Luis Nassif: A Estrela de Luiz Gonzaga

Durante o século 20, aliás, Bahia e Minas forneceram contingentes de músicos fundamentais, mas não chegaram a produzir música típica local -apenas recentemente, a partir do Olodum, a Bahia retomou suas raízes. Há um segundo pólo, de música caipira/sertaneja que se formou no interior de São Paulo e se espraiou pelo Triângulo Mineiro e Goiás.

Um terceiro pólo bem definido é o gaúcho, da música pampeira com influência da Argentina e do Uruguai. Recentemente, cresceu muito o pólo da música pantaneira, com nítida influência da guarânia e da música paraguaia. Persiste, no Pará, a tradição da canção brasileira, herança ainda dos tempos da borracha.

Depois do Rio de Janeiro, o grande pólo da música brasileira é Pernambuco, com duas vertentes muito nítidas. Há uma de Recife/Olinda, com seus frevos orquestrados, cirandas e maracatus, e há a vertente dita nordestina -que abarca o sertão pernambucano e os Estados limítrofes, com destaque para Paraíba e Ceará. E é aí que surge a estrela luminosa de Luiz Gonzaga, o Lula, o grande nome da modernização da música brasileira nos anos 40, ao lado de Dorival Caymmi.

Dito assim, fica meio frio e impessoal. Mas você não sabe o que era Luiz Gonzaga nos anos 50, quando ele explodiu para o Brasil. Ele corria todo o interior, fazendo shows nas praças das cidades em cima de um caminhão, patrocinado por uma multinacional da qual não me recordo o nome.

Não se tratava de um fenômeno restrito às elites intelectuais, aos universitários, aos cultivadores da chamada "boa" música. Cada música lançada percorria todos os estratos sociais. Lembro-me, na farmácia do meu pai, eu, com meus oito anos, sendo provocado pelo Pedro e pelo Antônio (os dois boys) por conta da música "Respeita Januário" (Gonzaga e Humberto Teixeira), homenageando Severino Januário. Januário era também o balconista da Farmácia Central.

No dia em que ele foi se apresentar em Poços de Caldas, a cidade inteira desceu para a praça. Minha mãe também desceu, comigo e minha irmã Regina, eu com sete anos, ela com cinco. Gonzaga já era conhecido da cidade, para onde encaminhou a namorada tísica, com o filho Gonzaguinha, para uma temporada de tratamento. Acabamos assistimos ao show de dentro de uma Rural Wyllis, de uns parentes dele.

Antes de lançar o baião, Gonzaga passou pelo choro. Seu estouro ocorreu com a música cantada, não apenas pelo balanço, trazendo o xaxado, o xote, o baião, mas pela temática. Com seus parceiros Zé Dantas e Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga trouxe para a música brasileira a problemática do Nordeste, que aquela altura dominava as atenções de todos, de planejadores, como Celso Furtado, a poetas, escritores, estudantes.

Mesmo assim, o tom político de suas canções em nenhum momento se sobrepôs às qualidades musicais ou às características profundamente nordestinas. O balanço, a gozação, o uso dos termos regionais, tudo contribuiu para criar um modelo estético imbatível dentro da música brasileira, dos épicos nordestinos, como "Asa Branca", ao lirismo de "Estrada do Canindé" ("Ai, ai, que bom/ Que bom, que bom que é/ Uma estrada e uma cabocla/ Com a gente andando a pé"). Ou então o "Xote das Meninas", que fez o maior sucesso na voz de Ivon Cury, talvez o cantor de maior sucesso na segunda metade dos anos 50 -e que morreu fazendo bicos em programas humorísticos.

Pouco depois de lançada, "Asa Branca" já era um clássico. Lembro-me nos anos 60 o orgulho que nos dava o mero boato de que os Beatles iriam gravar a canção.
A relação de sucessos de Gonzaga é enorme. Há quem goste das todas, dos xotes, das músicas buliçosas. De minha parte a música que mais me tocou, meu hino nacional brasileiro do Nordeste é "Que nem jiló" (Gonzaga e Humberto Teixeira).
Nenhum comentário

28 de julho: noite de amor no Poço de Angico

Aquela noite, 28 de julho, era a noite de seus desejos. Seus corpos se amariam como nunca. Seus olhos confessavam seu amor. Havia uma necessidade de abraçar mais forte, de se beijar mais quente, de sussurrar segredos. 

