OS 40 ANOS DO LIVRO BRASILEIRO CONDENADO PELO VATICANO HOJE INSPIRA PAPA FRANCISCO

Quarenta anos atrás, Boff lançou um livro até hoje considerado sua obra máxima, constante de bibliografias de cursos de teologia e presente nas cabeceiras de muitos pensadores influentes — e, há quem diga, até mesmo do papa Francisco. Trata-se de Igreja: Carisma e Poder (Vozes), um compilado de 13 densos ensaios cuja primeira edição foi publicada em 1981.

Ao longo de mais de 200 páginas, o teólogo afirma existirem violações aos direitos humanos no interior da Igreja Católica, questiona a engessada hierarquia eclesiástica e entende a teologia como resultado das experiências de fé vividas pelo povo — e não o contrário.

Se o jeito de ser religioso de Boff, militando junto aos pobres, causava desconforto em setores católicos, o livro serviu como prova concreta para os que viam nele um dissidente, alguém fora do padrão instituído.

O caso foi analisado primeiro pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em seguida, encaminhado para a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), órgão do Vaticano herdeiro histórico do temido Tribunal da Inquisição, conhecido por perseguir aqueles considerados hereges até o século 19.

No comando da CDF estava o então cardeal alemão Joseph Ratzinger, que mais tarde se tornaria o papa Bento 16, sucessor de João Paulo 2º (1920-2005).

Sua decisão sobre o caso Boff foi publicada em 11 de março de 1985. No julgamento, a congregação entendeu que o livro era uma afronta a pelo menos quatro pontos da doutrina católica.

"Examinadas à luz dos critérios de um autêntico método teológico […] certas opções do livro de L. Boff manifestam-se insustentáveis", pontua o documento final.

"Sem pretender analisá-las todas, colocam-se em evidência apenas as opções eclesiológicas que parecem decisivas, ou seja: a estrutura da Igreja, a concepção do dogma, o exercício do poder sagrado e o profetismo."

Entendendo que as reflexões de Boff "são de tal natureza que põem em perigo a sã doutrina da fé", a congregação condenou o religioso brasileiro. Coube a ele um ano do chamado "silêncio obsequioso", uma espécie de "cala-boca" oficial que o proibiu de emitir opiniões ou mesmo exercer publicamente suas atividades religiosas.

Por e-mail, Boff afirmou à BBC News Brasil que "a intenção originária do livro era aplicar as intuições da teologia da libertação às relações internas na Igreja, em setores da Igreja".

"Uma igreja que prega a libertação na sociedade não pode ser um fator de opressão nas suas relações internas", argumenta ele.

"A razão reside neste fato: todo o poder sagrado está nas mãos de um pequeno grupo clerical; os leigos, que são as grandes maiores, não participam dele e as mulheres são completamente excluídas. Uma Igreja que assim se organiza e exige libertação na sociedade se desmoraliza porque, internamente, não dá mostra de ser libertadora."

Recordando seu próprio livro, o teólogo sustenta que "na medida em que a Igreja hierárquica se assenta sobre o poder em sua forma absolutista e até tirânica na figura do papa, não há a possibilidade de se converter".

"Este tipo de poder centralizado necessariamente é excludente e, por isso, sua natureza viola direitos dos fiéis", diz.

Boff vê os leigos reduzidos a uma cidadania inferior, e as mulheres encaradas como "força auxiliar do clero", a despeito de serem numericamente a maioria.

"O ponto crítico e extremamente sensível para as autoridades eclesiásticas foi a crítica que fiz ao poder sagrado, sobre o qual se constrói toda a compreensão da Igreja", acrescenta.

"Jesus fez uma arrasadora crítica ao poder como centralização e busca de privilégio. O poder só se legitima evangelicamente como serviço e não como privilégio e elemento de criação de diferenças na comunidade. A Igreja dos primórdios se construía sobre a categoria da comunhão de todos com todos, no sentido de uma comunidade fraternal de iguais, embora com funções diferentes."

Boff diz que no catolicismo contemporâneo, a comunhão foi "esvaziada" e, "no lugar do Espírito Santo, entrou o direito canônico, que tudo estabelece".

"Não me restringi a fazer crítica à Igreja hierárquica do poder sagrado. Tentei mostrar […] uma alternativa possível e fundada biblicamente, de uma Igreja assentada sobre o Espírito Santo e os carismas como forma diferente de organização comunitária", explica. "Estes seriam os pontos nevrálgicos que provocaram minha convocação pela Congregação para a Doutrina da Fé."

O teólogo reconhece, contudo, que os problemas não eram apenas os teológicos. "Havia dois outros, muito importantes, de caráter político", ressalta ele, frisando que o primeiro dizia respeito à teologia da libertação.

"Uma semana antes de minha convocação [para prestar esclarecimentos], a congregação [CDF] havia publicado um documento crítico a este tipo de teologia, acusando-a de politização da fé e do uso de categorias marxistas. Submeter-me, logo após, a um juízo doutrinário significava também colocar sob suspeição a Teologia da Libertação e, com isso, desautorizá-la."

O segundo motivo político dizia respeito às chamadas comunidades eclesiais de base — grupos ecumênicos em que pessoas com necessidades comuns são incentivadas a se reunir para leituras bíblicas e debates sociopolíticos. Como diz Boff, lugares "onde se praticava e ainda se pratica a Teologia da Libertação".

"A intenção já antiga do Vaticano era declarar que essas comunidades não são eclesiais, mas políticas", afirma ele. "Desta forma, ficariam também desclassificadas e, junto delas, a Teologia da Libertação."

A reportagem perguntou a Leonardo Boff se, com passar do tempo, ele se arrepende ou chegou a se arrepender de alguma coisa do conteúdo desse livro — considerando, inclusive, a repercussão do mesmo no interior da Igreja. Ele negou categoricamente.

"Continuo sustentando as teses do meu livro, que são secundadas pela melhor reflexão teológica católica e ecumênica", esclarece.

Ele afirma que "a estruturação institucional da Igreja hierárquica é mais e mais criticada por não ser suficientemente fundada nos evangelhos e na prática de Jesus e dos apóstolos".

