JORNALISTA ADZAMARA AMARAL: LIVRO REPORTAGEM, SENTO SÉ, MEMÓRIAS DE UMA CIDADE SUBMERSA

Esta semana foi publicado aqui no BLOG NEY VITAL, que a música “Sobradinho”, composição de Sá e Guarabyra, provocou a questão ecológica na música brasileira. Na época eles ergueram a voz contra a injustiça. Os poetas com os olhos da poesia viram o que poucos enxergavam, a construção da Barragem de Sobradinho, Chesf e os impactos causados nas vidas dos ribeirinhos e as agressões à natureza.

Publicamos agora o texto da jornalista mestre em Ecologia  Humana e Gestão Socioambiental, Adzamara Amaral. O texto se ao livro reportagem que traz algumas memórias dos moradores da cidade de Sento Sé, Bahia que foi submersa.

Confiram:
Sento-Sé, Memórias de uma cidade submersa é um livro-reportagem que foi pensado como projeto pessoal antes de começar o curso de Comunicação Social em Jornalismo em Multimeios. 

A ideia de pesquisar sobre Sento-Sé nasceu das histórias que ouvia, quando ia passar as férias no povoado Brejo da Brásida, terra natal dos meus pais e onde passei os meus primeiros sete anos de vida.

Durante meu período de estudante do ensino fundamental e médio, o melhor presente de natal que recebia era ir passar as férias de final de ano no Brejo. Nestas férias, em noites enluaradas, as crianças, jovens e adultos colocavam esteiras de taboa nos terreiros para contar causos e histórias do tempo de Lampião, da passagem da Coluna Prestes pelo município, a inundação da cidade, lendas e causos.

Quando ouvia estas histórias o que me vinha à mente era que se elas fossem  catalogadas daria um ótimo livro. Quando passei no vestibular de Comunicação Social-Jornalismo em Multimeios, no ano de 2007, cheguei ao primeiro período e descobrir que no Trabalho de Conclusão de Curso poderia escolher o assunto que eu desejava.

Diante da rica história do município revivi parte de tudo aquilo que havia ficado retido no meu inconsciente, mas que precisava de um conhecimento formal para poder escrever e fui buscar no Jornalismo e na História Oral meios para retratar um período que foi um divisor de águas para os municípios de Sento-Sé, Pilão Arcado, Casa Nova e Remanso, qual seja: a inundação deste município para dar origem ao lago de Sobradinho.

O livro-reportagem foi escrito mediante as técnicas de entrevistas jornalísticas a senhores e senhoras – a maioria idosos - que moraram e vivenciaram o que foi esta cidade, que ficou submersa. 

Procurei, por meio das técnicas de reportagem e percorrendo os caminhos da memória, retratar um local que não mais existe fisicamente – mas permanece vivo nas lembranças. Mas, caso não haja uma catalogação dos dados do município, das vivências, a história da cidade poderá se perder. Como as pessoas que guardam estas memórias já estão em idade avançada, também poderá não haver registro para as futuras gerações acerca do deslocamento da população, do cotidiano da cidade nem da cultura popular.

Ao  finalizar  o livro, pude conhecer a velha Sento-Sé através de fotos e com o avanço da pesquisa me debrucei sobre artigos, dissertações, teses e reportagens e tive a oportunidade de entrevistar pessoas que me fizeram mergulhar num tempo passado. Pude conhecer como era a vida do povo ribeirinho naquele pedaço de chão pacato e simples, onde viviam, criavam seus filhos e criaram laços de amizade e afetividade e, de repente, tiveram que sair.

Ao molhar os pés nas águas doces do velho Chico, procurei imaginar as noites de lua cheia quando os pescadores saíam para pescar e fiquei a imaginar as lendas e as histórias que as pessoas contavam, sentadas no “toco da mentira”.

