Pensamento, que propõe uma análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro. A iniciativa já realiza encontros, presenciais e palestras online, há 14 anos. O Fronteiras do Pensamento se tornou uma referência cultural e tem apresentado os nomes mais relevantes para a reflexão sobre as diferentes crises globais que eclodiram no planeta.
Morin, que completou um século em julho passado, é considerado um dos maiores intelectuais vivos do mundo. Ao ressaltar a importância de trabalhar sob a perspectiva da complexidade e da transdisciplinaridade com o objetivo de reencontrar os problemas fundamentais e globais para a humanidade, Morin trouxe grandes contribuições para diversas áreas de conhecimento, inclusive a Educação.
A palestra do pensador francês que coleciona títulos de doutor honoris causa em universidades ao redor do mundo será transmitida para os participantes inscritos e seguida de debate realizado com professores da Unifor.
A participação do professor escocês Niall Ferguson, que leciona História na Universidade de Harvard, tem contribuído para que o conhecimento em sua área torne-se mais acessível, inclusive para quem não está nas universidades. Ferguson já roteirizou e apresentou cinco séries de documentários na BBC que foram transmitidas na televisão britânica e em outros países. Uma dessas séries, “A Ascensão do Dinheiro”, venceu o Prêmio Emmy de melhor documentário.
Os livros de Ferguson já foram publicados em diversos idiomas. Entre os títulos estão "Império", "A grande degeneração", "Civilização – Ocidente x Oriente" e "O horror da guerra". A publicação mais recente lançada no Brasil é “A praça e a torre: Redes, hierarquias e a luta pelo poder global”, no qual argumenta que as redes sociais não são um fenômeno novo. Para o autor, esta é a Segunda Era das Redes, com o computador pessoal no lugar da prensa móvel.
Edgar Morin: Propôs o conceito de complexidade em lugar da fragmentação de saberes. A convite da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), fez um estudo sobre quais seriam os temas que não poderiam faltar para formar os cidadãos do século 21. Foi dessa forma que nasceu “Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro”, texto que serviu de base para elaborar os Parâmetros Curriculares Nacionais, entre outros documentos.
Serviço:
Mundo Unifor 2021
Data: 18 a 23 de outubro
Horário: Integral
Formato: Hibrido
Canais de transmissões: Mídias sociais da Unifor e TV Unifor (canal 181 NET e Youtube)
O AFETO NA CONCEPÇÃO DO MUSEU LUIZ GONZAGA DE DOM QUINTINO, CRATO CEARÁ É TEMA DA LIVE PAPO DE MUSEU
O afeto na concepção do Museu Luiz Gonzaga de Dom Quintino, Crato-Ceará.
Este é o tema da live Papo de Museu que contará com a participação de Pedro Lucas Feitosa, idealizador do Museu.
A live acontece nesta quarta-feira 18, às 17hs ao vivo no cantal @caisdosertão, intagram.
A história do adolescente teve início em 2013, Pedro Lucas Feitosa, então com 8 anos, voltou encantado de uma visita que fizera ao Parque Asa Branca, o Museu do Gonzagão, em Exu, Pernambuco. Ao voltar para a sua casa, no Crato (Cariri cearense), Pedro Lucas já sabia como dar vazão à admiração que nutre por Luiz Gonzaga: ele criaria um museu dedicado ao Rei do Baião, na casa em que sua falecida bisavó morava, vizinha à dele.
A história virou realidade no distrito de Dom Quintino, a 26 km do centro do Crato, Ceará, onde Pedro Lucas, montou o museu para contar a história de Luiz Gonzaga. O garoto teve inspiração de outros lugares artísticos. "Eu vi muita gente que queria conhecer a história dele, Luiz Gonzaga, logo vislumbrei criar um ponto turístico e eu criei o museu".
Segundo o avô, Antônio Feitosa, aos 5 anos o menino começou a ouvir as músicas de Luiz Gonzaga e se inspirou. A maior parte dos artigos do museu veio de doações de terceiros. "Eu postava na internet, o pessoal foi vendo e doando", diz o idealizador do museu.
A paixão pela música de Luiz Gonzaga foi concretizada quando numa festa de São João na escola, Pedro Lucas escutou “Numa Sala de Reboco”, letra de Zé Marcolino e ter gostado tanto da música que passou a cantá-la frequentemente. Uma tia dele viu o gosto pela música e presenteou-o com um CD de Luiz Gonzaga.
