RIO SÃO FRANCISCO SERÁ UM DOS MAIORES PREJUDICADOS COM POSSÍVEL PRIVATIZAÇÃO DA ELETROBRAS

O Rio São Francisco será um dos maiores prejudicados nas alterações feitas no relatório preliminar da Medida Provisória (MP) 1031 que autoriza a privatização da Eletrobras e está tramitando no Congresso Nacional. Na proposta original, estava previsto um aporte de R$ 9 bilhões na revitalização do Rio São Francisco. 

Agora, são R$ 3,5 bilhões em ações de revitalização do Velho Chico por 10 anos dentro de um total de R$ 8,75 bilhões, que serão divididos também com iniciativas na área de recursos hídricos nas bacias hidrográficas de Furnas (no Sudeste), no Norte do País e até do Rio Parnaíba, localizado entre as divisas do Piauí e do Maranhão.

Rio mais importante do Nordeste, o São Francisco passa por vários problemas ambientais. E também é o mais importante para dar acesso à água potável numa parte do Nordeste – chamada setentrional -, que inclui áreas semiáridas de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A Eletrobras é a dona da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), uma das empresas que mais se destacam dentro da holding.

Nos bastidores do Congresso, se comenta que os recursos de revitalização do São Francisco foram divididos para aumentar o apoio político na futura votação do relatório da MP, que deve ocorrer na próxima semana no Congresso Nacional. O que se desconfia é que esses recursos serão usados para ações que reforcem a força de feudos políticos regionais. O relatório definitivo da MP 1031 deve ficar pronto até este final de semana.

Voltando ao relatório, o São Francisco não perdeu só recursos que poderiam ser importantes para a sua revitalização. O relatório também propõe que os recursos destinados às ações de revitalização dos rios São Francisco, Parnaíba e aos reservatórios de Furnas sejam gerenciados pela diretoria executiva da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que está sendo investigada pelo Tribunal de Contas da União por 29 pregões – para contratação de pavimentação – por suspeitas de irregularidades, entre outras coisas.

No projeto anterior, os recursos seriam geridos por entidades independentes. O Rio São Francisco tem um comitê gestor ativo com participantes da sociedade e a estatal que mais tem dados sobre o Velho Chico é a Chesf que faz o monitoramento das chuvas e outras informações relativas ao rio por mais de seis décadas. 

“É inconcebível passar esses recursos para uma empresa que tem frequentado as páginas dos jornais como um instrumento de cooptação política do governo federal“, diz o líder do PSB na Câmara dos Deputados, Danilo Cabral, se referindo a Codevasf. Ele também é presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Chesf e argumenta que “as medidas compensatórias, como a dos recursos destinados às ações ambientais, têm a duração de 10 anos, enquanto a futura concessão será de 30 anos“.

Vendas: A atual comercialização das ações da Eletrobras segue os moldes definidos no projeto que tramitou no Congresso desde 2017, elaborado no governo do presidente Michel Temer (MDB). Com a venda das ações, o governo federal deixaria de ser o grande acionista do sistema Eletrobras.

 “Ninguém está dizendo qual o impacto que essa privatização vai ter na conta de todos os brasileiros. No projeto anterior, a própria Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) fez um estudo dizendo que a privatização provocaria um aumento de 16% na conta de todos os brasileiros“, comenta. E acrescenta: “Da outra vez, a discussão era em cima de um projeto de lei. Agora, é num relatório de uma MP num debate feito sem respostas fundamentais. O custo dessas hidrelétricas vai aumentar quando for feita a descotização“.

Esse termo se refere ao fato de que grande parte das usinas hidrelétricas da Eletrobras são antigas e trabalham atualmente no sistema de cotas, recebendo um pagamento somente para a manutenção e operação dessas unidades, como são quase todas as hidrelétricas da Chesf, com exceção de Sobradinho. Isso ocorre porque o investimento estatal realizado para implantar esses empreendimentos já foi pago por todos os brasileiros na conta de energia durante muitos anos. O que alguns técnicos e parlamentares suspeitam é que o valor a ser cobrado por esta energia, quando a empresa tiver acionistas privados – vai ficar mais alto do que o atual.