O suor os unia em complexa solução salgada. Seus fluidos se misturavam cumprindo seu destino. A lua, a noite, o silêncio no campo. A terra calava-se diante de tanta cumplicidade. Nus, abraçados, juraram amor eterno, enquanto seus dedos se entrelaçavam. A rusticidade de suas vidas nunca invalidara seus momentos de paixão.  O cactus, a poeira da caatinga, os bichos mais estranhos, a brisa inexistente, tudo reverenciava e abençoava sua união. Naquela noite, toda a alegria do mundo invadia-lhes a aura. Até que veio a manhã e adormeceram para sempre.


Fonte: Aderaldo Luciano-doutor em Ciência da Literatura
Nenhum comentário

Universidade Federal do Vale do São Francisco realizará o primeito debate com canditados a prefeito de Petrolina

O primeiro debate com os candidatos a prefeito de Petrolina será promovido pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e já tem data, local e horário definidos para acontecer: dia 18 de agosto, no Auditório da Biblioteca do Campus Centro, a partir das 8h.

O debate, que tem como temas centrais “Educação e Meio Ambiente”, está sendo organizado pelo Programa Escola Verde (PEV), da Univasf, e deverá contar com seis blocos:

1) formação da mesa e abertura; 2) apresentação dos candidatos; 3) perguntas da mesa e de instituições presentes; 4) perguntas entre os candidatos. 5) considerações finais dos candidatos; e 6) assinatura pelo candidatos do Termo de Compromisso em desenvolver a Educação Ambiental no município, caso seja eleito.

O público-alvo são professores, estudantes, gestores e ambientalistas, mas o evento será aberto ao público em geral. O debate será transmitido ao vivo pela TV Caatinga (webTV da Univasf).
Nenhum comentário

Instituto Federal realizará o I Encontro de Educação Musical do Vale do São Francisco

O campus Petrolina do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE) está com inscrições abertas para o 1º Encontro de Educação Musical do Vale do São Francisco. O evento acontecerá nos dias 4 e 5 de agosto e tem como objetivo fomentar a pesquisa em formação e educação musical. O evento é gratuito e destinado a professores, estudantes de música e profissionais que desenvolvem pesquisas sobre o ensino da música.

Durante os dois dias de programação, acontecerão palestras, apresentações de trabalhos acadêmicos, mesas redondas, intervenções artísticas e serão abordando os seguintes eixos temáticos: Conteúdo e didática nos diferentes espaços de educação musical; Ensino e aprendizagem da música nas escolas de ensino básico; Educação musical mediada pelas tecnologias; e Educação musical e inclusão.

O Encontro trará como tema ‘Formação e Pesquisa em Educação Musical: Caminhos e Perspectivas’ e contará com a participação de profissionais renomados de várias instituições de ensino do Brasil. Aos interessados, o prazo para inscrever trabalho acadêmico é até hoje (3). Já para participar do evento como ouvinte, as inscrições podem ser realizadas até 31 de julho, por meio do site do evento: encontrodeeducacaomusicalvsf.blogspot.com.br.
Nenhum comentário

Estão matando as Rádios em AM-Amplitude Modulada

Li com tristeza a Notícia publicada pelo jornal o Estado de S.Paulo e a Folha de S.Paulo: a tradicional Rádio Eldorado, que pontuou durante décadas a programação mais qualificada na chamada linguagem radiofonica, encerra sua a programação.

A frequência dos 700 KHz em Amplitude Modulada será preenchida com a música gospel e as mensagens religiosas da Igreja Internacional da Graça de Deus. A partir de agora será parte da rede Nossa Rádio, propriedade do empresário religioso Romildo Ribeiro Soares, conhecido como missionário RR Soares.

A Eldorado nasceu em 1958, por concessão do então presidente Juscelino Kubitschek à família Mesquita, proprietária do jornal O Estado de S. Paulo. Teve seu auge entre as décadas de 1970 e 1980, tornando-se referência em jornalismo e música de qualidade.

