Projeto Cena na Serra exibirá “Historietas Assombradas – O Filme” nesta quinta-feira (27) no Campus Serra da Capivara

Quinzenalmente, o Colegiado de Antropologia do Campus Serra da Capivara da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), promove o Cena na Serra – Cinema em Ação. Nesta quinta-feira (27), o projeto de extensão exibirá gratuitamente “Historietas Assombradas – O Filme”, dirigido por Victor Hugo Borges.  A exibição acontecerá no Núcleo de Extensão da Univasf, em São Raimundo Nonato (PI), às 19h.

O enredo do filme conta a história de Pepe, um garoto de 12 anos que mora com sua avó, uma bruxa-empresária. Pepe descobre que foi adotado e sai em busca de seus pais. Neste trajeto, encontra Edmundo, o vilão, que se aproveita do garoto para colocar em prática o seu plano: usar a energia das crianças para atingir a imortalidade. Para isso, Edmundo rapta a avó de Pepe, forçando o menino e seus amigos a entrarem numa jornada em um universo fantástico, com enigmas que envolvem os pais de Pepe e também o passado sinistro da sua espécie.

Victor Hugo deu início à obra em 2005 com o lançamento do curta-metragem “Historietas Assombradas (Para Crianças Malcriadas)”. Com o sucesso do curta, o enredo se tornou livro, publicado pela Editora LeYa. Após o livro, a animação ganhou espaço no canal de TV por assinatura “Cartoon Network”, onde foi exibido como série de animação infantil. Em novembro de 2017, foi lançado o filme, que busca atingir todo o público, seja infantil ou adulto.

O projeto “Cena na Serra” tem como objetivo promover uma aproximação entre a comunidade externa com a universidade. Além da exibição cinematográfica, são gerados debates sobre a temática do filme exibido, associados a temas importantes para a comunidade do município.

Fonte: Univasf
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Prefeito de Garanhuns lamenta o falecimento de Mauro Moraes, filho do Mestre Dominguinhos

O Governo Municipal de Garanhuns lamenta com profundo pesar a morte de Mauro José da Silva Moraes, ocorrida nesta terça-feira (25), no Rio de Janeiro (RJ). Mauro era filho do primeiro casamento do eterno mestre cantor e sanfoneiro Dominguinhos e estava com 59 anos de idade. De acordo com as informações repassadas por familiares, Mauro sofreu um infarto do miocárdio e não resistiu. 

Mauro teve um importante papel na luta para trazer o corpo do pai para ser enterrado em Garanhuns, no ano de 2013. O prefeito Izaías Régis (PTB), ressalta que Mauro foi peça-chave fundamental junto à Prefeitura de Garanhuns em todos os trâmites jurídicos e que após esse momento, o mesmo conheceu toda a equipe do Governo Municipal. "Na ocasião, ele conheceu a todos nós, e contou de sua missão em manter a memória de Dominguinhos viva em sua terra natal, o desejo de seu pai", conta o gestor. 

O filho do mestre sanfoneiro também recebeu o Troféu Viva Dominguinhos, premiação concedida à familiares, admiradores e amigos, durante o evento  que recebe o nome de seu pai. 

O Governo de Garanhuns comunica a morte de Mauro com profunda dor e reconhece, notadamente, seu caráter e honra durante sua passagem na terra.
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Pedro Caldas, presidente da Central Única de Bairros solicita audiência pública para discutir segurança do trânsito na avenida 7 de Setembro, em Petrolina

Há muitos desafios a serem superados para que as ciclovias tornem-se opções viáveis de locomoção. Andar de bicicleta nas pistas de Petrolina ainda não é sinônimo de conforto e de tranquilidade para os ciclistas.

A constatação acima é do presidente da Central Única de Bairros de Petrolina (Cubape), Pedro Caldas vai oficializar nesta terça-feira (25) na Câmara de Vereadores pedido de realização de uma audiência pública para debater a segurança no trânsito da Avenida Sete de Setembro. 

Vale salientar que já foi protocolado no dia 16/04/2019 uma ação no Ministério Público Federal, recomendando ao DNIT a implantação de uma ciclo-via nas vias laterais da Avenidas sete de setembro.