A expectativa é de que o relatório da MP seja aprovado pelo Câmara dos Deputados, já que os aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) devem ter maioria na votação. Em 2018, os parlamentares da oposição conseguiram postergar a votação na Câmara dos Deputados e o projeto acabou sendo retirado da pauta.

A atual MP tem que ser votada até o dia 22 de junho, quando acaba a sua vigência. A reportagem do JC entrou em contato com a assessoria de imprensa do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, mas ele estava “focado na CPI”, e também procurou o relator do relatório da MP 1.031, deputado federal Elmar Nascimento (DEM), que não pode atender o JC e informou que o relatório ainda é preliminar. (Fonte: JC Online)

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JOQUINHA GONZAGA REALIZA LIVE NESTE DOMINGO (16)

Sem shows presenciais, o cantor e compositor Joquinha Gonzaga, realiza uma live no próximo domingo (16).  Joquinha gravou um video comentando as dificuldades que a classe artistica vem sofrendo com as medidas de restrição contra a Covid-19. 

O sanfoneiro disse que vai cantar para os amigos e também vai usar a sanfona e a voz como arte para chamar a atenção da população e dos gestores para a situação que todos os profissionais da cultura se encontram. 

Durante a live transmitida no canal de youTube Joquinha Gonzaga oficial, O cantor dispõe a conta, nome de batismo João Januário Maciel,  conta Banco do Brasil PIX 87999955829 para que os amigos, fãs e que possa contribuir deposite qualquer quantia.

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GILMAR DE CARVALHO TORNOU VISÍVEL O SABER TRADICIONAL

“Generosidade” era uma das principais características de Francisco Gilmar Cavalcante de Carvalho, segundo seus colegas. O pesquisador, professor, jornalista, escritor e curador é lembrado não só como um estimado amigo, mas também como uma referência da cultura do Ceará, sobretudo na área dos estudos de manifestações artísticas e culturais. 

Por isso, o seminário Gilmar de Carvalho: Devoção e Pesquisa, que o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP promoverá no dia 18, às 14 horas, será dedicado à vasta contribuição do pesquisador, que morreu no dia 17 de abril passado, aos 71 anos, vítima de covid-19. O evento será transmitido ao vivo através da página do IEB no Facebook. 

Natural de Sobral (CE), Gilmar de Carvalho era bacharel em Direito e em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo e doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Lecionava no Departamento de Comunicação Social da UFC e era integrante do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da mesma universidade.

Além da formação acadêmica, o repertório de Gilmar de Carvalho inclui o conhecimento da chamada “cultura popular”. “Ele fez um levantamento de várias áreas da arte popular, das xilogravuras ao cordel, das rabecas ao artesanato de couro e potes, de ceramistas a pintores”, conta o escritor João Silvério Trevisan, que participará do seminário Gilmar de Carvalho: Devoção e Pesquisa. “Financiou suas próprias viagens para registros em áudio e vídeo, com o fotógrafo Francisco Sousa. Assim também, do próprio bolso, financiou suas várias obras publicadas sobre artesanato popular.”

Entre as 50 obras jornalísticas, teatrais e literárias de Carvalho, Trevisan destaca Parabélum, uma releitura da arte popular nordestina e do mito de Virgulino Lampião, com um viés relacionado à indústria cultural. Segundo o escritor, esse romance “pós-moderno” – como ele classifica – oferece elementos de “extraordinária originalidade” até hoje.

Outro aspecto relevante da trajetória do pesquisador são seus trabalhos sobre o cordelista e poeta cearense Patativa do Assaré (1909-2002), autor de uma obra que versa sobre vários temas, desde a vida do sertanejo até a reforma agrária. Carvalho escreveu artigos, deu entrevistas e publicou livros dedicados ao artista, entre eles Patativa do Assaré (2000) e Patativa Poeta Pássaro do Assaré (2002). 

Para a professora do IEB Flávia Camargo Toni – que também estará no seminário -, a reedição da obra de Patativa por Gilmar de Carvalho apontou aspectos da cultura popular que estavam esmaecidos, como o entrosamento de diferentes artes no repente e no cordel, manifestações que reúnem a música, a poesia e as artes plásticas.

Por meio da pesquisa de campo, Gilmar de Carvalho registrou narrativas orais que deram visibilidade às narrativas dos detentores de saberes tradicionais e abriram novas perspectivas nesse campo de estudo, afirma outra participante do seminário, a doutoranda em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Milla Pizzignacco. 