"Sobre isso se fizeram inúmeras teses nas muitas faculdades de teologia. Mais ainda, esta teologia oficial é posta de lado pela prática do atual papa Francisco, que explicitamente vive o modelo de Igreja de comunhão, favorece as comunidades eclesiais de base e tem dado apoio explícito à teologia da libertação, de onde ele mesmo mesmo veio."

Boff comentou que se corresponde com o papa Francisco "em sucessivas e amistosas trocas de cartas".

"O livro ['Igreja: Carisma e Poder'] resultou de uma série de textos de conferências e de artigos publicados. O título vai direto ao ponto", define o teólogo Luiz Carlos Susin, professor na Pontifícia Universidade Católica no Rio Grande do Sul (PUC-RS) e na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana e membro do Comitê Internacional do Fórum Mundial de Teologia e Libertação.

"Na América Latina em geral, mais especificamente no Brasil, a década de 1970 tinha sido tensa politicamente pois nos extremos estavam as ditaduras e as guerrilhas, e no campo intelectual a situação social era analisada com categorias marxistas. A Teologia da Libertação dialogava com este pensamento crítico, embora nem Boff e nem os demais teólogos dominassem bem as categorias marxistas. Mas havia 'afinidades eletivas'."

CONTEXTO: Em 1981, Boff já era bastante respeitado. Catarinense de Concórdia, nascido em 14 de dezembro de 1938, ele civilmente se chama Genézio Darci Boff e assumiu o nome de Leonardo quando se tornou membro da Ordem dos Frades Menores, ao fim da década de 1950.

Ordenou-se sacerdote em 1964 e, depois, viveu um período na Alemanha, onde doutorou-se pela Universidade de Munique.

Ao longo dos anos 1970, seu pensamento passou a ser materializado em artigos e livros. Ele integrou o conselho editorial da Vozes, onde coordenou a coleção Teologia e Libertação e atuou como redator da Revista Eclesiástica Brasileira, entre outras publicações periódicas.

Nesse contexto, o teólogo fundou em 1979, com a ajuda de um grupo de militantes e religiosos, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), em Petrópolis, onde vive. Os antigos parceiros nesse projeto são os que guardam as melhores memórias da perseguição sofrida por Boff no processo junto ao Vaticano.

"Trabalhava no CDDH nos anos 1980 e convivia diariamente com Boff, principalmente no ano do famoso silêncio obsequioso [1985], afirma o teólogo e filósofo Adair Rocha, professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

"Silêncio obsequioso é uma expressão de uma sabedoria histórica incrível, bem mais respeitosa do que 'faz favor de calar a boca'."

"Igreja: Carisma e Poder se relaciona com Jesus Cristo libertador. Isso acabou incomodando os setores hierárquicos da Igreja", diz ele.

"[Boff] trabalha os pressupostos teóricos de natureza teológica com as questões de natureza prática, numa perspectiva estruturante do modelo da circularidade da Igreja, enquanto o modelo tradicional existente é hierarco-piramidal."

"Quando isso vai para as comunidades eclesiais de base, implica em questões que vão interferir diretamente na vida das pessoas, e isso assume uma conotação de natureza política que vai identificar Boff e toda sua produção com autores preocupados com essa questão estruturante do capitalismo e como os meios de produção interferem na força de trabalho", completa.

Para Rocha, a teologia trazida pelas reflexões de Boff estava empenhada em possibilitar que a população mais pobre adquirisse "todos os direitos". "A palavra de Deus vai deixando isso cada vez clara. A conotação política acaba sendo clara", acrescenta.

Professor e desenvolvedor de aplicativos em Goiânia, o filósofo José Américo de Lacerda Júnior recorda que foi arrebatador quando, nos anos 1980, "mergulhou" na leitura de Igreja: Carisma e Poder.

Em 1987, viveu em Petrópolis e "a proximidade com a pessoa do Leonardo trouxe ainda mais força àqueles seus escritos que tinham me marcado tanto".

"Eu vi nele a coerência entre sua prática e sua escrita, entre sua ação e sua teologia", afirma. "Práxis. Compreendi na pele e na alma a mensagem do livro: o desafio de manter o equilíbrio entre a força fundante do amor e a razão opressora da institucionalização."

Boff afirma que seu livro teve o mérito de provocar uma grande discussão teológica no cerne do catolicismo

O músico e filósofo Sérgio Messias Guimarães orgulha-se de ter integrado o grupo que criou o CDDH em 1979. "[Vi] as consequências: tudo o que Leonardo sofreu a partir de Igreja: Carisma e Poder. A obra veio questionar práticas equivocadas internamente, liturgicamente, teologicamente e pastoralmente. Práticas de centenas de anos. O livro questiona de maneira contundente, daí ganhou uma importância tamanha", relata ele.

"Ratzinger, com seu conservadorismo, traduziu essa linha [conservadora] de João Paulo 2º. Aí chegou a bater forte em Leonardo, por conta dos questionamentos importantes feitos por esse livro", comenta.

"A relevância da obra continua forte porque ela evoca mudanças na Igreja. Jesus colocou muito claramente no evangelho o amor para o outro, o cuidado para o outro, principalmente para aquele que precisa mais, sofre mais as consequências da sociedade que não permite que todos tenham seus direitos básicos respeitados. Boff continua presente, atual. No papado de Francisco, o livro se torna um grande ponto de referência."

Guimarães acredita que a condenação de Boff tenha sido pelo conjunto de sua atuação. "O livro foi a gota d'água por certos questionamentos que ele vinha fazendo e pela própria teologia da libertação", defende.

Para a educadora e militante Márcia Monteiro da Silva Miranda, com quem Boff vive oficialmente desde que largou a batina, em 1992, a repercussão do livro é resultante do fato de que, no período da ditadura, "setores da Igreja lutaram pelos direitos das pessoas e setores conservadores da Igreja achavam que a Igreja não podia se misturar com política".


"Como se o fato de eles não falarem nada [sobre o regime ditatorial] também não fosse um posicionamento político", diz ela.


