DOMINGO: JOQUINHA GONZAGA, NETO DE JANUÁRIO E SOBRINHO DE LUIZ GONZAGA PROMOVE LIVE SOLIDÁRIA E PUXA A SANFONA DOS 8 AOS 120 BAIXOS

O sanfoneiro e cantor Joquinha Gonzaga vai apresentar uma Live Solidária na "Varanda do Rei", no domingo 12 de julho, às 16hs. Para acompanhar a live é preciso estar inscrito no canal YouTube Joquinha Gonzaga Oficial. A apresentação da Live será de Sara Gonzaga, filha e produtora do cantor.

Joquinha Gonzaga é o mais legítimo representante da arte musical de Luiz Gonzaga.  Ele é neto de Januário e sobrinho de Luiz Gonzaga. João Januário Maciel, o Joquinha Gonzaga é hoje um dos últimos descendentes vivos da família. Dos nove filhos de Santana e Januário, todos eles, ja "partiram para o Sertão da Eternidade".

Joquinha Gonzaga caminha para os 70 anos e reside atualmente em Exu, Pernambuco, no pé da serra do Araripe, como ele costuma dizer ao receber os amigos. Nesse contexto, a Live Solidária na Varanda do Rei vai proporcionar além de um encontro com os amigos, admiradores, pesquisadores da cultura mais brasileira, a oportunidade de ouvir o puxado do fole e a voz de Joquinha, com o seu canto, histórias e causos. 

No início deste ano a Câmara de Vereadores de Exu, encaminhou um projeto de apoio e solicitação do registro do cantor, compositor e sanfoneiro Joquinha Gonzaga, para ter o reconhecimento de Patrimônio Vivo da Cultura de Pernambuco.

Além de sobrinho do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, Joquinha é neto de Januário (afamado tocador de 8 Baixos) e ainda tem como tios os Mestres da Sanfona, Zé Gonzaga, Chiquinha Gonzaga (tocadora de sanfona 8 Baixos) e Severino Januário.

A justificativa para Joquinha ser reconhecido Patrimônio Vivo de Pernambuco é o valor do seu legado para as futuras gerações e a contribuição e tem o objetivo de que mantenham os saberes e fazeres da cultura da sanfona. 

Detalhe: Joquinha Gonzaga também é tocador de sanfona de 8 baixos, um instrumento quase em extinção no cenário cultural brasileiro e também por isto um dos aspectos que faz Joquinha merecedor da aprovação para assim poder se dedicar mais a aulas, oficinas e palestras sobre o tema sanfona de 8 Baixos.

Ao ser inserido oficialmente no programa Patrimônio Vivo na Política Cultural do Estado, Joquinha Gonzaga dará continuidade nas realizações de oficinas de transmissão de saberes, exposições, apresentações culturais, palestras, entre outras ações, que significam a apropriação simbólica e o uso sustentável dos recursos patrimoniais direcionados à preservação e ao desenvolvimento econômico, social e cultural brasileiro, do Estado e garantir a visibilidade de Exu, onde Luiz Gonzaga deixou um patrimônio do Parque Asa Branca, onde está o Museu Gonzagão.

Este ano, no mês de janeiro 2020, Joquinha Gonzaga participou do primeiro Festival Nacional de Música 'Canta Gonzagão’, em Exu, onde ministrou para as crianças e adolescentes do Projeto Asa Branca, uma oficina de Sanfona. Em Ouricuri, Pernambuco, também em Janeiro fez apresentação no Forró do Poeirão onde mostrou a arte de tocar sanfona de 8 Baixos, a famosa Pé de Bode.

Contato para shows de Joquinha Gonzaga: WhatsApp (87) 999955829 e (87)996770618.
Arte:: Anunciado Saraiva
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SEMINÁRIO DISCUTIRÁ A IMPORTÂNCIA DO FORRÓ PARA A CULTURA BAIANA

Mata de São João, 10 de Julho de 2020 - Nos dias 28 e 29 de julho o forró será a pauta central de seminário promovido pela Prefeitura de Mata de São João, por meio da Secretaria da Cultura e Turismo, e portal São João na Bahia. O "Tem forró, sim senhô" reunirá, por meio da plataforma Zoom, representantes da música, cultura, entretenimento, mídias digitais, produtoras do audiovisual, dentre outros segmentos. 