Neste livro, os entrevistados revivem os caminhos pelos quais passaram, as casas que moraram e as pessoas que conviveram com eles. Muitos ficaram emocionados ao lembrar os parentes, outros demonstram indignação ao pensar nos processos judiciais para recuperar bens financeiros.  Ao ouvir os antigos moradores falarem do que ficou para trás, é perceptível, diante de seus gestos e falas, a saudade que eles sentem dos tempos de outrora.

Diante do afeto e da vontade de contribuir com este trabalho, agradeço a todos os entrevistados que foram de fundamental importância para a realização desta pesquisa, a exemplo de Judite Lopes Ribeiro e do advogado André Sento-Sé que me emprestaram o acervo particular de fotografias do Sento-Sé Velho e, em especial ao meu pai e minha mãe por ter me dado força no momento que pensei em desistir; à professora Andréa Cristiana pela orientação e por me fazer refletir muito sobre o objeto de estudo e o papel do jornalista e pesquisador no registro deste período da história da região; e a Emerson Rocha, por ter viajado comigo até Sento-Sé para fotografar a cidade.  A todos vocês, muito obrigada.

(*Texto: jornalista Adzamara Amaral mestre em Ecologia  Humana e Gestão Socioambiental-Universidade do Estado da Bahia-Juazeiro-Campus III)
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SENTO SÉ, MEMÓRIAS DE UMA CIDADE SUBMERSA

Esta semana foi publicado aqui no BLOG NEY VITAL, que a música “Sobradinho”, composição de Sá e Guarabyra, provocou a questão ecológica na música brasileira. Na época eles ergueram a voz contra a injustiça e os olhos poéticos, quase videntes viram o que poucos enxergavam, a construção da Barragem de Sobradinho, Chesf, e os impactos causados nas vidas dos ribeirinhos e as agressões à natureza.

Publicamos agora o texto da mestre em Ecologia  Humana e Gestão Socioambiental, Adzamara Amaral. O texto se ao livro reportagem que traz algumas memórias dos moradores da cidade que foi submersa.

Confiram:
Sento-Sé, Memórias de uma cidade submersa é um livro-reportagem que foi pensado como projeto pessoal antes de começar o curso de Comunicação Social em Jornalismo em Multimeios. A ideia de pesquisar sobre Sento-Sé nasceu das histórias que ouvia, quando ia passar as férias no povoado Brejo da Brásida, terra natal dos meus pais e onde passei os meus primeiros sete anos de vida.

Durante meu período de estudante do ensino fundamental e médio, o melhor presente de natal que recebia era ir passar as férias de final de ano no Brejo. Nestas férias, em noites enluaradas, as crianças, jovens e adultos colocavam esteiras de taboa nos terreiros para contar causos e histórias do tempo de Lampião, da passagem da Coluna Prestes pelo município, a inundação da cidade, lendas e causos.

Quando ouvia estas histórias o que me vinha à mente era que se elas fossem  catalogadas daria um ótimo livro. Quando passei no vestibular de Comunicação Social-Jornalismo em Multimeios, no ano de 2007, cheguei ao primeiro período e descobrir que no Trabalho de Conclusão de Curso poderia escolher o assunto que eu desejava.

Diante da rica história do município revivi parte de tudo aquilo que havia ficado retido no meu inconsciente, mas que precisava de um conhecimento formal para poder escrever e fui buscar no Jornalismo e na História Oral meios para retratar um período que foi um divisor de águas para os municípios de Sento-Sé, Pilão Arcado, Casa Nova e Remanso, qual seja: a inundação deste município para dar origem ao lago de Sobradinho.

O livro-reportagem foi escrito mediante as técnicas de entrevistas jornalísticas a senhores e senhoras – a maioria idosos - que moraram e vivenciaram o que foi esta cidade, que ficou submersa.

Procurei, por meio das técnicas de reportagem e percorrendo os caminhos da memória, retratar um local que não mais existe fisicamente – mas permanece vivo nas lembranças. Mas, caso não haja uma catalogação dos dados do município, das vivências, a história da cidade poderá se perder. Como as pessoas que guardam estas memórias já estão em idade avançada, também poderá não haver registro para as futuras gerações acerca do deslocamento da população, do cotidiano da cidade nem da cultura popular.