"Leonardo foi muito profético, mas ele é um homem transparente, que acredita no que fala. O que ele fala é a partir do que reflete, estuda. Mas ele não é um acadêmico que fica só estudando. Ele é um homem de fé e andou sempre em contato com a situação do povo. Isso tornou forte o pensamento dele", afirma.


Por outro lado, Miranda acredita que a punição sofrida por seu companheiro tornou sua obra ainda mais reconhecida.


"Acredito que Deus escreve certo por linhas tortas", sentencia. "O fato de ele ser punido, calado, serviu para disseminar ainda mais a teologia da libertação. Tornou-se uma coisa que se espalhou, se esparramou e vai até hoje adubando a fé, inclusive para irmãos cristãos evangélicos e outras religiões que não são cristãs."


Legado

Boff ressalta que seu livro teve o mérito de provocar uma grande discussão teológica no cerne do catolicismo. "[Contudo] foi um grave equívoco cometido pelas autoridades doutrinais do Vaticano terem entendido de forma errônea o título do meu livro", acredita ele.


"Entenderam Igreja: Carisma ou Poder. Tenho afirmado a legitimidade do carisma e do poder na Igreja, poder para organizar internamente a comunidade no espírito dos evangelhos e carisma para abrir-se ao novo e às iniciativas exigidas pelos tempos cambiantes. Mas tenho insistido na tese: na relação entre poder e carisma deve-se partir sempre do carisma e não do poder", explica ele.


"Assim, o carisma impede o poder de se autonomizar e o confirma sempre como serviço. Se partirmos do poder, este enquadrará o carisma, tirar-lhe-á a forma de inovação e de abertura de novos caminhos", acrescenta.


"Essa foi a tragédia do carisma na Igreja: figuras carismáticas — aqui no sentido de inovadores e não do movimento carismático — e os profetas foram, geralmente, vigiados, cerceados, perseguidos, punidos e até condenados."


Para o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, um ponto-chave para compreender Igreja: Carisma e Poder é entender que, na Teologia da Libertação, "a teologia aparece sempre como um segundo ato".


"O primeiro ato, o mais importante, é a experiência de fé dentro das comunidades. E foi dentro dessas comunidades que a experiência cristã foi mostrando para Boff que a Igreja que se conhece era uma Igreja hierárquica, europeia, medieval, uma Igreja que estrutura e combina o poder temporal com o poder espiritual. Essa Igreja estava em uma direção completamente contrária. Então [sua obra] aponta para uma luta contra o clericalismo, contra essa ordem hierarquizada", explica.


"É como se ele dissesse que o poder nasce dentro da Igreja, mas da Igreja que são essas pessoas pobres, humilhadas sofridas, oprimidas."


Por tudo isso, a obra pode ser definida como profética, segundo explica o professor. Boff cobra uma Igreja que abandone o estilo monárquico, os títulos, os cargos — e brote justamente dos mais pobres.


Conforme diz Moraes, os teólogos da libertação estavam preocupados com a ortopraxia em vez da ortodoxia. "Para eles, melhor do que a opinião correta, é a prática correta. É nessa direção que Boff vai", comenta.


Igreja: Carisma e Poder tornou-se fundamental nas bibliografias da área. "A obra de Boff vai perdurar por muito tempo ainda, porque é consistente. É de uma teologia desafiadora, que faz as pessoas sonharem com um verdadeiro poder: o poder do cristianismo autêntico e não a estrutura fechada, engessada, do clericalismo que se torna protecionista de coisas erradas", avalia Moraes.


"Sua obra vai continuar existindo e resistindo ao tempo porque é uma fonte de utopia, uma fonte teológica de sonhos, de possibilidades de concretização no mundo real das expectativas da caminhada de fé."


Ele ressalta que o teólogo ainda tem a habilidade de tratar de coisas profundas de um jeito simples, dirigindo-se ao homem comum, sendo de fácil compreensão.


Doutora em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e pesquisadora do Instituto de Ensino e Assistência Social (IEAS), a religiosa Dulcelene Ceccato, da Congregação das Irmãs do Divino Salvador ressalta a relevância mundial de Boff.


"Ele não é apenas um autor, ele é uma escola de pensamento, tanto teológico como também filosófico. Como poucos, ou melhor, como os melhores e o maiores autores contemporâneos, possui uma obra ampla, sistematizada em muitos livros e artigos."



"A obra de Boff vai perdurar por muito tempo ainda, porque é consistente", avalia historiador

Ao condenar Boff, a Igreja tinha como "meta atingir a mente mais lúcida da América Latina e Caribe para calar o pensamento em favor do mundo dos pobres", defende o o filósofo e teólogo Fernando Altemeyer Junior, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "A estratégia persistiu até a eleição do papa Francisco, quando voltamos a ter oxigênio para fazer teologia. Superou-se o verdadeiro inverno eclesial e eclesiástico que durou 40 anos. Um verdadeiro deserto para os intelectuais católicos", diz o professor.


"A cristologia latino-americana que se fez a partir da dor humana, especialmente da humanidade padecente em sua carne e corpo, nas ditadores militares foi calada e perseguida dentro da própria Igreja", comenta Altemeyer. "A cristologia européia se fez a partir do conhecimento humano e da angústia existencial em sua alma e mente. A cristologia latino-americana vem de baixo para cima. Do histórico de Jesus ao ser de Jesus. Do ser de Jesus ao ser de Deus. É alinhada à escola teológica de Antioquia, ao pensamento dos primeiros evangelistas e a São João Crisóstomo. Fazer teologia muda a vida dos teólogos."


Para Susin, a riqueza intelectual de Boff acabou se tornando mais visível com a "mudança de foco" depois de desligar-se do sacerdócio, em 1992. "Ele vinha prestando atenção, pesquisando e começando a escrever a respeito de ecologia em diálogo com as ciências. Sua decisão foi privilegiar a interlocução com a sociedade e não mais com a Igreja, ao menos no foco central de seu trabalho", analisa.