Este final de semana mais um acidente com morte foi registrado na Avenida 7 de Setembro, trecho da BR 428. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) uma colisão entre um carro e uma bicicleta levou a morte de Jakeline Alexandre da Silva, de 24 anos.

O motorista do veículo prestou socorro a vítima. Ele foi conduzido a delegacia, prestou depoimento e foi liberado para responder ao processo em liberdade. Segundo a Polícia Civil, o motorista não estava alcoolizado.

Pelas redes sociais ciclistas cobram ações eficazes para garantir segurança. "Lamentável o descaso do poder público! A avenida 7 de setembro não dá segurança e nós Ciclistas, precisamos nos unir mais! Nos reunirmos para fazer um grande protesto pela implantação urgente de ciclovia na Av. 7 de setembro".

Foram convidados para a audiência pública representantes do DNIT, prefeitura municipal, PRF, Ministério Público Federal (MPF), AMMPLA, Secretaria de Infraestrutura, Associação dos Ciclistas de Petrolina e líderes comunitários. 

"Um dos principais assuntos a serem abordados é que as autoridades apresentem medidas que assegurem o cumprimento do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o qual afirma que é dever do Estado assegurar a todos um trânsito seguro. Precisamos o mais rápido possível unir forças para que outras vidas não venham ser ceifadas na nova Avenida Sete de Setembro”, declarou Pedro Caldas.


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FORRÓ, PATRIMÔNIO NACIONAL DA CULTURA É TEMA DE DEBATE NA RÁDIO JORNAL

O Forró é um dos gêneros musicais mais disseminados no país e faz parte da formação da identidade cultural do brasileiro. As matrizes do forró estão passando por um processo de reconhecimento e identificação como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A expectativa é que o forró pode ser declarado como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil até meados de 2020.

O jornalista e membro do Conselho de Cultura do Parque Museu Asa Branca (Exu-PE) Ney Vital, participou nesta terça-feira (25), de uma entrevista na Rádio Jornal e citou que a manifestação cultural conhecida por seus ritmos musicais, danças e instrumentos tradicionais já passa por um intenso processo de mobilização social e é motivo da pesquisa realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Ney revelou que no mês de maio no Recife, capital de Pernambuco, mais de 250 forrozeiros e entusiastas do forró lotaram o auditório durante o Seminário Forró e Patrimônio Cultural, que deu início à pesquisa sobre as Matrizes Tradicionais do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil.

Segundo o jornalista o evento contou com a presença de músicos, dançarinos, produtores, autoridades, pesquisadores, gestores públicos e culturais, além dos representantes do Iphan de todo o Nordeste e de Estados com forte presença das matrizes do forró, como São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Espírito Santo. 

"A cultura nos une e nos fortalece e a beleza do forró é que ele traz uma dupla dimensão: canta e toca tão profundamente a cultura brasileira, trazendo à tona as mazelas que enfrentamos, mas ao mesmo tempo canta a beleza da vida, os amores, os mitos, as crendices, a fé, a religiosidade de um povo". 

A pesquisa vai investigar a complexidade das Matrizes Tradicionais do Forró com suas dimensões melódicas, harmônicas, rítmicas e coreográficas, além dos modos de fazer instrumentos musicais, dos contextos sociais e culturais em que a manifestação está inserida, bem como as particularidades dos lugares onde tais referências culturais são mais simbólicas. 

Para que o dossiê resultante da pesquisa contemple a história, os atuais desafios e as perspectivas de continuidade das práticas sociais que formam as Matrizes Tradicionais do Forró, o Iphan busca a participação ativa das comunidades e atores sociais que mantém viva a tradição no país.

As mesas de discussões abordam o Processo de Registro; Forró, dança e Patrimônio; Forró mídias e acervos; além do Compartilhamento de experiências na salvaguarda de bens culturais imateriais e as Perspectivas para a Salvaguarda. 