Mestre em Culturas e Identidades Brasileiras pelo IEB, Milla ressalta que a trajetória do pesquisador evidencia a importância da universidade na formação de um espaço de memória da literatura e da gravura de cordel. Segundo ela, as pesquisas de Carvalho viabilizaram projetos de fomento das culturas populares e políticas públicas que favoreceram os bens imateriais nacionais. 

Milla destaca as pesquisas de Carvalho sobre xilogravura, principalmente em Juazeiro do Norte (CE). O pesquisador colocou em cena práticas de socialização das artes gráficas em locais considerados periféricos e, com isso, deu grande contribuição para a formação de artistas xilógrafos no Ceará, acrescenta a doutoranda. 

“Em busca das memórias que sedimentaram o padre Cícero como um ícone do imaginário nordestino, Gilmar de Carvalho recolheu folhetos de cordel, matrizes e impressões de gravuras, formando um enorme acervo de saberes e fazeres regionais que hoje integram o acervo do IEB”, informa Milla. Autor do ensaio Desenho Gráfico Popular: Catálogo de Matrizes Xilográficas de Juazeiro do Norte – Ceará, publicado nos Cadernos do IEB, o pesquisador doou para o instituto da USP mais de mil títulos de folhetos de cordel. 

Gilmar de Carvalho também apoiou a criação do Acervo do Escrito Cearense (AEC), hoje um reconhecido espaço de memória instalado na Universidade Federal do Ceará, como aponta Neuma Barreto Cavalcante, professora de Literatura Brasileira da UFC e curadora do AEC, que também estará no seminário. “Espero que as instituições culturais brasileiras saibam respeitar e preservar o legado que ele nos deixou”, comenta a curadora.

“Além do legado intelectual, que registrou uma quantidade imensa de manifestações culturais tradicionais populares, muitas delas em extinção, Gilmar de Carvalho deixou uma grande quantidade de alunos que aprenderam a trabalhar com respeito, paciência, profundidade e, principalmente, com um olhar que, ao registrar a tradição, compreende o presente e se abre para o futuro”, avalia a cantora lírica e pesquisadora Anna Maria Kieffer, também com presença confirmada no seminário. Ela ressalta que o pesquisador ultrapassou a sala de aula: através de textos e vídeos disponibilizados em redes sociais, ele democratizou o acesso aos seus estudos sobre as culturas tradicionais. 

“Gilmar de Carvalho foi um dos grandes pesquisadores do nosso tempo, uma referência nos estudos da cultura brasileira em suas mais diversas linguagens. Comprometido com a dimensão coletiva e social da sua pesquisa, ele deu uma contribuição inestimável para os estudos da cultura brasileira”, afirma a pesquisadora Mariana do Nascimento Ananias, que estuda cultura popular no IEB e falará no seminário.

Neste ano, Carvalho lançaria o livro Poéticas da Voz – Aboios, Benditos, Cantoria, Cordel, Emboladas, Loas, Saraus, Torém, Trovas. A obra retrata o cordel e os cordelistas cearenses desde o século 19. “É uma verdadeira enciclopédia sobre o assunto que, somada ao conjunto de sua obra, eleva Gilmar de Carvalho à altura de um Mário de Andrade, de um Câmara Cascudo”, descreve Anna Maria Kieffer.

O seminário Gilmar de Carvalho: Devoção e Pesquisa, promovido pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, será realizado no dia 18, às 14 horas, com transmissão ao vivo através da página do IEB no Facebook. O evento é gratuito, sem necessidade de inscrição. (Fonte: Jornal da USP)
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL DEFENDE RIO SÃO FRANCISCO E INGRESSA AÇÃO CONTRA IMPLANTAÇÃO DA USINA NUCLEAR DE FORMOSO

O Ministério Público Federal (MPF) ingressou com ação civil pública contra as empresas Formoso Energia e Quebec Engenharia, para que impedir a realização de atividades de campo na área de impacto do projeto da Usina Hidrelétrica de Formoso, com construção prevista no leito do Rio São Francisco, em Pirapora (MG), na região do Alto São Francisco. 