"Continua tendo lealdade de pertença à Igreja e fala dela com propriedade, mas cresceu em sua liderança em termos de ética e espiritualidade ecológicas. Inovou em sua insistência numa ecologia integral, assumida agora pelo papa Francisco", comenta ele. "Mas seus livros de teologia da primeira fase têm ainda consistência e conservam atração por uma das características de seu estilo, uma linguagem quase jornalística, de crônica e algo de poesia. Este outro lado místico e entusiasta, e não apenas crítico, ou profético, em termos mais bíblicos, está presente ao longo de sua produção, o que o torna um escritor rico e complexo."



Boff não esconde que há um alinhamento entre seu pensamento e o atual pontificado

"A teologia de Boff e tantos pensadores do hemisfério sul participa da esperança libertadora dos povos crucificados. É uma cristologia ascendente, inspirada em textos clássicos dos aristotélicos e tomistas", explica Altemeyer. "[Por outro lado,] a teologia europeia trabalha a encarnação do Verbo como manifestação salvífica de Deus. É uma teologia descendente, inspirada em textos clássicos dos platônicos e agostinianos."


A influência do pensamento de Boff sobre o papado de Francisco transparece em algumas de suas manifestações e em documentos oficiais, como na encíclica dedicada ao meio ambiente, a Laudato Si', de 2015.


Para o frei Marcelo Toyansk Guimarães, da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Frades Capuchinhos e assessor da Comissão Justiça e Paz da CNBB-SP, é visível como esse modo de pensar ecoa no atual pontificado. "Podemos ver nas homilias do papa, que ele chama fortemente a cúria romana à conversão", pontua. "Isto está escancarado, estamos à beira de uma reforma mais consistente da própria cúria."


"[No livro,] Boff discorre sobre violações de direitos humanos no interior da Igreja. A Igreja precisa estar aberta a críticas para ajudar na revisão de posicionamentos", prossegue. "Vemos em Francisco como isso acontece de forma mais fluida, quando ele diz tolerância zero com relação a abusos e quando ele se posiciona de forma muito firme em relação aos clericalismos, dizendo que é um grande mal da Igreja."


"O debate trazido por Boff é repetido pelo papa, que nos provoca hoje a fazer uma Igreja a partir dos pobres, que tenha o leigo como protagonista, que seja sinodal", resume o religioso.


Susin atenta que a Igreja, pelo "peso do dinossauro", enfrenta a "dificuldade da reforma". "A tradição, que é sua riqueza e sua glória, é também sua miséria quando se trata da estrutura de poder, e na submissão da doutrina e até do evangelho ao direito canônico, comenta. "A cúria romana tem a estrutura de uma corte do século 17I na França, cheia de títulos, vênias e medalhas. É nas áreas missionárias, de fronteiras, exatamente onde ela parece mais precária, que ela apresenta mais criatividade carismática e mais vitalidade genuinamente evangélica."


"Com a enorme extensão dos pontificados de João Paulo 2º somando-lhe a continuidade em Bento 16 acabou se fortificando na Igreja o que o papa Francisco tem chamado de clericalismo, um interesse ligado ao poder que se afirma sobre a postura de que o clero é a única mediação da salvação", explica ele. "As atuais tensões dentro da cúria romana e as contraposições nem sempre tão veladas de um clero mais conservador em diversos países, como os Estados Unidos, e o papa Francisco mostram que a análise do poder ainda precisa ser feita, é tarefa incompleta."


Ceccato lembra que o teólogo brasileiro foi pioneiro nas reflexões sobre "a grave problemática ecológica", propondo "os parâmetros para uma ecologia integral, que o papa Francisco retoma na encíclica Laudato Si'". "Pode ser dizer que essa é a obra de Leonardo Boff que continua sendo escrita com criatividade, inteligência e, cada vez mais, marcada por uma profunda mística franciscana que aponta para o amor misericordioso de Deus e a fraternidade universal."


"Não cabe dúvidas que a teologia sul-americana, nos últimos 50 anos, deu muitos passos na reflexão teológica", afirma a religiosa. "Basta ver a importância da problemática ecológica."


Boff não esconde que há um alinhamento entre seu pensamento e o atual pontificado. "A prática e a mensagem do atual papa se situam perfeitamente dentro da perspectiva carismática defendida por meu livro 'Igreja: Carisma e Poder'. Ele disse sucessivas vezes que não vai dirigir a Igreja com o uso do poder, que não condenará ninguém e que fará o possível para viver uma Igreja sinodal que é outro nome para uma Igreja de comunhão", ressalta ele.


"Pelo fato de se negar viver num palácio mas preferir a casa da hóspedes, mostra na prática a distância do símbolo do poder, um palácio, e sua proximidade do lugar comum a todos, uma casa. Ele está mais perto da gruta de Belém do que dos palácios dos príncipes renascentistas, muitos deles eleitos papas."

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LIVRO PEDRA DA BATATEIRA É TEMA DO LIVRO DA PROFESSORA FÁTIMA TELES

A conhecida lenda da Pedra da Batateira é o fio condutor da mais nova obra lançada pela escritora Fátima Teles, de Brejo Santo, Ceará. O livro, que conta com as ilustrações de João Alves, tem 29 páginas e traz personagens que relatam, através da oralidade, as histórias que permeiam o imaginário de cada um.

Segundo a autora, a ideia surgiu há dois anos, quando escreveu “A cidade que veio das águas”, que retrata a lenda do açaí. “Percebi que as crianças são receptivas, curiosas e atenciosas para as histórias trazidas pela nossa ancestralidade, e também eu quis iniciar a minha escrita sobre os costumes, histórias e lugares que permeiam a nossa região tão linda e rica culturalmente”, destaca Fátima.

A narrativa contada, diz que uma pedra situada no Rio Batateira, em Crato, pode rolar e inundar o entorno da Chapada do Araripe. Para Fátima, a "obra contribui com o fortalecimento do sentimento de pertencimento do povo caririense. Às crianças, o conhecimento de como nasceu a nossa região, de onde são, quem são. O livro fortalece também a memória oral, já que agora ela se imortaliza através da obra publicada", completa.