Ao  finalizar  o livro, pude conhecer a velha Sento-Sé através de fotos e com o avanço da pesquisa me debrucei sobre artigos, dissertações, teses e reportagens e tive a oportunidade de entrevistar pessoas que me fizeram mergulhar num tempo passado. 

Pude conhecer como era a vida do povo ribeirinho naquele pedaço de chão pacato e simples, onde viviam, criavam seus filhos e criaram laços de amizade e afetividade e, de repente, tiveram que sair. Ao molhar os pés nas águas doces do velho Chico, procurei imaginar as noites de lua cheia quando os pescadores saíam para pescar e fiquei a imaginar as lendas e as histórias que as pessoas contavam, sentadas no “toco da mentira”.

Neste livro, os entrevistados revivem os caminhos pelos quais passaram, as casas que moraram e as pessoas que conviveram com eles. Muitos ficaram emocionados ao lembrar os parentes, outros demonstram indignação ao pensar nos processos judiciais para recuperar bens financeiros.  Ao ouvir os antigos moradores falarem do que ficou para trás, é perceptível, diante de seus gestos e falas, a saudade que eles sentem dos tempos de outrora.

Diante do afeto e da vontade de contribuir com este trabalho, agradeço a todos os entrevistados que foram de fundamental importância para a realização desta pesquisa, a exemplo de Judite Lopes Ribeiro e do advogado André Sento-Sé que me emprestaram o acervo particular de fotografias do Sento-Sé Velho e, em especial ao meu pai e minha mãe por ter me dado força no momento que pensei em desistir; à professora Andréa Cristiana pela orientação e por me fazer refletir muito sobre o objeto de estudo e o papel do jornalista e pesquisador no registro deste período da história da região; e a Emerson Rocha, por ter viajado comigo até Sento-Sé para fotografar a cidade.  A todos vocês, muito obrigada.

(*Texto Adzamara Amaral mestre em Ecologia  Humana e Gestão Socioambiental-Universidade do Estado da Bahia-Juazeiro Bahia Campus III)
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PROJETO DE LEI QUE ESTENDE AUXÍLIO EMERGENCIAL AOS AGRICULTORES FAMILIARES DEVE SER VOTADO

O projeto de lei 873 de 2020, que amplia o número de beneficiários do auxílio emergencial pago pelo governo federal no valor de R$ 600 mensais, deve ser votado entre terça, 14, e quarta, 15, pelos deputados federais.

Em videoconferência, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, falou sobre o assunto. “Vai avançar esta semana. Essa parte tem impacto de R$ 10 a R$ 14 bilhões. É necessário. Quem é autônomo e está acima de isenção do MEI [Micro Empreendedor Individual] está fora [da atual legislação] e está sem [acesso ao benefício] estando fora. Precisa dar uma solução ainda nesta semana”, disse.

O PL que institui a Renda Básica de Cidadania Emergencial é de autoria do Senado e foi aprovado por unanimidade na Casa, na última semana. O texto do projeto prevê que agricultores familiares, pescadores, técnico agrícolas, feirantes e outras categorias profissionais tenham direito a receber os pagamentos federais de R$ 600 por três meses. Caso seja aprovado pela Câmara, irá para a sanção presidencial.

Atualmente, apenas trabalhadores informais, desempregados, microempreendedores individuais, profissionais com contrato de trabalho intermitente e mulheres chefes de família têm direito ao auxílio.

Para estar apto a receber o “coronavoucher”, ainda é preciso não ter tido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70 em 2018. No projeto de Renda Básica de Cidadania Emergencial, esse limite de ganhos não será considerado como requisito para que novas categorias de trabalhadores tenham acesso ao benefício.