Atualmente, o Museu Luiz Gonzaga, está localizado na rua Rua Alto da Antena, no Distrito de Dom Quintino. O espaço já foi visitado por nomes como Chambinho do Acordeon, Targino Gondim e o pesquisador Paulo Vanderley, pesquisador da vida e obra de Luiz Gonzaga.
O Museu eúne objetos que recriam a época em que Gonzagão viveu. Pedro Lucas antes da pandemia guiava as visitas no local, contando a história de cada objeto do museu, função que divide com o primo, Caio Éverton. Além de vinis do artista, o museu exibe sanfonas, ferramentas de trabalho e utensílios, partes do universo cantado por Luiz Gonzaga.
Por toda a história é que Pedro Lucas, solicita aos amigos mais um incentivo. Para o futuro ele que ser um museólogo.
JACKSON DO PANDEIRO, ADELZON ALVES E LUIZ GONZAGA
Esta foto é clássica na história da música brasileira. Jackson do Pandeiro, Adelzon Alves e o Luis Gonzaga. Adelzon Alves é radialista e até hoje o maior sinônimo de audiência no Rádio programas transmitidos no período da madrugada.
Nascido em Cornelio Procopio (Paraná) iniciou aos 19 anos seu primeiro trabalho como radialista na rádio de Cornélio Procópio, já com a intenção de prestigiar a cultura brasileira.
Em 1962, deixou sua cidade natal indo para Curitiba. Lá, trabalhou na Rádio Guairacá e na Rádio Cruzeiro do Sul, onde conviveu com Euclides Cardoso, outro radialista experiente que também o influenciou na definição da sua visão de trabalho em rádio, pautado na valorização da música brasileira.
Em 1964, foi para o Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar na Rádio Globo como locutor noticiarista em programas como "O seu redator chefe" e "O Globo no ar" e como locutor comercial no programa de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, no qual prevalecia a música da Jovem Guarda.
Nesse período, ficava atento ao que acontecia fora do programa do Chacrinha, especialmente nos movimentos musicais que surgiam, como o Teatro Jovem, o CPC da UNE, o Beco das Garrafas e o Grupo Opinião, no qual se destacaram Nara Leão, Zé Keti e Eliseth Cardoso, entre outros, além da Bossa Nova, que cada vez mais ganhava espaço. De todos esses movimentos, sua atenção se deteve no movimento do samba, que acontecia fora do circuito universitário e da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, como o Zicartola.
Em 1966, começou a ter seu próprio programa, "Amigo da madrugada", na Rádio Globo, de meia-noite às 4 da manhã. Passou a contactar com artistas do morro como Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Zagaia, Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara, Geraldo Babão, Djalma Sabiá e demais compositores de samba, como Paulinho da Viola e Martinho da Vila. No mesmo período, começou um trabalho pioneiro de abrir espaço do rádio aos compositores do morro, só precedido pelo radialista Salvador Batista, na Rádio Tupi.
Em seu programa "Amigos da madrugada", iniciou um movimento de valorização do compositor do morro. Com aguda sensibilidade para intuir sucessos certeiros no gosto popular, foi responsável pela divulgação de clássicos da música popular dos anos 70, como "Foi um rio que passou em minha vida", de Paulinho da Viola, e "O pequeno burguês", de Martinho da Vila. Os dois compositores foram aconselhados pelo radialista a trabalharem a divulgação das referidas faixas de seus discos lançados naquela ocasião.
O grande sucesso obtido por essas composições marcou seu programa, na fase inicial de seu trabalho como radialista. Em função desses dois sucessos, foi convidado para ser produtor de disco da cantora Clara Nunes, obtendo grande sucesso.
Lançou João Nogueira, Roberto Ribeiro, depois Dona Ivone Lara e Wilson Moreira da Portela. Também dirigiu o trio "Os Tincoans", que gravou "Cantos Afros" autênticos, em Yorubá arcaico.
Como radialista, fez um programa com Jackson do Pandeiro no início dos anos 70, provocando um reaquecimento da música nordestina na época. Jackson do Pandeiro permaneceu durante oito anos no programa. Em um destes programa participou Luiz Gonzaga.