Porém, para demonstrar, na prática, alguns dos saberes que formam as matrizes tradicionais do forró, o Iphan reuniu, no Paço do Frevo, mestres, artistas e público para escutas compartilhadas, momento no qual os saberes de renomados instrumentistas da sanfona, rabeca, fole de oito-baixos e zabumba puderam ser demonstrados e debatidos entre os detentores desses ofícios e o público interessado. 

De acordo com Ney Vital, a importância dos debates e participações de programas de Rádio serve e é necessário para "demonstrar a relevância do forró para a memória nacional, sua continuidade histórica e de que forma este carrega as referências culturais de grupos formadores da sociedade brasileira".

O processo de Registro das Matrizes Tradicionais do Forró teve início em setembro de 2011, a Associação Cultural Balaio do Nordeste encaminhou ao Iphan o pedido de registro das Matrizes Tradicionais  do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil. 

Desde então o Instituto buscou, em parceria com a Associação, o Fórum Nacional Forró de Raiz e outras instituições parceiras, incentivar encontros, fóruns e audiências públicas para discutir o processo de reconhecimento, abordando os potenciais, significados e limites da política de Patrimônio Cultural. 

Para que um bem seja registrado pelo Iphan é necessário possuir relevância para a memória nacional, continuidade histórica e fazer parte das referências culturais de grupos formadores da sociedade brasileira. Entre os patrimônios imateriais inscritos no Livro do Registro das Formas de Expressão estão as Matrizes do Samba do Rio de Janeiro, o Tambor de Crioula do Maranhão, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano e o Frevo. 

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A BATALHA DO FORRÓ NÃO É UMA SIMPLES DISCORDÂNCIA MUSICAL”, DIZ BRAULIO TAVARES

Quem teve a oportunidade de ver a curta temporada de três shows de Braulio Tavares, em 1984, sozinho, acompanhado de um violão em um bar na Praça do Jacaré, em Olinda, não esquece o letrista inspiradíssimo que brincava com a tradição poética popular e com referências cultas e políticas. Tocava com a simplicidade de um menestrel cosmopolita para fazer uma música poética e engraçada, com um pé no regional e outro na contracultura, ainda em voga. Visto dessa maneira, Braulio seria facilmente encarado como a próxima sensação da MPB.

Já morando no Rio de Janeiro, no entanto, o paraibano de 34 anos, à época, acabou enveredando por outros caminhos. Aprofundou seu interesse em literatura, ganhou o pão como roteirista de humor na TV, mergulhou nas traduções de ficção científica, intensificou seus estudos sobre cantadores populares e a cultura nordestina. Tornou-se um cronista de jornal compulsivo e muito produtivo. A música ficou meio de lado e Braulio continuou um segredo para iniciados, respeitado no circuito de palestras em feiras literárias, popular entre leitores de crônica em jornais da Paraíba e entre admiradores de ficção científica. Mas, injustamente, pouco conhecido pelo grande público.

Notado pela sua versatilidade como escritor (em gêneros que vão do cordel aos ensaios, da poesia ao romance, dos contos às traduções), homem de teatro, roteirista de cinema, palestrante, criador contumaz de frases de efeito, ele vem, a seu modo, agitando os meios culturais desde o final dos anos 70. Como compositor, começou a ser gravado por Elba Ramalho em 1980 (Caldeirão dos mitos). Teve composições gravadas também por outros nomes como Antônio Nóbrega e MPB-4. Sua parceria mais produtiva tem sido com o pernambucano Lenine. Recentemente, lançou com o amigo e conterrâneo Jessier Quirino o livro Galos de Campina, que reúne uma peleja em versos inspirada no seu personagem Trupizupe, o Raio da Silibrina, presença recorrente em sua obra.

Braulio consegue a proeza de se interessar por poesia matuta e ficção científica. Gira o país à vontade falando de temas que vão de Otacílio Batista a Isaac Asimov, de quadrinhos a Jorge Luis Borges. Nesta entrevista à Continente, ele fala de seu trabalho na música, sua relação com o Recife, sua parceria com Jessier, seu deslumbramento com a obra de Ariano Suassuna, de cantadores de repente e, claro, de ficção científica.

