Era uma certa vez...a carimbamba cantava assim

Em algum ano da década de 70, talvez início de 80, essa data flutua e se move no turbilhão de fatos de minha pré-adolescência, eu ouvi com o coração que a terra há de sentir algum dia, próximo ou longínquo que seja, em alguma estação de rádio do Crato ou do Juazeiro do Ceará, a canção fatal que determinaria minha vida: Amanhã Eu Vou, de Beduíno e Luiz Gonzaga. Não tardou muito para eu ver Elba Ramalho num desses festivais de inverno, de Areia ou de Campina Grande, também foge-me, mas era Elba, tão linda e tão senhora de si, cantando a mesma canção.

Estranhava-me a história desse pássaro chamado de carimbamba do qual nunca ouvira falar, sequer ouvira seu canto que grassava na noite a onomatopeia "amanhã eu vou". Com os parcos recursos de pesquisa da época saí em busca dessa ave. E encontrei em seu Carneiro, um poeta que morava na única casa do final da Rua do Bode e a primeira do que chamou-se mais tarde a Rua Nova, entrando por um pedaço do sítio de Pedro Perazzo, encontrei nele a luz. A carimbamba era o mesmo bacurau, é o mesmo curiango. Esse eu conhecia. Um pássaro cuja mola no pescoço o fazia dar um giro de 360º,

Mas acreditem, nunca associei o canto do bacurau a "amanhã eu vou". Foi Luiz Gonzaga quem ensinou-me a voz, a língua e a canção do pássaro. E, junto com isso, destrinçou-me a lenda de Rosa Bela, a encantada donzela a adentrar a lagoa fria, hipnotizada pela canção atravessada no peito da ave mágica. A canção apresentou-me também o elemento vegetal, a taboa, com a qual sempre brincávamos nos escondendo por dentro dela no açude de Seu Juju, e o elemental Caboclo d'Água, aquele responsável por carregar tantos amigos para o reino paralelo da morte nas profundezas.

Fonte: Aderaldo Luciano-professor. Doutor em Ciência da Literatura.
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Encontro Gerações Tocadores da Sanfona de 8 Baixos

Um encontro entre o mestre e o aprendiz, a modernidade e a tradição, a experiência e a juventude, em mais um festejo de alegria e homenagem ao fole de 8 baixos!

Trata-se do “Encontro de Gerações de Tocadores de 8 Baixos”, que acontecerá no Centro Cultural Parque das Ruínas - Santa Teresa - Rio de Janeiro, no dia 04 de setembro . O evento promoverá a participação de tocadores da sanfona de 8 Baixos do Cariri do Ceará, da cidade de Assaré, Ceará. Um dos homenageados sera  o mestre Chico Paes, o vovô dos 8 baixos, que com seus 90 anos de idade, mantém uma agilidade e técnica exemplar tocando fole.

Participa do encontro o mestre, Mará integrante do “Núcleo de Pesquisas e Expressão da sanfona de 8 Baixos do Brasil”, sanfoneiro das bandas Forróçacana e Tribo de Gonzaga, violoncelista, produtor e arranjador musical. Mestre Mará se dedica às pesquisas, estudos, resgate e a divulgação do fole de 8 baixos no Brasil.

Juntos, Chico Paes e Mará receberão ilustres convidados como o mestre Zé Calixto, Leo Rugero, Marcelo Mimoso, Rodrigo Ramalho, Beto Lemos e Geraldo Júnior , conterraneos do mestre, que trazem em seu matulão a poesia e a abundante arte do Cariri. 

EVENTO: Encontro de Gerações de Tocadores de 8 Baixos - Homenagem ao Mestre Tocador de 8 Baixos Chico Paes de Assaré - Cariri do Ceará
DIA: 04/09/16
HORA: Das 15h até as 17h
LOCAL: Centro Cultural Parque das Ruínas
Rua Murtinho Nobre, 169 - Santa Teresa - Rio de Janeiro


REALIZAÇÃO:
Núcleo de Pesquisas e Expressão da Sanfona de 8 Baixos do Brasil
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31 de agosto: Jackson do Pandeiro a caminho dos 100 anos

Quem visita Alagoa Grande, situada na região do brejo paraibano, Serra da Borborema, não pode deixar de visitar um casarão azul construído em 1898, na Rua Apolônio Zenaide, centro da cidade. No prédio está a memória e os restos mortais de um dos artistas mais representativos da cultura brasileira: José Gomes Filho, o Jackson do Pandeiro.

O Memorial Jackson do Pandeiro, criado em 2008, possui um grande acervo composto por discos, documentos, vestimentas, imagens e os indefectíveis chapéus usados pelo cantor, que nasceu em 31 de agosto de 1919 e morreu em Brasília, em 10 de julho de 1982. 