Nessa região, vivem os indígenas Tuxá, as comunidades quilombolas João Martins e Tira Barro, além de pescadores artesanais, ribeirinhos, vazanteiros, barranqueiros e remeiros, que são povos tradicionais mineiros que ocupam território nas margens do Velho Chico.

De acordo com o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Helder Magno da Silva, responsável pela ação civil pública, as atividades de campo realizadas pelos empreendedores podem resultar na contaminação das comunidades tradicionais, acarretando um colapso entre eles, bem como a sobrecarga da rede assistencial de saúde pública, com possível insuficiência dos leitos clínicos e de terapia intensiva atualmente existentes.

 “Os povos tradicionais são vulneráveis ao novo vírus e temos que protegê-los. A Lei 14.021, de 7 de julho de 2020, criou medidas de vigilância sanitária e epidemiológica para prevenção do contágio e da disseminação do Covid-19 nos territórios indígenas e estipulou medidas de apoio às comunidades quilombolas, aos pescadores artesanais e aos demais povos e comunidades tradicionais. Além disso, estabeleceu a restrição de acesso de pessoas estranhas às comunidades, como forma de impedir a disseminação e circulação do vírus entre eles”, disse.

Os indígenas Tuxá estão há 65 anos na região de Pirapora, próximo à confluência do rio Paracatu com o Rio São Francisco, região que será inundada pela construção da UHE Formoso.

A cacique Anália Tuxá, da aldeia de Buritizeiro, e seu povo, são contra a construção do empreendimento na região. “Temos fé que a UHE Formoso não será construída na região de Pirapora, afetando o nosso território. Nossa aldeia se encontra fechada para visitantes por causa da pandemia e mesmo que as empresas queiram não vão entrar para realizar trabalho de campo”, disse.

O pescador de Pirapora Josemar também é contra a UHE Formoso. “Esse povo não para! Mesmo com a pandemia, continuam realizando atividades de campo aqui na região. Nós que somos contra paramos os trabalhos de mobilização contra a UHE Formoso de forma presencial e estamos fazendo contato por telefone, com pessoas conhecidas. É uma vergonha! Existe a falsa ideia de que a UHE Formoso trará desenvolvimento para a região, por meio da geração de empregos e de incremento na economia. Isso é mentira e estamos esclarecendo isso para a população local”, expôs.

A quilombola Sandra Maria da Silva Andrade, representante das comunidades tradicionais no CBHSF, afirma que o empreendimento preocupa os ribeirinhos e a sociedade civil em geral, pela falta de transparência e pelos seus incontáveis impactos. 

“A usina coloca em risco a sobrevivência de inúmeras comunidades tradicionais que vivem não só na região, mas em toda a bacia, como povos indígenas, comunidades quilombolas, pescadoras, vazanteiras e pequenos agricultores. Estamos mobilizando toda a sociedade para lutar contra este projeto que, mesmo com a pandemia não parou por um segundo sequer”. (Fonte: chbsf)

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JOGADO À MARGEM DA SOCIEDADE", DIZ HISTORIADOR SOBRE A CONDIÇÃO DE PESSOAS NEGRAS APÓS ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

"Jogado à margem da sociedade". É assim que o mestre em história, Vinícius Bonifácio, relata a condição de pessoas negras no Brasil, após a assinatura da Lei Áurea e abolição da escravatura, no dia 13 de maio de 1888.

Nesta quarta-feira (13), dia que marca o 133º aniversário da abolição, Vinícius Bonifácio falou sobre a forma como as pessoas negras foram "inseridas" na sociedade, após deixarem de ser escravas. Ele conta que os africanos no Brasil se questionaram muito sobre o que fariam a partir daquele momento.

"Agora que estou livre o que vou fazer? Para onde eu vou? Qual trabalho vou exercer? Porque até então o trabalho era escravizado. Ele até poderia ter um ofício, ser um negro especializado no moer da cana, porém ele não tem isso reconhecido quando ocorre a abolição", explica.

Ainda segundo o mestre em história, todos os processos de libertação jogaram o negro na sociedade, sem nenhum tipo de indenização.

E 133 anos após a abolição da escravatura, as condições para as pessoas negras continuam difíceis. Para a técnica de enfermagem Isabela Neri, os negros continuam sofrendo preconceito em pleno século 21.