Fátima é Mestranda em Estado, Governo e Políticas Públicas pela Faculdade de Ciências Sociais da América Latina (FLACSO) e professora da rede pública municipal de Brejo Santo. Entre suas principais publicações, estão o livro infantojuvenil “Cidade que veio das águas”, “Centenário do Professor José Teles de Carvalho: O Pai da Educação de Brejo Santo”, de 2018; o livro “Brejo Santo: Revisitando o passado e construindo o presente”, e o livro de poesia feminista “Lições de Maria”, lançado em 2019.

A LENDA: Não é grande a distância que vai da lenda à História, do mito à realidade. Ambos se mesclam na confluência dos mesmos fatos e circunstâncias, apenas com as variantes definidoras da rotas trilhadas. O mito completa a História, e esta explicita aquele.

Lendo os originais do livro do Padre Antônio Vieira, “Eu Sou a Mãe do Belo Amor”, acudiu-me à lembrança as estórias ouvidas, ainda na infância, sobre a lenda da Pedra da Batateira, e mais tarde se me aguçou a curiosidade de realizar pesquisas para aprofundamento da temática, por ser, sem dúvida, de alta relevância histórica e sociológica.

Através de muitas crônicas históricas, sabe-se que os índios da chamada, Nação Cariri (Kariri ou Quiriri), os primitivos habitantes do Vale do Cariri e dos sertões nordestinos, do Rio São Francisco à Serra da Borborema, segundo versão de Capistrano de Abreu, provieram de “um lago encantado”, provavelmente do Amazonas ou Tocantins, sendo expulsos dessa região como do litoral pelos Tupinambás e Tupiniquins.

Como se vê, a água era predominante na cultura desses silvícolas. Era tradição serem de uma bravura e ferocidade estupenda, e como símbolo e troféu dos seus feitos épicos e homéricos, se ornamentavam com dentes de tubarão, jacaré e onça.

Os colonizadores, na sua gana predatória de domínio dos campos de criação de gado, tentaram eliminá-los nas chamadas “guerras justas”, cujos embates se alongaram de 1683 a 1713, nos cruentos e desumanos combates, conhecidos historicamente como “Confederação dos Cariris” ou a “Guerra dos Bárbaros”. E os conquistadores só conseguiram dominá-los e massacrá-los, graças ao esforço ponderável dos bandeirantes paulistas, em gente, armas e municiamento.

Foi uma guerra de extermínio, autêntico genocídio, como se costumava realizar à revelia da lei e dos princípios éticos e humanitários, nas novas terras descobertas.

Os remanescentes da tribo dos índios Cariris, alocados no Vale Caririense, trouxeram codificada, na sua sensibilidade, intuição e memória, a evocação da imensa Bacia Amazônica, das suas enchentes devastadoras, e não foi difícil à sua fértil imaginação idealizar que todo o Vale Caririense fosse um mar subterrâneo, com imenso caudal represado pela Pedra da Batateira; e precisamente onde hoje está situada a Matriz de Crato fosse a cama da baleia ou “Iara”, a Mãe das Águas, e que, um dia, a Pedra da Batateira rolaria, e todo o Vale Caririense seria inundado, e ninguém conseguiria sobreviver.

Os primeiros missionários que catequizaram os índios Cariris, no primeiro quartel do século XVIII, deixaram como lembrança uma imagem de Nossa Senhora, esculpida em madeira, com 40 centímetros de altura, tendo o Menino Jesus nos braços, a quem deram o nome de “Mãe do Belo Amor”, para atenuar os temores fatídicos da lenda e substituir os maus presságios da “Mãe das Águas” pela proteção carinhosa e afetiva da “Mãe do Belo Amor”.

E a imagem foi colocada exatamente sobre uma pedra do Rio Granjeiro, debaixo de um nicho de palha. Quando da instalação da Paróquia, mais tarde, a imagem passou a ser venerada com a invocação de Nossa Senhora da Penha, por duas circunstâncias históricas: o fato de ela ter sido colocada sobre uma rocha, e de que os capuchinhos que construíram a capela de palha, onde se encontra a Igreja-Catedral, eram de origem francesa, donde a singularidade da denominação de “Nossa Senhora da Penha de França”.

Outra versão lendária é a de que os índios vencidos, em lutas anteriores, haviam “encantado” (tampado) a grande nascente da Chapada do Araripe com a Pedra da Batateira, e que as águas acumuladas, no subsolo, acolhiam uma serpente sagrada, que faria deslocar a pedra, e todo o Vale do Cariri seria inundado, e que os índios Cariris voltariam a ser uma nação livre, senhores do mar, viveriam na paz e tranqüilidade de um Paraíso.

A lenda ultrapassou as fronteiras do Cariri, e o cineasta Hermano Penna sustenta a tese de que Antônio Conselheiro, quando se separou de Joana Imaginária, vagava pelos sertões cearenses, tendo trabalhado nos engenhos de rapadura do Cariri, onde certamente colheu os elementos lendários da Pedra da Batateira.

Tempos depois, o Conselheiro, seguido pelo grupo de camponeses espoliados dos latifúndios, pregava em pleno sertão adusto da Bahia “que o sertão ia virar mar”. E a profecia se cumpriu.

Canudos hoje está coberto pelas águas, e a barragem de Sobradinho e Itaparica cobriram meio mundo. Fato curioso é que os índios Cariris de Mirandela e Saco do Morcego, catequizados pelos capuchinhos, contribuíram com 300 caboclos flecheiros na defesa da cidadela do Império do Belo-Monte: Canudos.

O mito ainda hoje persiste na memória e imaginação do povo, mesclando-se com outras variantes, de tal forma que muita gente adventícia da Paraíba e Pernambuco, de descendência dos índios Cariris, residente em Juazeiro, recusa-se a morar em Crato, temendo a vingança da Pedra da Batateira.

Padre Cícero Romão Batista, filho de Crato, certamente, na infância, deve ter guardado estórias ouvidas que o induziram a desenvolver, mais tarde, como sacerdote, o culto a Nossa Senhora com a invocação de Mãe das Dores.