“O memorial já foi visitado por mais de 100 mil pessoas vindas de várias partes do país. “Foi um artista que nunca cantava duas vezes uma música da mesma maneira, sabia dividir os compassos da música nordestina com maestria”, afirma o jornalista e historiador da música brasileira Rodrigo Faour, curador da recém-lançada caixa Jackson do Pandeiro — O Rei do Ritmo (Universal Music).

“Há anos, eu queria relançar esse repertório. Quando a Universal veio com essa ideia, eu, na mesma hora, vesti a camisa e revisei o levantamento que eu já tinha feito. Pedi ajuda a alguns amigos e cheguei à seleção final”, destaca Faour sobre a obra com clássicos como Chiclete com banana e O canto da ema.

Em entrevista, o pesquisador lista os empecilhos que teve de enfrentar para a composição da caixa que contém 235 músicas. Ao todo, são 15 discos agrupados em nove CDs. Esses álbuns (compactos e long plays) foram lançados originalmente nos anos 1960 e 1970.

 “Esbarrei com um monte de problemas: canções não editadas, autores falecidos, autores que não deixaram herdeiros oficiais, capas originais dificílimas de conseguir... Por isso demorou anos e anos para a caixa sair”, lamenta.

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Manoel Magalhães: A morte não consegue fechar os olhos dos que trabalharam por uma causa justa

Há dois anos os Rádios e os jornais do sul do Ceará anunciaram a morte do ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santana do Cariri, Manoel Magalhaes.

Tive o prazer de conhecer este senhor de 94 anos, numa visita ao Crato, lugar que ele morava. Devido a doença não falava. Todavia o seu olhar confirmava acompanhado com um sorriso tudo que o genro,  as filhas e netos me contavam.

Histórias de um homem que amava a agricultura e as paisagens rurais dos verdes canaviais. Cada gesto me faz lembrar do meu avô Antonio Vital e de um amigo: Vicente Jeronimo.  Manoel Magalhaes me fez lembrar muito a altivez desses dois amigos, meu avô e Vicente  Jeronimo, um socialista convicto da partilha do pão..

Seu Manoel Magalhães viveu junto com Dona Lorita mais de 70 anos. Deixou os frutos de 5 filhos, 18 netos, 11 bisnetos e 1 tataraneto. Gostava de sentar a mesa da cozinha e conversar. Participei no Crato de uma dessas rodas de conversa regado a café!

E a cada prosa percebia  o elo de dedicação do sr Manoel a causa dos trabalhadores rurais e  isto me fez  reportar de um agricultor que nos deixou em agosto de 1962. João Pedro. João Pedro Teixeira foi  líder e fundador das Ligas Camponesas.

O poeta e político Raymundo Asfora escreveu que a morte não consegue fechar os olhos dos que trabalharam por uma causa justa. "Os olhos Brilham numa expressão misteriosa, como se tivessem sido tocados por um clarão de eternidade. Os seus olhos, os olhos de um agricultor morto, ficam  escancarados para a tarde. E, dentro deles, eu vi – juro que eu vi – havia uma réstia verde que bem poderia ser saudade dos campos ou o fogo da esperança que não se apagara".

É certo que na morada do Pai Superior existe outros caminhos e nesta nova caminhada sr Manoel Magalhães vai se juntar novamente há  tantos homens sem terra e tantos homens aflitos e tantos homens de coragem, Compenetrados de consciência de classe, do valor da disciplina e da coesão, mobilizados ardentemente, em cada feira e em cada roçado.

João Pedro, Vicente Jeronimo, Zumbi dos Palmares, Antonio Vital,  Manoel Magalhães, Patativa do Assaré não morreram! Nas palavras de Asfora, estes agora  são zumbis. "Sombra que se alonga pelos canaviais, que bate forte na porta das casas grandes e dos engenhos, que povoa a reunião de cada sindicato, que grita na voz do vento dentro da noite, e pede justiça, e clama justiça social.  Vozes que passeiam pelas estradas,  que fala, pela boca de milhares que amam seu pedaço de terra."
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Sandra Mara: Comunicação e Educação-diálagos possíveis

O livro "Comunicação e educação: diálogos possíveis", é uma dica de leitura. Organizado pelos professores Sandra Mara de Oliveira Souza e Sebastião Faustino Pereira Filho, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e Márcia Barbosa da Silva, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

A ideia do livro surgiu a partir dos encontros e muitas conversas realizadas entre pesquisadores da UFRN, UEPG, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Universidad Nacional de Cuyo, na Argentina (UNCUYO). Os pesquisadores compõem um grupo de estudos interinstitucional com a perspectiva de contribuir com a construção de uma teia de pensamento sobre a interseção dos campos da Comunicação e Educação. A publicação é da Editora da UFRN (EDUFRN).

