POLICIA RODOVIÁRIA FEDERAL INTENSIFICA FISCALIZAÇÃO NAS BRS DURANTE O FERIADÃO DE 7 DE SETEMBRO

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) inicia hoje a Operação Independência 2018 nas rodovias. A ação segue até o domingo (9) com o objetivo de melhorar a fluidez do trânsito e reduzir acidentes graves, a partir do reforço na fiscalização, nas abordagens educativas e na atividade de policiamento.

Para coibir o excesso de velocidade, a PRF irá fiscalizar com equipamentos de radar portáteis, em horários e locais de maior incidência de acidentes. Já o enfrentamento à embriaguez no trânsito contará com o apoio de equipes da Operação Lei Seca.

 O motorista que estiver sob efeito de álcool estará sujeito a uma multa no valor de R$2.934,70, suspensão do direito de dirigir por 12 meses e poderá ser encaminhado à delegacia de Polícia Civil, de acordo com o índice verificado no bafômetro.
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DIA MUNDIAL DO LIVRO MOBILIZA ESTUDANTES DE PETROLINA

Recital poético, leitura dramatizada, roda de conversa com escritores locais, intervenção literária e arrecadação de livros fazem parte das comemorações ao Dia Municipal do Livro, que ocorre nesta quarta-feira (5), em Petrolina (PE).  Os trabalhos iniciam às 8h e serão realizados de forma simultânea nas escolas públicas do município.

A Universidade de Pernambuco (UPE) está à frente dos eventos, que incluem discussões sobre a vida de 'Antônio Padilha: a trajetória de um escritor petrolinense', 'Dialogando com Mario de Andrade e a obra "Amor, verbo intransitivo"', café com literatura, bate-papo entre alunos e escritores, leituras de fábulas em línguas estrangeiras, dentre outras atrações.

Instituída em agosto de 2017 pela Câmara de Vereadores de Petrolina e idealizada pelo Colegiado de Letras da UPE, a data comemorativa visa promover o hábito da leitura entre os estudantes e a população, além de buscar valorizar escritores e obras literárias locais. Este ano, o Dia Municipal do Livro faz homenagem ao escritor Antônio Padilha, que nasceu em 5 de setembro de 1904.

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MARIA BONITA GANHA BIOGRAFIA COM DETALHES SOBRE VIDA NO CANGAÇO

Maria Bonita era uma mulher transgressora. Naqueles anos 1920, mulheres não podiam votar nem se divorciar. Traições dos maridos eram naturais e esperadas, e contrair doenças venéreas costumava ser visto como símbolo de virilidade. 

Mas ai da mulher que resolvesse ter um amante. Risadas altas eram sinal de vulgaridade e, no código cruel do cangaço, mulher que traía podia ser apedrejada. No entanto, Maria da Déa (no sertão e por todo o Nordeste, era comum o pronome de posse atrelado ao nome da pessoa para indicar a quem "pertencia") não temia o marido, o sapateiro Zé de Neném.

Quando ele trampolinava, ela ficava zangada, se refugiava na casa dos pais e se divertia no forró. Insatisfeita com a vida sexual e com o casamento com Zé de Neném, Maria não hesitava em declarar o fascínio por Lampião, o fora da lei mais temido e procurado do Nordeste brasileiro. Fugiria com ele em um estalo, caso Virgulino Ferreira da Silva quisesse. E um dia, ele quis. Maria deixou então de ser da Déa para se tornar Bonita e virar símbolo de valentia no cangaço. Essa trajetória, a jornalista Adriana Negreiros conta com detalhes em Maria Bonita — Sexo, violência e mulheres no cangaço.

Quando começou a pesquisa para o livro, Adriana não imaginava a dificuldade em reunir informações. A história do cangaço sempre foi contada do ponto de vista masculino, com Lampião como protagonista. "Mas me deparei com uma grande lacuna de informação sobre essas mulheres", diz a autora.