Romildo Soares, ex-membro fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, foi apontado em 2013 pela revista Forbes como o quarto líder religioso mais rico do Brasil, dono de uma fortuna calculada em US$ 125 milhões. Sua rede conta com mais de 2 mil templos por todo o país, mas sua atuação se dá principalmente no campo das comunicações.

Apostando inicialmente no rádio, Soares se tornou figura constante em muitas emissoras, primeiro alugando horários e mais tarde construindo sua própria rede, e hoje ocupa mais de 100 horas semanais de televisão.

O fim da Eldorado AM, depois de sua progressiva deterioração, era um fato há muito esperado no mercado. O que surpreende, a se levar em conta a reação de analistas especializados que comentam notícias sobre a mídia brasileira, é a cessão da tradicional banda AM 700 para uma organização religiosa.

Estão matando as rádio ams...lamentável!!!



Nenhum comentário

Dominguinhos: 3 anos de saudades

Dominguinhos morreu no dia 23 de julho. Lutou durante mais de seis anos contra um câncer de pulmão. O músico morreu às 18h.

"Que saudade matadeira eu sinto no meu peito. Faço tudo para esquecer, mas não tem jeito."Este é um dos muitos versos que Dominguinhos cantou e tocou com sua sanfona, transformando-a em um instrumento da saudade, sentimento que persiste no coração de todos nós que convivemos com o cantor, compositor e instrumentista.

Dominguinhos deixou o legado da genialidade, simplicidade, humildade. Em especial a gratidão que o discípulo tinha por Luiz Gonzaga.
Dois filmes falam sobre vida e obra de Dominguinhos: primeiro o documentário "O milagre de Santa Luzia" (2008), de Sergio Roizenblit, no qual o instrumentista viaja pelo Brasil para mostrar as diferentes formas regionais de se tocar sanfona e os principais sanfoneiros do país.

E aquele que mais me toca: O longa metragem webserie "+Dominghinhos". Neste filme é mostrado “Um Dominguinhos que pouca gente conhece: jazzista, improvisador, seu refinamento musical, sua universalidade".

Assim era Dominguinhos. Grande, muito grande. Simples, muito simples.

Aos 6 anos, José Domingos de Morais, O Dominguinhos ganhou a primeira sanfona do pai, o mestre Chicão. Aos 8, já se apresentava com os irmãos, Morais e Valdomiro, em feiras livres e portas de hotel de Garanhuns-Pernambuco, onde nasceu em 12 fevereiro de 1941.

Dominguinhos foi nome dado por Luiz Gonzaga, com quem gravou, em 1957, Moça de Feira. “O menino chegou de um ambiente diferente e começou a viver num mundo glamourizado. Mas foi sempre na dele, sempre com esse jeitão sertanejo”, diz Gilberto Gil no primeiro episódio da web série +Dominguinhos.

A riqueza dessa história levou os músicos Mariana Aydar, Duani e Eduardo Nazarian a promover encontros entre o sanfoneiro e parceiros, antigos e jovens que tocam e contam histórias vividas nos palcos da vida.

Em uma delas, Giberto Gil lembra do tour do álbum Refazenda (1975), em que viajaram juntos mais de 20 mil quilômetros. Em certo momento, Dominguinhos pergunta: “Isso é reggae, é?”. Quando o amigo responde que sim, ele rebate: “Que reggae nada, isso aí é um xotezinho sem-vergonha”.

Dominguinhos conseguiu inovar a arte do mestre!

Antes de começar a luta contra o câncer que o submeteria a uma injustiça do destino vivida em um quarto do Hospital Sírio Libanês, convalescendo na dor física e da alma que sofria Dominguinhos recebeu uma equipe de jovens cineastas. Estavam ali para colocar a água do Rio São Francisco em uma garrafa. Ou, se fosse preciso, em duas.

Ao lado de Djavan, Dominguinhos chorou. Estava visivelmente abatido pela doença, mais magro do que em outras cenas, e parecia sentir as próprias notas em dobro. "Seu Domingos" tirou a água dos olhos e pediu a Djavan um favor com uma humildade de estraçalhar os técnicos do estúdio. "Se você tivesse trazido seu violão, eu ia pedir pra tocar uma música pra mim".