Sandra Mara em sua tese de doutorado, aponta que o diálogo figura como condição essencial para a plena efetivação da Comunicação. "Em Paulo Freire, encontramos uma concepção de diálogo que se expressa, fundamentalmente, em duas dimensões: por um lado, no encontro de subjetividades; por outro, na ação. O diálogo não seria, portanto, um pensar para , mas, um pensar com", explica Sandra.

De acordo com Sandra, a idéia de comunicação dialógica de Paulo Freire, baseia-se no respeito pelo outro, não visa acomodação ou ajustamento, mas enfatiza a integração que torna o homem sujeito de suas ações e o afasta da condição de objeto, do dominado, sem vez e voz.

Sandra Mara é jornalista. Mestre e doutora em educação. Roteirista e diretora de programas educativos e culturais. Atuou como diretora da FM Universitária do Rio Grande do Norte.
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Livro Blog do Noblat será lançado na Feira do Livro do Vale do São Francisco

A jornalista e professora, Teresa Leonel, lançará seu livro ‘Blog do Noblat: estilo e autoria em jornalismo’ neste sábado (6), durante a 3ª Feira do Livro do Vale do São Francisco, no Centro de Convenções Senador Nilo Coelho, em Petrolina, das 15h às 16h.

De acordo com a autora, a obra pretende estimular uma discussão sobre a prática jornalística no blog, a interação entre o produtor de conteúdo e o internauta e a possibilidade de outros formatos comunicacionais a partir dessa dinâmica.

“Nas pesquisas de comunicação no ciberespaço, o blog noticioso ganha corpo como objeto de estudo de gêneros jornalísticos. E este livro faz uma investigação (um recorte) do Blog do Noblat para compreender o conjunto de traços que caracterizam a marca do jornalista-blogueiro e que personificam o estilo do autor a partir da sua produção“, ressalta.

O trabalho é fruto da dissertação de Mestrado da autora. A pesquisa apresenta uma prática de produção de conteúdo tanto de modo interativo, com participação do internauta, como de forma impositiva pelo produtor.
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Valdi Jr, um exuense com a dinânica universal da música

Valdi Jr, 23 anos, é natural de Exu, sertão pernambucano, terra do Mestre Luiz Gonzaga. Sua relação com a música começou quando ele era ainda criança. Filho de Valdi Geraldo Teixeira, músico que atuou junto ao Rei do Baião, o jovem recebia diariamente do pai, doses generosas do amor pela música de raiz.

Com a infância repleta de ensaios e shows realizados pelo pai, Valdi construiu nas brincadeiras de criança o sonho de trabalhar com a música. Aos 9 anos teve seu primeiro contato com um instrumento musical, a sanfona. Mas foi aos 10 anos que recebeu do pai o que seria o seu melhor e fiel amigo, o violão. Instrumento que aprendeu a manusear praticamente de forma autodidata, contanto apenas com a ajuda da internet.

Porém, o tocar não era suficiente para o menino de mente e pés inquietos. Durante a adolescência, conheceu a dança, o Break da cultura Hip-Hop e foi nesse período que sua cartela musical foi sendo ampliada. O xote, o baião e o xaxado, típicos da sua região, ganharam a companhia de novos ritmos como o Rap, o blues e a MPB de Caetano Veloso e Djavan.

Aos 17 anos iniciou sua trajetória artística, com pequenas apresentações. Entre os anos de 2013 e 2014, com a ajuda do amigo Jonnez Bezerra, com quem trabalha até hoje, produziu o primeiro show profissional, com apresentações em barzinhos nos estados de Pernambuco e Ceará.

Em 2015  passou de intérprete a autor. Suas primeiras composições foram apresentadas no Festival Equalize, realizado na cidade do Crato, Ceará. De lá pra cá, não parou mais. A boa aceitação do público mexeu com a criatividade e expandiu os horizontes do compositor que em março de 2016 lança o primeiro EP que leva o nome da música autoral, carro chefe de suas apresentações, Pelo Avesso, música premiada como 3º melhor no FEMUB 2015. No EP tem ainda as músicas Marionete, Sinais, Renascer do Sopro, Te Deixar, todas autorais.

O estilo envolvente e contagiante das músicas de Valdi Jr rendeu elogios e parcerias ilustres como a participação da cantora Nuria Mallena, na gravação do vídeo da música Pelo Avesso que pode ser encontrada no YouTube.

Hoje, além das músicas autorais, o show tem o toque diferenciado com interpretações como Respeita Januário, de Luiz Gonzaga, tocada em Rockabilly, a música Juazeiro no estilo Blues. Uma perfeita harmonização onde o acordeom, típico da cultura nordestina, guitarras do rock e o violão da MPB dividem o mesmo palco, lado a lado.

Para o futuro, o que se esperar de um jovem com mente visionária, inquieta e cheia de estilo? 
Sucesso e a certeza que Luiz Gonzaga aplaude mais um filho musical que sabe o valor e produzir para o cenário universal.
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