“E decidi contar a história a partir da perspectiva da Maria Bonita e das outras cangaceiras que compuseram o bando. Ao longo da pesquisa, fui percebendo essa questão do silenciamento: essas mulheres tinham suas narrativas constantemente desacreditadas e achei que seria uma boa contar a história dessa maneira”, conta Adriana, que mergulhou em reportagens publicadas em jornais da época, na bibliografia oficial, mas também num sem número de publicações de memorialistas do cangaço guardadas em coleções particulares. Raras vezes as mulheres ganharam voz nessa narrativa, embora algumas, como Dadá (Sérgia Ribeira da Silva) — cujo depoimento foi colhido por vários pesquisadores até sua morte, em 1994 — tenham sido fontes importantes em relação à vida das mulheres no cangaço.

Maria Bonita entrou para o cangaço por vontade própria, mas não foi o caso de boa parte das mulheres cujas vidas acabaram atreladas aos cangaceiros. Muitas eram raptadas, violentadas e sofriam todo tipo de violência. Foi o caso de Dadá, estuprada inúmeras vezes por Corisco, aos 14 anos, quando foi levada da casa dos pais. No entanto, a imagem que se construía delas era outra.

"Eu percebi que essa lógica do silenciamento das mulheres, de não dar voz a essas mulheres, é uma lógica que já vem de muito tempo", conta Adriana, que é nordestina de Mossoró (RN), cresceu em Fortaleza e ouve, desde pequena, as histórias do cangaço. 

"Quando se descobriu que as mulheres começaram a entrar para o cangaço, os jornalistas noticiavam isso, mas não davam grandes cabimentos para essa história. Havia pouca informação sobre as mulheres e, geralmente, essas informações eram fornecidas pela polícia, fonte oficial dos repórteres. Então, há muita informação distorcida sobre essas mulheres, elas são tratadas como bandidas, você tinha uma visão de que eram tão criminosas quanto seus companheiros."

No livro, Adriana narra em detalhes a vida das cangaceiras. Elas não eram admitidas em batalhas, mas acabavam submetidas a um código cruel e implacável, incluindo uma rotina de sexo e violência. Traições eram punidas com morte e gravidez, quando acontecia, também engendrava uma sentença trágica: a criança era deixada com alguma família de coiteiros (que davam abrigo aos bandos) e a morte era uma perspectiva real em um parto sem assistência alguma.

As contextualizações acompanham toda a narrativa de Adriana, e a autora faz questão de pontuar os acontecimentos do livro com os fatos históricos que marcaram aquela década de 1930. Aos 43 anos, ela encara a obra como uma atitude política e feminista.

 "O livro veio no momento em que comecei a me perceber e me assumir como uma feminista. Então pensei: já que vou contar uma história que me interessa tanto, uma história do cangaço, tenho que tomar uma atitude política e contar da perspectiva das mulheres, até para romper um pouco com essa tradição de se contar tudo da perspectiva dos homens", conta. 

Impressionada com a figura de Maria Bonita e com as semelhanças entre a maneira como as mulheres eram tratadas e os dias de hoje, a autora procurou, também, estabelecer um paralelo que diz muito sobre o Brasil de hoje.

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SECRETÁRIO DENUNCIOU RISCO DE DESTRUIÇÃO POR INCÊNDIO DO MUSEU NACIONAL HÁ 14 ANOS

O incêndio que atingiu e destruiu o Museu Nacional e entristeceu o mundo na noite deste domingo (2) era uma tragédia anunciada. Em 2004, o então secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio de Janeiro, Wagner Victer denunciou a situação precária em que se encontrava o edifício histórico. Ele já alertava para o risco de destruição por incêndio do museu.

À época, o secretário disse à Agência Brasil ter ficado impressionado com a situação das instalações elétricas que, segundo ele, já estavam em estado deplorável. "O museu vai pegar fogo. São fiações expostas, mal conservadas, alas com infiltrações, uma situação de total irresponsabilidade com o patrimônio histórico", afirmou o secretário.

Wagner Victer cobrou ao Conselho Estadual de Cultura, para que medidas urgentes fossem tomadas. O secretário defendia um esforço concentrado do Governo Federal e a liberação de verbas significativas para evitar que o museu fosse destruído por causa da falta de preservação.