Em 1982, passou também a apresentar o programa "Fole e viola", na Rádio MEC, que tem como objetivo divulgar a música regional autêntica das várias regiões brasileiras, do Rio de Janeiro ao Amazonas, recebendo artistas dessas regiões.
Apresentou também, na Rádio MEC, o programa "MPB de Raiz", dando espaço aos compositores de samba autêntico e valorizando o compositor brasileiro ligado às raízes culturais nacionais. O programa "Amigo da madrugada" permaneceu na Rádio Globo até 1990.
Autodidata em sua formação de jornalismo e radialismo, destaca-se por seu trabalho sempre voltado para a música popular brasileira, defendendo a preservação do espaço comercial e de execução da música para o músico brasileiro, de preferência aqueles voltados para as raízes nacionais. Tem dedicado todo seu trabalho de radialista e produtor de discos à defesa da conscientização de nossa cultura e do espaço de execução da autêntica música brasileira.
Em 2000, recebeu homenagem da Câmara dos Vereadores) do Rio de Janeiro, que fez sessão solene para lhe entregar o título de Cidadão Carioca, aprovado por unanimidade pela casa.
Em 2005, seu programa na Rádio MEC, de inquestionável popularidade, de consagrada qualidade e caráter visionário, aglomera artistas populares já renomados ao lado de expoentes mais novos que têm oportunidade de ver seu trabalho avaliado pelo experiente radialista.
"Com a morte de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, entre outros, houve um vazio na música nordestina, e então uns 'picaretas' começaram com 'música de safadeza'. São uns imbecis e mentirosos, culturalmente falando, que cantam música nordestina de teclado com chapéu de vaqueiro, e reagindo a isso surgiram compositores e cantores que passaram a fazer música nordestina na linha do Gonzaga, como Maciel Mello, Petrúcio Amorim e muitos outros", avalia Adelzon.
TRÊS QUARTOS DA POPULAÇÃO DOS PAÍSES RICOS DEFENDEM PROTEÇÃO AMBIENTAL
A maioria da população dos 20 países mais industrializados do mundo concorda em tornar prioritário o combate à crise climática e a proteção da natureza. Os empregos e lucros podem passar para segundo plano, dizem 74% da população dos países do G20, de acordo com pesquisa feita para a Global Commons Alliance.
A atividade humana empurra o planeta para um ponto de difícil retrocesso. A opinião é três quartos da população dos países mais ricos do mundo. Para eles, a prioridade é apoiar ações decisivas para inverter esse caminho, mesmo que implique perder lucro econômico.
Entre os entrevistados nos países do G20, 58% afirmam que estão extremamente preocupados com o estado do planeta.
"O mundo não caminha como um sonâmbulo para a catástrofe. As pessoas sabem que estamos correndo riscos colossais, querem fazer mais e querem que seus governos façam mais", afirma Owen Gaffney, da Global Commons Alliance, um dos autores do estudo.
Para ele, "os resultados da ciência devem fornecer aos líderes do G20 a confiança para agir mais rapidamente e implementar políticas mais ambiciosas para proteger e regenerar nossos bens comuns globais".
O estudo mostra que, entre as nações do G20, 73% das pessoas acreditam que a "atividade humana empurrou a Terra para perto de pontos de inflexão".
Os países menos ricos têm maior consciência desses riscos - Indonésia (86%), Turquia (85%), Brasil (83%), México (78%) e África do Sul (76%) - comparativamente às respostas dos países mais ricos - Estados Unidos (60%), Japão (63%), Grã-Bretanha (65%) e Austrália (66%), que reconhecem menor perigo.
Quatro em cada cinco entrevistados afirmaram que estavam dispostos a alterar o seu cotidiano para ajudar a regenerar os bens comuns globais.
Elizabeth Wathuti, ambientalista queniana, escreveu no prefácio da pesquisa que "as pessoas começam a sentir que a natureza está reagindo".
"As pessoas no poder parecem achar que não há problema em derrubar árvores velhas ou destruir ecossistemas naturais para construções ou estradas, ou extrair petróleo, desde que plantem novas árvores. Mas essa abordagem não está funcionando, e as descobertas no relatório mostram que muitas pessoas não apoiam mais essa idiotice econômica", alerta Wathuti.
Resistência: Os autores do trabalho acreditam que vão encontrar resistência entre grandes grupos económicos e investidores, mas por outro lado, o documento representa a opinião pública desses 20 países industrializados.