CONTINENTE De suas muitas atividades – música, crônica, poesia, ensaios, cinema, palestras, traduções – o que mais tem lhe ocupado recentemente?
BRAULIO TAVARES Em 2018, traduzi três livros para o selo Alfaguara, da Companhia das Letras. Uma coletânea de contos de Raymond Chandler, escolhidos por mim, Clans of the Alphane Moon, de Philip K. Dick, e Days of Awe, de A. M. Homes. Os três ainda sem título em português. Participei de uma coletânea de poesia (Lendário livro, Ed. Rubra, Rio de Janeiro) e um folheto de cordel (O tesouro de Antonio Silvino, Ed. Cordel, Mossoró). Afora isto, criei alguns projetos de documentários e séries para TV a cabo, que estão aguardando sinal verde para produção. Para 2019, estou preparando cursos de narrativa cinematográfica e de tradução literária, para algumas universidades e instituições culturais.

CONTINENTE Como surgiu a ideia de juntar forças com Jessier Quirino na peleja que resultou no livro Galos de Campina?
BRAULIO TAVARES Eu e Jessier tínhamos publicados versos em desafio independentemente, cada qual em seu livro. Coube a Kydelmir Dantas a ideia de reuni-los num folheto. A peleja do Raio da Silibrina com o Relampo da Palavra (2007). Agora, a Editora Bagaço reeditou o folheto com outro título, Galos de Campina, e novo projeto gráfico.

CONTINENTE Como foi a experiência de dividir “o palco” com Jessier lendo o poema durante os recentes lançamentos do livro?
BRAULIO TAVARES Para recitar, Jessier é mais “performático” do que eu, é mais ator, sabe encarnar personagens e mimetizar dicções. Eu me viro por outro lado, lançando mão do violão, que toco sofrivelmente, mas com aparente segurança. Jessier é um poeta de imenso talento, que conheço e acompanho desde antes do primeiro livro. Temos uma identificação muito grande, pelo senso de humor, pela faixa etária, pela origem em Campina Grande. Talvez até sejamos parentes, porque o nome de solteira de minha mãe era Cleuza Santa Cruz Quirino, e meu irmão Pedro herdou esse sobrenome materno, enquanto eu herdei o “Tavares” paterno. Jessier criou com sua obra uma vertente muito pessoal da chamada poesia matuta, onde não apenas se reproduz o jeito de falar do “beradêro”, mas também existe espaço para invenções vocabulares e sintáticas, meio à maneira de Guimarães Rosa e de Manoel de Barros, notórios inventores de neologismos e desorganizadores do discurso convencional.

CONTINENTE Qual a origem de “trupizupe” e do “raio da silibrina”, expressões tão sonoras e marcantes usadas nos seus trabalhos? Como elas chegaram até você?
BRAULIO TAVARES São termos correntes na Paraíba. “Trupizupe” é um personagem do folheto A chegada de Lampião no inferno, de José Pacheco, e usa-se para chamar alguém de trapalhão, desajeitado, meio leso. “Raio da Silibrina” quer dizer um cara supercompetente, inteligente, esperto. A origem, reza a lenda, é um antigo farol de carro, muito poderoso, chamado em inglês de “sealed beam”. Comparando com os personagens de Ariano Suassuna, João Grilo seria um raio da silibrina, e Chicó um trupizupe.

CONTINENTE Você já afirmou que a letra da canção Nordeste independente foi feita meio de brincadeira, em parceria com Ivanildo Vila Nova, mas como encara a repercussão que ela tem até hoje entre pessoas que defendem a separação da região?
BRAULIO TAVARES É natural que haja uma rivalidade, um atrito entre as regiões, principalmente quando acontecem políticas públicas que a população considera injustas. Mas uma separação assim, para mim, é impensável. A música tem apenas a intenção de recuperar a autoestima do nordestino e mostrar que não somos cidadãos de segunda classe. Observe que o mote da canção (“Imagine o Brasil ser dividido, e o Nordeste ficar independente”) começa com o mesmo verbo, no imperativo, com que John Lennon começa a sua Imagine. Lennon pretendia que tudo aquilo que ele descreve fosse real? Penso que não. Ele procura apenas cristalizar um espírito, uma atitude, através de uma fantasia da imaginação.