Por isso é que o poeta João Cristo-Rei, com ares de profeta, anuncia que, quando se sucederem esses fatos lendários:“Juazeiro fica trancado e seguro Cercado de muro sem contradição,Seu grande mistério se estende e cresceE nisto aparece o Rio Jordão”Sempre a força mítica da lenda das águas.

E este novo tempo, preconizado pelo poeta, tem a mesma visão do profeta Isaías “com uma nova era de mel e fartura, quando pedra será pão, e o mundo viverá do Belo Amor entre os homens”.

É certo o que diz a sabedoria multissecular da gente simples: “Deus fala pela boca do povo”. Pesquisas científicas atestam, que há milhões de anos, todo o Ceará, que é murado pelos contrafortes das serras, já foi mar, e um cataclismo telúrico determinou a depressão geológica de que temos o documento sedimentário dos fósseis encontrados no sopé da Chapada do Araripe, e as marcas da erosão nas rochas graníticas e faldas das montanhas, ao embate das ondas revoltas do mar.Podemos concluir parafraseando Shakespeare: “O povo sabe muito mais do que a nossa vã filosofia”.

(*) Armando Lopes Rafael é historiador. Sócio do Instituto Cultural do Cariri e Membro-Correspondente da Academia de Letras e Artes “Mater Salvatoris” de Salvador (BA).


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MANIFESTAÇÃO CONTRA BOLSONARO ACONTECE EM JUAZEIRO E PETROLINA

Movimentos sociais, centrais sindicais e estudantes se juntaram ao movimento nacional para protestar contra a gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) hoje.

Na manhã deste sábado (19), manifestantes contra o governo Bolsonaro se reuniram em Juazeiro e Petrolina contra o presidente da República e o enfrentamento contra a pandemia da covid-19. O protesto também ocorre em outras cidades do Brasil. 

Os manifestantes protestaram contra o governo federal e cobram mais vacinas contra a Covid-19 por meio de uma caminhada e também uma carreata  que teve concentração na Orla Nova em Juazeiro.

Como os atos de rua acontecem ainda em meio à pandemia da covid-19, quando o Brasil se vê prestes a atingir a marca de 500 mil mortes pela doença, organizadores dos protestos pediram para que o público usem máscaras adequadas para participar das manifestações.

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PETROLINA É CIDADE PALAVRA CANTADA E DECANTADA EM VERSO E PROSA

A maior cidade do Sertão de Pernambuco, que polariza os limites da famosa Ponte Presidente Dutra com a vizinha Juazeiro(BA), chegou aos 125 anos de emancipação neste 21 de setembro de 2020. A cidade, o rio São Francisco que lhe mapeia e as histórias ribeirinhas já foram abordadas nas várias linguagens artísticas: da música às artes plásticas, cinema e literatura. No cancioneiro da MPB, poetas e compositores já decantaram Petrolina com sucesso alinhado seus versos na trilha do pertencimento, das belezas naturas e de seu povo, sempre tendo o Velho Chico como protagonista.

Para citar alguns de seus criadores, tomemos o filho da terra Geraldo Azevedo, como ponto de partida ao expor seu "eu lírico" para com oseu berço natal. No segundo disco de sua carreira, intitulado apenas Geraldo Azevedo(1977), em parceria com Carlos Fernando, uma das mais inspiradas e autobiográfica canções dele é "Barcarola do São Francisco", em cuja letra narra sua partida para o Rio de Janeiro, tendo Petrolina como endereço e cenário de despedida:

É a luz do sol que encandeia(...)Vento, vela a bailar/Barcarola do São Francisco/Me leve para o mar/Era um domingo de lua/Quando deixei Jatobá/Era quem sabe a esperança indo à outro lugar/Barcarola do São Francisco/Velejo agora no mar/Sem leme, mapa ou tesouro/De prata ou luar(...).

Independente de saudosismo, no início da carreira já com os pés no chamado Sul Maravilha, lançava de longe seu olhar sob o pertencimento das coisas que ficaram na sua memória fotográfica do passado e de sua origem na comunidade do Jatobá que está sempre plena e viva no filme de sua vida real.

Uma das canções mais conhecidas no país que fala de Petrolina é o xote "Petrolina e Juazeiro", gravada no final da década de 1970 pelo grupo Trio Nordestino e depois pelo autor pernambucano Jorge de Altinho que na década de 1970 morou na região. O compositor confronta de forma poética as duas cidades, buscando eliminar um possível senso de disputa e bairrismo, inserindo os dois territórios no campo das belezas naturais, como reforça na letra:

Nas margens do São Francisco nasceu a beleza e natureza ela conservou. Jesus abençoou com sua mão divina/Pra não morrer de saudade vou voltar pra Petrolina/Do outro lado do rio tem uma cidade/Que na minha mocidade visitava todo dia/Atravessava a ponte, ai que alegria/ Chegava em Juazeiro, Juazeiro da Bahia(...) Juazeiro, Petrolina/ Todas as duas eu acho uma coisa linda/Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina/.

Em 1986, em um dos seus melhores discos "Mestiço é isso"(1986), Moraes Moreira em parceria com o Geraldo Azevedo, também carimbou uma canção batizada de "Petrolina e Juazeiro", usando as águas do Velho Chico como referência de batismo e unificação das cidades ribeirinhas.

"Meu barco é meu coração que vai sem mágoa/ Nas águas deixa paixão até o cais/ Beira de rio/ Pernambuco e Bahia/ Todo vapor Marinheiro pode trazer Meu amor Juazeiro/ Bela menina pode trazer meu amor Petrolina".