Mais de 8% das pessoas ouvidas pretendem proteger o equilíbrio da natureza e 69% defendem que a proteção dos sistemas de suporte à vida do planeta custará menos que os danos causados pelas alterações climáticas. Os brasileiros são os que mais apoiam essa ideia e os franceses, menos.
Apenas 25% das pessoas questionadas dizem que os governos devem manter a prioridade em garantir empregos e lucros.
JOSÉ RAMOS TINHORÃO: PESQUISADOR CONSOLIDOU OS ESTUDOS DE MÚSICA NO BRASIL
Esse jornalista de origem, que se tornou um dos principais historiadores da música popular no Brasil, tinha muitos outros interesses e trabalhos para além de sua faceta mais conhecida. A música foi sua principal paixão e objeto de estudo. Mas foi além, abordando literatura, dança, economia, tecnologia, religião e tudo o mais que lhe permitisse olhar a realidade musical como parte de um contexto mais amplo. E, pelo que seus amigos contam, essa amplitude se espraiava pela vida.Jorge Henrique Bastos editou um de seus livros, Crítica Cheia de Graça, e foi um dos que compartilharam os outros deleites de Tinhorão. Durante o tempo em que morou em Portugal, Bastos recebia seu amigo todos os
anos. Lá, degustavam sempre uma nova pedida para completar o repertório gastronômico do pesquisador. Quando perguntado sobre quais eram os traços mais marcantes de Tinhorão, Bastos responde: “A ironia ferina, o lado libertino e dionisíaco – amava um vinho, gostava de um bom prato e não recusava uma cachaça –, a agudez do pensamento e a facilidade no tratamento, por parte de alguém que sabia que produzira uma obra colossal e mesmo assim era esnobado pela academia”.
Aliás, essa tensão com o universo acadêmico foi uma das tônicas de sua vida. Uma das frases muito ouvidas por quem conviveu com Tinhorão revela como ele via os pesquisadores universitários: “Comem Tinhorão e arrotam Mário de Andrade”.
O historiador e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP José Geraldo Vinci de Moraes viveu na pele a resistência de Tinhorão com a universidade. Em várias ocasiões, pôde perceber o ar de desconfiança do pesquisador em relação a esse meio.
“Ele dizia que não era lido pela universidade, que o viam de uma maneira muito preconceituosa. Isso é uma meia verdade”, diz Moraes, lembrando como ele até se orgulhava desse suposto desprezo universitário. E completa: “Eu digo que é meia verdade, e não é justo com ele nem com a universidade, porque, na verdade, não era contra ele. Não é que a universidade não ligava para o Tinhorão. A universidade não ligava para o tema, para esse objeto”, referindo-se à música popular urbana.
Mas Moraes lembra que, depois – a partir dos anos 80, em áreas como a literatura e a comunicação e, dos anos 90, na história – a universidade passou a dar a devida importância para música popular e, consequentemente, para Tinhorão e outros pesquisadores do tema.
“Ele era muito rigoroso com o texto, com as fontes. Do ponto de vista historiográfico, ele era incrível nesse sentido. Para mim, as maiores contribuições dele foram as questões ligadas à dimensão social e cultural da música”, diz o professor. Ele destaca os trabalhos feitos em torno da modinha e do fado, entre outros temas tratados por Tinhorão. E cita o livro Música Popular: os Sons que Vêm da Rua como o ponto de virada de sua obra.
“Ali, ele dá um ordenamento àquela tematização envolvendo as bandas, os cantores de rua, os cafés, os pregões, os chopes berrantes etc., tudo aquilo que estava disperso nos outros autores e mesmo nas primeiras obras dele. Mas, nesse livro, de 1976, ele sai do universo estrito da crítica e do colecionismo e passa a fazer um trabalho de historiador de fato. Nesse livro, ele tematizou, deu ordenamento – não fica mais numa dispersão fragmentária – e apontou caminhos. Até hoje, as pessoas continuam pesquisando o que ele apresentou ali”, resume Moraes.
José Ramos não nasceu “Tinhorão”. Esse complemento ele ganhou de seu chefe de redação, Pompeu de Souza, em 1953. No Diário Carioca, notou que sua matéria sobre o Natal estava assinada com essa alcunha. Ao questionar, recebeu uma risada como resposta: “Tinhorão, você é um idiota. J. Ramos é nome de ladrão de galinha, tem um monte na lista telefônica e Tinhorão vai ser só você”.