CONTINENTE Como foi seu contato, na juventude, com a cultura popular dos cantadores e cordelistas? 
BRAULIO TAVARES Minha convivência principal com os violeiros se deu nos anos 1970, quando eu morava em Campina Grande. Convivi muito com os poetas entre 1975 e 1980, e ajudei a organizar o Congresso Nacional de Violeiros de Campina Grande nesse período, antes de ir morar no Rio. Participei, em 1979, da Viagem dos Poetas ao Brasil, organizada por Giuseppe Baccaro, que cruzou 13 estados brasileiros com uma caravana de poetas. Publiquei alguns folhetos com letras de minhas canções daqueles tempos, mas não são literatura de cordel propriamente dita.

CONTINENTE Suas viagens pela região do sertão do Pajeú tiveram o objetivo de aprofundar esse interesse? 
BRAULIO TAVARES No Pajeú propriamente dito tenho viajado de cinco anos para cá, motivado pela realização do documentário Bom dia, poeta (2015), dirigido por Alexandre Alencar, onde atuei como entrevistador. É uma homenagem a Lourival Batista, cantador e amigo que deixou muita saudade. O filme foi lançado no ano do centenário dele.

CONTINENTE Que relação você tem com o Recife e com Pernambuco? Conheceu os parceiros Lenine e Antônio Nóbrega ainda aqui ou já no sudeste?BRAULIO TAVARES Meu pai era do Recife, e grande parte de minha família, paterna e materna sempre viveu na cidade. Era o local das minhas férias na infância. Nunca cheguei a morar, mas passava meses inteiros na casa de amigos, ou da minha irmã Clotilde, quando ela fez mestrado na UFPE. Entre os recifenses, conheci Lenine no Recife, em 1978, através do nosso parceiro comum, Zé Rocha. Conheci Antônio Nóbrega através dos outros membros do Quinteto Armorial, de quem fiquei amigo quando eles foram dar aulas na Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande, a partir de 1972.

CONTINENTE Você já afirmou que a leitura do Romance da Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, mudou sua vida. Como foi o primeiro contato com a obra de dele e de que forma isso influenciou sua produção posterior como escritor?BRAULIO TAVARES Lendo o Romance da Pedra do Reino, percebi que na Paraíba (e por extensão no Nordeste) havia uma pirâmide soterrada, feita de histórias, poemas, lendas, versos, folhetos, cantigas, que eu trazia na memória mas nunca tinha focado na minha atenção. Dos 22 anos em diante, após a leitura do livro de Suassuna, passei a me dedicar a esse universo, tanto como estudioso, quanto como poeta e escritor. É nesse sentido que afirmo que o livro mudou minha vida. Foi um processo de autodescoberta. E de autoestima, porque me mostrou que a Paraíba era tão importante quanto a Grécia Antiga.

CONTINENTE Em 1984, você fez uma temporada memorável de três noites em um bar de Olinda, na Praça do Jacaré, cantando e tocando suas composições. Por que você parou de fazer shows com frequência?
BRAULIO TAVARES Eu fazia muitos shows nessa época, mas com o tempo fui derivando para literatura, TV, e parei de cantar já faz uns dez anos. Volto a cantar de novo, eventualmente, quando sou convidado. Cantar dá trabalho. Tem que ensaiar, praticar violão diariamente, repassar letras das músicas, e ainda tem o “moído” de viajar, passar som etc. Só canto quando me pagam cachê. Deixou de ser divertimento.

CONTINENTE Você chegou a gravar algum disco com suas composições? BRAULIO TAVARES Nunca gravei LP ou CD. No Spotify há o registro de um show que fiz muitos anos atrás, em Natal: Voz, violão e verso. O show foi gravado por minha irmã Clotilde e minha sobrinha Ana Morena Tavares. Há outros registros de shows meus ao vivo, em Campina Grande, no Rio, etc., circulando por aí. Acho que estou mais próximo do espírito da cultura oral do que da indústria fonográfica.