O ex-diretor do museu, Sérgio Alex Azevedo, reconheceu que a situação elétrica do museu já era realmente bastante complicada. Disse que a crise já durava mais de 40 anos e havia se agravado a partir dos anos 1990 por causa do descaso e da demora de liberação de verbas. Segundo ele, em dezembro de 2003 foi feita uma vistoria que constatou que as instalações elétricas do prédio são inadequadas e que era urgente à implantação de um sistema de combate a incêndio.
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TAIRONE FEITOSA, A ALMA SERTANEJA E O ROTEIRO DE UMA LÉGUA TIRANA

Um dos nomes mais consagrados e inquietos do cinema brasileiro está em Petrolina. Trata-se de Tairone Feitosa.

Este ano, o roteirista Tairone Feitosa celebra 55 anos de carreira, iniciada no Recife, quando estreou na TV Jornal do Commércio. De lá para cá, teve passagens também pelo circo, teatro, rádio e, finalmente, o cinema.

Tairone é o responsável e assina o roteiro de filmes como Luzia Homem, Ele, o Boto, O Homem da Capa Preta e Veneno da Madrugada (filme dirigido por Ruy Guerra), Dança dos Bonecos, S. Brown o Último Heroi, todos referências para os cineastas brasileiros e internacionais.

Na trajetória de roteirista de O Homem da Capa Preta, o filme ganhou os Kikitos de Melhor Filme, Melhor Música, Melhor Ator (José Wilker) e Melhor Atriz (Marieta Severo) no Festival de Gramado de 1986. Ele trabalhou com diretores como Ruy Guerra, Walter Lima Jr, Fábio Barreto e Sérgio Rezende.

Durante uma de suas entrevistas (Revista Graciliano) ele declarou que "está e continua em busca de sua velha alma sertaneja”. Por opção, Tairone mora em Delmiro Gouveia, no Sertão de Alagoas, cidade onde nasceu, mas a inquietude e imaginação talentosa determina que ele é um fiel cidadão livre pensador do mundo.

O roteirista Tairone Feitosa fez, há alguns anos, o caminho de volta de uma longa e produtiva temporada na região Sudeste e fixou-se em Delmiro Gouveia, cidade localizada a cerca de 300 km de Maceió e já na divisa com os estados de Sergipe e Bahia.

Tairone vem se dedicando ao ofício que sempre lhe garantiu o sustento: escrever. Dessa vez, o trabalho é o filme Légua Tirana. Em companhia do cineasta Marcos Carvalho, a alma de Tairone no momento está com o universo gonzagueano. Légua Tirana conta ainda com nomes, mestres do cinema, Sergio Sliveira, Diogo Fontes, Antonio Luiz Mendes Soares, Rubens Shinakai.

No elenco já confirmados os nomes de Claudia Ohana, Chico Diaz, Tonico Pereira, Luiz Carlos Vasconcelos. O Projeto Legua Tirana foi aprovado no VII edital de Fomento ao Audiovisual do Estado de Pernambuco-Funcultura.

Filho de artistas, Tairone possui uma habilidade rara com as palavras – tanto na escrita quanto na oralidade. Entre um café e andança pelas ruas de Petrolina percebemos a capacidade dele em contemplar a experiência humana e a paixão por histórias, sons, cores, sabores...

O filme Légua Tirana é um mergulho no universo de cores, ritmos e sonoridades de onde Luiz Gonzaga surgiu para revolucionar a música brasileira. O foco seguirá o fluxo de consciência do artista em seu aprendizado de vida infantil na jornada em busca do seu dom e do seu destino.

Foi em Exu-Pernambuco e adjacências que Luiz Gonzaga, ainda criança ao lado do pai, Januário, afamado tocador de 8 baixos, na região, aprendeu a ouvir o mundo escutando músicos, rezadeiras, romeiros, cegos de feira, retirantes e a natureza.

"Valendo-me de minha vasta experiência no ramo afirmo, sem falsa modéstia, que sou um pixote como nunca houve antes nem haverá outro depois de mim. Pixote convicto, no jogo como na vida. E gosto de ser assim", diz Tairone.

E assim é esperado o filme Legua Tirana, qual o povo aguarda o vento cantarino anunciando a Paz do Sertão.


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VIRGILIO SIQUEIRA: CÂNTICOS DE SOL E CHUVA, ABOIO, XOTE, BAIÃO, FORRÓ E BLUES

A seca, a chuva, a fauna e a flora da caatinga são o cenário sem limites para a história de um casal que vive a descrença e a fé  de uma história que se passa no Sertão. Depois de tantas reviravoltas provocadas pelas dificuldades, Benjamim e Carminda acabam sendo surpreendidos pela fartura e harmonia que só o inverno conseguiu multiplicar. 