Na semana passada, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) apresentou uma emenda ao PL 873/20 pedindo que a verificação de mérito de recebimento do benefício, no caso dos agricultores familiares, seja feito por meio da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Na redação original, essa conferência seria feita pelo Cadastro da Agricultura Familiar. Como o sistema ainda não foi implementado, haveria falhas na execução da medida. (Fonte: Contag)
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CANTOR E COMPOSITOR MORAES MOREIRA MORREU NA MADRUGADA DESTA SEGUNDA (13) AOS 72 ANOS

O cantor e compositor Moraes Moreira foi encontrado morto na manhã de hoje (13) em casa, na Gávea, no Rio de Janeiro. De acordo com a assessoria de imprensa do músico, ele teve um infarto agudo do miocárdio e morreu às 6h. Tinha 72 anos.

A assessoria informou ainda que seguindo as recomendações de isolamento social para combate à pandemia do novo coronavírus (covid-19), a família não irá divulgar nem a data nem a hora do velório para evitar aglomeração. Eles pedem a quem quiser homenagear Moreira que siga escutando a obra dele. 

Em Ituaçu (BA), o irmão Eduardo Moraes recebeu a notícia. Segundo ele, foi a governanta que encontrou o corpo de Moraes. "Ele morreu em casa, onde morava, no Rio de Janeiro. A governanta foi limpar o apartamento e encontrou ele morto”, disse. 

Segundo o irmão, ele estava “sossegado, de quarentena e preocupado com a pandemia” do novo coronavírus (covid-19). 

Nascido em Ituaçu, Antônio Carlos Moraes Pires, conhecido como Moraes Moreira, é ex-integrante do grupo Novos Baianos, composto por  Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor, Dadi e Luiz Galvão, entre outros. Seguia carreira solo desde 1975. 

Foi Paulinho Boca de Cantor que entrou em contato com a família de Pepeu Gomes na manhã de hoje. A esposa dele, Simone Sobrinho, foi quem atendeu o telefone. “Recebi essa notícia da esposa dele, porque ele estava passando mal. Eu fiquei toda trêmula”. Pepeu ainda dormia. 

Em um áudio, Paulinho Boca resumiu não apenas a dor que sente pela partida de Moreira, mas a alegria que foi compartilhar anos a seu lado. 

“A gente se falava todos os dias. As nossas ligações, geralmente, ou eram para falar de trabalho ou eram para dar muita risada de tudo, risada da vida, risada da nossa história”, diz Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira, mais conhecido por Paulinho Boca de Cantor. 

Em um momento em que, segundo Paulinho, a humanidade percebe que não pode ter controle sobre nada, “é importante que a gente fale desse amor, dessa coisa que começou há 50 anos atrás quando encontrei ele”, diz. 

O encontro resultou no grupo Novos Baianos. “Fomos fazendo aquela outra família, que não existia ainda, que não tinha laços sanguíneos, mas que tinha uma afinidade tremenda. E a afinidade veio exatamente dessa alegria, dessa coisa que permanece até hoje”.

O músico também exaltou o amigo, que conseguia fazer um show de voz e violão como ninguém e que botava “todo mundo para dançar”. 

“Nós somos Novos Baianos, mas eu gostaria até de brincar e dizer, somos usados. Usados baianos. Porque a gente vive intensamente. O Moraes viveu intensamente: a música, a festa, a alegria, o carnaval.

A morte repercutiu nas redes sociais, com dezenas de mensagens do Brasil e do exterior em homenagem a Moraes Moreira, de artistas, políticos e fãs.

Moreira ainda produzia até dias atrás. Em uma das últimas postagens que fez nas redes sociais, ele falava sobre o período de isolamento social. "Oi, pessoal, estou aqui na Gávea, entre minha casa e o escritório que ficam próximos. Cumprindo minha quarentena, tocando e escrevendo sem parar". (Fonte: Agencia Brasil)
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PETROLINA: BANDA DE MÚSICA DO 72º BATALHÃO DO EXÉRCITO PRESTA HOMENAGEM AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

A banda de música do 72º Batalhão de Infantaria Motorizado (72º BI Mtz) proporcionou no último domingo (12), uma homenagem aos profissionais de saúde, que estão atuando na linha de frente no combate ao Coronavírus.