"Tem muita gente que continua tendo preconceito com os negros. Trabalho é mais difícil também para pessoas negras", comenta.

Já a microempreendedora Raíssa Coutinho relatou um caso de racismo do qual foi vítima.

"No meu antigo trabalho, eu tinha um cargo um pouco diferente do que o povo esperava. Já fui abordada por clientes que chegaram para mim e perguntaram: 'Mas você é desse setor? É você mesmo?'", relata a jovem.

"Não me atingiu. Teve sim a discriminação, porém não deixei me abater", completou Raíssa.

Atualmente, parte do movimento negro contesta a comemoração da data do 13 de maio. Isso por causa do tratamento dado ao negro após deixar de ser escravizado; sem qualquer apoio das classes dominantes.

Por causa disso, o movimento negro resolve comemorar a data no Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, marcada pela morta de Zumbi dos Palmares.

A mestranda em história, Aline Santos, explica que o que o movimento negro tenta fazer é dizer que as pessoas negras foram protagonistas de sua história, tanto livres, como escravos.

"Hoje, nos livros didáticos, a tendência é mostrar que a pessoa negra, no século 19, foi quem procurou a libertação. Não foi uma coisa que aconteceu, foi uma conquista na verdade. Uma conquista que se fazia no cotidiano", explica Aline Santos.

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JOÃO PEDRO TEIXEIRA NÃO COMPREENDIA NUNCA O MOTIVO DE TANTOS HOMENS SEM TERRA, AFLITOS E COM FOME

No próximo ano 2022, vai completar 60 anos do assassinato do fundador das Ligas Camponesas da Paraíba. A proposta das Ligas Camponesas surgiu no engenho Galiléia, Pernambuco e se alastrou no Nordeste e outras regiões do Brasil É no Engenho da Galiléia, o primeiro caso de reforma agrária no Brasil após o fim da 2º Guerra Mundial.

Foi em virtude das dificuldades legais para se criarem sindicatos rurais que surgiram as Ligas Camponesas, com igual sentido associativo.  O filme Cabra Marcada para Morrer narra a trajetória da fundação das ligas camponesas.

As primeiras tentativas de se fundar associações camponesas no estado da Paraíba, como viria a ser a Liga Camponesa de Sapé, ocorreu através de iniciativas do camponês João Pedro Teixeira em 1954, resultado de sua experiência em movimentos de organizações de trabalhadores adquirida durante sua vivência em Pernambuco.

João Pedro conseguiu junto com a esposa Elizabeth Teixeira unir os agricultores em defesa da dignidade do trabalho e direitos. Foi assassinato no dia 02 de abril de 1962.

Reproduzo aqui o discurso histórico do poeta, advogado e tambpem compositor da música Tropeiros da Borborema, Raymundo Asfora, pronunciado em 03 de abril de 1962, no Ponto Cem Reis, em João Pessoa, Paraíba, horas após o sepultamento do líder da Liga Camponesa de Sapé, João Pedro Teixeira, morto no dia anterior em emboscada ordenada por usineiros do chamado Grupo da Várzea. 

Confira na íntegra, o discurso:  São tão mesquinhos, no seu egoísmo, que, na expressão de um ironista, deixariam o universo às escuras, se fosse proprietários do sol.

“Um tiro franziu o azul da tarde e ensangüentou o peito de um camponês. Foi assim que João Pedro morreu. Eu o vi morto no hospital de Sapé. Peguei na alça do seu caixão e, ao lado de outros companheiros e milhares de camponeses, levei-o ao cemitério. Estava com os olhos abertos. A morte não conseguiu fechar os olhos de João Pedro. Brilhavam numa expressão misteriosa e estranha, como se tivessem sido tocados por um clarão de eternidade. 

Os seus olhos, os olhos de João Pedro, estavam escancarados para a tarde. E, dentro deles, eu vi – juro que eu vi – havia uma réstia verde que bem poderia ser saudade dos campos ou o fogo da esperança que não se apagara. Tinha sido avisado de que o perseguiam. Assistira, certa vez, ao lado da esposa, a uma ronda sinistra em torno do seu lar. Talvez soubesse tudo, mas aprendera, na poesia revolucionária do mundo, que é melhor morrer sabendo do que viver enganado.