Serão discutidos temas como o fortalecimento, valorização, visibilidade  e a profissionalização do segmento. Participarão do encontro como expositores, gestores públicos, artistas, empresários e especialistas no tema. De acordo com o diretor de Cultura de Mata de São João, José Neto, o objetivo é mostrar que o forró não é um ritmo musical apenas do mês de junho, mas de todo o ano. "Queremos também mostrar caminhos de viabilidade para as bandas e artistas que buscam fazer com que seus produtos tenham importância e relevância para contratantes e para o público final", acrescenta Neto. 

Artistas como Adelmario Coelho e Armandinho do Acordeon, da Banda Fulô de Mandacaru, já confirmaram presença assim como prefeitos e empresários de festas privadas. 

Inscrições - O seminário é gratuito e para ter acesso às palestras e poder interagir com os conferencistas é preciso fazer a inscrição, até o dia 20 de julho, no link: http://abre.ai/temforro

Quem não conseguir efetuar a inscrição poderá assistir no site www.saojoaonabahia.com.br

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JUAZEIRENSES FREQUENTAM ORLA E DESRESPEITAM ISOLAMENTO SOCIAL

Desde o início da campanha de isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus, nunca se viu a orla Juazeiro tão cheia. Um dos principais cartões postais da cidade estava praticamente com o mesmo movimento de um dia normal, sinal de que, até mesmo as pessoas que aderiram ao confinamento estão chegando ao limite.

Na manhã desta sexta-feira (10) a reportagem do BLOG NEY VITAL  flagrou diversas pessoas, algumas sem máscara fazendo caminhada na Orla e práticas de exercícios físicos. O movimento não é apenas na orla. A avenida Flaviano Guimarães é um local que mantem um grande fluxo de movimento de pessoas. 

No final do mês passado, o prefeito Paulo Bomfim criticou a população e parte de comerciantes os quais estão desrespeitando as medidas de distanciamento, inclusive descumprimento os decretos municipais. “Estamos analisando o dia a dia de nossa cidade, a evolução do crescimento desse vírus. Meu receio sinceramente é que precise fazer o lockdown, por isso que nós temos tomado essas medidas de enfrentamento. A Prefeitura sozinha não vai resolver o problema. As pessoas precisam entender a gravidade desse vírus“, afirmou.

Hoje (10), serão definidas medidas mais duras de restrição para diversas cidades baianas que vêm apresentando um crescimento acentuado no número de casos da Covid-19, nos últimos dias. A informação foi dada pelo governador Rui Costa durante uma transmissão ao vivo para atualizar os números da doença no estado. 

O governador lembrou aos internautas que se reuniu virtualmente com mais de 60 prefeitas e prefeitos, visando alinhar medidas para contenção do novo coronavírus nessas cidades.

"Estou extremamente preocupado com o crescimento de casos registrado em alguns municípios baianos e, justamente por isso, decidi conversar com os prefeitos para entender o que levou a esse súbito aumento".

Desde o início da testagem em quantidade, através do mapeamento imunológico e do programa Vigilância COVID-19, os boletins da Secretaria da Saúde de Juazeiro tem registrado um aumento do número de casos confirmados do novo coronavírus. E embasado por estes dados, alinhado à análise técnica diária do Comitê Cientifico que monitora a situação desde o início da pandemia, o prefeito Paulo Bomfim decretou novo fechamento do comércio e mudança de horário no toque de recolher, que é das 18h às 05h.

No decreto diz que estão suspensos a utilização de quaisquer equipamentos públicos destinados a esporte e lazer, notadamente da Orla 2, Parque Fluvial e Lagoa de Calu, bem como suspende as atividades da Academia da Saúde e das academias privadas, com ou sem modalidades esportivas específicas, a exemplo de boxe e Crossfit. Também fica determinada a suspensão das atividades em clubes sociais, associações atléticas e congêneres.

Em Petrolina através de um vídeo publicado em suas redes sociais, o prefeito de Petrolina Miguel Coelho afirmou que vai se reunir com o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 para discutir novas medidas de combate à pandemia.