CONTINENTE Com tanto tempo de estrada produzindo e consumindo cultura, você costuma rever alguns conceitos, isto é, tornou-se crítico em relação a coisas que admirava no passado ou reavaliou positivamente coisas que não gostava?
BRAULIO TAVARES Mudo de opinião com frequência com relação ao que é “bom” ou “ruim” esteticamente. Acho isso normal. Obras que eu considerava importantes passam a ser menores, quando a gente descobre obras que são imensamente maiores, em comparação. Mas, de um modo geral, sou fiel aos meus autores da juventude: Borges, Guimarães Rosa, Cortázar, Machado, Drummond, Augusto dos Anjos, Edgar Poe. Outros autores subiram muito em meu conceito quando, décadas depois, passei a estudá-los com profundidade. É o caso de Philip K. Dick, Raymond Chandler etc.

CONTINENTE Cacá Diegues tem dito que no Brasil “a inteligência saiu de moda”. Você concorda com esse tipo de crítica ao panorama cultural contemporâneo?
BRAULIO TAVARES Todas as vezes que as massas ascendem ao consumo e, numa fase seguinte, à produção, essa questão volta a ser colocada. É um processo inevitável. Atualmente, isso se dá com a cultura digital, a internet, etc. Mas tanto na alta cultura quanto na baixa a gente encontra a mediocridade e a obra nova, pulsante, rica de criatividade.

CONTINENTE Em 2010, em um artigo na Continente, você alertava para os efeitos danosos da Internet, que estaria afastando as pessoas ao promover e atender gostos específicos. Agora, com a importância cada vez maior das redes sociais, o que pensa sobre isso?
BRAULIO TAVARES Mantenho o que disse. Em vez de misturar informações e promover a convivência entre grupos distantes, a Internet tem favorecido a concentração de informações e a formação de grupos onde as pessoas só se relacionam com os outros integrantes. Formam-se tribos fechadas, devorando quantidades imensas de informação a respeito de um único tema, e perdendo a oportunidade de ampliar seus conhecimentos, variar suas experiências. Estamos numa fase de mudanças aceleradas, com grande número de variáveis, sujeita a guinadas numa direção imprevista. Algumas dessas guinadas mostram a possibilidade de manipular multidões através do bombardeio concentrado de informação, como indicam a votação do Brexit e as eleições de Donald Trump e de Jair Bolsonaro.

CONTINENTE Vi, numa palestra em São Paulo, você falando sobre o deslumbre que era receber livros comprados pelo reembolso postal. Esse tipo de encantamento com o objeto físico está se perdendo com a digitalização de tudo?
BRAULIO TAVARES Enquanto o objeto físico continuar a ser produzido, o encantamento vai perdurar, e vice-versa. Nada disso me incomoda. Acho ótimo poder escolher entre o livro de papel e o livro eletrônico. Como dizia Brian Aldiss, o presente não apaga o passado, ele apenas o desloca. E como dizia William Faulkner, o passado não morreu, ele ainda nem terminou de passar.

CONTINENTE Qual é sua relação pessoal com a obra de dois poetas distantes e, ao mesmo tempo, próximos como são Bob Dylan e Patativa do Assaré?
BRAULIO TAVARES Descobri Bob Dylan aos 18 anos e Patativa por volta dos 25, quando saiu a primeira coletânea dele pela Editora Vozes. É sempre difícil comparar pessoas que trabalham em áreas diferentes, é como perguntar quem é melhor, Lionel Messi ou Roger Federer. Dylan é o artista pop que conheço melhor, juntamente com os Beatles. Sempre o acompanhei, já li umas cinco ou seis biografias dele, afora vários livros de estudos sobre sua obra. Vi-o cantar ao vivo no Rio de Janeiro, várias vezes. A obra dele me influenciou muito mais do que a de Patativa. Hoje ele não canta praticamente nada, mas e daí? Pinto do Monteiro, no fim da carreira, também estava ininteligível. A cera da vela se acaba, mas a luz da chama não vacila. Patativa é um poeta maior dentro da poesia popular nordestina, com uma obra que vai muito além dos “poemas matutos” que escreveu. Ele e Dylan se completam, não se excluem. Posso ouvir um de tarde e o outro de noite.