Os dois dão a volta por cima de uma rotina conflituosa que ganha luz com o nascimento de gêmeos. Com muita poesia, a história de Cânticos de Sol e de Chuva, movimenta o primeiro auto de natal que se passa na caatinga.

A história de Cânticos de Sol e Chuva foi escrito em 2012. O autor é o poeta e compositor Virgílio Siqueira nascido em Santa Cruz da Venerada, Sertão do Araripe, onde passou a infância convivendo com as agruras da estiagem, o autor montou uma narrativa dinâmica que também carrega as belezas do Sertão. Atualmente, Virgílio mora em Petrolina, onde busca inspiração frente à abundância das águas do rio São Francisco.

Virgilio Siqueira é um dos mais talentosos poetas. Virgílio Siqueira também é compositor, e tem músicas gravadas por Fagner, Xangai, Vital Farias, Dominguinhos, Maciel Melo e Santana. De sua autoria, cantoria, aboio, xote, baião, forró, rock rural e blues com letras que remontam o cancioneiro nordestino. 

No livro O personagem masculino Bejamim, representa a seca, enquanto a companheira  Carminda,  a chuva e a fartura. “Esse auto de natal traduz todas as matizes da natureza humana e o ambiente da caatinga. O diferencial em relação a outros autos já escritos, é que neste, em vez de um filho, o casal ganha gêmeos. Aí uma terceira personagem chamada Maria Parteira entre em cena”, explica Virgílio.

Segundo o autor, que lançou seu primeiro livro na década de 90 e participou de coletâneas, o projeto Cânticos de Sol e de Chuva, povoa seu sentimento sertanejo há mais de vinte anos, mas só agora consegui transformá-lo em livro. 

“Sempre começava o processo de pesquisa, dava os primeiro passos da escrita, mas parava no meio. Ano passado, passei por momentos difíceis na vida e retomei o projeto fazendo pesquisas na região de Santa Cruz e Ouricuri, dando forma à narrativa dos poemas e das músicas”, conta Siqueira.

Cânticos de Sol e da Chuva ganha dinamismo poético, através da linguagem que o autor conduziu usando as formas do terceto, quadra, sextilha, décima, versos brancos e livres, além da poesia concreta. 

O desfecho da história se dá com o nascimento de Ivan e Aída, que para o pai Benjamim, representam, respectivamente, ternura e fibra/doçura. 

Fonte: Jornal do Commercio/2012

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EM TEMPO DE POUCOS RIOS, UMA ORAÇÃO PARA O RIO SÃO FRANCISCO

Às 18 horas, sempre guardo na correria da vida e do trabalho, a Oração da Hora do Anjo. Estes dias olhando o Rio São Francisco ouvindo as canções de Padre Zezinho lembrei da Oração do Rio São São Francisco em tempos de poucos Rios. Assim escutei do amigo Aderaldo Luciano. Assim reproduzo:

O Rio São Francisco não nasce na Serra da Canastra. Digo isso porque a correria estressante das ruas do Rio de Janeiro me oprime. Os olhos dessas crianças nuas me espetam e essa população de rua dormindo pelas calçadas me joga contra o muro. Esse Cristo economiza abraços e atende a poucos.

Só uma coisa me alenta hoje: a saudade do meu santo rio. O Rio São Francisco, o Velho Chico, Chiquinho. Escuto o murmurar de suas verdes águas: — Deixai vir a mim as criaturas... E assim foi feito. Falar de desrespeito e depredação tornou-se obsoleto. Denunciar matanças e desmatamentos resultou nulo. Orar e orar. Pedir ao santo do seu nome a sua oração.

Lá do Cristo Redentor da cidade de Pão de Açúcar, nas Alagoas, um moleque triste escutou a confissão das águas. Segundo ele, o Velho Chico dizia: “Ó, Senhor, criador das águas, benfeitor dos peixes, escultor de barrancas e protetor de homens fazei de mim bem mais que um instrumento de tua paz. Se paz não mais tenho faz-me levar um pouquinho aos que em mim confiam. Paz para as lavadeiras que, em Própria, choram a sua fome de pão. Que, em Brejo Grande, soltam lágrimas pelos filhos mortos no sul do país. Que, em Penedo, já perderam a fé de serem tratadas como gente sã.