Os músicos do 72º Batalhão amenizaram "as dores da alma" não só dos profissionais de saúde. A ação comoveu todos que se encontravam nos hospitais e também proporcionou alegria aos moradores das redondezas nas ruas e avenidas que estão em isolamento dentro de suas casas no período de quarentena do coronavírus. 

O 72º Batalhão de Infantaria Motorizado (72º BI Mtz)  tem sido um exemplo ao  proporcionar boas ações. Uma campanha de doação de sangue voluntária entre seus integrantes, visa abastecer os estoques do Hemocentro de Pernambuco (HEMOPE). 

Os militares estão realizando uma programação para a doação de sangue organizada, na qual se estabeleceu datas e horários determinados para a ida dos militares, de forma centralizada, ao centro de coleta. 

A iniciativa tem a previsão da adesão voluntária de cerca de 200 militares, que, sensibilizados com a necessidade, comparecerão ao HEMOPE para realizar a doação.

Os militares do 72º BI Mtz participam da doação de sangue, devido aos baixos estoques do banco de sangue A participação do Batalhão é realizada todas às segundas-feiras.

"O 72º BI Mtz, como parte da sociedade, não poderia deixar de prestar sua solidariedade nesse momento em que o banco de sangue, em função do novo coronavírus (Covid-19), está desabastecido", disse em nota a assessoria de imprensa do 72 Batalhão.
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COMUNIDADE DO QUILOMBOLA PERDE PLANTAÇÃO COM AVANÇO DAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO

Devido o aumento da vazão da barragem de Sobradinho, Bahia, o aspecto do Rio São Francisco mudou. O Velho Chico agora se apresenta cheio, bem diferente do que se  verificou nos últimos 10 anos, quando, como consequência da longa estiagem, o manancial teve o seu nível muito reduzido e sua nascente. 

Mas, ao mesmo tempo em que comemora o “retorno” do volume normal do Rio São Francisco, famílias de agricultores e produtores estão perdendo o plantio das lavouras.

A redação do BLOG NEY VITAL  recebeu este final de semana fotos mostrando as águas do Rio São Francisco ocupando lavouras plantadas em suas  margens. Uma das mais atingidas é o Povoado da Fazenda Nova Jatobá, território Quilombola, localizado em Curaçá, Bahia.

De acordo com o presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário da Fazenda Nova Jatobá, Marcio de Lima Santos, dezenas de agricultores familiares perderam a sua produção e a única fonte de renda para sobreviverem. "Já estávamos sem vender nas feiras, e agora a situação já era grave com os decretos para não proliferar os casos de coronavírus, aumenta e muito devido a perda da plantação de mandioca, macaxeira, banana e maracujá.Isto representa a renda das famílias de agricultores", desabafou Marcio.
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SOBRADINHO, SÁ E GUARABYRA: ADEUS REMANSO, SENTO SÉ, PILÃO ARCADO, CASA NOVA

"O homem chega, já desfaz a natureza tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar/ O sertão vai virar mar dá no coração o medo que algum dia o mar também vire sertão/ O Rio São Francisco, lá pra cima da Bahia diz que dia menos dia vai subir bem devagar e passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o sertão ia alagar/ Vai ter barragem no salto do Sobradinho e o povo vai-se embora como medo de se afogar...Adeus Remanso, Sento Sé, Casa Nova, Sobradinho, Pilão Arcado"...

Além de trabalhar no Sistema de Comunicação na redeGn, jornalista, atualmente sou aluno do Curso em Agroecologia, apresentador e produtor do Programa Nas Asas da Asa Branca-Viva Luiz Gonzaga e seus Amigos, todos os domingos, na Rádio Cidade. Sou especialista em Ensino de Comunicação Social e História da Cultura. Caso a crise do coronavírus passe estarei em novembro apresentando uma palestra no Centro Cultural Mário de Andrade, em São Paulo.