CONTINENTE Com o fim do Jornal da Paraíba, que abrigou sua coluna durante anos, com que frequência você continua escrevendo seus artigos? 
BRAULIO TAVARES Quando o Jornal da Paraíba encerrou sua edição impressa, eu já havia publicado mais de 4 mil artigos, que eram reproduzidos no meu blog Mundo Fantasmo. Desde então, publico no blog mais dois ou três artigos por semana, mas são textos mais longos, mais ricos de informações. Estou no momento com mais de 4.400 artigos à disposição no blog. Escrevo basicamente sobre literatura, cinema, música, poesia, tradução, cordel, ficção científica... Meu próximo objetivo é conseguir patrocínios, porque o blog é um trabalho gratuito.

CONTINENTE No momento de sentar para escrever suas crônicas e seus textos de ficção, você tem algum ritual para fazer as palavras fluírem?BRAULIO TAVARES Não há propriamente um ritual. Abro o Word e vou escrevendo, ou pego um caderno e escrevo à mão, no sofá. Quando estou “sem assunto pronto”, abro arquivos antigos ao acaso e vou mexendo neles até acontecer alguma coisa. Para mim não existe falta de ideias, existe às vezes falta de motivação emocional para escrever, quando a gente está abatido, meio deprimido. Ideias nunca faltaram, nem faltarão.

CONTINENTE Sendo de Campina Grande, qual a sua posição em relação à polêmica que acontece no período das festas juninas entre os defensores do forró tradicional, pé-de-serra, de um lado, e os que acham que o São João deve atender ao gosto predominante no momento, abrindo-se para o forró estilizado e suas variantes?
BRAULIO TAVARES Em princípio, o mês de junho e as festas juninas com dinheiro público deveriam fortalecer a música junina tradicional. Nos outros onze meses do ano, as prefeituras podem mandar tocar o que quiserem. Por outro lado, a batalha do forró pé-de-serra contra a maioria dessas bandas de forró estilizado não é uma simples discordância musical, é a guerra entre músicos pobres que não têm como se impor para alcançar seu público, e músicos ricos que usam do gangsterismo, da propina e do suborno para ocupar os espaços de diversão. O Ministério Público já denunciou inúmeras vezes essas práticas de contratos irregulares e de dinheiro “por baixo do pano” entre bandas e grupos políticos. Não se trata meramente da preferência por este ou aquele ritmo musical. Há uma guerra por um mercado onde circulam muitos milhões.


TEXTO-Revista Continente MARCELO ABREU 21 DE JUNHO DE 2019

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Matrizes do forró podem ser reconhecidas como Patrimônio Cultural do Brasil

O Forró é um dos gêneros musicais mais disseminados no país e faz parte da formação da identidade cultural do brasileiro. As matrizes do forró estão passando por um processo de reconhecimento e identificação como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

Em 2011, a Associação Cultural Balaio do Nordeste encaminhou ao Iphan o pedido de registro. Desde então, estão sendo realizados encontros e fóruns para debater a questão e mobilizar profissionais deste gênero musical em diversos estados do país. 

O diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Hermano Queiroz diz que "O registro de bens culturais de natureza imaterial, significa para além da identificação desse bem e sua valorização, a salvaguarda", explica Hermano. 


Hermano ainda destaca que, apesar de ser natural que um bem cultural se altere com o passar do tempo, é preciso preservar as matrizes que deram origem a essa manifestação.

"Quando se busca o registro se busca pensar em formas e estratégias para fortalecer esses grupos que praticam essas chamadas matrizes tradicionais". No caso do forró, entram nessa categoria o baião, o xaxado, o xote, o forró pé de serra. 

Fonte: Agencia Brasil
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“Forrobodó” ou “for all”, de onde vem a palavra forró?