Onde houver o ódio dos poderosos que eu leve o amor dos pequeninos. O amor dos que cavam a terra a plantam o aipim. Dos que cavam a terra e usam-na como cama e lençol para sempre. Dos que querem terra para suas mãos, para os seus grãos, para a sua sede. O amor que não é submisso, mas escravizado. O amor que tem coragem de um dia dizer não. Coragem diante das balas e das emboscadas, das más companhias e da solidão.

Onde houver a ofensa dos governos que eu leve o perdão dos aposentados e servidores públicos. O perdão, nunca a omissão. A luta, porque perdoar não requer calar. Perdoar não quer dizer parar. Como minhas águas, tantas e tantas vezes represadas, mas nunca paradas e que, quando em minha fúria, carregam muralhas, absorvem barreiras e escandalizam Três Marias, Xingó e Paulo Afonso.

Onde houver a discórdia dos que mandam que eu leve a união dos comandados. A suprema união dos que sonham com as mudanças, dos que querem quebrar hegemonias e oligarquias. A discórdia dos reis contra a união dos plebeus. Um povo unido é força de Deus, dizia o velho bendito e sejais bendito, Senhor. A união das águas, a união das lágrimas, a união do sangue e a união dos mesmos ideais.

Onde houver a dúvida dos que fraquejam, que eu leve a fé dos que constroem seu tempo. Na adversidade, meio ao deserto e ao clima árido, a fé dos que colhem uvas e mangas em minhas margens. Dos que colhem arroz em minhas várzeas, dos que criam peixes com minhas águas em açudes feitos. A fé dos xocós lá em Poço Redondo. A fé que cria cabras nos Escuriais. Dos que colhem cajus e criam gado em Barreiras e outros cafundós.

Onde houver o erro dos governantes que eu leve a verdade de Canudos. O bom senso dos conselheiros de encontro à insanidade dos totalitários. Os canhões abrindo fendas na cidade sitiada e a verdade expondo cada vez mais a ferida da loucura na caricatura da História. O confisco da poupança e o rombo na previdência. O fim da inflação e o pão escasso, o emprego rarefeito, a dignidade estuprada em cada lar de nordestinos.

Onde houver o desespero das crianças da Candelária que eu leve a esperança das mães de Acari. E aqui, Senhor, te peço com mais fé. A dor dos deserdados, dos que perderam seus pais, filhos ou irmãos, seja de fome, doença ou assassínio, inundai-os com as águas esmeraldas da justiça. A justiça da terra e dos céus. Pintai de verde o horizonte das famílias daqueles que foram jogados mortos em minhas águas. Eles não foram poucos.

Onde houver a tristeza dos solitários que eu leve a alegria das festas de São João. Solitário eu banho muitas terras e em todas, das Gerais, do Pernambuco, das Alagoas e do Sergipe, não há tristeza ao pé da fogueira, nas núpcias entre a concertina e o repente, entre a catira e o baião.. Das festas do Divino ao Maior São João do Mundo, deixai-me levar, Senhor, o sabor de minhas águas juninas e seus fogos de artifícios.

Onde houver as trevas da ignorância que eu leve a luz do conhecimento e da sabedoria. A escuridão dos homens dementes que teimam em querer ferir-me de morte seja massacrada pela luz de um futuro negro, sem água potável, sem terra e sem ar.. Dai-me esse poder, de entrar nas mentes e nos corações, de espraiar-me pelos mil recantos dos que querem mal à nossa casinha, nossa pequena Terra. O homem sábio seja sempre sábio e contamine os povos com ensinamentos de preservação.

Ó, Senhor, dai-me vocação para consolar os que se lamentam de má sorte. Fazei-me compreender porque tanto mal há nos corações. Sobretudo, Senhor, não autorizeis que eu deixe de ser o Rio São Francisco, que há tantos anos não foge do seu leito, espalha e espelha vida em abundância. Que, embora tenha dado, quase nada recebo, que perdoando sempre, continuo sendo morto enquanto todos pensam que serei eterno.”

Fonte: Professor Doutor em Ciencia da Literatura-Aderaldo Luciano
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