Por que mataram João Pedro? Por que o trucidaram? E de emboscada? Mataram João Pedro porque ele havia sonhado com um mundo melhor para si e para os seus irmãos. Idealista puro, ele não compreendia nunca, na sua inteligência ágil e no seu raciocínio acertado, como todas as terras da Várzea do Paraíba pertenciam apenas a proprietários que poderia ser contados nos dedos de uma mão. E tantos homens sem terra e tantos homens aflitos e tantos homens com fome! 

Sonhara com a reforma agrária. Mas, não pensava na revisão dos estatutos das glebas empunhando uma foice ou um bacamarte, na atitude dos desesperados. Apelava, apenas, para a organização da opinião campesina, da opinião dos campos, porque organizada a opinião do povo, tudo mais ficaria organizado.

Nunca me deparei, paraibanos, com uma população rural tão penetrada e compenetrada de consciência de classe, do valor da disciplina e da coesão como os lavadores de Sapé. Foi João Pedro quem os convenceu, mobilizando-os, ardentemente, em cada feira e em cada roçado. Argumentando sempre, com uma fé inquebrantável, sobre a necessidade da formação do seu sindicato. De um sindicato igual aos vossos, trabalhadores de João Pessoa, respeitado pelos patrões, protegido e protetor. 

Por que os latifundiários não querem respeitar as ligas camponesas? Por quê? Não se organizam eles nas cidades? Nas associações comerciais, nas federações das indústrias, não frenqüentam eles o Clube Cabo Branco, o Clube Astréa, os clubes do Recife e do Rio? Por que os camponeses não têm direito de ter a sua Liga?

O campo se priva de tudo para nos promover de tudo. Sem a enxada, que fecunda o ventre da terra, para a gravidez da semeadura e o parto da colheita, nada chegará às nossas mesas. A vida vem dos campos. Sem o suor, sem a fadiga dos campônios, jamais alcançaremos a fartura do povo, e a pobreza será cada vez mais infeliz e desamparada. 

Os latifundiários, todavia, na sua ganância, fingem desconhecer essa verdade, e na sua cupidez e na sua egolatria, negam aos pobres até o direito de ter fome. Fecham as suas propriedades ao cultivo, trazem-nas avaramente estagnadas, mandando matar aqueles que desejam transformá-las num instrumento de produção e de felicidade social. São tão mesquinhos, no seu egoísmo, que, na expressão de um ironista, deixariam o universo às escuras, se fosse proprietários do sol.

Eu vi João Pedro morto. Os seus olhos ainda estavam abertos. Eles tinham visto muito. Tinham visto quase tudo à sombra do Sobrado, povoado de Sapé, ouvira, talvez, contar na varanda de sua casa tosca, a história dos pais e dos avós que cultivaram aquelas terras. Sempre sob o regime do cambão, da terça e do cambito. Desse miserável cambão, dessa hedionda terça, desse desumano cambito, que deve ser varrido de nossa paisagem rural, nem que seja a golpes, nem que se a impacto das multidões revolucionárias nas praças.

Ouvira contar que, certa vez, o pai fora enxotado cruelmente, pelo capataz do amo, pelo simples fato de terem discutido sobre uma cuia de feijão. Sofria, ele próprio, as angústias daquele servilismo, doendo, agora, sobre o corpo exausto, com o suor da agonia que lhe escorria pela alma, fermentando, então, no íntimo, a convicção de que a dignidade humana não poderia ser tão aviltada. Urgia uma reação e João Pedro, à sombra do Sobrado, meditava e sonhava com um mundo melhor para os seus filhos. 

Eles não haveriam de amargar a mesma servidão. Sonhou. Haveria de pagar pelo crime de ter sonhado. O seu sonho era uma visão perigosa de liberdade. Os latifundiários não podem compreender que os corações dos humildes possam aninhar tão elevados sonhos. Contrataram sicários, armaram pistoleiros, puseram-se na tocaia. João Pedro deveria ser eliminado.

Acuso, perante o governo e a Paraíba, que há um sindicato da morte implantado na Várzea para ceifar a vida dos homens do campo. Ninguém se iluda: aquilo não foi mandado de um homem só. Todos devem se levantar em favor da luta dos camponeses. Todos, principalmente vós, pessoense, depositários da vida indômita da raça tabajara, para que, em face da violência e da opressão, os camponeses não se sintam desamparados. Mataram João Pedro. 