Quando a música aparece, ela vem em turbilhão. Um Dominguinhos de cabeça baixa, de pé, à frente de um grupo, tocando sua sanfona como se estivesse em transe. De olhos fechados, transpassa dedos uns sobre os outros como se tivessem vida própria, como se nem dos comandos do cérebro precisassem.

No documentário é o próprio músico quem narra sua história: o pai que já tocava na roça, lembra de sua sanfoninha de 8 baixos e do primeiro grupo que formou com dois irmãos no Nordeste, quando tinha 8 anos.
 
Dominguinhos fala das brincadeiras e dos passatempos. "Eu não matava nem passarinho, por pena." A mãe, alagoana filha de índios como o pai, teve 16 filhos, muitos dos quais "iam morrendo" e sendo enterrados em caixõezinhos que o pai já construía como um especialista.

Seus olhos se enchiam de água depressa, sobretudo depois que ele começou seu tratamento contra o câncer. Em uma noite, deixou o quarto do hospital com seu chapéu de vaqueiro, apertou o botão do elevador e fez o nome do pai.

Momento de emoção no filme quando Dominguinhos chega ao teatro no qual a Orquestra Jazz Sinfônica o esperava e sentou-se para tocar De Volta pro Aconchego. Quando sentiu os arranjos sinfônicos atravessando seu peito, não se conteve e chorou uma lágrima graúda, como se soubesse que, ali, era a hora de se despedir.

Levantou a cabeça, tirou o chapéu e chorou...
Nenhum comentário

Luiz Gonzaga, Humberto Cabral e o Crato, Ceará

A Expocrato, Exposição Nordestina de Animais e Produtos Derivados, que acontece todos os anos no Parque de Exposições Felício Cavalcante, no Crato, Ceará, se estende até o dia 17 julho.

Eu vou pro Crato" é uma das músicas mais executadas do repertório de Luiz Gonzaga.

Luiz Gonzaga tinha grande amizade pelo Crato. Quem atesta é o historiador e radialista Huberto Cabral, cratense  e um dos estudiosos que mais guardam a memória da região do Cariri. Segundo Cabral, Luiz Gonzaga, ao deixar sua terra natal e fugir para Fortaleza, passou pelo Crato, pegou um trem na estação com destino à Fortaleza, onde serviu no quartel do 23º BC.

Eloi Teles e Luiz Gonzaga-Expocrato
Quando menino, seu pai Januário vinha sempre que podia para o Crato onde comercializava seus produtos na feira, principalmente farinha. “O pai de Luiz Gonzaga estava sempre no Crato vendendo a farinha dele, fez amizades aqui e sempre que vinha trazia Luiz Gonzaga e seu irmão”, afirma. Foi nessa época, segundo o jornalista que Luiz Gonzaga certamente aprendeu a gostar do Crato.

Luiz Gonzaga participou de alguns momentos marcantes da História do Crato. Em 1946, por exemplo, ele retorna ao Crato para animar e tocar em leilões da festa de São Francisco. Maçon que era teve vários trabalhos filantrópicos desenvolvidos a favor do bem estar do povo.

Em 1951 Luiz Gonzaga esteve presente à inauguração da Rádio Araripe, primeira emissora de rádio do Interior do Ceará, junto com o pai, Januário, e o irmão, Zé Gonzaga.

Em 1953 Luiz Gonzaga participou da festa do centenário do Crato realizando show na Praça da Sé. Em 1974 recebeu o título de cidadão cratense outorgado pela Câmara Municipal em iniciativa do vereador Ivan Veloso.

Em 1987 na Expocrato o presidente da Comissão Gestora, Francisco Henrique Costa, promoveu grande show folclórico na história da exposição numa homenagem a quatro heróis do ciclo do Jumento.

"Pela primeira vez e única vez reuniram-se no palco Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, Padre Antonio Vieira e José Clementino que foram saudados pelo violeiro Pedro bandeira". revela Huberto Cabral.

Este ano um stand da Universidade Regional do Cariri (URCA), homenageia o Ano Internacional das Leguminosas, trabalhada pela Rede Global de Geoparks e Unesco, com o tema ‘Leguminosas no Contexto do Geopark Araripe’. 

Também está previsto o lançamento do cd da Banda de Pife Cabaçal Irmãos Aniceto.

Nenhum comentário

← Postagens mais recentes Postagens mais antigas → Página inicial