Filho de Petrolina radicado há mais de 30 anos em São Paulo o compositor, cantador e cordelista Aldy Carvalho, jamais quebrou seu cordão umbilical com a cidade natal. Suas temáticas sempre estão focadas no Nordeste, no Sertão e na caatinga. A ampla percepção das lembranças da infância se atualiza com o presente. Um de seus primeiros discos, o Redemoinhos, gravado em LP e depois reeditado em Cd (1999/2000), trafega pelo imaginário de temas que traduzem a amplitude de suas memórias vivas desde a infância em Petrolina. Não por acaso, ele dedicou o disco à cidade de Petrolina "O Sertão que vive em mim"

Nascido em de Santa Cruz, onde passou parte da infância, Virgílio Siqueira, radicado há décadas em Petrolina é um dos maiores poetas em atividade no Estado, com vários livros publicados e projetos independentes. Na edição de Vaga-lumear (2011), o leitor encontra Petrolina como pano de fundo no belo (trabalhado e inspirado) poema "A essência do nosso sonho", no qual expõe o homem e mulher inseridos na grandeza do sertão em que Petrolina é o cenário com beleza e energia do Velho Chico.

Do encanto do teu nome/Nosso lume se espalha pra todo canto/ Em tua chama de esperança – amor e fé/ Com bravura, luz e força – o homem brandura e acesa fibra – a mulher /Bebem a energia do rio/ Úmido manto a nos acolher em seu leito/ Para mais um desafio/ Com a certeza de vencê-lo, ativa no peito/ Brotam daqui, Petrolina/Da entranha dos húmus do teu chão/À agridoçura do sumo dos teus frutos/A essência do nosso sonho e suor/ Nossa força e suporte, por ti: nosso trabalho/ Nosso sentido mais forte, por ti: nosso amor.

Com dez anos de carreira, só em 1982 foi que Alceu Valença conquistou o grande público por conta de estouro de Tropicana do disco Cavalo de Pau. O disco tem "Rima com Rima" em que o compositor provoca: Se eu rimar rima com rima/É tangerino tangerina(...)/Pirapora Petrolina/ Pirapora o teu destino é Petrolina/ Rimando remo com rima/É rio é maré e é mar". Enfim, Petrolina continua sendo terra sempre cantada e decantada.

Coluna Texto ao Texto (Letras e sons) por Emanuel Andrade, jornalista, professor do curso de Jornalismo em Multimeios e Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP).

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JORNALISTA MARIA LUIZA BORGES FAZ LIVE SOBRE O FUTURO DO JORNALISMO, NESTA SEXTA-FEIRA (18)

Com o objetivo de discutir o futuro do jornalismo, nesta sexta-feira (18), às 16h, acontece a live “O que será do jornalismo amanhã?”, no canal DCH III UNEB, no Youtube, com a Jornalista e Palestrante, Maria Luiza Borges. O evento é organizado pela Profª Teresa Leonel, do curso de Jornalismo em Multimeios do Departamento de Ciências Humanas, campus III da Uneb em Juazeiro (DCH III/UNEB), com a parceria do projeto de extensão Hub (DCH III) coordenado pela professora e pelo também docente do curso de Jornalismo, Cecílio Bastos.  

Para Tereza Leonel, o tema Jornalismo de Amanhã, envolve um estudo sobre o profissional que a academia está colocando no mercado e a relação da tecnologia para produção de conteúdo noticioso. “Esse jornalismo de amanhã dialoga com a tecnologia, que está fazendo um grande diferencial nos últimos 10 a 15 anos, exigindo do campo a compreensão dessas ferramentas que envolvem jornalismo de dados, por exemplo.”, comenta Tereza.    

Temas como: o jornalismo de dados, Inteligência Artificial e o panorama do jornalismo digital serão abordados na palestra com Maria Luiza Borges, Jornalista, bacharel em Direito e atual diretora de Estratégias Digitais do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), onde também já desempenhou a função de editora-executiva e editora de Economia, Cidades e Brasil. Além de sua experiência profissional suas experiências acadêmicas são na área da comunicação e tecnologia, com mestrado pela Universidade de Brunel, em Londres

Tema: O que será do Jornalismo amanhã?

Palestrante: Maria Luiza Borges – Jornalista e diretora de Estratégias Digitais do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC)

Dia/hora: 18/06 (sexta-feira) às 16h

Onde: canal DCH III UNEB, no Youtube

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JUAZEIRO: PROFISSIONAIS DE IMPRENSA RECEBEM PRIMEIRA DOSE DA VACINA CONTRA COVID-19

Profissionais da imprensa em Juazeiro (BA) estão recebendo nesta sexta-feira (18) a primeira dose contra Covid-19. A vacinação está ocorrendo no Canto de Tudo, no Campus da Uneb no horário das 7h30 às 11h30 e das 13h30 às 16hs.

Joyce Ferreira da Rádio Juazeiro e Kris de Lima da TV São Francisco foram os primeiros a chegar na Uneb para receber o imunizante. O repórter da TV São Francisco disse que está muito feliz por receber o imunizante e almeja que os demais colegas consigam receber a vacina. “Nossa grande esperança é a vacina depois de ver tantos colegas perder à vida” frisou Kris de Lima.

A estimativa da Superintendência de Vigilância em Saúde é vacinar 150 profissionais de comunicação. "Para seguirmos a orientação do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação, o trabalhador da imprensa deverá apresentar um comprovante de atuação nesses veículos de comunicação, rádio, TV ou blogs", explicou a coordenadora da Rede de Frio de Juazeiro, Renata Moreira.

De acordo com a Comissão Intergestores Bipartite da Bahia (CIB 102/2021), serão vacinados os profissionais da imprensa com atuação em atividades externas, ambientes confinados, tais como redações e estúdios.

Documentos: Para se vacinar, o profissional de imprensa deve apresentar a DRT, contracheque do mês de maio de 2021, cartão do SUS, CPF e documento com foto.

Vacinação: Os profissionais da imprensa serão vacinados, exclusivamente, nesta sexta, na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), no Canto de Tudo do DCH III, bairro São Geraldo. O horário para esse público é das 7h30 às 11h30 e das 13h30 às 16h.

É importante ressaltar que as pessoas que se vacinaram contra a gripe precisam fazer um intervalo de 15 dias para receber a vacina contra a Covid-19.

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ONILDO ALMEIDA RECEBERÁ O TITULO DE DOUTOR HONORIS CAUSA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

O músico e compositor caruaruense Onildo Almeida, de 92 anos, irá receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) campus Caruaru, Pernambuco. Esta honraria é concedida a pessoas que se destacaram em sua área de atuação. Por telefone, Onildo Almeida disse que recebeu a notícia com muita alegria.