Histórias. Sentimentos mais humanos. Sem elas, não há uma boa canção. Todos os bons cantores e compositores deveriam contar os bastidores de suas canções. Estive em Sobradinho, Bahia. Jornalista que sou, ouvi muito mais que o lado físico sobre o uso das águas do Rio São Francisco, das pedras e ferros que construíram a Barragem da Hidroelétrica, Chesf. Lembrei das famílias afetadas e obrigadas, forçadas a deixar o seu pedaço de terra.

Neste turbilhão aprendi que sou um eterno aprendiz. E eu juro que vi, a natureza, sem mágoas ou rancor, revelando o impacto sobre o meio ambiente. Ouvi através das nuvens e das águas evaporando o som das sanfonas, pífanos e violões, o lamento, quase choro, sobre a perda da identidade, referência cultural e histórica. 

Olhando o maior lago artificial da América Latina, gritei a gratidão a Sá e Guarabyra e não sabia o que falar para as árvores e o vento que soprava, aos pássaros e cardumes de peixes.

Devo dizer que Sá e Guarabyra, são talentosos e justos, partindo do sertão de sãofranciscano de Cinamomo e Tabuleiro às peripécias nova-iorquinas de Ziriguidum Tchan;  seguindo por aventuras de estrada, como em Meu Lar É Onde Estão Meus Sapatos, aos casos de amor vividos em Nuvens D Água, Dona, Espanhola e hinos ecológicos como Paraíso Agora.

A música “Sobradinho” provocou a questão ecológica na música brasileira. Na época eles ergueram a voz contra a injustiça e olhos viram o que poucos enxergavam. São dezenas de trilhas de novelas, teses de mestrado, monografias e documentários nas redes sociais, mais de quatrocentas músicas, gravadas por eles e por cantores de três gerações da música brasileira.

Conta-se que no ano de 1977, quando Sá e Guarabyra faziam um percurso de carro pelo sertão do Vale do São Francisco, nas margens do Rio São Francisco em direção à cidade de Bom Jesus da Lapa, onde o pai, de Guarabyra vivia, caminhavam pelas ruas quando ouviram uma prosa estranha dita por mais de duas pessoas. Caminhões gigantes, como nunca vistos por ali, andavam levantando as terras de uma região vizinha.

Então seguiram para lá e viram o que jamais imaginavam. Não só os caminhões, mas também muitos homens trabalhavam para construir a represa gigante de Sobradinho, um lago 600 vezes maior do que a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, construído com águas represadas do Rio São Francisco para fazer funcionar a usina hidrelétrica de Sobradinho. Ninguém sabia disso naquela tarde em que Sá e Guarabyra tiveram a visão do sertão virando mar. Sob regime ditatorial, os jornais nada noticiavam e o projeto era tocado às escuras.

Seis cidades seriam inundadas, centenas de famílias seriam removidas e o impacto ambiental se anunciava.  

As cobranças previstas e as inimagináveis logo chegariam, como o aumento nos índices de degradação ambiental, e destruição, além do impacto na mente humana. Quantos amores deixaram de existir?

Sá & Guarabyra fizeram a primeira reportagem, poesia denunciando em música o que o mundo saberia em breve. “Adeus, Remanso, Casa Nova, Sento-Sé / Adeus, Pilão Arcado, vem o rio te engolir / Debaixo de água lá se vai a vida inteira / Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir / Vai ter barragem no salto do Sobradinho / e o povo vai-se embora com medo de se afogar / O sertão vai virar mar / dá no coração / o medo que algum dia o mar também vire sertão…” 

Foi a partir do sucesso da música que o Governo Militar então começou a fazer propagandas para reverter a imagem e dizer que a iniciativa faria bem ao País.

Sá e Guarabyra. No batismo Luiz Carlos Pereira de Sá é carioca. O baiano da dupla é Guttemberg Nery Guarabyra. Os dois tiveram suas músicas gravadas na voz de Biquini Cavadão, Elis Regina, Roupa Nova, Trio Nordestino, Gal Costa entre outros grandes artístas.

Assim ouvi e aqui reproduzo. (Ney Vital - Jornalista-www.neyvital.com.br)
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