De acordo com o gestor, nas últimas semanas, a taxa de ocupação na rede hospitalar e o número de casos confirmados têm crescido mais do que estava sendo registrado. “A nossa prioridade é a vida”, disse.

O número de casos em Juazeiro e Petrolina somam 2.602 casos. Até o momento são 84 mortes.
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LIVE REUNIRÁ GILBERTO GIL, ADRIANA CALCANHOTO E BROWN PARA AJUDAR PRODUTORES RURAIS

Um programa do Canal Rural reunirá 50 artistas brasileiros e estrangeiros para arrecadar recursos para ajudar produtores rurais durante a pandemia.

A live Alimento para todos contará com a participação de nomes como Gilberto Gil, Adriana Calcanhoto, Roberta Sá, Mart’nália, Carlinhos Brown, Adriana Soledad, Villamil, Gustavo Santaolalla e León Gieco.

Os recursos arrecadados serão usados para a compra de luvas, botas, máscaras e álcool em gel para produtores rurais de pequenas comunidades.

A transmissão será feita no sábado, às 11h, numa iniciativa entre Canal Rural Brasil e Argentina, das emissoras Agrotendência e o Canal UCR e com a parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura. Informações da Revista Época por Naomi Matsui.
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VALDIR TELES É DECLARADO PATRONO DO REPENTE E DA CANTORIA DE VIOLA

A história de Valdir Teles, encerrada de forma breve e incompreensível, se confunde com as linhas das inúmeras poesias que este menestrel cantou e decantou pelo Brasil e pelo mundo afora. Filho da Paraíba, mas legitimamente adotado por Pernambuco – São José do Egito, especificamente, Valdir fez parte de um seleto e refinado grupo de embaixadores que carregavam nas costas, além da viola, toda a cultura diversa e plural do Nordeste.

Nascido em Livramento, no Cariri da Paraíba, Valdir veio para o Pajeú de Pernambuco enquanto criança. Por esta ocasião, fez um verso para ilustrar este momento de sua vida: “Pai vinha de São José/Com uma bolsa na mão/ Minha mãe abria a bolsa/ Me dava a banda de um pão/ Porque se desse o pão todo/ Faltava pro meu irmão”.

Aos 11 anos de idade, ficou órfão de pai. Primogênito de 4 irmãos, Valdir tornou-se o provedor do lar, passando a empunhar a enxada em meio as lavouras para sustentar sua família. Aos 19 anos, optou por sair do sertão, e com destino a Bahia, tornou-se operário em regiões de usinas como Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso. Nas horas vagas, como forma de complementar a renda, também exerceu a função de fotógrafo, à época chamado de retratista.

No fim dos anos 70, voltou ao sertão pernambucano. Na ocasião, foi apresentado aos poetas Sebastião da Silva e Moacir Laurentino pelas mãos de outro mestre e gênio dos versos, o poeta Zé de Cazuza. Valdir logo expôs seu talento nato e foi convidado a apresentar um programa de rádio na cidade de Patos, quando aproveitou a oportunidade para fixar residência no município paraibano.

A partir de então, o talento de Valdir Teles deslanchou, revelando-se como um dos maiores representantes do seu gênero no Nordeste. Ao lado de Lucio Silva, companheiro de viola, gravou seu primeiro LP, e tornou-se figura popular não só nas rádios onde conduzia programas, mas também em grandes eventos de cantoria, congressos e festivais.

No ano de 1993, Valdir escolheu Tuparetama para residir. Já neste ano, reunia em seu leque um extenso elenco de confrades como Santana, Maciel Melo, Flávio José, Raimundo Fagner, e tantos outros cantadores genuinamente nordestinos. No microfone e na viola sempre dividia, seja no palco ou no alpendre, a cantoria com grandes nomes do universo da poesia popular, a exemplo de Louro do Pajeú, Ivanildo Vila Nova, Sebastião Dias, Sebastião da Silva, Zé Viola, Geraldo Amâncio e Zé Cardoso.

Detentor de mais de 500 troféus e tantas outras centenas de justas honrarias, Valdir levou a sua arte, carregada de sotaque e sentimento, para inúmeros países da Europa, da América Latina e as mais diversas regiões do Brasil.