"É mais uma honra para mim. É indescritível! Não esperava por isso, mas tudo o que fiz por Caruaru e para a música brasileira foi por amor", ressaltou o compositor.

A concessão do título foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário (Consuni) da UFPE. A proposta foi do Núcleo de Ciências da Vida do Centro Acadêmico do Agreste (CAA).

Quem informou a Onildo sobre o recebimento do título foi o professor e historiador José Urbano, presidente do Conselho de Cultura de Caruaru. "Eu, particularmente, estou em uma alegria muito grande. É o primeiro caruaruense que recebe o título de Doutor Honoris Causa. Fui na residência dele dar a notícia", afirmou.

José Urbano informou a provável data da entrega do título: 13 de agosto de 2021, quando Onildo irá completar 93 anos. "[Será] no campus da UFPE daqui de Caruaru. Muito merecido. A partir de agora não será o músico Onildo Almeida, mas sim Doutor Onildo É um título válido internacionalmente, reconhecido em todo lugar do mundo, a nível de doutorado".

Nascido em Caruaru, no dia 13 de agosto de 1928, o compositor Onildo Almeida orgulha-se em dizer que é filho da Capital do Agreste. Músicas do caruaruense ganharam destaque e já foram tocadas em diversos países, como Inglaterra, Portugal, Espanha, Suécia, Itália, Estados Unidos, Rússia e até a antiga Tchecoslováquia. Sobre essa conquista, Onildo já afirmou: "Eu ganhei o mundo sem sair de Caruaru".

Filho de José Francisco de Almeida e Flora Camila de Almeida, Onildo teve o apoio dos pais para seguir no caminho da música. Ainda adolescente, o compositor fez parte de grupos musicais locais, mas foi ao ingressar no rádio que ganhou notoriedade.

Ao longo da vida, o artista sempre buscou entoar nos versos de suas composições o nome da cidade natal. Uma das maiores obras dele, se não a maior, "A Feira de Caruaru", fala desde coisas comuns às mais inusitadas que são vendidas no local até os dias atuais. Na entrada da feira, que é patrimônio cultural imaterial do Brasil desde 2007, há uma estátua em homenagem ao compositor.

"Ainda que eu não queira, ela [A Feira de Caruaru] tem de ser minha maior obra. Foi a música que me puxou", Onildo Almeida.

O disco no qual está a música na voz de Luiz Gonzaga chegou a vender, entre os meses de março e maio de 1957, 100 mil cópias - o primeiro e o maior recorde musical do Nordeste até então.

“Em todas as suas ações, ele reafirma sua contribuição para o conhecimento da cultura regional [...] Portanto, pelo incansável trabalho de compositor, comunicador e divulgador da Cultura Nordestina, sobretudo através da sua música, somos favoráveis à concessão do título de Doutor Honoris Causa ao compositor Onildo Almeida", ressalta o parecer apresentado ao Consuni.

HORA DO ADEUS: Onildo Almeida conta que em 1967, o Rei do Baião o pediu para escrever uma música que representasse o fim da carreira. Segundo Onildo, Gonzaga sentia que tempo dele no cenário musical havia chegado ao fim. No início, o músico se recusou, mas fez a canção.

"Uma semana depois [do pedido de Gonzaga] fui ao Rio de Janeiro. Meus colegas de rádio de Caruaru estavam lá e nos encontramos. Luiz Queiroga, que era um deles, tirou um papel do bolso com umas palavras e disse: 'Vocês querem ver o que é talento? Onildo, coloca música nisso aí'. Quando eu abri o papel, tinham dois versos: O meu cabelo já começa prateando, mas a sanfona ainda não desafinou/ A minha voz vocês reparem eu cantando, que é a mesma voz de quando meu reinado começou. E eu fiz desses verso uma música", detalha.

Quando Onildo voltou para Caruaru, percebeu que Luiz Queiroga havia escrito poucos versos e decidiu completar a obra. "Dias depois, Luiz Gonzaga chegou perguntando se eu havia feito a música para ele. Respondi: 'disse que não faria', mas acabei mostrando 'Hora do Adeus', com os meus versos e os de Luiz Queiroga", recorda o caruaruense.

Luiz Gonzaga achou a música bonita e a gravou, mas ela não marcou o fim da carreira do pernambucano. Para Onildo, "Hora do Adeus" é  uma das principais obras dele porque conta a história de Gonzaga do começo.

"É uma canção importante porque conta a história do que é, para mim, o maior nome da música popular brasileira. Gonzaga não era só cantor, era compositor e instrumentista, por isso o acho o maior. Ele mudou e despertou no governo a realidade nordestina. Deu nome ao baião, xote, xaxado, coco de roda. Ninguém queria saber da música nordestina, era música de subdesenvolvimento. Mas, por causa da música de Gonzaga, o Nordeste mudou a cara", ressalta Onildo.

Onildo Almeida foi compositor de vários outros sucessos na voz de Luiz Gonzaga, como "A Feira de Caruaru", "Capital do Agreste" e "Sanfoneiro Zé Tatu", Onde o Nordeste Garoa.

Hora do Adeus

(Onildo Almeida e Luiz Queiroga)

O meu cabelo já começa prateando

Mas a sanfona ainda não desafinou

A minha voz vocês reparem eu cantando

Que é a mesma voz de quando meu reinado começou

Modéstia à parte, é que eu não desafino

Desde o tempo de menino

Em Exu, no meu Sertão

Cantava solto que nem cigarra vadia

E é por isso que hoje em dia

Ainda sou o Rei do Baião

Eu agradeço ao povo brasileiro

Norte, Centro, Sul inteiro

Onde reinou o baião

Se eu mereci minha coroa de rei

Esta sempre eu honrei

Foi a minha obrigação

Minha sanfona, minha voz, o meu baião

Este meu chapéu de couro e também o meu gibão

Vou juntar tudo, dar de presente ao museu

É a hora do adeus

De Luiz, Rei do Baião

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