Mas não foi Pompeu de Souza que o inventou. O nome, que se refere a um tipo de planta tóxica, foi dado pelo secretário de redação, Everardo Guilhon. Como conta Elizabeth Lorenzotti em seu livro Tinhorão, o Legendário, ao ver o rapaz de cabeça baixa, perguntou: “Mas quem é esse cara mesmo? Zé Ramos? Zé Jardim?”. E, escolhendo o vegetal que marcaria para sempre seu interlocutor, definiu: “Zé Tinhorão”.
Aliás, essa reportagem que lhe rendeu o apelido-sobrenome demonstra bem, já no início dos anos 50, sua marca pessoal. Tendo como referência de formação o marxismo, ali é possível verificar sua inclinação de buscar os fatos dentro de contextos mais amplos e com um olhar claramente voltado aos desfavorecidos.
Vamos a um pequeno trecho:“Conversando com as crianças de vários bairros, a reportagem do Diário Carioca pôde apurar também – e talvez nisso os etnólogos não tenham pensado – que a integridade do mito de Papai Noel no RJ está sujeita a certas posturas municipais. Conforme a versão das crianças de certas vilas pobres do Botafogo e do Morro de Humaitá, ele chegaria de charrete, muito de noite… abrindo a porta deixada sem ferrolho pelas pessoas adultas.”
Essa preocupação com os mais pobres revela o caminho que percorreu como pesquisador. O historiador Eduardo Pontim, membro do Instituto Glória ao Samba, ressalta que “Tinhorão foi um voraz defensor de músicos e criadores do povo brasileiro, principalmente os dotados de profundo talento e marginalizados pelo grande público e por boa parte da imprensa de então”.
Sua interpretação da cultura recorre a conceito muito importante dentro do marxismo: as classes sociais. O compositor e escritor Fábio Carvalho escreveu uma crônica sobre um de seus encontros com Tinhorão, no habitual Bar do Raí, como ficou conhecida a atual lanchonete Amélia, na Vila Buarque, em São Paulo. Ele reproduz as explicações do pesquisador, motivadas pela discussão sobre seu livro História Social da Música Popular Brasileira, lançado em 1990:
– Então, veja bem, a cultura nos países capitalistas se constitui em culturas de classes: cultura da classe dominante e cultura da classe dominada. A cultura da elite é a cultura oficial da sociedade capitalista, é a cultura imposta. Isso porque dispõe de estruturas que garantem a sua hegemonia, como escolas, auditórios, teatros, conservatórios e meios de comunicação, além de financiamento público e privado. Além disso, em países como o Brasil, a própria cultura dominante é também dominada, pois faz parte dos negócios comerciais dos países que dominam o nosso mercado. Neste caso, a cultura dos pobres é submetida a uma dupla dominação.
Fábio, então, ao ouvir de Tinhorão que a classe média não produz cultura, restringindo-se a consumir ou apropriar-se das culturas da classe dominante ou da cultura dos pobres, pergunta-lhe sobre a Bossa Nova. Não seria uma produção própria da classe média?
– Ih, rapaz, se os caras estivessem vivos eu mandaria você perguntar pro Alfredo José da Silva, porque ele adotou o nome artístico de Johnny Alf… Ou pro Farnésio Dutra e Silva, o Dick Farney… Ou o William Blanco, que virou Billy Blanco…
Essa postura rendeu-lhe a distância de muitos artistas que estiveram no alvo de suas críticas. Bossa Nova e Tropicalismo mais do que todos. Ao mesmo tempo, ele surpreendia os leitores que esperavam de antemão sua acidez. Numa reportagem da Folha de São Paulo de 1999, tratando de um artista muito popular na ocasião, o agora deputado Tiririca, Tinhorão defende: “Tiririca é um artista muito talentoso e engraçado. Sua música vem de uma tradição de arte chula e rasteira que remonta à Grécia antiga. Na música brasileira, esse tipo de música existe há muito tempo. Os lundus tinham letras chulas e o povão sempre gostou de safadeza. Quem não gosta disso é a classe média, que sempre rejeitou a arte popular”.