Todo acontecimento, do mais simples ao mais relevante, era mote para o rico talento de Valdir florear. Seja o seu amado sertão e suas nuances; seja a natureza que reúne a beleza da vegetação nativa; seja a religiosidade, que une todos em torno da fé; seja todas as coisas que ao nosso enxergar parece diminuto, mas para a visão do poeta é gigante, tornando-se verso que emociona.

Tive o prazer pessoal de conhecer o pai, o amigo e o poeta Valdir Teles por ocasião de seu aniversário. Em uma comemoração que concentrou grandes astros da poesia, unindo Paraíba e Pernambuco no mesmo terreiro, fui testemunha da força de sua voz, do ritmo de sua viola e do talento de seus versos.

No fim do entardecer do dia 22 de março de 2020, aos 64 anos, Valdir Teles foi levado pelo destino. Enquanto se resguardava na Serrinha para prevenir o contágio do Covid-19, o poeta sofreu um infarto fulminante. E antes de desaparecer precocemente, fez seu derradeiro verso sobre o “vírus da morte”, como o mesmo denominou o coronavírus, emprestando seu talento e dando rimas bastante regionais as formas da prevenção desta pandemia.

A tecnologia, de certo modo, deixa público todo seu legado nas plataformas digitais, ficando acessível as futuras gerações. Mas seu legado maior, vivo e pulsante fica em forma de gente, com nome e sobrenome: Mariana Teles. A jovem advogada, além de militar no campo das leis, é militante da poesia popular. “Escritora escrava do verbo escreva”, como se autodenomina, Mariana herdou brilhantemente do seu pai toda a arte e a sensibilidade que se traduz em rimas bem metrificadas.

Além de Mariana, deixa também Glaubênio e Galderise, além de netos e a viúva, dona Elza. Os órfãos não se resumem apenas nestes citados aqui. Valdir deixa uma legião incontável de amigos, seguidores e admiradores, que aprendem sobre o poeta na escola. Hoje, ele se junta a um rol de artistas como Louro do Pajeú e João Paraibano, passando a cantar e improvisar com eles e tantos outros em novas dimensões do universo.
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ANTONILA DA FRANÇA CARDOSO DEIXOU VALIOSO LEGADO CULTURAL

O Sertão do São Francisco perde uma mulher intelectual e pioneira nos estudos da cultura popular da região, professora Antonila da França Cardoso, que faleceu neste 9 de Julho de 2020. 

Tive o privilégio de conhecê-la por meio de sua produção literária a respeito das tradições e manifestações folclóricas, ainda na graduação do curso de Jornalismo em Multimeios, da Universidade do Estado da Bahia, quando resolvi pesquisar a Festa dos Kongos do município de Sento Sé, que resultou no Trabalho de Conclusão de Curso, defendido ano passado.

Na obra Nosso Vale..nosso folclore beira-rio, Antonila realizou uma vasta pesquisa etnográfica e traz uma rica documentação, com detalhes minuciosos, a respeito das manifestações culturais do Vale do São Francisco existentes desde a década de 1970, algumas resistem até hoje aos processos de transformação, mudanças e opressões da atualidade.

Professora Antonila era culta, alegre, ética, sabia respeitar e enaltecer suas origens e princípios, não importava onde estivesse, sempre fazia questão de citar ou de levantar debates relacionado à cultura do Vale do São Francisco. Foi através dos seus escritos que também  aprendi o significado das diferentes culturas e religiões diversificadas das cidades do vale. Em decorrência deste valioso trabalho de pesquisa documental e estudos realizados no Grupo de Pesquisa Educação, Sociedade e Desenvolvimento, coordenado pela professora Edonilce Barros, desenvolvi empatia em relação à ancestralidade da cultura africana e indígena.

Antonila deixou um rico legado e variados textos – crônicas, entrevistas, livros - que servem para estudantes, pesquisadores, instituições e a quem deseje mergulhar na  sua obra para construir e dar continuidade as manifestações culturais que precisam ser vistas e respeitadas por nós, amantes, admiradores ou simples mortais que necessitam de cultura para continuar a viver em um mundo tão cheio de incertezas e angustias.