Nunca mais poderei os seus olhos. Os olhos dos mortos não choram. Ele nos deixou, no transe derradeiro da vida, a dignidade final da sua morte. Sigamos o seu último exemplo. Ninguém derramará mais lágrimas. Os seus olhos queriam dizer que os camponeses, de tanto verterem suor, não têm, sequer pranto para derramar outras lágrimas.

Paraibanos, esta cruzada é diferente das demais porque é maior do que todas as outras. Não há um candidato, não há partido político, não há um interesse exclusivista a ser defendido. Esta insurreição é hoje na história da Paraíba o seu grande apostolado. 

Ou defendemos o homem do campo, numa onda de solidariedade pacífica e irreprimível, pressionando as elites dirigentes para uma revisão da estrutura jurídica vigente, que os depaupera e degrada, efetivando urgentemente a reforma das leis agrárias, ou o Brasil será a pátria traída pelo poder econômico que já nos vem atraiçoando nos governos da República e no parlamento nacional.

É inútil matar camponeses. Eles sempre viverão. Antes de morrer, João Pedro era apenas a silhueta de um homem no asfalto. Mas, agora, paraibanos, João Pedro virou zumbi, virou assombração. É uma sombra que se alonga pelos canaviais, que bate forte na porta das casas grandes e dos engenhos, que povoa a reunião dos poderosos, que grita na voz do vento dentro da noite, e pede justiça, e clama vingança. Que passeia pelas estradas de Sapé, que fala, pela boca de milhares de criaturas escravizadas, a mesma língua que, com a sua morte, não se perdeu porque a mensagem dos verdadeiros líderes não se esgota.

Meditemos profundamente na destruição de João Pedro, da tremenda cilada que armaram contra o inesquecível líder, na carga de ódio que caiu sobre si com o peso de um destino. Ele sofreu no próprio sangue a grave ameaça que existia contra todos nós. Que todos os patriotas dobrem o joelho diante do seu túmulo”.

*Raymundo Asfora

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MORRE DE COVID-19 EM CARUARU, PERNAMBUCO, EX-DIRETOR DA RÁDIO EMISSORA RURAL, PADRE BIANCHI XAVIER

A Diocese de Caruaru, agreste de Pernambuco, confirmou a morte de Padre Bianchi Xavier, na manhã desta quarta-feira (12). Padre Bianchi foi internado em decorrência de uma pneumonia e sofria com diabetes. Padre Biachi foi diagnosticado positivo para a  Covid-19.

Nos últimos dias, de acordo com os boletins médicos, Padre Bianchi precisou ser intubado em ventilação mecânica controlada, em coma induzido por medicamentos".

Padre Bianchi trabalhou na Diocese de Petrolina onde comandou um programa de Rádio no período da tarde e também foi diretor da Rádio Emissora Rural.

Manoel Francisco Xavier, mais conhecido como padre Bianchi, dedicou 37 anos ao sacerdócio e atualmente era pároco da Igreja Nossa Senhora de Fátima, no bairro Boa Vista, em Caruaru.

Antes de ser padre, Bianchi Xavier cantava na caravana de Ivan Bulhões e foi lançado na antiga Rádio Difusora. Ivan Bulhões morreu em março deste ano após sofrer um AVC.

CONFIRA NOTA DIOCESE CARUARU:

Eu sou a ressurreição e a vida.

Aquele que crê em mim,

ainda que morra, viverá" (Jo 11,25)

Com pesar, mas confiantes na ressurreição, comunicamos o descanso eterno do grande sacerdote e comunicador Padre Bianchi Xavier. 

Padre Bianchi estava com COVID-19 e as 5h30 de hoje não resistiu e completou sua missão aqui na terra, mas permaneceu firme na fé. 

Rezemos por este sacerdote tão amado por todos, que comunicava com alegria a Palavra de Deus. Agora comunica a fé na ressurreição para nós.

A Diocese de Caruaru, na pessoa do senhor Bispo Diocesano, Dom José Ruy Gonçalves Lopes, une-se ao Clero, familiares e todos os diocesanos neste momento.

Diocese de Caruaru,

12 de maio de 2021.

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