A banda paraibana Cabruêra desceu ao sul e instalou-se no Rio de Janeiro em setembro de 2001. Lá, fundou a Cabrahouse, primeiro em Copacabana, depois em Santa Teresa, tradicional bairro de artistas. Ao chegar, debutou na TVE e lançou disco no palco da resistência cultural carioca, o Teatro Rival, e assim seguiu arrebanhando um cordão de adoradores. Zé Guilherme, o Munganzé, um dos melhores percussionistas do Brasil, um dos pilares da Cabruêra, vindo aqui em casa, incitou-me a explicar a origem do termo “forró” para uma oficina de percussão no Festival de Inverno de São João del Rey, em Minas Gerais, onde a banda tocaria.

Pois bem. Discutíamos a gênese da palavra a partir de duas explicações para o que se passou a chamar de forró. A primeira está ligada à construção da malha ferroviária no interior de Pernambuco por engenheiros ingleses que, em suas horas de folga, patrocinavam pequenas rodas nas quais a liberdade, municiada pelo consumo de álcool, pontuou a descontração e a dança. Essas rodas eram “for all”, para todos, no idioma nativo dos ingleses. Daí a pronúncia aberta “forró”. Sem registro que legitime tal origem, fica-se no âmbito da lenda.

A segunda é apresentada pelo folclorista Rodrigues de Carvalho, em seu Cancioneiro do Norte de 1903, aponta uma associação entre forró e forrobodó, festa popular das pontas de rua, baile popular aberto para toda a população pobre. Câmara Cascudo registra a mesma origem fazendo um levantamento da aparição do termo desde 1833, para encontrar um variante datada de 1952, num semanário chamado A Lanceta, sem indicação de local. O termo é forrobodança, uma espécie de dança chula popular.

Acredito que essas duas teses sejam insuficientes, mesmo porque fica difícil determinar data para surgimento de qualquer palavra. Respeitando a pesquisa, talento e autoridade dos dois folcloristas, lanço uma terceira via. Quero aproximar o termo português forró, ao termo árabe alforria, liberdade dada aos escravos. Quando um destes era alforriado a palavra “fôrro” servia-lhe de epíteto, recebendo, inclusive um par de sapatos, se para dançar, não sabemos. Elomar, em sua cantiga O Violeiro, canta “Deus fez os home e os bicho tudo fôrro…”. De forria para fôrro, de fôrro para forró, celebração da liberdade, da quebra do jugo e dos grilhões. Não é isso que o forró faz?

Os testemunhos populares na diferenciação entre as festas de São João, festa popular, marca indelével das tradições nordestinas, e Natal, tradição européia, servem de esteio para minha tese. Enquanto a festa de Natal é descrita como uma festa formal, o São João prega a liberdade, é festa livre e comunitária, não requer roupa nova, nem champanhe para comemorar. E todas as classes e raças são chamadas ao arrasta-pé, criando um valor fundamental para a miscigenação de raças e culturas, no dizer de Darcy Ribeiro, e imprescindível para a construção do humanismo, segundo Jorge Amado.

O que nos interessa, também, é a divulgação desse ritmo propagada pelo pioneiro Luiz Gonzaga, primeiro nordestino a assumir compromisso com esse suposto novo estilo musical, depois de fazer o caminho do sul. Falar de Gonzaga é repetir-se, sempre. Sua história e sua vida estão na boca do povo e dos artistas, transformado em ícone institucional na etno-musicalidade brasileira. Muito embora construindo uma realidade folclórica do Nordeste, com seus vaqueiros e cangaceiros, plantou a semente da música popular regional nordestina em todo o Brasil. Asa Branca transformando-se na bandeira, estandarte dessa visão.

Gonzaga sofre, entretanto, críticas oriundas de um outro mito: Jackson do Pandeiro. O ritmista paraibano apregoava que o baião originou-se do coco e que o feito do Rei do Baião não passava de um novo invólucro para um velho ritmo. Zé Guilherme me diz que o jornalista Rômulo Azevêdo, de Campina Grande, numa tentativa de conciliação entre os pilares formadores do forró, um paraibano e o outro pernambucano, defende o império imaginário de Parabuco, um híbrido situado entre Caruaru, a capital do forró, e Campina Grande, terra do maior São João do Mundo. Essa, talvez seja a melhor opção, o lúdico, a criatividade, a liberdade, a alforria.

Fonte: Professor Aderaldo Luciano doutor em Literatura
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