Ele seguia surpreendendo mesmo os que foram mais alvejados por suas críticas. Se Caetano Veloso não costumava receber afagos do pesquisador, houve pelo menos um momento de exceção. Como recorda o compositor e pesquisador Celso Luiz Prudente, certa vez Tinhorão pediu-lhe pessoalmente para transmitir ao músico baiano um elogio:
– Prudente, como você é muito próximo do Caetano Veloso, caso você o veja, diga a ele que Cajuína eu gostei, que é uma música maravilhosa.
A composição a que o pesquisador se referiu na ocasião foi feita em memória ao poeta e letrista Torquato Neto. “Isso mostra o humanismo do Tinhorão. Por mais que ele tenha sido marcado por uma crítica contumaz à Bossa Nova e ao Tropicalismo, sabendo que eu e o Caetano sempre tivemos um grau de amizade muito significativa, pediu que eu falasse que Cajuína foi uma música que ele gostou”, pondera Prudente.
Sua erudição, somada ao gosto pela polêmica, rigor investigativo e destreza impressionante na escrita, criou uma espécie de lenda. O professor José Geraldo Vinci de Moraes, ao reler sua obra, também considera importante amenizar essa imagem imponente. “Percebo que, a partir de certo momento, ele se torna repetitivo nos temas, nos exemplos. E vários capítulos vão sendo reaproveitados quase integralmente em outros livros. Tudo bem ele fazer isso. Na universidade também se faz. Mas isso tira um pouco daquela aura fundadora e sempre criativa dele. Ou seja, ele é um sujeito como qualquer um de nós. E, diante das demandas, ele repete. Quer dizer, cada obra dele não é fundadora, como ele queria marcar. Cada obra vai se desdobrando.”
Outra lacuna que Moraes enxerga na obra de Tinhorão é a falta de análise musical propriamente dita. “Ele conhecia os elementos musicológicos, mas esse esforço de tratar da linguagem musical faz um pouco de falta na obra dele”, reflete o historiador.
VIVER E MORRER PARA A CULTURA: José Ramos nasceu em Santos (SP), em 1928. Na década de 1930, mudou-se com a família para Jundiaí, Bragança Paulista e Rio de Janeiro, onde se fixou, formou-se em Direito e Jornalismo, trabalhou e fez boa parte de sua carreira como jornalista, crítico e historiador. Em São Paulo, para onde se mudou em 1968, emprestou sua lenda à famosa quitinete na Rua Maria Antonia. Num espaço de cerca de 30 metros quadrados, acomodou um acervo gigante.
Segundo Eduardo Pontim, eram “mais de 30 mil partituras, cerca de 10 mil fotografias, aproximadamente 7 mil livros, cerca de 12 mil fonogramas de 76 e 78 RPM, 4 mil LPs e muito mais. Com tanto material em sua casa, a falta de espaço era natural, o que levou Tinhorão a viver sem fogão nem geladeira e a dormir num colchão de ar”.
Esse acervo foi comprado pelo Instituto Moreira Salles em 2001. E, dos parcos 31 metros quadrados em que se acumulavam, os materiais de Tinhorão foram retirados da quitinete em várias viagens de caminhão.
Vivendo de refeições de boteco a fim de que em sua residência coubesse tudo isso, alimentou mais ainda sua figura legendária. “Todos esses esforços e privações eram feitos para que ele pudesse documentar a música popular brasileira da maneira mais fiel e verdadeira possível, numa prova de devoção e paixão pelo que fazia”, constata o historiador Eduardo Pontim.
Ainda em São Paulo, fez uma breve concessão à universidade, concluindo seu mestrado em História Social na USP em 1999, sob orientação do professor Jônatas Batista Neto. A dissertação, intitulada A Imprensa Carnavalesca no Brasil, também virou livro. Foi um dos mais de 20 lançados em sua vida.
Como foi dito, tantas foram suas paixões e interesses. Mas a música, de todas, foi a que mais o marcou. Quando, da última vez, as vozes amigas se uniram para entoar O nosso amor morreu, parte dos versos da canção Rosa Maria, não era aniversário de Tinhorão. Sim, porque seus aniversários eram um acontecimento musical ao seu gosto: na calçada do bar, todos juntos, sem distinção. Desta vez, as vozes, as palmas e o surdo iam marcando uma homenagem diferente. Mas igualmente sonora e popular.(Jornal da USP-Gustavo Xavier)