Finalizo conclamando o que Antonila Cardoso, na década de 70, já pedia: " Não deixe morrer as manifestações culturais do Vale do São Francisco".

Maiara dos Santos, jornalista e pesquisada da cultura do congado de Sento Sé.

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VINICIUS DE MORAES: 40 ANOS DE SAUDADE DO POETINHA

Se estiver com saudades, pode abrir os ouvidos e inspirar os olhos. Os versos estão enfileirados na memória, nos arquivos, no coração de um país, no alento, na esperança de um gigante que respondia pelo apelido em diminutivo, um Poetinha. Brasileiros que estão hoje longe da família, de amores da vida, de amigos, podem encontrar também a beleza de cada segundo e do viver ao (re)visitar a obra eternizada do gênio Vinícius de Moraes, que morreu há exatos 40 anos, no dia 9 de julho de 1980, aos 66 anos de idade. 

O artista que dizia que a “distância não existe” rogava que não queria “mais esse negócio de você longe de mim”. “E por falar em saudades, onde anda você?”. Celebrado na academia, nas aulas de literatura, nas rodas de amigos, nas emissoras de rádio, nos bares, no café da manhã e na boemia, Vinícius é esperança erudita em bom popular: “dentro dos meus braços/os abraços hão de ser milhões de abraços”.

Profano e sagrado, tudo junto e misturado: “diz-lhe numa prece, que ela regresse porque não posso mais sofrer”. Poetinha está vivíssimo, garantem os estudiosos e todos os apaixonados. Aliás, nesta quinta, um grupo de artistas fará uma apresentação em live para celebrar a memória do autor, dos encontros e das saudades.

A produtora cultural Gilda Matoso, de 68 anos, viúva de Vinícius de Moraes, organiza o evento, que começa às 19h, no canal dela no youtube, contará com nomes como Toquinho, Gilberto Gil, Maria Creuza e Mariana de Moraes, Cynara (Quarteto em Si), e os poetas Marcel Powell, Antonio Cícero, Geraldo Carneiro e o ator Aloísio de Abreu. Cada artista vai escolher algo para cantar e conversar sobre ele. 

“Eu fico abismada. Tanta gente que não era nem nascida na época é muito fã dele. É uma obra eterna. A obra é verdadeira, rebuscada e ao mesmo tempo tão popular”, disse. Gilda Mattoso admira toda a obra do artista, mas destaca uma canção em especial que também celebra a saudade: “Marcha de Quarta-feira de Cinzas”. A música deve ser interpretada na apresentação desta quinta, pela cantora Maria Creuza.

A neta do poeta, Mariana de Moraes, 50 anos, afirma que o exemplo de ética, e o olhar amoroso de Vinícius (que morreu quando ela tinha 11) são fundamentais para a vida e para a obra que ela também construiu. “Por mais triste que seja o assunto que ele trata, Vinícius consegue enxergar aspectos positivos. Ele exercia a compaixão, a caridade e a poesia”. A artista compara a música e os versos a uma forma de rezar. “Vinícius sensibilizava. É importante consumir a obra dele porque trazem esperança e alento, mesmo quando a temática é triste”.

Mariana de Moraes diz que esse é um momento para estar com Vinícius. “Ele diz que o amor vai prevalecer. Ele produziu uma forma amorosa”. Ela cita a poesia/canção Eu não existo sem você como um exemplo desse olhar lírico: “Eu sei e você sabe que a distância não existe. Que todo amor só é bem grande se for triste. Por isso, meu amor, não tenha medo de sofrer. Pois todos os caminhos me encaminham pra você”.


Vinícius escreveu sobre as coisas do coração e foi equilibrado, analisa a neta. “Ele uniu pensamento, coração e ação. Ele era um homem que ajudou muito gente, muitos artistas. Ele agiu como homem e transformou sentimentos em palavras”, admira-se. Por isso, para ela, a obra de Vinícius é tão inspiradora para diferentes públicos. “É importante pensar coisas belas”. Ela recorda que o avô chamava, com carinho, as pessoas pelo diminutivo. E surgiu o apelido do Poetinha.

Mas ela contextualiza que o autor chegou a ser boicotado por trazer conteúdo também popular. “A poesia dele conseguiu furar o bloqueio e ele é reconhecido como um grande poeta a par de ser também compositor. A obra dele resiste forte e voltou a ser estudada nas universidades”. Mariana de Moraes lamenta que as novas gerações são também bombardeadas de materiais sem qualidade, tanto na música quanto na poesia. E, por isso, ela defende que os jovens devem ser apresentados cada vez mais aos grandes autores.

Mariana recorda que decidiu cantar desde criança sob inspiração de João Gilberto. “Eu conheci a obra de Vinícius pelo o que eu ouvia do João. E passei, com o tempo, a ser convidada para eventos a celebrar a memória dele. E me apropriei do que ele produziu. Eu reverencio muito a obra do meu avô”.

Estudioso da obra de Vinícius de Moraes, o professor Eucanaã Ferraz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entende que o poeta é completo e único em função da trajetória também popular. “Vinícius é um personagem presente no dia a dia de muitas faixas etárias e classes sociais. Foi um poeta que fez obras para crianças (como o álbum Arca de Noé), o que faz com que o interesse por ele passe de geração para geração”. O pesquisador destaca o pensamento sofisticado de Vinícius mesmo em um lugar de grande apelo artístico, de apreço pela simplicidade e ao mesmo tempo de rigor estético.

Eucanaã Ferraz ressalta as temáticas universais do artista, que fazem com que a obra seja considerada atual. “Todo artista fala com o seu tempo e com aqueles que o antecederam. E ele provoca em cada um de nós algum tipo de pergunta. E nos provoca perguntas que nem sabíamos que tínhamos. A obra de arte é um lugar de inquietações, nem sempre de respostas”.

A professora Sylvia Cyntrão, também pesquisadora da obra de Vinícius na Universidade de Brasília (UnB), destaca que ele teve teve extrema preocupação social, como na poesia A rosa de Hiroshima, embora ele tenha ficado mais conhecido pela temática do amor-paixão. “A poética modernista de Vinícius, expressa preocupações essenciais que são fruto desse eterno impasse entre a aceitação da realidade na forma que se apresenta e a esperança utópica que podemos modificá-la pelo amor”. Para ela, o legado do autor traz pistas preciosas de como homens e mulheres devem enfrentar a realidade.

O professor de literatura Tiago de Carvalho, do Instituto Federal de Brasília, destaca que a obra de Vinícius é um tema que encanta também o ensino fundamental e médio, já que os alunos trazem referências ao poeta, ainda que não tenham tantas informações como os universitários. Os mais jovens percebem que o Poetinha foi admirado no morro e também pela elite. 

“Um homem que tinha causas ligadas às massas. Ele transitava entre o popular e o erudito e deve ser estudado tanto nas academias quanto cantado pelo povo”. O professor indica que o poeta se popularizou pela forma como cantava o amor, e pela visão redentora do sentimento. “Ele captou isso como ninguém. Apaixonado pela vida pelo amor, e se entrega ao samba e à bossa-nova. Ninguém faria como Vinícius em todas as camadas da sociedade, tanto na música como na poesia”.

Ele recorda que a obra de Vinícius deve ser contextualizada como multifacetada. “Amor e saudade são temas que sobressaem. O poeta se destaca também por versos sociais como em Operário em Construção. Além disso, está também em temas como a religião e até o erotismo. Podíamos nos perguntar onde estaria Vinícius hoje. Era um homem amoroso na poesia e com as pessoas”. O espaço das saudades em Vinícius é um lugar do amor, afirmam os estudiosos. “Nós somos seres em construção. A poesia dele é grande também porque não é dogmática”.

Quarenta anos depois de sua morte, os pesquisadores reconhecem que ainda há muito o que ler e ouvir para compreender mais sobre o célebre autor. Enquanto a academia esmiúça os dotes estéticos e estilísticos do poeta, os fãs, em saudades, apaixonados, têm seus olhares próprios para a esperança e para o amanhã, nas rodas de cantoria que já planejam para quando a pandemia passar. "Assim como o Oceano, só é belo com o luar. Assim como a Canção, só tem razão se se cantar...". Todos teremos razão em cantar a esperança e a saudade que ele, em tantas formas, deixou como legado. (Fonte: Agencia Brasil)
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